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CASO CLÍNICO

Mini-implantes extra-alveolares no tratamento das


assimetrias em Ortodontia

Marcio Rodrigues de Almeida1,2 1) Universidade Norte do Paraná, Curso de Mestrado Acadêmico em Ortodontia e Doutorado em Odontologia
(Londrina/PR, Brasil).
2) Mestre, Doutor e Pós-doutorado em Ortodontia, Universidade de São Paulo (Bauru/SP, Brasil). Mini-residency in
Orthodontics, University of Connecticut, School of Dental Medicine (Farmington, CT). Autor dos livros “Ortodontia Clínica
e Biomecânica”, Dental Press, 2010/2012; e “Mini-implantes Extra-alveolares em Ortodontia”, Dental Press, 2018.

Resumo: O uso de mini-implantes dentária anormal, perda prematura O presente artigo descreve algumas
para necessidades referentes à de dentes decíduos ou permanen- possibilidades de uso dos mini-im-
ancoragem na prática ortodôntica tes, apinhamentos e outros fatores. plantes extra-alveolares nas corre-
moderna tem se tornado uma ferra- Os parafusos extra-alveolares revo- ções das assimetrias mais comuns
menta importante para o ortodon- lucionaram a Ortodontia, pois pos- no dia a dia dos ortodontistas. Pa-
tista. Em geral, as assimetrias mais sibilitam aplicar forças multivetoriais lavras-chave: Procedimentos de
prevalentes no consultório são as em casos onde se requer correções ancoragem. Ortodontia corretiva.
dentárias, causadas por erupção das assimetrias em Ortodontia. Assimetrias.

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Extra-alveolar mini-screws in the treatment of asymmetries in Orthodontics

Abstract: The use of mini-implants for an- of deciduous or permanent teeth, crowding article describes some possibilities of the use
chorage needs in modern orthodontic practice and other factors. The extra-alveolar screws of the extra-alveolar mini-implants in the
has become an important tool for the ortho- have revolutionized Orthodontics because corrections of the most common asymmetries
dontist. In general, the most prevalent asym- they allow the application of multi-vector to the orthodontists. Keywords: Orthodontic
metries in the dental office are dental, caused forces in cases that require corrections of anchorage procedures. Orthodontics, correc-
by abnormal tooth eruption, premature loss asymmetries in Orthodontics. The present tive. Asymmetries.

Como citar: Almeida MR. Mini-implantes extra-alveolares no tratamento das assimetrias em Ortodontia. Rev Clín Ortod Dental Os autores declaram não ter interesses associativos, comer-
Press. 2018 Jun-Jul;17(3):79-92. ciais, de propriedade ou financeiros que representem confli-
to de interesse nos produtos e companhias descritos nesse
artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo
Enviado em: 10/05/2018 - Revisado e aceito: 22/05/2018
autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias
DOI: https://doi.org/10.14436/​1676-6849.17.3.079-092.art faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

Endereço para correspondência: Marcio Rodrigues de Almeida


E-mail: marcioralmeida@uol.com.br

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INTRODUÇÃO As assimetrias representam um desafio na Orto-


