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REPÚBLICA DE ANGOLA

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DO BEMBE


DIRECÇÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO
LICEU DO BEMBE

MATERIAL DE BIOLOGIA
10ª Classe

Por
André de Azevedo Miguel Lubamba

Bembe – 2022/2023
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

INTRODUÇÃO

Biologia é a ciência que estuda os seres vivos (do grego βιος - bios = vida e λογος -
logos = estudo, ou seja o estudo da vida). Debruça-se sobre o funcionamento dinâmico
dos organismos desde uma escala molecular subcelular até o nível populacional e
interacional, tanto intraespecificamente quanto inter-especificamente, bem como a
interação da vida com seu ambiente físico-químico. A biologia abrange um espectro
amplo de áreas acadêmicas frequentemente consideradas disciplinas independentes, mas
que, no seu conjunto, estudam a vida nas mais variadas escalas. A vida é estudada à
escala atômica e molecular pela biologia molecular, pela bioquímica e pela genética
molecular; no que se refere à célula pela biologia celular e à escala multicelular pela
fisiologia, pela anatomia e pela histologia. A biologia do desenvolvimento estuda a vida
ao nível do desenvolvimento ou ontogenia do organismo individual.

Princípios da biologia

A Biologia é caracterizada por um certo número de princípios e conceitos nucleares:


universalidade, evolução, diversidade, continuidade, homeostase e interação.

Universalidade: bioquímica, células e o código genético

Existem muitas unidades universais e processos comuns que são fundamentais para
todas as formas de vida. Por exemplo, quase todas as formas de vida são constituídas
por células que, por sua vez, funcionam segundo uma bioquímica comum baseada no
carbono. A exceção a essa regra são os vírus e os príons, que não são compostos por
células. Todos os organismos transmitem a sua hereditariedade através de material
genético baseado em ácidos nucleicos, podendo ser DNA (Ácido desoxirribonucléico)
ou RNA (Ácido ribonucléico), usando um código genético universal.

Evolução: o princípio central da biologia

Um dos conceitos nucleares e estruturantes em biologia é que toda a vida descende de


um ancestral comum mediante um processo de evolução. De fato, é uma das razões
pelas quais os organismos biológicos exibem a notável similaridade de unidades e
processos discutida na seção anterior. Charles Darwin estabeleceu a evolução como uma
teoria viável ao enunciar a sua força motriz: a seleção natural. (Alfred Russel Wallace é
comumente reconhecido como co-autor deste conceito).
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

Diversidade: a variedade dos organismos vivos

Apesar da unidade subjacente, a vida exibe uma diversidade surpreendente em termos


de morfologia, comportamento e ciclos de vida. A classificação de todos os seres vivos
é uma tentativa de lidar com toda esta diversidade, e o objeto de estudo da sistemática e
da taxonomia.

Homeostase: adaptação à mudança

A homeostase é a propriedade de um sistema aberto de regular o seu ambiente interno


de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de um equilíbrio
dinâmico controlados pela interação de mecanismos de regulação.

Interação: grupos e ambientes

Todo o ser vivo interage com outros organismos e com o seu ambiente. Uma das razões
pelas quais os sistemas biológicos são tão difíceis de estudar é precisamente a
possibilidade de tantas interações diferentes com outros organismos e com o ambiente
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

Tema 1 - Organização celular

1.1. A invenção do microscópio e a descoberta da célula

É difícil dizer quem inventou o aparelho hoje conhecido como microscópio (mikros =
pequeno; skopeo = examinar). Um dos candidatos a essa invenção foi o cientista
Galileu Galilei (1564-1642), em 1609. Mas quem chamou a atenção dos cientistas para
o uso desse aparelho no estudo de microrganismos foi um holandês comerciante de
tecidos, como veremos a seguir.

