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ACIDENTES E COMPLICAÇÕES DURANTE O TRATAMENTO

ENDODONTICO: DO PRÉ AO PÓS-OPERATÓRIO

Tais Rodrigues Arantes¹


Victor Araújo Alves Borges de Oliveira2
Gabriela Campos Mesquita³

RESUMO

Os acidentes e complicações advindos das etapas operatórias no decorrer do


tratamento endodôntico, são uma realidade existente na endodontia, e o profissional
deve ter conhecimento sobre quando podem ocorrer, os prejuízos advindos da
situação, e o melhor modo de intervir. Durante cada estágio do tratamento
endodôntico, sendo ele pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório, existem
contratempos que podem influenciar de forma negativa ao sucesso da terapia
endodôntica, cabe ao profissional ter conhecimento e habilidade necessária para
solucionar a situação, e acima de tudo, prevenir que esses episódios venham a
ocorrer. Este artigo teve como objetivo descrever quais são os acidentes e
complicações mais comuns em cada etapa do tratamento endodôntico, assim como
sua etiologia, prejuízos e manejo em casos de sua ocorrência. Para isso, foi realizada
uma busca textual em base de dados como PubMed, Scielo e Google Acadêmico
assim como livros pertinentes ao tema, que discorressem de forma coerente ao
assunto abordado. Concluiu-se com o presente estudo que embora muitas vezes os
acidentes e complicações possam ser evitados através de um planejamento
adequado e um protocolo coerente, ainda sim, há situações em que esses
contratempos tornam-se presentes, e o profissional deve apresentar conhecimento
suficiente para remediar a situação, e garantir um tratamento efetivo e satisfatório, a
fim de preservar a estrutura dentária e elevar as taxa de sucesso da terapia.

Palavras-chave: Acidentes na endodontia. Complicações endodônticas.


Subobturação. Perfuração endodôntica. Falhas no diagnóstico.

¹Graduanda em Odontologia pela Universidade de Rio Verde, GO. E-mail: tais.arantes1@hotmail.com


²Professor do Curso de Odontologia da Universidade de Rio Verde, GO. Especialista em Endodontia e
Co-orientador desse artigo. E-mail: victorborges@unirv.edu.br
³Professora do Curso de Odontologia da Universidade de Rio Verde, GO. Doutora em Clínica
Odontológica Integrada e Orientadora desse artigo. E-mail: gabrielamesquita@unirv.edu.br
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1 INTRODUÇÃO

A endodontia é a área responsável pelo tratamento dos canais radiculares,


visando fazer com que o elemento dentário permaneça na cavidade bucal,
conservando a saúde oral do paciente, além de manter o sistema estomatognático em
função. O êxito do tratamento endodôntico requer elevado conhecimento do
profissional em relação a cada etapa do tratamento, para tanto, distinguir a anatomia
de cada dente é essencial, visando proporcionar uma obturação hermética do canal
radicular.
Apesar do índice de sucesso da terapia endodôntica ser elevado, levando em
consideração os avanços tecnológicos, os novos aparelhos e materiais existentes que
vem inovando e facilitando o dia a dia do profissional, falhas, acidentes e complicações
estão sujeitas a acontecer, e o endodontista deve estar preparado para lidar com
essas possíveis intercorrências.
O maior número de queixas por negligências no âmbito odontológico é
constatado na endodontia, e a razão considerada é pelo fato de que o tratamento
exige grande quantidade de passos clínicos, que demandam habilidade e técnica
adequada. Tais negligências podem ocorrer em diferentes estágios do procedimento,
sendo eles pré-operatórios, intraoperatórios e pós-operatórios, portanto, cada um dos
estágios exige do profissional devida atenção e cautela, pois qualquer erro, pode
interferir no resultado final do tratamento.
As situações adversas provenientes de tratamento endodôntico, muitas vezes
podem ser evitadas, entretanto, há situações em que os acidentes acontecem mesmo
diante de todo cuidado tomado pelo profissional. Com isso, o presente trabalho visa
apresentar informações sobre esses acidentes, assim como os meios de intervenção
nesses casos, para que o tratamento possa apresentar prognóstico favorável, e seja
finalizado de forma satisfatória tanto ao paciente quanto ao profissional.
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2 OBJETIVO

Identificar quais são os acidentes mais comuns em cada etapa do tratamento


endodôntico, reconhecendo sua etiologia, características, prejuízos decorrentes de
sua ocorrência e modos de intervenção para sua resolução.

3 MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizada uma revisão de literatura sobre o tema selecionado, a partir de


uma pesquisa descritiva desenvolvida na Universidade de Rio Verde (UNIRV – GO),
entre os meses de fevereiro de 2020 a novembro de 2020. Foi conduzida uma busca
textual nas bases de dados PubMed, Scielo e Google Acadêmico, através do uso de
palavras chaves: Acidentes na endodontia/ Endodontic accidents, Complicações
endodônticas/ Endodontic complications, Subobturação/ Subobturation, Perfuração
endodôntica/ Endodontic perfuration e Falhas no diagnóstico/ Diagnostic failure. Além
de livros pertinentes ao tema, foram selecionados artigos em língua portuguesa e
inglesa publicados a partir do ano 2000, no formato de trabalhos laboratoriais in vivo
e in vitro, estudos clínicos, relatos de caso e revisões de literatura. Resumos, ensaios
de opinião, anais de congressos e monografias não foram incluídos.

