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ISSN: 2595-6825
DOI:10.34119/bjhrv5n4-016
RESUMO
A ortodontia miofuncional é uma área da odontologia que conseguiu abranger fatores que
influenciam na sáude por completo dos pacientes, como a respiração, as maloclusões e os
hábitos miofuncionais que estão inteiramente interligados com o crescimento craniofacial. O
tratamento miofuncional tem como objetivo principal atuar na causa do problema que consiste
na reeducação da musculatura da face, dessa forma será estabelecida funções corretas da boca,
ABSTRACT
Myofunctional orthodontics is an area of dentistry that has managed to cover factors that
influence the complete health of patients, such as breathing, malocclusions and myofunctional
habits that are entirely interconnected with craniofacial growth. The main objective of
myofunctional treatment is to act in the cause of the problem that consists in the reeducation of
the muscles of the face, thus correct functions of the mouth, nose, change in the shape of the
dental arch and in the occlusion of the patient that will promote correct craniofacial
development and growth. The use of Myobrace® devices in conjunction with myofunctional
exercises is part of the treatment established for patients, which consists of training the correct
positioning of the tongue, favoring the restoration of nasal breathing and correcting function
and promoting the alignment of teeth.
1 INTRODUÇÃO
A área odontológica estuda a fisiologia e a patologia do sistema estomatognático. A
região bucal realiza diversas funções, sendo as que mais se destacam, a mastigação, fala e a
deglutição. Ao passar dos anos, os cirurgiões- dentistas tem tratado os fatores que afetam a
posição dos dentes e que alteram o padrão funcional normal, no caso a disfunção. Em muitos
estudos já foi demonstrado que a disfunção oral não é causada somente pelo posicionamento
incorreto de dentes, maxila e mandíbula, como também está associada pelo excesso e falta de
atividade da musculatura envolvida na função do sistema bucal¹.
De maneira geral, antigamente a avaliação de um paciente com maloclusão buscava
identificar alterações nos tecidos mineralizados, nos ossos e dentes e não avaliava alterações na
função dos tecidos moles, nas bochechas, lábios e língua. Os modos de avaliação das alterações
em tecidos mineralizados já foram descritos na literatura por meio de diferentes medidas, por
meio de modelos, ortopantomogramas e cefalogramas laterais. Entretanto, a avaliação das
alterações da função dos tecidos moles é baseada em exame clínico e conhecimento da
fisiologia oral por completo. Dessa forma, como exemplo, os profissionais interagem com
pacientes que podem ter problemas na fala, sendo assim, importante a consciência de que todas
as estruturas são fundamentais, para a mastigação, deglutição e comunicação por meio da fala,
portanto, uma alteração na mesma pode piorar a causa do problema. Portanto, é importante uma
observação de forma detalhada da expressão facial do paciente para poder detectar algum
desvio de padrão muscular que esteja associado à disfunção oral¹.
O tratamento ideal deve levar em consideração os problemas musculares associados à
maloclusão. O objetivo deste estudo é descrever o que os autores denominam como disfunção
dos tecidos moles e dessa forma, como essa disfunção modifica o formato das arcadas e a
posição dentária¹.
Os hábitos são movimentos de contrações musculares que foram aprendidos de forma
natural, com a frequência, intensidade e duração que foram adquiridos ao longo do tempo, se
tornaram ações involuntárias. Pode ocorrer que alguns que foram de forma inconsciente
adquiridos, sejam abandonados acompanhando a maturidade e a evolução da criança, mas a
maioria destes são fixados à personalidade dela e funcionam como refúgio quando ela se sente
ameaçada ou só. Esses hábitos transmitem sensação de segurança e conforto, mas causam
alterações estruturais e funcionais graves, portanto, devem ser abandonados².
