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Torque de Inserção e Remoção de mini-parafusos Ortodônticos

Article · January 2005

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Carlos Nelson Elias Glaucio Serra


Instituto Militar de Engenharia (IME) Universidade Federal Fluminense
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Revista Brasileira de Implantodontia, V11 N3 p.5-8 (2005)

Torque de inserção e de remoção de mini-parafusos ortodônticos

Carlos Nelson Elias1, Gláucio Serra Guimarães1 e Carlos Alberto Muller2


1 Laboratório de Biomateriais, Engenharia Mecânica e de Materiais, Instituto Militar de
Engenharia, Pr Gen Tibúrcio 80, 22290 270 Rio de Janeiro, RJ. elias@ime.eb.br
2 Instituto Oswaldo Cruz, AV Brasil 4036 21040 361 Rio de Janeiro, RJ

Resumo
Por terem dimensões reduzidas os mini-parafusos para ancoragem ortodôntica possuem
poucas limitações quanto ao local de implantação, eles podem ser instalados em praticamente
qualquer lugar da mandíbula ou maxila. Por outro lado, as dimensões reduzidas aumentam a
possibilitam de deformação durante o emprego e a fratura na inserção ou remoção. Neste
trabalho foram testados mini-parafusos comerciais (Conexão Sistemas de Prótese) com
diâmetros de 1,5 e 2,0 mm e comprimento de 6,0 mm. Em ensaios in vivo e in vitro mediu-se
os torques para instalar e remover mini-parafusos da cortical de coelhos e de bovino, os
resultados foram comparados com o limite de resistência à fratura sob torção. Os resultados
mostraram que os mini-parafusos possuem limite de resistência à torção superior ao torque de
instalação em cortical de elevada densidade.

Insertion and Remotion Torque of mini screw orthodontic implant


Abstract
The size of traditional dental implants restricts the locations in which they may be placed for
orthodontic anchorage. One variety of temporary anchorage devices that has recently been
developed — miniscrew — is substantially smaller than customary dental implants used. The
advantage of this system include fewer limitations of the implant site. But the small size is a
disvantage, because the miniscrews can fracture during the insertion. The main of the present
work is to insert miniscrew into cortical bone (rabbit and bovine) and compare the insertion
torque with the fracture torsion resistance of the miniscrew. The results showed that the
insertion torque is higher than the remove torque and the insertion torque into hard bone is
lesser than fracture torsion resistance.