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 ERROS OCORRIDOS NA FASE PRÉ-OPERATÓRIA

4.1.1 Falhas no diagnóstico

As falhas e acidentes ocasionados durante o tratamento endodôntico, podem


acontecer antes mesmo do início do tratamento, durante a fase pré-operatória, quando
o profissional pode cometer erros de diagnóstico. Dessa forma, através de falhas ao
localizar o elemento que está originando a dor, ou mesmo através de erros durante
avaliação radiográfica, pode-se, infelizmente, realizar a intervenção endodôntica no
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dente errado e não no elemento causador do problema (ALRAHABI; ZAFAR; ADANIR,


2019; DULGOU, 2004).
O diagnóstico na endodontia é de extrema importância para garantir um
tratamento efetivo ao paciente, além de poder evitar o surgimento de problemas
jurídicos, tendo em vista que erros ao identificar a causa e origem da doença podem
ocasionar falhas irremediáveis e consequências graves ao profissional, o qual devido
a um erro de diagnóstico, pode condenar um dente que até então se apresentava
hígido (DULGOU, 2004).
Para formulação efetiva de um plano de tratamento ideal, é importante que o
profissional esteja preparado, e tenha conhecimento suficiente para recolher todas as
informações necessárias durante a anamnese, avaliando de forma precisa a cavidade
oral do paciente durante o exame físico, além de utilizar exames complementares
como testes térmicos, palpação, percussão e exames radiográficos (SILVA et al.,
2008).
Segundo Koyess e Fares (2006), quando o paciente apresenta-se com
sintomatologia dolorosa, a análise clínica e radiográfica deve ser minuciosa para
estabelecimento de diagnóstico correto, tendo em vista que muitas vezes o paciente
pode se confundir em relação ao dente que está sendo a origem da dor, e o
profissional deve estar atento quanto às evidências que indicam se o referido dente
apresenta características e sinais para ser a real causa do desconforto.
O profissional deve sempre adotar medidas a fim de prevenir que falhas nesta
etapa venham a ocorrer, pois em casos onde há erro de diagnostico, e portanto, o
tratamento é iniciado em outro elemento dentário que até então se apresentava hígido,
a situação terá se tornado irreversível, considerando que a partir do momento em que
há o acesso direto ao canal radicular do elemento, o tratamento endodôntico
inevitavelmente deve ser concluído. Por ser uma condição extremamente
desagradável tanto ao paciente quanto ao profissional, todos os cuidados devem ser
tomados para garantir que o diagnóstico seja estabelecido corretamente, e assim,
evitar maiores problemas com processo e envolvimento jurídico contra o profissional
pelo erro cometido (ALRAHABI; ZAFAR; ADANIR, 2019).
No entanto, erros de diagnóstico não se limitam apenas à escolha do elemento
dental a ser tratado. A decisão pela conduta endodôntica a ser empregada no
tratamento de um dente também pode ser feita de maneira equivocada. Sendo assim,
deve ser empregado o máximo cuidado ao diferenciar elementos que apontem para
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casos de caráter inflamatório ou infeccioso, pois além de condutas endodônticas


apropriadas, as medicações sistêmicas e intracanais a serem utilizadas serão também
distintas. Um erro no planejamento do manejo do paciente pode resultar na
complicação do tratamento. O profissional deve também se atentar em relação à
hipersensibilidade, e não a confundi-la com a pulpite irreversível, tratando o canal de
um elemento que na realidade necessitaria de outro tipo de manejo. (LOPES E
SIQUEIRA-JUNIOR, 2015).

4.2 ABERTURA CORONÁRIA

4.2.1 Perfuração dentária

A abertura coronária é a fase do tratamento endodôntico em que há o acesso


direto ao canal radicular, e deve ser realizada de maneira precisa. Para isso, é
necessário que o cirurgião-dentista tenha conhecimento amplo da anatomia dentária,
assim como da devida forma de contorno que deve ser aplicada a cada dente, além
da inclinação que deve ser posicionada a broca no momento da abertura, a fim de que
esse acesso seja direto, e permita o preparo correto da entrada e do terço cervical do
canal radicular (LICCIARDI et al., 2012, MIRANZI et al., 2011).

É ideal que o profissional se atente ao ponto de eleição pré-determinado, que


é onde a abertura coronária terá início, remova a cárie se estiver presente, e siga a
direção de trepanação de forma correta, que irá variar de acordo com a anatomia do
dente a ser tratado. A forma de contorno deve ser bem estabelecida, para facilitar e
evitar problemas e obstáculos durante a instrumentação. O preparo deve ser retilíneo,
conservar ao máximo a estrutura dentária e remover todo o teto da câmara coronária
(MIRANZI et al., 2011).

A perfuração durante a abertura coronária pode acontecer não apenas por


razões iatrogênicas, como também por reabsorção e cáries extensas. Em geral, o
prognóstico dessa condição dependerá do tamanho da perfuração, tempo de
reparação, posição e presença de inflamação no local. A análise radiográfica prévia é
imprescindível, pois através dela pode-se observar presença de alterações que
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poderão levar a ocorrência de acidentes e falhas durante o acesso endodôntico


(MARQUES et al., 2018).

