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1 INTRODUÇÃO

O conhecimento das características da oclusão normal, servirá de base


não somente para diagnosticar um desvio significativo ou má oclusão em
ortodontia, mas uma vez constatado o problema e a necessidade de correção, a
meta terapêutica será definida com base nos parâmetros normais da oclusão.
Assim sendo, na fase inicial de diagnóstico, deve-se conhecer as
características normais, a fim de que se possa determinar em que sentido os
dentes estão desviados e o quanto eles estão distantes do que deveriam
apresentar em uma oclusão normal.
A definição de uma oclusão normal foi proposta por diversos autores.
ANGLE (1899) definiu como oclusão dentária normal, a relação normal dos
planos inclinados oclusais dos dentes quando as arcadas estão cerradas. Na
verdade, este conceito constituiria, mais propriamente, uma oclusão ideal,
pois são raros os dentes perfeitamente bem intercuspidados e bem
posicionados sobre uma linha de oclusão impecavelmente regular.
Posteriormente, STRANG (1950), propôs a seguinte definição:
“Oclusão normal, é um complexo estrutural constituído, fundamentalmente,
pelos dentes e ossos maxilares, caracterizado pela relação normal dos planos
inclinados oclusais dos dentes, que se acham situados individual e
coletivamente em harmonia arquitetônica com os ossos basais e anatomia
craniana, que apresentam pontos de contato proximais e inclinações axiais
corretas, e que acompanham o crescimento, desenvolvimento e coordenação
normais com todos os tecidos circunvizinhos.
Pode-se conceituar a oclusão normal de forma bastante simples, a partir
das definições propostas, como sendo a relação que os dentes guardam entre si
no arco e entre os arcos antagônicos. Essa distribuição dos dentes e a relação
entre os arcos, que é definida quando o paciente oclui e durante a mastigação é
o que se chama de oclusão.
2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Histórico

Apesar das irregularidades dos dentes terem sido descritas desde os


tempos romanos, pouco progresso foi feito até que em 1728, Fauchard
escreveu seu tratado sobre os dentes. Hunter, em 1771, dedicou três capítulos
às irregularidades dentárias e seu tratamento na sua “História Natural dos
Dentes Humanos”. Farrar, em 1888, publicou o “Tratado sobre as
irregularidades dentárias e suas correções”, com enfoque na ortodontia.
Depois, Angle, em 1890, apresentou “Um sistema de aparelhos para corrigir
as irregularidades dos dentes”.
Apesar destes autores terem se preocupado, predominantemente, com os
métodos de tratamento e aparelhos, uma descrição da oclusão normal foi
incluída. Em geral, a atenção foi concentrada nos dentes, ao invés da face.
Iszlai, em 1881, selecionou os incisivos como o espelho das relações
entre os arcos dentários. Ele definiu características bastante acuradas da
dentição normal com base em três dimensões do espaço: o trespasse vertical,
horizontal, e a linha média.
Angle, em 1887, e 1906, selecionou o primeiro molar permanente como
sendo a “chave da oclusão”. Seus preceitos para a oclusão normal, foram
definidos primariamente no sentido antero-posterior. Ele também, introduziu
a idéia da oclusão normal como um requisito para a estética facial.
Simon, em 1926, selecionou os caninos como dentes chaves da
oclusão. Posteriormente, ele relacionou os caninos, a parâmetros faciais
(orbital e Frankfurt horizontal), o que permitiu a ele, definir a má-oclusão nos
sentidos antero-posterior e transversal.
Após 1931, com o advento da cefalometria, a premissa da oclusão
normal com base apenas nos dentes passou a ser questionada. A partir desta
evolução, pode-se afirmar que: há características da oclusão normal
relacionadas aos dentes; a oclusão envolve o relacionamento entre os dentes e
suas estruturas de suporte; a oclusão é parte da função mastigatória, mas
também apresenta valores estéticos. (SASSOUNI, 1971)

2.2 Desenvolvimento da oclusão

A cronologia e seqüência de erupção dos dentes permanentes são mais


inconstantes que a dos dentes decíduos, e sofrem a influência de fatores de
ordem geral como raça, sexo, condições sistêmicas, e de ordem local como
apinhamentos, perda precoce de dentes decíduos, retenção prolongada de
dentes decíduos.
Antes de se detalhar estes fatores, é de grande importância, que se
avalie o estágio individual do desenvolvimento dental, o que geralmente pode
ser feito, através de radiografias. NOLLA, em 1960, fez um estudo
pormenorizado do desenvolvimento dentário através de exame radiográfico, e
estabeleceu o que se conhece por estágios de desenvolvimento de Nolla para
dentes permanentes, que podem ser vistos na figura 1, página 5:
Figura 1 – Estágios de Nolla. Fonte: GUEDES-PINTO, A. C.
Odontopediatria. 4ª ed. São Paulo: Editora Santos.
1993, 1140p.
A radiografia é comparada aos desenhos, e a cada dente é dado um valor
de desenvolvimento, do qual o mesmo mais se aproxima. Caso o
desenvolvimento esteja entre dois estágios , pode ser usado o valor médio ou
imediatamente maior. (GUEDES- PINTO, 1993)
Os estágios mais importantes são o estágio 2 – calcificação inicial; o
estágio 6 – que corresponde ao início dos movimentos eruptivos e o estágio 8
– estágio em que a maioria dos dentes perfuram a crista alveolar (MOYERS,
1991).
A cronologia de formação dos dentes, desta forma, influencia
fortemente a época de erupção dos mesmos (tabela 1, página 6).