1.1.1. A descoberta da célula


O holandês Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) foi um comerciante de tecidos que
dedicava boa parte do seu tempo ao estudo da natureza e tinha notável habilidade para
polir lentes e torná-las muito finas. Ele usava as lentes para examinar as fibras do tecido
e atestar sua qualidade.
Com suas lentes e técnicas de iluminação, Leeuwenhoek foi capaz de aumentar a
imagem dos objetos até 270 vezes. Com isso, pôde observar microrganismos com
apenas 0,003 mm de comprimento. Embora as imagens fossem ainda muito distorcidas
na forma e na cor, isso já constituía um grande avanço, pois o ser humano não enxerga,
a olho nu, objetos com menos de 0,1 mm de comprimento.
Na mesma época em que Leeuwenhoek desenvolvia suas lentes e realizava suas
observações de um mundo pequeno de mais para ser observado a olho nu, o cientista
inglês Robert Hooke (1635-170), observou pedaços de cortiça com o auxílio de um
microscópio formado por duas ou mais lentes associadas dentro de um tubo de metal.
Era o chamado microscópio composto, semelhante aos microscópios de hoje (o
microscópio de Leeuwenhoek possuía apenas uma lente). Ele descreveu pequenas
cavidades no interior daqueles pedaços e deu-lhes o nome de células (diminutivo latino
de cella, ‘lugar fechado’, ‘pequeno cômodo’). De fato, como a cortiça é um tecido de
células mortas que protege o tronco das árvores, o que Hooke viu foi apenas o
envoltório da célula (a parede celular) e o espaço vazio antes ocupado pela célula viva.
Na década de 1820, o botânico escocês Robert Brown (1773-1858) descobriu um
pequeno corpo no interior de vários tipos de células e o chamou de núcleo. Em 1838, o
botânico alemão Matthias Schleiden (1804-1881) concluiu que a célula era a unidade
básica de todas as plantas. Um ano mais tarde, o zoólogo alemão Theodor Schwann
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

(1810-1882) generalizou esse conceito para os animais. Surgia, assim, a teoria celular
de Schwann e Schleiden: “Todos os seres vivos são formados por células”.
Mas ainda havia uma questão: de onde vinham as células? Alguns achavam que elas
podiam surgir de algum líquido do corpo. Em 1858, o médico alemão Rudolf Virchow
(1821-1902) afirmou que toda célula provém de outra, querendo dizer que uma célula é
capaz de se reproduzir. Virchow fez mais uma afirmação ousada para a época: as
doenças seriam consequência de problemas nas células.

1.1.2. A teoria celular


Com base nessas descobertas e em outras, elaborou-se a teoria celular. Como vimos, a
elaboração da teoria foi resultado de várias pesquisas realizadas por diversos cientistas
ao longo do tempo. Os princípios fundamentais da teoria celular são:
 Todos os seres vivos são formados por células. Alguns têm o corpo formado por
uma única célula. Portanto, a célula é a unidade morfológica dos seres vivos.
 A célula é a menor unidade viva. As propriedades vitais de um organismo
dependem das propriedades de suas células, nas quais ocorrem as reações do
metabolismo. Portanto, a célula é a unidade fisiológica dos seres vivos.
 As células surgem sempre de outras células. Cada uma contém as informações
hereditárias de todo o organismo.
1.1.2.1. O tamanho das células
No corpo de um ser humano adulto existem aproximadamente 65 trilhões de células.
Em geral, elas são tão pequenas que não podem ser vistas a olho nu. A maioria das
células tem um tamanho que varia entre 10 µm e 100 µm, ou seja, entre 0,01 mm e 0,1
mm. Isso significa que, no ponto-final desta frase, caberiam, alinhadas, cerca de dez
células grandes (veja no quadro a seguir o valor de algumas unidades de medida
utilizadas em Citologia).

