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Manual de

TRAUMA
ORTOPÉDICO
Co o r d e n a d o r e s : Isabel Pozzi, Sandro Reginaldo,
Múcio Vaz de Almeida e Alexandre Fogaça Cristante

Comissão de Educação Continuada


2011
M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

Índice
TRAUMA ADULTO

Capítulo Tema Página


1 Princípios das osteossínteses 15
2 Métodos de fixação das fraturas 18
3 Utilização de fixadores externos na emergência 22
4 Politraumatizado: controle de danos 28
5 Fraturas expostas 32
6 Antibioticoterapia nas fraturas expostas 36
7 Antibioticoterapia profilática no tratamento cirúrgico das fraturas
fechadas 41
8 Fraturas da clavícula 44
9 Fraturas da escápula 49
10 Fraturas da extremidade proximal do úmero 54
11 Luxação acromioclavicular 59
12 Luxação esternoclavicular 63
13 Luxação traumática do ombro 66
14 Fraturas diafisárias do úmero 78
15 Fraturas da extremidade distal do úmero 83
16 Fraturas do olécrano 87
17 Luxação do cotovelo / fratura da cabeça do rádio 92
18 Fraturas do antebraço 98
19 Fraturas da extremidade distal do rádio 102
20 Fraturas do escafóide 115
21 Fraturas dos metacarpianos e falanges 121
22 Lesões traumáticas do punho (osteoligamentares) 126
23 Lesões tendinosas da mão 133
24 Fraturas da pelve 140
25 Fraturas do acetábulo 143
26 Luxação traumática do quadril 150
27 Fraturas do colo do fêmur 155
28 Fraturas transtrocanterianas do fêmur 160
29 Fraturas subtrocantéricas do fêmur 165
30 Fraturas diafisárias do fêmur 169
31 Fraturas supracondilianas do fêmur 173
32 Fraturas do planalto tibial 179
33 Fraturas da patela 184
34 Fraturas do pilão tibial 187

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Princípios das osteossínteses


Luiz Fernando Cocco

Os princípios de Osteossíntese Esta escolha, entretanto, deve ser


tiveram na fundação do Grupo AO, individualizada para cada paciente,
nos anos 50, seu grande avanço nos cada fratura, condições de infra-es-
conceitos que na sua maioria conti- trutura hospitalar e claro, experiên-
nuam aceitos até o momento. cia da Equipe Ortopédica que fará o
Para tanto, foram lançados quatro tratamento.
objetivos básicos, que descrevere- A mais moderna haste intrame-
mos posteriormente. Estes conceitos dular não terá a menor utilidade se
universais, maiores do que qualquer a infra-estrutura hospitalar não cons-
material de osteossíntese, não pre- tar com aparelhos de radioscopia,
determinam que implantes ou mar- mesas cirúrgicas rádio transparente
cas devam ser escolhidos para que e outros recursos de suporte para
sejam alcançados. sua utilização correta e precisa. Da
O arsenal terapêutico de órteses mesma forma, cirurgiões inexperien-
e próteses aumenta a cada dia, intro- tes com a técnica ou material, po-
duzindo materiais novos com a pro- dem ter resultados muito inferiores
messa de resultados cada vez mais de equipes treinadas e habituadas a
promissores. Sabemos entretanto, rotina com certos implantes.
que muitas vezes isso não se traduz Algumas vezes fatores limitantes
em realidade. Os implantes novos como estes, fazem com que os prin-
devem ser analisados sob o mais cípios de osteossíntese devam ser al-
criterioso e rigoroso parecer técnico terados (Estabilidade Absoluta X Re-
para que não interfiram no resultado lativa) para o tratamento de fraturas
do tratamento. muito parecidas, atendidas em hos-
Alem disso, cabe ao Ortopedista pitais diferentes. A mesma placa DCP
responsável pelo tratamento, primar por exemplo, pode assumir funções
por implantes de qualidade técnica, absolutamente diferentes. Pode fun-
de origem conhecida e difundida, cionar como um tutor extra-medular
com instrumentais precisos e atuali- como fixação em ponte, ou agregar
zados. Não deve, por qualquer mo- estabilidade absoluta em outra situ-
tivo, levar o paciente a sala cirúrgica ação.
sem sentir-se confortável e seguro Conforme citado anteriormente,
com o material que utilizará durante os Princípios de Osteossíntese abaixo
a cirurgia. devem ser considerados a origem da

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proposta terapêutica, e darão su- sui nas osteossíntese com haste


porte a escolha do implante. intramedular e placas em ponte,
seus maiores exemplos.
ASSIM TEMOS: c) Preservação do Suprimento San-
a) Redução Anatômica da Fratura guíneo – Este conceito está cada
– Atualmente considera-se fun- vez mais atual,visto que a impor-
damental nas fraturas articulares, tância das partes moles na consoli-
pois muitas vezes desvios resi- dação das fraturas é bastante valo-
duais maiores que 2 mm cursam rizada. Desta forma é fundamental
com maior índice de osteoartrose a execução de uma técnica o mais
pós-traumática. Quanto as demais atraumática possível, preservando
regiões do osso, procuramos na os tecidos perifraturários, evitando
grande maioria das vezes um ali- grandes dissecções e manipula-
nhamento anatômico, e não mais ções de fragmentos ósseos. Tais
uma redução anatômica, ou seja, cuidados diminuem sobremaneira
o objetivo consiste em restabele- a incidência de complicações
cer o alinhamento, rotação e com- como infecção, retardo de consoli-
primento ósseo. Faz-se exceção dação, pseudartrose, deiscência de
aos ossos do antebraço, mesmo pele etc.
porque pela íntima relação entre d) Mobilização Precoce – Uma vez
o rádio e a ulna, estas fraturas são que os princípios anteriores, em es-
tratadas como articulares. pecial o da fixação estável, tenham
b) Fixação Estável – A estabilização sido alcançados, o próximo passo
das fraturas deve ser suficiente consiste em permitir a mobilização
para suportar as demandas bio- precoce do membro e consequen-
mecânicas locais, podendo ser temente criar condições para o res-
obtida a partir de várias técnicas tabelecimento rápido da função,
e tipo de implantes, desde que diminuindo desta forma os efeitos
bem aplicados. Para tanto, esta deletérios da chamada doença
fixação pode agregar estabilidade fraturaria, bem como ajudando na
absoluta, ou seja, aquela que não preservação da vida de pacientes
permite mobilidade no foco da graves, como politraumatizados e
fratura, ou relativa, que por outro polifraturados.
lado, permite tais movimentos. A
primeira é obtida a partir do prin- O conhecimento e familiaridade
cípio de fixação interfragmentá- do Ortopedista com implantes e téc-
ria, que pode ser estática como nicas variadas não o torna refém de
nos casos de parafusos de tração certos materiais, podendo apresen-
e placas ou dinâmica a partir das tar ao paciente uma gama de possi-
bandas de tensão. A segunda pos- bilidades terapêuticas muito maior.