Diversos tipos de más oclusões assimétricas po- dontia, uma vez que não somente o tratamento é di-
dem ser observados na prática clínica, requerendo fícil, mas também o diagnóstico. O ortodontista deve
atenção especial do ortodontista. Sabe-se que as ser cauteloso na avaliação de casos assimétricos,
assimetrias independem do tipo de má oclusão, pois o posicionamento inadequado do paciente na
ou seja, podem se apresentar na Classe I, II ou cadeira odontológica pode mascarar ou dificultar a
III. Assimetrias faciais, assimetrias esqueléticas, visualização da referida assimetria. Para tanto, Zach-
assimetrias dentárias com ou sem desvio de linha risson3 aludiu que, para se visualizar com precisão
média, de planos oclusal, e da relação oclusal os problemas dos pacientes, deve-se avaliar a face
dos molares podem ser verificadas em pacientes olhando-a de frente, com visão direta.
ortodônticos e não ortodônticos. Algumas formas Ackerman et al.4 enfatizam uma nova modali-
de assimetrias possuem fatores dentários no seu dade de avaliação diagnóstica das assimetrias,
envolvimento, enquanto outras se derivam de fa- utilizando, para tanto, uma orientação espacial
tores primariamente esqueléticos. Existe, ainda, que inclui três eixos rotacionais associados aos
um terceiro fator etiológico que pode originar as já conhecidos e consagrados três planos: antero-
assimetrias faciais. As assimetrias das relações posterior, vertical e transversal. Os eixos em 3D
oclusais são facilmente identificadas em pacientes da aviação (pitch, roll e yaw) representam, dessa
que requerem o tratamento ortodôntico. Por exem- forma, uma possibilidade de melhor entender as
plo, é comum encontrar uma relação molar em um assimetrias na Ortodontia (Fig. 1, 2). É possível
lado da arcada em Classe II e, no outro lado, visualizar assimetrias com erro no sentido do pit-
uma Classe I ou III. Smith e Bailit observaram, em
1
ch, de plano oclusal (anteroposterior). De forma
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uma população ortodôntica, assimetrias nas rela- semelhante, pode-se aferir problemas de rotação
ções dos molares em 25% dos casos, sendo es- do arco (eixo vertical, yaw). Por fim, nota-se em
sas maiores que 2,5 mm. Contudo, avaliando-se alguns pacientes erros no sentido transversal, ou
uma população não tratada ortodonticamente, a rotação de canto (cant rotation, roll).
prevalência de assimetrias correspondeu apenas O uso de mini-implantes, especialmente os ex-
de 3 a 6% dos casos. Outro estudo que investi- tra-alveolares, para necessidades referentes à an-
gou as assimetrias nas relações molares mostrou coragem na prática ortodôntica moderna tem se
que 30% dos jovens adolescentes não tratados tornado uma ferramenta importante para o ortodon-
ortodonticamente possuíam assimetrias, enquan- tista. Em geral, as assimetrias mais prevalentes no
to 22% dos casos ortodônticos apresentavam-se consultório são as dentárias, causadas por erup-
assimétricos2. As assimetrias com desvio de linha ção dentária anormal, perda prematura de dentes
média são condições clínicas comuns, ocorrendo decíduos ou permanentes, apinhamentos e outros
em 46% dos pacientes ortodônticos e em 21% de fatores. Essas assimetrias frequentemente não estão
jovens adolescentes não tratados ortodonticamen- associadas a deformidades faciais5,6. Os pacientes
te2. Além disso, observou-se que 62% das discre- portadores de assimetrias dentárias normalmente
pâncias entre as linhas médias envolviam a linha apresentam uma relação sagital dos molares de
média inferior; 39%, a linha média superior; 18%, Classe I de Angle de um lado e de Classe II do ou-
decorrentes de um deslocamento mandibular e tro lado, associada, dessa forma, a um desvio das
6% originavam-se de problemas esqueléticos. linhas medianas entre si ou com relação ao plano

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Figura 1, 2: Representação esquemática do método de diagnóstico das assimetrias usando como guia os planos e eixos da aviação,
e transportando esses conceitos para a CBCT.

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Figura 3, 4: Caso clínico demonstrando uma relação oclusal sagital das arcadas dentárias
de Classe II unilateral de molares, onde do lado direito notou-se uma Classe II completa
e do esquerdo uma relação de Classe I. A linha média dentária superior apresentou-se
desviada 3mm para a esquerda em relação ao plano sagital mediano, enquanto a inferior
se apresentava centralizada.

Figura 5-7: O tratamento escolhido foi o uso de parafuso em crista infrazigomática (IZC) e mecânica assimétrica de distalização unilateral.
O sistema foi composto de arco retangular de aço 0,017” x 0,025”, no qual se adaptou um gancho modificado com maior extensão
cervical (15mm), para que a linha de ação da força se aproximasse o máximo possível do centro de resistência (Cr) de todos os dentes e
um movimento de translação da linha média pudesse ser obtido. Note que o parafuso se encontra na mesma linha do gancho adaptado na
mesial do canino (Fig. 6 e 7). Assim, como a paciente apresentava um plano oclusal maxilar simétrico (linha vermelha tracejada) em relação
ao plano oclusal frontal, a força paralela ao plano oclusal fez-se necessária para que não ocorresse uma inclinação do plano oclusal.

