Você está na página 1de 4

Revisão de literatura Odontopediatria

Evidências científicas atuais sobre a


terapia pulpar de dentes decíduos
Recebido em: mar/2014 Current situation and scientific evidences on pulp therapy for
Aprovado em: jun/2014
primary teeth
Emyr Stringhini Junior - Especialista e RESUMO
mestre em Odontopediatria, doutor em A terapia pulpar conservadora nos dentes decíduos visa manter a integridade, a vitalidade
Odontologia - Professor da Faculdade de e a saúde dos dentes e estruturas de suporte, reduzir a necessidade de tratamento endodôntico
Odontologia Unisep e mantê-los até o período de esfoliação. O presente artigo tem o objetivo de apresentar as evi-
dências científicas atuais sobre a terapia pulpar em dentes decíduos, após analisar resultados de
Luciana Butini Oliveira - Pós-doutora estudos clínicos randomizados e revisões sistemáticas com metanálises recentes sobre o tema.
em Odontopediatria pela Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Descritores: endodontia; dentes decíduos; odontopediatria; odontologia baseada em evidências
Paulo (Fousp) - Professora do programa
de pós-graduação e coordenadora dos ABSTRACT
cursos Lato Sensu da Faculdade São The aim of conservative pulp therapy for primary teeth is to maintain the integrity and
Leopoldo Mandic (SLMandic) health of the teeth and their supporting tissues, pulp vitality, reduce the need for a nonvital
pulp treatment and retain these teeth until the appropriate time for exfoliation. This paper
Jenny Abanto - Pós-Doutoranda em presents the findings of recent clinical trials, systematic reviews and meta-analysis about vital
Odontopediatria pela Fousp - Professora pulp terapy in primary teeth.
dos cursos de Odontopediatria na
primeira infância e Odontopediatria Descriptors: pulp therapy; primary teeth; pediatric dentistry; evidence-based dentistry
baseada em evidências da Fundecto-USP
RELEVÂNCIA CLÍNICA
Anna Carolina Volpi Mello de Moura Apresentar para os clínicos gerais e Odontopediatras as evidências científicas atuais sobre o
- Doutora em Odontopediatria pela tema para aplicação na prática clínica.
Fousp - Professora do Programa de pós-
graduação da UNIB

Ricardo Scarparo Navarro - Doutor


em Odontopediatria pela Fousp -
Professor da Unicastelo

José Carlos P. Imparato - Professor


do programa de pós-graduação da
SLMandic

Autor de correspondência:
Luciana Butini Oliveira
Faculdade São Leopoldo Mandic
Rua José Rocha Junqueira, 13
Swift - Campinas - SP
13045-755
Brasil
luciana.butini@slmandic.edu.br

REV ASSOC PAUL CIR DENT 2014;68(3):259-62 259

Artigo 04 - Evidências científicas atuais sobre a pulpotomia de dentes decíduos - fluxo 956.indd 259 25/08/14 19:29
JUNIOR ES; OLIVEIRA LB; ABANTO J; MOURA ACVM; NAVARRO RS; IMPARATO JCP

INTRODUÇÃO do mundo,6,7 a indicação de pulpotomia tem sido reduzida. Dentre os prin-