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SUGESTÕES DE LEITURA
1. Reis FB. Fraturas. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2007.
2. Faloppa F, Albertoni WM (coords). Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da Unifesp-EPM
– Ortopedia e Traumatologia, Barueri: Manole, 2008.

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Métodos de fixação das fraturas


Rogério Carneiro Bitar

Toda as vezes que estamos pe- uma estabilidade relativa, a qual


rante a uma fratura, logo pensamos acarreta em uma consolidação
em como podemos fixá-la. Apesar indireta, com a formação de calo
de simples este pensamento, esta ósseo1. O excesso de movimento
decisão envolve diversos fatores, pois no foco de fratura é indicativo de
uma fratura nunca é igual a outra. instabilidade e consequentemente
Muitas são as variáveis que acompa- uma maior chance de falha no
nham a fratura, várias delas determi- processo de consolidação.
nadas pelo mecanismo e energia do Sendo assim, quando desejamos
trauma, outras pelo perfil do paciente que ocorra uma consolidação direta
e/ou a qualidade óssea. da fratura, ou seja, sem a formação
Todos estes e outros fatores de- de calo ósseo, como por exemplo nas
verão ser considerados no momento fraturas articulares, devemos optar
que iremos escolher o melhor mé- por métodos que promovam a esta-
todo de fixação para aquela fratura, bilidade absoluta do foco de fratura,
naquele determinado momento e sendo o melhor e mais eficaz, o pa-
principalmente para aquele paciente. rafuso de tração ou de compressão
Neste capítulo iremos apresentar, interfragmentária2. A placa de com-
objetivamente, os métodos disponí- pressão dinâmica ou a placa acoplada
veis para o tratamento das fraturas e a um dispositivo de compressão e
quando devemos empregá-los. a banda de tensão são métodos de
compressão interfragmentária (ta-
MÉTODOS DE FIXAÇÃO bela 1).
Os métodos de fixação obedecem Por outro lado, quando deseja-
a dois princípios básicos1 (tabela 1): mos que ocorra uma consolidação
da fratura através da formação de
1) Princípio da compressão calo ósseo, devemos utilizar os mé-
2) Princípio do tutor todos de estabilidade relativa e que
servem como tutores, como por
O princípio da compressão exemplo as hastes intra-medulares,
promove no foco de fratura uma as placas em ponte e os fixadores
estabilidade absoluta, a qual acarreta externos (tabela 1).
uma consolidação direta, sem a Uma erro muito comum é a asso-
formação de calo ósseo1. Por outro ciação direta do implante com o mé-
lado, o princípio do tutor promove todo, que nem sempre é verdadeira.

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Por exemplo, uma placa DCP pode cortical proximal (furo com o mesmo
ser utilizada como um método de diâmetro do diâmetro externo do pa-
compressão, mas também pode ser rafuso) e um canal de rosca na corti-
utilizada como um tutor, nos casos cal oposta (furo com o diâmetro igual
de placa em ponte. ao diâmetro da alma do parafuso).
Caso façamos o raciocínio de trás Existem alguns parafusos, em que
para a frente, estaremos escolhendo existe um talo liso e uma porção com
primeiro o implante, onde existe um rosca, utilizados nas regiões de osso
gama enorme de implantes ortopé- esponjoso, que também promovem
dicos das mais diversas cores, tama- compressão. Para que haja a correta
nhos, preços e que podem promo- compressão no foco de fratura e con-
ver, se empregados sem o princípio sequente consolidação direta, é pre-
correto, um resultado insatisfatório. ciso que a redução dos fragmentos
seja anatômica1.
MÉTODOS DE ESTABILIDADE
ABSOLUTA Placas de compressão
Parafusos de tração dinâmica
Qualquer parafuso, independente As placas com o orifício DCP
do seu diâmetro, pode ter a função (que possuem uma rampa de des-
de um parafuso de tração ou de com- lizamento da cabeça do parafuso)
pressão interfragmentária, desde que podem promover uma compressão
se faça um canal de deslizamento na entre os fragmentos da fratura, sendo

Tabela 1: Princípios da Osteossíntese

Princípio Estabilidade Consolidação Método Exemplos de implantes

1)Parafuso 6,5mm
1)Parafuso de tração
rosca 32mm
2)Placa de
Compressão Absoluta Primária 2)Placa DCP ou LCP
Compressão
3)Fios de cerclagem +
3)Banda de tensão
fios de Kirschner

1)HIM fresada e
1)Haste intramedular bloqueada
Tutor Relativa Secun-dária 2)Placa em ponte 2) Placa DCP
3)Fixador externo 3)Fixador externo
modular tubo-a-tubo

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um método de estabilidade absoluta, Existem diversas opções de hastes


