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Obturação Endodôntica

Aspectos Gerais, Técnicas e Materiais Obturadores


por Eduardo Luiz Barbin e Nádia de Souza Ferreira

1 Introdução

Na fase da obturação endodôntica, o volume do canal dentinário, anteriormente


preenchido pela polpa e previamente preparado biomecanicamente, é preenchido pela obturação
endodôntica.
Obturar um canal radicular significa preenchê-lo em toda a sua extensão com um material
inerte ou antisséptico, que sele, da maneira mais hermética possível, permitindo ou estimulando
o processo de reparo apical e periapical (LEONARDO, 2008). A obturação endodôntica pode ser
considerada um “Retrato da Endodontia”, pois é nesta fase que fica evidente se as etapas
anteriores foram realizadas adequadamente. Assim, uma abertura coronária incorreta leva a um
preparo biomecânico (PBM) e a uma obturação endodôntica deficientes. Nesses casos, a
infecção permanecerá no canal radicular com grandes chances de insucesso do tratamento
endodôntico.
Os insucessos da terapêutica endodôntica estão intimamente relacionados com os canais
mal obturados sendo que o reverso é verdadeiro, isto é, canais bem obturados estão
correlacionados a casos clínicos bem sucedidos (LEONARDO, 2008). Ingle (1962) observou que
a obturação incompleta estava associada a 58,66% dos casos de insucesso acompanhados em seu
estudo.
Nair et al. (2004) exibiram evidências microscópicas significativas da manutenção de
microrganismos no sistema de canais radiculares após a terapêutica endodôntica completa
realizada em uma única sessão, incluindo obturação, de dentes com necrose pulpar e periodontite
apical primária (lesão periapical). Considerando-se que a obturação endodôntica pode ser
realizada em um dente cujo sistema de canais radiculares contenha infecção microbiana residual
ao preparo biomecânico, a obturação hermética torna-se extremamente necessária. Destacam-se,
portanto, as finalidades seladora e antimicrobiana da obturação endodôntica que tornam a
obturação hermética eficaz, principalmente, nos casos de necrose pulpar associada à
periapicopatia crônica (lesão periapical).
A obturação insatisfatória que não sela o canal ou que não se estende por todo o volume
do canal dentinário permite volumes vazios que podem ser preenchidos por exsudato (nos casos
de necrose pulpar associada à lesão periapical) ou por tecido de granulação. O exsudato
estagnado poderia gerar inflamação na região periapical; por outro lado, extensões elevadas do
canal radicular (4 a 8 milímetros) preenchidas por tecido de granulação estariam associadas com
reações inflamatórias.

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A obturação endodôntica deve, portanto, criar condições para o reparo apical e periapical
pela não interferência ou até mesmo estimulação. Nas biopulpectomias, a obturação deve
preservar a vitalidade do coto pulpar e nas necropulpectomias garantir o controle da infecção,
ambos com total respeito aos tecidos.

2 Limite Apical da Obturação

Considerando que o dente apresenta em seu interior uma cavidade (cavidade


endodôntica) onde, em situação de saúde, localiza-se o tecido pulpar, denomina-se, de Câmara
Pulpar, a seção que se encontra na altura da coroa dental; de Canal Dentinário, a seção cônica
convergente para o ápice dental da porção radicular; e Canal Cementário, a porção cônica
terminal divergente para o ápice dental do canal radicular. Tal descrição torna-se relevante, uma
vez que a obturação endodôntica deve ficar restrita ao canal dentinário denominado Campo de
Ação do Endodontista. O canal cementário, como o próprio nome já explica, é preenchido por
um tecido conjuntivo fibroso de característica periodontal extremamente irrigado e deve ser
considerado, sempre que possível (Biopulpectomias e Necropulpectomias I), como área de
preservação, exceto quando se faz necessário, em casos de necrose pulpar com periodontite
apical crônica (Necropulpectomias II), o desbridamento ou patência (canal cementário e forame
apical), sendo esta uma medida pontual que não incorre na obturação desta seção (canal
cementário), mas, apenas, na sua limpeza e/ou desobstrução (De DEUS; LEONARDO, 2004).
Leonardo afirma, em 2004, que a extensão de preservação da extremidade apical do canal
radicular é diagnóstico dependente devendo estar entre 1 e 2 milímetros nos casos SEM
Periodontites Apicais Crônicas (lesão periapical) e ser de 1 milímetro QUANDO HÁ
Periodontites Apicais Crônicas (lesão periapical). A extensão de preservação apical deve ser
determinada antes da instrumentação endodôntica para que se determine na extremidade apical
do canal cirúrgico (limite apical de trabalho) um batente apical para a adaptação do cone de guta-
percha principal. Assim, o limite apical de trabalho e de obturação corresponderiam ao
comprimento real de trabalho (CRT). O limite de obturação pode influenciar o sucesso do
tratamento endodôntico. Sjögren (1990) observou que, casos onde a obturação (extremidade
apical) estava de 0 a 2 mm aquém do forame, o índice de sucesso foi de 94%; em casos onde a
obturação se encontrava mais de 2 mm aquém do forame, o índice de sucesso caiu para 68% e,
nos casos em que houve sobre extensão, ou seja, o cone de guta-percha foi levado além do
forame, o índice de sucesso foi de 76%.
Em alguns casos, o cone de guta-percha (extremidade apical) encontra-se no limite entre
o canal dentinário e o canal cementário (Limite CDC), mas ocorre o extravasamento dos

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cimentos endodônticos (sobre obturação). Nesses casos pode ocorrer a fagocitose e dissolução
destes materiais (cimentos solúveis) ou então o material poderá ser encapsulado por tecido
conjuntivo fibroso (cimentos insolúveis).

3 Momento Oportuno para a Obturação Endodôntica

O momento oportuno para a obturação endodôntica pode ser considerado como sendo
diagnóstico dependente, ou seja, casos sem Periodontite Apical Crônica (sem lesão periapical)
poderiam ser tratados e obturados em uma única sessão, salvo intercorrências; por outro lado,
casos com Periodontite Apical Crônica (com lesão periapical) poderiam ser tratados em duas ou
mais sessões com aplicação de uma medicação tópica intracanal contendo hidróxido de cálcio
(ESTRELA; HOLLAND, 2003; BARBIN, 2008).

4 Ocorrências que Contraindicam a Obturação Endodôntica

Os canais radiculares devem ser obturados depois do PREPARO BIOMECÂNICO


COMPLETO, mas algumas ocorrências contraindicam a obturação endodôntica, mesmo após a
ação de instrumentos e soluções irrigadoras, são elas:
=> presença de exsudato periapical,
- significa que o tratamento foi ineficaz para eliminar a microbiota ou agentes irritantes ou o tratamento
foi realizado de forma inadequada, causando agressão química ou física. Assim o exsudato persistente
pode ser de origem bacteriana, física ou traumática ou, ainda, química ou medicamentosa;
=> sintomatologia: devem ser realizados testes de sensibilidade à percussão/palpação apical, e
observado se o paciente relata sensação de dente extruído ou dor espontânea. A presença de
fístula ou edema também impede a realização da obturação. Nesses casos deve ser utilizada
medicação intracanal;
=> odor fétido: indica permanência de infecção com proliferação de microrganismos;
=> exposição do canal à cavidade oral por rompimento da restauração provisória. Nesses casos,
o canal deve ser novamente desinfetado e deverá ser inserida uma nova medicação intracanal.