Atualmente, apesar da redução no índice de cárie da população mun- cipais motivos estão: a melhora nos índices de saúde bucal da população
dial, 1 não são raras as vezes que, na prática clínica, encontram-se pacien- mundial, difusão dos princípios da Odontologia de Mínima Intervenção,
tes que necessitam de tratamentos odontológicos complexos e invasivos. dúvidas quanto ao melhor material a ser empregado na técnica, incerteza
No Brasil, dados da última pesquisa nacional de saúde bucal no diagnóstico da condição pulpar, praticidade, baixo custo e excelentes
de 2010 mostraram que, em crianças de cinco anos, o componente resultados do capeamento pulpar indireto em relação à pulpotomia.
cariado é responsável por 80% do índice de ceo; e 60,8% e 24,6% Há evidências de que o capeamento pulpar indireto em dentes decí-
das crianças de 12 anos relataram já ter sofrido alguma morbidade duos e permanentes, adotando-se a técnica de remoção parcial do tecido
ou dor de dente, respectivamente.2 cariado, reduz o risco de exposição pulpar e não causa danos ao complexo
Na dentição decídua fatores como a menor espessura de esmalte dentinopulpar ou provoca pulpites ou necrose pulpar, tanto a curto quanto
e dentina, a proeminência dos cornos pulpares, o grau de mineraliza- em longo prazo.8 Além disso, resultados de estudos clínicos apontam que
ção dos dentes, associados com a progressão da cárie dentária, favo- esse tipo de tratamento demonstrou maiores taxas de sucesso em com-
recem o surgimento de alterações pulpares com maior frequência.3 paração à pulpotomia independentemente da técnica, material e tempo
No momento atual, os tratamentos mais indicados para lesões cariosas de acompanhamento.9-12 Os materiais mais estudados como protetores do
profundas são: Capeamento Pulpar Indireto (CPI) em sessão única e Escava- complexo dentinopulpar são os cimentos de ionômero de vidro, hidróxido
ção Gradativa (EG). O que diferencia estas técnicas é o número de sessões, de cálcio, óxido de zinco e eugenol e os adesivos resinosos.
uso ou não de anestesia e instrumentos para a remoção dentinária, bem Sendo assim, analisando todos esses pontos que desfavorecem
como os materiais empregados para o vedamento da cavidade.4 Estas pos- a pulpotomia, é importante lembrar que o estágio de saúde pulpar
sibilidades de tratamento estão de acordo com a filosofia de mínima inter- que indica tanto a pulpotomia quanto o capeamento pulpar indireto
venção, por meio da remoção parcial do tecido cariado. Desta forma, a pul- é de vitalidade. Portanto, se a condição clínica para os dois tipos de
potomia não é mais uma técnica de destaque e de primeira opção. Porém, tratamento é a mesma, seria mais vantajoso, indicar para tratamen-
é importante conhecer qual o melhor material para quando for necessária. to de lesões de cárie profunda com vitalidade pulpar o capeamento
Na prática clínica, muitos profissionais têm as seguintes dúvidas: a pulpar indireto, já que esse possui pontos mais favoráveis.5,8 A pul-
técnica da pulpotomia ainda é recomendada ou está ultrapassada?; o potomia seria indicada apenas para casos onde dentes vitais tiveram
que fazer em casos de exposição pulpar em dentes decíduos? quais são exposição mecânica acidental sem contaminação bacteriana.5
os materiais indicados para a obturação intracanal de dentes decíduos? Avaliando as melhores evidências científicas sobre qual o material ideal
Seguindo o princípio da Odontologia Baseada em Evidência, para ser utilizado em pulpotomia, uma recente revisão sistemática13 reuniu
o Cirurgião-Dentista deve tomar as decisões na prática clínica estudos clínicos randomizados que avaliaram a efetividade da pulpotomia
fundamentadas na melhor evidência científica disponível na li- com MTA e FC, e a possível associação de alguns fatores relacionados ao su-
teratura, na sua experiência com a técnica ou procedimento a ser cesso da técnica. Foram pesquisadas três bases de dados até março de 2013,
realizado e a na autonomia de escolha do paciente. e 19 artigos foram incluídos. Como critério de inclusão os grupos experi-
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é revisar a literatura acer- mentais: deveriam no mínimo comparar o FC e o MTA, na pulpotomia de
ca dos estudos clínicos, revisões sistemáticas e metanálises disponí- dentes decíduos humanos vitais; acompanhar os resultados, no mínimo, por
veis sobre a terapia pulpar em dentes decíduos e apresentar uma 6 meses; ter critério de sucesso e falhas bem definidos; registrar a taxa de
análise crítica da evidência científica atual sobre o tema. sucesso ou o número de falhas e ter sido publicado em inglês. Os resultados
mostraram que o MTA é mais efetivo na pulpotomia de dentes decíduos,
Principais evidências disponíveis na literatura sobre a tera- resultando numa baixa taxa de falha. A técnica teve taxa de sucesso maior
pia pulpar em dentes decíduos com o uso de coroa de aço do que amálgama como material restaurador.
A evidência científica, sobre a terapia pulpar em dentes decíduos Nenhuma outra evidência foi encontrada entre o sucesso da técnica e fator
foi obtida pela busca na literatura de revisões sistemáticas e metaná- de prognóstico. Sendo assim, baseado na qualidade, homogeneidade e nú-
lises de estudos clínicos randomizados, sobre terapia pulpar em den- mero de artigos incluídos, a pulpotomia de molares decíduos realizada com
tes decíduos. Pesquisou-se a base de dados Medline utilizando-se a MTA apresentou maior taxa de sucesso em comparação ao FC.
seguinte estratégia: “(pulp therapy OR pulp treatment) AND (primary Outros autores14 recentemente realizaram uma revisão sistemá-
OR deciduous)” AND (systematic review) até março de 2014. tica para avaliar clínica a radiograficamente o FC, o MTA, o SF, o laser,
Ao analisar a literatura científica disponível, observou-se que se no e Ca(OH)2, na pulpotomia de dentes decíduos. Para isto, cinco bases de
passado os pesquisadores estavam mais preocupados com as técnicas a dados foram pesquisadas até dezembro de 2012. Como critérios de inclu-
serem empregadas na terapia pulpar de dentes decíduos, atualmente, as são foram considerados estudos prospectivos comparando dois ou mais
pesquisas estão voltadas para a comparação de diferentes materiais ou materiais de pulpotomia, molares decíduos expostos por cárie, período de
na busca de uma terapia mais biológica e contemporânea. acompanhamento igual ou superior a 6 meses, registro clinico ou radio-
De acordo com as recomendações da American Academy of gráfico de sucesso e falha e clareza na definição de falha e sucesso clíni-
Pediatric Dentistry (AAPD)5 as terapias pulpares conservadoras co radiográfico. Dos 37 artigos incluídos na revisão sistemática, apenas
mais indicadas para o tratamento de dentes decíduos vitais são 22 puderam ser metanalisados. Os autores concluíram que após 18-24
o capeamento pulpar indireto e a pulpotomia. meses o FC, SF e MTA apresentaram significativamente melhor resultado
Apesar de ainda ser ensinada em muitas faculdades de Odontologia clinico radiográfico que Ca(OH)2 e laser na terapia de dentes decíduos.

