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Avaliação do torque de inserção, remoção e fratura

de mini-implantes ortodônticos em cortical óssea

Evaluation of insertion, removal and fracture torques of orthodontic mini-implants


in bone cortex

Maria Fernanda Prates da NOVA1, Fernanda Ribeiro CARVALHO2, Carlos Nelson ELIAS3, Flavia ARTESE4

RESUMO ABSTRACT
O objetivo deste trabalho foi avaliar em mini-implantes da The purpose of this study was to evaluate mini-implants
empresa SIN - Sistema de implantes, de comprimentos diferentes manufactured by SIN with different lengths for the following
para os seguintes fatores: (a) torque de inserção, (b) torque de factors: (a) insertion torque, (b) removal torque, (c) fracture torque,
remoção, (c) torque de fratura, (d) tensão cisalhante, (e) tensão (d) shear tension, (e) normal tension and (f) type of fracture. Ten
normal e (f) tipo de fratura. Foram utilizados 10 mini-implantes self-drilling mini-implants were used from SIN, with 1.6 mm in
autoperfurantes da marca SIN, com 1,6 mm de diâmetro e com diameter and with 8 mm in length of active part. Out of these 10
8 mm de parte ativa. Destes 10 mini-implantes, 5 não possuíam mini-implants, 5 did not have a neck and the other 5 had a 2 mm
perfil transmucoso e 5 tinham perfil de 2mm, formando 2 neck, and were separated into 2 groups: SIN without neck (SSP),
grupos: SIN sem perfil (SSP), SIN com perfil (SCP). Todos os SIN with neck (SCP). All mini-implants were inserted in bone cortex
mini-implantes foram inseridos em cortical óssea e removidos and removed with a low speed handpiece connected to a digital
com micromotor acoplado a um torquímetro. Os mini-implantes torquimeter. The mini-implants were also submitted to a fracture
foram também submetidos ao ensaio de fratura. Os torques de test. The insertion, removal and fracture torques, as well as the
inserção, remoção e fratura, assim como a tensão cisalhante calculated shear and normal tensions were compared between all
e normal calculadas foram comparados entre todos os grupos groups by ANOVA. The type of fracture was assessed by a scanning
pela ANOVA. O tipo de fratura foi avaliado em microscópio electronic microscope. There were no significant differences
eletrônico de varredura. Não houve diferença entre os grupos between groups for all evaluated torques and all mini-implants
para os torques avaliados e todos os mini-implantes sofreram suffered ductile fracture.
fratura do tipo dúctil.
Key words: Dental implants. Toque. Orthodontic Anchorage
Palavras-chave: Implantes dentários. Torque. Procedimentos procedures.
de ancoragem ortodôntica.

1. Mestre e Especialista em Ortodontia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.


2. Especializanda em Ortodontia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
3. Professor adjunto do Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro.
4. Professora adjunta de Ortodontia da Universidade do Rio de Janeiro.