Palavras chave: mini-parafuso, mini-implante, ancoragem ortodôntica


Key words: miniscrew, mini-implant, mini-implant anchorage
Introdução
A constatação da osteointegração dos implantes odontológicos de titânio (Branemark,
Aspegren et al., 1964) permitiu o uso deste sistema como auxiliar à mecânica ortodôntica. O
implante de titânio é empregado como alternativa aos métodos tradicionais de ancoragem
durante a movimentação dentária (Roberts, Smith et al., 1984). Os implantes de titânio
comercialmente puro osteointegrados quando utilizados como apoio de ancoragem
ortodôntica não perdem a osteointegração, uma vez que, são aplicadas forças de baixa
intensidade. Após o tratamento ortodôntico, o implante pode ser removido ou deixado em
posição (Favero, Brollo et al., 2002). Entre outras indicações na orotodontia, os implantes
osteointegráveis convencionais podem ser aplicados na região retromolar com a finalidade de
ancorar o fechamento de espaços nos tratamentos ortodônticos.
Entre as limitações do emprego dos implantes odontológicos osteointegráveis para
aplicações ortodônticas destacam-se: o tamanho dificulta a seleção de locais apropriados para
instalação (Roberts, Helm et al., 1989), necessidade de espera para que ocorra a
osteointegração antes da aplicação de força, procedimento cirúrgico invasivo, incômodo para
o paciente por causa da severidade da cirurgia, desconforto devido à espera de cicatrização
inicial e dificuldade de higienização (Ohmae, Saito et al., 2001).
Diante das limitações e desvantagens do emprego dos implantes odontológicos
convencionais para ancoragem ortodôntica, ao longo dos anos foram sugeridos sistemas
desenvolvidos para tais aplicações. Entre os primeiros sistemas desenvolvidos, destacam-se
os onplants, mini-placas e os implantes bi-corticais, os quais mostraram-se eficazes nos casos
de substituição da ancoragem extra-oral, eliminando a variável da colaboração do paciente
quanto ao uso de aparelhos de tração extra-oral. Com a evolução dos sistemas de ancoragem
chegou-se aos mini-implantes ortodônticos, doravante denominados mini-parafusos
ortodônticos. Kanomi, em 1997, propôs o emprego de mini-parafusos de titânio de 1,2 mm de
diâmetro e 6 mm de comprimento para ancoragem ortodôntica.
Os mini-parafusos possuem poucas limitações quanto ao local para implantação, têm
diâmetros reduzidos, entre 1,2 e 2,0 mm e, podem ser colocados em praticamente qualquer
lugar da mandíbula ou maxila, mesmo entre raízes.
Os mini-parafusos ortodônticos apresentam grande semelhança com os utilizados na
fixação óssea de enxertos e membranas. Podem ser aplicados em áreas edêntulas, região
retromolar, palato, espinha nasal anterior, sínfise mandibular, pilar zigomático, entre as raízes
e próximo ao ápice radicular. Têm formato simples, causam baixo desconforto para o
paciente, têm custo reduzido (Ohmae, Saito et al., 2001), técnica cirúrgica simples,
apresentam possibilidade de aplicação de carga imediata, diâmetro reduzido, permitem a
aplicação em várias locais proporcionando versatilidade no planejamento do sistema de
forças a ser empregado, facilidade de higienização, facilidade de remoção e dispensam a
cooperação do paciente na movimentação ortodôntica.
A maior vantagem está no melhor controle da direção e da intensidade das forças
(Park, Lee et al., 2003), as quais podem ser aplicadas quase que imediatamente após a
cirurgia. Possíveis complicações após a implantação são: inflamação do tecido mole ao redor
do parafuso, dificuldade de aplicar força elástica por causa de tecido mole cobrindo a cabeça
do parafuso, fratura do mini-parafuso e perda de estabilidade devido à aplicação de cargas
excessivas. O desconforto da implantação é reduzido por causa de seu tamanho.
A interface do osso com o mini-parafuso é considerada a região mais vulnerável do
sistema de mini-parafusos. Forças com magnitudes iguais mas, com direções de aplicação
diferente têm diferentes efeitos na interface implante-osso. As forças ortodônticas de
compressão tendem a manter a integridade óssea da interface, enquanto as forças de tração
tendem a rompê-la. As forças de cisalhamento atuam paralelamente à superfície osso-
implante e também são destrutivas em relação à interface.
No início das aplicações dos mini-parafusos ortodônticos, era feita a inserção e
