SEÇÃO•ORTODONTIA•CLÍNICA

[ 74 ] © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2021 Aug-Sept;20(4):74-98

Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando
aparelhos autoligáveis passivos com prescrições
individualizadas – fase 1: relato de caso
H E N R I Q U E
MASCARENHAS
VILLELA
1 ram-se, com um suave aumento da
Resumo
INTRODUÇÃO: A dentição mista é
um dos estágios do desenvolvimento
da oclusão no qual ocorrem muitas
transformações, não só em relação às
trocas dentárias, mas também no crescimento e desen-
volvimento facial. Nesse momento, podem surgir diversos
tipos de manifestações de má oclusão, sendo uma excelente
época para se interceptar problemas que podem interferir
no correto crescimento e desenvolvimento do complexo
dentomaxilar. Entre os diversos tipos de tratamentos
interceptativos, o uso de aparelhos fixos autoligáveis
passivos com prescrições individualizadas é uma exce-
lente opção para efetuar o alinhamento e nivelamento de
forma parcial em alguns dentes. Em casos selecionados,
essa mecânica pode reduzir a indicação de extrações
seriadas ou expansão rápida de maxila. A sua indicação
é mais precisa para os casos nos quais existem apinha-
mentos com dentes de tamanho normal, na presença de
atresia das arcadas com compensação vestibulolingual.
OBJETIVO: O presente artigo mostra um caso clínico
que utilizou, como opção de tratamento interceptativo na
dentição mista, braquetes autoligáveis passivos e torques
individualizados para corrigir um apinhamento severo
nos incisivos inferiores, obtendo espaço para os incisivos
laterais com necessidade de expansão transversal das
1.  Mestre em Ortodontia, UNIARARAS (Araras/SP, Brasil). Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial, Associação Brasileira de Odontologia-BA (Salvador/BA, Brasil).
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arcadas dentárias. RESULTADOS: Em dois
anos de tratamento, os incisivos alinha-
sua inclinação. Na avaliação de
três anos pós-tratamento, com os
pré-molares, caninos e segundos
molares permanentes já irrompidos,
o ganho de espaço e a posição dos inci-
sivos permaneceram estáveis mesmo sem
contenção. O efeito ortodôntico mais significativo
foi a correção do apinhamento severo na arcada inferior
utilizando-se prescrição de baixo torque (LOW torque).
Ocorreu um controle da inclinação para vestibular, com
IMPA inicial de 95º para 100º e, após três anos, IMPA = 102º.
Na arcada superior, não houve grandes movimenta-
ções dos incisivos para vestibular, com 1.PP inicial de 112º
para 115º, sem modificação após três anos. O tratamento
interceptativo corrigiu os problemas de alinhamento
dentário, com a normalização dos trespasses horizontal
e vertical dos incisivos, proporcionando uma condição
favorável para o desenvolvimento mandibular natural,
com a redução da discrepância sagital entre maxila e
mandíbula (ANB: inicial = 8,0º, final = 6,0º, controle após 3
anos = 3º). CONCLUSÃO: Essa estratégia de tratamento
interceptativo foi eficiente na correção do apinhamento
severo dos incisivos inferiores na dentição mista, com
controle da inclinação desses dentes e com resultados
estáveis após três anos sem contenção.
Palavras-chave
Ortodontia interceptativa. Nivelamento 4x2. Dentição mista.
Aparelhos autoligáveis passivos. Prescrições individualizadas.
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INTRODUÇÃO
A transição da dentição decídua para a dentição
permanente pode sofrer algumas alterações de-
correntes das perdas dentárias precoces, ausên-
cias congênitas ou falta de espaço. Essa fase é
conhecida como dentição mista e ocorrem mui-
tas transformações nas arcadas dentárias. Nes-
sa época, os dentes decíduos, além de servirem
como mantenedores naturais de espaço, tam-
bém ajudam a guiar a erupção dos dentes per-
manentes. Dessa forma, a falta de espaço ou a
perda precoce de um dente decíduo pode alterar
a ordem cronológica de erupção dos dentes per-
manentes e promover mudanças nas arcadas,
estabelecendo uma má oclusão1.
A dentição mista é dividida em três estágios clí-
nicos distintos, com mesmo tempo de duração.
Esses estágios são denominados primeiro pe-
ríodo de transição (substituição dos incisivos
decíduos pelos permanentes e erupção dos pri-
meiros molares permanentes), segundo período
de transição (os caninos e os molares decíduos
esfoliam e há erupção dos caninos, pré-molares
e segundos molares permanentes) e, entre esses
dois estágios, um período intertransitório, no
qual não ocorrem mudanças clínicas de erupção
dentária — entretanto, há um intenso processo
intraósseo de rizogênese dos dentes permanen-
tes . Esses estágios representam um parâmetro
2
muito utilizado na Ortodontia para determinar
a idade dentária. Os germes dos caninos perma-
nentes superiores influenciam temporariamen-
te a posição dos incisivos laterais permanentes
irrompidos. O pressionamento intraósseo dos
caninos acarreta uma convergência apical dos
incisivos laterais, promovendo uma divergên-
cia das coroas e a abertura de diastema entre
os incisivos, caracterizando a chamada “fase do
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patinho feio”3. Com a continuidade das erupções
dentárias e finalizada a erupção total dos cani-
nos superiores, é esperado o fechamento dos
diastemas entre os incisivos superiores4. Já  na
arcada inferior, o trajeto de erupção dos caninos
é mais vertical e o pressionamento desses dentes
nos ápices dos incisivos laterais é menos frequen-
te. Outros dois fatores importantes para se obter
o espaço suficiente para acomodar as coroas dos
incisivos permanentes, principalmente na arcada
inferior, são a presença de diastemas na denti-
ção decídua e o aumento da largura entre os ca-
ninos decíduos5. Dessa maneira, a compreensão
da biogênese da oclusão é necessária para que o
ortodontista tenha o conhecimento dos eventos
normais dessas fases e possa fazer o diagnóstico
precoce das anormalidades, determinando a épo-
ca mais propícia de atuação6.
A dentição mista é a fase em que podem ocorrem
as mais variadas manifestações de má oclusão.
Esse fato interfere no correto desenvolvimento
do complexo dentoalveolar e pode comprometer
o processo natural de erupção dos dentes perma-
nentes. A mecânica aplicada na dentição decídua
ou mista é denominada “Ortodontia Intercepta-
tiva”, instituída, em grande parte das vezes, com
o objetivo de ganho de espaço. Várias estratégias
de tratamento estão descritas na literatura orto-
dôntica, como extração seriada7, expansão rápi-
da da maxila8, aparelhos removíveis9 e desgastes
interproximais10. Entre as intervenções intercep-
tativas, os aparelhos fixos parciais, conhecidos
como 4 x 2, apresentam uma grande versatilidade
na fase da dentição mista, desde que aplicados
de forma criteriosa em casos selecionados. Além
disso, é fundamental cumprir o planejado em um
curto período de tempo, sem iatrogenias, como
reabsorções radiculares, impacções dentárias ou
interrupção do processo de rizogênese11.
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Pequenas irregularidades do alinhamento na suscetível à reabsorção pela compressão, seja