É recomendado após o início da abertura, procurar o conduto de forma


cautelosa, utilizando sonda exploradora com ponta reta, levando em conta que a broca
pode proporcionar desgastes irreversíveis. Em casos de perfuração, o tratamento
pode se dar através do selamento da perfuração ou exodontia com posterior
instalação de implantes, entretanto, sempre é indicado executar a opção mais
conservadora (MARQUES et al., 2018).

Em relação ao material indicado para o selamento de perfurações, Marques et


al. (2018) explicam que o MTA é uma opção bastante satisfatória por atender os
requisitos que devem ser levados em consideração durante a escolha deste material,
como ser biocompatível, radiopaco, prevenir microinfiltração, bactericida e não ser
absorvível, além de criar uma barreira mesmo em contato com água ou sangue.

De forma geral, em casos onde houver a perfuração durante a abertura


coronária, é necessário que o profissional observe primeiramente a região acometida
(supra gengival, sub gengival), a extensão dessa perfuração e realize o selamento o
quanto antes utilizando MTA, o qual apresenta características satisfatórias para essa
finalidade. Frente à essa condição, a falta de tratamento ou sua inadequada realização
pode acarretar, a depender de sua localização, a instalação de um processo
inflamatório decorrente da contaminação bacteriana, e este quadro pode levar a
destruição do osso alveolar envolvido e perda do elemento dentário (LICCIARDI et al.,
2012).

4.3 PREPARO BIOMECÂNICO DO CANAL RADICULAR

4.3.1 Fratura de instrumentais

De acordo com Frota et al. (2016), um dos acidentes mais desagradáveis


passíveis de ocorrerem durante o tratamento endodôntico é a fratura de instrumentais
no interior do canal. Normalmente tal intercorrência ocorre devido à aplicação de
movimentos errados durante o processo de preparo mecânico do canal radicular, ou
pela emprego de instrumentais que já foram utilizados várias vezes e por conseguinte,
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submetidos a numerosos episódios de torção e fadiga cíclica. Além disto, o descuido


do operador, e alterações anatômicas dos dentes são fatores causais importantes da
fratura de instrumentos (SOUZA et al., 2015).

Os acidentes envolvendo fraturas de limas endodônticas podem ocorrer tanto


no terço cervical, terço médio e apical da raiz, sendo que a região apical é a área onde
estas acontecem com maior frequência devido ao menor diâmetro, e maior grau de
curvatura. Portanto, quanto mais complexa a anatomia radicular, maiores as chances
de falhas (MCGUIGAN; LOUCA; DUNCAN, 2013).

Os instrumentos manuais de aço inoxidável são muito utilizados na endodontia,


entretanto, estão propensos a erros operatórios como a perfuração devido seu alto
módulo de elasticidade. A fim de minimizar erros e favorecer os preparos de canais
radiculares, foram desenvolvidos os instrumentos rotatórios fabricados a partir de ligas
de níquel titânio, entretanto, apesar de suas características e propriedades mecânicas
favoráveis como a flexibilidade e conicidade, podem sofrer fraturas inesperadas
(TAVARES et al., 2015).

McGuigan, Louca e Duncan (2013) e Tavares et al. (2015) afirmam que as limas
de NiTi demonstram falhas por torção, e fadiga flexional. A fratura por torção ocorre
quando o instrumento estabelece uma rotação contínua, e uma parte do mesmo
(geralmente a ponta) se prende em algum ponto do interior do canal, entretanto o
instrumento permanece em rotação, causando a fratura.

Em relação a fratura por fadiga flexional, McGuigan, Louca e Duncan (2013) e


Tavares et al. (2015) relatam que elas ocorrem quando o instrumento é submetido a
repetidas cargas de compressão no mesmo local, o que geralmente ocorre em casos
de canais curvos, onde há tensão excessiva em determinado ponto do instrumento
rotatório, fazendo com que a fratura aconteça. Esse tipo de acidente ocorre mais
facilmente quando há o uso excessivo do instrumento, aumentando dessa forma a
fadiga do mesmo.

Frota et al. (2016) explicam que alguns aspectos como o tamanho do fragmento
quebrado, a localização e a anatomia dentária devem ser considerados antes de
optar-se por realizar sua remoção. Instrumentos fraturados na porção apical de raízes
com curvatura acentuada apresentam dificuldades de remoção, e as manobras
necessárias para tal podem levar a um excesso de desgaste e até mesmo a
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perfuração dentária. De forma geral, as chances de sucesso devem ser maiores que
as possíveis complicações advindas dessa remoção.

Existem algumas maneiras de remover limas fraturadas do interior do canal


radicular, dentre elas, o uso de outra lima em que se promove o desviar e tracionar
do instrumento fraturado, com ou sem auxílio de instrumentos ultrassônicos; e através
do uso de kits específicos para remoção de fragmentos do interior do canal como o kit
Masseran (FROTA et al., 2016).

É importante que o profissional tenha um diálogo aberto com o paciente em


relação ao que ocorreu evitando omitir informações, pois o mesmo pode descobrir
através de outro profissional que há uma lima fraturada no interior do dente, causando
uma situação extremamente desagradável que poderia ser facilmente evitada.
Medidas podem e devem ser adotadas a fim de evitar que instrumentos endodônticos
se fraturem, dessa forma, o profissional deve estar sempre atento a questões como
curvatura do canal, calibre do instrumento empregado, assim como a quantidade de
vezes que a lima já foi utilizada, avaliando a necessidade de seu descarte e
substituição (ALRAHABI; ZAFAR; ADANIR, 2019).