Tabela 1 – Cronologia de formação dentária.


Fonte:SASSOUNI,V. Orthodontics in dental
practice, 2ª ed. St Louis: The C.V. Mosby Company,
1971.
É necessário compreender que há uma grande variação entre os
indivíduos, tanto na sequência, como na época de calcificação e formação das
coroas e que a tabela é apresentada para fornecer um guia, mas não deve ser
aplicada a todos os pacientes, baseado-se em seus valores precisos.
Em relação aos demais fatores que influenciam a cronologia e seqüência
de erupção dos dentes permanentes, as meninas irrompem seus dentes
permanentes, exceto os terceiros molares, 5 meses mais precocemente que os
meninos (MOYERS, 1991).
Existem diferenças raciais importantes quanto à época do irrompimento
do dente permanente, não se considerando as variações de ordem sócio-
econômica. Segundo MOYERS (1991), os meninos e meninas norte-
americanos negros demonstram, sistematicamente, uma antecipação do
irrompimento de todos os dentes, quando comparados com crianças brancas
norte-americanas de origem européia.
As influências nutricionais sobre calcificação e erupção são
relativamente muito menos significantes que as genéticas, pois os efeitos
sobre a erupção dos dentes têm sido demonstrados somente nos extremos da
variação nutricional.
Os distúrbios mecânicos, bem como os processos patológicos
localizados, podem alterar o plano genético de erupção. As lesões periapicais,
pulpites e a pulpotomia de um molar decíduo aceleram a erupção do pré-molar
sucessor. Também pode ser observado que o apinhamento dos dentes
permanentes afeta, ligeiramente, sua velocidade de calcificação e erupção.
(MOYERS, 1991)

Mecanismos de erupção. Até que a coroa esteja completamente


formada, os dentes permanecem estáticos dentro dos maxilares. Após a
completa calcificação da coroa, os dentes iniciam sua erupção intra-óssea
assim que a formação radicular seja iniciada.
Os mecanismos de erupção não são completamente entendidos. Várias
teorias foram propostas, associando a erupção com a pressão da formação
radicular, remodelação e crescimento do processo alveolar, desenvolvimento
pulpar e pressão sanguínea. Porém, nenhuma destas teorias é satisfatória, elas
parecem interagir entre si. Por exemplo, uma delas sustenta que seja o
aumento da polpa, com maior suprimento sanguíneo em um espaço confinado
pela formação radicular, o responsável pelo início dos movimentos eruptivos.
Por outro lado, a remodelação e crescimento do processo alveolar, é que
supostamente permite a erupção dentária contínua da dentição permanente,
quando a altura da coroa é reduzida pelo consumo de alimentos duros.
(SASSOUNI, 1971)
Muitas são as teorias que tentam explicar o mecanismo de erupção
dental. GUEDES-PINTO, 1993, afirma que os movimentos de erupção de um
dente, são o resultado do crescimento diferencial entre dois órgãos, o dente e
os ossos maxilares, que estão relacionados topograficamente.
Os movimentos dentários são complexos, e podem ser descritos, em
termos gerais, sob os seguintes itens:
1. Movimento dental pré-eruptivo – realizado pelos germes
dos dentes decíduos e permanentes na intimidade dos ossos, antes de
iniciarem sua erupção;
2. Movimento dental eruptivo – realizado pelo dente para
movimentar-se de sua posição intra-óssea até sua posição funcional em
oclusão;
3. Movimento dental pós-eruptivo – de manutenção dos
dentes irrompidos em posição de oclusão, enquanto ossos continuam
seu desenvolvimento, e de compensação dos desgastes oclusal e
proximal (TEN CATE, 1985).

Cronologia e sequência de erupção.


