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1.

INTRODUÇÃO

O tratamento ortodôntico de um modo geral é realizado não só por meio de


deslocamento dentário e do osso alveolar mas também por modificações da
morfologia ou da posição das bases ósseas maxilares. Os fenômenos de
modificação da morfologia, posição e inter-relacionamento dos ossos maxilares
dependem fundamentalmente da dinâmica do tecido ósseo e estruturas
adjacentes. Pacientes em idades de crescimento são passíveis de apresentarem
modificações esqueléticas.
O processo de formação óssea e os mecanismos pelos quais os diferentes
ossos ou áreas ósseas crescem ou se modificam, sob a ação de forças externas,
é de fundamental importância para o entendimento do tratamento ortodôntico.
2.1. OSTEOGÊNESE

O osso pode se formar em dois locais de tecido conjuntivo: cartilagem e


tecido conjuntivo membranoso. Os dois modos básicos da osteogênese são
denominados de acordo com o local de aparecimento do osso (BAUME, 1961 e
MOYERS, 1991).

2.1.1. FORMAÇÃO ÓSSEA ENDOCONDRAL

A formação endocondral é uma adaptação morfogenética que proporciona


uma contínua produção de osso nas regiões que envolvem níveis de compressão
relativamente altos. Assim sendo, é encontrada nos ossos associados com
articulações móveis e em algumas partes da base do crânio. Durante a formação
de osso endocondral, o tecido mesenquimático original, primeiramente se
transforma em cartilagem. As células cartilaginosas se hipertrofiam, sua matriz se
calcifica, as células degeneram-se e os tecidos invadem a cartilagem que está
morrendo e se desintegrando, substituindo-a (MOYERS, 1991).
O osso endocondral não é formado diretamente da cartilagem; ele a invade,
substituindo-a. A cartilagem pode crescer não só por aposição em sua superfície
(crescimento aposicional), mas também por proliferação das células (condrócitos)
e da matriz intercelular dentro de sua substância, desse modo expandindo a
cartilagem, por crescimento intersticial.
A substância intercelular do osso é calcificada e, por isso, bastante dura
para permitir o crescimento intersticial. O osso, ao contrário da cartilagem, é
adaptável à tensão e não cresce diretamente em áreas de pressões altas, porque
o seu crescimento depende da cobertura da sua membrana vascular osteogênica
(PROFFIT, 1995).
2.1.2. FORMAÇÃO ÓSSEA INTRAMEMBRANOSA

Quando o osso se forma no tecido conjuntivo membranoso, as suas células


mesenquimáticas se transformam em osteoblastos e elaboram uma matriz
osteóide. A matriz, ou substância intercelular calcifica-se, tendo então como
resultado o osso.
Os tecidos ósseos depositados pelo periósteo, endósteo, suturas e
membrana periodontal são todos de formação intramembranosa.
A ossificação intramembranosa é o modo de crescimento predominante no
crânio, até mesmo nos elementos “endocondrais” compostos, tais como o
esfenóide e a mandíbula, onde ocorre crescimento endocondral e
intramembranoso no mesmo osso.
Algumas vezes de acordo como local de formação, o tecido ósseo pode ser
classificado como “endosteal”. O primeiro é sempre de origem intramembranosa
ou endocondral, dependendo do local e do modo de formação.
O crescimento intramembranoso ocorre em área de tensão. As membranas
têm o seu próprio processo interno de deposição e remodelação. A membrana
cresce superficialmente antes de apoiar o osso, que é depositado logo em
seguida. `A medida que acontece, esse mecanismo sofre mudanças fibrosas
extensivas, com o objetivo de manter a continuidade entre o periósteo, inserções
musculares e o próprio osso. Portanto, há uma constante deposição e reabsorção
nas superfícies ósseas como parte dos processos de remodelação membranosa e
de recolocação (MOYERS, 1991 E PROFFIT, 1995).
2.2. CONCEITOS: crescimento x desenvolvimento

Embora sejam utilizados, freqüentemente, na literatura como sinônimos os


termos crescimento e desenvolvimento têm significados diferentes. Enquanto o
crescimento envolve alterações do tamanho e/ou volume, o que pode ser aferido
facilmente, o desenvolvimento envolve aumento de complexidade com específicas
funções o que, somente testes de laboratoriais podem evidenciar. Se tomarmos
uma célula indiferenciada como exemplo: ela cresce quando se divide, quando
aumenta de tamanho, mas pode se desenvolver sem que isto envolva
necessariamente, alterações na sua forma ou volume.
Uma célula, pelo processo natural de maturação ou diferenciação, se torna
mais complexa e adquire uma função específica em determinada região do corpo
do indivíduo. Pode ela, de um estágio indiferenciado, se diferenciar numa célula
mais complexa como a glandular e produzir alguma substância, como por
exemplo, a saliva. Em determinadas circunstâncias o volume celular pode até
diminuir enquanto a célula adquire uma função específica (ENLOW, 1993 e
FERREIRA, 1999).
2.3. MECANISMOS DE CRESCIMENTO ÓSSEO

O aspecto prático do estudo da histologia do osso não é muitas vezes


apreciado até a necessidade de entender o que podemos esperar do crescimento
ósseo e como este poderá ser alterado em favor do paciente. O que se segue
nesta seção é uma simples apresentação de uma matéria complicada, de uma
importante pesquisa atual; muitos fatores ainda são desconhecidos, muitos
problemas ainda não têm solução.
Todo crescimento ósseo é uma complicada combinação de dois processos
básicos: aposição e reabsorção, a partir dos campos de crescimento
compreendidos pelos tecidos moles que revestem o osso. Devido ao crescimento
dos campos e diferentes funções nas diversas partes do osso, este sofre
remodelação (p. ex. mudança na forma). Quando a quantidade de aposição
óssea supera a reabsorção, aumenta a necessidade de seu deslocamento (p. ex.
recolocação física), combinado ao deslocamento de outro osso (MOYERS, 1991).

2.3.1. APOSIÇÃO E REABSORÇÃO

Em um lado do córtex ósseo, osso novo é adicionado; no outro, é retirado.


Aposição ocorre na superfície da borda onde há a direção do crescimento,
enquanto na superfície oposta é vista a reabsorção. O resultado é o processo
denominado deslizamento cortical, um movimento gradual da área de crescimento
do osso.
O osso não cresce nas suas superfícies externas, nem mesmo por
justaposição, da mesma forma como os anéis concêntricos de uma árvore. A
morfologia complexa dos ossos faciais torna impossível o aumento uniforme e o
crescimento diferencial, uma necessidade; desta forma, algumas áreas crescem
mais rapidamente e algumas superfícies externas mostram reabsorção (MOYERS,
1991).
O princípio em “V” de Enlow é útil para se entender aposição e reabsorção
na complicada remodelação durante o crescimento em altura ( p. ex. epífise dos
longos ossos ou o côndilo da mandíbula) (ENLOW, 1993).

2.3.2. CAMPOS DE CRESCIMENTO

Todas as superfícies, externa e interna, de todos os ossos, são cobertas por


uma camada irregular de “centros de crescimento”, compreendida por vários
tecidos moles osteogênicos membranosos ou cartilagens. O osso não cresce por
si próprio, cresce por este envolvimento. O programa genético para o crescimento
ósseo não está contido dentro do rígido tecido ósseo; pelo contrário, as
determinantes do crescimento ósseo estão localizadas nos tecidos moles em
forma de osso – músculos, tegumento, mucosa, vasos sanguíneos, nervos, tecido
conjuntivo, o cérebro, etc. Todo osso tem tanto campo de reabsorção quanto de
aposição, sobre toda sua superfície cortical externa e interna. As atividades
diversificadas e taxas de crescimento destes campos são a base do processo de
crescimento diferencial que produz ossos de formas irregulares. A irregularidade é
uma resposta a funções variadas impostas ao osso por inserções musculares,
articulações suturais com outros ossos, inserção dentária e outros processos.
Cerca da metade da quantidade total de osso cortical é de origem periosteal (da
membrana externa), a outra metade é endosteal ( formada pela membrana de
revestimento). Aproximadamente metade das superfícies periosteal e endosteal é
de reabsorção, a outra metade é de aposição.
Alguns campos de crescimento que desempenham um papel especial no
crescimento de alguns ossos particulares são denominados locais de crescimento.
Estes incluem o côndilo-mandibular, a tuberosidade maxilar, as sincondroses da
base do crânio, as suturas e os processos alveolares. Estes locais de crescimento
especiais não causam todo o crescimento do osso, nem mesmo respondem pela
maior parte do processo de crescimento de um osso em particular, para todas as
outras superfícies externa e interna devem participar ativamente também no
processo de crescimento geral.
Alguns locais de crescimento têm sido denominados “centros de
crescimento”, um termo que implica o controle, de alguma maneira, desta área
especial, no crescimento geral do osso. O termo “centro de crescimento” também
implica que a “força”, a “energia” ou o “motor” para um osso residem
primeiramente ou somente dentro de seu centro de crescimento. Este conceito
ganha apoio quando se considera o disco epifisário dos ossos longos, que
continuam seu crescimento contra grandes forças como gravidade, contrações
musculares, etc. Ainda que fortalecido, o conceito de centros de crescimento na
região craniofacial parece menos importante agora, embora ainda seja
questionado se o côndilo mandibular e as sincondroses na base do crânio são ou
não centros de crescimento (MOYERS, 1991 E PROFFIT 1995).