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Figura 8, 9: Resultado final. Observa-se


uma relação molar de Classe I e linhas
médias coincidentes.

sagital facial7. Essa má oclusão é também conheci- o máximo possível do centro de resistência (Cr) de
da como Classe II subdivisão, manifestando-se em todos os dentes e um movimento de translação da
50% dos pacientes com Classe II, sendo uma das linha média pudesse ser obtido (Fig. 5). Note que
formas de má oclusão dentária assimétrica mais co- o parafuso se encontra na mesma linha do gancho
muns na população ortodôntica . 7
adaptado na mesial do canino (Fig. 6 e 7). Assim,
A colocação de mini-implante unilateralmente como a paciente apresentava um plano oclusal
na região da crista infrazigomática (IZC) assegura maxilar simétrico (Fig. 5, linha vermelha tracejada)
máxima retração de um lado, uma vez que a altu- em relação ao plano oclusal frontal, a força para-
ra do mini-implante não interfere com o movimento lela ao plano oclusal se fez necessária para que
distal dentário e permite corrigir a Classe II e a não ocorresse uma inclinação do plano oclusal.
linha média simultaneamente. Consequentemente, As Figuras 8 e 9 mostram o final do caso, deno-
é uma das mecânicas mais interessantes para as tando uma ótima relação de Classe I de molares e
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correções assimétricas de maxila, pois não depen- coincidência da linha média.
de da colaboração do paciente, além de ser ex- O caso clínico das Figuras 10 a 13 ilustra uma
tremamente simples. Entretanto, é importante anali- assimetria dupla em dois planos, yaw e roll maxi-
sar e empregar a correta linha de ação de forças lar. Observou-se uma relação oclusal sagital das
quando do uso do parafuso unilateral, para não arcadas dentárias de Classe II unilateral de mola-
ocorrer inclinação do plano oclusal . 8
res na qual, do lado direito, notou-se uma Classe II
O caso clínico das Figuras 3 a 9 demonstra completa e do esquerdo, uma relação de Clas-
uma relação oclusal sagital das arcadas dentárias se I. A linha média dentária superior apresentou-se
de Classe II unilateral de molares, diagnosticado desviada 2mm para a esquerda em relação ao
como yaw da maxila, onde do lado direito notou-se plano sagital mediano, enquanto a inferior se apre-
uma Classe II completa e do esquerdo, uma rela- sentava centralizada. Além disso, notou-se uma ro-
ção de Classe I. A linha média dentária superior tação de canto na maxila, conhecida como roll,
apresentou-se desviada 3mm para a esquerda no sentido anti-horário. O sistema de tratamento
em relação ao plano sagital mediano, enquanto das assimetrias foi composto de arco retangular
a inferior se apresentava centralizada. O sistema de TMA 0,017” x 0,025” onde se adaptou dois
retracional foi composto de arco retangular de aço stops travando o canino, e uma força oblíqua do
0,017” x 0,025” onde se adaptou um gancho mini-implante em IZC ligando-se um elástico em ca-
modificado com maior extensão cervical (15mm), deia. A instalação do parafuso em IZC ocorreu
para que a linha de ação da força se aproximasse mais alta, em mucosa móvel, exatamente para per-

