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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS ANTÔNIO GARCIA FILHO - LAGARTO


NÚCLEO DE FONOAUDIOLOGIA

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE MOTRICIDADE OROFACIAL

1. Identificação do paciente : Riam Jesus Oliveira , 8 anos, sexo masculino. Genitora: Rosenilda

Batista de Oliveira.

2. Terapeuta(s): Isabel Ribeiro Rocha Dias e Maria Victória dos Anjos Souza

3. História Clínica: Paciente nasceu com Paralisia Cerebral Espástica secundário à anóxia

nenonatal. Foi encaminhado para o serviço do CER depois de uma avaliação fonoaudiológica

hospitalar após um quadro de dispneia intensa (tem diagnóstico de asma) no ano de 2019 onde

ficou internado no HUL, este encaminhamento ocorreu devido à hipótese diagnóstica

fonoaudiológica de disfagia orofaríngea mecânica de grau leve para sólidos levando em

consideração a alteração neurológica e a necessidade de estimulação da deglutição. Além disso,

foi avaliado pela T.O que observou a dificuldade na fala e também encaminhou para o setor de

fonoaudiologia. A genitora relatou que o paciente nunca submeteu a cirurgia. Possui alergia

medicamentosa de Amoxilina e Atropina, atualmente, faz uso continuo de Clenil e Bacofleno.

5. Dados da Avaliação:

Estrutural: obtiveram os seguintes achados: face assimétrica e triangular invertida, orelha direita e

esquerda convexa, estrabismo, lábios entreabertos e lábio superior encurtado, mordida aberta

anterior e classificação de Angle classe II, dentes em bom estado de conservação, hipercontração

do músculo mentual e orbicular da boca durante o selamento labial, musculatura do bucinador e

masseter rígidas e língua hipotônica e volumosa.

Funcional: Foi feita a avaliação funcional com água utilizando o utensílio copo com bico e bolacha

de maisena, ambos ofertada pelo próprio paciente. Na avaliação da mastigação com a bolacha
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foram encontrados: Incisão inadequada do alimento, propriocepção de volume alterado, não

possui mastigação bilateral alternada por utilizar o dorso da língua e músculo bucinador para

amassar o bolo alimentar, estase no vestíbulo oral e escape oral anterior. Na deglutição houve

interposição de língua na propulsão do bolo alimentar e hipercontração da musculatura cervical,

elevação laríngea normal e ausculta cervical sem alteração. Na deglutição com água foram

achados: escape oral anterior, deglutições múltiplas e ausculta cervical limpa.

Articulação na fala imprecisa (os outros parâmetros não foram avaliados devido a paralisação do

estágio).

6. Hipóteses Diagnósticas

Disartria secundário ao diagnóstico etiológico (Paralisia Cerebral Espástica)

7. Suporte Teórico

A Paralisia cerebral (PC) ou encefalopatia crônica não progressiva é uma patologia descrita em um

grupo de disfunções não progressivas de movimento e postura associadas a um defeito prematuro

do Sistema Nervoso Central (SNC). A PC geralmente interfere no funcionamento do sistema

músculo-esquelético, o que inclui distúrbios de tônus muscular, postura e movimentos

voluntários. O tônus muscular mais frequente na PC é o espástico que é relacionada a uma

significante restrição na amplitude de movimento da musculatura afetada que gera um padrão

anormal que corresponde na inibição da musculatura antagonista comprometendo a sua

funcionalidade. Os pacientes com este diagnóstico possuem dificuldades em produzir um discurso

inteligível dificultando a comunicação entre as pessoas que rodeiam na sua vida diária 1,2,3

A disartria é considerada uma perturbação da fala que resulta de alterações na força, velocidade,

firmeza, tom de voz ou precisão dos movimentos necessários para o controle da respiração,

fonação, ressonância, articulação e aspetos prosódicos da fala. Os distúrbios da fala também


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interferem nas dificuldades de alimentação, deglutição e controlo da baba, uma vez que estão

relacionados com alterações oromotoras 4,5.