2.3.3. REMODELAÇÃO

Para suas mudanças de forma, os ossos faciais não aumentam por adição
superficial generalizada, que meramente segue contornos existentes; não se
tornam maiores como um balão que cresce. A atividade de crescimento diferencial
é necessária para o contorno ósseo, e envolve simultaneamente aposição e
reabsorção em todas as superfícies internas e externas do osso inteiro, o que é
denominado remodelação. Esta é uma parte básica do processo de crescimento:
não somente promove mudanças regionais de forma, dimensões e proporções,
como também produz ajustes regionais que se adaptam ao desenvolvimento
funcional do osso e seus variados tecidos moles em crescimento.
Existem quatro tipos de remodelação em tecidos ósseos: (1) remodelação
biomecânica, envolvendo aposição contínua e remoção dos íons para a
homesostasia mineral; (2) remodelação por crescimento , a constante substituição
do osso durante a infância; (3) remodelação haversiana, o processo secundário da
reconstrução cortical, à medida que o osso secundário de reconstrução cortical, à
medida que o osso vascular principal é substituído e (4) a regeneração e
reconstrução do, durante e em seguida a patologia ou trauma. A remodelação por
crescimento durante a infância e adolescência envolve a formação de osso
altamente vascularizado, devido às altas taxas de aposição. Este osso original é
gradualmente substituído, à medida que a criança atinge a maturidade, por tipos
de ossos de crescimento mais lento que são menos vascularizados ou até mesmo
sem vascularização em algumas áreas. Desta forma, a taxa de remodelação é
intensiva durante a infância e a adolescência, e baixa consideravelmente, embora
permaneça numa extensão bem menor, durante a idade adulta.
Para sintetizar, a remodelação por crescimento é obtida pelo crescimento e
função dos tecidos moles que envolve os ossos. À medida que esses tecidos
moles crescem e exercem sua função, eles (1) dão forma ao osso; (2) recolocam
partes do osso produzindo como resultado um agressivo aumento do osso inteiro
e (3) proporcionam ajustamentos regionais para manter a união contínua dos
ossos separados, dentro de seu ambiente de tecidos moles em crescimento
(MOYERS, 1991).

2.4. MOVIMENTOS DO CRESCIMENTO


Dois tipos de movimentos do crescimento são observados durante o
aumento dos ossos craniofaciais: deslizamento cortical e deslocamento.
Deslizamento é o movimento de crescimento ( recolocação ou mudança) de uma
parte aumentada do osso por ação da remodelação e de seus tecidos
osteogênicos, enquanto descolamento é o movimento do osso inteiro à medida
que se remodela.
a) Deslizamento. As combinações de aposição e reabsorção resultam em
movimento do crescimento em direção à superfície de aposição-deslizamento. O
deslizamento é observado com a remodelação por aumento e é produzido pela
aposição de osso no lado da lâmina cortical, enquanto ocorre reabsorção no lado
oposto. Se for colocado um implante na superfície do córtex ósseo onde está
havendo aposição, este gradualmente vai sendo envolvido no córtex, à medida
que se forma novo osso sobre aquela superfície e reabsorção da superfície
oposta. Com o tempo, o implante se desloca de um lado do córtex para o outro,
não devido a seu próprio movimento ( o implante é imóvel), mas pelo deslizamento
do osso à sua volta.
b) Deslocamento. Deslocamento, por outro lado, é o movimento de todo o osso,
como uma unidade. À medida que o osso é afastado de sua articulação com
outros ossos, simultaneamente o crescimento por remodelação mantém a relação
dos ossos entre si. Por exemplo, à medida que a mandíbula é inteiramente
deslocada de sua articulação na fossa glenóide, é necessário que o côndilo e o
ramo cresçam para cima e para trás, a fim de manter as relações. À medida que o
colo do côndilo, o processo coronóide e o ramo se remodelam para acomodar o
deslocamento, eles também crescem em tamanho e sustentam a forma básica.
Todo este processo é denominado deslocamento primário – o deslocamento
associado com o aumento do próprio osso. O deslocamento secundário é o
movimento de um osso relacionado com o aumento de outros ossos,
Deslizamento e deslocamento ocorrem ao mesmo tempo e se
complementam (p.ex. quando eles se movem na mesma direção) ou podem
ocorrer em direções contrárias, dificultando a determinação, separadamente, das
contribuições da remodelação e do deslocamento durante a análise cefalométrica;
entretanto são processos separados (MOYERS, 1991).

3. BASE DO CRÂNIO
O crânio humano é descrito como tendo partes neural e facial, embora não
haja nenhuma marcação distinta entre os dois. A parte neural é composta da base
do crânio e da abóbada craniana (calvária). A região occipital da base do crânio é
o intermediário que promove conexão móvel com a coluna vertebral. Anterior e
superiormente a região parietal se segue, conectando lateralmente com a região
temporal. A borda anterior do neurocrânio (região frontal) é geralmente
considerada uma parte da face porque forma o esqueleto da fronte.
O esqueleto facial está situado abaixo da parte anterior da base craniana;
nele encontramos as órbitas que servem de alojamento para os globos oculares e
seus órgãos acessórios. As cavidades nasais estão situadas com a sua parte
superior entre as órbitas, enquanto a parte inferior está ladeada pelos seios
maxilares. Abaixo da região nasal vemos a região maxilar. Finalmente, a região
mandibular forma a porção mais inferior do esqueleto facial.
Do ponto de vista mecânico, o crânio é composto de duas partes: crânio e
mandíbula. Os ossos do crânio são, na sua maior parte, ossos chatos. Na região
da abóbada craniana eles têm praticamente a mesma espessura. Na base do
crânio e esqueleto facial os ossos são mais irregulares em contorno, em parte
porque contém os órgãos sensoriais e em parte por causa das influências
mecânicas. Onde são regulares, os ossos do crânio consistem de duas lâminas
compactas, as lâminas externa e interna. Estas são separadas uma da outra por
um leito fino de osso esponjoso que, no crânio, é chamado díploe. Em algumas
áreas, o díploe pode ser tão escasso, que as duas lâminas estarão fundidas de
modo a formar um osso compacto uniforme, enquanto que outros ossos conterão
uma grande quantidade de osso esponjoso. O osso esponjoso, não é
desenvolvido em alguns ossos do esqueleto facial, por exemplo, os ossos nasais e
lacrimal. Em alguns ossos da base craniana e na mandíbula o osso esponjoso é
bem desenvolvido (SICHER, 1991).

3.1. OSSOS DA BASE DO CRÂNIO


3.1.1. OSSO OCCIPITAL

Desenvolve-se pela fusão de quatro elementos endocondrais e um


elemento membranoso. Os quatro ossos cartilaginosos são a porção da escama
chamada plano nucal, as duas partes laterais e a parte basilar. Estas partes,
rodeiam uma grande abertura elíptica, o forame occipital magno, que é a
comunicação entre a cavidade craniana e o canal vertebral. Acima do plano nucal
a parte membranosa da escama é acrescentada e é chamada de osso
interparietal.
Ossos com os quais se articula:
Esfenóide: o segmento basilar une-se a base do esfenóide pela sincondrose
esfeno-occipital, importante região de crescimento craniano, se ossifica entre os
16 e os 20 anos de idade.
Temporal: conecta-se pela borda lateral da parte basilar através da fissura petro-
occipital.
Atlas (ou 1a vértebra cervical): por meio dos côndilos occipitais, situados nos
segmentos laterais do osso occipital.
Parietal: conecta-se pelas partes laterais da escama occipital, através da sutura
lambdóide.
Principais acidentes anatômicos:
Superfície Interna: A superfície interna é dividida em quatro fossas rasas, por um
sistema de rugas em forma de cruz, a eminência cruciata. No ponto de
cruzamento das barras vertical e horizontal, o osso se eleva para formar a
protuberância occipital interna. Das quatro fossas, as duas mais baixas são lisas,
fazem parte da fossa posterior do crânio e contêm os hemisférios do cerebelo. As
fossas occipitais superiores alojam os lobos occipitais do cérebro e podem
apresentar alguma juga cerebral e impressões digitais (SICHER, 1991).