Sabe-se que as maloclusões são as mais frequentes deformidades humanas. A ausência
do aleitamento materno e a introdução de mamadeiras, se tornaram causas frequentes da
instalação dos hábitos orais e como consequência, tem as alterações estruturais e funcionais que
levam à maloclusão. Os hábitos orais são determinantes direta ou indiretamente nos desvios
morfológicos dentoalveolares e também de etiologia indiscutível da maloclusão².
Os hábitos estão diretamente ligados às funções que se dão por mecanismos reflexos,
impulsos naturais presentes ao nascimento e que se definem como padrão com o crescimento e
desenvolvimento do indivíduo no complexo ciclo natural evolutivo. Por isso, alguns autores o
consideram como um reflexo, estímulo que traz um certo prazer e satisfação. Portanto, descobrir
um hábito simplesmente não tem significado clínico se não se conhecem sua origem,
implicações e consequências².
A boca é uma das primeiras áreas do corpo a desenvolver função neuromuscular
coordenada, sendo a sucção, uma atividade de desenvolvimento, o primeiro e principal impulso,
portanto, a primeira atividade muscular coordenada da criança. Os bebês que tiveram a
amamentação materna de forma exclusiva possuem menores chances de adquirir hábitos de
sucção não-nutritivos, como a sucção digital e chupeta, que com certa frequência são
observados em crianças menores de 2 anos de idade, que não se alimentaram pelo leite materno.
A frequência, a intensidade e a duração do hábito vão determinar a urgência das condutas a
serem adotadas no atendimento dos hábitos orais².
da saúde intra-oral, dos tecidos moles e duros; proporções dento-faciais e estética facial, além
da função das estruturas orofaciais4.
A qualidade respiratória é essencial para o desenvolvimento humano, além do mais, a
respiração nasal promove o correto crescimento e desenvolvimento do complexo craniofacial e
das estruturas do sistema estomatognático. Quando a respiração ocorre de forma inadequada,
no caso, pela boca, temos uma alteração no posicionamento da cabeça, língua e mandíbula.
Sendo assim, há uma adaptação do corpo para que haja uma respiração melhor, a partir de um
hábito inadequado5.
Além disso, a respiração bucal pode ser adquirida através de um hábito inadequado
como a partir de uma amamentação inadequada e introdução de mamadeiras e chupetas, o que
gera a instalação de hábitos orais inadequados e em consequência, ocorrem alterações
estruturais e funcionais. O desmame precoce também é considerado um fator etiológico.
Durante a amamentação a criança garante uma adequada respiração nasal, através do uso
apropriado da sucção, o que estabelece um correto desenvolvimento craniofacial5.
A presença de um impedimento à respiração nasal, pode gerar um padrão de suplência
oral e, caso esse se instale durante o período de desenvolvimento, vai determinar diversas
alterações que prejudicam, de forma significativa o sistema estomatognático6.
Caso a respiração oral se instale e persista durante a fase de crescimento do indivíduo,
algumas alterações estomatognáticas poderão ser encontradas, tais como: aumento vertical da
face, assimetria facial, palato profundo e atrésico, ângulo goníaco aumentado, maloclusão
dentária, lábio superior curto e inferior evertido, postura de repouso dos lábios e da língua
alteradas, hipotonia dos músculos elevadores da mandíbula e de língua, a deglutição atípica e
alterações posturais7.
Uma das estruturas estáticas que integra o sistema estomatognático é a arcada dentária.
A mesma será considerada ideal se houver harmonia entre as estruturas e funções do sistema e
uma relação favorável entre as bases ósseas, assim como uma perfeita adaptação entre suas
superfícies oclusais e a presença de dentes em intercuspidação7.