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mitir que a força fosse oblíqua. A linha de ação da adequado sistema de forças. Os dois casos a se-
força oblíqua permite corrigir a assimetria no eixo guir estampam uma das mecânicas mais revolucio-
roll (plano incisal inclinado no sentido anti-horário) nárias de parafusos extra-alveolares para correção
e também a assimetria no eixo yaw (Classe II e de assimetria interarcadas e que não requer o uso
linha média). As Figuras 12 e 13 denotam dez me- de elásticos intermaxilares — sendo, desse modo,
ses de tratamento com a distalização unilateral por uma mecânica muito eficiente, principalmente, para
meio de forças assimétricas. É possível observar a pacientes não colaboradores.
correção da linha média, do plano oclusal e, tam- O primeiro caso é de uma paciente de retra-
bém, da relação molar. Realmente, nota-se que a tamento com desvio de linhas médias superior e
biomecânica de parafusos em IZC é sofisticada no inferior no eixo yaw, como pode ser observado
tratamento de problemas assimétricos. na Figura 14. A linha média superior da pacien-
E se o problema assimétrico se localizar nas te desviou-se para a esquerda em função da ex-
duas arcadas? Qual é a melhor mecânica para tração de um pré-molar superior esquerdo. A li-
correção de assimetrias maxilomandibulares? Ob- nha média inferior encontrava-se desviada para
viamente, se for de caráter dentoalveolar, pode-se a direita em relação ao plano sagital mediano.
utilizar a mecânica de parafusos assimétricos em A proposta da mecânica foi girar as linhas médias
crista infrazigomática e buccal shelf (BS) com um desviadas diametralmente opostas à assimetria.

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10 11

12 13

Figura 10-13: Caso clínico ilustrando uma dupla assimetria em dois eixos, yaw e roll, na maxila. Observou-se uma relação oclusal
sagital das arcadas dentárias de Classe II unilateral de molares e a linha média dentária superior apresentou-se desviada 2mm para a
esquerda em relação ao plano sagital mediano, enquanto a inferior se apresentava centralizada. Além disso, notou-se uma rotação
no eixo roll no sentido anti-horário (inclinação de plano oclusal de canto). Para o tratamento, foi proposta mecânica de distalização
unilateral com parafuso na IZC direita. Utilizou-se um arco retangular de TMA 0,017” x 0,025” onde se adaptou dois stops, travando
o canino direito, e uma força oblíqua do mini-implante, ligando-se um elástico em cadeia. A instalação do parafuso em IZC ocorreu
mais alta, em mucosa móvel, exatamente para permitir que a força fosse oblíqua. A linha de ação da força oblíqua permite corrigir a
assimetria no eixo roll (plano incisal inclinado no sentido anti-horário) e, também, a assimetria no eixo yaw (Classe II e linha média)
(Fig. 10 e 11). As Figuras 12 e 13 denotam 10 meses de tratamento com a distalização unilateral por meio de forças assimétricas.
É possível observar a correção da linha média, do plano oclusal e, também, da relação molar, simultaneamente.

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Para tanto, dois parafusos extrarradiculares foram fechadas de 9mm na arcada superior e de 15mm
instalados, sendo um na IZC (lado direito) e outro na inferior, provendo força de aproximadamente
na BS esquerda. Para equilibrar a linha de ação 250 a 350g, ativadas paralelamente ao plano
da força e não gerar uma força inclinada ao pla- oclusal (Fig. 17 a 19). As Figuras 20 a 22 mos-
no oclusal, adaptou-se dois gurins longos na me- tram o avanço da mecânica após 10 meses de
sial dos caninos em um arco retangular de TMA uso das forças assimétricas advindas das molas
0,017” x 0,025”. Utilizou-se duas molas de NiTi adaptadas em IZC e BS.

Figura 14-16: Caso clínico de retratamento com desvio de linhas médias superior e inferior no eixo yaw. A linha média superior
da paciente desviou-se para a esquerda em função da extração de um pré-molar superior esquerdo. A linha média inferior
encontrava-se desviada para a direita em relação ao plano sagital mediano (linha pontilhada vermelha). A relação de caninos era de
Classe II no lado direito e Classe III no esquerdo. Os molares encontravam-se em Classe II em ambos os lados.

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Figura 17-19: Dois parafusos extrarradiculares foram instalados, sendo um em IZC (lado direito) e outro em BS (lado esquerdo).
Para equilibrar a linha de ação da força em relação ao plano oclusal, adaptou-se dois gurins longos na mesial dos caninos em um
arco retangular de TMA 0,017” x 0,025”. Utilizou-se duas molas de NiTi fechadas de 9mm no arco superior e de 15mm no inferior
provendo força de aproximadamente 250 a 350g, ativadas paralelamente ao plano oclusal.