1 micrômetro (µm) = 10–3 mm


1 nanômetro (nm) = 10–3 µm
1 angström (Å) = 10–4 µm
Uma célula animal típica mede entre 10 µm e 20 µm de diâmetro: ela é cinco vezes
menor que a menor partícula visível a olho nu.
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

1.2. Classificação celular


Para se classificar as células, podemos obedecer os seguintes critérios:
1- Presença da carioteca
 Procariota (sem carioteca, ou seja não há delimitação entre o núcleo e
citoplasma)
 Eucariota ( com carioteca, há um núcleo verdadeiro)
2- Presença ou não de núcleo
 Sem núcleo (Anucleada)
 Mono-Nucleada (um núcleo)
 Multinucleada (mais de dois núcleos)
3- Morfológica
4- Tempo de vida
 Label (tempo de vida curto e não tem capacidade de reproduzir)
 Estáveis (quando é capaz de reproduzir)
 Perenes ou permanentes (tem maior grau de especialização)
1.2.1. Células Procariotas e Eucariotas
Os seres vivos são constituídos por células e por substâncias por elas produzidas. As
células são as unidades estruturais e funcionais dos organismos.

As células mais primitivas, não possuem um núcleo organizado e por isso são
designadas por procariotas. As mais evoluídas, possuem um núcleo organizado; são as
eucariotas.

Os organismos podem ser formados por uma célula (organismos unicelulares) ou por
várias células (organismos pluricelulares), coordenadas entre si. Os organismos
formados por células procariotas (procariontes) são sempre unicelulares. Os organismos
constituídos por células eucariotas (eucariontes) podem ser unicelulares ou
pluricelulares.

Figura 1.1. Estrutura da célula procariota


I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

A principal característica comum a todas as células procariotas é não terem núcleo


individualizado do citoplasma por falta de membrana nuclear: o seu cromossoma não
está encerrado num espaço delimitado, como acontece em muitas outras células

Funções das principais estruturas e organelos da célula procariota


Estrutura ou organelos Função
Cápsula Protege contra agentes anti microbianos presentes nos animais e
contra antibióticos artificiais.
Parede Dá forma à bactéria e confere-lhe rigidez, desempenhando
papel de protecção.
Membrana plasmática Regula todas as trocas de substâncias entre a célula e o meio
externo, mantendo assim a constituição característica do
citoplasma.
Membranas respiratórias (mesossomas) Produzem energia
Flagelos Conferem mobilidade.
Tilacoides/cianossomas/clorossomas Responsáveis pela fotossíntese
Ribossomas Sintetizam proteínas.
Nucleoide/ região nuclear Coordena e comanda todas as funções vitais da célula e é
responsável pela hereditariedade
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

1.2.1.1. Células eucariotas


As células eucarióticas são caracterizadas por possuírem um núcleo limitado por uma
formação membranar designada por invólucro nuclear. É esta região da célula que
encerra a maior parte do material genético, os cromossomas, em número variável
consoante as espécies. As células eucariotas podem ser animais e vegetais

Figura1.2. Célula eucariótica animal

O Retículo endoplasmático, lisossoma, complexo golgiense e mitocôndrias são


estruturas citoplasmáticas delimitadas por membranas e recebem o nome de organelos.
Além de organelos, há no citoplasma estruturas especiais que são os ribossomas e os
centríolos. Cada organelo e estrutura têm função específica na célula
Comparando uma célula animal com uma célula vegetal, pode se notar algumas
diferenças. Observe o esquema seguinte, que representa uma célula vegetal.
Figura1.3. Célula eucariótica vegetal
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

O esquema mostra que a célula vegetal possui um revestimento inexistente na célula


animal:
1.2.1.1.1. Parede celular
A parede celular é um revestimento que ocorre nas células de muitos seres vivos e
geralmente é muito resistente. Nas células vegetais ela é constituída principalmente por
celulose e por essa razão é também conhecida por membrana celulósica. A resistência
da celulose pode ser considerada equivalente à do aço, quando comparamos pedaços de
mesmo comprimento e mesma massa. No esquema da célula vegetal você pode observar
facilmente a presença de duas outras estruturas que não ocorrem na célula animal: os
vacúolos de suco celular e os cloroplastos. Os vacúolos de suco celular estão
relacionados com a capacidade da célula vegetal conter maior ou menor quantidade de
água, variando o seu nível de turgor. Os cloroplastos pertencem a um grupo de
organelas conhecidas por plastos. Os cloroplastos têm esse nome devido à presença do
pigmento verde clorofila, indispensável para a fotossíntese
1.2.1.1.2. Membrana plasmática
Diferente da parede celular, a membrana plasmática é sempre lipoproteíca, isto é,
formada por moléculas de lipídios, mais especificamente de fosfolipídios, e de
proteínas. Essa é também a composição das membranas que revestem o núcleo e os
organelos membranosos, como o retículo endoplasmático, a mitocôndria e o cloroplasto.
A membrana plasmática é considerada semipermeável, pois permite a passagem do
solvente e impede ou dificulta a passagem de certos solutos (material dissolvido).
Estrutura ou organelo Função