A realização de um tratamento pré-ortodôntico na fase de dentição mista e durante o
crescimento da criança possibilita redirecionar o crescimento e interferir de forma precoce nas
maloclusões. Esse tratamento ajuda na correção dos hábitos miofuncionais que prejudicam os
padrões de crescimento craniofaciais normais e são os causadores da maloclusão. Portanto,
todos os aparelhos do Sistema Myobrace® exercitam a musculatura orofacial de forma
fisiológica, assim para se obter sustentação dos ossos, para estimular e redirecionar o
2 RELATO DE CASO
Paciente Y.T.A, sexo feminino, 6 anos, procurou tratamento com a queixa principal de
´´queixo para frente´´. Em sua anamnese, foi relatado que no período de amamentação, a
paciente teve o aleitamento materno somente por 6 meses e utilizou mamadeira até os 3 anos
de idade. Em relação ao fator hereditariedade, a mãe possui má oclusão.
A paciente (FIGURA O1) apresentava perfil côncavo e tipo facial: mesofacial.
No exame intra-oral (FIGURA 02) observou-se mordida cruzada anterior e relação de
classe III de Angle. Nas fotos intra-orais oclusais (FIGURA 03) é possível visualizar o formato
do arco, que pode ser expandido com o tratamento.
Pela radiografia panorâmica e a telerradiografia lateral (FIGURA 04) é possível
visualizar o perfil com queixo para frente, a mordida cruzada anterior, com os dentes inferiores
em oclusão à frente dos dentes superiores e a presença de dentição mista. Está no primeiro
período transitório, que consta de irrupção dos primeiros molares permanentes, esfoliação dos
incisivos decíduos, irrupção dos incisivos permanentes.
Na análise cefalométrica de Ricketts (FIGURA 05) mostrou uma implantação
anteriorizada da mandíbula e fator de classe III e pela Análise de Jarabak (FIGURA 06) que
consegue determinar as características do crescimento em direção e potencial, sendo assim, a
paciente é mal projetadora de mento e mal crescedor de mento, portanto, um bom prognóstico
para seu tratamento.
FIGURA 01: Fotos iniciais :Fotografia frontal. Fotografia sorriso. Fotografia perfil.
FIGURA 02: Fotos iniciais intra-orais: Intra-oral direita. Intra-oral frontal. Intra-oral esquerda.
Classe III foi projetado especificamente para limitar o crescimento mandibular, corrigir o
posicionamento da língua e a postura aberta da boca, problemas evidentes em maloclusões de
Classe III. É mais eficaz na dentição mista precoce (5-8 anos). O aparelho possui compensação
adicional para melhorar a correção dentária da mordida cruzada anterior.
O aparelho escolhido, o Myobrace Interceptive Classe III-i-3 é um sistema de três fases
de aparelhos desenvolvidas para corrigir os maus hábitos orais, desenvolver a maxila e a
mandíbula e alinhar os dentes. Cada estágio é voltado para uma meta particular de tratamento.
A paciente foi orientada a utilizar o aparelho Myobrace i-3, uso diurno por uma hora, realizar
os exercícios miofuncionais propostos e à noite durante o sono.
FIGURA 08: Fotos intra-orais durante o tratamento: Intra-oral direita. Intra-oral frontal. Intra-oral esquerda. Na
imagem é possível visualizar a erupção dos incisivos centrais superiores permanentes e os incivisos laterais
inferiores permanentes.
Figura 09: Fotos frontais durante o tratamento com o uso do aparelho Myobrace i-3.
FIGURA 11: Paciente em fase de tratamento com o aparelho Myobrace Interceptive Classe III- i3.
Figura 12: Fotos intra-orais durante o tratamento. Nas imagens é possível ver o encaixe dos dentes na chave de
oclusão e o final da erupção dos dentes permanentes.
Figura 13: Fotos durante o tratamento: Fotografia frontal. Fotografia sorriso. Fotografia perfil.
Durante o tratamento, em todas as consultas foi realizado avaliação intra e extra oral da
paciente, fotos, orientações dos exercícios miofuncionais e estímulo para repassar e corrigir os
exercícios feitos e reforço contínuo da importância da colaboração da paciente e dos pais, a
utilização do aparelho de forma correta e a realização das atividades para o sucesso do
tratamento em conjunto.
