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UNIDADE 1

ANATOMIA VEGETAL

1. OBJETIVOS
• Entender a complexidade estrutural dos organismos
vegetais por meio do estudo das células.
• Abordar aspectos gerais da funcionalidade dos
organismos vegetais por meio do estudo dos tecidos.
• Analisar algumas especializações dos tecidos vegetais.
• Conhecer algumas estratégias e metodologias no ensino
de Anatomia Vegetal.

2. CONTEÚDOS
• A célula vegetal e suas organelas.
• Tecidos vegetais.
• Métodos de ensino de Anatomia Vegetal.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Para que seu processo de aprendizagem seja
satisfatório, busque respostas para todas as suas
dúvidas, seja no Glossário de Conceitos, seja em outras

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fontes, tais como os livros técnicos e teóricos sugeridos


na bibliografia, sites confiáveis e também com seus
tutores, que estarão sempre dispostos a auxiliá-lo em
qualquer momento.
2) Durante os estudos, quando encontrar algum esquema,
filme, animação, texto complementar ou qualquer
outro tipo de informação interessante sobre nosso
universo de estudo, disponibilize-o na Sala de Aula
Virtual (SAV), com a devida referência. Compartilhar
informações e construir conhecimento são as peças-
chave para o aprendizado colaborativo.
3) Esta unidade, bem como todo o material, não tem o
objetivo de esgotar o tema tratado. É importante que
você leia as obras recomendadas no Tópico Referências
Bibliográficas e também acesse os sites indicados. Eles
contêm um rico material complementar, com muitas
imagens, animações e esquemas.
4) Acesse as animações disponibilizadas em nosso
material. Elas são um ótimo complemento, com muitas
informações extras.
5) Para conhecer mais sobre a Teoria da Endossimbiose,
um dos temas abordados nesta unidade, procure
sites confiáveis, como, por exemplo, o Simbiótica e o
Seara da Ciência. Leia também, no Tópico 14, o texto
complementar “Nadando contra a corrente”, da Dra.
Lynn Margulis.

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4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Olá! A partir de agora iniciamos, efetivamente, nossos
estudos sobre a Biologia Vegetal.
Como você já pôde observar no Esquema dos Conceitos-
-chave apresentado, nossa obra está estruturada em um cres-
cente organizacional de complexidade. Então, como primeira
etapa, estudaremos o corpo vegetal e compreenderemos sua
formação e estrutura, alvo de análise da Anatomia Vegetal.
A Anatomia Vegetal é um ramo da Botânica que trata
da morfologia externa e interna das plantas, dedicando-se a
estudar a formação e organização das células, tecidos, órgãos e,
finalmente, de um indivíduo vegetal (CUTTER, 2002).
Como ciência, ela é compreendida como algo estático,
como se nesse campo não houvessem muitas modificações ou
novas descobertas a serem feitas, porém engana-se aquele que
tem esse pensamento. Como ciência de base, seus conceitos são
constantemente revistos e aplicados em novas situações.
Por exemplo, podemos utilizar as informações anatômicas
de um vegetal como ferramenta para estudos ecológicos, já que
as plantas respondem ativamente aos estímulos ambientais e
econômicos quando aplicamos seus conhecimentos na produção
agrícola.
Vamos iniciar nosso estudo pela célula, a unidade básica
dos vegetais, assim como de todos os outros seres vivos, exceto
dos vírus, destacando suas principais características e organelas
que as diferenciam das células animais.
Após esta primeira parte, veremos que as células se
diferenciam em vários tipos e se unem para formar os tecidos,

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que possuem uma função específica. Por fim, esses tecidos se


reúnem e formam os órgãos, partes da planta que realizam
determinadas atividades necessárias para a manutenção do
organismo.
Por meio do estudo desta unidade, perceberemos que,
apesar da grande diversidade de tamanhos e formas, todos os
vegetais são baseados em um mesmo plano funcional. Embora
sejam muito diferentes em sua aparência e complexidade,
e cada um tenha as suas próprias adaptações, eles realizam
basicamente os mesmos processos funcionais e têm a mesma
organização celular e tecidual (RAVEN, 2001).
Então, vamos iniciar nossa caminhada pelo mundo vegetal?
Lembre-se de não deixar dúvidas para depois, consultando
sempre a bibliografia sugerida, seus professores e tutores.
Bons estudos!

5. A CÉLULA VEGETAL


Para iniciarmos nossos estudos sobre as plantas, é
fundamental compreendermos sua unidade básica estrutural e
funcional: a célula.
Cada célula funciona como uma pequena fábrica, obtendo
substâncias do ambiente, transformando-as em compostos
necessários ao funcionamento e desenvolvimento da planta,
utilizando e acumulando energia proveniente do sol. Cada
atividade envolvida no metabolismo vegetal atua de maneira
sincronizada e organizada, por meio das organelas presentes no
interior de cada célula (RAVEN, 2001).

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Mas antes de descobrirmos o interior da célula vegetal,


você sabe como as células foram descobertas?
Segundo Raven (2001), o primeiro a utilizar o termo célula
foi o botânico inglês Robert Hooke, em 1665, ao observar um
pedaço de cortiça em um microscópio primitivo. Como a cortiça é
um tecido morto e não contém protoplasma, ou seja, o conteúdo
das células (citoplasma e núcleo), Hooke visualizou apenas
pequenas cavidades separadas pelas paredes celulares que
formavam uma estrutura na forma de um favo de mel (Figura 1).

Figura 1 Tecido vegetal observado por Robert Hooke em 1665.

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Somente em 1838 houve a constatação, pelo botânico


alemão Mathias Schleiden, de que todos os tecidos vegetais são
formados por células. No ano seguinte, a mesma afirmação foi
feita pelo zoólogo Theodor Schwann para os tecidos animais.
Com o avanço tecnológico e o aprimoramento de técnicas
de estudo e equipamentos, foram possíveis novas descobertas
sobre o mundo microscópico. Um novo olhar foi lançado para
a formação dos organismos e para o interior da célula, até
alcançarmos os conceitos atuais, que, ao contrário do que
muitos pensam, não estão encerrados em si mesmos, isto é,
novas descobertas estão sendo realizadas com frequência. Não
há "verdades absolutas".
Hoje, sabemos que as plantas são organismos
multicelulares, constituídos por milhões de células eucarióticas
que, de forma geral, apresentam a mesma estrutura básica de
organização. É importante lembrar que alguns tipos celulares
apresentam modificações e/ou especializações essenciais, que
serão tratadas em breve (RAVEN, 2001).
Observe, na Figura 2, o esquema geral de uma célula
vegetal.

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Figura 2 Esquema geral de uma célula vegetal.

Acompanhe o texto a seguir, no qual compreenderemos


o que são células procarióticas (ou procariontes) e células
eucarióticas (ou eucariontes) e suas diferenças.

Células procarióticas e eucarióticas––––––––––––––––––––


As células procariontes se caracterizam pela pobreza da membrana plasmática.
Ao contrário dos eucariontes, não possuem uma membrana envolvendo
os cromossomos, separando-os do citoplasma. Os seres vivos que são
constituídos por estas células são denominados procariotas, compreendendo
principalmente as bactérias, e algumas algas (cianofíceas e algas azuis), que
também são consideradas bactérias.
As células procariontes não se dividem por mitose e seus filamentos de DNA
não sofrem o processo de condensação que leva à formação de cromossomos
visíveis ao microscópio óptico, durante a divisão celular. Em alguns casos,
a membrana plasmática se invagina e se enrola, formando estruturas
denominadas mesossomos.