Em casos onde há fratura de instrumentos na região apical em que o mesmo


ultrapassa o forame e não há possibilidade de remoção via canal, é possível realizar
o procedimento através da cirurgia parendodôntica, que apesar de ser um protocolo
invasivo, pode prevenir que o elemento dentário seja condenado à extração pela
impossibilidade de se finalizar o tratamento de maneira adequada, em decorrência da
falta de limpeza e desinfecção esperadas (ROSSI., et al, 2013).

Segundo Alrahabi, Zafar e Adanir (2019) de forma geral, observando todos os


aspectos como localização e tamanho do instrumento, anatomia do dente em questão,
se já houve a instrumentação e limpeza efetiva do canal, pode-se avaliar o risco-
benefício em remover o instrumento fraturado, ou realizar a obturação deixando o
fragmento no local. Se o profissional optar por remover, pode lançar mão de
instrumentos ultrassônicos, kits específicos, cirurgia, sendo o procedimento realizado
com cautela e precisão, para que não haja prejuízos maiores (FROTA et al, 2016).

4.3.2 Perfuração radicular


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A perfuração é uma falha sujeita a ocorrer durante a fase de preparo do canal


radicular, e o profissional deve estar atento e preparado para lidar com tal situação.
Segundo Alrahabi, Zafar e Adanir (2019) e Estrela et al. (2018), a perfuração radicular
fornece uma comunicação entre o canal e o ligamento periodontal e, quando ocorre,
o prognóstico do tratamento pode ser alterado, portanto o que se deve avaliar é a
extensão da perfuração, a localização e o tempo de sua ocorrência.

Em casos onde esse acidente acontece, o diagnóstico precoce e o tratamento


adequado e imediato são essenciais, tendo em vista que a perfuração radicular pode
causar problemas como destruição óssea alveolar e reação inflamatória nos tecidos
periodontais. Em alguns casos, a gravidade da lesão associada à ausência de
tratamento correto pode levar a perda do elemento dentário (ESTRELA et al., 2018).

As perfurações podem ocorrer na fase de instrumentação no momento da


procura por canais calcificados, canais com curvatura acentuada ou mesmo em região
de furca. No intuito de minimizar a possibilidade de tal acontecimento, a utilização de
exames radiográficos é extremamente importante para que se possa realizar o
planejamento adequado que servirá de guia para o profissional (ALRAHABI; ZAFAR;
ADANIR, 2019).

Estrela et al. (2018) citam e explicam a eficácia de três materiais para


selamento de perfurações radiculares com base em suas características biológicas,
antimicrobianas e físico-químicas, sendo eles o hidróxido de cálcio, agregado trióxido
mineral (MTA) e cimentos de silicato de cálcio (biocerâmica). Entretanto, quando
comparados, o MTA apresentou melhor comportamento e resposta frente ao
selamento de perfurações como adaptação marginal adequada, formação de tecido
mineralizado em maior quantidade e atividade antimicrobiana, sendo, portanto, o mais
utilizado.

A conduta preventiva deve sempre ser adotada com auxílio de exames


radiográficos, conhecimento sobre anatomia e cautela durante o tratamento. Lopes e
Siqueira-Junior (2015) explicam que o profissional deve avaliar o caso e ter em mente
que o selamento com MTA apresenta uma opção satisfatória para intervir. Já em
situações de perfurações próximas ao ápice, ou de difícil acesso para o selamento
convencional, cirurgia parendodôntica pode ser considerada para solucionar casos
mais complexos.
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4.3.3 Formação de degrau

O degrau, segundo Lambrianidis (2009), também chamado de borda, é um


desvio criado de forma iatrogênica durante a instrumentação do canal, que faz com
que a instrumentação se torne ineficiente e a obturação fique comprometida. Algumas
de suas principais causas são a presença de curvatura acentuada na raiz, avaliação
incorreta da direção do canal radicular, determinação errada do comprimento de
trabalho, tentativa de remover instrumentos fraturados no interior do canal, ou mesmo
pelo fato do profissional não seguir a ordem de limas na sequência correta.

Durante a instrumentação, quando observa-se que a lima não está atingindo o


comprimento pré-estabelecido e nota-se uma sensação de estar tocando o
instrumento contra uma parede sólida, o profissional pode se atentar e suspeitar de
uma possível formação de degrau na região, pois são seus sinais clássicos de
formação, nesse momento, é ideal realizar exame radiográfico, de preferência com o
instrumento posicionado no local da interferência, para que a devida avaliação seja
realizada (LAMBRIANIDIS, 2009).

O prognóstico dessa condição depende de alguns fatores, primeiramente deve-


se observar se sua formação interferiu de forma significativa na instrumentação,
impedindo que a lima chegasse de forma fácil a região de ápice. É importante analisar
a quantidade de limas que foram utilizadas até o momento, para que se possa ter ideia
do quão limpo o canal se apresenta pois, em geral, quando a limpeza e desinfecção
foi realizada de forma adequada até a região apical, o prognóstico é favorável.
Entretanto, quando a instrumentação não foi realizada suficientemente e o degrau
interfira nessa etapa, o prognóstico é desfavorável (LAMBRIANIDIS, 2009).

