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Túlio Andrade1,2,3
2 Especialista em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil).
3 Mestre em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil).
Como citar: Andrade T. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1. Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55.
DOI: https://doi.org/10.14436/1676-6849.17.5.044-055.epa
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MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1
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Andrade T
Para a análise quantitativa, alguns autores propu- protocolo mais simples para a quantificação dos pro-
seram mensurações no cefalograma posteroanterior blemas transversais.
usando como referência o osso basal, a exemplo de Entre os diversos protocolos já propostos, o
Ricketts . Porém, essas medidas não correspondem
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que me parece mais simples, reprodutível e que
à largura dos processos alveolares e, portanto, são contempla, ao mesmo tempo, os aspectos esquelé-
imprecisas. Outra proposta é avaliar os modelos de ticos e dentários é a utilização do YTI (Yonsei Trans-
estudo de acordo com a análise apresentada por verse Index, ou Índice Transversal de Yonsei), que
Andrews, considerando como referência: a largura usa como pontos de referência, para estabelecer
de borda WALA bilateralmente (em que a largura as medidas de largura, os centros de resistência
da maxila deve ser 5mm maior do que a da mandí- dos primeiros molares superiores e inferiores (loca-
bula); a angulação lingual dos molares inferiores em lizados na furca desses dentes), medidos na tomo-
relação ao plano de referência (deve ser próxima grafia. Uma vez aferidas as distâncias, o índice su-
de 0° e, para cada 5° a verticalizar, é necessário gere que a medida da maxila seja 0,39 ± 1,87 mm
1mm de expansão superior); a relação de igualdade menor do que a medida da mandíbula. Utilizando
das distâncias entre as pontas de cúspides palatinas o YTI, podemos indicar adequadamente a abor-
dos primeiros molares superiores e os fundos de fossa dagem de expansão maxilar e, também, definir de
dos primeiros molares inferiores10. Na minha opinião, forma mais previsível sua magnitude (Fig. 2)11.
a análise de modelos é uma ferramenta muito inte-
ressante e pode ser uma boa alternativa caso uma PREVISIBILIDADE
tomografia não esteja disponível. Como atualmente Temos como premissa que o aumento da idade
os custos para obtenção de uma tomografia da face aumenta a complexidade das interdigitações nas su-
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diminuíram bastante e a sua disponibilidade está turas da face até sua completa fusão e, assim, muito
cada vez maior, penso que seja razoável utilizar um se discute no sentido de estabelecer um critério de
Figura 2: Diferença
transversa entre maxila e
mandíbula (YTI).
Fonte: Koo et al.11, 2017.
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Figura 3: Desenho esquemático dos estágios de maturação observados na sutura palatina mediana. Uma simplificação da morfologia da
sutura. Fonte: Angelieri et al.12, 2013.
prognóstico para a expansão maxilar não cirúrgica que nos indivíduos classificados no estágio D (sutura
relacionado ao estágio de maturação das suturas, parcialmente fusionada). Pude observar, nos casos
já que ela só seria possível no caso de a sutura pa- conduzidos por mim de 2010 até hoje e, também,
latina mediana não estar completamente fusionada. em diversos outros conduzidos por colegas, que
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Porém, estudos recentes, realizados com o auxílio de houve sucessos na disjunção também para indiví-
tomografia computadorizada, demonstraram que a duos que apresentavam sutura palatina classificada
idade cronológica não é o único fator relacionado tanto em D quanto em E.
à maturação e ossificação da sutura palatina media- Portanto, ainda não temos um recurso adequa-
na, levantando a hipótese de também haver relação do que possa indicar um limite para a realização
com aspectos funcionais, por exemplo12,13. da técnica MARPE. Diversos centros de estudo têm
Adicionalmente, em avaliação retrospectiva re- buscado entender os fatores determinantes para o
alizada na UCLA, o Dr. Won Moon e sua equipe sucesso da técnica em adultos, tanto para aumen-
(responsável por incorporar conceitos fundamentais tar seu percentual de sucesso, definido em 86,96%
à expansão maxilar ancorada em mini-implantes em pacientes adultos jovens, quanto para identifi-
com maior impacto esquelético em pacientes mais car fatores de contraindicação para a técnica14.
maduros) analisaram o índice de sucesso da expan-
são em adultos com auxílio de mini-implantes, rela- CASO CLÍNICO 1
cionando-o à classificação da maturação da sutura Um caso clínico realizado há alguns anos
palatina mediana, avaliada por tomografia compu- serve para demonstrar como a técnica MARPE
tadorizada, proposta por Angelieri et al.12 (Fig. 3). pode ser bem-sucedida no rompimento da sutu-
Constatou-se que, ao contrário do esperado, nos ra palatina mediana, gerando grande impacto
indivíduos classificados no estágio E (sutura total- esquelético no terço médio da face mesmo em
mente fusionada), o índice de sucesso foi maior do pacientes adultos mais maduros.
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A B C
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A B
Figura 9: Tomografia de
feixe cônico pós-expansão:
A) corte axial com medidas
demonstrando abertura de
cerca de 7,5mm na região
da sutura palatina mediana;
B, C, D) renderizações nas
vistas superior, frontal
e posterior, mostrando
abertura paralela e de grande
magnitude da sutura palatina e
C D
estruturas adjacentes.
