EDITORIAL
Ortodontia de possibilidades, e não de limitações
E chegamos ao mês de dezembro, último
mês do ano, que contempla a nossa última
edição de 2021. Um ano muito difícil, diga-se
de passagem, devido aos transtornos que a
pandemia nos trouxe, mas com a sinalização
de melhora evidente a cada dia que passa.
Nessa última revista, temos uma seleção
incrível de artigos clínicos e seções dos Marcio ALMEIDA1-4 tação, algoritmos de movimentação, colisões
nossos colaboradores. Costumo dizer que
hodiernamente vivenciamos uma Ortodontia de possi-
bilidades infinitas, e não de limitações, como tínhamos
no passado; haja vista a quantidade de aparelhos que
temos disponíveis, técnicas diferentes, a revolução da
era 3D (digital), do plástico, e assim por diante. É inegável da verdade, creio que planejamentos digitais como
que está muito mais legal ser ortodontista hoje do que
ontem. Ter a mente aberta para novas abordagens
ortodônticas é imperioso na nossa especialidade. E essa
talvez seja a razão da subsistência da nossa revista
clínica: trazer informações atuais da pluralidade de
técnicas existentes no mercado de hoje.
Como já é do conhecimento do leitor, a cada nova edição
trazemos uma entrevista com personalidades da nossa
querida especialidade. O entrevistado agora é o Dr. Jonas
Capelli Jr., professor titular da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, que conta um pouco da sua vida clínica
e acadêmica na Ortodontia ao longo dos seus 40 anos
de experiência como docente. A maioria das perguntas
que lhe foram feitas pelos colegas Renato P. Martins,
Gustavo Zanardi, Silvia Reis e Fabio Guedes versou sobre
o uso de alinhadores ortodônticos. Capelli Jr. propugna
que a ideia primordial é ter cuidado com a curva de
aprendizado no tratamento com alinhadores. Pontua
que casos com mordida aberta tratados com alinhadores
têm respostas muito positivas, pois a capacidade de
proporcionar uma retroinclinação considerável dos
incisivos superiores e inferiores (extrusão relativa),
bom controle vertical e extrusão não significativa dos
dentes posteriores parece ser o principal mecanismo
para correção da mordida aberta. Por outro lado, no
tratamento das sobremordidas exageradas, os alinha-
dores já têm mais dificuldade, seja pela falta de rigidez
do plástico ou, até, pela incapacidade de segmentar a
mecânica, como nos arcos de intrusão.
Aproveitando o ensejo do tratamento de problemas
verticais com alinhadores, convido os colegas para a
leitura da seção “Biomecânica”, do Renato Parsekian
Martins, sobre as diferentes estratégias verticais
com alinhadores, advindas da mecânica fixa. O autor
pontua que da mesma forma que é difícil o controle
vertical com a mecânica fixa, isso não muda quando
utilizamos os alinhadores.
[ 4 ]
E por falar em softwares para planejamento digital,
o colega Guilherme Bernd, na seção “Eu Penso
Assim”, discorre sobre os desafios digitais da
Ortodontia. Adverte que a escolha das ferramentas
digitais (softwares) que usamos para trabalhar
pode influenciar nossos planejamentos e, até
mesmo, o diagnóstico. Aspectos como segmen-
digitais e deformação gengival são importantes
aspectos que devem ser analisados. Conclui que dife-
rentes softwares podem trazer resultados divergentes
quanto ao cálculo do número de alinhadores e outros
aspectos. E o que eu penso sobre esse assunto? A bem
os que realizamos no ClinCheck são difíceis de se
aprender e difíceis de ensinar. A curva de aprendizado é
íngreme e, por isso, o ortodontista antenado e moderno
deve adquirir as habilidades de: 1 - pensar quanto ao
diagnóstico e planejamento virtual, 2 - prever a taxa de
movimento e sua velocidade e 3 - corrigir as suas falhas
no ClinCheck, bem como as falhas clínicas.
A percepção e a compreensão de algumas caracterís-
ticas dentofaciais específicas são fundamentais para
definir a possibilidade terapêutica não cirúrgica do
tratamento de casos com assimetrias mandibulares.
Os colegas Carlos Alexandre Câmara e Máyra Reis
Seixas, na seção “Estética em Ortodontia”, apregoam
que a possibilidade de um tratamento compensató-
rio esteticamente bem-sucedido requer a avaliação
prévia de vários critérios. Apresentam, dessa forma,
um caso de assimetria mandibular tratado por meio
de compensação ortodôntica, abordando os critérios
que permitiram a obtenção de um resultado oclusal e
funcional satisfatório e boa estética do sorriso. Concordo
plenamente com os autores que a queixa principal e
a demanda estética facial do paciente parecem ser os
fatores mais decisivos nessa escolha.
Na seção “Ortodontia Clínica”, Villela aborda o trata-
mento da Classe II com aparelho tipo Herbst + apa-
relhagem fixa, em uma paciente durante a fase de
crescimento e desenvolvimento craniofacial. Penso que
1.  Especialista, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Ortodontia, Universidade de
São Paulo, Faculdade de Odontologia (Bauru/SP, Brasil).
2.  Professor Titular da Universidade Norte do Paraná, Curso de Mestrado
Acadêmico em Ortodontia e Doutorado em Dentística (Londrina/PR, Brasil).