Foi utilizado no estágio 1, o aparelho i-3N para correção de hábitos e estabelecimento da
respiração pelo nariz. No estágio 2, foi utilizado o i-3 para desenvolvimento do arco e da
posição correta da língua. O estágio 3, o aparelho foi o Myobrace i-3H para o alinhamento e
retenção final, seu principal objetivo foi em completar a correção dos hábitos, fazer a
manutenção da deglutição e postura dos lábios e a correção da classe III.
No último estágio do tratamento foi colocado o último aparelho i-3 para utilizar como
contenção e preservar a estabilidade de todos os avanços realizados no tratamento miofuncional
que tem como objetivo atuar na causa do problema, assim como foi realizado nesse caso.
No final do tratamento, é possível visualizar uma melhora do perfil (FIGURA 08), o
reposicionamento da maxila e mandíbula, assim como o descruzamento da mordida anterior
(FIGURA 09) e a expansão do arco superior e inferior (FIGURA 10). O posicionamento dos
dentes, atráves do equilíbrio muscular, regularização da respiração nasal e posicionamento
correto da língua. Paciente terminou o tratamento em relação de classe II de molar e de canino,
intercuspidação realizada naturalmente e expansão dos arcos. As mudanças cefalométricas
podem ser acompanhadas também nas radiografias panorâmica e telerradiografia (FIGURA
11).
A análise cefalométrica de Ricketts inicial (FIGURA 12) mostrou uma implantação
anteriorizada da mandíbula, fator de classe III e a análise final é possível visualizar melhora nas
dimensões e medidas da paciente, que houve uma correção considerada em seu perfil, assim
como a tabela comparativa da análise de Jarabak, inicial e final (FIGURA 13) que mostrou que
a paciente era mal projetadora de mento e mal crescedor, o que favoreceu para o prognóstico
do tratamento, foi possível uma compensação para melhorar a correção da mordida cruzada
anterior e o desenvolvimento correto da maxila e mandídula.
Figura 16: Fotos finais intra-orais: Intra-oral direita. Intra-oral frontal. Intra-oral esquerda.
3 DISCUSSÃO
Em relação a maloclusão evidente presente na paciente, a mordida cruzada anterior é
uma das alterações de posicionamento dos dentes mais comuns. Toda maloclusão tem um
problema miofuncional associado. Essa modificação na oclusão se caracteriza quando a arcada
dentária superior, a maxila, não se encaixa corretamente com a inferior, a mandíbula, dessa
forma, o queixo é projetado para frente e os dentes inferiores ficam do lado de fora quando
morde, e isso gera um aspecto facial não harmônico.
A odontologia miofuncional teve um papel muito importante nesse caso em questão,
pois com esse tratamento foi restabelecido funções corretas da boca, da respiração nasal,
posição correta da língua em repouso no palato, oclusão, deglutição e alinhamento dos dentes,
sendo assim foi promovido um desenvolvimento e crescimento craniofacial corretos. O uso do
aparelho Myobrace i-3 estimulou o crescimento, com o uso constante e colaborativo da
paciente, através dos estímulos que o sistema nervoso processa, houve a alteração da atividade
muscular e consequentemente uma melhora significativa na face e equilíbrio da musculatura.
Foi devolvida à paciente uma melhor qualidade de vida, pois o tratamento miofuncional trata a
causa da paciente e nesse caso foi exatamente esse o maior benefício adquirido desde o processo
da história da paciente com o conjunto de informações adquiridas e todos os ganhos
conseguidos com a finalização do tratamento.
Portanto, é possível afirmar que em decorrência das mudanças adquiridas, o tratamento
realizado com a odontologia miofuncional foi eficaz nesse caso, foi restabelecido função e
estética de uma forma natural redirecionando seu crescimento para a normalidade.
REFERÊNCIAS
12. Melo J. Avaliação do Respirador Bucal: uso de aparelho miofuncional- Relato de caso.
2019; 1(3/9).