região dos incisivos, provocadas pela falta de pelo risco de impacção do canino permanen-
espaço durante o primeiro período de tran- te, devido ao obstáculo mecânico criado pela
sição da dentição mista, são denominadas raiz do incisivo lateral movimentada inad-
apinhamento primário. Quando os incisivos vertidamente em sua direção 10.
apresentam apinhamento, mas irrompem na
linha do rebordo alveolar, esse apinhamento Outro excelente recurso aliado a esses conceitos
é denominado de temporário. Esse tipo de ir- seriam os braquetes autoligáveis, que apresen-
regularidade também deve ser ignorado, pois tam atividade friccional reduzida, associados
tende a se autocorrigir . Porém, apinhamen- 12
a arcos e molas de NiTi. Esse sistema produz
tos anteriores mais severos, com irregulari- forças leves e contínuas, com uma mecânica
dades maiores, devem ser considerados como simplificada, e promove movimentos dentários
má oclusão, e sua correção deve ser indicada, com bom reparo periodontal e conforto ao pa-
com o objetivo de promover condições futu- ciente14-17. Além disso, os aparelhos autoligáveis
ras mais favoráveis para a erupção dos de- possibilitam uma diminuição do acúmulo de
mais dentes permanentes. Na dentição mista, placa bacteriana e de microrganismos na placa
as erupções dentárias ocorrem paulatina- subgengival, quando comparados aos braquetes
mente, em uma sequência favorável. Sendo convencionais18. Outra vantagem do sistema de
assim, as intervenções devem dar uma aten- aparelhos autoligáveis com prescrição indivi-
ção especial aos dentes que estiverem na fase dualizada associados a fios termoativados é o
de erupção na cavidade bucal13. controle da inclinação vestibular dos incisivos,
decorrente do baixo atrito associado a forças
O aparelho 4  x  2 é aplicado na dentição mis- contínuas de baixa magnitude19. Esse fato pode
ta no período intertransitório, logo depois auxiliar nos tratamentos interceptativos e nas
da erupção dos quatro incisivos permanen- mecânicas parciais, especialmente nas corre-
tes. O  termo 4  x  2 se refere aos dentes envol- ções dos apinhamentos primários definitivos20.
vidos na mecânica ortodôntica fixa, na qual
os braquetes são colados nos quatro incisivos Entre tantas indicações, essa técnica também
permanentes e os tubos são posicionados nos é utilizada para promover o desenvolvimento
dois primeiros molares permanentes. A con- transversal da arcada superior, na obtenção
sideração mais relevante dessa estratégia é de espaço para pré-molares e caninos21. Essa
efetuar a movimentação dos incisivos anco- proposta de tratamento interceptativo, com ga-
rada nos molares. Para tal, deve-se atentar nhos transversais importantes, tem reduzido
para o correto posicionamento dos braque- as indicações de extrações seriadas e até das
tes nos incisivos laterais. A íntima relação expansões rápidas da maxila, em casos espe-
do folículo dos caninos permanentes com a cíficos, com a vantagem de ser uma forma de
raiz dos incisivos laterais, principalmente na tratamento mais versátil, fácil de se adaptar e
arcada superior, exige uma maior atenção, a bem tolerada pelos pacientes, além de apresen-
fim de evitar iatrogenias irreversíveis, seja tar como meta terapêutica a possibilidade de
para a raiz do incisivo lateral já irrompido, ser executada em curto prazo22.

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Massa et al.20 citaram sete indicações preci-
sas do tratamento interceptativo parcial 4 x 2:
1)  abertura de espaço, seguida ou não de tra-
cionamento de incisivo incluso; 2) fechamento
de diastema interincisivos, objetivando ganho
de espaço para erupção dos incisivos laterais
superiores; 3)  alinhamento e nivelamento em
apinhamento definitivo; 4)  retração anteros-
superior associada à correção precoce de Pa-
drão II com protrusão dentária superior severa;
5)  protrusão de incisivos superiores em Clas-
se  II, divisão  2, liberando crescimento man-
dibular ou criando trespasse horizontal para
permitir avanço mandibular ortopédico; 6) cor-
reção de sobremordida profunda no segundo
período transitório, na época de erupção dos
caninos superiores; e 7)  correção de mordida
aberta anterior após o primeiro período transi-
tório da dentadura mista.
Da mesma forma, Moyers23 citou as contrain-
dicações da abordagem interceptativa, como:
casos em que esse tipo de intervenção só au-
mentaria tempo e custo do tratamento, em troca
de um benefício mínimo; situações clínicas em
que melhores resultados possam ser obtidos em
outra época; criança sem maturidade suficiente
para viabilizar o tratamento; casos de Classe  I
com biprotrusão; e casos de apinhamento pri-
mário temporário.
Dois fatores ainda podem causar controvérsia a
respeito do tratamento interceptativo. O primei-
ro é a movimentação ortodôntica de dentes per-
manentes jovens, que ainda não apresentam o
ápice radicular totalmente formado; e o segundo
é a movimentação ortodôntica de dentes decí-
duos. Em relação aos dentes jovens, o uso de for-
ças mais suaves promovidas pelas ligas de NiTi
parece não prejudicar a formação da raiz, e as
[ 78 ]
evidências literárias disponíveis sobre aborda-
gens precoces das más oclusões com aparelhos
fixos respaldam as intervenções interceptativas
nesses dentes22. A incorporação dos dentes decí-
duos em aparelhos ortodônticos removíveis, que
aplicam forças intermitentes e de maior inten-
sidade, já é uma prática muito comum nos tra-
tamentos ortodônticos e ortopédicos. Segundo
Consolaro24, a aplicação de forças de qualquer
natureza, em um contexto ortodôntico e/ou or-
topédico, sobre o ligamento periodontal decíduo
promove o mesmo tipo de estresse e inflamação
que se observa no ligamento periodontal per-
manente. Do  mesmo modo, acumular-se-ão os
mesmos mediadores, e a reabsorção óssea ocor-
rerá na face periodontal do osso alveolar. Dessa
forma, ocorrerá a movimentação desses dentes,
assim como nos dentes permanentes. Porém,
muitas áreas na superfície radicular dos dentes
decíduos completamente formados agora se en-
contram desnudas do “revestimento” de cemen-
toblastos, que morreram por apoptose. Sendo
assim, pode-se esperar que a rizólise dos den-
tes decíduos se acelere quando movimentados
ortodonticamente. Deve-se avaliar as vantagens
de se incorporar esses dentes na mecânica, em
detrimento de uma possível rizólise abreviada.
Assim, o presente artigo apresenta um relato de
caso clínico que mostra uma estratégia de tra-
tamento ortodôntico interceptativo na dentição
mista, no primeiro período transitório, que teve
como objetivos: efetuar a correção do apinha-
mento inferior primário definitivo; abrir espaço
para os incisivos laterais superiores; efetuar ex-
pansão transversal em ambas as arcadas; e cor-
rigir a sobremordida profunda. Para tal, foram
utilizados aparelhos autoligáveis passivos com
prescrições individualizadas, associados a arcos
de NiTi termoativados.
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CASO CLÍNICO forma das arcadas, percebeu-se uma constrição