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

INTRODUÇÃO torque máximo de remoção. Geralmente, os torques de remoção em


estudos de curto prazo são inferiores aos torques de inserção8,14. A
falta de osteointegração facilita a sua remoção. No entanto, quando
Com o advento da osteointegração, métodos de tratamento existe um período de acompanhamento de mais de 4 semanas, os
ortodôntico com controle máximo de ancoragem foram propostos, torques de remoção aumentam significativamente4-5,7.
principalmente para adultos17,18. A utilização de implantes A fratura é um dos fatores de riscos e complicações que ocorre
osteointegrados, como mecanismo de ancoragem absoluta6, foi na utilização dos mini-implantes. Ocorre, normalmente, durante a
indicada para o tratamento de casos mais complexos, para a inserção ou remoção do mini-implante no osso, mas também pode
otimização de resultados com mecânicas mais simples, ou ainda incidir durante a aplicação de força do tratamento ortodôntico. Sua
para a diminuição do tempo de tratamento. No entanto, implantes causa está relacionada ao excesso de força aplicada na instalação
osteointegrados convencionais só podem ser inseridos em locais do mini-implante. No entanto, a qualidade e a densidade óssea
específicos, como no espaço retromolar ou em áreas edêntulas9,18. podem influenciar na resistência ao torque de inserção que, aliada
A partir de parafusos para estabilização cirúrgica, mini-implantes à subperfuração, pode potencializar a fratura da região próxima à
ortodônticos foram desenvolvidos e utilizados como mecanismos de cabeça do mini-implante12.
ancoragem absoluta11. Além de serem um recurso de ancoragem Melsen16 associou o menor diâmetro do mini-implante à maior
eficaz, são de fácil instalação e remoção, e suficientemente pequenos possibilidade de fratura. Utilizando técnicas para medir distribuição
para colocação em diversas áreas do osso alveolar, inclusive no de estresse, observou que a possibilidade de fratura é maior durante
espaço inter-radicular. Estas características fizeram com que os mini- o processo de remoção do que de inserção. As fraturas geralmente
implantes fossem rapidamente aceitos e utilizados clinicamente3,17. ocorrem perto do pescoço do parafuso e a presença de orifícios pode
Ao contrário dos implantes dentários osteointegráveis, que são enfraquecer ainda mais o dispositivo.
fabricados em titânio puro, os mini-implantes são fabricados com a liga Buscando maior eficiência, vários tipos e formas de mini-implantes
Ti6Al4V por três razões: (a) os mini-implantes têm diâmetro reduzido foram lançados no mercado por diferentes fabricantes. Sabe-se que a
e a liga de titânio tem maior resistência mecânica do que o titânio seleção do diâmetro e o comprimento dos mini-implantes são fatores
comercialmente puro; (b) a utilização desses sistemas é baseada na importantes para a sua adequada utilização, apesar de poderem
estabilidade mecânica primária e não na estabilidade secundária, ser instalados em diversos sítios da cavidade oral. No entanto, não
advinda da osteointegração; (c) o mini-implante deve apresentar existe um protocolo que indique qual tipo de mini-implante é o mais
facilidade de remoção. Empregando-se a liga de Ti6Al4V, que possui recomendado para cada situação1-2. Apesar da literatura ser rica em
características bioativas inferiores ao titânio comercialmente puro, o casos clínicos tratados com mini-implantes, ainda existem dúvidas
grau de osteointegração é baixo8. sobre se as diferentes dimensões desses dispositivos podem afetar
A característica do mini-implante mais importante para suas propriedades físicas21. Desta forma, este trabalho objetivou
a Ortodontia é a estabilidade mecânica, conseguida através avaliar em mini-implantes de diferentes comprimentos, o torque de
da estabilidade primária, que é definida como aquela obtida inserção, de remoção e de fratura sob torção, verificando se a presença
imediatamente após a inserção. A densidade óssea da área de do perfil transmucoso pode influenciar na resistência mecânica dos
inserção do dispositivo, a forma e a espessura do mini-implante e mini-implantes ortodônticos.
a preparação do local em que será inserido possuem um grande
impacto na estabilidade primária dos mini-implantes. Dependendo
do sítio de inserção e da qualidade óssea do local, o ortodontista
pode escolher a combinação entre tipo, diâmetro e comprimento do MATERIAL E MÉTODOS
mini-implante mais indicados para aquela região21.
A forma do mini-implante deve prover ancoragem mecânica através
da superfície de contato osso/implante e tem que permitir a distribuição AMOSTRAS DE MINI-IMPLANTES
de cargas de maneira que não prejudique a fisiologia óssea. A forma Foram utilizados 10 mini-implantes comerciais autoperfurantes
“design” do mini-implante também deve limitar o trauma apenas ao da empresa SIN - Sistema de Implantes. Todos os mini-implantes
momento da inserção e permitir estabilidade primária18. possuíam 1,6 mm de diâmetro e comprimento da parte ativa de 8
O torque para inserção de um mini-implante traduz a quantidade mm. Para compor os grupos, foram utilizados cinco mini-implantes
de estabilidade primária conseguida e é, portanto, um fator sem perfil transmucoso e cinco mini-implantes com perfil transmucoso
importante para o sucesso do mecanismo de ancoragem21. Friberg (Figura 1). A amostra foi assim dividida em dois grupos que foram
et al.10 (1995) relataram uma correlação positiva, estatisticamente denominados: SIN sem perfil (SSP); SIN com perfil (SCP).
significativa, entre o torque de inserção do mini-implante e os valores Todos os procedimentos e ensaios foram realizados nas dependências
de densidade óssea do local a ser utilizado e concluíram que métodos do Laboratório de Biomateriais do Curso de Engenharia de Materiais do
utilizados para a medição de torque durante a inserção do mini- Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME-RJ).
implante devem ser usados rotineiramente.
Após a utilização do mini-implante para o tratamento desejado,
sua remoção é necessária. Existem poucos estudos avaliando o

