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CENTRO UNIVERSITÁRIO SOCIESC DE BLUMENAU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

FERNANDA SCHERNER

ENDODONTIA EM DENTES DECÍDUOS

BLUMENAU
2023
FERNANDA SCHERNER

ENDODONTIA EM DENTE DECÍDUO

Trabalho a ser apresentado para o estágio curricular


supervisionado: clínica odontopediatria e PCD, do
curso de odontologia, do Centro Universitário
SOCIESC de Blumenau.

Professores: Ms Bruno Venturi, Ms Claudia Schappo,


Esp: José Francisco Nunes dos Santos, Ms Lincon
Hideo Nomura. Esp: Jhonata Lima.

BLUMENAU 1/2023
1 INTRODUÇÃO

Este trabalho vem com o objetivo de mostrar a importância do tratamento endodôntico


em dentes decíduos, assim como os fatores que influenciam essa escolha e os materiais nela
utilizados. A conservação do elemento dental decíduo até que ocorra sua esfoliação fisiológica
é um dos principais objetivos do profissional odontopediatra, pois a primeira dentição é
responsável pela conservação de espaço adequado para os dentes permanentes irromperem,
servindo de guia para o posicionamento dos mesmos. Também, os dentes decíduos
proporcionam um adequado crescimento da mandíbula e da maxila e na evolução da fala,
mastigação e respiração corretas da criança. Além disso a perda dental prematura de dentes
decíduos pode levar a uma alteração no comprimento do arco dentário, com desvio mesial dos
dentes permanentes e consequentemente má-oclusão.

Os avanços ocorridos no século XX em relação aos protocolos, onde a promoção de saúde


e a proteção especifica tem alcançado metas importantes contamos ainda com uma população
infantil, principalmente ligada a condições sócio - econômicas deficientes, que apresentam a
doença cárie dental acompanhada de repercussões imediatas graves sobre a saúde dos tecidos
perirradiculares, como abcessos agudos ou crônicos, desde hipoplasias leves até alterações de
forma do dente ou a não – formação, até mesmo a expulsão do germe do permanente, e
principalmente danos à saúde geral da criança como inapetência, baixo peso, alterações na
síntese do hormônio do crescimento (ACS, 1992; FANNING, 1962; MATSUMIYA, 1962;
VALDERHAU, 1974).

Desta forma, o tratamento endodôntico em dentes decíduos é a única estratégia capaz de


manter ou resgatar a saúde dos tecidos perirradiculares, utilizando os conhecimentos acerca de
infecções, inflamação, reparo e principalmente a realização de tratamento baseado em técnicas
que respeitam a biologia do dente decíduo.
2 REVISÃO DA LITERATURA

Mesmo que na atualidade muitos aspectos preventivos venham sendo enfatizados, o


aparecimento de dentes decíduos com cáries profundas com algum envolvimento pulpar é fato
comum na clínica odontológica, com referência ao tratamento de dentes decíduos que
apresentam polpa viva, mas comprometida de forma irreversível, e polpas necróticas ou
infectadas.
O alto índice de cárie decorrente dos maus hábitos alimentares, associado à higiene
bucal deficiente tem grande influência na perda precoce dos dentes decíduos. A literatura
mostra que as lesões de cárie presentes na dentina de dentes decíduos costumam atingir
rapidamente a câmara pulpar, levando a necessidade da realização do tratamento endodôntico.
A manutenção desses dentes no arco e o restabelecimento da condição de saúde dos tecidos
afetados por grandes lesões de cárie e consequente infecção pulpar são o objetivo principal do
tratamento de dentes decíduos. Além disso, este deve ser realizado visando o não
comprometimento do desenvolvimento dos dentes sucessores permanentes adjacentes (CAMP,
1994).
As terapias pulpares em dentes decíduos podem ser divididas em capeamento pulpar
indireto, capeamento pulpar direto, pulpotomia e pulpectomia dependendo da condição pulpar
apresentada (American Association of Pediatric Dentistry 2019). O capeamento pulpar indireto
é o procedimento realizado em dentes decíduos com lesão de cárie próximas a polpa, mas
ausência de sinais e sintomas de degeneração pulpar (FUKS, 2005). O capeamento pulpar direto
está indicado para dentes decíduos com polpa normal após uma pequena exposição mecânica
ou traumática (FUKS, 2002). Já na pulpotomia, a polpa coronária é removida e o tecido pulpar
remanescente é mantido com vitalidade, sem evidências de necrose. O objetivo da pulpotomia
é manter a polpa radicular assintomática e sem reabsorção radicular (AAPD, 2009).
A pulpectomia é realizada quando o tecido pulpar se encontra irreversivelmente
infectado ou necrótico devido à cárie ou trauma (LO et al., 2007). A indicação dessa terapia em
dentes decíduos é quando a polpa radicular se apresenta com sinais clínicos de pulpite
irreversível como hemorragia, ou por necrose pulpar como supuração purulenta. O objetivo da
pulpectomia é a resolução do processo infeccioso e acompanhamento por meio de radiografias,
verificando se há deposição ósseo nas áreas radiolúcidas existente antes do tratamento (CASAS
et al., 2004; OZALP et al., 2005; PRIMOSCH et al., 2005). Essa forma de terapia pulpar deve
permitir a rizólise fisiológica do dente decíduo, visando a irrupção normal do dente sucessor
permanente.
Dessa forma, existe duas opções para o tratamento de dentes decíduos infectados ou
com polpa necrosada, a extração dentária e instalação de um mantenedor de espaço, que seria
uma opção mais radical, sendo que essa opção deve ser considerada quando o processo
infeccioso persiste, quando não a suporte ósseo, estrutura dental insuficiente para a restauração
ou excessiva reabsorção radicular (FUKS et al., 2005; COLL et al., 1996; CAMPA et al., 2006).
Ou uma opção mais conservadora, que seria a remoção dos remanescentes pulpares e
preenchimento do canal radicular com material obturador reabsorvível e reconstrução
coronária. A terapia pulpar visa principalmente a manutenção e integridade da saúde dos dentes
e tecidos de suporte (FUKS et al., 2005).
Um estudo feito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na Clínica Infanto –
Juvenil na cidade de Porto Alegre no período de janeiro de 2017 à maio 2017 com o objetivo
de verificar a longevidade de tratamentos endodônticos e retratamentos endodôntico em dentes
decíduos, um estudo retrospectivo. A amostra de conveniência foi composta por prontuários
clínicos de pacientes submetidos à endodontia em dentes decíduos no Ambulatório da clínica.