Membrana plasmática Regula todas as trocas de substâncias entre a célula e o


meio externo, mantendo assim a constituição
característica do citoplasma.
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

Retículo endoplasmático rugoso e O retículo endoplasmático rugoso é responsável pela


liso síntese e transporte de proteínas. O retículo
endoplasmático liso intervém na síntese de lípidos.
Aparelho de Golgi Local de acumulação e transformação de proteínas.
Produz secreções e forma lisossomas.
Lisossomas Vesículas Cheias de enzimas digestivas (proteínas) que realizam a
digestão intracelular
Ribossomas Responsáveis pela síntese de proteínas.

Mitocôndrias Produzem energia.


Cloroplastos Responsáveis pela fotossíntese.

Parede celular Reforço de celulose das células vegetais.


Vacúolos pulsáteis Eliminam produtos inúteis.
Vacúolo de suco celular Armazena água e outras substâncias na célula vegetal.
Centríolos Presentes apenas nas células animais, organizam o fuso
acromático durante o processo de divisão celular.
Originam os cílios e os flagelos.
Cílios e flagelos Associados ao movimento.
Nucléolo Região do núcleo onde se formam os ribossomas.
Núcleo Contém toda a informação genética, o que lhe permite
controlar a actividade celular. O invólucro nuclear
delimita e protege este organelo. Os poros nucleares
regulam todas as suas trocas com o citoplasma.

1.3. Movimentos através das membranas:


Há constante troca de substâncias entre a célula e o meio externo, mas apenas as
substâncias necessárias devem entrar ou permanecer na célula, enquanto as indesejáveis
devem sair ou ficar fora dela.
A membrana plasmática faz esse controle ou seleção. Dizemos, por isso, que ela possui
permeabilidade seletiva. Assim, dentro de certos limites, ela colabora para manter
constante a composição química da célula.
A membrana plasmática permite a passagem livre de água e de pequenas moléculas,
como o oxigênio, e dificulta, ou mesmo impede a passagem de moléculas grandes,
como as proteínas. Os transportes através das membranas podem ser agrupados em três
categorias:
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

 Transporte Passivo: ocorrem sem gasto de energia: difusão, difusão facilitada e


osmose;
 Transporte Ativo: ocorrem com gasto de energia: bomba de sódio e potássio;
 Transporte em Bloco: é a entrada e a saída de substâncias grandes demais para
atravessarem a membrana. Nesse caso, as partículas são englobadas. Envolve os
processos de endocitose (fagocitose e pinocitose) e exocitose
1.3.1. Transporte Passivo

O transporte passivo, no qual não há gasto de energia, pode ocorrer nas células de três
maneiras: difusão simples, difusão facilitada e osmose.

 Difusão Simples: ocorre quando há duas soluções de diferentes concentrações,


separadas por uma membrana permeável ao soluto; assim, as partículas deste
soluto deslocam-se da solução mais concentrada (hipertônica) para a solução
menos concentrada (hipotônica), até que as concentrações dos dois meios
fiquem iguais (isotônicas).
 Difusão Facilitada: é muito parecida com a difusão simples, porém o
transporte do soluto de um meio mais concentrado para um meio menos
concentrado acontece com a ajuda de proteínas especiais presentes na
membrana plasmática, facilitando o transporte e, consequentemente,
aumentando a velocidade. A difusão facilitada ocorre sem gasto de energia, pois
acontece a favor de um gradiente de concentração. Como exemplo, pode citar o
papel da insulina, que liberada pelo pâncreas ativa transportadores de glicose na
membrana plasmática das células, facilitando assim seu transporte para o meio
intracelular.
1.3.2. Osmose
Osmose é a passagem de água de uma solução para outra através de uma membrana
semipermeável ou de permeabilidade seletiva. Membrana semipermeável é aquela que
deixa passar o solvente, gases e outras substâncias, e não deixa passar o soluto.
A maioria das células utiliza constantemente oxigênio para obter energia do alimento:
é a respiração celular. Assim que entra na célula, o oxigênio é consumido na
respiração. Como as células estão mergulhadas em um ambiente com mais oxigênio
que o citoplasma, esse gás entra na célula à medida que é consumido. Com o gás
carbônico ocorre o inverso. Ele é produzido constantemente pela respiração celular, o
que faz com que a sua concentração seja maior no interior da célula do que fora dela.
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