260 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2014;68(3):259-62

Artigo 04 - Evidências científicas atuais sobre a pulpotomia de dentes decíduos - fluxo 956.indd 260 25/08/14 19:29
Odontopediatria

Alguns pesquisadores15 não recomendam tratar exposições pulpares nente do FC, como carcinogênicos e recomendar sua substituição por
por cárie de dentes decíduos vitais com pulpotomia ou capeamento pul- materiais alternativos.28 Além da carcinogenicidade, outros fatores como
par direto, devido aos riscos de pulpite irreversível e chances de insucesso, à sua distribuição sistêmica, alteração da resposta imunológica, poten-
e neste caso indicam a pulpectomia ou exodontia do dente decíduo. cial citotóxico e mutagênico e mecanismo de ação de desvitalização do
Com relação à pulpectomia ou tratamento endodôntico dentes de- tecido pulpar26,29,30 foram levantados na literatura. Alguns pesquisadores31
cíduos sem vitalidade não há um protocolo bem estabelecido e diversos concluíram que o risco de câncer, mutagenicidade ou sensibilização
materiais, tais como cimento de óxido de zinco e eugenol, materiais à imune associada ao formocresol é inconsequente na terapia pulpar em
base de hidróxido de cálcio e/ou pastas iodoformadas têm sido preco- Odontopediatria, e que até o surgimento de alternativas superiores ou
nizados para a obturação de dentes decíduos. As evidências científicas evidências definitivas suportando o risco de câncer, não há razões para
apontaram que há desempenho clínico semelhante entre estes dife- descontinuar seu uso. Além disso, outros autores30 observaram que pa-
rentes materiais, com resultados proprissórios para as pastas à base de cientes apresentaram defeitos cromossômicos após o uso do formocre-
iodofórmio + hidróxido de cálcio.16,17 sol e dada a genotoxicidade acumulada com a idade, crianças entre 5 a
Em 2003 outros pesquisadores18 realizaram revisão sistemática para 10 anos de idade, por apresentarem crescimento rápido, tornar-se-iam
avaliar a efetividade de várias técnicas de tratamento pulpar em molares mais vulneráveis a futuros problemas com a sua saúde.
decíduos, com cárie envolvendo a polpa por, no mínimo, 12 meses. Não Diante desta diversidade de resultados e da recomendação da
houve restrição quanto ao idioma de publicação e apenas artigos clínicos AAPD5 os profissionais que realizam a técnica optam pelo uso do
randomizados e quase randomizados: de diferentes materiais na mesma formocresol diluído, em uma única sessão, por cinco minutos, para
técnica de tratamento; uma determinada técnica de tratamento em rela- reduzir o grau e a extensão da reação inflamatória, capacidade de
ção à exodontia ou nenhum tratamento para molares decíduos cariados penetração no tecido pulpar e toxicidade, e tendo o cimento de óxido
foram incluídos. Dois avaliadores independentes realizaram a coleta dos de zinco e eugenol como o material restaurador da câmara pulpar.
dados importantes dos artigos e a avaliação da qualidade através do mé- De acordo com a recomendação da AAPD5 e os resultados das revi-
todo de randomização; do mascaramento dos avaliadores; dos dados de sões sistemáticas13,22,24,25 disponíveis na literatura, o MTA pode ser empre-
falhas e perda amostral; da definição de critérios de inclusão, exclusão, su- gado com segurança na prática clínica, por ser mais biológico e apresentar
cesso e falha. Considerando oito artigos identificados, apenas três foram taxa de sucesso superior ao formocresol. Clinicamente, os profissionais
incluídos. Os autores avaliaram a pulpotomia realizada com formocresol, devem estar atentos ao maior tempo de presa do MTA e a necessidade
sulfato férrico e eletrocoagulação e pulpectomia feita com óxido de zinco de manutenção da umidade do meio, portanto é recomendado que os