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Diferente das células eucariontes, os procariontes não possuem um


citoesqueleto (responsável pelo movimento e forma das células). A forma
simples das células procariontes, que em geral é esférica ou em bastonete,
é mantida pela parede extracelular, sintetizada no citoplasma e agregada à
superfície externa da membrana celular.
A célula eucariótica possui três componentes principais: o núcleo, que constitui
um compartimento limitado por um envoltório nuclear; o citoplasma, outro
compartimento envolvido por membrana plasmática; e a membrana plasmática
e suas diferenciações.
Existe grande variabilidade na forma das células eucarióticas. Geralmente
o que determina a forma de uma célula é sua função específica. Outros
determinantes da forma de uma célula podem ser o citoesqueleto presente em
seu citoplasma, a ação mecânica exercida por células adjacentes e a rigidez
da membrana plasmática.
As células eucariontes são usualmente maiores e estruturalmente complexas.
As organelas presentes no citoplasma possuem papéis específicos definidos
por reações químicas. A presença ou ausência de determinadas organelas
definirá se a célula é vegetal ou animal (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2011).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Agora, por meio de um breve resumo, conheceremos as
organelas das células vegetais, segundo Raven (2001) e Cutter
(2002).

Parede celular
A presença da parede celular é uma das principais
características da célula vegetal que a difere das células animais.
Devido à sua rigidez, a parede celular limita o tamanho
(volume) e a forma da célula, muitas vezes contribuindo para o
formato dos tecidos e órgãos da planta.
A parede celular contribui para a sustentação dos tecidos
e também é importante na defesa contra agentes infecciosos,
como fungos e bactérias.

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Alguns autores consideram a parede celular apenas um


envoltório de tecido morto, enquanto outros afirmam que essa
organela é parte integrante da célula vegetal, com funções
essenciais, como absorção, transporte e secreção de diversas
substâncias.
Bioquimicamente, a parede celular é composta de um
polissacarídeo, isto é, uma longa cadeia formada por moléculas
de açúcar (glicose), conhecida como “celulose”, além de outros
componentes, como a hemicelulose, compostos pécticos, lignina,
suberina, cutina, ceras, entre outros.
As paredes celulares são muito importantes para o homem,
pois elas são utilizadas na forma de madeira, fibras, alimentos
e matéria-prima para diversos produtos industrializados.
Ecologicamente, a parede celular pode ser considerada a maior
reserva de carbono orgânico dos ecossistemas, e suas substâncias
componentes fazem parte do húmus do solo.

Membrana plasmática
Todas as células são limitadas por uma membrana que
as separa do meio externo: a membrana plasmática, também
chamada de membrana celular.
Devido a uma propriedade chamada permeabilidade
seletiva, essa membrana permite que a célula absorva ou exclua
determinadas substâncias, de acordo com suas necessidades.
Por causa dessas propriedades, muitos autores consideram a
membrana celular uma das mais importantes organelas celulares.
O modelo básico de todas as membranas celulares
é fundamentado no modelo do mosaico fluido, em que,
essencialmente, as membranas constituem-se de uma

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bicamada de fosfolipídeos com proteínas imersas, em constante


movimento.
Dentre as principais funções das membranas plasmáticas,
podemos citar:
• mediar o transporte de substâncias entre o interior e o
exterior das células;
• coordenar a síntese das fibras de celulose que formarão
a parede celular;
• receber e transmitir sinais hormonais e ambientais que
atuam no crescimento e na diferenciação celular.
A próxima estrutura celular – o núcleo – exerce funções
importantíssimas. Vamos conhecê-las?

Núcleo
O núcleo de uma célula desempenha duas funções
extremamente importantes:
• controla a síntese proteica e, consequentemente, as
atividades que são realizadas pela célula;
• armazena as informações genéticas do indivíduo.
Vale destacar que a célula vegetal possui duas organelas
que contêm carga genética própria: a mitocôndria e os
cloroplastos. Por esse motivo, elas são denominadas organelas
semiautônomas.
Por ser uma célula eucariótica, o núcleo das células
vegetais é revestido por um envoltório nuclear que mantém os
cromossomos unidos.
É interessante refletir, a título de curiosidade, que cada
espécie possui um número de cromossomos característico em

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suas células somáticas, e entre os vegetais esse número pode


variar bastante. Algumas espécies de ervas anuais podem ter
quatro ou dez cromossomos. A couve possui 18, o trigo, 42 e
uma espécie de pteridófita, 1.250 cromossomos!

Plastídios
Os plastídios, juntamente com a parede celular e o vacúolo,
são organelas características de células vegetais. Desempenham
funções relacionadas aos processos de fotossíntese e
armazenamento de substâncias, como os pigmentos vegetais.
Vamos conferir as principais características dos três tipos de
plastídios?

Cloroplasto
Os cloroplastos são os responsáveis pela realização da
fotossíntese, pois contêm, entre outros pigmentos (carotenoides),
as clorofilas, que são as receptoras da energia luminosa do sol
que dão a cor verde aos vegetais.
Possuem um formato discoide e são muito numerosos
na célula vegetal: uma única célula pode conter entre 40 a 50
cloroplastos, e um milímetro quadrado de folha, 500.000!
O sistema de membrana interna, tilacoide, é bem
desenvolvido. Uma pilha de tilacoides forma um granum, ou,
no plural, grana. É nessa membrana que são encontrados os
pigmentos que atuam na fotossíntese.
Essa organela possui carga genética própria, como citado
anteriormente, e a explicação mais aceita atualmente é baseada
na Teoria da Endossimbiose. Essa teoria da bióloga Lynn
Margulis sugere que algumas organelas, como o cloroplasto

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e a mitocôndria, em um passado remoto, foram organismos


procariontes e surgiram como organelas por meio de uma
relação estável de simbiose.

Cromoplasto
Os cromoplastos são os plastídios que possuem mais
pigmentos carotenoides que clorofila, originando a cor vermelha,
laranja ou amarela para frutos, flores, folhas e algumas raízes.
Sua função ainda não foi confirmada, mas acredita-se
que essas organelas sintetizem algumas substâncias e tenham
importante papel na polinização e dispersão, por causa das cores
atraentes que ocasiona em determinadas partes das plantas, como
as flores e os frutos.

Leucoplasto
Os leucoplastos são plastídios sem pigmento que realizam
a função de reserva de substâncias, como, por exemplo, o amido,
que é armazenado em um tipo especial de leucoplasto – o
amiloplasto.
Não possuem um sistema de membrana interna
desenvolvido e podem armazenar diversas substâncias além do
amido, como óleos, proteínas etc.
Os cloroplastos, os cromoplastos e os leucoplastos são
formados, basicamente, pelo estroma, matriz de preenchimento
da organela, e por um envoltório, sistema de membrana interna
(tilacoides) que apresenta diferentes graus de desenvolvimento,
de acordo com o tipo de plastídio. Os componentes dos
plastídios não estão descritos com clareza, assim como a

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estrutura dos leucoplastos e cromoplastos não são apresentadas


satisfatoriamente.

Vacúolo
O vacúolo é a terceira característica da estrutura da célula
vegetal que a difere da célula animal. São organelas celulares
compostas por uma membrana (tonoplasto, ou membrana
vacuolar) e preenchidas pelo suco celular, formado por água
e outras substâncias que variam conforme o tipo de planta ou
tecido em que se encontra a célula.
As funções básicas do vacúolo, além do acúmulo de água,
íons, açúcares, ácidos orgânicos e metabólitos secundários,
estão relacionadas à manutenção da rigidez de tecidos por
meio da pressão interna das células e da digestão e reciclagem
de substâncias e organelas, liberando seu conteúdo para o
citoplasma.
Em células vegetais maduras, o vacúolo pode ocupar até
90% do volume celular!

Mitocôndria
As mitocôndrias são o centro respiratório da célula, onde
ocorre a liberação da energia contida em moléculas altamente
energizadas, conhecidas como ATP (adenosina trifosfato).
O número de mitocôndrias nas células é muito variável,
pois quanto maior a demanda energética da célula ou tecido,
maior a quantidade de mitocôndrias.
A mitocôndria, assim como o cloroplasto, possui carga
genética própria e também componentes para a síntese de
algumas de suas proteínas, como pequenos ribossomos,

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semelhantes aos de bactérias. Por esses motivos, acredita-se


que estas organelas surgiram por meio do processo explicado
pela Teoria da Endossimbiose.