Os primeiros molares permanentes aparecem entre os 6 e 7 anos de
idade, com os inferiores sempre precedendo os superiores. Quase
simultaneamente, os incisivos centrais inferiores erupcionam, seguidos pelos
centrais superiores, laterais inferiores e laterais superiores. A erupção deste
grupo de dentes é seguida por um período de descanso, após o qual, o arco
dental reinicia a erupção, sem intervalos.
Os caninos inferiores e os primeiros pré-molares superiores erupcionam
quase ao mesmo tempo, entre os 10 e 11 anos, seguidos pelos primeiros pré-
molares inferiores.
Os próximos três dentes a erupcionarem entre os 11 e 12 anos são, em
sequência, os segundos pré-molares superiores, os segundos pré-molares
inferiores, e os caninos superiores.
Entre os 12 e 13 anos, os segundos molares erupcionam, sendo que os
inferiores precedem os superiores.
Desde a emergência na cavidade oral até o contato oclusal,
HARGREAVES (1958), encontrou que são necessárias nove semanas para os
incisivos e dez a doze semanas para os pré-molares e molares.
Grandes variações deste padrão de erupção são apresentados na
população com oclusão normal. (HURME, 1959)
Infelizmente, nenhum padrão pode ser estabelecido para a dentição
permanente, mas muitas sequências diferentes, podem conduzir a uma oclusão
normal.
LO e MOYERS, em 1953, encontraram em 50% dos casos estudados, a
seguinte sequência de erupção: 6 1 2 4 5 3 7 na maxila e 6 1 2 3 4 5 7 na
mandíbula. Eles afirmaram posteriormente, que esta seria a sequência de
erupção mais favorável.
NANDA, em 1960, comparando as diferentes sequências de erupção,
encontrou os seguintes resultados: 6 1 2 4 3 5 7 na maxila e 1 6 2 3 4 5 7 na
mandíbula. Porém, ele não associou a ocorrência de oclusão normal com estas
sequências de erupção.
STURDIVANT, KNOTT e MEREDITH, em 1962, não encontraram
uma sequência definida em mais de 30% dos casos estudados. As mais
frequentes foram: 6 1 2 4 3 5 7 e 6 1 2 4 5 3 7 na maxila, e 1 6 2 4 3 5 7 e 1 6
2 3 4 5 7 na mandíbula.
Diante dessas variações, vários gráficos foram apresentados para
esquematizar o padrão normal de erupção na dentição permanente, e serão
apresentados a seguir (tabelas 2, 3 e 4 e gráfico 1; páginas 11, 12 e 13):
Tabela 2 – Cronologia da dentição humana. Fonte: GUEDES-PINTO,
A. C. Odontopediatria. 4ª ed. São Paulo: Editora Santos.
1993,1140p.

Tabela 3 – Cronologia de formação e erupção dentária.


Fonte:SASSOUNI,V. Orthodontics in dental practice,
2ª ed. St Louis: The C.V. Mosby Company, 1971.
Tabela 4 – Cronologia e sequência de erupção.
Fonte:SASSOUNI,V. Orthodontics in dental
practice, 2ª ed. St Louis: The C.V. Mosby Company,
1971.
Gráfico 1 – Gráfico desenvolvido por Hurme, indicando a época de erupção
dos dentes permanentes. Fonte: MOYERS, R.E. Ortodontia.
4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.

Fatores como a idade esqueletal, a idade dentária, altura e peso, sexo,


má-oclusões, e extrações dos predecessores ou de dentes adjacentes, todos
apresentam algum efeito na época de erupção. Esta pode ser a razão pela qual
a cronologia de erupção, apresenta grandes variações.
De acordo com GRN (1962), três-quartos das raízes dos dentes estão
formadas na época de erupção. SASSOUNI (1971), assegura que
clinicamente, esta é a melhor forma de predizer a erupção dos dentes e com
isto, prevenir má-oclusões, e supervisionar o desenvolvimento da oclusão.
A predição da época de erupção está intimamente relacionada com a
sequência de erupção dos dentes permanentes.

2.3 Características normais da dentição permanente

2.3.1 Tamanho dentário


BOLTON, (1958), analisou o modelo de 55 pacientes com oclusão
excelente, sendo 44 tratados e 11 não tratados ortodonticamente, a fim de
determinar se havia ou não uma proporção matemática entre o comprimento
total dos arcos dentais, e seus segmentos.
O mesmo autor afirmou que, para que exista um correto relacionamento
entre os dentes superiores e inferiores, é necessário que haja uma proporção
perfeita entre a somatória do maior diâmetro dos dentes do arco inferior em
relação aos dentes do arco superior (FERREIRA, 1999).
Estabeleceu, desta forma, um índice para avaliação do tamanho dental, a
fim de que haja um correto relacionamento entre os dentes superiores e
inferiores (MUCHA e BOLOGNESE, 1985).

Soma dos 12 mandibulares x 100 = Relação total


Soma dos 12 maxilares
(média = 91.3 0.26)
A relação entre os dentes anteriores é obtida de maneira semelhante:

Soma dos 6 mandibulares x 100 = Relação anterior


Soma dos 6 maxilares
(média = 77.2 0.22)

Definiu-se que quando o resultado encontrado fosse menor que a média,


a discrepância de tamanho dentário (leia-se excesso de volume dentário)
estaria na maxila, e, quando fosse maior que a média, a discrepância estaria no
arco mandibular.
Através dessas relações, pode-se avaliar a sobremordida e a
sobressaliência que surgirão ao final do tratamento, assim como os efeitos das
extrações planejadas. (FERREIRA, 1999)