Lambrianidis (2009) explica que essa condição pode ser prevenida se todos os
cuidados de diagnóstico e planejamento forem respeitados. Entretanto, em casos nos
quais há formação de degrau, o profissional deve avaliar adequadamente se tal
ocorrência influenciará no momento da obturação, se o cone de guta-percha alcançará
o comprimento de trabalho, e se o canal já havia sido desinfetado e limpo
adequadamente. O estado pré-operatório da polpa também deve ser levado em
consideração, tendo em vista que polpas necrosadas e presença de lesões periapicais
tornam o prognóstico desfavorável, principalmente quando não foi possível realizar o
desvio necessário para instrumentar a região abaixo da formação do degrau.
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4.4 IRRIGAÇÃO DO CANAL RADICULAR

4.4.1 Acidentes com hipoclorito

A etapa de irrigação é imprescindível para o sucesso da terapia endodôntica,


visto que o desbridamento e desinfecção são passos essenciais para garantir a
qualidade do tratamento. O hipoclorito de sódio (NaOCl) é o agente irrigante mais
utilizado na endodontia devido sua ampla ação antimicrobiana, sua capacidade de
dissolver tecidos pulpares, e por agir como um lubrificante durante o preparo do canal.
Entretanto, o profissional deve utilizar esta solução tomando os devidos cuidados pois
apesar de seus efeitos satisfatórios, se utilizado de forma imprudente, pode causar
danos ao paciente (ZHU et al., 2013; TENORE et al., 2017; NOITES; CARVALHO;
VAZ, 2009).

Segundo Noites, Carvalho e Vaz (2009) e Zhu et al. (2013), o hipoclorito de


sódio, apresenta como desvantagens a toxicidade aos tecidos biológicos, podendo
levar a hemólise e ulcerações. A extrusão de hipoclorito além do ápice é a
intercorrência mais comum presente na literatura relacionada a etapa de irrigação,
resultando em dor intensa, sensação de queimação, inchaço, edema, hematomas que
podem ocorrer de forma imediata ou horas após o procedimento, sendo capaz de levar
à necrose tecidual e até parestesia.

De acordo com Tenore et al. (2017), o inchaço gerado pela extrusão dessa
solução, pode ocorrer em diferentes áreas de acordo com o dente que está em
tratamento. Ao se tratar de dentes superiores, a região dos olhos, asa do nariz,
bochecha e seio maxilar podem ser acometidos. Caso o dente tratado seja inferior,
pode envolver ângulo da mandíbula e em casos mais graves, até mesmo ouvido e
pescoço.

Em casos de extrusão de NaOCl além do ápice, dependendo da extensão do


edema, dor, e da presença de necrose tecidual, o paciente deve ser encaminhado
para o hospital pela necessidade de administração de medicamentos intravenosos,
ou realização de drenagem cirúrgica. Canais que apresentam forame apical amplo ou
reabsorções radiculares são mais propensos a ocorrer extravasamento, portanto é
ideal que a agulha de irrigação não fique justa ao canal, e que ao realizar a irrigação,
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o seu comprimento seja de pelo menos 2 mm inferior ao comprimento de trabalho,


além de realizar a injeção sem pressão excessiva no êmbolo da seringa (NOITES;
CARVALHO; VAZ, 2009).

Noites, Carvalho e Vaz (2009) ainda mencionam a relação entre acidentes com
NaOCl com a obstrução das vias aéreas superiores, os quais acontecem quando o
paciente não está com isolamento absoluto e ocorre a ingestão ou inalação da
solução. Nestas situações, o paciente pode experimentar além do gosto
desagradável, a irritação na garganta e o comprometimento das vias aéreas
superiores. Outra questão importante a ser levada em consideração, é sobre alergia
do paciente. Deve-se sempre questionar durante a anamnese se o mesmo é alérgico
a essa solução, e caso não saiba, é importante estar atento aos sinais, como sensação
de dor, ardor e a presença de incomodo, o qual pode acarretar em parestesia do lado
da face do dente em tratamento.

Adotar medidas para prevenir os acidentes com NaOCL é essencial.


Entretanto, caso haja extravasamento da solução o profissional deve observar os
sinais e manifestações clínicas no paciente, realizar irrigação abundante com soro
fisiológico. É importante sempre tentar acalmar o paciente, pois o mesmo pode sentir
dor e desconforto exacerbado. É recomendado que se realize compressas frias para
auxiliar no controle do inchaço. Dependendo da situação pode haver necessidade de
administração de anti-inflamatórios e antibióticos, além do encaminhamento do
paciente ao hospital para administração de esteroides intravenosos, ou quando
houver danos oftalmológicos e inoculação da substancia (NOITES; CARVALHO; VAZ,
2009).

4.5 OBTURAÇÃO

4.5.1 Sobreobturação

A obturação do canal radicular é a etapa final do tratamento endodôntico, e visa


o preenchimento total do espaço radicular devidamente preparado que antes era
ocupado pela polpa. Um dos fatores que determinam o sucesso da terapia
endodôntica é o limite apical da obturação, ou seja, a distância observada entre o
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material obturador e o ápice da raiz, podendo esse valor variar entre 0 a 2 mm, o que
pode ser avaliado através da radiografia final (RICUCCI et al., 2016).

A sobreobturação é o excesso de extensão do material obturador que


ultrapassa o limite apical. Dulgou (2004) explica que isso pode ocorrer pelo excesso
de instrumentação que vai além do ápice dentário, quando o batente apical não foi
criado de maneira adequada, quando é utilizado um cone de calibre pequeno que
ultrapassa o ápice, além da força de compressão excessiva no momento da
obturação.