Se nenhuma destas condições forem observadas o canal radicular poderá ser obturado.
Neste momento deve ser realizada a irrigação final com EDTA 17% por 3-5 minutos, irrigação
com Hipoclorito de Sódio para remoção do EDTA, aspiração com cânulas aspiradoras de
pequeno calibre e secagem completa do canal com cones de papel absorvente esterilizados de
calibre igual a LAF (Lima Apical Final) no CRT.
A casuística tem demonstrado que, mesmo depois do rompimento da restauração
provisória, observa-se que a pasta de hidróxido de cálcio se mantem na cavidade endodôntica.

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Neste caso, ainda de deve proceder à desinfeção do canal e aplicar nova medicação intracanal,
embora a pasta de hidróxido de cálcio possa ter cumprido uma de suas funções: a de bloquear a
penetração de microrganismos na porção mais apical do canal radicular.
Exposição da obturação endodôntica ao meio bucal pelo período crítico de três (3) meses
ou mais contraindicaria a obturação e indicaria, por sua vez, o retratramento endodôntico
(LOPES; SIQUEIRA, 2013).

5 Aspectos Gerais dos Materiais Obturadores dos Canais Radiculares

O reparo apical que se espera obter depois da terapêutica endodôntica está intimamente
ligado à perícia com a qual se executa cada fase do tratamento. Com relação à obturação
endodôntica, destacam-se:
=> a escultura ou modelagem do batente apical, ampliação e divergência do canal dentinário;
=> a correta determinação do limite apical de instrumentação e de obturação;
=> a natureza do material obturador.

Devido ao contato entre o material obturador e os tecidos apicais e periapicais, pode


ocorrer uma reação inflamatória que se não for controlada poderá atrapalhar a recuperação dos
tecidos afetados.
Portanto, o material obturador além de possuir características físico-químicas capazes de
garantir a obturação hermética do canal radicular, deve ser, ao menos, inerte e apresentar
compatibilidade biológica com os tecidos apicais e periapicais. No entanto, mais oportuno seria o
material obturador capaz de induzir a reparação tecidual por meio da mineralização apical e do
selamento biológico do forame apical (respostas ideais).
Um dos modelos utilizados para a obturação endodôntica hermética consiste na utilização
de cones de guta-percha principal e secundários ou acessórios (materiais sólidos), os quais são
bem tolerados pelos tecidos, e um material plástico (no momento da obturação) que preenche os
espaços entre os cones e entre eles e a parede dentinária tornando-se sólido posteriormente.
Dentre os materiais obturadores plásticos, vários cimentos foram introduzidos no
mercado sendo os mais utilizados aqueles à base de Óxido de Zinco e Eugenol (desempenho
físico-químico satisfatório, baixo custo, mas comportamento biológico não favorável causando
inflamação crônica e injúria tecidual atribuída ao Eugenol livre).
A escolha do material plástico para a obturação endodôntica deve basear-se nos seguintes
aspectos biológicos:
=> tolerância tecidual;
=> reabsorvível no periápice, se extravasado além-forame;
=> permitir ou estimular a deposição de tecido de reparação;

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=> ação antimicrobiana;
=> sem ação antigênica (sem desencadear a inflamação ou resposta imune);
=> sem efeito mutagênico ou carcinogênico.
Tal escolha também deve alicerçar-se em aspectos físico-químicos, tais como:
=> Fácil inserção e remoção, se necessário;
=> Ser plástico na inserção, tornando-se sólido posteriormente;
=> Permitir bom tempo de trabalho;
=> Propiciar bom selamento dos canais radiculares;
=> Não sofrer contração;
=> Não solúvel;
=> Bom escoamento, viscosidade e aderência;
=> Ser radiopaco;
=> Não manchar estruturas dentais.

6 Classificação dos Materiais Obturadores

Os materiais obturadores podem ser classificados quanto ao estado físico no momento da


obturação, em:
=> sólidos (cones de guta-percha e de resina);
=> plásticos (cimentos endodônticos).

6.1 Materiais em Estado Sólido

O material sólido empregado na obturação endodôntica é apresentado na forma de cones


compostos por guta-percha ou por resina (polímero Resilon).
Os cones de guta-percha apresentam tolerância biológica o que provê condições para a
deposição de tecido mineralizado. O cone de guta-percha é considerado o material sólido de
escolha para a obturação endodôntica sendo o mais utilizado no mundo na técnica da
condensação lateral ativa.
Os cones de guta-percha principais e auxiliares/acessórios devem ser conservados em
local fresco, ao abrigo da luz e em recipiente com tampa hermética para conservar a sua
flexibilidade, propriedade importante para se evitar fraturas e facilitar a condensação lateral.
Apresentam como vantagens a radiopacidade, não ser solúvel nos fluídos teciduais, não manchar
estruturas dentais, ser bem tolerado pelos tecidos, fácil de ser plastificada e de ser removido dos
canais, se necessário.

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Os cones de guta-percha apresentam as desvantagens de não apresentarem rigidez, serem
deslocados facilmente pela pressão e não apresentarem adesividade à dentina.
Mais recentemente, cones principais e auxiliares (acessórios) de resina (polímero
sintético denominado Resilon) foram projetados para utilização em conjunto com cimentos à
base de resina denominados Epiphany (Sistemas de Obturação Epiphany com Resilon) e Real
Seal (LEONARDO, 2008).
Os cones para obturação endodôntica são, basicamente, de dois tipos:
=> cones principais e
=> cones secundários ou acessórios.

6.1.1 Cones Principais

Os cones principais são utilizados no comprimento real de trabalho (CRT) e se ajustam


no batente apical esculpido no limite apical de trabalho, nas proximidades do limite CDC e, em
conjunto com o material plástico, apresentam as propriedades para, com rigor de técnica e depois
do preparo biomecânico eficiente, vedar hermeticamente o canal dentinário e permitir a
reparação apical e periapical.
Os cones principais seguem, em linhas gerais, as mesmas características dos instrumentos
(limas) endodônticos como numeração referente ao diâmetro nominal na ponta do instrumento/cone
e índice de conicidade ou “taper” que, em geral, é de 0,02 mm de elevação de diâmetro por milímetro
de comprimento da haste helicoidal a partir da extremidade apical. No entanto, é possível adquirir, no
mercado brasileiro, cones principais com “taper” 0,04 e 0,06, por exemplo.

6.1.2 Cones Secundários ou Acessórios

Os cones secundários ou acessórios são utilizados na condensação lateral e podem ser


encontrados em diferentes cores, diâmetros da ponta, e índices de conicidade (“taper”), a saber:
=> a letra “R” indica, geralmente, a cor rosa e a “B”, branca.
=> Cones Secundários/Acessórios Tipo/Nº 7 equivalem aos cones Extra-Fine (XF);
=> Cones Secundários/Acessórios Tipo/Nº 8 equivalem aos cones Fine Fine (FF);
=> Cones Secundários/Acessórios Tipo S equivalem, nos casulos, em duplas, da esquerda para a
direita, aos cones Medium-Fine (MF), Fine (F) e Fine-Medium (FM).

A Figura 6.1.2.a relaciona tamanha, diâmetro e conicidade dos cones


Secundários/Acessórios.

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R7/B7
R8/B8
RS/BS Esq
RS/BS Centro
RS/BS Dir

Figura 6.1.2-a. Diâmetros e Índices de Conicidade dos Cones Auxiliares/Acessórios (LOPES; SIQUEIRA
JR, 2010; LOPES; SIQUEIRA JR, 2015).

A Figura 6.1.2-b ilustra as imagens dos cones secundários / acessórios seriados de XF até L, bem
como de XF até XL.