2.3.2 Número de dentes


A dentição permanente apresenta 32 dentes dispostos, em dois arcos
dentários, sendo 8 incisivos, 4 caninos, 8 pré-molares e 12 molares.
(STRANG, 1950)
As anomalias de número estão presentes na oclusão permanente, e
podem interferir com o bom relacionamento oclusal. Sendo elas a anodontia,
que é caracterizada pela ausência total de dentes, a digodontia, formação
incompleta da dentição, ou dentes supranumerários.
Os dentes congenitamente ausentes são mais comuns de acontecerem do
que os supranumerários. (MOYERS, 1991).
2.3.3 Forma dos arcos
A forma dos arcos relaciona-se intimamente com o tipo craniano (figura
2, página 17).
Nos indivíduos braquicéfalos, os arcos dentais são quadráticos e largos;
os incisivos inferiores geralmente estão em uma mesma linha, fazendo um
ângulo de aproximadamente 90o com os caninos.
Os indivíduos mesocéfalos apresentam um equilíbrio de crescimento
nos sentidos vertical e horizontal, apresentando um arco parabólico.
Os indivíduos dolicocéfalos apresentam arcos compridos e estreitos, de
forma elíptica. Apresentam tendência de crescimento mais vertical, sendo
comum a impactação de terceiros molares e maior incidência de mordida
aberta. (GRABER, 1996)
Segundo MUCHA e BOLOGNESE, 1985, a individualidade da forma
do arco dentário do paciente deve ser respeitada, pois o sucesso e a
estabilidade do tratamento dependem disto.
STRANG, em 1949, afirmou que não só as distâncias intermolares e
intercaninos devem ser mantidas, como também o equilíbrio funcional
muscular, a fim de manter a estabilidade oclusal.
Figura 2 – Relação entre o tipo facial e a forma dos arcos. Fonte: GRABER,
T.M. Ortodontia. Princípios e Técnicas Atuais. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.

2.3.4 Contorno dos arcos dentários


O arco possui contornos diferenciados em suas regiões, pois os dentes
apresentam diâmetros vestíbulo-linguais distintos.
Para se descrever a disposição dos dentes nos arcos dentários, será
considerada uma linha imaginária passando ao nível do terço médio da
superfície vestibular de cada dente, posição onde geralmente se ajusta o arco
no tratamento ortodôntico.
No arco superior os incisivos centrais são mais proeminentes
labialmente e se estendem mais para a oclusal, por serem mais longos, largos
e espessos que os laterais. Os laterais são mais curtos e localizam-se mais
para a lingual, em relação aos centrais, por não serem tão espessos no sentido
vestíbulo-lingual (in-set). Os caninos são mais proeminentes, devido ao maior
diâmetro vestíbulo-lingual (off-set). Os caninos são mais longos que os
centrais, e assim equilibram harmonicamente a linha oclusal e dão aos arcos
nesta área uma proeminência estética, onde os planos anteriores e posteriores
da arcada convergem e se encontram. Os pré-molares mantém o alinhamento.
Já o primeiro molar, está mais para a vestibular (off-set), e os segundo e
terceiro molares, seguem o alinhamento do primeiro, como pode ser visto na
figura 3, página 18. (STRANG, 1950)

Figura 3 – Contorno do arco superior. Fonte: FERREIRA, F.V.


Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2a ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.

No arco inferior os quatro incisivos apresentam o mesmo alinhamento.


Os caninos estão mais projetados para a vestibular (off-set), em menor
proporção que os superiores. A superfície vestibular do primeiro pré-molar
apresenta uma projeção vestibular em relação ao canino (off-set). O segundo
pré-molar segue o alinhamento do primeiro. Os primeiros molares apresentam
uma projeção vestibular (off-set), os segundos e os terceiros molares seguem o
alinhamento do primeiro (figura 4, página 19).

Figura 4 – Contorno do arco inferior. Fonte: FERREIRA, F.V.


Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2a ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.

2.3.5 Pontos de contato

Contatos proximais. SASSOUNI, em 1971, propôs que dentes hígidos


deveriam contactar os adjacentes em um ponto de contato único, situado no
maior diâmetro mésio-distal da coroa. Esta condição, segundo o autor,
implicaria automaticamente em relações definidas nos sentidos antero-
posterior, transverso e vertical entre os dentes (figura 5, página 20).
BOLTON, em 1958, já havia proposto a seguinte localização dos pontos
de contato proximais na dentição permanente:
Arco superior
Entre incisivos – entre terços incisal e médio
Entre lateral e canino – no meio da coroa clínica
Entre canino e primeiro pré-molar – meio da coroa clínica do
canino próximo à crista marginal do pré-molar
Entre pré-molares e molares – na altura das cristas marginais

Arco inferior
Entre incisivos – próximo ao bordo incisal
Entre lateral e canino – no meio da coroa clínica
Entre canino e primeiro pré-molar – meio da coroa clínica do
canino e próximo à crista marginal do pré-molar
Entre pré-molares e molares – na altura das cristas marginais
No sentido vestíbulo-lingual, segundo STRANG (1950), o ponto de
contato está localizado bem no meio da face proximal dos incisivos e caninos
e mais para a vestibular nos pré-molares e molares.

Figura 5 – Contatos proximais. FERREIRA, F.V.


Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2a ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.
Contatos oclusais. Segundo FERREIRA, 1991, as relações de contato
entre os dentes são variáveis, não havendo normas infalíveis aplicadas a todos
os casos para os indivíduos com intercuspidação normal. Contudo, pode-se
fazer algumas generalizações baseadas em uma correlação cuidadosa.
A posição dos dentes não é determinada ao acaso, mas por numerosos
fatores controladores como a largura do arco e o tamanho dos dentes.
Também é determinada por outras forças controladoras como aquelas oriundas
dos tecidos moles circundantes. Os contatos oclusais e proximais são
importantes para manter o alinhamento dos dentes e a integridade dos arcos.
OKESON, 1992, define o relacionamento inter-arcadas como a relação
dos dentes de uma arcada com o seu antagonista. Quando as duas arcadas se
contatam, como no fechamento mandibular, a relação oclusal dos dentes é
estabelecida.
Como os dentes superiores estão posicionados mais vestibularmente, a
relação normal de oclusão dos dentes posteriores será tal que, as cúspides
vestibulares inferiores ocluam nas áreas da fossa central dos dentes superiores.
Da mesma forma, as cúspides palatinas superiores ocluem nas áreas da fossa
central dos dentes inferiores. Esta relação oclusal protege os tecidos moles
envolvidos.
As cúspides vestibulares dos dentes inferiores posteriores e as cúspides
linguais dos dentes superiores posteriores ocluem com as áreas da fossa
antagônica. Estas cúspides são chamadas de cúspides de suporte, ou cúspides
cêntricas, e são responsáveis basicamente pela manutenção da distância entre
a maxila e a mandíbula. Esta distância sustenta a altura vertical facial e é
chamada de dimensão vertical da oclusão.As cúspides vestibulares dos dentes
superiores posteriores e as cúspides linguais dos dentes inferiores posteriores
são chamadas de cúspides de balanceio, ou cúspides não funcionais.
Quando o relacionamento dental entre os arcos é visto pela lateral,
pode-se observar que cada dente oclui com dois dentes opostos. No entanto,
existem duas exceções a esta regra: os incisivos centrais inferiores e os
terceiros molares superiores. Nestes casos os dentes ocluem somente com um
dente antagônico. Assim sendo, na arcada inteira, cada dente oclui com o seu
correspondente na arcada oposta e com um dente adjacente. Esta relação
dente-dois dentes ajuda a distribuir as forças oclusais a muitos dentes, e de
forma geral, a toda a arcada. Isto também ajuda a manter alguma integridade
da arcada, mesmo quando se perde um dente, porque os contatos oclusais de
estabilização ainda são mantidos pelos dentes remanescentes.
Vista da porção vestibular, as cúspides cêntricas contatam geralmente,
em uma ou duas áreas: fossa central e crista marginal.
Este relacionamento dos dentes na sua máxima intercuspidação é
chamado de posição de oclusão cêntrica.
Os contatos oclusais podem ser exemplificados como se segue (Figuras
6 e 7, páginas 23 e 24):
Figura 6 – Contatos oclusais. FERREIRA, F.V.
Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2a ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.
Figura 7 – Contatos oclusais. FERREIRA, F.V.
Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2a ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.

2.3.6 Curva de Wilson


Segundo GRABER (1996),OKESON (1972) e STRANG (1950), a
curva de Wilson, é uma curva de compensação oclusal no plano frontal. Os
dentes posteriores se articulam segundo uma curva de concavidade superior.
As cúspides vestibulares são mais elevadas que as cúspides linguais em
conseqüência da inclinação axial dos dentes posteriores; os pré-molares e
molares superiores apresentam uma inclinação axial vestibular, enquanto que
no arco inferior, estes dentes apresentam uma inclinação axial lingual. Devido
à inclinação axial progressiva dos dentes póstero-inferiores, esta curva sofre
modificação à medida que se caminha para posterior.
A curva de Wilson é de grande importância no movimento de
lateralidade, pois faz com que as cúspides de contenção cêntrica se projetem
mais do que as cúspides de balanceio no sentido oclusal. (figura 8, página 25)

Figura 8 - Curva de Wilson. Fonte: OKESON, J.P.


Fundamentos de Oclusão e Desordens
Têmporo - Mandibulares. 2a ed. Artes
Médicas, 1992.

2.3.7 Sobremordida
Corresponde ao trespasse vertical dos incisivos superiores sobre os
inferiores quando as arcadas estão em oclusão (figura 9, página 26). É
considerada normal quando os incisivos superiores cobrem um terço dos
incisivos inferiores, o que corresponde à aproximadamente 1 a 2 mm.
(MOYERS, 1991; SASSOUNI, 1971)
Apresenta correlação com algumas dimensões verticais da face,
especialmente a altura do ramo da mandíbula. (MOYERS, 1991)
Segundo SASSOUNI (1971), quanto mais os incisivos estão
verticalizados, ou quanto maior o ângulo interincisal, maior será a tendência a
uma grande sobremordida.

2.3.8 Sobressaliência
GRABER, 1974, define a sobressaliência como sendo o trespasse no
sentido horizontal dos incisivos superiores sobre os inferiores (Figura 9,
página 26). Em geral, a mesma é um reflexo das relações ântero-posteriores
das bases da dentição superior e inferior.
Segundo MOYERS (1991) a sobressaliência também é sensível à
função anormal do lábio e da língua.
PROFFIT, (1995) a considera normal quando a mesma corresponde à
espessura vestíbulo-lingual do incisivo central superior, que é
aproximadamente 2 a 3 mm.

Figura 9 – Sobremordida e Sobressaliência. Fonte: GRABER,T.M.