Ribossomos
Os ribossomos são pequenas organelas compostas de duas
subunidades, sendo encontrados livres no citoplasma ou ligados
ao retículo endoplasmático. Sua principal função é a síntese de
proteínas.

Retículo endoplasmático
O retículo endoplasmático é um sistema complexo de
membranas formado a partir da invaginação da membrana
plasmática, cuja abundância e forma variam dependendo do
tipo de célula. A estrutura e a função do retículo endoplasmático
diferenciam-no em liso e rugoso.
Em células que acumulam proteínas, encontramos o
retículo endoplasmático rugoso, que é formado por sacos
achatados com numerosos ribossomos na superfície externa. Já
o retículo endoplasmático liso não possui ribossomos unidos à
membrana e está presente em células que secretam lipídios. Essas
duas formas são encontradas nas células e formam uma extensa
rede em seu interior com inúmeras conexões, promovendo a
comunicação por um sistema de canalização de substâncias.

Complexo de Golgi
O Complexo de Golgi também é conhecido atualmente
como “aparato golgiense” ou “complexo golgiense”, devido à
nova nomenclatura.

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É composto por pilhas de sacos membranosos achatados,


envolvidos na síntese e secreção de polissacarídeos não
celulósicos da parede celular. O complexo golgiense também
é responsável por processar e secretar glicoproteínas, além de
armazenar e fazer a distribuição de diversas substâncias por
meio de pequenas vesículas.

Citoplasma
Genericamente, o citoplasma ou citosol é o líquido no qual
as diversas organelas da célula estão imersas. Tem como limite
a membrana plasmática e é formado pela matriz citoplasmática,
pelas organelas e pelos sistemas de membranas, ou seja, é o
constituinte vivo da célula, menos o núcleo.
Na célula vegetal viva, o citoplasma movimenta-se
continuamente. Esse movimento é conhecido como ciclose ou
corrente citoplasmática. Segundo Raven (2001), ele atua na
facilitação da troca de substâncias dentro e entre as células.
Agora que já relembramos como é a estrutura da célula
vegetal e suas principais organelas, estudaremos o próximo nível
de organização, os tecidos.

6. TECIDOS VEGETAIS
Como vimos até agora, a célula é a unidade fundamental da
vida. Mas, para que um indivíduo vegetal consiga realizar todas
as suas funções adequadamente, são necessários diferentes
tipos de tecido (OLIVEIRA, 1999).
Dessa forma, as células se diferenciam, reunindo-se e
formando os tecidos. Você sabe qual é a definição de tecido?

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Segundo Ferri (1999, p. 27, grifo nosso):


Podemos definir tecido como um conjunto de células igualmente
diferenciadas, isto é, tendo todas a mesma organização e igual
origem, e destinadas ao desempenho de uma ou mais funções
em comum.

A partir dessa definição, compreendemos que, em um


indivíduo, determinados grupos de células se especializam,
modificando-se estrutural ou funcionalmente para formar os
tecidos.
É sempre importante lembrar que uma planta, desde
uma pequena erva até uma gigantesca árvore, de modo geral,
é originada de uma única célula, chamada zigoto, formada por
meio da fecundação de gametas. Os diversos tipos de células
que surgem no vegetal são decorrentes dos processos de
diferenciação durante seu desenvolvimento (RAVEN, 2001).
A união de tecidos forma os órgãos. A organização desses
tecidos é diferente nos vários órgãos que compõem a planta,
refletindo uma organização estrutural e funcional definida.
Apenas como exemplo, as plantas vasculares são formadas
por diversos órgãos, como raiz, caule, folha e flor. Cada um destes
é formado por tecidos especializados, de acordo com a função
desempenhada. Estudaremos sobre a estrutura dos órgãos mais
adiante.
Ao analisarmos uma planta (um vegetal), podemos
encontrar quatro tipos básicos de tecidos, que de acordo com
Raven (2001), são:
1) meristemas: tecidos embrionários, totipotentes, res-
ponsáveis pela multiplicação de células e formação
dos outros tecidos;

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2) tecidos fundamentais: composto de células paren-


quimáticas e elementos de resistência (colênquima e
esclerênquima);
3) tecidos de revestimento: formados pela camada ex-
terna, a epiderme;
4) tecidos vasculares: floema e xilema, elementos con-
dutores dos vegetais.
Vejamos, agora, com mais detalhes, os quatro tipos básicos
de tecidos de uma planta.

Meristemas
Segundo Piqué (1997), meristemas são tecidos que
originam todos os outros tecidos das plantas e podem ser
encontrados no embrião (presente no interior da semente) e nas
partes responsáveis pelo crescimento do vegetal, chamadas de
meristema apical, localizadas na ponta da raiz e do caule.
As células dos meristemas possuem paredes celulares finas,
grande quantidade de citoplasma, núcleo bem desenvolvido e
vacúolos pequenos, quando não ausentes (FERRI, 1999).
Na Figura 3, vemos a estrutura básica de um tecido
meristemático. Note as características básicas do tecido, como
paredes celulares finas e grandes núcleos.

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Figura 3 Estrutura básica de um tecido meristemático.

As células meristemáticas estão continuamente em divisão


(mitose). Uma das células-filha se diferenciará em algum tecido
vegetal, enquanto a outra manterá as características próprias do
meristema.
De acordo com Raven (2001), esse processo resulta em um
tipo de crescimento chamado de indeterminado, pois os vegetais
crescem de maneira contínua, praticamente durante toda sua
vida, diferentemente da maioria dos animais, que possui um
período de crescimento limitado.
Para o autor, esse tipo de crescimento indeterminado
tenta suprir a ausência de mobilidade dos vegetais. Dessa forma,
o caule e a raiz podem crescer em direções determinadas, de
acordo com as mudanças ambientais. Por exemplo, os meristemas
apicais da raiz e do caule são partes muito importantes da planta,
pois estão envolvidos diretamente com o desenvolvimento do
indivíduo e a formação de seus diversos tecidos.

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O bonsai, a arte asiática de cultivar pequenas árvores


em vasos rasos, por exemplo, deve-se, entre outras técnicas, à
retirada dos meristemas apicais da raiz e do caule, impedindo o
crescimento das plantas.
O meristema pode ser primário quando suas células estão
relacionadas diretamente à constituição e ao crescimento do
corpo vegetal e nunca perdem sua capacidade de multiplicação,
ou secundário, quando a célula já se diferenciou em algum
tecido especializado e posteriormente retoma sua capacidade de
divisão, como, por exemplo, nos tecidos de cicatrização (RAVEN,
2001).
Vamos estudar, agora, quais são os três principais sistemas
de tecido gerados pelo meristema: tecido fundamental, de
revestimento e vascular.

Tecidos fundamentais
Os tecidos fundamentais classificam-se em três tipos
distintos: parênquima, colênquima e esclerênquima.

Parênquima
O parênquima é o tipo mais básico de célula vegetal,
possuindo parede celular delgada, vacúolos e protoplasma
vivo (CUTTER, 2002). Juntas, essas células formam o tecido
fundamental, que está ligado às diversas atividades vegetativas
da planta e preenche todos os espaços entre os outros tecidos.
Devido a essas características básicas, o parênquima é
encontrado em diversas partes do corpo da planta: caules e
raízes, folhas, sementes, frutos, elementos condutores (xilema
e floema) etc.