3,1,2, OSSO ESFENÓIDE


O osso esfenóide do adulto consiste num corpo e três pares de processos.
Embriologicamente o corpo consiste numa parte anterior, o pré-esfenóide e uma
parte posterior, o basiesfenóide, que são conectados por uma sincondrose.
Antes do nascimento ou logo após, essas duas partes se fundem. Os três
processos do osso esfenóide são: asas maiores, asas menores e apófises
pterigóides.
Ossos com os quais se articulam:
Occipital: pela sincondrose esfeno-occipital.
Vômer: pelo rostrum esfenóide, situado na superfície inferior do corpo do
esfenóide.
Etmóide: pela crista esfenóide, contínua ao rostrum esfenóide, que junta-se a
lâmina perpendicular do etmóide.
Parietal: através do canto superior da asa maior do esfenóide.
Frontal: pela borda anterior da asa maior e menor do esfenóide.
Temporal: pela borda lateral da asa maior do esfenóide junto a escama do
temporal, e pela borda póstero-medial junto a parte petrosa do osso temporal.
Zigomático: pela parte superior da asa maior do esfenóide, denominada, crista
zigomática.
Palatino: pela borda inferior da lâmina lateral do processo pteriogóide.
Principais acidentes anatômicos:
A superfície superior do corpo do esfenóide sobe anteriormente,
continuando-se com o clivo occipital, sendo abruptamente interrompida por uma
fossa profunda, a sela túrcica ou fossa hipofisária.
O dorso da sela alonga-se para os lados, formando uma saliência, o
processo clinóide posterior. A borda anterior da sela é marcada por uma ruga
transversa, o tubérculo da sela, cujas extremidades às vezes formam o processo
clinóide mediano. A borda posterior da asa menor do esfenóide termina numa
projeção arredondada, o processo clinóide anterior.
A superfície externa da asa maior do esfenóide participa da delimitação de
quatro cavidades: órbita e fossa temporal acima, fossas pterigopalatina e
infratemporal abaixo (SICHER, 1991).
3,1,3, OSSO ETMÓIDE

Osso único, encaixa-se no sulco etmóide do osso frontal. Apresenta


lâminas horizontais cribiformes, e na linha média destas, uma lâmina
perpendicular, que se projeta na cavidade craniana com o nome de crista galli .
Ossos com os quais se articula:
Nasal: pela lâmina cribiforme.
Frontal: pela conexão das margens laterais da lâmina cribiforme com a lâmina
interna das partes orbitais do frontal.
Esfenóide: pela margem posterior da lâmina cribiforme com a espinha etmoidal do
osso esfenóide.
Lacrimal: pela borda anterior da lâmina cribiforme.
Maxila: pela borda inferior da lâmina cribiforme.
Palatino: pela borda póstero-inferior da lâmina cribiforme (SICHER, 1991).

3,2, SUTURAS DO CRÂNIO


De todos os ossos do crânio, somente a mandíbula é móvel contra o
complexo dos outros ossos do crânio. A mandíbula, deste modo, é unida ao
crânio por uma diartrose. Os outros ossos são unidos por sinartroses para formar
o crânio, um rígido porém elástico complexo. As conexões dos ossos do crânio
são feitas parcialmente pela interposição de cartilagem, as sincondroses, e
parcialmente pela interposição de tecido conjuntivo fibroso, sindesmoses. A
maioria das junturas sindesmóticas entre os ossos do crânio são especializadas e
chamadas de suturas.
Sincondroses são encontradas em várias localizações na base do crânio do
feto e da criança. As diferentes partes dos ossos esfenóide e occipital são unidas
uma à outra por cartilagem. Todas estas sincondroses desaparecem pela
ossificação, parcialmente no fim do período intrauterino e parcialmente no início da
vida extrauterina, com exceção da sincondrose esfeno-occipital, que une o osso
esfenóide ao osso occipital. A placa cartilagínea entre estes dois ossos persiste
acima do 16o ao 20o ano de vida e é um importante sítio de crescimento e
alongamento na direção antero-posterior da base do crânio. A função da
cartilagem nas sincondroses pode ser comparada com aquela das placas
cartilaginosas epifisárias nos ossos longos.
Em uma sutura, os dois ossos são unidos uma ou outro por uma fina
camada de tecido conjuntivo denso, que é contínua ao periósteo das duas
superfícies dos ossos. O tecido conjuntivo sutural além de formar uma firme
conexão entre os ossos, é a área de crescimento para os dois ossos adjacentes
(SICHER, 1991).

3.3. CRESCIMENTO DA BASE DO CRÂNIO


Ao nascimento, o comprimento geral da base do crânio tem
aproximadamente 60 a 65% do total e cresce rapidamente. Aos 5-7 anos de
idade, atinge cerca de 90% de seu tamanho total. Ainda, cerca de 85% da largura
do crânio do adulto é atingida no segundo ou terceiro ano de vida.
Com freqüência se supõe que a face é mais ou menos independente da
base do crânio e que os processos de crescimento facial e as características
topográficas da face não estão relacionados com tamanho, forma e crescimento
do assoalho do crânio, mas não é assim. O que ocorre no assoalho do crânio
afeta muito a estrutura, as dimensões, os ângulos e a posição de várias partes da
face. O motivo para tanto é que o assoalho do crânio é o gabarito a partir do qual
a face se desenvolve.
A face neural do assoalho craniano requer um modo totalmente diferente de
desenvolvimento em comparação com a calvária, por causa de sua complexidade
topográfica e das curvaturas marcadas de suas fossas.
A face endocraniana da base do crânio, ao contrário do teto é
peculiarmente de reabsorção na maioria das áreas (figura 1). O motivo para isso
é que os alinhamentos das suturas não têm capacidade de proporcionar as
múltiplas direções de aumento nem a complexa magnitude de remodelação
necessária. O sistema relativamente simples de suturas herdado dos mamíferos,
nossos ancestrais, não pode acomodar completamente as fossas endocranianas
profundas do encéfalo humano e da base do crânio, muito maiores. Além disso é
necessária uma remodelação generalizada do assoalho craniano. Por exemplo, a
figura 2-a representa de modo esquemático as fossas aumentadas da base do
crânio humano, com suturas que se localizam em 1 e 2. Elas produzem
crescimento das suturas, conforme indicam as setas. Contudo, ambas não podem
produzir o crescimento em outras direções, o que também é necessário para
acomodar a expansão do encéfalo, como mostra a figura 2-b. O aumento da
fossa é atingido por remodelação direta, que implica em deposição no exterior,
com reabsorção no interior. Esse é o processo de remodelação-chave que
proporciona a expansão direta das várias fossas endocranianas em conjunto com
o crescimento das suturas (e também das sincondroses). Assim, o padrão de
suturas presente (segundo a herança de nossos ancestrais de base do crânio
plana) não pode proporcionar esse esquema de remodelação mais elaborado.

Figura 1 ( FONTE : ENLOW, D.H. Crescimento Facial 1a edição, Editora Santos,


São Paulo, 1998).

Figuras 2-a e 2-b 9 FONTE; ENLOW, D.H. Crescimento Facial 1 a edição, Editora
Santos, São Paulo, 1998).

Os vários compartimentos endocranianos são separados entre si por


divisões ósseas elevadas. As fossas média e posterior são divididas pela
elevação petrosa; os sulcos olfatórios são separados pela crista galli; as fossas
cranianas médias direita e esquerda são separadas pela elevação da linha média
esfenoidal imediatamente abaixo da sela túrcica; e as fossas cranianas anterior e
posterior esquerdas e direitas são divididas por uma crista óssea mediana e
longitudinal. Todas essas divisões elevadas, diferente da maior parte do assoalho
craniano, têm natureza de deposição (figuras 1 e 3-a). A base do
desenvolvimento para a natureza de deposição dessas divisões é esquematizada
na figura 3-b. O motivo é simplesmente que, conforme a fossa se expande para
fora por reabsorção, as divisões entre elas precisam crescer para dentro,
proporcionalmente, por deposição.