Ortodontia. Princípios e Técnicas Atuais. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan. 1996.
2.3.9 Linha Média
As linhas médias dos incisivos centrais superiores e inferiores devem
estar situadas nos ápices dos arcos dentais e serem coincidentes. (SASSOUNI,
1971)

2.3.10 Simetria
Os quadrantes de cada arco devem ser simétricos, em relação ao plano
sagital médio da face.

2.3.11 As seis chaves da oclusão normal


ANDREWS (1972), estudou o modelo de 120 pacientes não tratados
ortodonticamente, com oclusão normal, e identificou seis características
significativas presentes em todos os casos, que são referidas como as “Seis
Chaves da Oclusão de Andrews”.

As “Seis Chaves da Oclusão”:

Chave I – Relação Molar. A primeira das seis chaves da oclusão


normal é o relacionamento dos molares, no qual a face distal da cúspide disto-
vestibular do primeiro molar permanente superior estabelece contato e oclui
com a face mesial da cúspide mésio-vestibular do segundo molar permanente
inferior (figura 10, página 28).
A cúspide mésio-vestibular do primeiro molar permanente superior está
situada entre as cúspides mesial e média do primeiro molar permanente
inferior. Os caninos e pré-molares apresentam uma relação de toque na face
vestibular, enquanto pelo lado lingual, a relação é de cúspide com fossa.
Quanto mais a face distal da cúspide disto-vestibular do primeiro molar
permanente superior se aproxima da face mesial da cúspide mésio-vestibular
do segundo molar permanente inferior, maior é a possibilidade de se
estabelecer a oclusão normal.

Figura 10 – Relação molar. Fonte:ANDREWS, L.F.


The six keys to normal occlusion. Am. J. Orthod.
v.62, n.3, p. 296 – 309, Sept, 1972.

Chave II – Angulação da Coroa (“Tip”). A angulação da coroa


(inclinação axial mésio-distal) é dada pela intersecção entre o longo eixo do
dente (face vestibular) e uma linha perpendicular ao plano oclusal (figura 11,
página 28).

Figura 11 – Angulação da coroa. Fonte:ANDREWS, L.F.


The six keys to normal occlusion. Am. J. Orthod.
v.62, n.3, p. 296 – 309, Sept, 1972.
Em todos os modelos de pacientes não tratados, a porção gengival do
longo eixo de todas as coroas estava mais distal que a porção incisal.
Esta inclinação variava entre os tipos de dentes, sendo constante,
contudo, dentro de cada grupo, de indivíduo para indivíduo.
A oclusão normal depende da inclinação distal própria de cada dente,
especialmente dos ântero-superiores, uma vez que suas coroas são longas.
Deve-se considerar que um retângulo inclinado ocupa um espaço maior do
que um retângulo na posição vertical (figura 12, página 29).

Figura 12 – Angulação dos incisivos. FERREIRA, F.V.


Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2a ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.

Deste modo, o grau de inclinação dos incisivos, por exemplo, determina


a quantidade de espaço mésio-distal que eles consomem, o que apresenta um
efeito considerável na oclusão da região posterior, bem como na estética
anterior.
Chave III – Inclinação da Coroa (Torque). A inclinação da coroa, no
sentido vestíbulo-lingual, é dada pelo ângulo formado por uma linha
perpendicular ao plano oclusal com uma linha que tangencia o local do
“bracket”.
1. Inclinação das coroas dos dentes anteriores
A inclinação das coroas dos dentes anteriores, superiores e inferiores,
afeta significativamente, a sobremordida e a oclusão posterior.
A inclinação adequada é suficiente para resistir ao excesso de irrupção
dos dentes anteriores e, também, possibilita uma oclusão apropriada das
coroas dos dentes posteriores.
Quando as coroas dos dentes anteriores estão muito verticais, eles
perdem sua harmonia funcional, o que resulta em supra-irrupção destes e um
posicionamento mais anterior dos dentes póstero-superiores (figura 13, página
30).

Figura 13 – Inclinação dos dentes anteriores.


Fonte:ANDREWS, L.F. The six keys to
normal occlusion. Am. J. Orthod. v.62, n.3,
p. 296 – 309, Sept, 1972.
Quando as coroas dos dentes anteriores estão inclinadas de modo
apropriado, como na figura 13, página 30, pode-se ver como os dentes
posteriores apresentam um relacionamento adequado. Por outro lado, surgirão
espaços indesejáveis, nas regiões anterior ou posterior, se a inclinação das
coroas dos dentes anteriores não for suficiente, e os dentes superiores
estiverem em oclusão adequada com os dentes inferiores, na região posterior.
Estes espaços, nos casos tratados, serão indevidamente atribuídos à
discrepância de tamanho dentário.

2. Inclinação das coroas dos dentes póstero-superiores


O padrão de inclinação das coroas dos dentes póstero-superiores foi
constante em todos os modelos não tratados ortodonticamente. Do canino
superior até o segundo pré-molar, os dentes apresentaram uma inclinação
negativa da coroa (porção cervical do longo eixo da coroa mais para vestibular
que a porção incisal). No primeiro e no segundo molares permanentes a
inclinação negativa da coroa foi um pouco maior (figura 14, página 32).

3. Inclinação das coroas dos dentes póstero-inferiores


Na arcada inferior, o padrão de inclinação das coroas dos dentes
posteriores também foi constante. As coroas dos caninos aos segundos
molares, apresentaram uma inclinação negativa progressiva (figura 14, página
32).
Figura 14 – Inclinação dos dentes posteriores.
Fonte:ANDREWS, L.F. The six keys to
normal occlusion. Am. J. Orthod. v.62, n.3,
p. 296 – 309, Sept, 1972.