aguardava-se de 3 a 5 meses para iniciar a aplicação das forças ortodônticas. Durante o tempo
de espera, alguns sistemas de mini-parafusos ficavam totalmente cobertos pelos tecidos
moles. Após esta fase realizava-se uma segunda cirurgia para colocação de um sistema de
conexões com orifícios especiais para fixar o aparato ortodôntico para permitir a transferência
das forças e a movimentação ortodôntica. Com a evolução da técnica cirúrgica,
desenvolvimento de novos sistemas de mini-parafusos, mudanças na forma e ampliação dos
conhecimentos relacionados às reações dos tecidos, verificou-se que o carregamento dos
mini-parafusos poderia ser feito imediatamente após a cirurgia. No entanto, alguns
pesquisadores sugerem o aguardo do processo de cicatrização antes do carregamento. Os
tempos de espera variam desde a aplicação de força imediata até 12 semanas. Quando a força
é aplicada prematuramente, análises histológicas mostram que não há contato íntimo
uniforme entre osso e implante, há formação de tecido fibroso intermediário, mas que não
compromete a estabilidade clínica do implante durante o tratamento. Alguns autores
consideram este fenômeno favorável para os implantes ortodônticos porque facilita a
remoção no fim do tratamento (Costa, Melsen et al., 1998; Favero, Brollo et al., 2002; Park,
Lee et al., 2003; Zilberman, Huggare et al., 2003).
Ao contrário dos implantes dentários osteointegráveis, que são fabricados com titânio
comercialmente puro, os mini-parafusos são fabricados com a liga Ti6Al4V por três razões:
a) os mini-parafusos têm diâmetro reduzido e a liga de titânio tem maior resistência mecânica
que o titânio comercialmente puro; b) a utilização destes sistemas é baseada na estabilidade
mecânica primária (inicial) e não na estabilidade secundária advinda da osteointegração; e, c)
o mini-parafuso deve apresentar facilidade de remoção, empregando-se a liga Ti6Al4V, a
qual possui características bioativas inferiores ao titânio comercialmente puro, a qualidade da
osteointegração é inferior.
Até a presente data, nenhuma reação adversa ao titânio comercialmente puro foi
relatada. Porém, quando emprega-se a liga utilizada em mini-parafusos ortodônticos,
(Ti6Al4V) o vanádio pode provocar reações locais ou sistêmicas inibindo a proliferação
celular e o alumínio pode induzir a osteomalácia, granulomatose pulmonar e neurotoxicidade.
Devido à recente utilização dos mini-parafusos, ainda existem dúvidas sobre sua
funcionalidade, desempenho e influência da liberação de íons dos elementos de ligas nos
tecidos, percentual de liberação de íons metálicos e o tempo mínimo após a cirurgia para
iniciar a aplicação de força. Possivelmente, elementos metálicos liberados pelo processo de
corrosão podem ser detectados em tecidos adjacentes aos mini-parafusos. Este é um tema que
necessita ser investigado.
Atualmente, os mini-parafusos são empregados na tração de caninos inclusos, intrusão
de molares e dentes anteriores, correção de mordida cruzada, retração anterior com
ancoragem máxima, correção de linha média, distalização de dentes, entre outras aplicações.
Derivado dessas aplicações surgiu o termo “ancoragem absoluta”.
Assim como nos sistemas convencionais de implantes dentários os profissionais que
instalam os mini-parafusos devem tomar cuidados especiais, tanto durante a cirurgia como na
fase de aplicação da força ortodôntica, sendo que durante a cirurgia para instalação ou
remoção pode ocorrer a deformação ou até mesmo a fratura do mini-parafuso.
Para a inserção, o profissional deve iniciar o preparo do alvéolo realizando um orifício
guia com broca esférica e com profundidade compatível ao comprimento do mini-parafuso. A
seguir, dependendo do diâmetro do mini-parafuso, o alvéolo é preparado com outras brocas.
Apesar dos mini-parafusos serem autorosqueantes, a inserção em osso com maior densidade
(tipo D1 ou D2 na classificação proposta por Carl Misch) há necessidade do emprego do
macho para abertura da rosca no osso.
Este trabalho tem como objetivo quantificar o torque de inserção e de remoção de
mini-parafusos em cortical de coelho (in vivo) e de bovino (in vitro), determinar a resistência
à fratura sob torção dos mesmos e avaliar a possibilidade de fratura.