na região dos molares e caninos decíduos, com
Diagnóstico uma inclinação excessiva de suas coroas para
Paciente do sexo masculino, com seis anos e lingual, promovendo uma redução na distância
seis meses de idade. A análise facial frontal intercaninos. Essa contração dentoalveolar era
apresentou simetria, boa proporção entre al- similar em ambas as arcadas (Fig. 2).
tura e largura da face, e terços faciais equili-
brados, características dos mesofaciais. A aná- A análise da radiografia panorâmica mostrou
lise lateral revelou um perfil convexo, com um a presença de todos os dentes permanentes,
pouco de deficiência do mento; porém, mos- exceto os terceiros molares. Presença de todos
trou selamento labial passivo e lábios harmo- os molares e caninos decíduos em condições
niosos e com boa postura. Na avaliação do sor- de normalidade, compatível com essa fase, e
riso, apresentava adequada relação entre os os pré-molares e caninos permanentes bem
incisivos e os lábios (Fig. 1). posicionados, próximo às suas raízes. Incisi-
vos laterais superiores com boa angulação;
A análise das arcadas dentárias revelou uma má porém, sem espaço suficiente para efetuar sua
oclusão de Classe  II de Angle, subdivisão direi- erupção. Os dentes e as estruturas periodon-
ta, no primeiro período transitório da dentição tais apresentavam condição de normalidade
mista. Presença dos primeiros molares e inci- compatível com o primeiro período transitório
sivos permanentes, com exceção dos incisivos da dentição mista (Fig. 3).
laterais superiores permanentes. Os incisivos
centrais superiores se encontravam em fase ati- A análise cefalométrica inicial revelou ân-
va de erupção. Os incisivos inferiores se encon- gulo do plano oclusal um pouco aumentado
travam com apinhamento permanente severo, e (PHF.POcl = 11o) e ângulo do plano mandibular
os laterais estavam posicionados por lingual dos normal (FMA = 25o). Além disso, apresentava dis-
centrais. Em relação aos dentes decíduos, apre- crepância sagital entre maxila e mandíbula um
sentava os incisivos laterais superiores e todos pouco aumentada (ANB = 8,0º e Wits = 3,0 mm).
os primeiros e segundos molares, bem como os Porém, a maxila se encontrava bem posiciona-
caninos. A linha média dentária superior se en- da (SNA = 83o) e a mandíbula, um pouco retropo-
contrava coincidente com a linha média facial; sicionada (SNB = 75º). Também mostrou incisi-
porém, a linha média inferior se apresentava vos superiores e inferiores com boa inclinação
desviada três milímetros para a direita. Os in- (1.PP = 112o e IMPA = 95o). Esses aspectos cefalo-
cisivos centrais inferiores estavam totalmente métricos, associados à análise facial, revelaram
deslocados para a direita, ocupando todo o es- uma Classe II esquelética suave, mesofacial, um
paço do incisivo lateral direito. Trespasse verti- pouco de retrognatismo mandibular e incisivos
cal aumentado, o que é muito comum nesse pe- bem posicionados, sem presença de compensa-
ríodo de transição das dentições. Ao analisar a ção dentária (Fig. 4).

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Figura 1: Vistas extrabucais iniciais.

Figura 2: Vistas intrabucais iniciais do

paciente, com má oclusão de Classe II,
subdivisão direita de Angle.

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Figura 3: Radiografia panorâmica inicial, compatível com o primeiro período Figura 4: Telerradiografia em norma lateral
transitório da dentição mista. inicial, com as medidas cefalométricas.