Portanto, sempre que houver diferença de concentração entre duas soluções, o solvente
(em geral a água) se moverá espontaneamente (sem gasto de energia) da solução
menos concentrada para a mais concentrada. Não esqueça que a expressão “menos
concentrado” refere-se à concentração do soluto. A osmose, por conseguinte, é uma
espécie de difusão de moléculas de um solvente (água) através de uma membrana
semipermeável.
1.3.3. Transporte Ativo

Nesse mecanismo de transporte, atuam moléculas carregadoras que também são


proteínas. Ocorre contra um gradiente de concentração e com gasto de energia. Os
mecanismos de transporte ativo agem como "portas giratórias", que recolhem uma
substância em uma das faces da membrana e a soltam na outra face.

1.3.4. Transporte em Bloco

As células são capazes de englobar grandes quantidades de materiais "em bloco".


Geralmente, esses mecanismos são empregados na obtenção de macromoléculas, como
proteínas, polissacarídeos, ácidos nucleicos, entre outros.

O transporte em bloco ou em quantidade para dentro da célula, também chamado


endocitose, é feito por dois processos fundamentais: a Pinocitose e a Fagocitose, que,
apesar de algumas diferenças superficiais, têm muito em comum nos seus princípios
básicos.

 Fagocitose (do grego phagein, comer) É o processo pelo qual a célula engloba
partículas sólidas, pela emissão de pseudópodos. Nos protozoários, a fagocitose é uma
etapa importante da alimentação, pois é a forma pela qual esses organismos unicelulares
conseguem obter alimentos em grandes quantidades de uma só vez. Nos metazoários,
animais formados por numerosas células, a fagocitose desempenha papéis mais
específicos, como a defesa contra micro-organismos e a remodelagem de alguns tecidos,
como os ossos.

 Pinocitose (do grego pinein, beber) Processo pelo qual a célula engloba gotículas de
líquido ou partículas de diâmetro inferior a 1 micrômetro

Depois de englobadas por fagocitose ou por pinocitose, as substâncias permanecem no


interior de vesículas, fagossomos ou pinossomos.
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

Exocitose É quando a transferência de macromoléculas é do citoplasma para o meio


extracelular. – em que uma vesícula contendo material que deve ser expelido se une à
membrana celular, que depois expele o seu conteúdo.

1.4. Os sistemas endomembranares:


1.4.1. Retículo endoplasmático

O retículo endoplasmático corresponde a uma rede de canais delimitados por


membranas lipoproteicas, com função importante de transporte dentro das células. Ele
se comunica com a carioteca e, além da função de transporte, exerce outras funções,
relacionadas às suas duas principais regiões, que correspondem aos dois tipos de
retículo endoplasmático: retículo endoplasmático granuloso – possui ribossomas
aderidos à membrana; › retículo endoplasmático não granuloso – não possui ribossomos
aderidos à membrana.

Figura: 1.4. Reticulo Endoplasmático

Retículo endoplasmático granuloso e retículo endoplasmático não granuloso são os


termos definidos pela nomenclatura atual. No entanto, é frequente encontrarmos a
nomenclatura antiga: retículo rugoso ou granular e retículo liso ou agranular,
respectivamente. O retículo granuloso participa da síntese de proteínas, pois apresenta
ribossomos aderidos à superfície externa de suas membranas. Ele é particularmente
desenvolvido em células com função de secreção, como as que produzem enzimas
digestivas. O retículo não granuloso participa da síntese de lipídios, inclusive os do
grupo dos esteroides, como o ergosterol (presente em células vegetais) e o colesterol,
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

produzido por animais. Essa organela é bem desenvolvida em células de certas


glândulas e em células que produzem lipídios, como as do fígado.