Figura 6.1.2-b. Cones auxiliares ou acessórios. A série XF até L, à esquerda, da marca DiaDent.

Figura 6.1.2-c. Cones auxiliares/acessórios Tipo/Nº 7, Tipo/Nº 8 e Tipo S.

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Tamanho/Sigla
Tamanho/Nome (Inglês) Tamanho/Nome (Português) Tipo/Nº
(Inglês)
1 EXTRA-FINE (XF) Extra-Fino/Extrafino XF R7/B7
2 FINE-FINE (FF) Fino-Fino FF R8/B8
3 MEDIUM-FINE (MF) Médio-Fino MF RS (esquerda)
4 FINE (F) Fino F RS (centro)
5 FINE-MEDIUM (FM) Fino-Médio FM RS (direita)
6 MEDIUM (M) Médio M
7 MEDIUM-LARGE (ML) Médio-Grande ML
8 LARGE (L) Grande L
9 EXTRA-LARGE (XL) Extra-Grande/Extragrande XL
Figura 6.1.2-d. Quadro correlacionando a nomenclatura ao tamanho dos cones auxiliares / acessórios
(LOPES; SIQUEIRA JR, 2010; LOPES; SIQUEIRA JR, 2015).

Desta forma, os cones auxiliares / acessórios R7 ou B7 possuem a ponta mais fina e a


conicidade menor. Os cones R8/B8 apresentam diâmetro da ponta e conicidade maiores que o
R7/B7. Os RS/BS contam com diâmetro da ponta e índice de conicidade maiores que o R8/B8,
sendo que, nas caixas de cones RS/BS, o diâmetro da ponta e a conicidade aumentam nos
casulos, geralmente, em dupla, da esquerda para a direita (Figura 6.1.2-c).

6.2 Materiais em Estado Plástico

Os materiais em estado plástico são representados pelos cimentos endodônticos cuja


utilização é sempre associada aos cones de guta-percha para se produzir a obturação hermética
do canal dentinário.
Os cimentos endodônticos apresentam-se comercialmente, em sua grande maioria,
constituídos de um pó e um líquido, embora se encontrem as apresentações pasta e pó e pasta e
pasta. Cabe salientar que os cimentos são manipulados no momento da sua utilização sofrendo
presa, endurecimento, solidificação e/ou polimerização e, por esse motivo, diferem das pastas
medicamentosas que não endurecem ou solidificam.
Leonardo, em 2008, classificou os cimentos endodônticos quanto ao componente mais
significativo:
=> à base do óxido de zinco e eugenol;
=> à base de resinas plásticas;
=> à base de hidróxido de cálcio;
=> à base de ionômero de vidro;
=> à base de silicone.
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O estudo e o desenvolvimento dos novos cimentos endodônticos são realizados
continuamente. Assim, têm sido propostos cimentos derivados de extratos naturais (mamona e
copaíba) e biocerâmicos. Uma bateria de ensaios in vitro e in vivo devem ser considerados para
utilização na terapia endodôntica, bem como aprovação, no Brasil, pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA).

6.2.1 Cimentos à Base do Óxido de Zinco e Eugenol

Os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol foram introduzidos inicialmente por


Grossman em 1936 para serem utilizados associados aos cones de guta-percha ou de prata.
Para que se contemplassem as necessidades da obturação endodôntica, tornou-se
necessário modificar as propriedades físico-químicas e biológicas do cimento de óxido de zinco
e eugenol. Tais modificações se dão pela adição de substâncias com a finalidade de se conseguir
propriedades mais oportunas, tais como:
=> radiopacidade;
=> plasticidade;
=> escoamento;
=> adesividade;
=> tempo de trabalho;
=> tempo de presa;
=> tolerância tecidual (corticosteroide);
=> ação antimicrobiana.

Apesar de a leve ação antimicrobiana ser mais significativa na fase plástica, ou seja, em
consistência fluida, o comportamento desses cimentos não é biologicamente favorável devido ao
Eugenol estando, sua utilização, correlacionada tanto em modelos animais quanto humanos, à:
=> processo inflamatório crônico;
=> injúria tecidual;
=> citotoxicidade;
=> depressão celular (redução do metabolismo celular);
=> ausência de selamento apical completo;
=> edema periapical;
=> necrose do tecido do canal cementário;
=> efeito residual do eugenol de até 10 anos.

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As apresentações comerciais mais utilizadas desses cimentos foram as seguintes:
=> Proco-Sol (Cimento de Grossman);
=> Kerr Pulp Canal Sealer (Cimento de Rickert), mais utilizado nos Estados Unidos da América (EUA).

Salienta-se que a água ou umidade pode acelerar a presa ou endurecimento dos cimentos
à Base do Óxido de Zinco e Eugenol reduzindo o tempo de trabalho. Desta feita, cuidados com a
utilização de instrumentos secos e da manutenção do material sempre fechado, principalmente
em localidades de clima úmido, são imperativos.

6.2.1.1 Cimentos de Grossman

A fórmula inicial de Grossman desencadeava a formação de sulfatos pela prata


ocasionando a alteração de cor do dente. A fórmula inicial continha as seguintes substâncias:
=> Pó - Óxido de zinco;
=> Pó - Prata precipitada;
=> Pó - Óxido de magnésio;
=> Líquido - Eugenol.
Em 1958, Grossman alterou os componentes da seguinte maneira:
=> Pó - Óxido de zinco;
=> Pó - Subcarbonato de bismuto;
=> Pó - Sulfato de bário;
=> Líquido - Eugenol.
Apesar das propriedades físico-químicas (infiltração, tempo de presa, alteração
dimensional, solubilidade e desintegração) dos cimentos à base de óxido de zinco e eugenol
serem dependentes da manipulação, relação pó/líquido e armazenagem; e a biocompatibilidade
dependente da relação pó/líquido (misturas mais fluidas causam respostas inflamatórias mais
intensas), a preferência por esses cimentos era destacável e se deveu a:
=> facilidade de trabalho;
=> boa adaptação;
=> baixa toxicidade;
=> baixo custo.

A produção do Cimento de Grossman, no Brasil, iniciou-se, em 1965, possuindo o nome


fantasia de Fillcanal mantendo, em parte, a formulação de Grossman de 1958. A Technew,
fabricante do Fillcanal, apresentava a seguinte fórmula para esse material:
=> Pó - Protóxido de zinco p. a. (40,5 g);
=> Pó - Resina hidrogenada - Staybelite (28 g);

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=> Pó - Subcarbonato de Bismuto (16 g);
=> Pó - Sulfato de Bário (15 g);
=> Pó - Borato de sódio anidro p. a. (0,5 g);
=> Líquido - Eugenol (5 centímetros cúbicos);
=> Líquido - Óleo de amêndoas doces (1 centímetro cúbico).

A proporção adequada entre pó e líquido poderia ser conseguida com 1,6 g de pó para 0,5
mL de líquido. No entanto, a relação pó/líquido subjetivamente determinada pela simples
observação da consistência clínica de “fio de bala” é uma opção amplamente utilizada. Na
consistência ideal para ser utilizado, o cimento demora de 10 a 15 segundos para cair da espátula
e, colocando-se a espátula sobre o cimento, ao se levantar ou afastá-la da superfície da placa de
vidro, deverá formar um fio de bala que, no caso do Endofill, deva ter dois centímetros.

No comércio brasileiro, são possíveis de serem encontrados os seguintes cimentos de


Grassman:
=> Endofill (Dentsply Herpo, Petrópolis, RJ, Brasil);
=> Infrafill (S. S. White Artigos Dentários LTDa., Rio de Janeiro, RJ, Brasil).