resultando na consolidação direta da intramedulares, as quais podem ser
fratura. Da mesma forma que o para- divididas pelas suas opções de blo-
fuso de tração, é necessário a redução queio, flexibilidade e de necessitarem
anatômica dos fragmentos . ou não de fresagem prévia.
Com a adição dos parafusos de
Banda de tensão bloqueio às hastes, além de melhorar
A técnica de fixação tipo banda de as propriedades mecânicas, houve
tensão é considerada um método de uma ampliação das indicações, fa-
estabilidade absoluta, pois promove zendo com que as hastes bloqueadas
uma compressão dos fragmentos da sejam, atualmente, as mais utilizadas
cortical oposta, articulares ou não, a no tratamento das fraturas dos ossos
qual é aumentada com o movimento1. longos3. Os bloqueios da haste permi-
Pode ser conseguida através de uma tem um melhor controle da rotação,
placa colocada na face de tensão do do encurtamento, possibilitando o
osso ou uma montagem com fios de apoio e a reabilitação mais precoce1.
Kirschner e cerclagem, colocados na As hastes bloqueadas podem ou
cortical proximal, geralmente junto não necessitar de fresagem. A fresa-
às inserções tendinosas dos fragmen- gem, realizada através de fresas fle-
tos fraturados, como por exemplo xíveis, tem a finalidade de aumentar
nas fraturas da patela. Este método, progressivamente o canal medular,
quando bem executado, promove a para que haja um contato maior en-
consolidação direta dos fragmentos, tre o implante e o osso, aumentando
sendo assim, torna-se necessário que com isso a estabilidade. Além disso,
não haja cominuição da articulação muitos trabalhos1 mostraram que a
ou cortical oposta, acarretando em fresagem, quando realizada com fre-
um processo de consolidação direta. sas adequadas e com a técnica cor-
reta, proporciona uma melhora no
MÉTODOS DE ESTABILIDADE processo de consolidação óssea, seja
RELATIVA por “levar” osso até o foco de fratura ,
Haste Intramedular seja por aumentar o fluxo sanguíneo
O encavilhamento intramedular periosteal, por uma inversão do fluxo
é o principal método de estabilidade endosteal para periosteal.
relativa para tratamento das fraturas As hastes flexíveis, como por
diafisárias, principalmente do fêmur exemplo as hastes de Ender, estão
e da tíbia3. Também são utilizadas cada vez mais em desuso, após o ad-
para tratamento das fraturas do fê- vento das hastes bloqueadas, tendo a
mur proximal, como por exemplo, sua indicação para as fraturas diafisá-
as fraturas transtrocantéricas e sub- rias em osso imaturo.
trocantéricas4. Deve-se conhecer todos os tipos

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de hastes intramedulares1, com as pois possibilitam diversos tipos de


suas diversas opções de bloqueio, montagens e configurações, po-
pontos de entrada, conformações e dendo ser colocados rapidamente, o
características para que se determine que é uma característica fundamen-
a melhor opção de tratamento para tal no tratamento das fraturas nas
aquela fratura e aquele paciente. situações de urgência e emergên-
cia (controle de danos) e de forma
Placas em ponte percutânea, com um menor dano
Qualquer placa pode ser utili- aos tecidos moles. Mas os fixadores,
zada como um método de fixação quando utilizados por longos perío-
que promova uma estabilidade dos, seja como tratamento definitivo
relativa, servindo como um tutor da fratura, seja pela dificuldade de
extra-medular, basta que ela seja conversão para uma síntese interna,
colocada de uma forma “em ponte”, apresentam altos índices de infec-
ou seja, com uma fixação proximal, ção nos trajetos dos pinos, perda da
uma área sem parafusos (também redução, retardo de consolidação e
chamada de área de trabalho) e consequente necessidade de enxer-
uma fixação distal. Dependendo tia óssea6.
do tamanho e do tipo da placa, da Em resumo, diversos são os méto-
disposição e do tipo de parafusos, dos de fixação das fraturas e mais diver-
podemos aumentar ou diminuir a sos os tipos de implantes para se realizar
rigidez da montagem. estes métodos. No entanto, devemos
inicialmente escolher qual o melhor
Fixador externo princípio para tratar aquela determi-
Os fixadores externos são os dis- nada fratura, naquele determinado
positivos de fixação mais versáteis, momento e para aquele paciente.

SUGESTÕES DE LEITURA
1. Princípios AO do tratamento de fraturas. Organizado por Thomas P. Ruedi e William M. Murphy;
trad. Jacques Vissoky. – Porto Alegre : Artmed, 2002.
2. Perren SM, Cordey J, Baumgart F, et al. Technical and biomechanical aspects of screws used for
bone surgery. International Journal of Orthopaedic Trauma, 1992; 2: 31-48.
3. Court-Brown CM, Christie J, McQueen MM (1990) Closed intramedullary tibial nailing. Its use in
closed and type I open fractures. J Bone Joint Surg (Br); 72 (4): 605-611.
4. Parker MJ, Handoll HHG. Intramedullary nails for extracapsular hip fractures in adults. Cochrane
Database of Systematic Reviews 2006, Issue 3.
5. Muller C, Frigg R, Pfister U. Effect of flexible drive diameter and reamer design on the increase of
pressure in the medullary cavity during reaming. Injury 1993, 24 (Suppl 3): 40-47
6. External Fixation: How to Make It Work. Ziran et al. J Bone Joint Surg Am.2007; 89: 1620-1632.

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Utilização de fixadores
externos na emergência
Eduardo da Silva Brum

Consiste em uma solução emer- ao qual estou inserido em revisar


gencial versátil e de fácil aplicação, todos os casos e promover alter-
com agressão mínima de tecido ós- nativa de tratamento definitivo?
seo e partes moles. Ao avaliarmos o tratamento com
Segundo trabalho realizado pelo fixadores modulares na emergência,
departamento de ortopedia e trau- muitas vezes percebemos a falta de
matologia da Unifesp, 32% dos or- preocupação maior com questões
topedistas brasileiros entrevistados importantes, como o alinhamento
no 36° CBOT optaram pela fixação da fratura, a técnica de inserção dos
externa nas fraturas Gustilo tipo I, pinos de Shanz, e a estabilidade do
52,1% na Gustilo tipo II, 74,4% nas do fixador. A situação descrita acima leva
tipo III A. Esses dados mostram que, a uma falsa impressão de que, por
existe uma grande tendência do or- tratar-se de um método provisório
topedista brasileiro na utilização da fi- de tratamento das fraturas, a atenção
xação externa como tratamento, seja com a boa técnica pode ser deixada
provisório ou definitivo, em ambien- para segundo plano.
tes de emergência. Importante salientar que, inde-
Ao optarmos pelo tratamento pendentemente de o fixador externo
com fixadores na emergência, dois ser utilizado para fins de tratamento
questionamentos obrigatoriamente provisório ou definitivo, a montagem
deverão ser analisados, principal- na emergência deverá seguir os pre-
mente em se tratando de fraturas da ceitos básicos de estabilização da
diáfise da tíbia (a mais comum): fratura, alinhamento e inserção de
a) Esse aparelho modular, na insti- barras e pinos de Shanz, observando
tuição em que estou trabalhando, atentamente as áreas de segurança
será convertido para tratamento de inserção de pinos e fios nos dife-
definitivo (hastes, placas ou fixador rentes seguimentos.
externo) nos próximos 14 dias? A partir dos conceitos de controle
b) Existe a possibilidade de que o tra- de danos local, o uso dos fixadores
tamento desenvolvido em caráter externos na emergência, não se res-
emergencial possa tornar-se trata- tringe apenas no tratamento das
mento definitivo, visto a incapaci- fraturas expostas. Pacientes polifratu-
dade da instituição e do sistema rados, com fraturas fechadas de alta