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Segundo Raven (2001), os parênquimas possuem muitas


atividades funcionais, como a fotossíntese, a respiração, a
secreção e o armazenamento de várias substâncias. Por isso, o
conteúdo das células parenquimáticas é vasto, incluindo cristais,
taninos, óleos, amido, plastídios etc. Podemos citar, como
exemplo, o clorênquima, um tipo de parênquima relacionado com
a fotossíntese, pois contém muitos cloroplastos e é encontrado
principalmente nas folhas (Figura 4).
Ainda segundo Raven (2001), devido à relativa falta
de especialização, à presença de células vivas e a sua grande
versatilidade, o parênquima pode retomar a atividade
meristemática. Quando algum órgão é retirado de uma planta
adulta, como um ramo ou folha, e consegue formar um novo
indivíduo completo (processo conhecido como estaquia),
geralmente, são as células parenquimáticas presentes as
responsáveis pelo desenvolvimento dos novos órgãos e da planta.

Figura 4 Estrutura do clorênquima, um tipo de tecido parenquimático responsável pela


realização da fotossíntese.

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Segundo Castro (2011), os parênquimas podem ser de três


tipos básicos: fundamental, clorofiliano e de reserva. Veja:
• Fundamental: também é chamado de parênquima
de preenchimento, podendo ser encontrado no caule
e na raiz da planta. Suas células possuem algumas
características típicas, como a presença de vacúolo e os
espaços intercelulares diminutos.
• Clorofiliano: tecido relacionado diretamente ao
processo de fotossíntese, sendo encontrado facilmente
nos órgãos aéreos dos vegetais, como as folhas e
alguns caules. As células desse tecido possuem muitos
cloroplastos e grandes vacúolos. O parênquima
clorofiliano pode ser classificado como paliçádico,
quando suas células encontram-se perpendiculares com
relação à epiderme, ou como lacunoso, quando suas
células possuem formato irregular e deixam grandes
espaços intercelulares.
• Reserva: o parênquima de reserva, como o próprio
nome indica, atua na acumulação de diversas
substâncias, como amido, proteínas e óleos. Pode ser
encontrado, principalmente, nas raízes e sementes,
nestas, formando o endosperma.

Colênquima
De acordo com Raven (2001), o colênquima é um tecido
vivo, flexível, com considerável elasticidade, abundantemente
encontrado em estruturas que apresentam agitação mecânica
(Figura 5).
Junto com o esclerênquima, que é um tecido morto, ele
forma o principal sistema de suporte das estruturas vegetais,

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principalmente de órgãos em crescimento ou de órgãos maduros


de plantas herbáceas. É comum em caules, pecíolos, pedúnculos
e raramente é encontrado nas raízes.

Figura 5 Corte de tecido colenquimático.

As células do tecido colenquimático são geralmente


alongadas, lembrando fibras, com paredes celulares muito
espessas, principalmente nos ângulos, o que não impede suas
trocas metabólicas (CUTTER, 2002). As células podem se tornar
lignificadas nos últimos estágios de seu desenvolvimento. Em
alguns casos, podem conter cloroplastos e realizar a fotossíntese.

Esclerênquima
Segundo Raven (2001), o esclerênquima tem uma função
similar à do colênquima, de suporte mecânico, mas difere-se
dele por ser um tecido morto. As células esclerenquimáticas são
mortas, pois têm paredes celulares muito espessas e lignificadas,

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porque a lignina impermeabiliza as paredes celulares e impede


as trocas metabólicas, como indica a Figura 6.

Figura 6 Corte de tecido esclerenquimático.

O esclerênquima é composto, basicamente, de dois tipos


de células: os esclerócitos e as fibras (CUTTER, 2002).
Os esclerócitos também são conhecidos como “células
pétreas”, devido às suas paredes celulares extremamente duras.
A textura arenosa do fruto pera é devida a esse tipo de célula,
encontrado em sua polpa. Essas células são extremamente
variáveis na forma e na distribuição no corpo da planta.
De maneira geral, suas fibras são muito mais alongadas
que os esclerócitos. Elas possuem extremidades pontiagudas,
protoplasma estreito e paredes secundárias espessas, ocorrendo
em raízes, caules, folhas e frutos, em associação com outros
tecidos, sozinhas ou em feixes. Podemos citar o sisal e o linho
como exemplos de fibras utilizadas comercialmente.

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Tecidos de revestimento
O tecido de revestimento, como mencionamos
anteriormente, é formado pela camada externa, a epiderme.
Vejamos suas características detalhadamente.

Epiderme
A epiderme é a camada de células mais externa do corpo
da planta durante o crescimento primário e tem como função
básica isolar o indivíduo do meio ambiente (CUTTER, 2002).
Segundo Ferri (1999), as células da epiderme são
caracterizadas por possuírem um grande vacúolo central, que
ocupa quase todo o interior da célula, e são perfeitamente
justapostas, isto é, não deixam espaço entre elas.
A epiderme geralmente é formada por uma única camada
de células (uniestratificada), mas, em algumas espécies, pode
conter várias camadas, chamadas de “pluriestratificadas” (FERRI,
1999).
As funções básicas da epiderme das partes aéreas da planta
são diminuir a sua transpiração, protegê-la mecanicamente e
realizar trocas gasosas.
Em muitos casos, existem anexos epidérmicos que
possuem funções específicas, relacionando-se profundamente
com características de cada espécie vegetal.
Os principais anexos epidérmicos, de acordo com Raven
(2001), são:
• Cutícula: a parede externa da epiderme é revestida
pela cutícula, uma película formada por uma substância
chamada cutina, que diminui a permeabilidade

64 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

das paredes celulares, desempenhando um papel


importante na diminuição da transpiração.
• Pelos: também contribuem para a diminuição da
transpiração, sendo frequentes na epiderme de muitas
espécies vegetais. Os pelos auxiliam na diminuição
da transpiração, quando formam uma trama na qual
a umidade fica retida, reduzindo a perda de água.
Podem possuir substâncias urticantes ou uma grande
quantidade de pelos que torna a planta impalatável.
• Acúleos: em alguns casos, os pelos ganham espessura e/
ou resistência, transformando-se em acúleos que atuam
diretamente na proteção da planta contra a herbivoria.
Ainda segundo o autor, outra característica relacionada à
proteção se refere ao súber, tecido morto formado por várias
camadas de células de paredes espessas devido à suberificação.
A suberina é uma substância impermeabilizante que impede a
célula de realizar trocas de substâncias com o corpo da planta,
provocando sua morte. O protoplasma é, então, substituído por
ar, o que confere ao súber a capacidade de proteger a planta
contra choques mecânicos e variações de temperatura. Foi esse
tecido que Robert Hook observou em seu microscópio quando
descobriu as células da cortiça.

Estômatos
Segundo Raven (2001), uma das principais formações
epidérmicas encontra-se, especialmente, nas folhas da maioria
das plantas superiores: os estômatos.
O autor define os estômatos como aberturas na epiderme
que possuem a capacidade de mudar de formato, abrindo-

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 65


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

se ou fechando-se, devido às propriedades de duas células


especializadas: as células-guarda.
A função básica do estômato é realizar as trocas gasosas
entre a planta e o ambiente, que são necessárias para a realização
dos processos de fotossíntese e respiração.
A estrutura básica do estômato pode ser observada na
Figura 7. Atente-se para as células-guarda e seus cloroplastos e
o ostíolo.

Figura 7 Estrutura de um estômato.

As células-guarda das dicotiledôneas têm, geralmente, o


formato de meia-lua, com as extremidades arredondadas. Sua
parede celular possui espessuras diferentes e é esse fator que
determina sua propriedade de abrir e fechar o poro estomático
(CUTTER, 2002).