e eugenol. Para estes autores, não foi possível concluir qual a melhor op- profissionais sigam as recomendações do fabricante antes do seu uso. A
ção de tratamento ou técnica para molares decíduos com envolvimento maior limitação do uso do MTA em Odontopediatria está relacionada ao
pulpar devido à escassez de evidência científica disponível na literatura. custo do material, que se contrapõe ao tempo de permanência do den-
te decíduo na cavidade bucal. Neste caso, quando na análise de custo x
DISCUSSÃO benefício o período de permanência do dente decíduo na cavidade bucal
A revisão sistemática da literatura é considerada a melhor evi- for curto, o sulfato férrico seria o material de escolha em pulpotomias.14
dência científica por estabelecer critérios sistemáticos para seleção Muitos clínicos gerais e principalmente Odontopediatras resis-
de artigos, coleta e análise estatística dos dados, e consequentemen- tem em adotar o capeamento pulpar indireto e preferem a pulpoto-
te responder de forma clara e objetiva uma pergunta clínica. A lite- mia, mesmo com indicações clínicas precisas e excelentes índices de
ratura é vasta em relação à pulpotomia de dentes decíduos, assim sucesso da técnica.8-12 Um recente editorial publicado no periódico
como o capeamento pulpar indireto pelas técnicas de Capeamento International Journal of Paediatric Dentistry32 trouxe o seguinte
Pulpar Indireto (CPI) em sessão única e Escavação Gradativa (EG). questionamento em seu título: Há espaço para a pulpotomia com
A técnica de pulpotomia consiste na amputação da polpa co- formocresol? O editorial ainda apontou que o CPI é a real alternativa
ronária, tratamento do remanes cente pulpar vital com medica- com base nas evidências científicas já disponíveis na literatura.
mento, restauração da polpa coronária com óxido de zinco e eu- Quanto à terapia pulpar radical indicada para dentes decíduos – pul-
genol ou outro material de base e restauração definitiva do dente.5 pectomia há escassez de estudos clínicos randomizados e não há como
Atualmente, o formocresol ainda é considerado o padrão ouro na comprovar a superioridade de um material em relação ao outro.18 Além
pulpotomia de dentes decíduos, seja pelos anos de aplicação clínica da disso, uma recente publicação33 apontou que há nos estudos clínicos já
técnica, resultados de pesquisas, facilidade de aplicação clínica e fami- publicados, uma grande diversidade nos critérios de seleção, randomiza-
liaridade profissional com a técnica. Pesquisas mostraram que no Brasil19 ção e alocação dos grupos amostrais, aos avaliadores cegos e calibrados,
e nos Estados Unidos20 ele é o material mais recomendado nas escolas à perda amostral no período de acompanhamento e também quanto aos
de Odontologia e mais empregado pelos profissionais na técnica. Con- parâmetros de comparação para determinar sucesso ou fracasso nos es-
siderando as revisões sistemáticas encontradas na literatura13,14,21-27, o tudos clínicos sobre a terapia pulpar em dentes decíduos. Quando esses
formocresol apresentou bons índices de sucessos, quando comparado a critérios são negligenciados, comprometem a qualidade, consistência e
outros materiais. Entretanto, a Agência Internacional de Pesquisa sobre confiabilidade dos resultados e realização de metanálises. Entretanto
o Câncer (IARC), ao avaliar a literatura disponível, concluiu, em 2004, evidências científicas disponíveis mostram atualmente, que o tratamento
que há evidência suficiente, com base em estudos com animais e hu- pulpar radical em dentes decíduos já deixou de ser empírico há algum
manos, que permitem classificar os formaldeídos, o principal compo- tempo. O tratamento que era realizado muitas vezes sem a instrumenta-