Figuras 3-a e 3-b 9 FONTE; ENLOW, D. H. crescimento Facial, 1 a edição, Editora


Santos, São Paulo, 1998).

A atividade do osso que reveste a sela túrcica, contudo, é bastante variável


e pode ser de deposição ou de reabsorção em diferentes áreas. Vários fatores
contribuem para tanto, inclusive os graus variáveis de inclinação da base do crânio
e as quantidades também variáveis de deslocamento para baixo e para a frente
dos segmentos mesoventrais de toda a base do crânio ocasionado pelas formas
diferentes e tamanhos proporcionais dos lobos cerebrais. A sela túrcica, contudo,
tem de permanecer em contato com a hipófise e também se adapta ao tamanho
variável da própria glândula em crescimento. Se a fossa pituitária for levada para
baixo pelo deslocamento total da base do crânio, desproporcionalmente à hipófise,
o assoalho da sela se elevará de modo correspondente por deposição, para
manter o contato com a hipófise (pituitária), ou o assoalho será parcial ou
totalmente de reabsorção em outros indivíduos, para ajustar-se ao equilíbrio entre
o deslocamento da base do crânio e o contato hipofisário. Uma combinação
comum é uma parede de revestimento reabsorvível posterior à fossa hipofisária e
uma face de deposição na parte esfenoidal do clivo. Isso ocasiona um
afunilamento do dorso da sela para fora, para acomodar a hipófise que está sendo
deslocada em menor extensão que o osso esfenoidal abaixo dela. O jugo
esfenoidal (área pré-límbica), como o assoalho da sela túrcica, apresenta
variações pelos mesmos motivos. Sua face dorsal pode ser de reabsorção em
alguns indivíduos e de deposição em outros.
O segmento mesoventral do assoalho do crânio cresce muito mais
lentamente que o assoalho das fossas localizadas lateralmente. Isso acomoda o
desenvolvimento mais lento do bulbo, da ponte do hipotálamo, do quiasma óptico
e assim por diante, em contraste com a expansão rápida e maciça dos
hemisférios. Como o assoalho do endocrânio aumenta por remodelação além do
crescimento das suturas e sincondroses, essas extensões e velocidades
diferenciais de expansão podem efetuar-se. Ocorre um gradiente bastante
decrescente e afilado do crescimento das suturas conforme a linha média ventral
se aproxima, mas a remodelação direta também ocorre para fornecer as variadas
extensões de expansão necessárias entre as próprias partes diferentes da linha
média e entre essas partes e as regiões laterais em crescimento, muito mais
distantes. (figura 4).

Figura 4 (FONTE: ENLOW, D. W. Crescimento Facial, 1a edição, Editora Santos,


São Paulo, 1998).

Diferente do teto do crânio, o assoalho do neurocrânio proporciona a


passagem dos nervos cranianos e dos principais vasos sanguíneos cerebrais.
Como a expansão dos hemisférios causaria movimentos de deslocamento dos
ossos no assoalho do crânio caso apenas o mecanismo de crescimento das
suturas fosse operante (como no teto do crânio), o processo de crescimento por
remodelação na base do crânio proporciona a estabilidade nas mudanças dos
espaços para os nervos e vasos. Isto é, não ficam desproporcionalmente
separadas por causa da expansão maciça dos hemisférios cerebrais, como
ocorreria se a base do crânio aumentasse primariamente nas suturas. O forame
que envolve cada nervo craniano a cada vaso sanguíneo importante também é
submetido a seu próprio processo de inclinação (+ e -), para manter constante a
posição adequada. O forame move-se por deposição e reabsorção,
acompanhando o movimento correspondente do nervo ou vaso que abriga,
conforme o encéfalo se expande levando consigo os nervos. Esse movimento de
relocação é diferente em magnitude e em direção com relação aos movimentos de
remodelação das paredes laterais da fossa, requerendo, assim, diferenças
sensíveis na remodelação regional respectiva.
O processo de remodelação diferencial mantém o posicionamento
proporcional da medula espinhal, mesmo que o assoalho da fossa posterior do
crânio, que margeia a medula, expanda-se consideravelmente mais que a
circunferência do forame magno (figura 5). Observe os incrementos muito
maiores de crescimento dos hemisférios e da escama occipital em contraste com
os incrementos muito menores do crescimento da medula espinhal e do forame
magno.
Figura 5 (FONTE: ENLOW, D. W. Crescimento Facial, 1a edição, Editora Santos,
São Paulo, 1998).