66 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

A parte mais delgada da parede, presente no lado oposto


à abertura do estômato, é mais elástica do que as paredes
adjacentes ao poro, sendo mais influenciada pelas mudanças na
turgescência da célula. O resultado dessa resposta diferenciada
à pressão de turgescência é que faz o estômato abrir ou fechar
(RAVEN, 2001).
Os estômatos se abrem quando a turgescência é elevada,
isto é, quando a célula está cheia de água, e se fecham quando
a turgescência diminui, ou seja, quando a água deixa a célula-
-guarda (RAVEN, 2001).
Raven (2001) ressalta que essa alteração na turgescência
da célula se deve às diferentes concentrações de carboidratos no
interior da célula.
Ainda segundo o autor, os estômatos podem estar
presentes na parte aérea das plantas, sendo mais abundantes
nas folhas e ausentes nas raízes. A quantidade de estômatos
pode variar muito, seja entre espécies, seja em uma mesma
espécie. Essa diferença na frequência dos estômatos pode ser
encontrada, inclusive, entre os órgãos de um mesmo indivíduo.
Por exemplo, uma folha pode ter número distinto de estômatos
na face abaxial (inferior) ou adaxial (superior). A quantidade de
estômatos também pode variar em virtude do posicionamento
da folha na planta.
Enquanto nas dicotiledôneas os estômatos estão dispersos
aleatoriamente, nas monocotiledôneas, eles se dispõem em
fileiras paralelas ao eixo central da folha (RAVEN, 2001).
A posição dos estômatos pode refletir adaptações ecológicas
das plantas às condições ambientais. Os estômatos podem se
situar acima das outras células da epiderme e são característicos

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 67


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

de plantas hidrófitas (hábitat com grande quantidade de água).


Os estômatos localizados em depressões, as criptas estomáticas,
são encontrados em plantas xerófitas, adaptadas a regiões
com pouca quantidade de água. Esses estômatos podem estar
protegidos por tricomas, que formam uma atmosfera úmida no
interior da cripta estomática.

Tecidos vasculares
Todas as plantas superiores possuem um sistema condutor,
composto de tecidos vasculares, que percorre todo o corpo do
vegetal, formando um sistema contínuo e complexo de vasos. O
sistema condutor tem como função básica o transporte de água,
substâncias inorgânicas e orgânicas para os locais da planta em
que são necessários (UFSCAR, 2015).
Os tecidos vasculares são formados, segundo Raven
(2001), pelo xilema, responsável pela condução da água e dos
íons inorgânicos (sais minerais), e pelo floema, que transporta as
substâncias orgânicas provenientes do processo de fotossíntese
(carboidratos).
Vamos conhecer um pouco mais desses dois importantíssi-
mos componentes que formam o tecido vascular?

Xilema
Segundo Cutter (2002), o xilema é um tecido composto
de vários tipos de células, vivas e mortas, o que confere sua
complexidade característica. Sua principal função é o transporte
de água e sais minerais no sentido ascendente (de baixo para
cima), da raiz ao ápice do caule, passando por todas as partes
da planta. O xilema também exerce um importante papel na

68 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

estrutura do corpo vegetal, participando ativamente na sua


sustentação, devido à presença de células lignificadas.
Raven (2001) salienta que o xilema pode ter origem
primária ou secundária. Os primeiros xilemas que são formados
na planta se originam do meristema apical e, por isso, são
considerados “primários”. O xilema secundário está relacionado
ao crescimento em espessura da planta, com formação de novos
xilemas, recebendo o nome de “secundário”.
O xilema é constituído pelos seguintes elementos, de
acordo com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UFSCAR,
2015):
• Traqueários: compreendem as traqueídes e os vasos.
São longos, com paredes lignificadas, sem protoplasma,
isto é, são elementos mortos. Têm função de condução
e sustentação.
• Fibras lenhosas: tecido morto com função de
sustentação.
• Parênquimas: células vivas que constituem o
parênquima lenhoso.
Confira, na Figura 8, a estrutura do xilema. Observe, ao
centro, os vasos do xilema, com coloração em tons de rosa. À
direita, note um esclerócito, bem destacado em rosa.

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 69


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

Figura 8 Corte transversal de uma raiz.

Floema
O floema geralmente é encontrado junto com o xilema, e,
semelhantemente a ele, também é formado por diversos tipos de
célula vivas e mortas: elementos crivados (ou células crivadas),
células parenquimáticas, fibras e esclerócitos (Figura 9).

Figura 9 Corte transversal de um caule mostrando o floema ao centro (em verde) e ao


seu redor o xilema (em rosa).

70 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

A principal função do floema é o transporte de substâncias


orgânicas (açúcar), conhecidas também como seiva elaborada,
dos locais de síntese (órgãos fotossintetizantes) para todos os
outros tecidos do corpo vegetal, nutrindo-os (UFSCAR, 2015).
Segundo Raven (2001), as células formadoras do floema
são, em geral, longas e cilíndricas, com paredes celulares menos
resistentes, quando comparadas com as células do xilema, não
atuando de forma significativa na sustentação da planta. Assim
como o xilema, o floema pode ser primário ou secundário.
As células crivadas das pteridófitas e gimnospermas
são mais primitivas que os elementos do tubo crivado das
angiospermas (CUTTER, 2002).
Os elementos do tubo crivado são formados por células
vivas, sem núcleo, ligadas para formar um longo canal, com
muitos poros nas paredes celulares.
As células parenquimáticas, também conhecidas como
“células companheiras”, são vivas e possuem uma grande ligação
com as células crivadas, as quais auxiliam em seu metabolismo
(UFSCAR, 2015). As fibras são células mortas com função de
resistência e suporte.

Crescimento primário e secundário


Neste tópico, trataremos rapidamente sobre um assunto
relacionado aos tecidos e ao desenvolvimento dos vegetais, que
são os tipos de crescimento primário e secundário.
Segundo Raven (2001), o crescimento primário envolve os
aspectos relacionados ao desenvolvimento da planta até atingir
o estágio adulto, como a atividade do meristema apical e o
crescimento e diferenciação celular. É por meio do crescimento

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 71


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

primário que o corpo completo do vegetal (raiz, caule, folha,


flor, fruto e semente) é formado, com seus respectivos tecidos
específicos (fundamental, revestimento e vascular). A maioria
das monocotiledôneas e das dicotiledôneas de pequeno porte
completam seus ciclos de vida apenas com o crescimento
primário.
Já o crescimento secundário, ainda conforme Raven
(2001), é responsável pelo espessamento do caule ou tronco por
meio do aumento da quantidade de tecidos vasculares (xilema
e floema) ou formação da periderme, um tecido protetor. Esse
tipo de crescimento é encontrado na maioria das angiospermas
dicotiledôneas e das gimnospermas, formando indivíduos de
grande porte, como as árvores, por exemplo.

7. MÉTODOS DE ENSINO DA ANATOMIA VEGETAL


Este tópico tem o objetivo de sugerir algumas atividades
diferenciadas para serem realizadas em sala de aula, abordando
os assuntos contidos na unidade. É importante destacar que o
desenvolvimento de novas técnicas de aprendizagem, além de
muito importante, ocorre com alta frequência, sempre surgindo
novas atividades e adaptações.
Você, como futuro(a) educador(a), deve pesquisar outras
atividades e usar a criatividade para adaptar as sugestões de
acordo com sua realidade. Se sua instituição de trabalho não
possui um laboratório, não há problema, pois muitas atividades
podem ser realizadas em sala de aula ou em uma área aberta
(pátio, quadra de esportes etc.). Se não houver equipamentos,
como computadores ou projetores, busque alternativas, como

72 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

o uso de televisão e DVD, relativamente mais comum e de fácil


acesso.
A primeira grande mensagem é: use sempre a criatividade
para contornar possíveis desafios!
As atividades que serão propostas no tópico sobre
métodos de ensino de cada unidade apresentarão sugestões
bem direcionadas. Atividades mais gerais, como apresentação
de vídeos, aulas com uso de equipamento multimídia, alguns
tipos de jogos (gincana de pergunta e resposta, por exemplo),
apesar de muito interessantes, não serão abordadas.
Essas atividades devem ser motivadas e realizadas pelos
educadores, mas, como estão inseridas em um contexto mais
geral, sua leitura ficaria muito repetitiva e desestimulante.
Dessa forma, focaremos em atividades diferenciadas,
porém simples, que, com algumas adaptações, podem ser
realizadas pelo professor de qualquer região do Brasil.
A internet é uma fonte de pesquisa de novas ideias e
materiais extremamente úteis. Um exemplo bem simples é o
site YouTube, que possui uma infinidade de vídeos que podem
ser utilizados em apresentações em sala de aula ou como fonte
de informação e atualização para os professores. Basta ter um
pouco de paciência para realizar sua pesquisa; certamente, você
encontrará algo interessante e útil!
Outra dica relevante é o site Banco Internacional de
Objetos Educacionais (MEC, 2011), no qual você encontrará
muitas sugestões de atividades, vídeos, animações, figuras etc.
Vale a pena conferir!