Um total de 232 prontuários clínicos de pacientes infantis foram revisados e, após a


aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 116 tratamentos endodônticos realizados em 73
pacientes horam incluídos na análise. O tratamento endodôntico foi mais frequente nos dentes
decíduos posteriores (61 segundos molares; 28 primeiros molares) do que em dentes anteriores
(25 incisivos e 2 caninos). A condição pulpar no momento do exame diagnóstico revelou
necrose em 95 casos (81,9%), sendo 73 apresentaram lesão periapical / furca, seguida de pulpite
irreversível em 15 casos (12,9%). Em 6 dentes não foi reportado o diagnostico pulpar no
prontuário clínico (SOARES, 2017).

A longevidade dos tratamentos endodônticos aos 12 meses foi de 65,74% e taxa anual
de falha (TAF) de 34,2%. Após a falha, 14 dentes (29,8%) receberam retratamento endodôntico.
Quando considerado o retratamento como sobrevida, a longevidade dos tratamentos atingiu
68,06% e TAF de 31,9% após um ano de acompanhamento. De forma geral, os estudos
demostraram uma longevidade limitada, tanto das endodontias como dos retratamentos
endodônticos (SOARES, 2017).

Outro estudo, agora feito pela Universidade federal da Paraíba que verifica a conduta de
odontopediatras quanto a escolha da terapia endodôntica em dentes decíduos, assim como os
fatores que influenciaram nessa escolha. Estudo transversal com 30 odontopediatras atuantes
no estado do Pará, Região Amazônica do Brasil, a partir de um questionário elaborado contendo
informações pessoais e questões de caráter específico sobre possíveis técnicas de terapia
endodôntica em dentes decíduos (PINHEIRO et al., 2013).

Em caso de molar decíduo com cárie profunda sem exposição pulpar, 86,7% dos
odontopediatras, realizaram a proteção pulpar indireta. No caso de pequena exposição acidental
da polpa, 50% fariam proteção pulpar direta e 46,7% a pulpotomia. Já em grande exposição
pulpar com inflamação suave, 56,7% fariam a pulpotomia e 43,3% proteção pulpar direta. Em
polpa exposta, a pulpectomia foi o tratamento mais relatado em dentes com 1/3 de reabsorção
radicular, presença de pólipo pulpar e presença de fistula. Nos casos de extensa lesão radicular
e fistula, a maioria (93,3%) faria exodontia. Não foi observada uniformidade nas respostas da
maioria das situações, especialmente nos casos de exposição pulpar (PINHEIRO et al., 2013).

O protocolo clínico empregado na técnica endodôntica de dentes decíduos varia muito


entre universidades brasileiras (BERGOTI et al., 2015). Diante da falha de um procedimento
endodôntico em dentes decíduos, duas alternativas clínicas são possíveis: exodontia ou
retratamento. Estudos reportam altas taxas de sucesso de retratamentos endodônticos em dentes
permanentes (91%), resultados muito similares quando comparados com o tratamento
endodôntico primário (97%) (KEINAN; MOSHONOV; SMIDT, 2014).