A região média da base do crânio é caracterizada pela presença de


sincondroses. Constituem uma retenção deixada pelas cartilagens primárias do
condrocrânio, depois que os centros de ossificação endocondral aparecem
durante o desenvolvimento fetal. Diversas sincondroses são operantes durante os
períodos fetal e pós-natal imediato. Durante o período de desenvolvimento da
infância, contudo, a principal “cartilagem de crescimento” é a sincondrose
esfeoccipital da base do crânio. Como ocorre com todas as cartilagens de
crescimento associadas diretamente ao desenvolvimento ósseo, a sincondrose
esfenoccipital proporciona um mecanismo de crescimento ósseo adaptado à
pressão. Isso contrasta com o processo de crescimento sutural adaptado à
tensão da calvária, das paredes neurocranianas laterais e das fossas
endocranianas. A compressão está implicada no assoalho do crânio,
diferentemente da calvária, provavelmente porque suporta a massa encefálica e
facial, que se apóiam na sincondrose em forma de sulco na região média do
assoalho do crânio, e também provavelmente porque está mais sujeito às forças
dos músculos cervicais e mastigatórios. Além dessas condições supostamente
adaptadas à pressão, até agora não se sabe quais outros fatores podem estar
implicados. A sincondrose esfenoccipital é conservada durante todo o período de
crescimento da infância, enquanto o encéfalo e a base do crânio continuam a se
desenvolver e expandir. A interrupção dessa atividade de crescimento ocorre por
volta dos 12 a 15 anos de idade, e os segmentos esfenóide e occipital começam
então a se fundir nessa área mediana por volta dos 20 anos de idade.
A presença da sincondrose esfenoccipital proporciona o alongamento da
porção mediana do assoalho do crânio, por meio de seu mecanismo de
ossificação endocondral. O assoalho do crânio também tem suturas nas áreas
laterais, mas (1) a força de compressão produzida pela massa neural em
crescimento é acomodada pela sincondrose e não pelas suturas, e (2) a expansão
dos hemisférios localizados lateralmente produz tensão nessa áreas de suturas
laterais, diferente da região média, de crescimento mais lento, do cérebro e da
base do crânio não relacionados diretamente com os hemisférios. As suturas são
membranas de tecido conjuntivo que proporcionam locais adaptados à tensão de
crescimento ósseo intramembranoso.
Historicamente, a sincondrose esfenoccipital foi considerada como o
“centro” de crescimento e o precursor que programa o desenvolvimento da base
do crânio. Essa noção extremamente simplista, contudo, que também ocorre com
o côndilo mandibular, é um anacronismo conceitual. O desenvolvimento da base
do crânio apresenta-se completamente multifatorial e não apenas um produto de
cartilagens medianas localizadas que não se relacionam com muitas
circunstâncias de crescimento regional de todas suas partes como um todo. Só
um pequeno porcentual do osso verdadeiro do assoalho do crânio é formado por
tecido ósseo endocondral em conjunto com as sincondroses.
A estrutura da sincondrose é semelhante ao plano básico para todos os
tipos “primários” de cartilagens de crescimento, em contraste com a variedade de
cartilagem secundária, que é bem diferente. Como ocorre na lâmina cartilagínea
epifisária dos ossos longos, a sincondrose tem uma série de “zonas” que incluem
as de reserva familiar, de divisão celular, hipertrófica e calcificada. De modo
similar a uma lâmina epifisária, mas de diferente cartilagem condilar, os
condroblastos na zona de divisão celular são alinhados em colunas variadas que
apontam para a linha de crescimento. Diferente da lâmina epifisária, a
sincondrose tem duas direções importantes (bipolar) de crescimento linear. Em
termos estruturais, a sincondrose é essencialmente duas lâminas epifisárias
posicionadas com as regiões posteriores separadas por uma zona comum de
cartilagem de reserva.
O crescimento ósseo endocondral da sincondrose esfenoccipital relaciona-
se com o deslocamento primário dos ossos implicados. Os ossos esfenóide e
occipital são separados pelo processo de deslocamento primário e, ao mesmo
tempo, novo osso endocondral (esponjoso medular fino) é depositado pelo
endósteo no interior de cada osso. Forma-se osso cortical compacto
(intramembranoso) em torno do núcleo do tecido ósseo endocondral. Cada osso
como um todo (esfenóide e occipital) assim vai alongando. Ambos os ossos
também aumentam em perímetro, por meio da remodelação perióstea e endóstea.
O interior do osso esfenóide finalmente fica oco para formar o seio esfenoidal, de
tamanho considerável. O seio localiza-se imediatamente atrás e em linha direta
com o septo nasal ósseo do complexo nasomaxilar. Conforme a face média vai
progressivamente se deslocando para frente e para baixo, o osso esfenoidal
precisa remodelar-se para manter contato com ela. O seio esfenoidal é assim
formado e aumenta progressivamente. Contudo, sua expansão não “empurra” a
maxila. Esse seio “cresce” secundariamente conforme o corpo do osso esfenóide
se expande ao seu redor, mantendo uma junção constante com o complexo
nasomaxilar em movimento.
Existem duas questões-chave com relação ao alongamento da base do
crânio na sincondrose e no processo de deslocamento que acompanha o
alongamento de cada osso como um todo. Primeiro, a sincondrose provoca
deslocamento pelo processo de crescimento ou se crescimento endocondral é
uma resposta ao deslocamento causados por outras forças (como a expansão do
encéfalo)? Segundo, a cartilagem tem um programa genético intrínseco que
realmente regula a velocidade, quantidade e direção de crescimento na base do
crânio? Ou ainda, a cartilagem depende de outros precursores para o controle de
crescimento que sejam secundários a eles?
Tradicionalmente, as cartilagens cranianas (e a base do crânio em geral)
têm sido consideradas como unidades de crescimento autônomas em essência,
que se desenvolvem em conjunto com o encéfalo, mas ligeiramente
independentes dele. Esse ponto é difícil de compreender. Também,
historicamente, supõe-se que o crescimento da base do crânio seja controlado por
algum código genético situado no interior das células cartilagíneas da sincondrose.
Em outras palavras, a forma, o tamanho e as características do assoalho craniano
evoluíram em associação filogenética direta com o encéfalo que suportam (isto é,
um “tipo filogenético” de matriz funcional), mas a base do crânio supostamente
desenvolveu uma capacidade genética para seu próprio crescimento, que é auto-
sustentada e independente do encéfalo e capaz de crescer sem o cérebro,
durante a fase ontogenética (como pode ocorrer em certo grau de agenesia do
encéfalo). Atualmente são necessários conhecimentos biológicos maiores e mais
abrangentes sobre as relações morfogênicas implicadas no desenvolvimento da
base do crânio, mas as suposições atuais parecem, quando muito, incertas e
incompletas.
Os estudos experimentais mostram que a capacidade proliferativa
independente de uma sincondrose não abrange a das lâminas epifisárias nos
ossos longos. Isso sugere que qualquer que seja a capacidade da base do crânio
(não da calvária) de crescimento contínuo também são necessários fatores de
controle extrínsecos. Não se sabe exatamente o que sejam esses fatores e em
que extensão estão envolvidos no processo, porque o assoalho do crânio pode
desenvolver-se em maior ou menor grau, mesmo que o encéfalo seja malformado
ou esteja ausente. Em contraste, a calvária depende grandemente da matriz endo
e ectocraniana circundante para o controle de crescimento.
Como salientou-se anteriormente, a contribuição da sincondrose relaciona-
se com o eixo mesoventral do crânio e não com todo o assoalho craniano.
Observe que o aumento geral da região média da base do crânio é muito menor
que a marcante expansão das fossas cranianas médias lateralmente (e
posteriormente). Isso ocorre porque as fossas laterais abrigam os vários lobos
dos grandes hemisférios, que consideravelmente as estruturas próximas à linha
média, como o bulbo, a hipófise, o diencéfalo, o hipotálamo, o quiasma óptico e
assim por diante. A reabsorção endocraniana ocorre na face endocraniana do
clivo e, lateralmente, no grande assoalho da fossa média do crânio. Para o clivo,
isso ocasiona um movimento oblíquo ântero-inferior de remodelação, além do
crescimento linear da sincondrose. Para as fossas cranianas média e posterior,
produz expansão maciça em conjunto com o crescimento sutural que também
ocorre. O clivo também se alonga por deposição óssea no lado ectocraniano do
osso occipital na margem do forame magno.
A expansão da fossa média do crânio e seu conteúdo neural têm um efeito
de deslocamento secundário importante sobre a parte anterior do assoalho do
crânio, sobre o complemento nasomaxilar nele subjacente suspenso e sobre a
mandíbula. Como o limite posterior do complexo maxilar é evolucionalmente
posicionado para coincidir exatamente com o limite entre as fossas anterior e
média do crânio, ocorre uma quantidade equivalente de deslocamento para a
frente da fossa anterior do crânio e do complexo maxilar suspenso abaixo dela. A
quantidade de deslocamento horizontal da mandíbula, contudo, é muito menor,
porque a maior parte do aumento da fossa média do crânio ocorre anteriormente
aos côndilos mandibulares. Historicamente, esses vários efeitos faciais quase
nunca são levados em conta, mesmo que tenham significado evolutivo básico.
A fossa média do crânio em crescimento não empurra a mandíbula, a fossa
anterior do crânio e o complexo maxilar para a frente. Visualize os lobos temporal
e frontal do cérebro como dois balões em contato. Cada um deles é deslocado