A B
Figura 6.2.1.1. Em “A”, teste do tempo de queda da gota do cimento endodôntico.
Em “B”, consistência clínica ou ponto de “fio de bala” do cimento Endofill.

O Endofill (cimento à base de óxido de zinco e eugenol) possui um tempo de trabalho de


20 minutos e apresentando os seguintes componentes:
Pó - Óxido de Zinco,
Pó - Resina Hidrogenada,
Pó - Subcarbonato de Bismuto,
Pó - Sulfato de Bário,
Pó - Borato de Sódio,
Líquido - Eugenol,
Líquido - Óleo de Amendoas Doces,
Líquido - Butylated Hydroxytoluene (BHT) - antioxidante.

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6.2.1.2 Cimento de Rickert (Kerr Pulp Canal Sealer)

O Kerr Pulp Canal Sealer (Rickert) foi introduzido em 1931 e é produzido pela Kerr Mg.
Co., E.U.A. com a seguinte formulação:
=> Pó - Óxido de zinco p. a. (41,2 g);
=> Pó - Prata precipitada (30 g);
=> Pó - Subcarbonato de Bismuto (16 g);
=> Pó - Sulfato de Bário (12,8 g);
=> Líquido - Óleo de cravo (78 mL);
=> Líquido - Bálsamo do Canadá (22 mL).

Este material apresentou, em testes sistemáticos, baixos valores de infiltração sendo o


tempo de trabalho estimado entre 20 e 30 minutos. A presença de prata precipitada em sua
formulação foi motivo de controvérsias mediante o risco significativo de manchamento dental.
Apesar de apresentar ação antimicrobiana, biologicamente, esse material também
promove reação inflamatória crônica e citotoxicidade nos tecidos apicais e periapicais.

6.2.1.3 Cimento de Rickert Modificado (N-Rickert)

No Brasil, o cimento de Rickert modificado proposto por Sampaio denominado de N-


Rickert foi amplamente difundido com a seguinte formulação:
=> Pó - Óxido de zinco p. a. (40,21 g);
=> Pó - Prata precipitada (30 g);
=> Pó - Delta-hidrocortisona (1 g);
=> Pó - Diiodo Timol - aristol (12,79 g);
=> Pó - Colofônia (16,0 g);
=> Líquido - Óleo de cravo (78 mL);
=> Líquido - Bálsamo do Canadá (22 mL).

Este material caracterizou-se pela tentativa de reduzir sua ação anti-inflamatória pela
adição de um corticosteroide. A nova formulação mostrava-se mais solúvel, tempo de trabalho
mais longo e ação antimicrobiana, mas a presença de prata precipitada em sua formulação
também apresenta risco significativo de manchamento dental. Investigações subsequentes não
evidenciaram reação inflamatória crônica significativamente menos intensa nos tecidos apicais e
periapicais, apesar da alteração na formulação.

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6.2.1.3 Cimentos Endomethasone e Endomethasone N

O Endomethasone e o Endomethasone N (sem Paraformaldeído) são cimentos


endodônticos à base de óxido de zinco e eugenol produzidos pela Specialités-Septodont, França,
com a seguinte formulação:
=> Pó - Óxido de zinco P.A. (417 mg);
=> Pó - Dexametazona (0,1 mg);
=> Pó - Acetato de hidrocortisona (10 mg);
=> Pó - Diiodo Timol - aristol (250 mg);
=> Pó - Paraformaldeído (22 mg), apenas no Endomethasone;
=> Pó - Óxido de Chumbo (50 mg);
=> Pó - Sulfato de Bário q. s. p. (1 mg);
=> Pó - Estearato de magnésio q. s. p. (1 mg);
=> Subnitrato de bismuto q. s. p. (1 mg)
=> Líquido - Eugenol.

Destacam-se, para esse material, o tempo de presa prolongado; a ação contra


"Enterococcus faecalis" por meio do Diiodo Timol; o efeito citotóxico com potencial de ação em
longo prazo, a inibição do metabolismo celular e da proliferação de linfócitos T, e a resposta
inflamatória crônica leve a severa, provavelmente devido à ação do Eugenol.
Ressalta-se, ainda, que a embalagem do cimento Endomethasone N contém uma colher
dosificadora que permite dosificar pó e líquido segundo uma relação pó/líquido de duas colheres
rasas de pó para três a seis gotas de eugenol (líquido). A consistência clínica da massa do
cimento, depois da espatulação completa, não permite o teste do fio de bala nem a avaliação do
tempo dispendido pela queda da massa do cimento da espátula até a placa de vidro. Considera-se
a possibilidade de dosificação da relação pó/líquido um fator facilitador de técnica e de
padronização das características físico-químicas do cimento endodôntica.
A Specialités-Septodont produziu, inicialmente, o cimento endodôntico Endomethasone
e, mais tarde, fabricou o Endomethasone N, sem Paraformaldeído. Enfatiza-se que pouco se
pesquisou a respeito da versão “N”.

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6.2.2 Cimentos à Base de Óxido de Zinco e Eugenol Acrescidos de Hidróxido de Cálcio

6.2.2.1 Cimento CRCS (Hygenic Corporation)

O cimento Calcibiotic Root Canal Sealer (CRCS) apresenta-se comercialmente


pó/líquido sendo que o pó é fornecido pré-dosado em porções unitárias de 0,4 g para utilização
de 2 a 3 gotas para 1 porção de pó. O tempo estimado de presa no canal é de 20 minutos e na
placa de vidro de até duas horas. O fabricante cita os seguintes componentes principais:
=> Pó - Óxido de zinco;
=> Pó - Ester de resina hidrogenada;
=> Pó - Sulfato de bário;
=> Pó - Sulfato de cálcio;
=> Pó - Subcarbonato de Bismuto;
=> Líquido - Eugenol;
=> Líquido - Eucaliptol.

O CRCS apresenta uma má tolerância tecidual e provoca reação inflamatória severa tal
qual o AH26, edema, dissociação fibrilar e ausência de reparação dos tecidos afetados. Tais
reações devem-se, provavelmente ao eugenol e ao eucaliptol. A vedação marginal é satisfatória
dentre os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol, mas são inferiores aos cimentos de resina
epóxica, assim como a adesividade que também é inferior quando comparada aos cimentos de
resina epóxica.

6.2.3 Cimentos à Base de Resinas Plásticas (Resinas Epóxicas)

Idealizado por Schröeder, os cimentos à base de resina plástica são compostos por
macromoléculas sintéticas do grupo das resinas epóxicas e apresentam boas propriedades físico-
químicas, como grande adesão à dentina e selamento marginal satisfatório.

6.2.3.1 Cimento AH 26 (Cimento de Resina Epóxica)

O cimento AH26 produzido inicialmente pela De Trey Fréres, AS, Zurich e, mais tarde,
pela Dentsply / De Trey Co. foi amplamente utilizado pelos Endodontistas. A apresentação
comercial é pó/líquido os quais apresentam a seguinte composição:
=> Pó - Óxido de bismuto (60%);
=> Pó - Pó de prata (10%);
=> Pó - Óxido de Titânio (5%);
=> Pó - Hexametilenotetramina (25%);
=> Líquido - Éter de bisfenol A diglicidil.