As disartrias são subdividas, em: disartria flácida, espástica, do neurónio motor superior unilateral,

hipocinética, hipercinética, atáxica e mista. Estes quadros são diferenciáveis através da etiologia e

comprometimento neurológico, assim como das características da fala e da voz. Os pacientes

portadoras de PC apresentam diversas alterações na fala, que podem ir desde leves perturbações

articulatórias até à impossibilidade de emitir um som inteligível, devido às dificuldades motoras

associadas à doença 3,6 .

No estudo de Rocha et al.7 a PC do tipo espástica apresenta repercussões nas esferas motoras e

sensoriais, das estruturas que segue desde a boca até esôfago. Logo pode se levar a crer que as

funções do sistema estomatognático podem estar comprometidas, como fala, mastigação,

deglutição. Alguns aspectos como sialorreia e má oclusão são comuns nesses pacientes

neurológicos, assim também encontrados no paciente avaliado. Ainda pode-se observar que a

maior parte da amostra do estudo (27,5%) dos pacientes apresentaram mordida aberta anterior, o

que corrobora com os achados da nossa avaliação. Além disso, foi encontrado uma dificuldade de

mastigação e devido déficit motor e sensorial houve estase em cavidade oral, dificuldade de auto

limpeza levando ao paciente estar sujeito a má-oclusão. Nesses pacientes é observado a

contratura da musculatura facial que pressiona as arcadas dentárias o que acarreta no

estreitamento da mandíbula.

Na pesquisa de Costa e Nascimento 8, foi observada sialorréia, ou seja, não era presente o

vedamento labial. Ainda o estudo mostrou que houve incapacidade de controlar os lábios,

causando escape anterior. Durante a mastigação de alimento sólido, a criança apresentou

amassamento do alimento com o dorso da língua no palato. Logo, essa falha no controle oral
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caracteriza uma ineficiência na mastigação. Além disso, nesse mesmo estudo foi encontrado um

tempo aumentado para deglutição em todas as consistências.

8. Planejamento Terapêutico

8.1 – Objetivos a curto prazo:

1- Avaliar Fala;

2- Melhorar a propriocepção oral;

3- Adequar a mobilidade do músculo bucinador.

8.2 – Objetivos a longo prazo: Adaptar a mastigação e melhorar a comunicação oral.


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REFERÊNCIAS

1 Bax M, Goldstein M, Rosenbaum P, Leviton A, Paneth N, Dan B, Jacobsson B, Damiano


D. Proposed definition and classification of cerebral palsy. Dev Med Child Neurol.
2005;47:571-6.
2 Mancini MC, Fiúza PM, Rebelo JM, Magalhães LC, Coelho ZAC, Paixão ML et al.
Comparação do desempenho de atividades funcionais em crianças com desenvolvimento
normal e crianças com paralisia cerebral. Arq Neuropsiquiatr. 2002;60(2-B):446-52
3 Santos, A. J. D. Disartria no adulto com paralisia cerebral: avaliação clínica e índice de
desvantagem. [Tese de Doutorado] Lisboa (PT): Escola Superior de Saúde do Alcoitão
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; 2016.
4 Pennington, L., Roelent, E., Thompson, V., Robson, S., Steen, N.& Miller, N. (2013).
Intensive dysarthria therapy for younger children with cerebral palsy. Developmental
Medicine & Child Neurology, 55, 464-471.
5 Sankar, C.& Mundkur, N. (2005). Cerebral palsy – definition, classification, etiology and
early diagnosis. Indian Journal Pediatric, 72 (10), 865-868.
6 Ortiz, K. (2006). Distúrbios neurológicos adquiridos: Fala e deglutição. Barueri: Manole.
7 ROCHA GS. Avaliação das Funções Motoras Orais de Pacientes Portadores de Paralisia
Cerebral Espástica do Serviço do Núcleo de Atendimento Médico Integrado – NAMI -
Fortaleza-CE, Brasil. Pesqui Bras Odontopediatria Clin Integr [Internet]. 2012 Sep
1;11(3):377–80. Available from:
http://revista.uepb.edu.br/index.php/pboci/article/viewFile/881/693
8 Costa WM, Nascimento GKBO. Análise da mastigação e deglutição na paralisia cerebral
com deficiência visual : estudo de caso. Distúrbios da Comun. 2021;33(2):204–12.

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