Descrição do caso clínico Foram utilizados braquetes metálicos autoligá-

O plano de tratamento ortodôntico interceptativo veis passivos Tellus EX (Eurodonto, Curitiba/PR),
consistiu em efetuar o alinhamento dos incisivos slot 0,022”, com prescrições individualizadas.
permanentes inferiores e obter espaços suficien- Em  ambas as arcadas, foi selecionado o baixo
tes para erupção dos incisivos laterais superio- torque (Low torque, LT): +3º nos incisivos cen-
res e caninos permanentes. Para tal, foi efetuada trais superiores e -10º nos incisivos inferiores.
uma discreta vestibularização dos incisivos e a Essa prescrição tem como objetivo aplicar um
expansão dentoalveolar das arcadas. Além disso, torque relativo resistente, para inibir a tendên-
foi promovida a distalização dos molares supe- cia de aumento da inclinação das coroas dos
riores, para melhorar a relação sagital. Essa in- incisivos, quando estiverem com uma mecânica
tervenção foi planejada para ser realizada o mais que resulte em uma força de vestibularização25.
breve possível, devendo ser finalizada após o
completo alinhamento dos incisivos permanen- A mecânica inicial instalada na arcada superior
tes e a erupção dos caninos permanentes. É im- foi parcial, na qual foram colados os braquetes
portante lembrar que, nesse tipo de abordagem, nos incisivos centrais e nos segundos molares
não se tem como objetivo tratar por completo os decíduos; já nos primeiros molares permanen-
problemas sagitais, nem dar um relacionamento tes, foram colados tubos. Nos segundos mola-
dentário ideal entre as arcadas. Essas correções res decíduos, foram instalados os braquetes de
devem ser obtidas em uma segunda fase de tra- segundos pré-molares superiores, para dimi-
tamento, após a erupção dos segundos molares. nuir o vão do arco sem apoio. Dessa forma, se
Outro aspecto a ser observado é a correção do reduz as intercorrências do arco se soltar do
trespasse vertical dos incisivos, para permitir que tubo do molar. Como não havia muitas irregu-
a mandíbula se desenvolva mais favoravelmente, laridades, o primeiro arco instalado foi o 0,018”
reduzindo problemas sagitais em pacientes com NiTi termoativado e, no mês seguinte, foi subs-
bom potencial de crescimento. tituído pelo 0,014” x 0,025” NiTi termoativado.

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Foram  posicionados dois stops (segmentos
metálicos de tubos abertos) na distal dos bra-
quetes dos incisivos centrais, para estabilizar
o arco e impedir que ele se deslocasse para um
dos lados. Nessa mecânica, não são utilizadas
elastômeros para fixar o arco aos braquetes,
e o baixo atrito deixa o arco mais livre; dessa
forma, faz-se necessário utilizar esses stops.
Esse arco ficou com um vão livre entre o se-
gundo molar decíduo e os incisivos centrais,
funcionando como uma barreira mecânica,
que afasta os tecidos moles da superfície ves-
tibular dos dentes e promove uma expansão
passiva da arcada. Juntamente com essa me-
cânica, foram instalados levantes de mor-
dida na face oclusal dos primeiros molares
permanentes, com o objetivo de efetuar uma
desoclusão total das arcadas, permitindo uma
resposta da mecânica ortodôntica sem a in-
terferência dos contatos oclusais. Os levantes
oclusais são excelentes recursos associados
aos aparelhos autoligáveis, que podem auxi-
liar ou, até mesmo, potencializar uma série de
movimentos ortodônticos26. Além disso, quan-
do instalados nos molares, possibilitam a co-
lagem dos aparelhos ortodônticos na arcada
inferior ao início do tratamento, mesmo em
casos de mordida profunda27,28.
No mês seguinte da instalação da mecânica
ortodôntica na arcada superior, foi iniciado
tratamento na arcada inferior. Isso permite
que a criança se adapte de forma gradual ao
tratamento ortodôntico. Sendo assim, a me-
cânica inferior iniciou-se com a instalação de
tubos nos primeiros molares permanentes e
nos segundos molares decíduos. Nos segun-
dos molares decíduos, foram colados tubos
de segundos molares permanentes. Já nos
primeiros molares decíduos, foram colados
[ 82 ]
braquetes de primeiros pré-molares inferio-
res. Também foram instalados braquetes nos
incisivos centrais; porém, foi colado um botão
para tracionamento de dente incluso (Morel-
li, São Paulo/SP) na face vestibular do incisi-
vo lateral esquerdo. Esse botão é usado para
substituir os braquetes nos dentes mais mal
posicionados ou com pouca disponibilidade
de espaço29. O objetivo desse botão é diminuir
a quantidade de deformação no arco ortodôn-
tico (binding), reduzindo a força aplicada nes-
ses dentes, bem como prevenir a deformação
permanente do arco e um possível travamento
da mecânica (notching). Nos caninos decíduos,
não foram instalados braquetes, com o obje-
tivo de criar um maior vão de arco livre, para
reduzir a força aplicada nos incisivos. O arco
inicial instalado foi 0,014” NiTi termoativado e
passou por dentro da alça do botão fixado no
incisivo lateral esquerdo (Fig. 5).
As revisões foram feitas mensalmente, mesmo
sem a troca dos arcos, pois as movimentações
dentárias ocorrem rapidamente e é necessário
cortar o excesso de arco que sai à distal do tubo
dos primeiros molares inferiores. Após três
meses, foi trocado o arco inferior para 0,018”
de NiTi termoativado e incorporada uma mola
aberta de NiTi, para abrir espaço para o inci-
sivo lateral direito. A seleção do comprimento
da mola para abrir espaço é feita da seguinte
forma: mede-se o espaço entre os braquetes de
onde se deseja posicioná-la e acrescenta-se 1/3
dessa distância ao comprimento total da mola.
Dessa forma, espaços mais reduzidos têm me-
nor ativação; já os maiores espaços, maior
ativação. Nesse momento, pôde-se observar a
expansão dentoalveolar das arcadas e que o
incisivo lateral inferior esquerdo já se encon-
trava mais bem posicionado (Fig. 6).
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Figura 5: Arco 0,014” x 0,025” NiTi ter-

moativado na arcada superior e arco
0,014” NiTi termoativado na arcada
inferior.

Figura 6: Arco 0,014” x 0,025” NiTi ter-

moativado na arcada superior e arco
0,018” NiTi termoativado na arcada
inferior.