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A manipulação desse material era realizada até se conseguir uma mistura homogênea e o
seu tempo de endurecimento estimado entre 24 e 48 horas. Constatou-se satisfatória estabilidade
dimensional (contração de 0,02 a 0,05%), radiopacidade, adesividade, solubilidade e
escoamento, embora a resina epóxica apresente certo grau de absorção de água (0,07%).
Cabe ressaltar que o Éter de bisfenol A é capaz de dissolver levemente o conte de guta-
percha o que é encarado com facilitador da obturação.
Quanto à biocompatibilidade, tal matéria tem mostrado pouca tolerância tecidual e reação
inflamatória de moderada a severa. Um aspecto significativo é o potencial mutagênico do AH26
devido à liberação de formaldeído. Há ação citotóxica correlacionada com o componente
resinoso epóxi-bis-fenol.
Pode-se considerar que a difusão da utilização do AH26 não foi impulsionada por suas
propriedades biológicas e nem pelo potencial de manchamento dental, mas sim, pelos seguintes
aspectos físico-químicos:
=> estabilidade dimensional;
=> reduzida solubilidade;
=> excelente escoamento;
=> radiopacidade;
=> adesão elevada;
=> capacidade seladora.

Mediante a baixa performance biológica, tentou-se reduzir a reação inflamatória


subsequente ao uso de AH26 com a adição de corticosteróides (hidrocortisona) que apresentou
resultados de atenuação do processo inflamatório.
Também tentando minimizar a resposta inflamatória do AH26, adicionou-se hidróxido de
cálcio à sua formulação obtendo-se resultados favoráveis principalmente nos períodos iniciais
(Sealer 26). Uma das variações do cimento AH26 foi o AH26 silver free sem pó de prata.
Além do AH26, o grupo dos cimentos de resinas epóxicas também conta com:
=> Diaket;
=> AH Plus;
=> Sealer 26;
=> Topseal.

6.2.3.2 AH Plus (Dentsply/De Trey)

O AH Plus apresenta-se, comercialmente, pasta/pasta sendo dois tubos de 4 mL cada cuja


composição, segundo o fabricante, é a seguinte:

15
=> Pasta A - Resina Epóxica;
=> Pasta A - Tungstênio de cálcio;
=> Pasta A - Óxido de Zircônio;
=> Pasta A - Aerosil;
=> Pasta A - Óxido de Ferro;
=> Pasta B - Amina Adamantina;
=> Pasta B - N, N-Diberncil-5-oxanonano-diamina-1,9;
=> Pasta B - TCD-Diamina;
=> Pasta B - Tungsteanato de cálcio;
=> Pasta B - Óxido de Zircônio;
=> Pasta B - Aerosil;
=> Pasta B - Óleo de silicone.

Figura 6.2.3.2. Cimento Endodôntico AH Plus.

A relação pasta/pasta que deve ser utilizada é a de proporções iguais das Pastas A e B. O
tempo de trabalho é de 4 horas a 23º C, o tempo de endurecimento é de 8 horas a 37º C e o
solvente recomendado para o retratamento endodôntico é o clorofórmio o qual também é muito
eficiente para o amolecimento de cones de guta-percha durante a remoção da obturação antiga no
retratamento endodôntico. A manipulação é realizada até que se obtenha uma massa homogênea.
Do ponto de vista da eficiência e do rendimento do trabalho, a manipulação pode ser realizada
em curto espaço de tempo com o mínimo de esforço.
Destacam-se o vedamento marginal, o escoamento, a radiopacidade, a capacidade de
permitir a reparação tecidual, a liberação reduzida ou inexistente de formaldeído (assim como o
Topseal), injúria celular menos significativa, ausência de ação mutagênica e genotóxica.
Considerou-se o cimento AH Plus mais biocompatível que o AH26. O AH Plus apresenta menor
citotoxidade que o AH26 com também em relação aos cimentos de óxido de zinco e eugenol. Em
contrapartida, a capacidade de vedação marginal dos cimentos AH26 e AH Plus são semelhantes
não havendo perdas de propriedades físico-químicas frente ao ganho de propriedades biológicas.

16
6.2.3.4 Topseal (Dentsply/Maillefer)

O cimento de resina epóxica Topseal é quimicamente, físico-quimicamente e


biologicamente similar ao AH Plus como também possui a mesma apresentação comercial
(pasta/pasta) além de aspectos operacionais ou de manipulação semelhantes.

6.2.4 Cimentos à Base de Resinas Plásticas (Resinas Epóxicas) Adicionados de Hidróxido


de Cálcio

6.2.4.1 Sealer 26

A apresentação comercial do Sealer 26 (Dentsply, Brasil) é pasta/pó e sua fórmula,


segundo o fabricante, é a seguinte:
=> Pó - Hidróxido de Cálcio (37 %);
=> Pó - Óxido de bismito (43 %);
=> Pó - Hexametileno tetramina (14 %);
=> Pó - Dióxido de titânio (5 %);
=> Pasta B - Resina epóxica de bisfenol (100 %).

A relação pasta/pó em volume sugerida pelo fabricante é de 1 parte de resina para duas
ou três partes de pó. A manipulação deve ser realizada até se obter uma massa homogênea. A
consistência clínica ideal para esse material é a de fio de bala a qual se rompe no afastamento da
espátula da placa em torno de 2 centímetros. O tempo de endurecimento à temperatura corporal é
geralmente considerado como sendo de 12 horas, no entanto, Fidel et al. observaram 41 horas e
22 minutos.
O selamento marginal parece ser superior ao dos cimentos à base de óxido de zinco e
eugenol apesar de constatar-se a ausência de capacidade de gerar reparação tecidual, irritação,
necrose tecidual e reabsorção de tecidos mineralizados.

6.2.5 Outros Tipos de Cimentos

Destacam-se, ainda, a) os cimentos à base de resina plástica UDMA (Uretano


Dimetacrilato) EndoRez (Ultradent), pasta/pasta; b) os cimentos à base de resina com
polimerização dual BISGMA, PEGDMA, EBPADMA, UDMA (cimentos Ephifany e Real Seal)
para uso conjunto com Ephifany Primer e cones plásticos compostos por Resilon; c) cimentos
contendo cálcio, como, por exemplo, o Sealapex, pasta/pasta, que apresenta significativa

17
biocompatibilidade, mas fracas propriedades físicas como, p. ex., alta solubilidade, o CRCS
(pó/líquido), o Apexit (pasta/pasta) e o Sealer 26; e d) cimentos à base de ionômero de vidro
como, p. ex., o Ketac-Endo, que é apresentado comercialmente em cápsulas para manipulação
em misturador (vibrador) de alta frequência e seringa de aplicação.

7 Passos clínicos para Obturação

7.1 Seleção, Calibração e Adaptação do Cone de Guta-percha Principal

O cone de guta-percha principal a ser utilizado será o de mesmo diâmetro (mesma


numeração) da LAF. Entretanto, como os cones de guta-percha não são completamente
padronizados, poderá ser separado para desinfecção cones do mesmo diâmetro da LAF e de
tamanho imediatamente maior e menor. Por exemplo, se a LAF for uma lima K 35, poderão ser
separados para desinfecção cones de guta-percha 30, 35 e 40.
Todos os cones de guta-percha a serem utilizados deverão passar por um processo de
desinfecção através da imersão em soluções de hipoclorito de sódio, clorexidina ou álcool iodado.
O tempo mínimo de desinfecção varia de acordo com a solução utilizada e sua concentração. A
quadro abaixo mostra o tempo mínimo para desinfecção de acordo com Gomes et al. (2001).

Figura 7.1. Quadro apresentando o tempo mínimo para desinfecção de cones de guta-percha (GOMES et
al., 2001).