REV ASSOC PAUL CIR DENT 2014;68(3):259-62 261

Artigo 04 - Evidências científicas atuais sobre a pulpotomia de dentes decíduos - fluxo 956.indd 261 25/08/14 19:29
JUNIOR ES; OLIVEIRA LB; ABANTO J; MOURA ACVM; NAVARRO RS; IMPARATO JCP

ção dos canais radiculares e alicerçado pela colocação de medicamentos coces e erupção do permanente subsequente à esfoliação do decíduo.
tóxicos, e muitas vezes agressivos,5 passa a ser feito com mais critérios e Em relação à terapia pulpar radical - pulpectomia - as evidências
novas opções de recursos técnicos, como conhecimento anatômico, uso são inconclusivas e não há como apontar a superioridade de um deter-
de localizadores apicais eletrônicos e instrumentação mecanizada.34,35 minado material em comparação ao outro, porém as pastas à base de
Espera-se portanto, o aumento de pesquisas nessa área. iodofórmio + hidróxido de cálcio têm se mostrado promissórias como
substitutas ao ZOE - óxido de zinco e eugenol (padrão ouro). Além disso,
CONCLUSÃO em casos de exposição pulpar por cárie o uso da pulpectomia seria mais
Pode-se concluir que há evidências científicas suficientes em rela- apropriado. Assim mesmo são necessários estudos clínicos randomiza-
ção às terapias pulpares conservadoras. O tratamento pulpar indireto dos comparando os diferentes materiais indicados para a obturação de
realizado pelas técnicas de Capeamento Pulpar Indireto (CPI) em sessão dentes decíduos, bem como a avaliação da superioridade da pulpecto-
única e a Escavação Gradativa (EG) assim como a pulpotomia podem mia frente à extração dentária considerando diversos desfechos clínicos.
ser indicados para o tratamento de dentes decíduos vitais. Entretan- O sucesso da terapia pulpar não depende apenas do material
to, quando bem avaliada por métodos clínicos, radiográficos e locais, a a ser empregado. A indicação do tratamento mais adequado deve
indicação do CPI é superior na prática clínica, uma vez que permite a estar pautada no correto diagnóstico através de criteriosa ana-
aplicação do princípio da Mínima Intervenção através da manutenção mnese, exames clínicos e radiográficos bem como na cuidadosa
da vitalidade, redução do número de pulpectomias e exodontias pre- execução da técnica e acompanhamento dos pacientes.

