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CURSO DE FONOAUDIOLOGIA

CENTRO CLÍNICO DE FONOAUDIOLOGIA


Estágio Supervisionado em Motricidade Orofacial
Marco Teórico

Ceceio Lateral e Anterior

Falar é um ato que envolve as estruturas dos aparelhos respiratório e digestivo,


além de funções como respiração e deglutição. Quando qualquer um destes fatores é
afetado, podem surgir distúrbios da fala, passíveis de correção através de tratamento
especializado.
As alterações da fala têm causas fisiológicas: respiração bucal, língua,
bochechas, dentes e maxilares mal posicionados geram alterações na arcada dentária
e problemas de pronúncia das palavras. O uso prolongado de chupeta, sucção de
dedo e alimentação pastosa por muito tempo prejudicam a mobilidade e tonicidade
dos órgãos fonoarticulatórios. Fatores hereditários, traumas, timidez, e até mesmo o
bilinguismo também podem comprometer a comunicação oral da criança. Dentre as
alterações mais comuns, destacamos as seguintes: deglutição atípica: é o
pressionamento atípico da língua ou interposição anterior ou lateral da língua nos
dentes, podendo levar a alterações na pronúncia dos fonemas (/t/, /d/, /n/, /l/) e ceceio
lateral ou sigmatismo (/s/, /z/).

O desvio fonético tem como principais causas as alterações de estruturas


ósseas e/ou musculares, envolvidas na articulação e nas alterações de produção da
fala.
Modificações estruturais da cavidade oral, tais como atresia do arco superior,
má oclusão, face muito curta ou outras alterações decorrentes de traumas ou cirurgias
alteram significativamente os pontos articulatórios levando a distorções ou imprecisões
na fala, principalmente dos fonemas fricativos, sendo esses mais fáceis de serem
distorcidos por serem contínuos e, portanto, qualquer alteração no padrão de pressão
do ar pela constrição anterior da cavidade oral pode resultar na distorção desse som.
Os fonemas fricativos línguo-alveolares /s/ e /z/ são produzidos com constrição
da corrente aérea entre a ponta da língua e o alvéolo inferior. É necessário que a
borda da língua assuma forma e posição específica e precisa para que o fluxo aéreo
possa ser direcionado para os incisivos inferiores. Quando ocorre alteração dessas
condições o som é produzido de forma incorreta.
O termo ceceio refere-se à incorreta produção dos fonemas fricativos línguo-
dentais. São vários os tipos de ceceio observado, dentre eles os mais comuns são:

Ceceio central ou anterior: ocorre quando o sopro respiratório é emitido


centralmente, mas a língua encontra-se mal posicionada nos planos vertical e
ânter-posterior, em geral entres os dentes anteriores.
Ceceio lateral: ocorre quando a ponta da língua faz pressão sobre os incisivos
centrais superiores ou no alvéolo, a corrente de ar é dividida e observa-se um
escape lateral do ar pela cavidade oral.
Ceceio nasal: é relativamente raro, sendo decorrente de um insuficiente
fechamento velofaríngeo, associado à retração da língua.

 Sugestões para desenvolvimento do tema proposto:


1. Imitar o modelo do terapeuta de sopro contínuo, iniciando por treino preparatório
de inspiração nasal e expiração bucal, aumentando gradualmente o tempo de
expiração juntamente com a abertura parcial dos lábios.

2. Desenvolver propriocepção e tonicidade adequados de lábios e língua, através de


exercícios de motricidade orofacial.

3. Oferecer informações sensoriais através de:


Pistas táteis  fricção da corrente de ar restrita através dos alvéolos, dentes
frontais e língua; a ponta da língua toca os alvéolos e/ou dentes frontais inferiores;
as bordas da língua tocam os alvéolos e dentes.
Pistas cinestésicas  pouco feedback da língua, que forma um canal central e de
seu dorso elevado.
Pistas visuais  estreita abertura entre os lábios e entre os dentes frontais.
Pistas auditivas  fricção audível.

4. Demonstrar a emissão do sopro contínuo na superfície da mão do paciente ou em


tiras de papel, pena, pó de giz, etc.

5. Desenvolver a propriocepção dos pontos de contato na produção do [s], passando


a espátula, creme de chocolate, gelatina em pó, etc., nas bordas da língua,
alvéolos e face interna dos dentes superiores laterais, levando o paciente a
perceber esses pontos estimulados; fazer o mesmo com a ponta da língua e face
interna dos dentes frontais inferiores.

6. Frente ao espelho, mostrar ao paciente a linha central existente no dorso da


língua, explicando que esta área deve formar um canas central para a passagem
do ar, não podendo encostar no palato. Estimular, riscando várias vezes com a
espátula esta área, de trás para frente até a ponta, para treinar sua propriocepção,
além da escovação da língua no sentido póstero-anterior.

7. Demonstrar o lugar de produção, vagarosamente, dando um exagero visual da


formação: com a boca bem aberta mostrar onde deverá estar a ponta da língua.

8. Colocar canudinhos entre a língua e os alvéolos, demonstrando a apropriada


abertura línguo-alveolar, e para que o paciente sinta a abertura de ar através dela.

9. Se houver escape de lateral do ar, devido a não oclusão das bordas laterais da
língua contra os dentes, pressionar as bochechas contra os molares, impedindo a
saída de ar por ali e obrigando-o a escapar através do incisivos, sem realizar
protrusão de língua.

10. Utilizar o canudinho preso antes dos caninos inferiores para facilitar a posição da
língua.

11. Manipular a língua para a posição apropriada usando as etapas seguintes para a
produção: fazer o paciente imitar a abertura da boca do terapeuta
(aproximadamente dois dedos entre os dentes), protruir a língua em ponta, colocar
a ponta do dedo indicador contra a ponta da língua; suavemente, empurrá-la para
dentro da boca, (tendo-se cuidado para não deixá-la enrolada para cima), até que
a frente da língua, ampla, seja observada; direcioná-la ao ponto articulatório
correto e solicitar ao paciente para produzir o fonema desejado.

 Lembretes:
Todos os exercícios preparatórios que são utilizados no treino do /s/ para se
conseguir boa propriocepção e tonicidade da língua e lábios, bem como sopro
contínuo, podem ser considerados pré-requisitos para desenvolver o /z/, sendo
assim, pode-se utilizar todos os exercícios acrescentando a sonorização contínua
para sua correta produção.

O /z/ pode ser desenvolvido por analogia ao /s/

O /z/ pode ser desenvolvido por analogia ao /v/

O /v/ pode ser desenvolvido por analogia ao /f/.

O /S/ pode ser desenvolvido por analogia ao /s/.

 Referencias Bibliográficas:

1. Spinelli VP, Massari IC, Trenche MCB. Distúrbios Articulatórios. In: Ferreira LP,
Barros MCPP, Gomes ICD, Proença MG, et al. Temas de Fonoaudiologia. São
Paulo: Editora Loyola. 2002. Cap. 4. p. 123-96.

2. Drumond N. Ceceio: falando com a língua solta. Disponível em: http://www.


scielo .br/scielo.php? pid=S1516-80342008000100007&script=sci_arttext.
Acesso em: 25 out. 2008.

3. Leite AF, Silva SB, Britto ATBO, Di Ninno CQMS. Caracterização do ceceio em
pacientes de um centro clínico de fonoaudiologia. Revista da Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia. 13(1): 30-6. 2008.

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