De acordo com Ricucci et al. (2016) é preferível que a obturação permaneça


restrita ao interior do canal radicular, entretanto há na literatura controvérsias sobre
os prejuízos que a obturação além do ápice pode causar. De forma geral, infecção ou
irritação após o extravasamento de material obturador não necessariamente estão
relacionadas com o fato de ter ocorrido sobreobturação, e sim com a possível
instrumentação excessiva, que pode ter deslocado dentina infectada ou restos
pulpares para a região periapical, e dessa forma causar reações inflamatórias.

A extrusão de material obturador além do ápice em pequena quantidade, não


apresenta prejuízos ao tratamento ou desconforto ao paciente, tudo dependerá da
presença de infecção. Na maioria dos casos, o material é reabsorvido pelo organismo,
entretanto, há situações em que houve sobreobturação acompanhados a 10 anos em
que o material permanece imutável no exame radiográfico. Entretanto, é
recomendável sempre seguir o protocolo, e estabelecer limites corretos de obturação
a fim de evitar maiores desconfortos (RICCUCI et al., 2016).

Gonzáles-Martin et al. (2010) relatam um caso de tratamento endodôntico no


segundo molar inferior em que ápice do dente estava muito próximo ao canal
mandibular. Após a obturação, através da radiografia final, foi possível observar
extravasamento do selante Ah Plus® na região do canal. No dia seguinte, paciente
relatou dormência do lado respectivo ao tratamento, apresentando características de
parestesia. Foi solicitado radiografia panorâmica em que se observou o material
espalhado distalmente pelo canal mandibular.

O Ah Plus®, selante utilizado no caso, de acordo com Gonzáles-Martin et al.


(2010), pode causar efeito citotóxico quando em contado com o canal mandibular em
decorrência da liberação de pequenas quantidades de formaldeído. No caso citado,
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meses depois, a paciente relatou melhora no quadro da parestesia, entretanto, após


anos de acompanhamento, não houve mudanças significativas no quadro. De forma
geral, é de extrema importância se atentar ao limite de obturação, especialmente em
casos em que o elemento dentário se encontra próximo a estruturas anatômicas
nobres.

Estabelecer o limite correto de obturação é fundamental, e apesar de alguns


autores defenderem que a sobreobturação não oferece prejuízos ou consequências
para o resultado do tratamento endodôntico, e sim a presença de microrganismos, é
importante que o profissional sempre respeite e determine os limites corretamente, e
caso seja necessário, acompanhe os casos onde houverem a sobreobturação, para
avaliar e observar a maneira com que o organismo irá se portar frente a essa condição
(LOPES E SIQUEIRA-JUNIOR, 2015).

4.5.2 Subobturação

A subobturação acontece quando o limite da obturação se encontra aquém do


ápice radicular, ou seja, a distância entre o ápice e o material obturador é maior que
2 mm. Tal condição pode trazer consequências e prejuízos no sucesso do tratamento,
tendo em vista que a região apical pode não ter sido completamente instrumentada e
a limpeza da região, consequentemente negligenciada. O acúmulo de bactérias na
região pode gerar inflamação periapical (DULGOU, 2004).

A obturação deficiente está entre os principais fatores de insucesso do


tratamento endodôntico. Uma obturação adequada que respeita os limites pré-
estabelecidos de 0 a 2 mm do ápice radicular, apesar de radiograficamente parecer
satisfatório, não garante total eficácia do tratamento. Quando esse limite sabidamente
não foi atingido, gerando a subobturação, as chances de ter havido fracasso nas
etapas antecedentes, são maiores (BRITO JUNIOR et al., 2009).

Segundo Brito Junior et al. (2009), foi constatado que a obturação deficiente é
a principal causa de retratamento endodôntico, tendo vista que não é apenas a
subobturação que influencia no fracasso do tratamento, e sim a relação existente entre
a obturação deficiente e a ineficácia dos procedimentos intraoperatórios fazendo com
que haja a permanência de bactérias no interior do canal.
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Taschierri et al. (2011) e Dulgou (2004) explicam através de um estudo que a


persistência de lesão periapical está extremamente relacionada a obturação
deficiente, pois as falhas no selamento apical associado a instrumentação ineficiente,
permitem a presença de infiltrações de bactérias que sustentam a lesão no periapice.
Portanto, a correta desinfecção e limpeza do canal radicular associado a uma
obturação tridimensional com os limites adequados, é essencial para o sucesso do
tratamento, e regressão da lesão periapical instalada.

Ao observar na radiografia final, após o tratamento endodôntico que o mesmo


se apresenta com subobturação, o profissional deve primeiramente se questionar se
a instrumentação e desinfecção desse canal foi feita de forma eficiente, pois se houve
completa limpeza e remoção de microrganismos de forma efetiva, a subobturação não
comprometerá o sucesso do tratamento. Por outro lado, se a instrumentação não foi
totalmente efetiva, houver restos bacterianos, lesão periapical, as chances de uma
nova intervenção e retratamento serem necessárias são extremamente elevadas
(BRITO-JUNIOR et al, 2009).