Diversos são os motivos que levam a um desfecho desfavorável do tratamento


endodôntico em dentes decíduos. A inerente complexidade do sistema de canais radiculares,
que dificulta o preparo químico-mecânico e consequentemente o controle da microbiota; a
dificuldade de inserção da pasta obturadora no comprimento de trabalho total dos canais; além
do manejo do comportamento da criança durante o atendimento, são condições que podem
contribuir para o insucesso da técnica. (SOARES, 2017)
3 RELATO DE CASO

Paciente masculino de 8 anos, chegou para atendimento na clínica da Unisociesc


acompanhado de seu pai, relatando que já havia sido atendido em uma unidade de saúde, onde
o profissional realizou a restauração no elemento 64 com ionômero de vidro (CIV), mas que
sua restauração sempre caia e que já fazia mais de 6 meses que estava sem à mesma.

No primeiro atendimento foi realizada radiografia periapical onde foi encontrado a


cavidade destruída por cárie, devido ao tempo que o elemento ficou exposto e sem restauração,
em seguida decidimos em conjunto com a professora realizar o tratamento endodôntico para
que o elemento dentário servisse de mantendedor de espaço até o permanente estar pronto para
irrupção. No segundo atendimento foi realizado a remoção do tecido cariado e iniciado o
tratamento endodôntico, com o acesso aos canais radiculares e a limpeza dos canais com lima
20# intercalando com irrigação de soro fisiológico e gotas de hipoclorito de sódio 1%, em
seguida foi iniciado a modelagem do canal com limas 35# e 40#, sempre intercalando com
irrigação do canal, em seguida, foi realizado curativo de demora com tricresol e restauração
provisória com ionoseal. No terceiro atendimento foi acessado o canal novamente, e feito a
irrigação com soro fisiológico e gotas de hipoclorito de sódio a 1% para limpeza do canal, após
feito a secagem com cones de papel absorvente com diâmetro e comprimento compatível a lima
final que foi utilizada, e em seguida, foi iniciado a obturação do canal com Ultra Cal,
compactação do obturador e limpeza da cavidade com bolinhas de algodão estéril, após,
iniciado a restauração definitiva com ionômero de vidro, ajuste oclusal, polimento e
acabamento e radiografia final.

No quarto atendimento foi dado sequência no tratamento, com restauração do elemento 54


classe II, removendo o tecido cariado com brocas esféricas de alta e baixa rotação e restaurado
com resina bulk fill A2. No quinto atendimento foi restaurado o elemento 84 classe II,
primeiramente removendo o tecido cariado com brocas esféricas de alta e baixa rotação, e em
seguida, realizado restauração com resina bulk fill A2. E exodontia do elemento 52 com fórceps
44, Anestésico utilizado: 1tubete lidocaina 2% com epinefrina 1:200,000, medicação prescrita:
Alivium (ibuprofeno 100 mg) 1 gota a cada kg de 8 em 8 horas.
Sexto atendimento foi realizado exodontia do elemento 64 que aviamos feito endodontia,
paciente relatou que mordeu um pirulito e quebrou parte da coroa do elemento. Feito a
exodontia com fórceps e descolador. Anestésico utilizado: 1 tubete lidocaína 2% com epinefrina
1:200,000 e 1 tubete de mepvacaina 3% com epinefrina 1:200.000.

Figura 01: Radiografia inicial do elemento 64. Figura 02: Radiografia do elemento 64 depois da
modelagem do canal.

Figura 03: Radiografia final do elemento 64 depois de feito a


obturação. Figura 04: foto final depois de restaurado
elemento 64.
3 CONCLUSÃO

Mediante os estudos apresentados pode se constatar que o tratamento endodôntico em


dentes decíduos é de suma importância, pois a perda precoce dessa dentição pode acarretar
problemas como fonação, mastigação e oclusão, além de problemas de saúde geral da criança
como inapetência, baixo peso, alterações na síntese do hormônio do crescimento. Dessa forma
concluímos que a indicação do tratamento mais adequado deve ser pautada no correto
diagnostico através de criteriosa anamnese, exames clínicos e radiográficos e na cuidadosa
execução da técnica escolhida e o acompanhamento do paciente para que assim, tenhamos o
sucesso no tratamento.
4 REFERÊNCIAS

SOARES, S. B. Longevidade de tratamentos e retratamentos endodônticos de dentes decíduos


- um estudo retrospectivo. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul,
2017.

PAIXÃO, G. R. Análise da terapia pulpar realizada em dentes decíduos. Universidade


Estadual de Campinas. Piracicaba, 2012.

BORTOLINI, L. Avaliação longitudinal dos sucessos e insucessos dos tratamentos


endodônticos de dentes decíduos realizados pela técnica UFSC. Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, 2002.

PINHEIRO, C. ASSUNÇÃO, S. H. H. TORRES, B. R. L. MIYAHARA, N. K. D. ARANTES,


C. A. L. Terapia endodôntica em dentes decíduos por odontopediatras. Universidade Federal
da Paraíba. Paraíba, 2013.

MILANI, G. C. P. ARID, J. Tratamento endodôntico em dentição decídua. Faculdade dos


Grandes Lagos.

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