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energia, fraturas de pilão tibial tipo II tam de montagens mais estáveis


e III AO, joelho e cotovelo flutuante, quando comparados aos mem-
lesões em livro aberto do anel pélvico bros superiores.
(compressão AP), são passíveis ao uso Nesse caso para aumentarmos
dos fixadores externos. a estabilidade podemos lançar mão
Técnica correta de inserção do de alguns elementos técnicos tais
pino de Shanz: A correta colocação como:
do pino de Shanz é elemento fun- a) o diâmetro da alma do pino de
damental no bom andamento do Shanz: pinos com alma de 3,2mm
tratamento com fixador externo, pois são menos estáveis que pinos
diminui o risco de complicações da com alma 4,5mm na resistência
interface pino osso, como soltura, in- às forças de torção
fecção superficial, osteólise. b) a distância entre os pinos: quanto
Faz-se uma incisão de aproxima- maior a distância entre os pinos de
damente 1 cm ou o suficiente para Shanz de um mesmo segmento,
evitar a tensão entre a pele e o pino. maior a estabilidade e resistência
A seguir, com uma pinça é realizada da montagem. Quanto menor a
dissecção romba, com objetivo de se- distância do pino em relação ao
parar as partes moles até o osso. As foco de fratura maior a rigidez.
duas corticais ósseas deverão ser per- c) o número de barras: fixadores ex-
furadas pela broca e o pino introdu- ternos montados com barra du-
zido manualmente de forma a evitar pla longitudinal resistem melhor
necrose térmica pelo uso de perfura- às forças de compressão axial,
dores em alta rotação. quando comparados com barra
O pino deverá possuir sua por- única em configurações uni-pla-
ção interna cônica, pois permite nares.
melhor ancoragem e resistência ao d) distância barra-osso: quanto me-
arrancamento do implante, promo- nor a distância da barra em rela-
vendo maior durabilidade da esta- ção ao osso, maior a estabilidade,
bilização, diminuindo o numero de principalmente relativa às forças
reintervenções. de compressão (distancia deverá
Montagem do fixador externo ficar entre 20 e 30 mm da pele e
modular tubo a tubo. até 60 mm da superfície óssea)
Existem vários tipos de monta- observando sempre o conforto do
gens e configurações dos fixadores paciente.
externos. Alguns fatores influenciam e) a configuração dos fixadores:
na escolha por diferentes tipos de montagens uni-planares são de
montagens: 4 a 7 vezes mais instáveis quando
1. O osso acometido: ossos longos comparados às bi-planares em re-
dos membros inferiores necessi- lação às forças de encurvamento.

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f ) pinos cônicos revestidos com damente 1 cm e sua ponta é fixada ao


hidroxiapatita melhoram a inter- osso ilíaco de ambos os lados.
face pino-osso aumentando a re- Após a inserção dos pinos, acopla-
sistência (bastante utilizados em se os outros componentes do apare-
pacientes com osteoporose). lho e faz-se impacção do anel con-
2. a estabilidade intrínseca do osso forme figura abaixo.
a) fraturas com maior cominução
são naturalmente mais instáveis
Figura 1
e necessitam de montagens
mais estáveis que fraturas trans-
versas simples.
3. lesões de partes moles e vascula-
res associadas
a) muitas vezes temos de modificar
a configuração da montagem
Montagem do fixador modular tubo a
objetivando facilitar o acesso a tubo para lesões do anel pélvico:
curativos e intervenções vascu-
lares.
Figura 2
TIPOS DE MONTAGEM NOS
DIFERENTES SEGMENTOS:
Bacia:
Clampe de Ganz: diversos traba-
lhos já demonstraram a eficácia do
clampe de Ganz no tratamento emer-
gencial das lesões do anel pélvico
com instabilidade hemodinâmica.
É de concepção simples e de rápida
Há 2 possibilidades clássicas para a
colocação, facilitando as abordagens inserção dos pinos de Shanz no anel pél-
abdominais quando necessário e pro- vico conforme demonstração acima.
movendo compressão da região pos-
terior da pelve, local onde ocorrem os Supra-acetabular: promove mai-
maiores sangramentos. or estabilidade rotacional à monta-
Técnica: identifica-se o ponto de gem, porém a dificuldade técnica é
penetração no ilíaco que fica de 8 a 10 maior. Alguns autores indicam essa
cm anterolateral à espinha ilíaca pós- montagem como tratamento defi-
tero-superior, ao longo de uma linha nitivo. Toma-se como referência a
imaginária entre esta e a espinha ilíaca crista ilíaca ântero-superior, o sítio
ântero-superior. Faz-se a introdução de entrada fica de 4 a 6 cm em dire-
do pino por uma incisão de aproxima- ção caudal e 3 a 4 cm para medial,

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a angulação do pino deverá ser de


aproximadamente 20 graus em di- Figura 4
reção cranial e 30 graus em direção
a porção interna da pelve.
Crista ilíaca: colocar pinos com
uma distância mínima de 15 mm
Passo 1 Passo 2
dorsal à crista ilíaca ântero-superior,
para evitar lesão do nervo cutâneo
lateral da coxa. Os pinos são colo-
cados entre as duas corticais da es- Passo 3 Passo 4
pinha ilíaca em um ângulo de 10 a
20 graus.
A compressão é feita pela re- Se quisermos aumentar a esta-
gião anterior ao longo da barra do bilidade da montagem podemos
fixador tubo a tubo conforme figura colocar pinos na face antero-lateral
abaixo. da perna e conectá-los à montagem
original ou acrescentar outra barra de
Figura 3 conexão entre os dois segmentos.
No fêmur, podemos acrescentar
uma barra após a redução, unindo os
dois segmentos da fratura para au-
mentar a resistência da montagem.
Tanto no fêmur quanto na tíbia
do adulto, devem-se utilizar pinos de
Shanz cônicos de 6 mm com objetivo
de aumentar a estabilidade da mon-
tagem.
Tíbia e fêmur: as montagens po-
dem ser uni-planares, bi-planares,
híbridas, dependendo de fatores já Figura 5
descritos. A técnica de montagem do
aparelho é a mesma para os diferen-
tes segmentos, monta-se o aparelho
por segmentos quando a fratura ne-
cessita de redução tanto no plano
frontal, quanto coronal.