Tip e Torque. Deve-se discutir um pouco mais a aplicação clínica da


segunda e terceira chaves e como a associação de ambas afeta os dentes
anteriores e a oclusão como um todo.
À medida que a porção anterior do arco retangular superior adquire
torque lingual, ocorrerá um aumento proporcional na inclinação mesial das
coroas dos dentes, fazendo com que haja uma diminuição do espaço nesta
região.
A melhor maneira de se entender o mecanismo envolvido no “tip”e no
torque, é imaginar um arco retangular reto com fios verticais soldados em 90 o ,
com espaços entre si, que representam os incisivos centrais e laterais
superiores, como na figura 15, página 33. À medida que a porção anterior do
arco foi contornada com a forma de arco e torqueada lingualmente, os fios
verticais começaram a convergir, progressivamente, até virarem um raio de
uma roda quando da ação do torque em até 90o , na proporção de 4:1.
Para cada 4o de torque lingual, há um grau de convergência mesial da
porção cervical dos incisivos centrais e laterais superiores.

Figura 15 – Inclinação dos dentes anteriores. Fonte:ANDREWS, L.F.


The six keys to normal occlusion. Am. J. Orthod.
v.62, n.3, p. 296 – 309, Sept, 1972.

Chave IV – Rotações. A quarta chave da oclusão normal representa a


ausência de rotações indesejáveis. Um exemplo pode ser visto na figura 16,
página 34, onde a superposição do molar mostra como este, se rotacionado,
ocupa mais espaço que o normal, criando uma situação desfavorável para a
oclusão normal.

Figura 16 – Rotação molar. FERREIRA, F.V.


Ortodontia: diagnóstico e planejamento
clínico. 2a ed. São Paulo: Artes Médicas,
1998. 503p.

Chave V – Pontos de Contato. A quinta chave se relaciona com a


necessidade de pontos de contato firmes. Na ausência de discrepâncias de
tamanhos dentários, devem estar presentes contatos proximais adequados.

Chave VI – Curva de Spee. A curva de Spee encontrada nos modelos


dos pacientes não tratados ortodonticamente variou de um plano a uma curva
moderada. Andrews acredita que o plano oclusal reto deve ser buscado no
tratamento ideal, como uma forma de sobrecorreção.
A intercuspidação dos dentes é melhor obtida, quando a Curva de Spee
está praticamente ausente (figura 17, página 35).

Figura 17 – Curva de Spee ausente. FERREIRA, F.V.


Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 2a ed.
São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.

A Curva de Spee profunda resulta em uma área menor para os dentes


superiores, o que impossibilta a oclusão normal (figura 18, página 35).

Figura 18 – Curva de Spee acentuada. FERREIRA,


F.V. Ortodontia: diagnóstico e planejamento
clínico. 2a ed. São Paulo: Artes Médicas, 1998.
503p.

Como complementação às características da Curva de Spee definidas


por Andrews, será feita uma breve revisão sobre a definição da mesma, e sua
função.
A curva de compensação, também conhecida como curva de Balkwill-
Spee, curva de Spee ou linha de Spee, corresponde à linha que une o ápice das
cúspides vestibulares dos dentes superiores, tendo seu ponto mais inferior em
correspondência com a cúspide mésio-vestibular do primeiro molar
permanente.
A curva de compensação depende da trajetória condilar, que segue e se
adapta à configuração anatômica da fossa glenóide, relacionando-se à forma e
tamanho das cúspides dentais e inclinação axial dos dentes permanentes.
Durante os diferentes movimentos mandibulares, os dentes mantém-se
em contato por um período prolongado. Realmente, a curva de Spee
compensa, durante estes movimentos, as trajetórias condílicas, molar e
incisiva (figura 19, página 36). Estas trajetórias estão representadas pela
projeção dos incisivos superiores sobre os inferiores, pelos planos inclinados
cuspídeos no sentido mésio-distal e pela vertente posterior da raiz transversa
do zigoma (FERREIRA, 1999).

Figura 19 – Curva de Spee. FERREIRA, F.V.


Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico.
2a ed. São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.
2.3.12 Guias de oclusão dinâmica
O conceito dinâmico da oclusão nos conduz a seu objetivo maior, que é
a obtenção do equilíbrio oclusal, e conseqüentemente, à estabilidade
mandibular.
A oclusão normal individual será obtida somente quando dentes,
maxilares, articulações e músculos permanecerem em um estado funcional
ótimo estabelecido, segundo SAITO (1977), pelos seguintes requisitos:
 as resultantes das forças oclusais devem seguir uma direção
axial biologicamente favorável às estruturas de suporte;
 é necessário haver estabilidade mandibular, ou seja, parada
estável com contatos bilaterais simultâneos entre os dentes,
em cêntrica (posição de máxima intercuspidação);
 não deve existir interferência em qualquer dente posterior
no lado de trabalho durante os movimentos de lateralidade;
Para tal, precisamos obter:
- desoclusão do lado de balanceio nos movimentos de
lateralidade;
- desoclusão de todos os dentes posteriores em
movimento protrusivo;
- guia incisal em harmonia com os movimentos
bordejantes;
- espaço funcional livre correto, permitindo uma
função harmoniosa da oclusão com o complexo
neuromuscular e ATM.
O lado para o qual a mandíbula se movimenta é denominado lado de
trabalho e as relações de contato entre os dentes inferiores com os superiores,
neste lado, podem ser:
 Função de grupo: quando todas as cúspides vestibulares
inferiores e superiores se contactam no lado de trabalho,
desde o canino até o molar, distribuindo forças laterais a
este grupo de dentes.
 Guia canino: quando há uma desoclusão, pelo canino, de
todos os dentes em excursões laterais.