Figura 20-22: As figuras denotam 10 meses de progresso da mecânica assimétrica.

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CASO CLÍNICO
Paciente com 14 anos e 5 meses de idade, sexo feminino, procurou tratamento ortodôntico com a queixa
principal de mordida anterior “torta” e diastemas que desfavoreciam a estética. As figuras 23 a 32 ilustram o
caso ao início do tratamento.

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Figura 23-30: Fotografias iniciais da paciente do sexo feminino, com 14 anos e 5 meses
de idade.

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Figuras 31 e 32: Radiografia panorâmica e telerradiografia em norma lateral ao início do tratamento.

Lista de problemas
A paciente apresentou-se com padrão meso- bula retruída e padrão de crescimento equilibrado
facial, com simetria e selamento labial passivo. (Tab. 1, Fig. 32). Os incisivos superiores e infe-
Na  avaliação de perfil, observou-se um perfil riores encontravam-se vestibularizados e protruídos
convexo, com nítida deficiência mandibular, leve na base óssea. Com relação ao perfil facial te-
protrusão maxilar e ângulo nasolabial fechado. gumentar, os lábios superior e inferior denotaram
Por meio da avaliação do sorriso, notou-se um discreta protrusão.
arco do sorriso plano e exposição de 100% dos
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incisivos superiores. A relação oclusal sagital das
arcadas dentárias denotava uma Classe II unila-
teral de molares, sendo que no lado direito no-
tou-se uma Classe I e do esquerdo uma relação
Tabela 1: Análise cefalométrica pré-tratamento.
de Classe II completa. O canino do lado direito
apresentou-se em Classe I e o esquerdo, em Clas- SNA 820
se II. O trespasse vertical mostrava sobremordida
SNB 780
de 80%. O trespasse horizontal apresentou 3mm.
A linha média dentária superior apresentou-se des- ANB 40
viada 2mm para a direita em relação ao plano
Sn.GoMe 330
sagital mediano, enquanto a inferior, 1 mm para
1-NA 6mm
a esquerda. A arcada superior apresentou diaste-
mas (2mm), enquanto a arcada inferior se encon- 1-SN 1050
trava com 3mm de diastemas. A radiografia pano-
IMPA 1040
râmica demonstrou a presença de todos os dentes
irrompidos, exceto os terceiros molares (Fig. 31). 1-NB 7mm

A análise cefalométrica (telerradiografia em norma Ls-E 2mm


lateral) demonstrou uma relação maxilomandibular
Li-E 1mm
de Classe II, com maxila bem posicionada, mandí-

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Objetivos do tratamento de espaços. Por fim, um protocolo ortodôntico-ci-