4.6 POS-OPERATÓRIO

4.6.1 Escurecimento da coroa dental

Nos dias atuais, a estética é um fator de fundamental importância na


odontologia, visto que o paciente tem se tornado cada vez mais exigente. Com isso,
a presença de alterações na coloração dos elementos dentários é algo que traz
desconforto e prejudica a harmonia do sorriso. As alterações cromáticas dos dentes
podem surgir de fatores intrínsecos e extrínsecos, dentre os quais pode-se citar o
tratamento endodôntico. (DE LUCENA et al., 2015; MORETTI et al., 2017).

As alterações de cor nos dentes podem surgir desde alterações pulpares,


sendo que a perda de vitalidade por exemplo pode antes mesmo do tratamento
endodôntico ser executado, levar o elemento dentário a desenvolver coloração
escurecida entre tons de cinza, esverdeado ou azulado. Já as mudanças na coloração
observadas após o tratamento endodôntico, podem ser resultado de resíduos
pulpares e de materiais obturadores na coroa dentária (DE LUCENA et al., 2015).
16

De acordo com Licciard et al. (2012) e Ahmed e Abbott (2012), a permanência


de resíduos pulpares na coroa favorece o escurecimento do dente. A permanência de
tais debris se dá em decorrência de um procedimento de abertura coronária deficiente.
O acesso inadequado impossibilita a retirada dos restos pulpares da região coronária.
Neste momento o auxílio de uma sonda é extremamente necessário para conferir a
remoção de todo teto coronário, e consequentemente evitar o escurecimento dentário.

De forma geral é de extrema importância a retirada completa dos cornos


pulpares, assim como uma irrigação adequada durante o tratamento endodôntico, a
fim de remover todo resquício pulpar, além da limpeza de toda a coroa
adequadamente após a obturação, utilizando algodão embebido por álcool, tendo em
vista que o material obturador deve ficar restrito a região radicular para que o
escurecimento dentário possa dessa forma ser evitado (AHMED; ABBOTT, 2012).

De acordo com De Lucena et al. (2015), caso haja escurecimento coronário pós
tratamento endodôntico, algumas medidas podem ser adotadas para correção da cor
do dente em questão, devolvendo a estética e naturalidade ao paciente. Frente a essa
situação, o profissional pode lançar mão de técnicas como o clareamento dental
interno, realização de manobras restauradoras como facetas em resinas direta,
restaurações indiretas, a escolha da técnica irá depender do grau de escurecimento
dentário, qual o dente acometido, o desejo do paciente, e o que apresentará melhores
resultados para o caso, sempre preservando a saúde e conservando ao máximo a
estrutura dentária, tendo em mente que a melhor opção é sempre evitar acúmulo de
resíduos na região coronária para consequentemente prevenir tal acontecimento.

4.6.2 Dor persistente e flare-up

Após a terapia endodôntica, uma condição passível de se observar é a dor pós-


operatória, que pode ocorrer tanto em casos de polpas vitais ou necrosadas. Segundo
Estrela et al. (2008), a dor pode estar relacionada à sobreinstrumentação, ao uso de
medicação intracanal com potencial agressivo, materiais obturadores irritantes ao
periápice, instalação de um processo inflamatório agudo no ligamento periodontal,
condições sistêmicas e locais do indivíduo, qualidade do preparo, além do número de
sessões envolvidas no tratamento.
17

Estrela et al. (2008), relatam que a correta execução do preparo, técnica


operatória adequada, uso de materiais obturadores e medicação de qualidade
especifica para cada caso é ideal para evitar a sintomatologia dolorosa, além de não
prejudicar a relação existente entre profissional e paciente. Já em casos onde a dor
for inevitável, Jayakodi et al. (2012) explica que o profissional pode realizar a
prescrição de analgésicos e de Anti-inflamatórios Não-Estereoidais (AINES) que
demonstram ser bastante eficazes nas dores de origem endodôntica.

De acordo com Jayakodi et al. (2012), o pós-operatório pode vir acompanhado


de um surto (flare-up), que é caracterizado pela exacerbação aguda da sintomatologia
dolorosa pelo paciente, o que faz que com o mesmo procure atendimento
odontológico de urgência com sintomas de dor intensa, inchaço e grande desconforto
que pode vir a ocorrer dentro de horas ou dias após o tratamento. A principal causa
dessa exacerbação é de origem microbiana, devido à extrusão apical de detritos
infectados no momento do preparo.

A dor pós-operatória de maneira geral, pode trazer prejuízos até mesmo a


reputação do profissional, além de influenciar no desencadeamento de medo do
paciente relacionado a tratamentos e intervenções endodônticas, associando tal
procedimento a dor (ESTRELA et al., 2006). Entretanto, segundo Jayakodi et al.
(2012), medidas de prevenção e tratamento adequado devem ser realizados em cada
caso, através de terapia analgésica, anti-inflamatória e se necessário antibiótica. Em
casos em que a dor tenha sido instalada, pode-se recorrer à reinstrumentação com
abundante irrigação, drenagem e uso de medicação intracanal e a prescrição de
medicamentos.