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PREPARO DAS PEÇAS ÓSSEAS outra sofrendo rotação, gera-se uma força de torque sobre o mini-
Duas tíbias de boi foram obtidas em abatedouro. Estas foram implante, que é registrada pelo Programa Tesc, versão 3.04, (EMIC)
cortadas transversalmente ao seu longo eixo em segmentos de 15 mm. como força máxima quando este se fratura (Figura 4).
Retirou-se a medula e a cortical óssea foi mensurada. Os segmentos O torque de fratura foi calculado multiplicando a força máxima
que possuíam no mínimo 9 mm de espessura foram selecionados pelo raio do eixo que o fio de polímero fora enrolado, conforme a
e foram novamente recortados em peças quadrangulares com 10 equação: Torque (T) = Força (F) x 4, onde T=torque e F=força. Para
mm por lado. Estas dimensões permitiam posicionamento adequado os mini-implantes que fraturaram durante os ensaios de inserção ou
da peça óssea ao torquímetro e asseguravam a inserção completa remoção, utilizou-se o valor do torque no momento da fratura.
da broca para perfuração (Figura 2) e dos mini-implantes a serem
avaliados em cortical óssea. Obteve-se desta forma 10 fragmentos AVALIAÇÃO POR MICROSCOPIA
ósseos, um para cada mini-implante, que foram mantidos a 4ºC por A região de fratura dos mini-implantes foi avaliada através da
três dias, até a data dos ensaios. microscopia eletrônica de varredura (MEV) com microscópio JEOL
Esses fragmentos ósseos foram, encaixados em peça metálica modelo JSM-5800 LV (JEOL) (Figura 5). Apenas a parte superior do
regulável para o seu tamanho e forma. Essa peça ficava acoplada a mini-implante foi submetida ao MEV sem preparo específico. Desta
um torquímetro (Lutron torquimeter TQ- 8800, Taipei, Taiwan) preso forma, os fragmentos superiores dos mini-implantes foram colocados
a um torno de bancada, que impedia qualquer movimentação do em placa metálica e presos por uma fita adesiva dupla-face para
mesmo durante o experimento (Figura 3). permanecerem em posição vertical. Com o auxílio do programa
Foi utilizado um motor cirúrgico MC – 101, Omega 02 da específico do MEV, o mini-implante foi localizado e a região em que
Dentscler ligado a um contra-ângulo redutor 20:1, com 40.000 houve a deformação foi analisada e fotografada com aumento de
rpm (Anthogyr Instruments), para realizar os ensaios de inserção e 500x. Com estas imagens pôde-se determinar por inspeção visual o
remoção dos mini-implantes. tipo de fratura para cada grupo de mini-implantes.
Para permitir a inserção dos mini-implantes apenas em cortical Para se verificar diferenças entre a resistência do material
óssea, foi realizada uma perfuração no centro da peça óssea. Utilizou- de confecção dos mini-implantes utilizou-se a tensão cisalhante
se uma broca de aço cilíndrica com diâmetro de 1,3 mm, específica calculada, obtida através da seguinte fórmula: Tensão Cisalhante
para perfuração de osso. Esta foi colocada no contra-ângulo e a = 16.T/ϖ. D3, onde T = torque e D = diâmetro da superfície
perfuração foi realizada sob irrigação manual com água. fraturada do mini-implante. Para medir este diâmetro utilizou-se
o microscópio óptico Zeiss, Stemi 2000-C (Zeiss) com aumento de
ENSAIOS MECÂNICOS 150x. As imagens das superfícies foram capturadas em computador
Em seguida, foi feita a instalação do mini-implante com chave de e enviadas ao programa Axio Vision (Zeiss), onde foram calculados
inserção acoplada ao contra-ângulo, também sob irrigação manual. seus diâmetros. Dois traços, perpendiculares entre si, contendo o
Este procedimento de inserção era interrompido quando ocorria o diâmetro da superfície foram marcados, e a média destes dois valores
travamento do mini-implante ao osso impedindo o giro do motor. foi considerada o diâmetro da superfície fraturada.
Utilizava-se, então, a chave de torque manual até a inserção completa Para confirmar os valores da tensão cisalhante, calculou-se
do mini-implante ao osso, i.e., até não se visualizar as roscas do mini- a tensão normal através da seguinte fórmula: Tensão Normal =
implante. Os mini-implantes foram removidos do osso com o mesmo 16.T/√3. ϖ .D3, onde T=torque e D=diâmetro da superfície fraturada
motor, utilizando-se a opção de rotação reversa. Para a remoção não do mini-implante.
houve a necessidade do uso de chave manual.
Durante os ensaios de inserção e remoção o torque foi medido ANÁLISE ESTATÍSTICA
de maneira contínua. Estes dados foram registrados através da Todos os resultados numéricos foram apresentados através da
conexão do torquímetro ao computador, que enviava os dados para o média e do desvio padrão. Os torques de inserção, de remoção e de
programa Lutron 101, versão V0011TW (Lutron Electronic Enterprise, fratura, assim como a tensão cisalhante calculada foram comparados
Taipei, Taiwan). Os valores obtidos foram copiados para o Origin entre todos os grupos através do one-way ANOVA. Para se comparar os
PRO 7.0 (Origin Lab Corporation, Northampton, MA, EUA) para a torques de inserção e de remoção para cada grupo utilizou-se o two-
obtenção dos gráficos. Os valores de torques máximos de inserção e way ANOVA. O nível de significância foi estabelecido em p<0,05.
de remoção foram obtidos pelos picos máximos dos gráficos.
Os mini-implantes foram submetidos ao ensaio mecânico de
fratura à torção utilizando um dispositivo de mandris acoplado à
máquina universal de ensaios mecânicos (EMIC) com célula de carga RESULTADOS
de 500N.
Para a fratura sob torção, o mini-implante foi preso por mandris
nas suas duas extremidades. Um destes mandris é fixo, onde foi Os torques máximos de inserção dos mini-implantes na cortical de
presa a ponta do mini-implante. O outro gira por tração de um fio osso bovino foram de 25,2 ± 1,9, 23,2 ± 4,9, Ncm para os grupos SSP
de polímero preso ao eixo do mandril e à celula de carga e onde se e SCP, respectivamente (Figura 6). As médias dos torques de inserção
prendeu a cabeça do mini-implante. Com uma extremidade fixa e a entre os diferentes grupos de mini-implantes foram comparadas pela