Após a desinfecção, os cones deverão ser lavados com álcool ou água destilada
esterilizada, e secos com gaze esterilizada.
Para a seleção ou calibração do cone de guta-percha principal deverão ser realizados os
exames visual, tátil e radiográfico.
Deve-se selecionar o cone de guta-percha principal de diâmetro (numeração) igual ao da
LAF podendo-se efetuar sua calibração na régua calibradora.
18
Embora o cone principal de guta-percha tenha características nominais semelhantes à
lima apical final utilizada na modelagem do batente apical, há a necessidade de se avaliar e
realizar sua adaptação ao canal radicular já preparado, o que é feito por meio de testes e provas
como, por exemplo, teste de adaptação da LAF ou de aferição do diâmetro cirúrgico do canal
radicular no limite de obturação, bem como por meio das provas visual, táctil, radiográfica, de
aprofundamento.

Prova Visual

No exame ou prova visual, com o auxílio da pinça clínica e da régua endodôntica,


determina-se no cone de guta-percha principal o CRT, sendo que a pinça clínica atua como se
fosse um tope de borracha/silicone. Em seguida, o cone será inserido no canal radicular,
observando se a ponta ativa da pinça clínica toca a referência coronária e, portanto, a ponta do
cone alcança o limite apical de trabalho/obturação (batente apical) percorrendo a totalidade do
CRT. A aprovação no exame visual ocorre quando se vê a pinça clínica tocando a referência
coronária. Se o cone de guta-percha principal não alcançar o CRT, deverá ser realizada a troca
por um cone de menor diâmetro ou pode-se considerar promover maior divergência do canal
radicular.

Prova Táctil

Se e somente se o cone alcançar o CRT, deverá ser realizado o exame tátil onde será
verificado se o cone de guta-percha oferece resistência (travamento, trancamento ou “tug-back”)
para ser removido do canal radicular. Se não houver o travamento pode ser realizada a calibração
do cone, corte da ponta do cone ou mesmo a troca por um cone de guta-percha de maior
diâmetro. Em alguns casos, ao ser realizado essa troca, o cone de maior diâmetro não alcança o
CRT. Nesses casos, deve ser realizado o corte da ponta do cone de guta-percha de menor
diâmetro de milímetro em milímetro até se observar, na remoção do cone, o travamento. O corte
deve ser realizado com lâmina de Gillette estéril (corte com menor deformação) ou bisturi, sendo
que o uso de tesoura é contra indicado, pois promove deformação na ponta do cone.
Logo após cada corte do cone de guta-percha principal em busca do travamento (para se
obter a aprovação no exame táctil), as provas visual e táctil devem ser refeitas, pois, após cada
corte, há sempre o risco do cone não mais percorrer, na totalidade, o CRT, observação que
indicaria o reinício do processo com um cone novo.

19
Prova do Aprofundamento

A casuística tem demonstrado que se torna necessária, principalmente na obturação com


cone único pareado, uma quarta prova para a calibração do cone principal: a Prova do
Aprofundamento, na qual, logo depois de obtida aprovação na prova visual, apreende-se o cone
com a pinça um milímetro distante da referência coronária e exerce-se leve pressão apical sendo
que, no caso do cone se aprofundar no canal, sua ponta deve ser cortada em meio a um milímetro
até que não se observe mais o aprofundamento. Cabem ressaltar que, após o corte do cone
principal, é necessário realizar novamente toda a sequência de provas (visual, táctil e do
aprofundamento). Portanto, a aprovação neste teste seria observada quando o cone principal não
se aprofunda no canal radicular quando lhe é aplicada uma leve pressão apical.

Prova Radiográfica

Por fim, após serem observadas as aprovações nos testes visual, tátil e de
aprofundamento, deverá ser realizada a prova radiográfica do cone para comprovação do
posicionamento da ponta do cone de guta-percha principal no limite apical de trabalho/obturação
que geralmente posiciona-se cerca de um milímetro aquém do ápice radiográfico. Esta
radiografia ainda permite avaliar se o limite de trabalho foi correto e se ocorreram alterações na
forma original do canal radicular.

Demarcação do Cone Principal de Guta-Percha no CRT

Após a seleção e calibração completa do cone de guta-percha principal (incluindo a prova


radiográfica), deve-se estabelecer uma marca de profundidade, no CRT, por meio de um sinal
(mossa) promovido por pressão no cone de guta-percha principal com o auxílio dos mordentes
da pinça clínica, sem promover fragilização, angulação ou corte do cone principal.

Manipulação do Cimento Endodôntico

Em seguida, deverá ser realizada a manipulação do cimento endodôntico com Espátula nº


24 e Placa de Vidro, ambas estéreis, e esse cone principal de guta-percha será envolvido pelo
cimento, incluindo a ponta (técnica biológica), e levado ao canal radicular até o CRT utilizando a
pinça clínica no lugar o tope de borracha/silicone.
O escoamento do cimento endodôntico nas reentrâncias e ramificações do sistema de
canais radiculares é fundamental para o bom prognóstico da terapêutica endodôntica e é
dependente da manipulação apropriada e atenciosa do referido cimento pela equipe de saúde
odontológica.

20
7.2 Técnicas Convencionais de Obturação Endodôntica

7.2.1 Técnica Biológica Associada à Condensação Lateral Ativa

O protocolo clínico na Técnica Biológica Associada à Condensação Lateral Ativa


apresentada, logo a seguir, é baseada na Técnica Biológica Controlada apresentada por Leonardo
(2008, p. 1129), sendo que, neste caso, propõe-se envolver toda a superfície do cone principal,
inclusive o topo apical, com cimento endodôntico.
A sequência clínica da Técnica Biológica Associada à Condensação Lateral Ativa é a
seguinte:
=> isolamento absoluto;
=> remoção do selamento provisório;
=> regime de irrigação, aspiração e inundação com NaOCl;
=> inundação com EDTA
- por 3 minutos,
- agitação com a lima de patência (CRD) e com a LAF (CRT),
- remoção hidrodinâmica do EDTA com irrigação com NaOCl e aspiração simultânea;
=> secagem do canal com aspiração e pontas de papel absorvente estéril;
=> desinfecção do cone principal e dos cones auxiliares ou acessórios;
=> seleção/calibração clínica do cone principal
- exame (prova) visual,
- exame (prova) tátil, e
- exame (prova) radiográfico;
=> seleção dos cones auxiliares ou acessórios;
=> seleção do espaçador (selecionar o de maior diâmetro a penetrar livremente no canal de 1 a 2
mm aquém do CRT),
- pode-se realizar a seleção do espaçador, demarcado no CRT – 2 mm, com o cone principal
previamente instalado no canal radicular (CRT), atentando-se para a cinemática de inserção do
espaçador com movimento oscilatório e leve pressão apical;
=> demarcação, sobre o cone, do CRT, por meio de moça/mordedura ou marca, na porção
coronária do cone, realizada com a pinça clínica (LEONARDO, 2008, p. 1135 e 1136);

21
Figura. Demarcação, sobre o cone, do CRT por meio de moça/mordedura ou marca, na porção
coronária do cone, realizada com a pinça clínica (LEONARDO, 2008, p. 1135 e 1136).

=> colocação do cone principal envolto em cimento no canal radicular (Técnica Biológica)
- aplicar o CRT no cone principal com auxílio da régua endodôntica e da pinça clínica,
- envolver toda a superfície do cone principal inclusive o topo apical do cone principal,
- em movimentos curtos de avanço e retrocesso até atingir o CRT (a pinça encosta na referência
coronária),

Figura. Cones principais de guta-percha envoltos em cimento endodôntico segundo a Técnica Clássica [e
Técnica Biológica] (LEONARDO, 2008, p. 1137).