Pilão tibial: A estabilização pode


ser feita através de montagem unila-
teral ou triangular.

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As vantagens de montagem trian- deverá preceder ao vascular com o


gular com 1 fio de Steinmann transfi- objetivo de evitar lesões iatrogênicas
xando o calcâneo, residem na maior ao by-pass.
facilidade de promover a técnica de Úmero: As montagens para úmero
ligamentotaxia, além de prevenir seguem a mesma regra das monta-
desvios em valgo e varo bastante co- gens dos membros inferiores, porém
muns em montagens unilaterais. observando com maior atenção às
zonas de segurança para inserção
dos pinos de Shanz. Na região pro-
Figura 6 ximal, o melhor local de inserção
fica ântero- lateralmente, e na região
distal de póstero-lateral para ântero-
medial, evitando assim possível lesão
ao nervo radial.

Montagem Montagem triangular Figura 7


unilateral

Montagem para joelho flutuante:


Em pacientes politaumatizados com
fratura de fêmur e tíbia ipsilateral,
sem condições de ser submetido ao
tratamento definitivo na emergên-
cia, a escolha pelo controle de danos
através da estabilização com fixador
externo trans-articular é a alternativa
mais viável. Alguns estudos(Pole GV
et al) mostram que a estabilização da
fratura nas primeiras 24 horas reduz o
risco de eventos pulmonares como
embolia gordurosa, pneumonia e Cotovelo flutuante: foi definido
SARA em pacientes com trauma cra- primeiramente por Stanitski e Mi-
nio encefálico. Se há alguma dúvida cheli, como sendo uma lesão traumá-
em relação a lesão arterial associada, tica em criança envolvendo conco-
uma angiografia deverá ser solicitada mitantemente fratura do antebraço e
antes da estabilização da fratura. Em supracondiliana do úmero ipsilateral.
relação ao dano vascular que haja Após, essa definição foi estendida
necessidade de reparo, em fraturas para adultos como sendo fratura do
instáveis, o procedimento ortopédico úmero e antebraço ipsilateral.

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gião distal é de póstero-medial para


Figura 8 ântero-lateral angulado 15 graus no
plano sagital.

COMENTÁRIOS FINAIS:
O método de fixação externa
como tratamento provisório ou defi-
nitivo na emergência, ainda é o mais
utilizado pelo ortopedista brasileiro.
A fixação externa nesses casos é É uma técnica consagrada, de fácil
utilizada, assim como no joelho flutu- aplicação, minimamente invasiva e
ante, apenas para controle de danos com mínima agressão às partes mo-
local, tendo que, obrigatoriamente les, porém, para obter sucesso com
ser revertida em tratamento defini- esse tratamento é necessário seguir
tivo após melhora das comorbidades os princípios da técnica, com mon-
sistêmicas. tagens adaptadas para cada tipo de
Na ulna, a área de segurança para situação, seguindo os preceitos da
colocação de pino na região proximal estabilização e de uma boa redução
é de posterior para anterior e na re- das fraturas.

SUGESTÕES DE LEITURA
1. Kume, MH. A influência do número de barras na resistência à compressão axial dos fixadores
externos mono planares em modelos de tíbias de poliuretano. (dissertação de mestrado)
2010.
2. Mercadante MT, Kojima K, Hungria JOS, Zan RA, Abulasan T, Iamaguchi RB, Mezzalira LG. Estudo
mecânico comparativo de quatro montagens de fixador externo mono lateral submetido à
força de torção. Rev. Bras Ortop. 2003; 38(3):106 -16.
3. Mercadante MT, Kojima K, Cristian R, Hungria JC, Neto, JSH, Camargo AB, Samano HM. Santos
RSF, Vatavuk J, Mello AG, Bertolani AD, Freitas CEB. Avaliação da resistência mecânica de três
diferentes pinos de Shanz às forças de torção em montagens do fixador externo mono lateral.
Acta ortopédica brasileira. 2005; v.13, nº004, p.183-185.
4. Ming JH, Zhou PH, Zhou JP. Biomechanical analysis of fracture fixation with external fixator in
vivo. Chin J Traumatol. 2006; 9(2):100-4.
5. Rotbande I, Ramos MRF. Atualização em fixação externa: conceitos e revisão.Rev Bras Ortop.
2000;35(4):103-08.
6. Sisk DT. General principles and techniques of external skeletal fixation. Clin Orthop Relat Res.
1983;180(11): 96-100.
7. Large and Medium-Size External fixation. Modular rod system (figuras ilustrativas gentilmente
cedidas pela Synthes).