Materiais e métodos
Neste trabalho 18 mini-parafusos comerciais com a designação Ortoimplante
fabricados pela empresa Conexão Sistemas de Prótese (São Paulo, SP) com comprimento de
6,0 mm e diâmetros de 1,5 e 2,0 mm foram submetidos aos ensaios de inserção e de remoção
in vitro e in vivo. Os mini-parafusos foram instalados e removidos, sob refrigeração com soro
fisiológico, na cortical de osso de perna bovina e na cortical da tíbia de coelhos. Os ensaios
de inserção e remoção tiveram como objetivo determinar o torque máximo que ocorre na
instalação e remoção dos mini-parafusos em osso de média (coelho) e elevada densidade
(bovino). 12 (doze) mini-parafusos foram submetidos aos ensaios mecânicos de torção até à
fratura. Os resultados dos ensaios in vivo e in vitro foram comparados.
No ensaio in vivo foram usados 2 coelhos machos saudáveis da raça Nova Zelândia

com idade aproximada de 4 meses e 3 kgf de peso. Foram utilizados 8 mini-implantes com

2,0 mm de diâmetro e 6 mm de comprimento. Os animais foram obtidos junto ao Centro de

Criação de Animais do Laboratório da Fundação Oswaldo Cruz, onde todos os

procedimentos foram realizados utilizando o método experimental, com respeito às

recomendações éticas e legais delineadas para a experimentação animal. Para tal, os animais

selecionados foram anestesiados e a região da tíbia direita foi tricotomizada de modo que a

área ficasse exposta para a realização do procedimento cirúrgico. A incisão foi realizada

distando cerca de 4 mm da região de implantação.

Em todos os ensaios de inserção dos mini-parafusos adotou-se o procedimento


preconizado pelo fabricante. Para a inserção dos mini-parafusos de 1,5 mm o alvéolo foi
preparado com broca de diâmetro 1,0 mm. Para a instalação dos mini-parafusos com
diâmetro de 2,0 mm empregou-se broca de 1,0 mm seguida de 1,6 mm. Em ambos os casos
foram usados machos para abertura de roscas antes da inserção dos mini-parafusos.
A inserção in vivo foi realizada utilizando-se torquímetro digital, acoplado ao

microcomputador. Para a remoção dos mini-implantes os animais foram eutanasiados com

sangria total e o ensaio executado imediatamente. Mostra-se na Figura 1 a chave manual do

sistema de mini-parafusos presa ao cabeçote do torquímetro digital durante a remoção do

implante.
Figura 1: Chave manual de inserção e remoção dos mini-parafusos presa no cabeçote
do torquímetro digital usado para a inserção in vivo dos mini-parafusos na tíbia dos coelhos e
remoção imediatamente após o sacrifício dos animais.

Para a inserção e remoção dos mini-parafusos da cortical bovina e execução do ensaio


de fratura à torção, empregou-se o dispositivo de mandris mostrado na Figura 2. O sistema de
mandris foi acoplado a máquina de ensaios mecânicos com célula de carga de 500 N.
Como é mostrado na Figura 2, no ensaio de torque até a fratura, no mandril da
esquerda fixou-se a chave manual do kit cirúrgico e no mandril da direita foi feita a fixação
de 3 mm da ponta do mini-parafuso. No eixo de aço do dispositivo enrolou-se um cabo de
polímero, ao se puxar o cabo, ocorria a aplicação de um torque no mini-parafuso, uma vez
que o segundo mandril estava fixo. Este mesmo dispositivo foi usado para o ensaio in vitro de
inserção e remoção do mini-parafuso da tíbia bovina, Figura 3. O uso da perna bovina foi
usado para garantir que a profundidade total de inserção do mini-parafuso seria somente em
osso cortical.

Figura 2: Dispositivo de ensaio para determinar o torque máximo de resistência à


fratura dos mini-parafusos. O mandril da esquerda sofre rotação quando o fio de polímero é
tracionado pela máquina de ensaio. O mandril da direita é fixo e prende o mini-parafuso.
Figura 3: Dispositivo de ensaio para inserção e remoção in vitro dos mini-parafusos
da cortical bovina. Pode-se observar a espessura da cortical.
Após os ensaios mecânicos e de remoção dos mini-parafusos fez-se a análise da
morfologia da superfície das amostras no microscópio eletrônico de varredura (MEV).

Resultados
Mostra-se na Tabela 1 os torques de inserção e de remoção dos mini-parafusos da
tíbia dos coelhos, cortical de osso bovino e torque para fraturar as amostras.
No ensaio de torção até a fratura, todos as amostras apresentaram fratura no corpo do
mini-parafusos, entre o primeiro e terceiro filetes. Na análise da superfície de fratura no
MEV, pode-se observar morfologias com características de fratura dúctil, Figura 4.