Objetivou-se com o tratamento ortodôntico rúrgico poderia ser utilizado para correção es-
corrigir a má oclusão de Classe II unilateral, o quelética da Classe II, bem como da assimetria.
desvio das linhas médias superior e inferior, e Optou-se por um protocolo não cirúrgico (or-
fechar os diastemas. A relação sagital dentária tognática) e não extracionista (pré-molar), que
no lado esquerdo sugeria que os molares supe- não dependesse da colaboração por parte do
riores deveriam ser distalizados. Além disso, a paciente no uso de elásticos intermaxilares ou
linha média superior deveria ser desviada para aparelhos propulsores, o qual foi prontamente
a esquerda, em função da assimetria presente. aceito pela paciente. Assim, a proposta de distali-
Para a arcada inferior, frente ao overjet presen- zação unilateral por meio de uso de mini-implante
te de 3 mm, objetivou-se mesializar o segmento em IZC e dois parafusos inferiores foi instaurada
posterior esquerdo e distalizar o segmento di- para cumprir os requisitos do paciente, obede-
reito, para corrigir o desvio de linha média e cendo aos seguintes parâmetros:
reduzir o overjet. » Extração dos terceiros molares.
Os objetivos específicos encontram-se abaixo » Colocação de mini-implante unilateralmen-
elencados: te na região da crista infrazigomática,
» Manter a posição das bases ósseas. assegurando máxima retração de todo o
» Distalizar os molares superiores no lado es- lado esquerdo, uma vez que a altura do
querdo. mini-implante não interfere com o movimen-
» Corrigir a linha média superior. to distal dentário.
» Mesializar os molares inferiores do lado es- » Colocação de mini-implante bilateralmente
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querdo e distalizar os do lado direito. na região da buccal shelf, assegurando
» Corrigir a linha média inferior. mesialização de todo o lado esquerdo e
» Corrigir a sobremordida. distalização do direito, uma vez que a al-
tura do mini-implante não interfere com o
Alternativas de tratamento movimento distal dentário.
Como terapia alternativa de tratamento no » Adaptação de contenções superior e infe-
presente caso, algumas modalidades não ex- rior.
tracionistas poderiam ser empregadas, como o
uso de elásticos diagonais Classe III e Classe II Progressão do tratamento
para correção da relação de Classe II do lado O tratamento foi realizado utilizando-se um
esquerdo e das linhas médias. aparelho Straight-Wire com canaleta 0,022”
Outra modalidade poderia ser utilizar um prescrição Roth modelo Premium (Orthometric,
cursor apoiado em mini-implantes adaptados Marília/SP). Iniciou-se a fase de alinhamento e
entre o primeiro molar e o segundo pré-mola- nivelamento com arcos 0,014” CuNiTi seguidos
res, associado a um cursor ou, ainda, um pro- de arcos 0,014” x 0,025” CuNiTi superior e
pulsor mandibular assimétrico. inferior, cada par mantido por dois meses (Fig.
Além das terapêuticas não extracionistas ex- 33 a 37). Instalou-se dois arcos de intrusão de
planadas, pode-se optar pela extração assimétri- TMA 0,017” 
x 0,025” sobre os arcos CuNiTi
ca de três pré-molares e fechamento assimétrico 0,014” x 0,025”, para melhorar a sobremordida.

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Figura 33-37: Início da fase de alinhamento e nivelamento com arco CuNiTi 0,014”
seguido dos arcos 0,014” x 0,025” de CuNiTi superior e inferior, mantidos por dois
meses cada par. Em função da sobremordida, um arco em TMA 0,017” x 0,025” apoiado
sobre o tubo duplo retangular do primeiro molar foi usado nas arcadas superior e
inferior. A força empregada nesse dispositivo variou de 50 a 70 gramas.

Biomecânica dos miniparafusos inserido na


NiTi fechadas permite corrigir a linha média sem
88 crista infrazigomática e em buccal shelf
aumentar ainda mais o overjet. Obviamente que
As Figuras 38 a 41 ilustram 7 meses após o iní- uma projeção vestibular dos incisivos inferiores
cio do tratamento com uma mecânica assimétrica ocorreria, como pode ser observado no decorrer
de miniparafusos na região de crista infrazigomáti- da mecânica (Fig. 42 a 44). Essas figuras demons-
ca e buccal shelf para ancoragem. Uma distaliza- tram o resultado após 4 meses de mecânica as-
ção superior foi proposta do lado esquerdo com simétrica apoiada em parafusos extra-alveolares
parafuso em IZC. Para a arcada inferior, frente ao (total de tratamento 11 meses). Indubitavelmente,
overjet de 3mm presente, objetivou-se mesializar essa é uma biomecânica fantástica e sofisticada
o segmento posterior esquerdo com um parafuso do ponto de vista da aplicação de forças, e uma
instalado mesialmente angulado, e distalizar o resolução simplificada de problemas assimétricos
segmento direito para corrigir o desvio de linha na Ortodontia, onde a colaboração do paciente
média e reduzir o overjet. A Figura 39 demonstra não é requerida, como no uso de aparelhos extra-
a mecânica de distalização inferior do lado direi- bucais ou elásticos intermaxilares.
to, que por sua vez causa um aumento do overjet Após 9 meses de tratamento, observa-se, nas
(seta verde). Assim, optou-se pela mesialização Figuras 45 a 52, o resultado obtido com a mecâ-
do segmento posterior esquerdo, conforme Figura nica assimétrica. As Figuras 50 e 51 denotam a
40 (seta azul), priorizando a correção do over- correção da linha média e a melhora na estética
jet. A combinação dos parafusos instalados em do sorriso. A Figura 52 demonstra o paralelismo
buccal shelf associados às forças das molas de dentário obtido ao fim da mecânica.