27
M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

Politraumatizado: controle de danos


Felipe Macri
Daniel de Souza Carvalho

EPIDEMIOLOGIA tes pacientes deve ser multidiscipli-


O politrauma é a principal causa nar e criteriosa por toda equipe de
de morte na faixa etária entre 5 e plantão, identificando e tratando
44 anos, e no decorrer dos últimos primeiro o que leva a vida em risco,
anos esta incidência vem aumen- utilizando o método ATLS – Advan-
tando progressivamente. As lesões ced Trauma Life Support, utilizando a
que acometem o politraumatizado, seguinte sequência:
quando não levam ao óbito, deixam a Airway- Desobstrução e manu-
seqüelas permanentes, culminando tenção das vias aéreas superiores
com enormes custos pessoais e psi- pérvias e imobilização da coluna
cológicos, para os familiares e para cervical
toda a sociedade. b Breathing- Respiração e ventila-
A definição de politrauma é o ção pulmonar adequada
conjunto de lesões múltiplas simultâ- c Circulation- Controle de hemorra-
neas, de vários segmentos do corpo, gias e manutenção da circulação
em que pelo menos uma ou a com- sanguínea
binação de varias é potencialmente d Disability- Identificação de distúr-
fatal, ou ISS (Injury Severity Score) > bios neurológicos
18 ( Baker S. et al. J Trauma, 1974). e Exposure- Exposição completa do
A causa mais freqüente de poli- paciente,
trauma é o acidente de trânsito, aco- Os exames de imagem inicias são:
metendo duas vezes mais homens Radiografias da coluna cervical
que mulheres. Cerca de 80% dos po- em perfil, tórax e bacia na posição
litraumatizados apresentam alguma ântero-posterior e a ultrassonografia
lesão no aparelho locomotor. A insta- ou FAST do abdome.
bilidade do esqueleto torna o paciente Após esta abordagem inicial e
imóvel e elimina a opção para selecio- durante a exposição completa do
nar a posição de decúbito mais apro- paciente já provisoriamente imobi-
priada para o cuidado intensivo das lizado, as fraturas são identificadas
lesões do encéfalo e do tórax. com a realização de duas incidências
radiográficas.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO E
RADIOLÓGICO TRATAMENTO
A avaliação e atendimento à es- O objetivo primário durante o

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M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

atendimento inicial ao paciente poli- cípios gerais do tratamento das fra-


traumatizado é a sobrevivência com turas específicas.
funções cognitivas normais. Isso pode O tratamento definitivo, como
ser obtido com as medidas do atendi- cirurgia no primeiro dia, somente
mento do protocolo ATLS garantindo é aconselhável quando a condição
uma adequada perfusão e oxigena- geral do paciente estiver otimizada.
ção de todos os órgãos vitais. Para a escolha do tratamento, entre
A abordagem ortopédica nestes o cuidado total precoce e o controle
pacientes consiste no controle da de danos, os pacientes com trauma
hemorragia, manejo das lesões de ortopédico podem ser dividido em
partes moles e estabilidade provi- 4 grupos:
sória das fraturas, de maneira que a a) Estáveis
fisiologia global do paciente possa b) Limítrofes
melhorar, evitando o agravamento c) Instáveis
pelo tratamento definitivo denomi- d) Críticos
nado de “second hit” ou segundo Somente os pacientes conside-
golpe, (sendo o “primeiro golpe” o rados estáveis e os categorizados
trauma causador das lesões). Este é como limítrofes sem fator de risco
o conceito do controle de danos, em associado são candidatos ao trata-
que o principal objetivo é salvar a mento definitivo precoce.
vida, adiando o reparo definitivo das Isto devido ao trauma desen-
lesões anatômicas e focando na res- cadear uma resposta inflamatória
tauração da fisiologia. sistêmica com ativação do sistema
O melhor método para o con- imune e dependendo da intensidade
trole de danos é o fixador externo, desta resposta o organismo poderá
que facilita a mobilização do aciden- reagir com disfunção de múltiplos
tado no leito seja em UTI ou enfer- órgãos(DMO) e/ou síndrome da an-
maria, a realização dos curativos e gústia respiratória aguda (SARA).
observação dos ferimentos, diminui Desta forma o tratamento definitivo
a dor e a necessidade de narcóticos, de imediato ou cuidado total precoce
facilitando a fisioterapia na mobiliza- em um paciente limítrofe, instável ou
ção precoce e na melhora do estado crítico, aumentará a reação inflamató-
pulmonar do paciente. ria sistêmica, funcionando como um
No entanto, se existir uma res- segundo golpe ao paciente, podendo
posta positiva durante o atendi- então levá-lo ao óbito.
mento inicial ao paciente politrau- Existe uma predisposição ge-
matizado e o mesmo permanecer nética pré-programada para hiper-
estável durante a avaliação secun- reação ao trauma. Os principais mar-
dária, o “cuidado total precoce” pode cadores da atividade inflamatória
ser realizado de acordo com os prin- capazes de predizer a gravidade da

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M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

resposta inflamatória ao trauma ini- O Controle de Danos deve ser rea-


cial são IL-6 e HLA-DR II . lizado em todos pacientes instáveis e
O esquema abaixo resume a con- críticos e também nos pacientes limí-
dução inicial mais adequada na abor- trofes com fator de risco associado.
dagem ao paciente politraumatizado.
Os fatores associados com risco de
desfecho adverso são:
Figura 1. Orientação sumarizada Lesão arterial e
Condição instável ou
de conduta frente ao paciente ressuscitação difícil
instabilidade hemo-
politraumatizado dinâmica
Resposta inflamató-
Coagulopatia (pla-
ria exagerada (níveis
quetas < 90,000)
de IL-6 > 800pg/ml)
Hipotermia (<35°) pH< 7,24
Tempo cirúrgico
Contusão pulmonar
previsto acima 90
bilateral
minutos
Lesões múltiplas em
politrauma no pa-
ossos longos e no
ciente geriátrico
tronco
Transfusão de mais
de 10 Concentrado
de hemácias
CC – Centro cirurgico ; UTI – Unidade de
Terapia Intensiva Os requisitos para cirurgia defini-
tiva precoce (nas primeiras 24hs) são:
Os pacientes considerados limí-
CIRURGIA DEFINITIVA PRECOCE
trofes apresentam pelo menos uma (primeiras 24 horas)
das seguintes características :
Estabilidade hemodi- Débito urinário >
PACIENTES LIMITROFES nâmica 1 ml/ Kg/hora
Ausência de
ISS > 40
Saturação de O2 estável necessidade de
ISS > 20 com Trauma torácico associado suporte inotrópico
(escore abreviado >2) Ausência de distúrbios Lactato < 2
de coagulação mmol/l
Lesão do anel pélvico ou Lesão
Abdominal e Choque Hemorrágico Temperatura normal
(escore abreviado > 2)

Contusão pulmonar bilateral


Após o controle de danos, a cirur-
Pressão arterial pulmonar gia definitiva das fraturas dos ossos
média inicial > 24mmHg
longos deve ser agendada para ser
Aumento na Pressão arterial realizada durante a “janela imunoló-
pulmonar > 6mmHg na PA durante a gica de oportunidade”, entre o quinto
fixação intramedular
e o décimo dia pós trauma, a fim de

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M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

evitar o “segundo golpe” CONSIDERAÇÕES FINAIS


Princípios mínimos que deverão Na abordagem ao paciente poli-
ser respeitados na colocação do fixa- traumatizado, o cirurgião deverá não
dor externo na emergência: somente evitar as complicações ine-
rentes a cada trauma isoladamente,
Princípios de Fixação
Externa na Emergência bem como evitar o dano secundário
ao paciente. A tomada de decisão
Fixação temporária deve ser imediata, devendo priorizar
Utilize preferencialmente fixação
salvar a vida do doente, respeitando
monoplanar (tubo-tubo) o ABC inicial do trauma para depois
a resolução dos danos ortopédicos
Posição dos pinos não atrapalhe o específicos. O uso de fixação externa
tratamento definitivo
provisória deve ser encorajado no
Não deixe de utilizar técnica adequada controle de danos por ser de rápida
de colocação dos pinos execução e minimamente invasivo.