Figura 4: Morfologia da superfície de fratura do mini-parafuso apresentando


característica de fratura dúctil.
Tabela 1. Torques (N.cm), médias e desvios padrão, para inserção e remoção dos mini-
parafusos de 1,5 mm da cortical bovina, torques para remover e inserir mini-parafusos de 2,0
mm da cortical de bovino e de coelho e torques para fraturar os mini-parafusos por torção.
Cortical Coelho Bovino Bovino Ensaio mecânico
Implante 2,0 mm 1,5 mm 2,0 mm 1,5 mm 2,0 mm
Amostra Inserir Remover Inserir Remover Inserir Remover Fratura Fratura
1 10,6 5,4 11,3 6,1 18,9 13,3 16,5 50,3
2 9,4 4,4 12,9 7,3 25,3 11,9 20,8 55,5
3 10,8 6,4 13,4 7,1 23,6 9,7 18,3 56,7
4 9,5 5,7 13,9 7,6 24,1 10,6 19,5 48,5
5 9,3 5,5 10,3 5,7 25,2 12,4 19,2 53,6
6 8,2 4,7 13,6 7,2 22,1 13,8 17,6 49,3
Média 9,6 5,4 12,6 6,8 23,2 12,0 18,7 52,3
Desvio 1,0 0,7 1,4 0,8 2,4 1,6 1,5 3,4

Discussão
Independente do tipo de cortical e diâmetro dos mini-parafusos, pode-se observar que o
torque de remoção é menor que o torque de inserção. Nos ensaios in vivo, o torque para
remover (5,4 N.cm) os mini-parafusos de 2,0 mm da tíbia do coelho foi 44,5% menor que o
torque de inserção (9,6 N.cm). No ensaio com cortical bovina, o torque de remoção (6,8
N.cm) do mini-parafuso de 1,5 mm foi 45,6% menor do que o de inserção (12,6 N.cm).
Como pode-se observar na Figura 5 os percentuais de redução do torque de remoção em
relação ao torque de inserção dos diferentes mini-parafusos são praticamente iguais.

50

48

46

44

42
C2,0 B1,5 B2,0

Figura 5: Percentual médio de redução do torque para remover os mini-parafusos em


relação ao torque de inserção. C2,0: implante de 2,0 mm em coelho; B1,5: implante de 1,5
mm na cortical bovina; B2,0: implante de 2,0 mm na cortical bovina.