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Após dois meses, na arcada superior, foi instala-
do um arco 0,019” x 0,025” NiTi termoativado com
molas abertas de NiTi, para abrir espaço para
a erupção dos incisivos laterais. A força gerada
pela mola não deve superar a capacidade do lá-
bio de inibir a tendência de inclinação descon-
trolada dos incisivos centrais. Para tal, as ativa-
ções devem ser reduzidas e servir como um es-
tímulo de baixa intensidade. Outro componente
que ajuda a inibir essa tendência de inclinação
vestibular é a prescrição de baixo torque. Essas
estratégias, juntas, ajudam a distribuir melhor
a força, aumentando o componente de distali-
zação nos molares, bem como auxiliam na ex-
pansão passiva da arcada. Além do componente
de distalização, esse arco efetua a rotação dos
primeiros molares permanentes pela própria
prescrição do tubo do molar. O vão de arco com
a mola afasta a bochecha em contato com os
dentes, promovendo um efeito similar ao escudo
do aparelho de Frankel30. Já na arcada inferior,
foi instalado um arco 0,014” x 0,025” NiTi termoa-
tivado, com uma mola aberta de NiTi, para conti-
nuar abrindo espaço para o incisivo lateral direi-
to. Vale salientar que, na fase inicial de abertura
de espaço, as revisões devem ser feitas mensal-
mente, pois os movimentos dentários nessa fase
são muito rápidos. Se as revisões forem feitas
bimestralmente ou em intervalos maiores, o fio
pode escapar do tubo do molar. Com isso, faz-se
necessária, nessa fase inicial, a troca do arco por
outros arcos de mesma espessura; porém, com
comprimento maior, para permitir a abertura de
espaço ou evitar intercorrências, como a soltura
do arco no tubo do molar (Fig. 7).
No mês seguinte, na arcada superior, foi mantido
o arco 0,019” x 0,025” NiTi termoativado e não foi
feita a troca da mola, pois ainda se encontrava
[ 84 ]
com ativação. A permanência desse arco na ar-
cada superior estimula a expansão transversal.
Na arcada inferior, foi iniciado o tracionamen-
to do incisivo lateral direito, juntamente com a
abertura de espaço. Para tal, foi instalado o arco
0,018” NiTi, termoativado, junto com a mola de
NiTi, com a mesma ativação. Porém, foi colado
um botão para tracionamento de dente incluso
no incisivo lateral e com um fio de amarrilho co-
nectado ao arco principal (Fig. 8).
Após quatro meses, o arco superior foi mantido
e a mola não foi trocada, ficou inativa e os in-
cisivos laterais irromperam. O arco suavemente
afastado das faces vestibulares dos dentes, mes-
mo sem ativação das molas, estimulou o aumen-
to transversal da arcada. Já na arcada inferior,
foi instalado o arco 0,014” e, em seguida, 0,018”
de NiTi termoativado, passando pela alça do bo-
tão, para concluir o alinhamento do incisivo la-
teral direito (Fig. 9).
Com dois meses de intervalo, o arco superior
foi mantido; já na arcada inferior, os incisivos
se encontravam alinhados, mas com inclinação
excessiva de coroa para vestibular dos incisivos
laterais. Porém, a arcada inferior ainda necessi-
tava de um pouco mais de expansão. Foi instala-
do o arco 0,014” x 0,025” NiTi termoativado, pas-
sando pelos botões dos incisivos laterais (Fig. 10).
Dois meses depois, foi mantida a mecânica na
arcada superior. Porém, na arcada inferior, para
corrigir a inclinação excessiva dos incisivos late-
rais, foram trocados os botões por braquetes, com
prescrição de baixo torque (LOW torque -10º). Des-
sa forma, foi necessário regredir o diâmetro do
arco para 0,018” NiTi termoativado, e foi colado um
botão no canino decíduo direito (Fig. 11).
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Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso

Figura 7: Arco 0,019” x 0,025” NiTi ter-

moativado na arcada superior e arco
0,014” x 0,025” NiTi termoativado na
arcada inferior.

Figura 8: Arco 0,019” x 0,025” NiTi ter-

moativado na arcada superior e arco
0,018” NiTi termoativado na arcada
inferior.

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 Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso

Figura 9: Arco 0,019” x 0,025” NiTi termoativado na arcada superior e arco 0,018” NiTi termoativado na arcada inferior.

Figura 10: Arco 0,019” x 0,025” NiTi

termoativado na arcada superior e arco
0,014” x 0,025” NiTi termoativado na
arcada inferior.

Após dois meses, pôde-se perceber a melhora da
relação dos incisivos inferiores com a troca dos
arcos inferiores; porém, os torques somente serão
expressos com a instalação de arcos retangulares
mais calibrosos. Na arcada inferior, foi instalado o
arco 0,014” x 0,025” NiTi termoativado, para finali-
zar o alinhamento dos incisivos. Com a esfoliação
do primeiro molar decíduo superior direito, ini-
cia-se o segundo período transitório. Nessa fase, é
importante solicitar uma radiografia panorâmica
para avaliar a necessidade de remoção de algum
dispositivo ortodôntico, como braquete, tubo ou
botão em algum dente decíduo que, porventura,
esteja mais suscetível a esfoliar (Fig. 12).

[ 86 ] © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2021 Aug-Sept;20(4):74-98

Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso

Figura 11: Arco 0,019” x 0,025” NiTi ter-

moativado na arcada superior e arco
0,014” NiTi termoativado na arcada
inferior.

Figura 12: Arco 0,019” x 0,025” NiTi ter-

moativado na arcada superior e arco
0,014” X 0,025” NiTi termoativado na
arcada inferior.