para longe do outro, embora o efeito final seja o movimento para frente a partir do
forame magno. Os “balões” têm inserções fibrosas nas fossas média e anterior do
crânio, respectivamente. Conforme ambos os balões se expandem, essas duas
fossas são afastadas uma da outra, mas ambas também são movimentadas em
conjunto em direção protrusiva. Isso estabelece campos de tensão nas diversas
suturas frontais, temporais, esfenoidais e etmoidais, provavelmente
desencadeando respostas ósseas nas suturas ( além de direcionar a expansão
por remodelação da base do crânio por reabsorção e deposição em todas as faces
interiores e exteriores). Ambas as fossas são, assim, aumentadas, e o complexo
nasomaxilar é levado para a frente, junto com o assoalho da fossa anterior do
crânio no qual está suspenso. Por volta dos 5 ou 6 anos de idade, o crescimento
do lobo frontal e a expansão da fossa anterior do crânio estão completos. Dessa
forma, a protrusão adicional da fronte é o resultado do espessamento do osso
frontal e do aumento do seio frontal em seu interior. O lobo temporal e a fossa
média, contudo, continuam a aumentar durante vários anos, e a expansão
contínua de cada lobo temporal segue deslocando o lobo frontal para a frente e
assim, por sua vez, causa tensão nos sistemas de suturas osteogênicas entre
essas duas áreas. As fossas anteriores e o complexo maxilar são levados para a
frente pelos lobos frontais, que se movem para a frente devido ao crescimento do
lobo temporal posterior a eles. ( Nota: Essa tensão é desencadeada em resposta
ao crescimento do encéfalo e de outros tecidos moles na teoria atual. Com o
tempo, poder-se-á ou não comprovar a total correção dessa proposta, mas esse
raciocínio é pelo menos razoável neste momento.
Conforme o esquema da figura 4, o quadro composto mostra que a
reabsorção ocorre a partir do lado de revestimento da parede frontal da fossa
média do crânio (1), da deposição na face orbital do osso esfenóide e na sutura
esfenofrontal (2) e deslocamento das fossas anteriores do crânio para a frente,
conforme os lobos frontais são deslocados anteriormente (3). A elevação petrosa
aumenta por deposição na face endocraniana, e o alongamento do clivo ocorre
pelo crescimento na sincondrose esfenoccipital (5). O forame magno é
progressivamente rebaixado pela absorção na face endocraniana e pela
deposição na face ectocraniana. Isso também contribui para o alongamento do
clivo (6), e o perímetro do forame aumenta para equiparar-se à mielinização e ao
aumento adicional da medula espinhal. Inferior à linha reversa circuncraniana, as
fossas endocranianas aumentam por meio de uma combinação de reabsorção
endocraniana e deposição ectocraniana (7), que ocorrem além do crescimento das
suturas da base do crânio.
Na figura 4 está esquematizado um gradiente decrescente de crescimento
sutural que se aproxima da parte mesoventral da base do crânio. As fossas
endocranianas aumentam por um gradiente correspondente de remodelação
cortical direta, conforme mostram as áreas sombreadas escuras (2). O clivo
alonga-se endocondral na sincondrose esfenoccipital e também por remodelação
direta para baixo do assoalho do crânio em torno na margem do forame magno. O
complexo esfenóide e occipital remodela-se e gira anterior e inferiormente por
reabsorção endocraniana e deposição ectocraniana.
O aumento vertical das fossas cranianas médias tem efeito importante
sobre o posicionamento dos arcos maxilar e mandibular. Esse efeito é uma
separação progressiva dos arcos.
Cada fossa craniana anterior aumenta em conjunto com a expansão dos
lobos frontais. Sempre que há suturas, estas contribuem para o aumento da
circunferência dos ossos implicados. Assim, as suturas esfenofrontal,
frontotemporal, esfenoetmoidal, frontoetmoidal e frontozigomática participam de
uma resposta de crescimento ósseo extremamente coordenada e adaptada à
tração, ao aumento do encéfalo e de outros tecidos moles. Em conseqüência,
todos os ossos são distanciados um dos outros. Esse tipo de deslocamento é
primário, porque envolve o crescimento de cada osso. Além disso, os ossos
também aumentam para fora por deposição ectocraniana e reabsorção
endocraniana, conforme descrição a seguir. A agregação de todos esses
processos produz alterações combinadas de crescimento.
Como foi ressaltado anteriormente, o crescimento sutural isolado não pode
atingir a extensão necessária de expansão da fossa craniana. Além dos
acréscimos ósseos nas várias suturas, também ocorre vasta remodelação cortical
direta. Em um ponto mais ou menos eqüidistante da fronte, uma linha reversa
circunda a face interna do crânio e separa os campos de remodelação
endocraniana de reabsorção da base do crânio, do campo de deposição do teto.
Enquanto os lobos frontais do cérebro aumentam, a lâmina interna da fronte
remodela-se anteriormente de modo correspondente. Quando o crescimento do
lobo frontal desacelera e cessa completamente em alguns momentos antes de o
indivíduo completar 6 anos de idade, o crescimento da lâmina interna se detém
com ele. A lâmina externa, contudo, continua a remodelação anteriormente. Isso
vai separando progressivamente ambas as lâminas e se desenvolve um seio
frontal crescente pela substituição do osso medular esponjoso (díploe) de
reabsorção. O tamanho do seio, contudo, assim como a magnitude de declive da
fronte variam consideravelmente de acordo com sexo, idade e características da
forma da cabeça. O motivo pelo qual o seio frontal se desenvolve é que a parte
superior do complexo nasomaxilar continua a se remodelar protrusivamente e a
lâmina externa da fronte precisa necessariamente remodelar-se com ela.
O assoalho da fossa anterior do crânio é também o teto da cavidade da
órbita subjacente. A face endocraniana é reabsortiva e a face orbital dessa
finíssima lâmina óssea é depositária; ela se reposiciona pela remodelação
progressiva para baixo e para fora. Enquanto ocorre o aumento do fundo da fossa
craniana, também ocorre a redução do tamanho da cavidade da órbita? A
resposta é não, por dois motivos. Primeiro, as órbitas se reposicionam
anteriormente pelo princípio do “V”, que por si só aumenta e não reduz o tamanho
da órbita. Segundo, as múltiplas partes de toda a órbita também vão sendo
deslocadas para longe umas das outras ao mesmo tempo, em associação com a
deposição óssea nas diversas suturas orbitárias (ENLOW, 1993 E ENLOW, 1998 e
D’ALOISIO, 1992).
Um estudo longitudinal de grande importância foi realizado, por
BJÖRK em 1955 para determinar a forma e quantidade de mudanças no
crescimento da base do crânio durante o período de crescimento em
questão, relacionado ainda com o desenvolvimento da abóbada craniana e
da face, com variações na forma e tamanho dessas estruturas. Os
resultaram foram os seguintes:
1- A base do crânio é alongada ventralmente por aposição na região
da glabela, sem significativo incremento sutural na fossa craniana anterior.
No alongamento dorsal, há o crescimento endocondral do clivus, e um
deslocamento lateral das regiões laterais da base e abóbada craniana,
formando as fossas cranianas média e posterior e direcionando para baixo
as regiões relacionadas com a fossa craniana média.
2- As mudanças na variação da forma da base do crânio pode ser
observada principalmente entre 12 e 20 anos em magnitudes variadas. A
variação no tamanho e forma ocorrem de acordo com o crescimento linear,
o resultado dessas mudanças está relacionado as estruturas faciais e com
a base do crânio.
3- A forma das regiões da base do crânio pode ser considerada
estável com a idade, embora mostrem marcantes variações individuais e
direcionais. A rotação da região média tem como centro de rotação a
sincondrose esfeno-occipital, e é coordenada com a rotação devido ao
crescimento sutural das regiões laterais da base e abóbada craniana. A
forma dessas estão diretamente ligadas.
4- Associada a rotação da base do crânio está a rotação das
estruturas faciais.
5- No período da adolescência, a linha sela-násio mantém-se
constante o que faz com que possa ser usada como referência durante
esse período.
Alguns trabalhos encontraram diferenças sexuais significativas
relacionadas ao ângulo da base do crânio, onde os valores encontrados
nas mulheres foram maiores dos que os dos homens . Outros trabalhos, no
entanto, observaram que quando a diferenças é no ângulo e também no
crescimento da base como um todo, as medidas encontradas nas mulheres
são menores que nos homens, e esses ainda apresentam surto de
crescimento puberal para a base do crânio ( HENNEBERKE e
ANDERSEN,1994)
A base do crânio cresce, portanto primordialmente por crescimento
cartilaginoso nas sincondroses esfeno-etmoidal, esfeno-occipital, inter-esfenoidal e
intra-occipital, seguindo principalmente a curva de crescimento neural e, porém
parcialmente a curva de crescimento geral. A atividade na sincondrose inter-
esfenoidal desaparece no momento de nascer, a sincondrose intra-occipital se
fecha no 3o ou 5o ano de vida. A sincondrose esfeno-etmoidal se fecha
aproximadamente aos 7 anos de vida (apesar de vários autores considerarem
desconhecido o momento exato em que se fecha esta sincondrose). A
sincondrose esfeno-occipital continua sua ossificação até o 20 o ano de vida
(GRABER, 1961).
É possível que se faça exagerado o papel da sincondrose esfeno-occipital
como centro de crescimento. KOSKI, em 1968, afirmou que esta sincondrose
existia principalmente como meio para ajustar a base do crânio às necessidades
do cérebro em crescimento e à zona respiratória superior.
3.4. Crescimento Pré-natal da base do crânio