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

one-way ANOVA. diâmetros diferentes, que quanto maior o diâmetro do mini-implante,


Os torques máximos de remoção dos mini-implantes da cortical maior o seu torque de inserção, já que o torque é proporcional à área
óssea também foram mensurados. As médias encontradas foram de de contato do mini-implante com o osso.
17,2 ± 4,9, 17,6 ± 7,6 Ncm para os grupos SSP e SCP, respectivamente O comprimento da parte ativa escolhido foi 8 mm, também adequado
(Figura 6). Os valores de torque máximo para inserção foram maiores para ser usada em todas as áreas indicadas na cavidade bucal20.
do que os de remoção para todos os grupos. Não houve diferença A presença ou ausência de perfil transmucoso foi analisada
significativa para o torque máximo de remoção entre os grupos. no presente trabalho. O objetivo do perfil transmucoso é manter a
Para cada grupo, as médias dos torques máximos de inserção e saúde dos tecidos peri-implantares, principalmente em áreas com
de remoção foram comparados entre si através da two-way ANOVA. pequena faixa de gengiva inserida, pois a ausência de inflamação
Apenas o grupo SSP apresentou diferença estatisticamente significativa, é fator que contribui para a melhor estabilidade do mini-implante1.
demonstrando que, para este grupo, o torque máximo de inserção foi Foram escolhidos mini-implantes sem e com perfil transmucoso de 2
significativamente maior do que o de remoção (Figura 6). mm, isto é, com a maior variação possível, pois este é o maior perfil
A média dos torques de fratura dos mini-implantes foi de 35,1 transmucoso fabricado pela empresa SIN.
± 4,9, 35,1 ± 2,7 Ncm, para os grupos SSP e SCP, respectivamente O sucesso da utilização de mini-implantes ortodônticos está
(Figura 6). Ao comparar os torques de fratura entre os grupos, relacionado a sua estabilidade primária após a instalação. A estabilidade
não se verificou diferença entre SSP e SCP, demonstrando pouca primária depende, principalmente, da forma do implante e da qualidade
variação de resistência. óssea do local de inserção. O apoio em osso cortical é essencial para
As fraturas das superfícies dos mini-implantes para os dois que haja estabilidade primária, pois a pequena espessura desse tipo de
grupos foram comparadas por inspeção visual em MEV. Ambos os osso resulta em falha na utilização de mini-implantes1. Desta forma,
grupos apresentaram microporosidades e linhas de deformação a tíbia bovina foi escolhida para os ensaios de inserção e remoção de
plástica causadas por deformação em torção. As direções das linhas mini-implantes devido à quantidade de cortical encontrada nesse osso.
indicaram que as fraturas ocorreram por cisalhamento, caracterizando A espessura da cortical permitiu a inserção completa da parte ativa do
fraturas do tipo dúctil (Figura 7). mini-implante em osso de alta densidade.
A tensão cisalhante calculada foi de 1123,1 ± 168,3, 1041,9 Os valores médios para o torque máximo de inserção obtidos
± 154,8 MPa para os grupos SSP e SCP, respectivamente (Tabela neste estudo variaram de 25,3 a 23,2 Ncm. Tais valores são