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 73


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

Como esta é a nossa primeira abordagem sobre atividades


práticas ou diferenciadas no processo de aprendizagem, cabe
uma breve justificativa de sua importância.
As atividades práticas são baseadas em uma metodologia
construtivista de ensino e resultam em algumas modificações no
papel do professor e do aluno (USP, 2004). Essas modificações
são essenciais para a melhoria da qualidade do ensino em nossa
sociedade atual. Quando o aluno realiza uma interação direta
com seu objeto de estudo, ele desperta novas habilidades,
como a observação, a análise e a capacidade de reconstruir
alguns conceitos abordados na teoria, o que resulta em uma
aprendizagem muito mais significativa e prazerosa.
Os professores devem deixar de lado a ideia de que
aulas práticas servem apenas para fixar a teoria e usá-las como
forma de construir novos conhecimentos por meio da vivência,
experimentação e reflexão sobre determinado assunto (USP,
2004).
A seguir, apresentaremos algumas sugestões de atividades
para serem realizadas nas aulas de Botânica.

Construção de modelos tridimensionais


O uso de modelos tridimensionais comercializados por
algumas empresas é uma alternativa muito interessante, mas
algumas dificuldades são encontradas com esses materiais,
como, por exemplo, seu alto custo, falta de acesso e pouca
diversidade de modelos (CECCANTINI, 2011).
Uma alternativa totalmente viável é a construção desses
modelos tridimensionais pelos alunos, tornando-os parte
do método de ensino. Para isso, são necessárias doses de

74 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

criatividade e determinação, características que devem estar


presentes em todo professor de Ciências Biológicas. Esses
modelos são importantes, pois vão além das duas dimensões
que o livro didático possibilita, oferecendo uma nova visão de
aspectos abordados teoricamente.
Para a construção desses modelos, podem ser utilizados
materiais bem simples, como cartolina, isopor, tinta, massa de
modelar e até materiais recicláveis (garrafas de plástico, potes
de vidro, caixas de papelão etc.). Uma sugestão válida para a
construção de um cubo de madeira indicando suas estruturas
internas encontra-se em Ceccantini (2011).
Outra possibilidade é a construção de um modelo didático
de uma célula vegetal. Essa atividade foi adaptada de outra, que
sugere a construção de uma célula animal, disponível no site do
Banco Internacional de Objetos Educacionais (MEC, 2011).
Os alunos deverão buscar materiais que se assemelhem às
estruturas e organelas celulares, como, por exemplo, um pote de
plástico ou vidro representando a membrana plasmática, em que
serão abrigadas as organelas. Seu interior pode ser preenchido
por parafina em gel incolor ou gel de cabelo, que fará o papel
de citoplasma (o gel de cabelo é mais fácil de ser encontrado e
manipulado).
Para as organelas, podemos utilizar massa de modelar,
que deverá ter o formato e tamanho relativo das organelas
verdadeiras, miçangas grandes e pequenas, bolas de gude,
macarrão de vários tipos, fitas coloridas, bexigas etc.
Com criatividade, é possível elaborar um modelo de célula
vegetal bonito e didático!

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 75


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

Uso de tecnologias
Essa atividade é válida para os professores que possuem
computador e projetor na instituição de ensino ou para alunos
que têm acesso ao laboratório de informática da escola.
Tecnologia, computadores, internet, entre outros, são
realidades para muitos jovens, atualmente. Esse dinamismo de
informação e conteúdo deve ser utilizado pelos professores,
mostrando ao seu aluno que o computador também é um ótimo
aliado em seus estudos, e a internet, uma fonte de pesquisa e
conteúdo muito rica. Existem diversos programas de computador
que são muito didáticos e possibilitam novas abordagens de
temas relevantes, tornando-se uma ferramenta muito útil no
processo de aprendizagem.
Opções de programas de acesso livre, isto é, gratuitos,
são encontrados no site da Biblioteca Digital de Ciências
do Laboratório de Tecnologia Educacional da Universidade
de Campinas (UNICAMP, 2011). Outro recurso interessante
disponível nesse site são os laminários, nos quais você pode
encontrar diversas lâminas com fotos de microscópio dos tecidos
vegetais. Como muitas escolas ainda não dispõem de laboratórios
equipados, essa pode ser uma alternativa interessante para
suprir essa demanda. É necessário fazer um cadastro para ter
acesso a muitos programas e materiais para download ou acesso
on-line. Vale a pena!
O Banco Internacional de Objetos Educacionais, como
mencionamos anteriormente, também é uma excelente opção,
com muitas animações interativas que ilustram vários aspectos
da Anatomia Vegetal, destacando o programa Células Virtuais,
em que são apresentados modelos animados, emitindo som de
células, além de exercícios interativos.

76 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

8. TEXTO COMPLEMENTAR
O texto a seguir apresenta, de forma breve, algumas
considerações sobre a Teoria da Endossimbiose, de autoria da
Dra. Lynn Margulis.
Ele nos permite perceber um pouco mais sobre a relevância
da Dra. Lynn Margulis e sua Teoria da Endossimbiose.

Nadando contra a corrente––––––––––––––––––––––––––––


Os micro-organismos sempre foram uma paixão para Lynn Margulis, como ela
mesma gostava de frisar. Em suas palavras (grafia de acordo com o original):
“Inscrevi-me como estudante de pós-graduação no departamento de genética da
Universidade da Califórnia em Berkeley em 1960. Embora eu tivesse 22 anos e
já fosse mãe de dois garotos insistentemente ativos, meu entusiasmo pela busca
da genética celular e pela evolução [dominava] qualquer idéia de me tornar dona-
de-casa em tempo integral. Mais do que maridos, sempre desejei ter filhos. Ao
contrário de meus pais, eu achava uísque e cigarros, pôquer e bridge, reuniões
e política, fofocas e golfe insuportavelmente chatos. Eu, por outro lado, era
intoleravelmente pedante, séria e estudiosa e preferia a companhia de bebês,
lama, árvores, fósseis, animais de estimação e micróbios ao mundo normal dos
adultos. E ainda prefiro” – Lynn Margulis, O planeta simbiótico (2001, p. 31).
Todos os organismos conhecidos exibem uma organização celular: bactérias,
protistas (protozoários e a maioria dos grupos de algas), animais, fungos
e plantas (incluindo algas verdes e vermelhas) são todos formados de
células. (Os vírus são tratados em separado justamente porque carecem de
organização celular.)
Existem, no entanto, dois tipos radicalmente diferentes de células: as
procarióticas e as eucarióticas. As primeiras se caracterizam pelas dimensões
reduzidas (1-10 μm; 1 μm equivale à milésima parte de um milímetro) e pelo
material genético (cromossomo) disperso no citoplasma, entre outras coisas.
As últimas são em geral de dimensões bem maiores (10-100 μm), além
de possuírem um núcleo delimitado por membrana, no interior do qual se
encontram os cromossomos. Apenas as bactérias (incluindo as chamadas
arqueias) são formadas de células procarióticas (ou anucleadas); todos os
demais seres vivos são formados de células eucarióticas (nucleadas).