=> condensação lateral ativa


- com espaçadores de calibre compatível e no CRT subtraído de 2 mm (LEONARDO, 2008, p.
1137),
- os espaçadores devem ser inseridos com cinemática oscilatória e ao chegar no CRT – 2 mm,
deve ser girado por 3 voltas no sentido horário e, em seguida, girado uma volta no sentido anti-
horário o que deve livrar o instrumento, momento no qual deve ser removido do canal
(LEONARDO, 2008, p. 1138),
- no espaço gerado, inserir o cone acessório envolto completamente em cimento endodôntico;
- esse procedimento será repetido até que não se consiga mais abrir espaço (LEONARDO, 2008,
p. 1138) ou não penetrem mais ou penetrem apenas na câmara pulpar;
=> comprovação radiográfica da condensação lateral (prova radiográfica de qualidade). Caso a
radiografia mostre áreas radiolúcidas no corpo da obturação deve-se repetir os procedimentos de
condensação lateral;

22
Figura. Aspecto ao final da condensação lateral e prova radiográfica de qualidade da obturação
endodôntica (LEONARDO, 2008, p. 1139).

=> corte da obturação com instrumento aquecido ao rubro (ex.: condensadores de Paiva) ao nível
da junção amelo-cementária ou até 2 mm acima da coroa clínica do dente (até 2 mm apicalmente
à junção amelo-cementária),
- em dentes anteriores, o corte pode ser realizado 1 mm apicalmente à junção amelo-cementária
(centro da meta),
- a avaliação da remoção da obturação da câmara pulpar pode ser efetuada utilizando-se a pinça
clínica (figura a seguir) ou ainda com Sonda Reta nº 9 ou Condensador da Paiva com
profundidade da altura da coroa clínica + 1 mm demarcada com tope de borracha/silicone,
- em dentes posteriores, o corte pode ser realizado na embocadura dos canais ao nível do assoalho;
=> condensação vertical com condensador de Paiva sem aquecimento;
=> observar se a coroa dental se encontra livre de material obturador (se houver necessidade
realizar outro corte da obturação);
=> limpeza da câmara pulpar com bolinhas ou chumaços de algodão e álcool (concentração ≥
92,8° INPM);

Figura. À esquerda, método utilizando a pinça clínica de avaliação da remoção da obturação da câmara
pulpar. À direita, dente posterior após o corte dos cones de guta-percha e condensação vertical.

23
=> selamento provisório;
=> remoção do isolamento absoluto;
=> radiografia final.

7.2.2 Técnica Biológica Controlada Associada à Condensação Lateral Ativa

A denominação biológica controlada deve-se à limitação da obturação no limite apical de


trabalho nas proximidades do Limite CDC. Portanto a escultura do batente apical no limite
citado contribui para o controle biológico da obturação.
A técnica biológica controlada é indicada por Leonardo (2008, p. 1129) para canais
amplos e retos tanto para bio quanto para necropulpectomias e é geralmente performada com
cimento à base de óxido de zinco e eugenol como, p. ex., os cimentos de Grossman Fillcanal e
EndoFill.
Nesta técnica, o topo apical do cone principal é colocado no canal radicular livre de
cimento endodôntico.

Figura. Cones principais de guta-percha envoltos em cimento endodôntico. À esquerda, na técnica


biológica controlada. À direita, técnicas clássica [e biológica] (LEONARDO, 2008, p. 1137).

7.3 Técnica do Cone Rolado

A técnica do Cone Rolado é utilizada para os casos de necessidade de tratamento


endodôntico para dentes com rizogênese incompleta. Em casos onde o cone de maior diâmetro
disponível (cone 140) não se prende ao batente apical deve ser confeccionado um cone próprio

24
para o caso. Devem ser aquecidos três ou mais cones de guta-percha de segunda série sobre uma
chama, unindo-os de modo a formar um único feixe. Após ligeiro aquecimento, o feixe de cones
deve ser rolado entre duas placas de vidro, formando um cone único e homogêneo. Após
resfriamento e endurecimento, o cone estará em condição de ser utilizado. Após travamento do
cone principal deverá ser realizada a condensação lateral.

7.4 Técnica do Cone Único Pareado

A técnica do Cone Único Pareado utiliza apenas um cone principal envolto em cimento.
Se necessário podem ser inseridos cones acessórios no canal radicular através de condensação
passiva, ou seja, inserir cones acessórios sem a utilização de espaçador.
Esta técnica é realizada com cones de guta-percha de índice de conicidade 0,04 ou 0,06 e
requer uma maior conicidade do preparo. Geralmente é realizada após técnicas automatizadas de
instrumentação.
É uma técnica simples, entretanto possui risco de travamento do cone antes do batente
devido a sua conicidade. Também promove uma maior linha de cimento, sendo mais dependente
das propriedades físico-químicas dos cimentos endodônticos.
A sequência da técnica do cone único está descrita a seguir:
=> Seleção do cone;
=> Radiografia para confirmação do CRT;
=> O canal é preenchido com cimento ou levado com o cone;
=> Adaptação do cone único;
=> Se necessário colocação passiva de cones secundários;
=> Radiografia para comprovação da qualidade da obturação;
=> Corte do cone e condensação vertical;
=> Restauração provisória;
=> Remoção do isolamento absoluto;
=> Radiografia final.

A técnica do Cone Único Pareado associada aos instrumentos Reciproc e WaveOne está
descrita em detalhes nos documentos sobre Instrumentação Reciprocante Assimétrica
disponíveis no AVA do PEE e/ou PECOS-UFPel.

25
7.5 Técnicas de Termoplastificação da Guta-percha

As técnicas de termoplastificação da guta-percha são indicadas para um melhor


preenchimento dos espaços vazios, já que a guta-percha plastificada apresenta maior escoamento
e melhor embricamento mecânico às paredes dentinárias. As técnicas de termoplastificação
podem envolver o que segue:
=> Termocompactação ou condensação termomecânica;
=> Injeção de material plastificado;
=> Introdução de guia plástico envolto por guta-percha aquecida;
=> Associação de técnicas.

A maior parte das técnicas de termoplastificação da guta-percha necessita de


equipamentos específicos para sua realização.

7.5.1 Técnica Híbrida de Tagger ou Híbrida Modificada

Esta técnica é realizada com condensadores de McSpadden. Fabricados em aço


inoxidável, esses instrumentos são estandardizados e assemelham-se a uma lima tipo Hedströen
invertida. Utilizado em contra-ângulo em baixa rotação, girado no sentido horário,
determina a plastificação do cone.
Inicialmente, McSpadden sugeriu que fosse realizada a termocompactação de apenas um
cone (cone principal). Entretanto, ocorria frequentemente o extravasamento deste cone,
inviabilizando a sua aplicação. Esse problema foi corrigido pela proposta de Tagger, associando
a técnica de condensação lateral à termocompactação (Técnica Híbrida de Tagger).
O compactador selecionado deve ser de 1 a 2 números acima do cone de guta principal e
ter uma profundidade de penetração de 2 mm aquém do CT. Deve ser introduzido sem girar
(sentir o canal com movimentos de introdução e retirada), nunca deve ser parado no interior do
canal e deve permanecer no canal por volta de 10 segundos. O compactador deve ser retirado do
canal com leve pressão em um dos lados da parede do canal radicular.
Em canais radiculares curvos, o compactador trabalhará apenas na parte reta do canal, em
canais radiculares cônicos ou com instrumentação escalonada onde há maior quantidade de
cones acessórios podem ser utilizados dois compactadores (apical e cervical) e em canais
radiculares em forma de fenda deve ser realizada uma movimentação suave do compactador para
evitar a fratura do instrumento.