1). Não se verificou diferença estatisticamente significativa entre os compatíveis com os resultados encontrados por Wilmes, Rademacher
grupos, quando comparados pela ANOVA, demonstrando que todos e Olthoff21 (2006), que variaram de 41,3 a 23,4 Ncm, mesmo tendo
os mini-implantes não diferiram em relação à resistência mecânica sido inseridos em ossos de pelve de porcos com cortical óssea muito
do material que foram confeccionados. Estes resultados também menos espessa do que a utilizada neste estudo. Motoyoshi, Masuoka
foram confirmados pela tensão normal calculada. e Shimizu16 (2007) obtiveram valores de torques para inserção, muito
Para se calcular a tensão cisalhante foi necessário medir o mais baixos do que os observados neste estudo, variaram de 7,2 a
diâmetro dos mini-implantes, sem contar a rosca, o que pode ser 13,5 Ncm em adultos20 e 7,6 a 9,2 Ncm em adolescentes21. Elias,
denominado de alma do parafuso (Figura 5). Guimarães e Muller8 (2005) obtiveram para mini-implantes de 1,5
mm, torque médio de inserção de 9,6 Ncm em cortical de coelhos
e 12,6 Ncm em cortical bovina, sendo também muito inferiores aos
valores encontrados neste estudo. Os mini-implantes com 2,0 mm de
DISCUSSÃO diâmetro, quando inseridos em cortical bovina, apresentaram torque
médio de inserção de 23,2 Ncm, mais próximo aos valores obtidos
neste estudo.
As dimensões reduzidas dos mini-implantes permitem sua Os valores médios para o torque máximo de remoção obtidos
inserção em diversas áreas na cavidade bucal, mas aumentam a neste estudo variaram de 17,2 a 17,6 Ncm e não houve diferença
possibilidade de deformação durante o emprego e a fratura durante significativa entre os grupos. Elias, Guimarães e Muller8 (2005)
a inserção ou remoção8. Neste estudo, mini-implantes ortodônticos avaliaram o torque de remoção de mini-implantes comerciais com
foram analisados quanto a sua resistência, durante a inserção e 6,0 mm de comprimento e diâmetros de 1,5 e 2,0 mm, encontraram
remoção em cortical de osso bovino e ao serem submetidos à torção valores de 5,4 ± 0,7 Ncm para a cortical de coelho e 6,8 ± 0,8 Ncm
até a sua fratura. na cortical bovina para os mini-implantes de 1,5 mm de diâmetro. Os
Escolheram-se mini-implantes, de uma das principais empresas mini-implantes com 2,0 mm de diâmetro só foram testados em cortical
nacionais, que possuíam as mesmas dimensões. Todos os mini- bovina e apresentaram torque de remoção de 12,0 ± 1,6 Ncm. Estes
implantes apresentavam o mesmo diâmetro, de 1,6 mm, que foi valores foram inferiores aos encontrados neste estudo, mesmo para
considerada uma dimensão adequada para ser usada em todas as os mini-implantes com maior diâmetro. Contudo, os mini-implantes
áreas indicadas na cavidade bucal20. Além disso, a escolha por um utilizados por Elias, Guimarães e Muller8 (2005) eram mais curtos (6
diâmetro maior teve como objetivo obter valores de torque bastante mm) e não foram inseridos apenas em cortical óssea.
elevados. Foi verificado por Elias, Guimarães e Muller8 (2005), ao Ao comparar valores de torque de inserção e de remoção em mini-
comparar dois tipos de mini-implantes do mesmo fabricante com implantes, Elias, Guimarães e Muller8 (2005) observaram que o torque