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 Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso
Foi solicitada a radiografia panorâmica e cons-
tatou-se que na arcada superior os caninos
permanentes se encontravam verticalizados,
bem posicionados e com as coroas próximas
às raízes dos incisivos laterais. Nesse momen-
to, é normal que os incisivos laterais apresen-
tem contra-angulação, decorrente da pressão
gerada pelo canino. Como a arcada superior
já apresentava condições favoráveis para a
erupção dos demais dentes, não foi necessá-
rio colar qualquer dispositivo ortodôntico nos
incisivos laterais. Contudo, se fosse necessário
abrir espaço para os caninos permanentes e
se houvesse a necessidade de colar braquetes
nos incisivos laterais, esses dispositivos teriam
que ser colados de maneira passiva, mantendo
a contra-angulação desses dentes, prevenindo,
dessa forma, um movimento da raiz dos inci-
sivos laterais em direção à coroa dos caninos,
que poderia acarretar problemas como impac-
ção dos caninos ou reabsorção radicular dos
incisivos laterais. Já na arcada inferior, pôde-se
observar que o canino direito se encontrava ir-
rompendo a mucosa e o esquerdo, pronto para
irromper. Porém, esse canino decíduo ainda se
encontrava fixo à mecânica ortodôntica. Nessa
fase, é importante remover todos os dispositi-
vos ortodônticos dos dentes decíduos que pos-
sam estar na fase final de esfoliação. Também
observou-se que os pré-molares se encontra-
vam bem localizados entre as raízes dos mola-
res decíduos (Fig. 13).
Os caninos inferiores já se encontravam em
uma posição favorável, irrompendo a mucosa,
e os incisivos encontravam-se com uma boa re-
lação de trespasses horizontal e vertical. Porém,
na arcada inferior ainda foi instalado o arco
0,019” x 0,025” NiTi termoativado, com a intenção
de corrigir a inclinação aumentada dos incisi-
[ 88 ]
vos laterais. Apesar do objetivo desse tratamen-
to interceptativo não ser a obtenção da oclusão
ideal, é importante posicionar melhor as raízes
desses dentes, utilizando um torque baixo, para
reduzir a tendência de recidiva quando a mecâ-
nica ortodôntica for removida (Fig. 14).
Nesse momento, o aparelho ortodôntico tinha
cumprido todos os objetivos de um tratamen-
to interceptativo e apresentava as seguintes
características: as arcadas se encontravam
com um excelente desenvolvimento transver-
sal, havia espaço suficiente para a erupção
de todos os dentes permanentes, os caninos
se encontravam em fase final de erupção e os
incisivos apresentavam uma boa relação de
trespasses horizontal e vertical. Mediante es-
ses aspectos clínicos, o aparelho ortodôntico
foi removido, pois, até finalizar a erupção de
todos os dentes permanentes, ele seria des-
necessário. Muitos casos clínicos podem dis-
pensar a segunda fase de tratamento diante
dessa condição atual; mas, caso contrário,
se necessária, a segunda fase de tratamento
pode ser executada em um período reduzido.
Após seis meses da remoção da aparatologia
ortodôntica, pôde-se observar a relação favo-
rável dos primeiros molares, apesar da rela-
ção dos caninos do lado direito em Classe  II.
Ainda pôde-se constatar a manutenção da
boa relação dos incisivos e da boa forma das
arcadas (Fig. 15).
A análise da radiografia panorâmica ao fim do
tratamento interceptativo evidenciou a presen-
ça de todos os dentes permanentes, exceto os
terceiros molares. Todos os dentes e estruturas
periodontais apresentavam uma condição de
normalidade compatível com o fim do segundo
período transitório da dentição mista (Fig. 16).
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Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso

Figura 13: Radiografia panorâmica intermediária, compatível com o segundo período transitório da dentição mista.

Figura 14: Arco 0,019” x 0,025” NiTi ter-

moativado na arcada superior e arco
0,019” x 0,025” NiTi termoativado na
arcada inferior.

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A análise cefalométrica final do tratamento inter-
ceptativo revelou que o ângulo do plano oclusal
se normalizou (PHF.POcl de 11 para 7 ) e o ângulo
º º
do plano mandibular diminuiu 3º (FMA de 25º para
23 ). Além disso, a discrepância sagital entre maxila
º
e mandíbula diminuiu um pouco (ANB de 8,0º para
6,0 e Wits de 3,0 mm para 2,3 mm); porém, a maxila
º
continuou bem posicionada (SNA de 83º para 84º) e
a mandíbula, um pouco retroposicionada (SNB de
75 para 78 ). A inclinação dos incisivos aumentou
º º
um pouco: 3º para os superiores (1.PP de 112º para
115 ) e 5 para os inferiores (IMPA de 95 para 100 ).
º º º º
Esses aspectos cefalométricos revelaram suaves
[ 90 ]
Figura 15: Vistas intrabucais seis meses
após o fim do tratamento interceptativo.
Figura 16: Radiografia panorâmica final
do tratamento interceptativo, compatível
com o fim do segundo período transitório
da dentição mista.
modificações, com redução da convexidade esque-
lética, diminuindo a Classe II esquelética, promovi-
da pelo crescimento mandibular espontâneo. Além
disso, ocorreu um pequeno aumento da inclinação
dos incisivos, decorrente da mecânica ortodôntica
interceptativa (Fig. 17).
A sobreposição dos traçados inicial e final do tra-
tamento interceptativo, total em SN, com registro
em S, revelou um avanço sagital, em dois anos de
tratamento, de 5,8 mm do Ponto A e de 10,0 mm do
Ponto B. A sobreposição parcial de maxila sobre
o plano palatino, com registro em ENA, mostrou
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Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso

uma maior extrusão dos molares em relação aos à maxila, juntamente com a rotação anti-horária
incisivos. Já a sobreposição parcial da mandíbula dos planos oclusal e mandibular, promoveram a
sobre sua base, com registro na sínfise, exibiu uma redução da convexidade facial (Fig. 18).
maior extrusão dos incisivos em relação aos mola-
res e um crescimento mais vertical dos côndilos. A análise facial final mostrou uma suave redução
Essas modificações reduziram o ângulo do plano da convexidade facial, eliminando o aspecto de de-
mandibular e do plano oclusal, promovendo uma ficiência mandibular. Além disso, continuou com
rotação desses planos no sentido anti-horário. selamento labial passivo; porém, com um sulco
Também pôde-se observar um suave aumento das mentolabial profundo. Na avaliação do sorriso,
inclinações dos incisivos superiores e inferiores. continuou com uma boa relação entre os incisivos
O maior crescimento da mandíbula em relação e os lábios (Fig. 19).

Figura 17: Telerradiografia em norma Figura 18: Sobreposição dos traçados iniciais e finais do tratamento interceptativo.
lateral final do tratamento interceptativo,
com as medidas cefalométricas.

Figura 19: Vistas extrabucais finais do tratamento interceptativo.