3.  Editor-chefe da Clinical Orthodontics.
4.  Editor Associado da Dental Press Journal of Orthodontics.
© Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2021 Dec-2022 Jan;20(6):4-5
Almeida M
esse tipo de abordagem, feita em três fases, passou a
fazer parte do arsenal ortodôntico, no tratamento da
Classe II por deficiência mandibular, com a introdução
dos aparelhos ortopédicos nas décadas de 70 e 80, pois
até então tínhamos duas estratégias básicas: extração de
quatro pré-molares ou aparelho extrabucal e elásticos
intermaxilares. Não é novidade para ninguém que os
propulsores mandibulares revolucionaram a nossa
Ortodontia. E, se analisarmos pelo prisma do fator
cooperação, o aparelho Herbst, que é fixo, não demanda
cooperação, como os clássicos aparelhos Bionator de
Balters, Fränkel ou ativadores.
Na seção de descrição de casos clínicos, Bonin et al.
descrevem o tratamento de uma paciente com alta
exigência estética, que apresentava má oclusão de
Classe III assimétrica, utilizando alinhadores ortodôn-
ticos associados a elásticos de Classe III unilaterais
como recurso de ancoragem.
Ainda na seção de casos clínicos, Cunha et al. relatam o
tratamento ortodôntico com extrações assimétricas e
retração com ancoragem esquelética em um paciente
portador de biprotrusão dentoalveolar e mordida
aberta anterior, com forte impacto na estética facial
e do sorriso. Interessante ressaltar que as autoras
foram muito felizes em direcionar corretamente o
vetor de forças (ganchos mais longos) para controle
do torque dos incisivos.
O objetivo da nossa revista é demonstrar para o clínico
como podemos trabalhar com diferentes mecânicas e
atingir resultados interessantes. Sendo assim, a Clinical
Orthodontics dificilmente publica artigos de pesquisa
que não tenham relevância clínica direta. Desse modo,
Melo et al. objetivaram avaliar a percepção da estética
dentofacial por ortodontistas e leigos, quanto à pre-
sença de assimetrias nos olhos, nariz, queixo e bordas
dos incisivos centrais superiores, na análise facial
frontal do sorriso. Interessantemente, a manipulação
das imagens com assimetria de 1 mm entre as bordas
incisais dos incisivos centrais foi a variável que diferiu
significantemente quanto à percepção de ortodontistas
e leigos, com classificação inferior às demais, sendo
determinante na estética dentofacial o posicionamento
vertical dos incisivos superiores. Acredito que cabe
salientar que, no rosto, o sorriso parece dominar e,
no sorriso, predominam os incisivos centrais. Então,
como menciona o amigo André Wilson Machado, que
é o mentor desse trabalho, “foco no central, pessoal”!
A seção “Controvérsias na Ortodontia”, escrita pelo
professor Alberto Consolaro, traz uma análise sobre o
assunto falha primária de erupção. O autor sugere que,
no lugar de “falha primária de erupção”, parece mais
adequado e concreto utilizar o termo “falha de erupção
idiopática”, para os casos em que não se identifique a
causa, desde que todo o histórico do paciente, exames
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Ortodontia de possibilidades, e não de limitações
anteriores e meios de diagnóstico tenham sido resga-
tados, aplicados e analisados.
Por fim, na seção de casos clínicos do BBO, Barreto e
Feitosa descrevem um caso clínico de uma paciente
adulta portadora de mordida cruzada posterior que
foi tratada por meio de expansão rápida de maxila e
aparelho fixo. O tratamento da deficiência transversal
da maxila em adultos tem gerado diversas discussões
quanto às terapias usadas atualmente. De acordo com
os autores, para escolher a terapia mais adequada,
algumas características devem ser avaliadas. Alguns
colegas são defensores da expansão maxilar com
aparelho Hyrax em adultos, enquanto outros já não
se atrevem a realizar tal protocolo. Essa dicotomia de
opiniões não é de hoje... aqueles que defendem o não uso
de expansor rápido em adultos justificam a ausência de
abertura da sutura palatina mediana e movimentação
dos dentes de ancoragem contra a tábua óssea vesti-
bular. Esses propugnam a disjunção cirurgicamente
assistida, ou SARME; enquanto outros acreditam ser
possível a correção da discrepância transversa mesmo
em adultos, e acabam por indicar tal terapêutica, como
os colegas reportaram com sucesso nesse caso clínico.
Eu não disse que acredito na Ortodontia de possibili-
dades, e não de limitações? E assim encerramos mais
um ano de muitas publicações clínicas e científicas, no
afã de oferecer ao leitor informações relevantes que
o ajudem na tomada de decisões no seu consultório.
É isso mesmo, a Ortodontia, para ser bem executada,
não requer o uso de um determinado aparelho ou de
uma determinada marca comercial. A Ortodontia, mais
do que nunca, tem se mostrado eclética, democrática e
dicotômica, onde penso não existir o caminho certo ou
errado... existem, sim, possibilidades diversas e escolhas
distintas, e cabe a nós, clínicos, determinar qual caminho
seguiremos na busca de uma Ortodontia de excelência.
Que todos tenhamos um excepcional fim de ano e que
Deus nos ajude a superar de uma vez essa pandemia.
Um grande abraço do Marcio Almeida,
e fiquem com Deus.
Como citar: Almeida MR. Orthodontics of possibilities, not limitations. Clin
Orthod. 2021 Dec-2022 Jan;20(6):4-5.
Enviado em: 10/08/2021 - Revisado e aceito: 23/08/2021
DOI: https://doi.org/10.14436/2675-486X.20.6.004-005.edt
Endereço para correspondência: Marcio Almeida
E-mail: marcioralmeida@uol.com.br
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