O embrião aumenta de tamanho e desenvolve proporções corporais


do terceiro para o nono mês. A cabeça se alonga e aumenta em largura,
diminuindo a proporção facial de 40:1 para 5:1, nas 12 primeiras semanas,
aos 4 meses, cresce para terminar em 8:1. A proporção crânio-facial diminui
para 2:1 após o nascimento. Ao mesmo tempo, o número de ossos
cranianos é reduzido de 45 ossos separados, ao nascimento, para 22 no
adulto. Estudos de padrões de crescimento pré-natal tem mostrado que
durante os últimos dois trimestres de desenvolvimento, tem mostrado
também padrões de crescimento que são similares ao crescimento
craniofacial pós-natal ( DIEWERT, 1985 e MOYERS, 1991).

Os centros de ossificação aparecem precocemente na vida


embrionária no condrocrânio, indicando a eventual localização do básio-
occipital, esfenóide e etmóide, que formam a base craniana. Formam-se
cartilagens occipitais ao redor do forame magno, que estabelecem a base
craniana já na oitava semana; e em sua maioria essas cartilagens serão
transformadas em osso, com o futuro osso etmóide elevando-se da cápsula
nasal, com partes do esfenóide temporal e occipital surgindo da cartilagem
mais posterior, que também mantém a glândula pituitária. Os primeiros
ossos da base craniana aparecem na 10 a semana e meia pré-natal 13,15
.
Até então, a base do crânio e o septo nasal são cartilagens
contínuas sem a presença de formação óssea no plano medial
Embora, se afirmasse que a região da base craniana anterior não
começa a sua ossificação até o nascimento, essa pode ser observada entre
a 33a e a 39a semana de vida intra-uterina. Podendo-se observar
reabsorção na superfície superior da fina lâmina óssea e de deposição na
superfície inferior . Esse é o mesmo padrão que caracteriza o crânio pós-
natal, que abaixa a base craniana anterior, em conjunto com o crescimento
direcionado inferiormente, e com o deslocamento do restante da fossa
craniana anterior e consequentemente da face. A angulação da base do
crânio continua a mesma desde períodos precoces embrionários e no
período pós-natal, fase essa em que tem significante impacto no
crescimento dos padrões faciais e na morfologia craniofacial .
Enquanto acontece a ossificação, bandas de cartilagem, chamadas
sincondroses permanecem , como importantes sítios de crescimento, que
proverão um crescimento adicional e uma expansão da base craniana. As
sincondroses esfenoetmoidal e esfenoccipital são evidentes já aos 6 meses
pré-natais, e algumas como as dos ossos etmóide e occipital permanecem
em crescimento ativo ao nascimento ( MOYERS, 1991 e PROFFIT, 1995).

Na asa maior do esfenóide os padrões de remodelamento com


reabsorção endocraniana e deposição ectocraniana, é o mesmo no
crescimento pré-natal, em todas as idades fetais depois que sua forma foi
alcançada (após 14a semana), e no crescimento pós-natal. Isso acomoda a
expansão dos lobos temporais, que desenvolvem-se mais cedo na vida pré-
natal do que os lobos frontais.
O pré-esfenóide pós-natal apresenta superfície endocraniana de
reabsorção, enquanto que no feto, a asa menor do esfenóide é de
reabsorção apenas em suas bordas posteriores e inferiores. Superiormente,
é de deposição no local onde esse osso forma a região posterior do
assoalho craniano anterior. A superfície dural do pré-esfenoide torna-se em
períodos mais avançados mais de reabsorção, coincidindo com o
crescimento dos lobos frontais. Na criança pequena, essa superfície óssea
torna-se com freqüência completamente de reabsorção ( ENLOW, 1993).
No crescimento fetal, o nervo maxilar e o forame redondo, movem-se
para frente, devido ao remodelamento por reabsorção anterior e deposição
posterior ao nervo. Portanto mantém o passo com o crescimento anterior
de todo o complexo facial.
As lâminas pterigóides, no último trimestre fetal é similar ao padrão
pós-natal, isto é a maioria das superfícies é de deposição, mas com
alguma reabsorção nas superfícies ântero-inferiores. Uma quantidade variável
de reabsorção na superfície posterior foi observada, levando a um
alargamento da fossa pterigóide.
O revestimento da maior parede da sela turca é de deposição, no
período pré e pós-natal. Porém, a região superior da parede posterior é
tipicamente de reabsorção. O assoalho e as paredes de revestimento
anterior e posterior têm padrões de crescimento variáveis devido à
velocidade de crescimento diferencial das várias regiões de tecido mole
desse local.
A base do occipital, assim como a região lateral do complexo
occipital, no período pré e pós-natal, são de reabsorção endocraniana e
deposição ectocraniana. Ao nascimento, permanece cartilagem no côndilo
occipital .
Ao nascimento, a largura do cérebro é aproximadamente metade do
tamanho do adulto. No terceiro ano é de 80 por cento e entre 5 e 8 anos
de 90 por cento. Nesse estágio, a caixa craniana alcançou praticamente
seu volume final e a base do crânio pode considerar-se atingiu sua forma
final.
No recém-nascido , as quatro partes do osso occipital ainda estão
separadas pelas sincondroses, mas se fundem aproximadamente no quinto
ano. Assim, é sabido que a sincondrose interesfenoidal cessa sua atividade
de crescimento ao nascimento. Existem estimativas de que a sincondrose
esfenoetmoidal cessa sua atividade de crescimento entre 5 e até mais de
20 anos; a sincondrose esfenoccipital cessa o seu crescimento ao redor
dos 15 anos e seu fechamento aos 20 anos ( SICHER, 1991).
3.5. EQUIVALENTES DE CRESCIMENTO

O conceito de “equivalentes de crescimento”, formulado por ENLOW ( em


ENLOW,1993), afirma que existem certos lugares morfogenéticos chaves, em
diferentes regiões da face e do crânio, que estão diretamente interdependentes e
reciprocamente inter-relacionados com suas respectivas atividades de
crescimento. É sugerido que os surtos de crescimento que ocorrem em qualquer
uma destas regiões críticas influenciam diretamente o curso do crescimento em
áreas equivalentes de outras partes anatomicamente distintas. O crânio, como um
todo, não é composto por unidades inter-relacionadas que se comportam
independentemente durante o crescimento. Mais propriamente, um processo
intimamente coordenado de incrementos ocorrem nas diferentes partes da face e
crânio, que implicam num equilíbrio direto entre elas. Sítios morfogenéticos
específicos assim envolvidos são chamados “regiões equivalentes”.
Quatro regiões morfogeneticamente distintas estão presentes no crânio
humano: a mandíbula, a face média (complexo nasomaxilar), a base craniana, a
face superior e a calvária. A face média, a base craniana e a mandíbula são
diretamente contíguas uma com a outra, e os surtos de crescimento que ocorrem
em uma delas, necessariamente, afeta os processos de crescimento
complementários, de natureza recíproca, em regiões das outras duas.
Serão empregadas duas linhas de referência, uma horizontal e outra
vertical, para permitir a constatação das direções e proporções de crescimento. A
linha vertical corresponde à linha de demarcação da fissura pterigomaxilar. A linha
horizontal constitui o “plano oclusal funcional”.
As alterações referentes à base craniana são as seguintes:
Alteração regional 6: A fossa craniana média (parte média da base do crânio) se
expande por reabsorção na superfície endocraniana e aposição na superfície
ectocraniana, bem como pelo crescimento na sincondrose esfeno-occipital e nas
suturas do assoalho craniano.
Alteração regional 7: As estruturas situadas anteriormente à parte média da base
do crânio sofrem um deslocamento secundário para frente, em função da
expansão da fossa craniana média
Alteração regional 8: O aumento da fossa craniana média também induz um
deslocamento secundário da mandíbula para frente e para baixo; contudo, numa
dimensão muito menor que o da maxila.
3.6. SUPERPOSIÇÃO DE TRAÇADOS

As superposições de traçados são utilizados quando se deseja avaliar as


modificações decorrentes do crescimento ou do tratamento ortodôntico, através de
radiografias cefalométricas obtidas num determinado intervalo de tempo.
Para tanto, é necessário selecionar estruturas, pontos e planos estáveis em
relação ao crescimento e que não sofram a influência do tratamento ortodôntico,
especialmente se na mecânica do tratamento foram utilizadas forças extra-orais.
Também devem ser consideradas a facilidade de identificação de tais pontos e a
simplicidade da técnica, pois, quanto mais simples esta se apresentar, menor será
a possibilidade de ocorrerem erros de execução.
Existem inúmeras técnicas de superposição, que podem ser divididas em
técnicas totais e técnicas parciais. As superposições totais têm por finalidade
avaliar as modificações ocorridas na face, como um todo, enquanto que as
superposições parciais, da maxila e da mandíbula, objetivam verificar as
alterações que aconteceram no próprio osso e na posição dos dentes que eles
suportam.

SUPERPOSIÇÕES TOTAIS

3.6.1. SUPERPOSIÇÃO ESFENOCRIBRIFORME

Esta técnica foi proposta em 1959 por Elmajian, que utilizou como ponto de
registro o ponto médio localizado entre as curvaturas das duas grandes asas
esfenoidais, marcado sobre o contorno do plano do osso esfenóide e da placa
cribiforme do osso etmóide.
Estes ossos podem ser considerados estáveis (segundo VILELLA), pois a
sutura esfenoetmoidal se fecha muito cedo e não existe centro de crescimento
entre o plano do esfenóide e suas grandes asas. O plano do esfenóide e a placa
cribiforme são estruturas sagitais e, portanto, mais estáveis do que as estruturas
laterais, além de serem facilmente visualizáveis sobre a radiografia cefalométrica.
As grandes asas esfenoidais podem ser identificadas radiograficamente como
duas linhas curvas e radiopacas, estando sujeitas a um alongamento, maior ou
menor, dependendo da posição da cabeça no cefalostato. As prováveis
distorções, entretanto, serão minimizadas pela escolha do ponto médio entre as
duas imagens.