A oclusão funcional ideal foi definida por OKESON (1992), tomando


como base os seguintes parâmetros:
1. Quando a boca se fecha, os côndilos estão na posição mais
anterior e superior (estável músculo-esqueletalmente), apoiados
nas vertentes posteriores das eminências articulares com os
discos propriamente interpostos. Nesta posição, há contatos
homogêneos e simultâneos de todos os dentes posteriores. Os
dentes anteriores também se contatam, mas um pouco mais
suavemente do que os dentes posteriores. Em outras palavras, a
posição músculo-esqueletal estável dos côndilos (RC) coincide
com a posição de máxima intercuspidação dos dentes (OC);
2. Todos os contatos dentários promovem carga axial das forças
oclusais;
3. Quando a mandíbula se move em posições laterotrusivas, há
guias dentais de contato no lado laterotrusivo (de trabalho) para
desocluir o lado mediotrusivo (de balanceio) imediatamente. A
guia mais desejável é fornecida pelos caninos;
4. Quando a mandíbula move-se numa posição mais protrusiva, há
adequados contatos dentais dirigidos aos dentes anteriores para
desocluir todos os dentes posteriores imediatamente;
5. Na posição habitual os contatos dos dentes posteriores são mais
pesados do que os contatos nos dentes anteriores.
As condições supra-citadas parecem ser as menos patogênicas
para o maior número de pacientes.

2.3.13 Equilíbrio dental


O equilíbrio dental está intimamente associado a fatores harmônicos e
definidos que, ao atuarem em conjunto, asseguram a estabilidade das
diferentes posições dos dentes nos ossos maxilares.
O desequilíbrio entre as forças oriundas dos dentes, ligamentos,
músculos mastigatórios e da mímica, da língua, do palato e da faringe,
ocasiona, fatalmente, a perda da oclusão normal (FERREIRA, 1999).
Toda a musculatura que circunda os dentes deve ser considerada um
fator determinante da posição dentária (figura 20, página 40). Na parte
vestibular dos dentes estão os lábios e bochechas proporcionando forças
linguais leves, porém constantes. Na parte lingual, está a língua produzindo
forças vestibulares. São forças opostas, que conduzem os dentes a uma
posição neutra, onde elas se igualam (OKESON, 1992).
Deve-se ter sempre em mente, que estas forças musculares estão
atuando constantemente para regular a posição e a função dos dentes.
Algumas forças que não se originam da musculatura oral, mas estão
associadas a hábitos orais, podem influenciar a posição dos dentes, levando a
um desequilíbrio (OKESON, 1992).
Figura 20 – Equilíbrio muscular. FERREIRA, F.V.
Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico.
2a ed. São Paulo: Artes Médicas, 1998. 503p.

2.3.14 Harmonia Facial


O estudo da oclusão normal só pode ser considerado completo, de
acordo com FERREIRA (1999), quando introduzimos um componente
estético à sua definição.
A harmonia das linhas faciais e um perfeito equilíbrio entre suas partes,
incluindo obviamente os dentes, são imprescindíveis para a compreensão e o
verdadeiro objetivo da oclusão normal (figura 21, página 40).

Figura 21 – Proporções divinas da face segundo Ricketts. Fonte:


FERREIRA, F.V. Ortodontia: diagnóstico e
planejamento clínico. 2a ed. São Paulo: Artes Médicas,
1998. 503p.
3 CONCLUSÃO

A oclusão normal na dentição permanente é um tópico de fundamental


importância no estudo da Ortodontia, pois somente após o conhecimento das
características normais da oclusão é que a meta terapêutica do paciente poderá
ser definida.
Após o estudo de ANDREWS (1972), ocorreu uma reavaliação dos
conceitos na Ortodontia, visto que ao comparar-se as características
encontradas nos modelos não tratados e com oclusão normal, com os modelos
tratados ortodonticamente, nos casos em que pelo menos uma das
características não estava presente, a mesma era considerada a responsável
pelo insucesso do tratamento.
Deve-se ter em mente que, em muitos pacientes, por diversos fatores
restritivos como cooperação, características da má-oclusão, crescimento
desfavorável, a obtenção de todas as características pode ser considerada uma
meta inatingível, mas deve-se buscar sempre a excelência na finalização e
tratamento ortodôntico, a fim de minimizar a ocorrência de recidivas e
insucessos.
A existência de parâmetros oclusais normais bem definidos, reduz
bastante as chances de imperfeição dos tratamentos, e a meta a ser atingida
pelo ortodontista deve considerar as características oclusais aliadas a uma boa
estética facial.
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