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Figura 1 - Mini-
de remoção é menor do que o torque de inserção, independente do implantes
tipo de cortical ou do diâmetro dos mini-implantes, o que também autoperfurantes,
foi observado neste estudo. Porém apenas o grupo SSP apresentou com diâmetro
diferença significativa entre a média de torque de inserção e a média de 1,6mm, que
constituíram a
de torque de remoção. Dilek, Tezulas e Dincel7 (2007) relataram amostra: (A) mini-
torques de remoção mais elevados que os de inserção em ensaio implante da SIN
não vital em fêmur bovino, discordando dos outros estudos. Torques medindo 8mm de
mais elevados de remoção do que de inserção são encontrados em comprimento, sem
perfil transmucoso
estudos in vivo, quando há um acompanhamento de pelo menos 4 (grupo SSP); (B)
semanas, permitindo a osteointegração do dispositivo11, 12, 13, 20, 21. mini-implante da
Os torques de fratura variaram entre 35,14 (grupo SSP) e 35,12 SIN medindo 8mm
Ncm (grupo SCP). Os grupos SSP e SCP apresentaram torques de de comprimento
com perfil
fratura muito próximos, não havendo diferença significativa entre eles. transmucoso de
Dilek, Tezulas e Dincel7 (2007) relatam que torques entre 35 e 50 Ncm 2mm (grupo SCP)
podem causar fratura do mini-implante. Wilmes21 (2006) recomenda
limitar o torque de inserção a 20 Ncm para evitar as fraturas.
A presença do perfil transmucoso parece não afetar o valor dos Figura 2 -
torques para a inserção, remoção e fratura, uma vez que o grupo SCP Fragmento de
não apresentou diferenças quando comparado ao grupo SSP. tíbia bovina,
recortado em
Os mini-implantes foram submetidos à avaliação microscópica peça com 10
das suas superfícies fraturadas para verificar o tipo de fratura que mm de largura
ocorre nesses dispositivos. Observou-se que todos os mini-implantes e comprimento
apresentaram fratura do tipo dúctil, ou seja, com deformação plástica. e 9 mm de
profundidade,
A tensão cisalhante calculada e a tensão normal calculada obtidas para garantir
no momento da fratura permitem verificar se o material de fabricação do inserção completa
mini-implante é semelhante e representam o comportamento mecânico da broca para
do material. Para se calcular estas tensões mediu-se o diâmetro da perfuração e
também dos
região de fratura do mini-implante. Os valores encontrados de tensão mini-implantes
cisalhante calculada e tensão normal calculada não tiveram diferença avaliados
estatística significativa entre os grupos e, portanto, não foi observada
diferença na resistência mecânica entre os materiais empregados pela Figura 3 - Sistema
empresa para a confecção dos seus mini-implantes. utilizado para
Com a crescente utilização deste dispositivo, sugere-se que medir o torque
novas pesquisas sejam feitas buscando melhorar e adaptar a forma de inserção e
de remoção dos
dos mini-implantes à sua melhor utilização nas diversas aplicações mini-implantes,
clínicas que se propõem no tratamento ortodôntico. constituído por
um torquímetro
digital (a) preso
ao torno de
bancada (b),
CONCLUSÃO com peça óssea,
onde os mini-
implantes foram
inseridos, presa
A presença do perfil transmucoso não influencia a resistência por posicionador
mecânica dos mini-implantes, uma vez que o grupo SCP não metálico (c)
apresentou diferenças quando comparado ao grupo SSP quanto
aos torques de inserção, remoção e fratura. O torque de remoção
dos mini-implantes não apresentou diferença estatisticamente
significativa entre os grupos, mas foi sempre menor do que os torques
de inserção. Todos os grupos apresentaram fratura do tipo dúctil em
inspeção por microscopia eletrônica de varredura, demonstrando
haver compatibilidade no material de confecção dos mini-implantes.
Isto foi confirmado pela ausência de diferença na tensão cisalhante
máxima calculada entre os grupos.