1.4.2. Complexo de Golgi

O complexo golgiense é uma organela constituída por numerosos sáculos interligados,


normalmente localizados nas proximidades do núcleo e do retículo endoplasmático
granuloso. Tem a função de modificar e eliminar secreções proteicas, cuja produção
ocorre no retículo granuloso. Em alguns tipos de tecido epitelial, há células especiais
chamadas caliciformes, que possuem complexo golgiense bem desenvolvido. O
complexo golgiense dessas células produz um açúcar complexo, que se combina com
proteínas, formando um muco polissacarídeo, que protege as células de revestimento
dos órgãos. As células caliciformes estão presentes no revestimento das vias aéreas
(cavidades nasais, traqueia, brônquios e bronquíolos) e também no revestimento interno
do estômago e do intestino, nos quais a camada de muco polissacarídeo evita que as
células epiteliais sofram a ação das enzimas digestivas.

Figura: 1.5. Complexo de Golgi

1.4.3. Mitocôndrias

As mitocôndrias são organelas presentes em praticamente todas as células eucarióticas.


As mitocôndrias exercem papel preponderante no processo de respiração celular,
através do qual as células liberam a energia necessária à manutenção das atividades
vitais. Nos procariontes não há mitocôndrias e a respiração é realizada no citoplasma e
com a participação de enzimas associadas à membrana plasmática. A forma da
mitocôndria varia muito nos diferentes grupos de seres vivos. Vamos nos basear no
formato mais comum nas plantas e nos animais. Nesses casos, as mitocôndrias possuem
forma geralmente alongada. São organelas delimitadas por uma membrana externa lisa e
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

uma membrana interna com numerosas dobras, dando o aspecto pregueado típico. A
membrana interna entra em contato com a matriz mitocondrial.

Figura: 1.6. Estrutura da mitocôndria

1.4.4. Lisossomas
Os lisossomas são organelas ricas em enzimas capazes de realizar a digestão
intracelular. Essas enzimas são produzidas no retículo granuloso; o empacotamento
dessas enzimas e a formação dos lisossomas ocorre no complexo golgiense. O material
nutritivo, que entra na célula por fagocitose ou pinocitose, é envolto por uma vesícula
membranosa, chamada fagossomo ou pinossomo, como vimos no capítulo anterior. A
essas vesículas unem-se os lisossomos, recebendo o conjunto formado o nome de
vacúolo digestivo, e o processo realizado, o nome de heterofagia. No vacúolo digestivo,
as enzimas dos lisossomos digerem as substâncias nutritivas, que são então incorporadas
à célula. Sobram os resíduos da digestão intracelular e a estrutura resultante recebe
agora o nome de vacúolo residual, que sofrerá exocitose. A célula também utiliza os
lisossomos para renovação de estruturas de seu citoplasma: eles englobam e digerem
uma organela, formando os chamados vacúolos autofágicos, e as substâncias resultantes
da digestão podem ser usadas na produção de novas estruturas. O processo é chamado
autofagia.
Figura: 1.7. Lisossomas

1.4.5. Vacúolos
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

São estruturas delimitadas por uma membrana existentes no interior do citoplasma e


cujas funções variam em diferentes tipos celulares. Alguns protozoários de água doce,
por exemplo, possuem vacúolos contráteis, que expulsam a água que entram em excesso
na célula. Em células vegetais maduras, geralmente há um grande vacúolo central que
ocupa grande parte da célula. Ele é o responsável pelo acúmulo de várias substâncias,
como água, sais minerais, enzimas, pigmentos, gotículas de óleo, entre outras.