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 77


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

Transferência horizontal de genes e endossimbiose


Muitos estudiosos acreditam que as células eucarióticas surgiram de células
procarióticas pré-existentes, embora várias questões ainda sejam controversas.
Um ponto de vista amplamente aceito atualmente defende a ideia de que a
presença de certas estruturas, como as mitocôndrias e os cloroplastos, é o
resultado de um processo de simbiose entre distintas linhagens de células. (A
palavra “simbiose” é usada para descrever situações nas quais indivíduos de
espécies diferentes vivem em estreito contato físico. Duas espécies vivendo
em simbiose podem ser parceiros mutualistas, mas o termo também se aplica
para interações nas quais os envolvidos são um parasita ou um comensal e o
seu hospedeiro.).
A moderna teoria da evolução por seleção natural está organizada em torno
da ideia de que a transmissão de caracteres hereditários é um processo
essencialmente vertical – isto é, os genes são transmitidos de uma geração
a outra. Nas últimas décadas, porém, surgiram evidências em favor de outro
tipo de fenômeno: a transferência horizontal (ou lateral) de genes (THG). Ao
contrário da transferência vertical, quando a transmissão se dá entre pais e
filhos, a THG ocorre entre indivíduos não-aparentados ou até mesmo entre
indivíduos de espécies diferentes.
A THG entre células procarióticas costuma ser mediada por vírus ou plasmídios.
No caso de células eucarióticas, a principal causa de transferência seria a
endossimbiose, quando uma célula de determinada espécie (anteriormente
uma presa ou parasita, por exemplo) é englobada e passa a viver no interior
de outra. Se a célula englobada consegue escapar da digestão intracelular,
ela pode não só continuar viva, mas se multiplicar e, em última análise, evoluir
em simbiose com a célula que a englobou. Mitocôndrias e cloroplastos seriam
dois exemplos de THG por endossimbiose. Etimologicamente, a palavra
endossimbiose (do grego éndon-, no interior + symbíosis, viver junto) significa
algo como “viver aninhado no interior do outro”.

A teoria da endossimbiose sequencial


Lynn Margulis não foi a primeira cientista a argumentar em favor de uma
origem simbiótica para as organelas da célula eucariótica. Outros antes dela
já haviam vislumbrado essa possibilidade. Em 1885, por exemplo, o botânico
alemão Andreas Franz Wilhelm Schimper (1856-1901) escreveu a respeito da
origem simbiótica da célula vegetal, argumentando que ela seria o resultado da
união entre dois organismos, um desprovido de cor e o outro esverdeado. Em
1890, raciocinando de modo semelhante, o médico alemão Richard Altmann

78 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

(1852-1900) cunhou o termo “bioblasto” (mitocôndria), descrevendo-o como


um organismo elementar, com autonomia metabólica e genética, presente em
quase todos os tipos de células.
O que o trabalho de Margulis teve de inovador foi uma conjugação entre
argumentos teóricos e um volume apreciável de evidências empíricas,
notadamente a presença de DNA “bacteriano” no interior de mitocôndrias e
cloroplastos. De acordo com a sua teoria da endossimbiose sequencial, as
mitocôndrias descendem de proteobactérias aeróbicas, metabolizadoras
de oxigênio, que foram englobadas por uma célula eucariótica ancestral, de
metabolismo provavelmente anaeróbico. De modo semelhante, os cloroplastos
descendem de cianobactérias fotossintetizantes que foram englobadas por
uma célula eucariótica, a qual já abrigava mitocôndrias em seu interior e que,
portanto, já metabolizava o oxigênio. O surgimento de células com cloroplasto,
como se vê, teria envolvido um episódio adicional de endossimbiose.
A primeira versão da teoria de Margulis apareceu em um artigo, intitulado
“Sobre a origem de células mitóticas” (“On the origin of mitosing cell”), publicado
na prestigiosa revista Journal of Theoretical Biology, em 1967. O artigo foi
posteriormente ampliado e convertido em livro, The origin of eukaryotic cells
(1970, Yale University Press), cuja edição mais recente apareceu sob o título
Symbiosis in cell evolution (1993, W. H. Freeman). Ela própria dizia que esse
era o “trabalho de sua vida”.
A história desse artigo é bastante conturbada: antes de ser aceito para
publicação, o manuscrito foi recusado por mais de uma dezena de revistas,
quase sempre sob a alegação de que as ideias ali contidas estavam erradas.
Nas palavras da autora (grafia de acordo com o original):
“Minha primeira exposição completa da ‘teoria da endossimbiose sequencial’
foi publicada após cerca de 15 rejeições e perdas variadas de um manuscrito
precoce, dolorosamente complexo e mal redigido. Intitulado ‘Origem das células
mitóticas’, ele finalmente foi aceito para publicação em 1966 por meio da
intervenção direta de James F. Danielli, na época redator do ousado Journal of
Theoretical Biology. É claro que o artigo, quando finalmente publicado no fim de
1967, levava meu primeiro nome de casada, Lynn Sagan” – Lynn Margulis, O
planeta simbiótico (2001, p. 34).

Algumas polêmicas recentes


Cabe ressaltar que três anos antes, em 1964, a mesma revista havia publicado
outro artigo que também se tornaria um marco, mas que até ser aceito para
publicação foi igualmente recusado por inúmeras outras revistas científicas.
Estou me referindo aqui ao artigo “The genetical evolution of social behavior”,

© FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I 79


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

do biólogo inglês William D. Hamilton (1936-2000), cujos escritos ajudaram a


moldar a história recente da teoria evolutiva.
Superada a rejeição inicial, no entanto, várias ideias defendidas por Margulis a
respeito das “células mitóticas” foram absorvidas, tornando-se parte do “feijão
com arroz” da biologia moderna. Para comprovar essa afirmação, basta folhear
algum livro-texto de uso corrente em áreas como biologia evolutiva, biologia
celular ou microbiologia – ver, por exemplo, Análise evolutiva (2009, Artmed,
4ª edição), de Scott Freeman & Jon C. Herron; Evolução: uma introdução
(Atheneu, 2003), de Stephen C. Stearns & Rolf F. Hoekstra; Biologia molecular
da célula (2006, Artmed, 4ª edição), de Bruce Alberts & outros cinco co-autores;
e Microbiologia de Brock (2010, Artmed, 12ª edição), de Michael T. Madigan &
outros três co-autores.
Mas nem todas as suas ideias foram aceitas. Sua hipótese de que os cílios,
um tipo de organela presente em células eucarióticas, análoga ao flagelo
bacteriano, também teriam surgido por endossimbiose tem sido rebatida por
outros pesquisadores. No entanto, convencida de que estava com a razão –
como era seu costume, aliás –, ela continuou trabalhando até o fim da vida
em busca de evidências (ver, por exemplo, Kier, A. M. et al. 2010. Spirochete
attachment ultrastructure: implications for the origin and evolution of cilia.
Biological Bulletin, 218: 25-35.).
Às vezes, porém, ela parecia ser mais do que uma cientista meticulosa e
determinada. Como no caso de sua indisposição com certos aspectos da
teoria evolutiva, notadamente o papel e a importância da seleção natural. De
acordo com Margulis, a seleção natural seria incapaz de explicar a origem
da diversidade biológica. Para isso, teríamos de recorrer à simbiogênese –
processo evolutivo por meio do qual uma nova espécie surgiria a partir de uma
fusão entre linhagens de organismos simbiontes. Outros autores antes dela já
haviam vislumbrado essa possibilidade, como os botânicos russos Konstantin
Mereschkowski (1855-1921) e Boris Mikhailovich Kozo-Polyansky (1890-
1957) e o biólogo estadunidense Ivan Wallin (1883-1969). Há quem duvide,
no entanto, de que a simbiogênese possa ter tido algum papel relevante na
história da vida acima do nível das células.
A partir da década de 1970, Margulis se envolveu com outra ideia controversa:
a chamada hipótese Gaia, formulada originalmente pelo químico inglês James
Lovelock (1919-), segundo a qual a biota da Terra se comportaria como um
superorganismo capaz de gerar, manter e regular em escala planetária as
condições propícias à manutenção da vida (adaptado de COSTA, 2012).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

80 © FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL I


UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida
nesta unidade, ou seja, os diferentes níveis de complexidade
da Anatomia Vegetal, abordando desde a célula até os órgãos,
passando pelos tecidos vegetais.
A autoavaliação é uma ferramenta importante para você
testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal
para que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que,
na Educação a Distância, a construção do conhecimento ocorre
de forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as
suas descobertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Associe o nome das organelas com suas respectivas funções e assinale a
alternativa correta:
a) ribossomos.
b) mitocôndria.
c) retículo endoplasmático.
d) complexo de Golgi.
e) vacúolo.

