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todos estes conceitos têm um papel significativo para se atingir a moderna prática
endodôntica.
Nenhum destes termos, entretanto, esclarece de modo direto e simples os
atuais objetivos da manipulação do canal radicular, que para se obter um sucesso na
prática endodôntica, o sistema de canal radicular deve ser limpo e modelado, ou seja,
limpo dos seus remanescentes orgânicos e modelado de modo a receber uma
obturação hermética e tridimensional de todo o espaço do canal radicular. É natural o
fato de que cada sistema de canal, assim como cada lesão cariosa, é diferente uma da
outra, e dentro de certa margem, o preparo de dois canais radiculares nunca serão
exatamente iguais assim como dois preparos cavitários não serão exatamente iguais. No
entanto, certos princípios de limpeza e modelagem deverão ser seguidos igualmente em
cada caso.
Limpeza e modelagem se referem à remoção de todo o substrato
orgânico do sistema de canal e, a modelagem a obtenção de uma forma específica
para cada canal a fim de receber uma obturação compacta e permanente. Isto é
obtido com instrumentos específicos, tais como: alargadores, limas e certos instrumentos
rotatórios. Este processo deve ser acompanhado sempre por princípios biológicos claros e
também com o uso de substâncias irrigadoras de grande importância. A limpeza inclui a
remoção de todos os depósitos orgânicos que poderiam servir de substrato para o
desenvolvimento bacteriano, ou então, ser a fonte de uma lesão inflamatória apical
desenvolvida a partir do metabolismo bacteriano no interior do canal com a formação
de enzimas. A modelagem implica no desenvolvimento de uma forma única para cada
canal radicular, relacionada diretamente não apenas ao comprimento de trabalho
como também com a posição e curvatura da cada canal. A forma obtida relaciona-se
não apenas com a anatomia do canal como também ao tipo do material obturador
com o qual será preenchido. Com tudo isto exposto, nota-se que muitos dos canais
radiculares no passado eram instrumentados, no entanto, não eram limpos nem
modelados.
A análise histológica dos insucessos endodônticos mostra a maneira
incorreta com que estes canais foram limpos. É mais comum encontrar em tais canais,
remanescentes de tecido pulpar necrótico ao longo das paredes, mostrando que os
mesmos foram incompletamente limpos.
O autor está convencido que a limpeza e modelagem dos canais
radiculares é a fase mais importante do tratamento endodôntico, embora a assepsia e
obturação não possam ser negligenciadas. O fato é que uma apropriada limpeza e
Schilder, H. Cleaning and shaping the root canal. Dent Clin N Amer, v. 18, n. 2, p. 269-296, Apr, 1974. 3
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percha, e além de divergir tais forças, pode ser perigoso uma vez que corremos o risco de
termos fraturas radiculares.
Somando-se a isto, vê-se que essa forma progressivamente afunilada do
canal radicular em direção apical é a melhor maneira de se conseguir a remoção de
todos os depósitos orgânicos do sistema de canal radicular, através da ação das limas e
das soluções irrigadoras. A única exceção á este princípio de se estabelecer um
diâmetro progressivamente menor é naqueles casos de reabsorções radiculares internas,
onde se seguirmos à risca este princípio iremos enfraquecer sobremaneira à estrutura
radicular.
original, mas que não perfuraram a superfície da raiz são muito grandes. O tratamento de
canal radicular, para se ter sucesso, implica no tratamento dos canais radiculares
existentes e não na criação de canais radiculares artificiais. Desta maneira, perfurações
nas raízes que não tem nenhuma relação com a direção original do canal, levam ao
insucesso, embora radiograficamente possa ter uma imagem satisfatória vista aos olhos
de uma pessoa inexperiente.
O terceiro objetivo diz respeito à manutenção da curvatura natural dos
canais radiculares, que deverá ser seguida na obturação com guta-percha. Uma boa
conduta recomendada aos clínicos é a revisão cuidadosa da curvatura natural das raízes
de um grande número de dentes extraídos, bem como da colocação de tais dentes em
soluções corantes, tais como azul de metileno, a fim de observar o padrão da anatomia
dos canais radiculares que ocorre na porção apical. Canais radiculares apropriadamente
preparados deverão manter estas curvaturas apicais, o que poderá ser evidenciado na
radiografia final do caso.
dentes com curvaturas radiculares acentuadas, este forame apical pode até mesmo ser
transportado a 1 mm ou mais durante a instrumentação. Mesmo que se tome muito
cuidado este transporte indesejável do forame ocorre comumente durante o tratamento
até mesmo em incisivos laterais superiores com leves curvaturas, e mais comumente
durante a instrumentação de canais mesio- vestibulares de molares superiores. Nenhuma
raiz está livre desta ocorrência. Assim, caso se crie um forame em forma de lágrima,
teremos a sua porção mais estreita localizada ao lado da posição original do forame e a
mais larga localizada no lado oposto onde os instrumentos mais calibrosos trabalharam.