Figura: 1.8. vacúolos

1.4.6. O Núcleo
O núcleo controla todas as atividades celulares: representa assim o centro de
coordenação celular. É no DNA do núcleo que estão localizados a maioria dos genes,
depositários da informação genética que são responsáveis pela atividade celular. Tais
informações são transmitidas ao citoplasma através do RNA - mensageiro que é
sintetizado por uma série de enzimas tendo como molde o DNA (cromatina), onde irá
regular através dos ribossomos toda a síntese de proteínas específicas (estruturais e
enzimáticas), responsáveis pela arquitetura e fisiologia celulares. A maioria das células
eucarióticas é mononucleada (um núcleo). Existem, no entanto, células binucleadas
(dois núcleos), multinucleadas (vários núcleos) e também anucleadas (não possuem
núcleo). As células anucleadas possuem vida curta, pois, não havendo núcleo não há
comando para a realização de suas atividades vitais. Funções: o núcleo através dos
cromossomos coordena e comanda todas as funções da célula. O núcleo também é
muito importante nos processos de divisão celular. O núcleo, portanto, além de
coordenar e comandar todas as funções vitais da célula é também responsável pelos
processos de divisão celular.
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

1.5. Os componentes não membranares:


1.5.1. Ribossomas
Os ribossomas são estruturas não membranosas, constituídos basicamente de proteínas e
um tipo especial de ácido nucleico, o RNA ribossómico (RNAr), e sua função é a
síntese de proteínas. Eles são formados por duas subunidades, sendo uma bem maior do
que a outra. São visíveis somente ao microscópio eletrônico, medindo cerca de 0,02 µm
de diâmetro, e estão presentes tanto em células procarióticas quanto em eucarióticas. Os
ribossomas normalmente agrupam-se e associam- -se ao RNA mensageiro (RNAm),
que é outro tipo de ácido nucleico. Formam, então, os polissomos, também conhecidos
por polirribossomos. Organizados em polissomos, os ribossomas participam da síntese
proteica, uma vez que as informações necessárias a essa síntese são trazidas pelo RNA
mensageiro (RNAm), que é produzido pelo núcleo da célula eucariótica.

1.5.2. Centríolos:

Responsáveis pela divisão celular, são estruturas cilíndricas, geralmente encontradas aos
pares. Dão origem a cílios e flagelos (menos os das bactérias), estando também
relacionados com a reprodução celular - formando o fuso acromático que é observado
durante a divisão celular.Apresenta-se em formação de 9 jogos de 3 microtúbulos
dispostos em círculo, formando uma espécie de cilindro oco.

1.6. As Enzimas e o metabolismo celular

O metabolismo é o conjunto de transformações que ocorrem nos seres vivos. As


substâncias que formam o corpo dos seres vivos estão em contínua modificação. O
metabolismo ocorre quando, por exemplo, uma molécula de açúcar libera energia para o
ser vivo, moléculas de aminoácidos se unem para formar as proteínas necessárias para o
organismo, ou quando as enzimas digerem o alimento no intestino. O metabolismo pode
ser dividido em:

 Catabolismo: reações que provocam a quebra de substâncias. Exemplos: respiração


aeróbica, fermentação, digestão entre outros.

 Anabolismo: reações que provocam a síntese (produção) de substâncias. Exemplos:


fotossíntese, quimiossíntese, fotorredução entre outros.

 Homeostase: conjunto de fenômenos que garantem o equilíbrio do organismo.


Exemplo: o suor controlando a temperatura.
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

1.6.1. Estruturas das enzimas e a interacção substracto-enzima

Para que a vida se perpetue, os organismos devem ser capazes de sintetizar moléculas
responsáveis pelos processos bioquímicos celulares. Neste contexto, todas as reações
metabólicas realizadas em uma célula devem ocorrer em uma velocidade útil às
condições fisiológicas. O processo de aumento das velocidades das reações químicas
(catálise) em um organismo ocorre maioritariamente por meio de proteínas específicas,
denominadas enzimas. As enzimas são responsáveis por quase todos os processos
metabólicos celulares.