26
A técnica híbrida de Tagger é indicada para correção de falhas de adaptação do cone de
guta-percha principal, falhas de condensação lateral na região apical, lesões laterais sugerindo a
presença de canais laterais, reabsorção interna (facilidade do preenchimento da falha), canais
radiculares muito amplos e obturações em canais que se unem na região apical.

8 Considerações Adicionais sobre a Obturação Endodôntica

Neutel (2010), repercutindo Ricucci et al. (2009) e Tahanet al. (2010), definiu Sobre
Obturação como sendo o “extravasamento [além forame apical] de cimento endodôntico em
pequenas porções”, o que não comprometeria o sucesso do tratamento endodôntico. Por sua vez,
a Sobre Extensão seria “o extravasamento de cones de guta-percha [além forame apical] para os
tecidos periapicais”, ou seja, com invasão do periodonto apical.
No momento da seleção/calibração do cone principal por meio das provas visual, táctil e
radiográfica, pode-se não atingir o CRT, neste caso, poder-se-ia trocar o cone principal por outro
de mesma numeração ou de numeração imediatamente inferior. Outra complicação ocorre
quando contemplada a prova visual e cone principal não passa na prova táctil, neste caso, pode-
se cortar de 0,5 a 1 milímetro da ponta do cone principal com lâmina de barbear ou bisturi (ex.:
lâmina 15c) sobre placa de vidro plana e lisa e reaplicar as provas visual e táctil. O corte da
ponta do cone principal também pode ser empregado nos casos nos quais o cone vai além do
CRT. Nesse contexto, as réguas calibradoras são muito convenientes e podem poupar o tempo
operacional (LEONARDO, 2008, p. 1135). Cabe ressaltar ainda que o cone principal pode não
atingir o CRT por deficiência na modelagem do canal radicular no que se refere à ampliação da
divergência do canal radicular, sendo que esta complicação, quando cuidadosamente detectada,
pode ser resolvida aplicando-se, novamente, o recuo escalonado ou utilizando-se da lima
Hedstrom na atenuação da morfologia telescópica resultante do escalonamento.
Na fase da seleção/calibração do cone principal, pós a observação clara da modelagem do
batente apical, ao final do PQM/PBM, Leonardo (2018, p. 1135) sugere, logo após a inserção
inicial do cone principal até sua adaptação no batente apical, a aplicação de batidas com o cabo
da pinça na extremidade coronária do cone para proporcionar um melhor ajuste do mesmo ao
batente apical. Em seguida, o comprimento de cone é conferido e se de acordo com o CRT
demarca-se o cone principal com moça ou marca de mordida realizada com a pinça clínica sem,
contudo, cortar ou enfraquecer o cone com moças exageradamente profundas. Esta seria uma
variação da maneira de se realizar a prova visual. No entanto, cabe ressaltar que essa medida,
embora possa acomodar ou ajustar melhor a ponta do cone principal no limite apical de
obturação (batente apical), pode, no caso do batente apical não ter sido apropriadamente

27
modelado, envolver algum risco de sobre extensão do cone principal de guta-percha além do
limite apical de trabalho/obturação ou, até mesmo, além do forame apical.
Segundo Leonardo (2008, p. 1131), a obturação endodôntica também pode ser realizada
pela Técnica Clássica na qual o cimento endodôntico (principalmente aqueles à base de
hidróxido de cálcio) é introduzido no canal radicular com auxílio da lima de memória no CRT
(LEONARDO, 2008, p. 1136). Poder-se-ia considerar que a introdução do cimento endodôntico
no canal radicular poderia ser realizada com a Espiral Lentulo ou com o próprio cone de guta-
percha principal que, na sequência será inserido, no canal radicular, no CRT, envolto em cimento
endodôntico incluindo o topo apical.
De acordo com Leonardo (2008, p. 1138), a cinemática de utilização do espaçador digital
constitui-se de inserção [paralela ao longo eixo do dente] com movimento oscilatório e [leve]
pressão apical até se atingir o CRT subtraído de 2 mm [ou se observar resistência à penetração],
giro de três voltas no sentido horário seguido de uma volta no sentido anti-horário que deve
soltar o instrumento possibilitando sua remoção para a inserção do conte de guta-percha
acessório ou auxiliar no espaço criado.
Leonardo (2008, p. 1137) contraindica a utilização do tope de borracha/silicone para a
demarcação do CRT no espaçador digital sob pena de deslocamento do cone principal. O autor
sugere a demarcação do espaçador no CRT subtraído de dois milímetros com o próprio cimento
endodôntico aplicado no instrumento com as garras da pinça clínica.
Há operadores que demarcam o espaçador digital no CRT com tope de borracha/silicone
e, preocupados com o deslocamento dos cones acessórios ou auxiliares, cortam o excedente
coronário desses cones com tesoura logo após sua inserção. No entanto, torna-se importante
ressaltar que o operador, ao optar por essa estratégia, ao cortar o cone acessório, deve aplicar o
movimento de corte sem deslocar o cone auxiliar de posição.
Leonardo (2008) indica, no caso dos molares, que os cones principais sejam colocados em
seus respectivos canais antes da condensação lateral e na medida em que a abertura coronária for
ficando repleta de cimento endodôntico, não se envolva mais os cones acessórios com cimento.
Leonardo (2008) ressalta, nos casos do Endomethasone [Endomethasone N] e do Sealer
26, a necessidade de se evitar o extravasamento do cimento além-forame devido à possibilidade
de presença de formaldeído.
Após a remoção da obturação da câmara pulpar (corte da obturação 1 mm apicalmente à
junção amelo-cementária), Leonardo (2008) sugere que a porção cervical do canal seja
preenchida com cimento de hidróxido de cálcio até a embocadura canalicular e, sobre esse
material, uma camada delgada (“liner”) de cimento de ionômero de vidro deve ser aplicada. Por
outro lado, Souza Filho (2015), indica o corte da obturação até 3 mm apicalmente à junção

28
amelo-cementária, selamento cervical da obturação endodôntica com Coltosol na porção cervical
do canal e aplicação de resina composta na porção coronária da cavidade endodôntica.
Após a obturação e selamento cervical da obturação e restauração coronária definitiva,
deve ser realizado o acompanhamento clínico e radiográfico de todos os casos, sendo o ideal de 6
em 6 meses. Casos de biopulpectomia são observados até 1 ano de conclusão do tratamento e são
considerados como sucesso se o dente permanecer sem lesão periapical e sintomatologia clínica.
Dentes com necrose pulpar devem ser avaliados, no mínimo, por 2 anos após a conclusão do
tratamento, alguns casos podem demorar até 4 anos para que a lesão se repare totalmente.
As chances da reparação na periodontite apical aumentam com o tratamento endodôntico
e selamento coronário adequados. Assim, é de extrema importância a realização de restauração
definitiva adequada após a conclusão do tratamento endodôntico.
Para determinação do sucesso deve haver ausência de lesão periapical na radiografia e,
clinicamente, ausência de dor e tumefação, ausência de sensibilidade à percussão e palpação
apical, ausência de fístula. Em adição, quando do sucesso, observam-se mobilidade dentária
normal e função dentária normal.

9 Referências

BARBIN, E. L. Análise química (ESI-TOF-MS/HPLC) do digluconato de clorexidina


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10 Revisões
Revisado pelos Autores, Corpo Editorial (PEE-FO-UFPel) e pelo colaborador Douglas
Silva de Almeida (PEE-FO-UFPel).

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