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

Figura 4 - Figura 7 - Secção


Dispositivo de transversa de um
ensaio de torção, mini-implante
realizado para fraturado de cada
determinar o grupo observado
torque máximo no MEV em
de resistência aumento de 500x:
à fratura dos (a) mini-implante
mini-implantes, do grupo SSP; (b)
acoplado à mini-implante
máquina de do grupo SCP.
ensaios mecânicos Estas imagens
com célula de foram utilizadas
carga de 500 para classificar o
N. O mandril tipo de fratura
da direita sofre ocorrido.
rotação quando Todas foram
o fio de polímero do tipo dúctil,
é tracionado caracterizado
pela máquina de pelas linhas de
ensaio e o mandril cisalhamento
da esquerda é fixo geradas pela
e prende o mini- torção
implante

Tabela 1
Figura 5 - Secção Valores do diâmetro (D), da região de fratura dos mini-implantes,
transversa do da força para fratura (F), do torque de fratura (T), da tensão
mini-implante cisalhante calculada (Tcis), e da tensão normal calculada (Tn). Os
fraturado resultados são dados em média e desvio padrão de 5 amostras em
observado no cada grupo.
MEV em aumento
de 500x. As Grupos
linhas preta e
branca foram SSP SCP
utilizadas para se D médio (mm) 1,2 ± 0,0 1,2 ± 0,0
calcular a média
F (N) 88,0 ± 12,2 88,0 ± 6,8
do diâmetro no
local de fratura e Torque (Ncm) 35,1 ± 4,9 35,1 ± 2,7
assim se obter a
Tcis (MPa) 1123,1 ± 168,3 1041,9 ± 154,8
tensão cisalhante
calculada Tn (MPa) 648,5 ± 97,1 601,5 ± 89,4

Figura 6 - Torques
máximos (Ncm)
de inserção (TI) e
de remoção (TR)
dos 4 grupos de
mini-implantes.
As colunas
representam
média e as
barras de erro
representam o
desvio-padrão.
O número de
amostras em cada
grupo é de cinco,
com exceção dos
grupos NSP e NCP
para os ensaios
de remoção, que
tiveram tamanho
amostral de três.

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REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência:


Maria Fernanda Prates da Nova
Avenida Otávio Santos, 235 - Recreio
Vitória da Conquista - BA - CEP: 45020-750
e-mail: mfprates@yahoo.com.br

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