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RESULTADOS
Após três anos de intervalo, sem mecânica or-
todôntica ou contenções, os molares estavam
posicionados em relação de Classe  I de Angle;
porém, os caninos e pré-molares do lado direito
se encontravam em 1/4 de Classe II, necessitando
da segunda fase de tratamento ortodôntico para
corrigir seu posicionamento. Em uma avaliação
oclusal, a arcada inferior foi a que mais perdeu
um pouco do alinhamento; porém, a relação in-
terincisivos continuou com excelentes trespas-
ses vertical e horizontal (Fig. 20).
A análise facial apresentou uma pequena re-
dução na convexidade do perfil, dentro dos pa-
râmetros de normalidade, decorrente do cres-
cimento normal desse período. Ainda, pôde-se
observar um ângulo mentolabial profundo,
com a projeção do lábio inferior. Na avaliação
de sorriso, permaneceu a harmonia entre os
dentes e lábios (Fig. 21 e 22).
[ 92 ]
A radiografia panorâmica de controle três
anos pós-tratamento apresentou condições de
normalidade de todos os dentes, e estruturas
periodontais e esqueléticas condizentes com
a idade do paciente. Todos os dentes finaliza-
ram a sua erupção, com exceção dos terceiros
molares, que se encontravam em um estágio
inicial de desenvolvimento (Fig. 23).
A análise cefalométrica de controle de três anos
após o fim do tratamento interceptativo reve-
lou que o ângulo do plano oclusal diminuiu  2º
(PHF.Pocl: inicial = 11º, final = 7º, controle = 5º) e o ân-
gulo do plano mandibular diminuiu 5º (FMA: ini-
cial = 25º, final = 23º, controle = 18º). Além disso, a
discrepância sagital entre maxila e mandíbula
diminuiu um pouco (ANB: inicial = 8,0º, final = 6,0º,
controle = 3º e Wits: inicial = 3,0 mm, final = 2,3 mm,
controle = 0,0 mm), a maxila continuou bem
posicionada (SNA: inicial = 83º, final = 84º, con-
trole = 84º) e a mandíbula cresceu e chegou a
uma posição de normalidade (SNB:  inicial = 75º,
Figura 20: Vistas intrabucais três anos
após o fim do tratamento interceptativo.
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Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso

Figura 21: Vistas extrabucais três anos após o fim do tratamento interceptativo.

Figura 22: Sobreposição das imagens de

perfil inicial, final e controle.

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 Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso
final = 78º, controle = 81º). Os incisivos superiores
mantiveram a inclinação (1.PP: inicial = 112º, fi-
nal = 115 , controle = 115 ) e os inferiores aumen-
º º
taram apenas 2 e continuaram com uma boa
º
inclinação (IMPA: inicial = 95º, final = 100º, con-
trole = 102 ). Esses aspectos cefalométricos reve-
º
laram suaves modificações, com redução da
convexidade esquelética, diminuindo a Clas-
se II esquelética, promovidas pelo crescimento
mandibular espontâneo. Além disso, ocorreu a
manutenção da inclinação dos incisivos, mos-
trando estabilidade desses dentes, apesar de
os dentes inferiores perderem um pouco do
alinhamento (Fig. 24).
A sobreposição dos traçados final e controle pós-
-tratamento, total em SN, com registro em S, re-
velou um avanço sagital, em três anos sem tra-
Figura 23: Radiografia panorâmica três anos após o fim do tratamento interceptativo.
[ 94 ]
tamento, de 0,9 mm do Ponto A e de 5,3 mm do
Ponto B. A sobreposição parcial da maxila, sobre
o plano palatino, com registro em ENA, mostrou
uma maior extrusão dos molares em relação aos
incisivos. Já a sobreposição parcial da mandíbu-
la sobre sua base, com registro na sínfise, exibiu
um crescimento mais vertical dos côndilos. Es-
sas modificações foram mais suaves em relação
à primeira fase do tratamento, mas reduziram o
ângulo do plano mandibular e do plano oclusal,
promovendo uma suave rotação desses planos
no sentido anti-horário. Também pôde-se obser-
var uma manutenção das inclinações dos incisi-
vos superiores e inferiores. O maior crescimento
da mandíbula em relação à maxila, junto com a
rotação anti-horária dos planos oclusal e mandi-
bular, continuaram a promover a redução da con-
vexidade facial (Fig. 25).
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Villela HM Tratamento ortodôntico interceptativo utilizando aparelhos autoligáveis passivos com prescrições individualizadas – fase 1: relato de caso

Figura 24: Telerradiografia em norma Figura 25: Sobreposição dos traçados finais e controle três anos pós-tratamento.
lateral de controle, três anos após o fim
do tratamento interceptativo, com as
medidas cefalométricas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS ficação ou, até mesmo, dispensar uma segunda

fase de tratamento, na dentição permanente11.
Os tratamentos ortodônticos interceptativos
apresentam várias possibilidades terapêuticas O sistema de aparelhos autoligáveis com prescri-
e, nos casos de apinhamento com a presença ções variáveis é eficiente para a correção de api-
de atresia das arcadas, em que apresentam nhamentos nas más oclusões31, por meio da obten-
inclinação das coroas para lingual, a utiliza- ção de espaço na arcada, com grande capacidade
ção de aparelhos fixos autoligáveis com pres- de expansão32 e bom controle de inclinação dos
crições individualizadas associados a arcos incisivos para vestibular19,30. Apresenta, ainda, van-
de NiTi termoativados mostra-se uma ótima tagens como simplicidade da técnica, redução no
opção de tratamento, uma vez que promove desconforto para o paciente e diminuição do acú-
ganhos transversais na região posterior, com mulo de placa bacteriana e de microrganismos na
controle da inclinação dos incisivos, resultan- placa subgengival, quando comparados aos bra-
do em uma redução na indicação de extrações quetes convencionais18. No caso clínico apresen-
seriadas ou expansão rápida de maxila. tado, os braquetes com prescrição de baixo torque
(LOW torque, -10º) nos incisivos inferiores mostra-
O tratamento ortodôntico interceptativo pode ram-se eficientes para corrigir a posição das raízes
promover a normalização das relações dentá- dos incisivos laterais, que se encontravam lingua-
rias, o que propicia condições mais favoráveis lizadas. Da mesma forma, mostraram-se eficientes
para o crescimento e desenvolvimento esque- na arcada superior para controlar a tendência de
lético20, além de promover benefícios de caráter aumento de inclinação dos incisivos centrais (LOW
morfológico, estético e psicológico. Outra vanta- torque, +3º), mediante a mecânica de abertura de
gem dessa abordagem é possibilitar uma simpli- espaço para os incisivos laterais.