Comparando-se o torque de inserção dos mini-parafusos na cortical bovina pode-se


observar que o torque para inserir (23,2 N.cm) o mini-parafuso de 2,0 mm foi 84,1% maior
que o torque para inserir (12,6 N.cm) o mini-parafuso de 1,5 mm. Este resultado indica que
quanto maior o diâmetro do mini-parafuso, maior o torque de inserção, apesar de serem
usadas brocas com maiores diâmetros na preparação do alvéolo de inserção do mini-parafuso
de 2,0 mm. Os valores médios dos torques de inserção dos mini-parafusos com maiores
diâmetros em osso denso são significativamente maiores que os para inserir mini-parafusos
de menor diâmetro, mesmo empregando-se na preparação do alvéolo brocas maiores. O
maior valor do torque para inserir o mini-parafuso de 2,0 mm pode ser atribuído: a) o torque é
proporcional à área de contato do mini-parafuso com o osso; b) durante o corte do osso com
brocas o alvéolo cirúrgico tem diâmetro menor que o diâmetro do mini-parafuso, e uma parte
do torque aplicado é usado para cortar e alargar o furo na inserção; quanto maior o diâmetro
do mini-parafuso maior o volume de material a ser cortado; c) os restos de material que
ficaram no alvéolo durante a furação e os cortados pelo mini-parafuso ficam acumulados nos
filetes e dificultam a rotação do mini-parafuso durante a inserção.
Comparando-se os valores do torque de inserção dos mini-parafusos de 2,0 mm na
cortical da perna bovina com a inserção em tíbia do coelho, pode-se observar que o torque
para inserir na bovina (23,2 N.cm) foi 141,7 % maior que o torque para inserir na cortical do
coelho (9,6 mm). Há menor possibilidade de fratura e maior segurança na inserção dos mini-
parafusos em cortical de menor densidade (coelho).
Comparando-se o torque médio de inserção com o torque médio que o mini-parafuso
resiste em carregamento de torção pura até a fratura, pode-se observar que o torque para
inserir o mini-parafuso de 1,5 mm na cortical bovina foi 67,4% do torque de fratura (18,7
N.cm). O torque médio para inserir o mini-parafuso de 2,0 mm na cortical bovina foi 44,3%
do torque médio para ocorrer a fratura (52,3 N.cm). Indicando que o torque de inserção do
mini-parafuso de 1,5 mm em osso de alta densidade está mais próximo do torque de fratura,
exigindo dos profissionais maiores cuidados, mesmo quando há abertura da rosca no osso
com emprego de macho.
Além da comparação entre os valores médios de inserção e de fratura, deve-se analisar o
valor do maior torque de inserção obtido nos diferentes ensaios com o menor torque de
resistência à fratura do mini-parafuso. Esta relação fornece a probabilidade ou risco máximo
para ocorrer a fratura do mini-parafuso. O maior torque para inserir o mini-parafuso de 2,0
mm na tíbia de coelho foi de 10,8 N.cm e para inserir na cortical bovina foi de 25,3 N.cm,
comparando-se estes valores com o menor torque para fraturar o mini-parafuso (49,3 N.cm),
tem-se que a probabilidade para ocorrer a fratura durante a inserção na cortical do coelho é
21,9% e no osso bovino é 51,3%. O risco para ocorrer a fratura do mini-parafuso de 1,5 mm
na inserção em osso bovino é 82,4%. Os valores dos riscos máximos para ocorrer a fratura
dos mini-parafusos são mostrados na Figura 6.
100

80

60

40

20

0
C2,0 B1,5 B2,0

Figura 6. Probabilidade para ocorrer a fratura durante a inserção de mini-parafusos:


C1,5: mini-parafusos de 1,5 mm em coelho; B1,5: mini- parafusos de 1,5 mm em cortical
de bovino e B2,0 : mini- parafusos de 2,0 mm em cortical de bovino.

Determinando-se o coeficiente de correlação dos dados de inserção e de remoção dos


mini-parafusos de 1,5 mm obteve-se para os ensaios com tíbia de coelho coeficiente igual a
0,68 e para o osso cortical bovino 0,97. Estes valores indicam que existe correlação entre o
torque de remoção e de inserção. Considerando que a densidade do osso da mandíbula ou
maxila humana possui resistência mecânica entre as dos ossos ensaiados, é possível afirmar
que os mini-parafusos de 1,5 e 2,0 mm suportam o torque de inserção em qualquer tipo de
osso da cavidade oral humana. Igualmente, é possível afirmar que o coeficiente de correlação
para o osso cortical humano está próximo dos valores encontrados nos ensaios com osso de
coelho e bovino, os torque de inserção dos mini-parafusos em osso humano está entre os
valores determinados neste trabalho.

Conclusões
Os ensaios de inserção e remoção in vivo e in vitro em cortical da tíbia de coelho e em
cortical da perna de bovino dos mini-parafusos mostraram que:
a) o torque para remover os mini-parafusos é inferior ao torque para inserir,
independente do diâmetro do mini-parafuso ou qualidade do osso;
b) os mini-parafusos possuem resistência média à torção superior ao torque de instalação
em cortical de elevada densidade e,
c) a inserção dos mini-parafusos de 1,5 mm em osso de elevada densidade requer maior
cuidado do profissional, uma vez que o torque médio de inserção é mais próximo do
limite de resistência à fratura sob torção do que os mini-parafusos de 2,0 mm.
Agradecimentos. Os autores agradecem à Conexão Sistemas de Prótese pelo fornecimento
dos mini-parafusos e a Dra Carla Derech pelas sugestões. O trabalho foi executado com apoio
do CNPq (Processos 472449/2004-4, 400603/04-7 e 500126/2003-8) e FAPERJ (E-
26/151.970/2004)

Referências Bibliográficas

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