3.6.2. SUPERPOSIÇÃO DA LINHA S-N COM REGISTRO EM S.

A utilização da linha S-N como plano de superposição foi descrita por


Broadbent, em 1931, que preconizou seu uso somente quando não houvesse
ocorrido aumento no seu comprimento. Com o passar do tempo, no entanto,
passou a ser indiscriminadamente empregada, tornando-se talvez o mais usual
dentre os planos de superposição.
Esta aceitação deveu-se, principalmente, à facilidade de execução da
técnica, associada ao fato da referida linha estar localizada no plano médio-sagital
da cabeça, sofrendo pouca alteração nas diferentes tomadas radiográficas, ser
constituída por pontos facilmente identificáveis e representar a base craniana
anterior.
Vários autores acreditam que a linha S-N é estável o suficiente para ser
utilizada como plano de superposição, apesar de existirem suturas em atividade
entre esses dois pontos, as quais são responsáveis pelo incremento da distância
entre ambos, durante o crescimento. As alterações mais freqüentes parecem ser
um pequeno deslocamento para baixo e para trás do ponto S, causado pela
remodelação da parede dorsal da sela túrcica, e um deslocamento maior do ponto
N, para frente e para cima, ou para frente e para baixo.

3.6.3. SUPERPOSIÇÃO DA LINHA S-N COM REGISTRO EM N.

As modificações nas posições dos dentes, e principalmente no contorno do


perfil facial, podem ser facilmente analisadas através desta técnica, embora tal
avaliação possa estar sujeita às variações no comportamento da linha S-N
(VILELLA, 1998).
3.7 O PLANO DA FACE HUMANA

O plano da face humana é, certamente, diferente do e outros mamíferos.


Os outros mamíferos possuem focinho longo, estreito e funcional e um crânio
aerodinâmico; já nos humanos observamos uma face desprovida de focinho,
larga, vertical e achatada, envolvida por um enorme crânio em forma de balão,
com testa bulbosa projetada sobre maxila e mandíbula delgadas e retruídas, boca
pequena, queixo e um nariz estreito e carnudo, com olhos de coruja e expressões
variáveis.
A postura ereta do ser humano implica em muitas adaptações anatômicas e
funcionais grandiosas em todas as partes do corpo, e nenhuma delas funcionaria
sem a outra. A cabeça está em posição de equilíbrio sobre a espinha ereta. Os
braços e as mãos são livres. A manipulação dos alimentos e dos objetos, a
defesa, o ataque e assim por diante são realizados com as mãos e não com os
maxilares.
O enorme aumento do cérebro e sua resultante configuração promoveram
uma “flexão” (arqueamento) da base do crânio humano. Isso relaciona-se com
duas características-chave. Primeiro, a medula espinhal é alinhada verticalmente,
mudança que permite a deambulação bípede com o corpo ereto, deixando braços
e mãos livres. Segundo, as órbitas sofrem rotação juntamente com a expansão do
lobo frontal do cérebro.
Uma pergunta muito comum é qual alteração anatômica ou funcional “veio
primeiro” nessa cadeia evolutiva (se a marcha ereta, o movimento dos braços, o
aumento do cérebro os arcos dentários e os maxilares girados para baixo e com
prognatismo decrescente ou a flexão da base do crânio). Um conceito importante,
contudo, é que toda essa quantidade de mudanças está funcionalmente
relacionada. Desenvolveram-se e evoluíram como um ”pacote” filogenético,
independente de qual delas (ou de que combinação) realmente foi o passo inicial
da evolução ( ENLOW, 1998).
3.7.1. FLEXÃO DA BASE DO CRÂNIO

Se um pedaço de fita adesiva fosse colocado em um balão de gás, ao inflá-


lo a expansão da fita formaria uma curva. O balão curva-se porque aumenta ao
redor do segmento basal que não consegue se expandir.
O enorme encéfalo humano expande-se de modo semelhante, em torno do
segmento mesoventral muito menor e menos flexível (medula, ponte, hipotálamo,
diencéfalo, quiasma óptico). Isso provoca o arqueamento de toda a parte interna
do encéfalo. Assim, resulta a flexão da base do crânio. O forame magno no
crânio típico dos mamíferos situa-se na região posterior do crânio. No homem,
localiza-se na parte mesoventral do assoalho craniano expandido, em um ponto
de equilíbrio mecânico aproximado para o apoio da cabeça ereta, sobre uma
espinha vertical ( ENLOW, 1998).

3.7.2. FORMA DA CABEÇA E TENDÊNCIAS À MALOCLUSÃO

Nos indivíduos que têm cabeça dolicocéfala, o cérebro é longo na horizontal


e relativamente estreito. Isso estabelece a base do crânio um pouco mais
achatada; isto é, a flexura entre as partes média e anterior do assoalho do crânio é
mais aberta. Também é horizontalmente mais longo. Esses fatores têm diversas
conseqüências básicas para o padrão da face. Primeiro, todo o complexo
nasomaxilar situa-se em posição mais protrusiva com relação à mandíbula, divido
à rotação da base do crânio para a frente e, ainda, aos segmentos médio e
anterior mais longos do assoalho do crânio. Em segundo lugar, todo o complexo
nasomaxilar é rebaixado com relação ao côndilo da mandíbula. Isso provoca uma
rotação de toda a mandíbula para baixo e para trás. A face verticalmente longa do
dolicocéfalo junta-se a essas características, conforme descrição posterior. Em
segundo lugar, o plano oclusal gira para um alinhamento inclinado para baixo. O
duplo posicionamento da maxila para a frente e o posicionamento para baixo do
corpo da madíbula resultam na tendência de retrusão mandibular e a posição dos
molares resulta em uma tendência à Classe II. O perfil é retrognata. Entretanto,
geralmente ocorrem as alterações compensatórias oportunas. Considerando o
ângulo mais aberto da base do crânio e a trajetória mais oblíqua da medula
espinhal na região cervical, esse tipo de face é associado com os indivíduos que
têm maior tendência a uma postura ligeiramente mais curva e com inclinação
anterior da cabeça e do pescoço.
Os indivíduos ou grupos étnicos braquicéfalos têm cérebro mais redondo e
mais largo. Isso estabelece um assoalho craniano mais vertical e tem flexura mais
fechada, que diminui a dimensão antero-posterior da fossa média do crânio. O
resultado facial é o posicionamento mais posterior da maxila. Além disso, o
comprimento horizontal do complexo nasomaxilar também é relativamente curto.
Como a base do crânio do braquicéfalo é mais larga, porém menos
alongada na dimensão a-p, as fossas média e anterior do crânio são
correspondentemente diminuídas na região frontal. A fossa anterior do crânio
estabelece um gabarito para o comprimento horizontal e para a largura bilateral do
complexo nasomaxilar, que, assim, também é mais curto, porém mais largo.
O resultado complexo é uma retrusão relativa do complexo nasomaxilar e
um posicionamento relativamente mais para frente de toda a mandíbula. Isso
ocasiona uma tendência maior ao perfil prognata e à relação de Classe III nos
molares. O plano oclusal pode ser alinhado para cima, mas em geral há vários
processos compensatórios em um plano perpendicular ou inclinado para baixo.
Outras alterações compensatórias também são operantes, as quais tentam
neutralizar as tendências de estabelecimento da Classe III. Por causa da fossa
média do crânio mais vertical e da trajetória também mais vertical da medula
espinhal, os indivíduos com todas essas características faciais também têm
tendência a postura mais ereta, com a cabeça em posição “militar” (a posição de
sentido) (ENLOW, 1993).
4. CONCLUSÃO

O conhecimento dos principais conceitos de crescimento e desenvolvimento


das estruturas crâniofaciais e, em particular das características embriológicas,
anatômicas, cefalométricas e clínicas da base do crânio é de fundamental
importância para os ortodontistas. Isto porque esta estrutura exerce influência no
posicionamento da mandíbula, da maxila e de todo o complexo facial.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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