I - Armazenamento de água.
II - Promovem o transporte de substâncias através de uma extensa rede
de canais.
III - Respiração celular; produção de ATP.
IV - Produção de proteínas.
V - Síntese e secreção de polissacarídeos.

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UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

a) A-IV; B-I; C-II; D-V; E-III.


b) A-II; B-V; C-I; D-IV; E-III.
c) A-V; B-IV; C-III; D-II; E-I.
d) A-IV; B-III; C-II; D-V; E-I.
e) A-V; B-III; C-IV; D-I; E-II.

2) Quais organelas são encontradas na célula vegetal e estão ausentes


na célula animal? Explique a função de cada organela e dê uma breve
justificativa de sua presença na célula vegetal.

3) Preencha as lacunas com o tecido vegetal correspondente a cada definição:


a) Tecido que possui diversas atividades funcionais, como fotossíntese,
respiração, secreção e armazenamento de várias substâncias:
____________________.
b) Tecido vascular responsável pelo transporte de substâncias orgânicas:
____________________.
c) Tecido geralmente encontrado no embrião e responsável pelo
crescimento do vegetal: ____________________.
d) Tecido formado por células com grande vacúolo, responsáveis por
proteger o indivíduo do meio externo: ____________________.
e) Tecido vascular responsável pelo transporte de água e sais minerais:
____________________.
f) Tecido morto cuja parede celular é formada por lignina:
_____________________.
g) Tecido vivo geralmente encontrado nos caules, pertencente ao sistema
de suporte do vegetal: ____________________.

4) Qual a principal função dos estômatos?

5) Quais os principais níveis de organização de um organismo vegetal?

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UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) d.

2) A célula vegetal possui três organelas exclusivas: a parede celular, que


contribui para sustentação e proteção do vegetal; os vacúolos, grandes
reservatórios de suco celular; e os plastídios (cloroplastos, cromoplastos e
leucoplastos), que desempenham funções relacionadas aos processos de
fotossíntese e armazenamento de substâncias.

3) A palavra que preenche cada uma das lacunas é:


a) Parênquima.
b) Floema.
c) Meristema.
d) Epiderme.
e) Xilema.
f) Esclerênquima.
g) Colênquima.

4) Os estômatos realizam o contato entre o tecido vegetal e a atmosfera,


promovendo a troca gasosa (CO2 e O2).

5) Os principais níveis organizacionais dos vegetais são: célula – tecido – ór-


gão – organismo.

10. CONSIDERAÇÕES
Nesta primeira unidade, abordamos os principais tópicos
referentes à formação e à organização do corpo vegetal, um
conteúdo muito vasto que tentamos abordar de forma resumida,
porém sem que faltem as informações importantes.

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UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

Esperamos que você tenha conseguido aproveitar ao


máximo seus estudos!
Como esta foi uma unidade repleta de informações, respire
fundo, descanse um pouco e prepare-se para a Unidade 2, na
qual trataremos da morfologia vegetal, dando um passo a mais
para compreender uma pequena parte desse vasto universo da
Botânica!
Você está pronto? Então, vamos lá!

11.  E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Tecido vegetal observado por Robert Hooke em 1665. Disponível em: <http://
www.flickr.com/photos/martinlabar/66177481/>. Acesso em: 12 jun. 2015.
Figura 2 Esquema geral de uma célula vegetal. Disponível em: <http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Plant_cell_structure_portug.gif>. Acesso em: 12 jun. 2015.
Figura 3 Estrutura básica de um tecido meristemático. Disponível em: <http://www.
anatomiavegetal.ib.ufu.br/exercicios-html/Meristema.htm>. Acesso em: 12 jun. 2015.
Figura 4 Estrutura do clorênquima, um tipo de tecido parenquimático responsável
pela realização da fotossíntese. Disponível em: <http://www.natureduca.com/botan_
organ_tallo2.php>. Acesso em: 12 jun. 2015.
Figura 5 Corte de tecido colênquimático. Disponível em: < https://morfoanatomiavegetal.
wordpress.com/tecidos-vegetais/>. Acesso em: 12 jun. 2015.
Figura 6 Corte de tecido esclerenquimático. Disponível em: < https://
morfoanatomiavegetal.wordpress.com/tecidos-vegetais/>. Acesso em: 12 jun. 2015.
Figura 7 Estrutura de um cloroplasto. Disponível em: <http://biologiacesaresezar.
editorasaraiva.com.br/navitacontent_/userFiles/File/Biologia_Cesar_Sezar/
BIO2_468.jpg>. Acesso em: 12 jun. 2015.

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UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

Sites pesquisados
BRASIL. Ministério da Educação. Banco Internacional de Objetos Educacionais.
Planetabio. Home page. Disponível em: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br>.
Acesso em: 12 jun. 2015.
______. Botânica – Tecidos vegetais. Disponível em: <http://objetoseducacionais2.
mec.gov.br/handle/mec/2353>. Acesso em: 12 jun. 2015.
CASTRO, N. M. Parênquima. Disponível em: <http://www.anatomiavegetal.ib.ufu.br/
exercicios-html/Parenquima.htm>. Acesso em: 12 jun. 2015.
CECCANTINI, G. Os tecidos vegetais têm três dimensões. Revista Brasil, v. 29, n. 2,
p. 335-337, abr./jun. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbb/v29n2/
a15v29n2.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2015.
COSTA, F. A. P. L. Nadando contra a corrente. Observatório da Imprensa. Disponível
em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_nadando_contra_a_
corrente>. Acesso em: 12 jun. 2015.
PORTAL SÃO FRANCISCO. Morfologia e classificação das células. Disponível em:
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/celula/morfologia.php>. Acesso em: 12
jun. 2015.
UFSCAR. Introdução à Biologia Vegetal. Disponível em: <http://biologia.ifsc.usp.br/
bio3/outros/02-Morfologia.pdf >. Acesso em: 12 jun. 2015.
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas. Laboratório de Tecnologia
Educacional. Biblioteca Digital de Ciências. Home page. Disponível em: <http://www2.
ib.unicamp.br/lte/bdc/principal.php>. Acesso em: 12 jun. 2015.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUTTER, E. G. Anatomia Vegetal. Parte I: células e tecidos. Trad. Gabriela V. M. C.
Catena. 2. ed. São Paulo: Roca, 2002. v. 1.
______. Anatomia Vegetal. Parte II: órgãos – experimentos e interpretação. Trad.
Gabriela V. M. C. Catena. São Paulo: Roca, 2002. v. 2.
FERRI, M. G. Botânica: morfologia interna das plantas (Anatomia). São Paulo: Nobel,
1999.
OLIVEIRA, F.; AKISUE, G. Fundamentos de Farmacobotânica e de Morfologia Vegetal. 3.
ed. São Paulo: Atheneu, 1999.
PIQUÉ, M. P. R. Manual de Histologia Vegetal. São Paulo: Ícone, 1997.

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UNIDADE 1 – ANATOMIA VEGETAL

RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. Trad. Ana Paula P. Costa.
6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
SANTOS, D. Y. A. C.; CECCANTINI, G. (Org.) Propostas para o Ensino de Botânica:
Manual do Curso para Aualização dos Professores dos Ensinos Fundamental e Médio.
São Paulo: IB/USP, 2004.

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