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38 39

40 41

Figura 38-41: A proposta para resolução biomecânica do caso foi instaurar uma mecânica de parafusos assimetricamente
posicionados. Sete meses após o início do tratamento com a mecânica assimétrica de miniparafusos na região de crista 89
infrazigomática e buccal shelf para ancoragem, onde uma distalização superior foi proposta do lado esquerdo com parafuso em IZC
e mola fechada, utilizando-se um arco TMA 0,017” x 0,025”. Para a arcada inferior, frente ao overjet de 3mm presente, objetivou-se
mesializar o segmento posterior esquerdo com um parafuso instalado mesialmente angulado e distalizar o segmento direito para
corrigir o desvio de linha média e reduzir o overjet. A Figura 39 demonstra a mecânica de distalização inferior do lado direito, o
que, por sua vez, causa um aumento do overjet (seta verde). Assim, optou-se pela mesialização do segmento posterior esquerdo,
conforme Figura 40 (seta azul), priorizando a correção do overjet. A combinação dos parafusos instalados em buccal shelf associados
às forças das molas de NiTi fechadas permite corrigir a linha média sem aumentar ainda mais o overjet.

Figura 42-44: As figuras demonstram o resultado após 4 meses de mecânica assimétrica apoiada em parafusos extra-alveolares (total
de tratamento 11 meses). Note a correção das linhas médias e a melhora na relação molar e de caninos do lado esquerdo.

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45 46 47

48 49

50 51 52

Figura 45-52: Nove meses depois do início do tratamento assimétrico (16 meses de tratamento total), observa-se nas Figuras 45 a 49 o
90
resultado obtido com a mecânica. As Figuras 50 e 51 denotam a correção da linha média e a melhora na estética do sorriso. A Figura 52
demonstra o paralelismo dentário obtido ao fim da mecânica observado na radiografia panorâmica.

Resultados de tratamento
periores e protrusão dos inferiores. Indubitavel-
As Figuras 53 a 60 demonstram os resul- mente, a análise do sorriso mostra uma melhora
tados obtidos após 20 meses de tratamento. no arco do sorriso (paralelo) e a coincidência
A análise facial frontal e lateral revelou poucas das linhas médias dentárias com o plano me-
alterações ocorridas do início ao fim do trata- diano do paciente. No aspecto dentário, ob-
mento, com pequena retrusão do lábio superior serva-se uma excelente relação de caninos e
decorrente da lingualização dos incisivos su- molares, bem como overjet e overbite normais.

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Figura 53-60: Resultados obtidos após 20 meses de tratamento. A análise facial frontal e lateral revelou poucas alterações ocorridas do
início ao fim do tratamento, com pequena retrusão do lábio superior decorrente da lingualização dos incisivos superiores e protrusão
dos inferiores. Indubitavelmente, a análise do sorriso mostra uma melhora no arco do sorriso (paralelo) e a coincidência das linhas
médias dentárias com o plano mediano do paciente. No aspecto dentário, observa-se uma excelente relação de caninos e molares,
bem como overjet e overbite normais.

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Almeida MR

CONCLUSÕES corrigir as assimetrias sem o auxílio de extrações


As assimetrias, muito embora comuns na práti- dentárias ou elásticos intermaxilares é preterível.
ca ortodôntica, estão entre as más oclusões mais Os mini-implantes extra-alveolares são ferramentas
difíceis de ser tratadas. Geralmente, pacientes com importantes que podem ser utilizadas no tratamento
más oclusões assimétricas apresentam relação mo- de casos assimétricos, permitindo alcançar resulta-
lar incorreta, inclinação de planos oclusais e des- dos previsíveis com mínima colaboração do pacien-
vios da linha média. Uma mecânica que vislumbre te e controle dos diversos planos do espaço.

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