SUGESTÕES DE LEITURA
1. World health statistics 2010. Ginebra, Organización Mundial de la Salud,(http://www.who.int/
whosis/whostat/es/index.html) consultado em 27 de fevereiro de 2011).
2. Pape HC, Hildebrand F, Pertschy S, et al. Changes in the management of femoral shaft fractures
in polytrauma patients: from early total care to damage control orthopedic surgery. J Trauma.
2002; 53:452– 461.
3. Pape HC, Grimme K, Van Griensven M, Sott AH, Giannoudis P, Morley J, Roise O, Ellingsen E,
Hildebrand F, Wiese B, Krettek C; EPOFF Study Group. Impact of intramedullary instrumentation
versus damage control for femoral fractures on immunoinflammatory parameters: prospective
randomized analysis by the EPOFF Study Group. J Trauma. 2003; 55:7-13.
4. Harwood PJ, Giannoudis PV, van Griensven M, Krettek C, Pape HC. Alterations in the systemic
inflammatory response after early total care and damage control procedures for femoral shaft
fracture in severely injured patients. J Trauma. 2005; 58:446-54.
5. Roberts CS, Pape HC, Jones AL, Malkani AL, Rodriguez JL, Giannoudis PV. Damage control
orthopaedics: evolving concepts in the treatment of patients who have sustained orthopaedic
trauma. Instru Course Lecture. 2005; 54:447-62.

31
M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

Fraturas expostas
Marcos Paulo de Souza

INTRODUÇÃO EPIDEMIOLOGIA
As fraturas expostas implicam em Durante um período de 75 me-
comunicação entre o meio ambiente ses, entre janeiro de 1988 e março
externo e a fratura e têm sido defini- de 1994 em Edinburgh, Escócia, 1000
das como uma lesão de partes moles, fraturas expostas de 933 pacientes
complicada por um osso quebrado. A foram relatadas, representando uma
melhor compreensão da fratura ex- frequência de 21,3 por 100.000 ano.
posta, das técnicas de fixação das fra- A taxa mais alta de fraturas diafisárias
turas, dos cuidados de partes moles foi vista na tíbia (21,6 %), seguida pelo
e do tratamento antimicrobiano tem fêmur (12,1%), radio e ulna (9,3%) e
resultado em redução da morbidade úmero (5,7%).
e da mortalidade associadas.
MICROBIOLOGIA
ETIOLOGIA E MECANISMO DE O efeito imediato de uma lesão
LESÃO de alta velocidade que produz uma
As fraturas expostas habitual- fratura exposta é a contaminação dos
mente ocorrem como resultado de tecidos moles e duros. Além disso,
um trauma direto de alta energia, por pode haver choque sistêmico, redu-
acidentes automobilísticos ou que- zindo o suprimento sanguíneo para
das de altura. O prognóstico relativo o osso e o músculo durante algum
às fraturas expostas será determinado período. O resultado é a oxigenação
principalmente pelo volume de teci- tecidual deficiente e a desvitalização
dos moles desvitalizados causados dos tecidos circundantes incluindo o
pela lesão e pelo nível e tipo da con- osso, promovendo um meio perfeito
taminação bacteriana. A destruição para infecção e multiplicação bac-
ou perda dos tecidos moles que ge- teriana. Em um estudo recente, Pat-
ralmente recobrem o osso poderá zakis e colaboradores relataram que
afetar as opções do cirurgião refe- somente 18 % das infecções eram
rentes à estabilização da fratura. Os causadas pelo mesmo organismo ini-
acidentes de alta energia geralmente cialmente isolado nas culturas transo-
causam lesões múltiplas e graves a peratórias.
outras partes do corpo (cabeça, tórax
e abdome), cujo manejo pode ter pre- DIAGNÓSTICO
cedência sobre uma fratura exposta. O diagnóstico destas lesões cos-

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M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

tuma ser imediato. Quando a ferida tes. Os gases poderão ser gerados
ocorre no mesmo segmento que a pelo Clostridium perfringens e por en-
fratura, esta deverá ser considerada teropatógenos como Escherichia coli.
exposta até prova em contrário. Antes A tomografia computadorizada (TC)
de avaliar detalhadamente as fraturas das extremidades lesionadas deverá
expostas, as lesões que colocam a ser adiada, até que seja concluído o
vida em risco deverão ser diagnostica- tratamento inicial da fratura exposta.
das e tratadas conforme os princípios
do ATLS (Advanced Trauma Life Sup- CLASSIFICAÇÃO
port). O médico examinador deverá A classificação proporciona as
documentar a função neurológica e diretrizes referentes ao prognóstico,
vascular de cada extremidade. Muitos permitindo formular alguns concei-
membros que apresentam sinais de tos sobre métodos de tratamento.
insuficiência vascular antes da redu- A classificação de fraturas expostas
ção, recuperam assim que o membro descrita por Gustilo e Anderson e
é realinhado. Quando a insuficiência depois modificada por Gustilo é o sis-
persistir, deverá ser verificada e afas- tema mais citado na literatura atual.
tada a hipótese de lesão arterial. Após As fraturas expostas são divididas em
a avaliação inicial, o ferimento deverá três tipos, em ordem ascendente de
ser coberto com curativo estéril para gravidade, com base no dano de teci-
realização dos exames complementa- dos moles e o nível de contaminação.
res. Tscherne et al. constataram uma As lesões do tipo I são ocasionadas
taxa de infecção de 4,3%, nas lesões por traumatismos de baixa energia
que foram cobertas imediatamente e têm normalmente menos de 1 cm
com um curativo estéril, comparada de comprimento, baixa contamina-
com uma taxa de 18%, naquelas que ção bacteriana e padrão da fratura
ficaram expostas até o momento da simples. As do tipo II têm mais que
cirurgia. As pessoas expostas a fezes 1 cm de comprimento, maior lesão
ou sujeira das zonas rurais, alertam de partes moles, moderado nível de
quanto a uma possível infecção cau- contaminação e padrão de fratura
sada por clostrídios e a necessidade simples. As lesões do tipo III decorrem
de antibióticos adicionais (penicilina), de traumas de alta energia, maiores
bem como de um desbridamento que 10 cm, extensa desvitalização
cirúrgico mais agressivo. As radiogra- dos músculos, grande contaminação
fias deverão ser realizadas em ântero- da ferida. Consideram-se também
posterior e lateral incluindo a articula- outros fatores para classificar uma
ção acima e abaixo do foco de fratura. fratura exposta como tipo III: fraturas
Os tecidos moles das extremidades ocasionadas por projétil de arma de
podem aspirar ar em decorrência de fogo com alta velocidade, fraturas
traumatismos contusos ou penetran- segmentares expostas, fraturas da