Acessos coronários inadequados que restringem os cabos bem como o
corpo das limas promove com facilidade o transporte do forame apical, assim como
inadequado preparo do corpo do canal durante procedimentos de limpeza e
modelagem. A embocadura do canal radicular, bem como sua porção média deve ser
corretamente preparada a fim de que os instrumentos possam ser efetivamente
manipulados pela mão do operador, e não por simples mudanças devido a reentrâncias
de dentina e esmalte na porção coronária ou na entrada dos canais.
A maneira mais severa de deslocamento do forame apical é a perfuração
da raiz. Isto ocorre quando temos raspas de dentina ou restos de tecido pulpar
bloqueando a curvatura radicular apical somado a um acesso coronário restrito e a
memória elástica dos instrumentos, bem como uma direção de instrumentação
inadequada.
Para reduzirmos a ocorrência da formação de forames apicais em forma de
lágrima, bem como de pequenas perfurações radiculares, é de grande auxílio que
encurvemos previamente a ponta dos instrumentos a serem utilizados de forma a
imitarmos a curvatura dos canais radiculares.
processos de compactação. Desta forma se tivermos uma abertura apical menor, estes
procedimentos de compactação serão simplificados. Obviamente nos casos de necrose
pulpar, alargamento suficiente deve ser realizado para assegurar a completa limpeza
desta região, mas deve ser evitada a remoção excessiva de dentina apical. O
alargamento desnecessário do forame compromete as fibras periodontais predispondo a
uma inflamação periapical crônica não contribuindo de modo algum para o sucesso do
caso.
O tamanho real do forame preparado varia consideravelmente
dependendo do tamanho deste e da forma do canal original. Somando-se o princípio de
que o forame deve ser mantido tão pequeno quanto isto for prático, tem-se então que o
quanto de preparo a ser realizado dependerá da situação clínica presente. Por exemplo,
dentes permanentes jovens, mesmo com rizogênese incompleta, e dentes com
reabsorções radiculares, provavelmente terão aberturas apicais mais largas após a
limpeza e modelagem. Isto depende muito do julgamento clínico, desde que estes
forames relativamente largos sejam suficientes pequenos para que se possa realizar uma
boa obturação destes casos.
Experiências "in vivo" e '"in vitro" confirmam que uma abertura apical
mínima, equivalente a uma lima nº 3 (# 25) é o desejável para uma obturação com guta-
percha. Oportunamente será demonstrado que a guta-percha poderá ser compactada
dentro de espaços muito pequenos, assim uma boa obturação poderá ser obtida
quando se cria um espaço com uma lima nº 3 (#25) realizado por qualquer dentista.
adequado para realizar uma incisão para a drenagem. A instrumentação além do ápice
nestes casos onde já há pus na região periapical em geral auxilia o estabelecimento da
drenagem e providencia um alívio imediato de dor do paciente. A outra situação que se
beneficia de uma sobre-instrumentação intencional através do forame apical é quando
se suspeita que uma lesão periapical seja cística. Existem evidências que indicam que o
desenvolvimento de uma inflamação subclínica pode beneficiar levando ao colapso e
regressão do tecido epitelial cístico, evitando-se assim uma intervenção cirúrgica destas
lesões.
02. CUIDAR PARA NÃO SE BOMBEAR MATERIAL NECROTICO PARA ALÉM DO FORAME
APICAL. Muito já foi escrito a respeito deste aspecto, visto que muitas das sensibilidades
pós-operatórias têm sido devido ao bombeamento de material necrótico e de
microorganismos para os tecidos periapicais durante o preparo do canal. Existem
evidências que indicam que a instrumentação ultrapassando o ápice de canais
radiculares infectados resultou em bacteremias transitórias detectáveis, ao passo que,
quando a instrumentação se deu dentro dos limites dos canais radiculares tivemos
culturas sanguíneas negativas durante e após o tratamento.