Lopes e Siqueira-Junior (2015) explicam que a dor pós-obturação é algo


previsível, desta forma, o profissional deve sempre alertar os pacientes em relação a
essa possibilidade, prescrevendo analgésicos para casos onde houver presença de
dor, mas tendo em mente que na maioria dos casos a sintomatologia desaparece de
forma espontânea logo nos primeiros dias. Na presença de dor severa e persistente,
o profissional deve avaliar a qualidade do tratamento e da obturação, caso o
tratamento tenha sido realizado satisfatoriamente e a obturação esteja adequada,
deve-se prescrever analgésicos, anti-inflamatórios, e observar o caso. Caso haja
obturação inadequada, retratamento é indicado.
18

Em relação a ocorrência de flare-up em casos de tratamento em sessões


múltiplas, o profissional deve realizar irrigação abundante com NaOCL a 2,5%, e
proceder a reinstrumentação no comprimento de trabalho correto verificando a
patência do forame apical buscando eliminar restos de microrganismos do interior do
canal radicular. Deve-se, então, realizar a aplicação de medicação intracanal, e por
fim, a prescrição de analgésico e anti-inflamatório (LOPES E SIQUEIRA-JUNIOR,
2015).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visto que em cada etapa do tratamento endodôntico os acidentes e


complicações são passíveis de ocorrer, o profissional deve ter conhecimento acerca
da maneira como acontecem, deve ainda ser familiarizado com os prejuízos que os
mesmos podem ocasionar ao tratamento, tendo sempre em mente as medidas
necessárias para intervir e solucionar o caso de modo que não interfira no resultado e
sucesso final da terapia. Em geral, na etapa pré-operatória onde erros de diagnóstico
podem ocorrer por falhas na análise e planejamento, é necessário que medidas
preventivas sejam sempre adotadas, com avaliação precisa e execução de um plano
de tratamento efetivo.

Na etapa intraoperatória, onde há o processo de abertura coronária, preparo


biomecânico do canal radicular, irrigação e obturação, a maioria dos acidentes
acontecem por falta de conhecimento de anatomia, ausência de avaliação efetiva do
dente em tratamento, a não visualização de alterações anatômicas, utilização de
materiais inapropriados para o caso, e ausência de plano de tratamento bem
elaborado. Assim, desencadeiam-se acidentes como perfuração coronária ou
radicular, fratura de instrumentais e formação de degrau; que poderiam ser evitados
se os devidos cuidados e medidas preventivas fossem adotadas. Todavia, caso tais
acidentes se fizerem presentes, o profissional deve remediar de maneira precisa e
eficiente para que não traga prejuízos ao tratamento.

Em relação ao extravasamento de hipoclorito de sódio, a prevenção é


extremamente necessária e pode ser obtida através da análise do comprimento do
dente, seleção da agulha de irrigação adequada, e cautela durante todo o processo
tendo em vista os prejuízos que tal acidente pode ocasionar. Já a etapa de obturação,
19

deve ser bem conduzida e realizada, a fim de que os limites se apresentem


satisfatórios e não haja a ocorrência de sobreobturação ou subobturação. O
escurecimento dentário pós-endodontia também é uma condição existente, que pode
ser totalmente evitada através da limpeza adequada da coroa dentária, com remoção
completa de restos pulpares e de material obturador da região.

Por fim, o pós-operatório endodôntico pode vir acompanhado de dor e


desconforto, situação desagradável e indesejada que pode causar problemas na
interrelação entre profissional e paciente. Dessa forma, por ser algo previsível, o
profissional deve sempre alertar o paciente sobre essa possibilidade e realizar a
prescrição medicamentosa adequada, além de manter o caso em observação, visto
que se a dor se manter constante, pode indicar fracasso do tratamento. Via de regra,
o diálogo prévio entre paciente e profissional onde há o esclarecimento das possíveis
intercorrências no decorrer do tratamento é fundamental. No entanto, planejamento e
prevenção sempre serão a melhor conduta para garantir um tratamento endodôntico
efetivo, evitando acidentes ou complicações, e consequentemente, elevando as taxas
de sucesso do procedimento, mantendo a saúde e o equilíbrio bucal através da
preservação dentária.
20

ACCIDENTS AND COMPLICATIONS IN THE ENDODONTIC


TREATMENT: FROM PRE TO POST- OPERATORY STAGES

ABSTRACT

Accidents and complications during procedures are a reality in endodontics. Therefore,


dentists must be aware of when they may occur, the damage arising from the situation,
and the best way to intervene. During each stage of endodontic treatment, be it
preoperative, intraoperative and postoperative, there are setbacks that can negatively
influence the success of endodontic therapy. It is up to the professional to have the
necessary knowledge and level of skill to solve the situation, and, most importantly to
prevent these episodes from occurring. This article aimed to describe the most
common accidents and complications at each stage of endodontic treatment, as well
as their etiology, damage and management. A textual search was carried out on
databases such as PubMed, Scielo and Google Scholar as well as relevant books. It
was concluded that although accidents and complications can often be avoided
through adequate planning and a coherent protocol, there are situations in which these
setbacks become present, and the professional must have sufficient knowledge to
remedy the situation, and guarantee an effective and satisfactory treatment in order to
preserve the dental structure.

Keywords: Endodontic Accidents. Endodontic complications. Subobturation.


Endodontic perfuration. Diagnostic failure.

¹Graduanda em Odontologia pela Universidade de Rio Verde, GO. E-mail: tais.arantes1@hotmail.com


2Professor do Curso de Odontologia da Universidade de Rio Verde, GO. Especialista em Endodontia e

Co-orientador desse artigo. E-mail: victorborges@unirv.edu.br


³Professora do Curso de Odontologia da Universidade de Rio Verde, GO. Doutora em Clínica
Odontológica Integrada e Orientadora desse artigo. E-mail: gabrielamesquita@unirv.edu.br
21

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