33
M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

diáfise com perda óssea segmentar, desbridamento e da irrigação do fe-


fraturas associadas à lesão vascular rimento é remover material estranho,
que irão exigir reconstrução vascular, tecidos desvitalizados bem como o
lesões em ambientes rurais, fraturas osso, e reduzir a carga bacteriana. A
com síndrome compartimental asso- irrigação tradicional é feita com 10 li-
ciadas. As do tipo III são subdivididas tros de soro fisiológico. Dependendo
em: IIIA lesões dos tecidos moles, mas da extensão da lesão, padrão da fra-
em condições de cobertura óssea; IIIB tura, do local e da condição geral do
a desvitalização ou a perda de tecidos paciente será escolhido uma fixação
irá exigir retalho de pele ou de teci- temporária ou definitiva. A fratura do
dos para recobrir o osso, tendão ou tipo I de Gustilo pode ser tratada da
feixe neurovasculares; IIIC lesão vas- mesma forma que uma fratura fe-
cular que necessite de reconstrução chada. As fraturas grau II e III são ins-
vascular para salvar a extremidade táveis e desviadas e requerem uma fi-
lesionada. Brumback e Jones relata- xação cirúrgica. A seleção do método
ram uma concordância geral de 60% de fixação permanece controversa.
quando usada a classificação de Gus- As fraturas articulares requerem re-
tilo entre cirurgiões ortopédicos. Exis- dução anatômica com estabilidade
tem outros sistemas de classificação absoluta, enquanto o segmento não
como: Tcherne, AO e Hannover. articular pode ser realinhado e fixado
com estabilidade relativa. O fixador
TRATAMENTO externo pode ser usado para manter
Após o tratamento inicial preco- o comprimento e alinhamento até
nizado pelo ATLS, inicia-se o trata- que o edema diminua e a condição
mento das lesões musculoesqueléti- do tecido mole tenha melhorado.
cas. Os objetivos do tratamento são: Idealmente o fixador deve ser colo-
prevenção da infecção, estabilização cado fora da zona de lesão e de ci-
da fratura e cobertura de partes mo- rurgias adicionais. Os principais pro-
les. O uso de antibiótico sistêmico blemas com a fixação externa são
precoce é muito importante. Patzakis relacionados às infecções do trajeto
demonstrou que o uso empírico de do pino, alinhamento inadequado,
uma cefalosporina de primeira ge- união retardada e pouca cooperação
ração reduziu a taxa de infecção nas do paciente. Se o plano for tratar tem-
fraturas expostas. A administração porariamente com a fixação externa
profilática não deve ultrapassar 72 para depois realizar a conversão para
horas. O momento ideal para o ma- encavilhamento intramedular deve
nejo cirúrgico inicial é de 6 a 8 horas ser até 15 dias da lesão se não houver
após a lesão, após este período a infecção no trajeto do pino. O uso de
multiplicação bacteriana pode levar hastes intramedulares bloqueadas
a infecção precoce. O objetivo do tem sido estabelecido como trata-

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M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

mento de escolha para a maioria das O padrão atual de cuidados para to-
fraturas diafisárias na extremidade dos os ferimentos de fratura exposta
inferior, podendo ser usadas até nas é deixá-los abertos. O fechamento
fraturas III A. Existe a preocupação retardado é realizado dentro de 2 a 7
acerca da fresagem do canal cau- dias. O curativo a vácuo é uma opção
sar dano adicional ao suprimento para não deixar o leito da ferida ex-
sanguíneo endosteal. Há, contudo, posto. Em lesões de grande energia
dados mostrando que as hastes só- ou intensa contaminação o desbrida-
lidas introduzidas sem fresagem têm mento será realizado a cada 24 a 48
um risco menor de infecção que as horas até que a viabilidade da ferida
hastes tubulares com grande espaço seja assegurada.
morto. Por sua vez as hastes fresadas
são biomecanicamente mais fortes. PROBLEMAS E
O encavilhamento intramedular per- COMPLICAÇÕES
mite acesso ao membro e facilita o O manejo das fraturas expostas
manejo de partes moles. Os ensaios graves é demorado e difícil para o pa-
randomizados prospectivos que ciente. A síndrome compartimental é
comparam as hastes fresadas com um risco significativo. A infecção per-
as não fresadas de fraturas tibiais manece o principal risco e pode levar
expostas não demonstram qualquer a união retardada, pseudartrose, con-
diferença significativa em relação ao solidação viciosa e perda da função.
desfecho e ao risco de complicações.

SUGESTÕES DE LEITURA
1. Rüedi TP, Buckley RE ,Moran CG, et al (2009) Princípios AO do tratamento de fraturas segunda
edição volume 1: Artmed.
2. Bucholz RB, Heckman JD, et al (2006) Rockwood e Green : fraturas em adultos quinta edição
volume 1: Manole.
3. Court-Brown CM, Brewster N, (1996) Epidemiology of open fractures.Court-Brown CM, McQueen
MM, Quaba AA (eds), Management of open fractures. London: Martin Dunitz, 25-35.

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