Hoje em dia, um considerável número de endodontistas promove a
limpeza e modelagem nos casos de polpa necrótica em uma única sessão, trabalhando
ao nível ou próximo ao forame apical. Promovendo-se o controle dos instrumentos de
modo que eles não ultrapassem o forame, vemos que efeitos adversos têm diminuído. Em
996 dentes tratados na Universidade de Boston, na clínica de Endodontia e Dentística no
ano de 1972, observou-se que complicações pós-operatórias ocorreram em menos de
1,1% dos dentes tratados e em menos de 0,5% dos que tiveram seus canais limpos e
modelados. Embora os instrumentos tenham sido controlados de modo a não ultrapassar
o ápice através de um controle radiográfico, não se pode pensar que nenhum material
necrótico e microorganismos não foram depositados além do forame apical. Parece
haver uma relação direta entre as alterações pós-operatórias com a quantidade de
depósitos necróticos que foram inseridos dentro dos tecidos periapicais e uma relação
inversa quando desempenhamos bem a limpeza e modelagem do canal radicular.
04. LIMPEZA E MODELAGEM DE DENTES COM ÚNICO CANAL EM UMA SESSÃO. No passado,
as agudizações após a instrumentação do canal radicular eram muito mais freqüentes do
que o são hoje em dia. Sem ser surpresa para nós, a limpeza e modelagem
principalmente de canais com material necrótico foi afetado de uma maneira diferente
do que é hoje. Antigamente, os endodontistas temiam aproximar-se do forame apical de
canais infectados para efetivamente limpá-los sem antes que se fizesse um tratamento
com drogas anti-sépticas, químico cáustico, e um igual número de penetrações parciais
com limas nos terços cervical e médio do canal radicular. Paradoxalmente, eles sempre
tinham as agudizações pós-operatórias que temiam pelo selamento da câmara pulpar
com material séptico dentro dos canais radiculares. Estas drogas irritantes não
trabalhavam no sentido de esterilizar os depósitos infectados, mas na verdade,
contribuíam para haver um aumento da dor pós-operatória.
Autores de renome indicavam a necessidade de uma dúzia ou mais de
visitas para que se pudessem esterilizar efetivamente os canais radiculares, enquanto
outros descreviam procedimentos elaborosos a fim de se lidar com problemas que eram
previstos após a primeira instrumentação de canais infectados. Houve uma época em
que os grandes nomes da endodontia recomendavam a colocação de medicamentos
dentro dos canais radiculares infectados não instrumentados que eram selados apenas
com verniz sob o acesso cavitário, para que desse modo o próprio paciente pudesse
remover o curativo assim que surgissem as dores pós-operatórias previamente
antecipadas. Também era indicado que se obtivesse culturas negativas da câmara
pulpar antes que se iniciasse a instrumentação do canal radicular, o que era uma atitude
completamente equivocada.
O fato de se deixar substratos nos canais radiculares necróticos predispõe a
complicações pós-operatórias. Removendo estes substratos, reduziremos a probabilidade
de infecção bem como o desconforto do paciente. O quanto antes e melhor
removermos esses substratos, mais rapidamente esses canais poderão ser esterilizados e
Schilder, H. Cleaning and shaping the root canal. Dent Clin N Amer, v. 18, n. 2, p. 269-296, Apr, 1974. 14
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obturados e mais efetivo poderá ser o tratamento desse conduto radicular. O substrato
removido do canal radicular não poderá causar problemas entre as sessões do
tratamento.
A limpeza e modelagem de dentes que apresentam múltiplos canais são
mais bem efetuadas quando se prepara cada canal separadamente e completamente
antes de se passar para o próximo canal do mesmo dente. Isto porque cada canal tem
uma forma específica. Esse conceito é muito bem aceito por parte dos estudantes, mas,
por parte daqueles praticantes que já estão acostumados a manipular vários canais ao
mesmo tempo, devem ser novamente treinados para essa nova maneira de trabalhar. O
bom senso e a prática mostram que se uma igual atenção deve ser dada para todos os
canais de um dente multiradicular, não perderemos mais tempo no preparo de um único
canal de cada vez do que se prepararmos dois três ou quatro canais ao mesmo tempo. O
preparo de um único canal numa sessão permite uma completa concentração nos
objetivos mecânicos e biológicos da limpeza e modelagem e os resultados desses
procedimentos serão muito melhores.
periapical que pode se acumular entre as sessões de tratamento, alivia a pressão apical e
previne a percolação além do ápice radicular. Desse modo, um preparado meticuloso
do canal através da remoção de todo substrato orgânico, além de reduzir a quantidade
de medicação necessária entre sessões permite que se use menos, e dessa maneira
menor irritação pelas drogas poderá ocorrer.