As enzimas são catalisadores de sistemas biológicos responsáveis por transformações


químicas moleculares, podendo aumentar a velocidade de uma reação em até 1012 vezes
(12 ordens de grandeza) em relação à reação não-catalisada. Para que haja uma reação
enzimática, dois fatores devem estar intimamente ligados: atividade catalítica e
especificidade. Enzimas são altamente específicas em sua atividade e geralmente
catalisam uma única reação química ou um conjunto de reações relacionadas entre si.

Em uma reação bioquímica, o substrato liga-se à enzima, em geral, através de ligações


não-covalentes em certa região contendo uma fenda ou bolso na superfície dessa
proteína. Esta região é denominada sítio-ativo. Geralmente, as cadeias laterais dos
resíduos de aminoácidos presentes no sítio-ativo são responsáveis pela ligação ao
substrato ou pela catálise da reação (grupos catalíticos). Para explicar o processo de
ligação enzima-substrato, dois modelos são propostos: modelo chave-fechadura,
proposto por Emil Fischer (1894) e o modelo do encaixe induzido, proposto por Daniel
Koshland (1958).

O primeiro modelo propõe a alta similaridade entre enzima e substrato, onde o substrato
possui a forma complementar ao sítio catalítico da enzima, como uma chave na
fechadura ou uma peça de quebra-cabeça. Atualmente, este modelo de ligação vem
sendo substituído pelo segundo modelo já que a hipótese chave-fechadura não leva em
consideração a flexibilidade da estrutura tridimensional da proteína

Por sua vez, o modelo do encaixe induzido assume que o sítio de ligação da enzima
possui sua estrutura tridimensional não complementar ao substrato. Somente no
momento de ligação do substrato ocorre a indução de uma mudança conformacional na
enzima permitindo o direcionamento do substrato aos grupos catalíticos da mesma.
Após a formação do complexo enzima-substrato, ocorre a quebra de ligações ou a
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

formação de novas ligações químicas que culminarão na transformação do substrato em


produto. Após a catálise, o produto é liberado pela enzima e essa, que pode dar início a
outro ciclo de catálise

1.6.2. Fatores que alteram a velocidade das reações enzimáticas

Vários fatores influenciam a velocidade das reações controladas por enzimas, entre eles
os estudados a seguir.

Concentração da enzima. Aumentando a concentração de moléculas da enzima, a


velocidade da reação aumenta, desde que haja quantidade de substrato suficiente para
receber as enzimas.

Concentração do substrato. Aumentando a concentração do substrato, aumenta-se a


velocidade da reação até o momento em que todas as moléculas de enzima fiquem
“ocupadas”. Nesse ponto, a velocidade da reação é máxima e, a partir daí, é inútil
qualquer aumento de substrato, poisa velocidade permanecerá constante.

Temperatura. Uma elevação da temperatura também aumenta a velocidade das reações


químicas. Mas, quando a reação é enzimática, observamos que a velocidade aumenta até
certo nível e, então, começa a diminuir. Esse prejuízo na velocidade, a partir de
determinada temperatura, é consequência da desnaturação da enzima pelo excesso de
calor. Sua forma se modifica, dificultando o encaixe do substrato. Se o problema se
acentuar, a reação poderá até parar (conforme a figura)

Grau de acidez da solução (pH)

Alterações de pH também podem mudar a forma da enzima, afetando seu


funcionamento. Uma solução muito ácida, por exemplo, apresenta concentração alta de
I PARTE: ESTUDO DA CÉLULA

íons H+ , que neutralizam regiões negativas das moléculas da enzima, alterando ligações
elétricas que mantinham sua forma

Cofatores

A atividade catalítica de inúmeras enzimas depende de moléculas menores, não


proteicas, denominadas cofatores. Assim sendo, estas pequenas moléculas ligam-se à
enzima durante a atividade catalítica e são liberadas para serem utilizadas em reações
futuras. Algumas moléculas podem ainda ligar-se muito fortemente à enzima fazendo
parte da sua estrutura. Neste caso, denominamos tais moléculas como grupos
prostéticos. De acordo com os cofatores conhecidos, podemos agrupar essas moléculas
em duas classes: a dos íons metálicos e a das coenzimas (compostos orgânicos, sendo
geralmente vitaminas).

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