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Os dispositivos ortodônticos colados nos mola-
res decíduos podem ser tanto os tubos de segun-
dos molares permanentes quanto os braquetes
dos pré-molares. A vantagem dos braquetes so-
bre os tubos é a facilidade de inserção e remoção
dos arcos, devido à abertura do clipe.
A utilização de botões para tracionamento de
dente incluso é um excelente recurso para subs-
tituir os braquetes em dentes com pouca dispo-
nibilidade de espaço na coroa para efetuar a sua
colagem29. Outra vantagem desse dispositivo é
diminuir a deformação do arco, por ter apenas
um ponto de apoio. Dessa forma, reduz-se a
força imposta nesses dentes mais mal posicio-
nados. Entretanto, os botões devem ser substi-
tuídos por braquetes após a movimentação ini-
cial, para que sejam incorporadas a esses dentes
todas as características das prescrições esco-
lhidas. Porém, se houver muita deformação do
arco, mesmo com a utilização do botão, pode-se
utilizar um fio de amarrilho, com a intenção de
controlar a quantidade de deformação.
A colagem dos braquetes nos incisivos laterais
superiores deve ser individualizada, buscando
preservar a posição inicial da raiz no decorrer do
nivelamento. O nivelamento deve preservar a con-
vergência apical das raízes desses dentes, a fim de
evitar qualquer risco de colocar o ápice dos inci-
sivos laterais em contato com a coroa do canino
permanente4,11. Por isso, é importante fazer as ava-
liações periódicas, por meio de radiografias pano-
râmicas. No caso apresentado, foram colados bra-
quetes nos incisivos centrais superiores para abrir
espaço para os incisivos laterais. Depois que esses
dentes irromperam, não foram colados braquetes,
permitindo que os caninos superiores efetuassem
todo o trajeto de erupção, promovendo a conver-
gência das raízes dos incisivos laterais.
[ 96 ]
Com a utilização dos braquetes autoligáveis as-
sociados a arcos de NiTi termoativados, pôde-se
empregar uma dinâmica de consultas mais
espaçadas, reduzindo a quantidade de consul-
tas sem comprometer os resultados e nem au-
mentar o tempo global de tratamento. Maiores
intervalos entre as consultas não devem ser
aplicados na fase inicial de tratamento, durante
o ganho de espaços ou correção do apinhamen-
to, pois as movimentações são muito rápidas e
podem necessitar rapidamente de ajustes ou, até
mesmo, da troca de arcos30.
O momento ideal de se iniciar o tratamento or-
todôntico interceptativo é no fim do primeiro
período transitório, quando os incisivos já ter-
minaram sua erupção ativa, e início do inter-
transitório, quando o canino permanente ain-
da está distante do ápice dos incisivos laterais
superiores11,20,30.
No caso apresentado, as extrações seriadas e a
expansão rápida da maxila não foram utilizadas,
pois o sistema de aparelhos autoligáveis passi-
vos com prescrição individualizada apresen-
tou boa capacidade de expansão transversal32,
assim como ganho de espaço com controle da
inclinação dos incisivos, deixando, dessa forma,
a indicação das extrações dentárias para casos
de associação de apinhamentos com protrusões
dentárias33.
CONCLUSÕES
O sistema de aparelhos autoligáveis passivos
com prescrições individualizadas, associando
arcos NiTi termoativados e molas de NiTi, mos-
trou-se eficiente para ganhar espaços e aumen-
tar a dimensão transversal da arcada com con-
trole das inclinações dos incisivos.
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Essa proposta de tratamento interceptativo pode in the mandibular incisors, obtaining space for
diminuir as indicações de extrações seriadas e the lateral incisors with the need for transversal
até das expansões rápidas da maxila, em casos expansion of the dental arches.
específicos, com a vantagem de ser bem aceito
pelos pacientes, promovendo benefícios de ca- Results: Within two years of treatment, the incisors
ráter morfológico, estético e psicológico. aligned with a slight increase in their inclination.
At the three-year post-treatment evaluation, with
the permanent premolars, canines and second
molars already erupted, the space gain and the
position of the incisors remained stable even
Interceptive orthodontic treatment without retention. The most significant orthodontic
using passive self-ligating appli- effect was the correction of severe crowding in
ances with individualized prescrip- the lower arch using the LOW torque prescrip-
tions – Phase 1: Case report tion. There was a control of buccal tipping, with
initial IMPA of 95º to 100º and after three years
Abstract IMPA = 102º. In the upper arch, there was no major
Introduction: The mixed dentition is one of the buccal movement of the incisors, with an initial
stages of occlusion development, in which changes 1.PP of 112° to 115°, and after three years there was
occur not only in relation to tooth, but also to facial no change. Interceptive treatment corrected the
growth and development. At this time, several problems of tooth alignment with normalization
types of malocclusion manifestations may arise, of the horizontal and vertical overjet of the inci-
and it is an excellent time to intercept problems sors, providing a favorable condition for natural
that may interfere with the correct growth and mandibular development, with a reduction of
development of the dento-maxillary complex. the sagittal discrepancy between maxilla and
Among the various types of interceptive treat- mandible (ANB angle: initial = 8.0°, final = 6.0°, post
ments, the use of passive self-ligating fixed appli- 3-year control = 3°).
ances with variable prescriptions is an excellent
option to perform partial alignment and leveling Conclusion: This interventional treatment strategy
in some teeth. In selected cases, this mechanics was efficient in the correction of severe crowding
can reduce the indication for serial extractions or of mandibular incisors in the mixed dentition, with
rapid maxillary expansion. Its indication is more tipping control of these teeth and stable results
precise for cases in which there is crowding with after three years without retention.
normal size teeth, in the presence of arch atresia
with buccal-lingual compensation.

Objective: This article shows a clinical case that Keywords

used, as an interventional treatment option in Interceptive orthodontics. 4x2 leveling.
the mixed dentition, passive self-ligating brackets Mixed dentition. Self-ligating appli-
and variable torques to correct severe crowding ances. Variable prescriptions.

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Enviado em: 30/06/2021 - Revisado e aceito: 29/07/2021
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Endereço para correspondência: Henrique Mascarenhas Villela
dentadura mista: quantas indicações! Rev Clin Ortodon Dental Press.
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[ 98 ] © Dental Press Publishing | Clin Orthod. 2021 Aug-Sept;20(4):74-98

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