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Figura 11: Fotografias faciais pós-tratamento ortodôntico: proporções faciais equilibradas e corredores bucais reduzidos.
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lançou luz sobre essa questão. Como pode ser ob- Quando se trata de expansão ortopédica da
servado na Figura 12, os dispositivos ancorados maxila, a minha escolha é sempre pelos disposi-
somente em dentes geram uma boa distribuição tivos dento-osseossuportados, para garantir a se-
de stress ao longo da sutura e alta concentração gurança periodontal e uma expansão com maior
de stress na região vestibular de pré-molares e impacto esquelético.
molares, expondo o periodonto a um risco inde- Atualmente, temos à disposição dois tipos de
sejável. No modelo com ancoragem somente em dispositivos fabricados pela PecLab (Belo Hori-
mini-implantes, a distribuição de stress é muito po- zonte/MG, Brasil) para a expansão maxilar de
bre ao longo da sutura, ficando concentrado bem pacientes adultos com auxílio de mini-implantes:
próximo aos mini-implantes e expondo-os a uma o modelo SL (com quatro slots) e o EX (para ca-
carga acima da que seria razoável para preservar sos de atresia extrema). O modelo SL (Fig. 13A)
a ancoragem. E, finalmente, com a ancoragem é bastante simples e versátil. O custo total para a
em dentes e osso, observamos: uma boa distri- construção do aparelho é reduzido e a instalação
buição de stress ao longo da sutura palatina, o também é descomplicada, sendo indicado para
que é favorável ao seu rompimento; uma redução casos em que é possível aproximar o torno até
pela metade do stress acumulado no entorno dos chegar a 1mm de distância da mucosa (Fig. 13B).
mini-implantes, reduzindo a chance de perdê-los; A contraindicação de uso é para os casos de atre-
e uma redução do acúmulo de stress na tábua ós- sia mais extrema, em que não é possível acomo-
sea vestibular dos dentes, reduzindo os riscos de dar o torno na distância adequada, visto que essa
danos periodontais . 15
distância aumentada entre a base do expansor
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e a cortical palatina poderia levar a uma baixa Na minha prática clínica, esse é o dispositivo
penetração dos mini-implantes no tecido ósseo e de escolha somente para casos em que é possível
favorecer um amassamento ou, até mesmo, fratura acomodar o torno de 11mm no fundo do palato,
dos mini-implantes, devido ao aumento do momen- de forma que os mini-implantes mais posteriores
to (calculado pelo produto de força x distância). fiquem próximos à distal dos primeiros molares.
As versões de 6 e de 9mm, em geral, não são
suficientes para promover a quantidade adequada
de expansão em casos de grande atresia.
Nas Figuras 14A e 14B, pode-se observar as
fotografias oclusais do caso clínico de um paciente
do sexo masculino, com 37 anos de idade, que
foi submetido à técnica MARPE utilizando o ex-
pansor do tipo SL. A expansão foi bem-sucedida
e de grande magnitude, mostrando a eficiência do
dispositivo, inclusive para pacientes mais maduros.
Uma observação importante sobre o planeja-
mento em qualquer caso de expansão em que
se opte pela ancoragem em mini-implantes é que
a condição ideal para posicioná-los é a instala-
ção bicortical. A ancoragem na cortical palatina
e na cortical do soalho nasal resulta em: aumento
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da estabilidade dos mini-implantes, redução da
chance de sofrerem deformação ou fratura, uma
expansão com maior magnitude e mais paralela
no plano coronal. Em estudo realizado com ele-
mentos finitos16, foram estudadas as profundida-
des de penetração de 1mm e 2,5mm na cortical
nasal; no segundo caso, observou-se um ligeiro
aumento na estabilidade, redução do stress e
magnitude da expansão (Fig. 15). Uma preocu-
pação recorrente do clínico se refere ao possível
dano que pode ser causado se os mini-implantes
penetrarem na mucosa nasal. Porém, pela minha
experiência clínica, não há razão para se pre-
ocupar com infecção em tal mucosa. Jia et al.17
observaram, após a instalação de mini-implan-
tes bicorticais com penetração no seio maxilar:
Figura 13: Detalhes do expansor SL: A) imagem renderizada do
um discreto espessamento temporário da mucosa
expansor SL com quatro mini-implantes em posição; B) esquema
demonstrando a distância ideal a ser respeitada no momento da
nos casos em que a penetração foi de até 1mm
construção do aparelho. de profundidade; e um espessamento temporário
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de 88,2% nos casos que ultrapassaram 1mm de de 1mm, espera-se um maior espessamento dessa
profundidade . Considerando-se as característi-
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mucosa. Concluindo: o protocolo sugerido é bus-
cas histológicas similares entre as mucosas nasal car uma penetração bicortical com profundidade
e do seio maxilar, é razoável afirmar que, ao pe- de 1 a 2,5mm, de forma a garantir uma expan-
netrar até 1mm além da cortical do soalho nasal, são de qualidade, uma maior segurança e, ao
podemos esperar discreto espessamento da mu- mesmo tempo, minimizar efeitos inflamatórios mais
cosa nasal; já nos casos com penetração acima expressivos na mucosa nasal.
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