REFERÊNCIAS
1. Do LG. Distribution of caries in children: variations between and within popula- 18. Nadin G, Goel BR, Yeung CA, Glenny AM. Pulp treatment for extensive decay in
tions. J Dent Res 2012;91:536-43. primary teeth. Cochrane Database Syst Rev. 2003;(1):CD003220.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Básica. Secretaria de Vigilância 19. Bergoli AD, Primosch RE, Araujo FB, Ardenghi TM, Casagrande L. Pulp therapy in primary
Sanitária. SB Brasil 2010. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais. teeth--profile of teaching in Brazilian dental schools. J Clin Pediatr Dent 2010;35(2):191-5.
Brasília: Ministério da Saúde; 2012. 20. Dunston B, Coll JA. A survey of primary tooth pulp therapy as taught in US dental
3. Assed S, Silva LAB, Nelson-Filho P. Pulpotomia em dentes decíduos e permanentes schools and practiced by diplomates of the American Board of Pediatric Dentistry.
jovens. In: Assed S. Odontopediatria: bases científicas para a prática clínica. São Pediatr Dent 2008;30(1):42-8.
Paulo: Artes Médicas; 2005. p. 572-611. 21. Loh A, O’Hoy P, Tran X, Charles R, Hughes A, Kubo K, et al. Evidence-based asses-
4. Massara MLA, Faraco Júnior IM, Nelson-Filho P, Araújo FB, Percinoto C. Terapia pul- sment: evaluation of the formocresol versus ferric sulfate primary molars pulpo-
par em dentes decíduos e permanentes jovens. In: Manual de referência para proce- tomy. Pediatr Dent. 2004;26(5):401-9.
dimentos clínicos em Odontopediatria/coordenadores Maria de Lourdes de Andrade 22. Peng L, Ye L, Tan H, Zhou X. Evaluation of the formocresol versus mineral trioxide
Massara, Paulo César Basrbosa Rédua. – 2. ed. – São Paulo:Santos, 2013, p. 155-172. aggregate primary molar pulpotomy: a meta-analysis. Oral Surg Oral Med Oral
5. American Academy of Pediatric Dentistry. Guideline on pulp therapy for primary Pathol Oral Radiol Endod 2006;102(6):e40-4.
and immature permanent tooth. Clinical Guidelines - Reference Manual 2012- 23. Peng L, Ye L, Guo X, Tan H, Zhou X, Wang C, et al. Evaluation of formocresol versus ferric suphate
2013. Pediatr Dent 2012;34(6 Reference Manual):222-9. primary molar pulpotomy: a systematic review and meta-analysis. Int End J 2007;40:751-7.
6. Bowen JL, Mathu-Muju KR, Nash DA, Chance KB, Bush HM, Li HF. Pediatric and general 24. Ng FK, Messer LB. Mineral trioxide aggregate as a pulpotomy medicament: an
dentist’ attitudes toward pulp therapy for primary teeth. Pediatr Dent 2012; 34(3):210-5. evidence-based assessment. Eur Arch Paediatr Dent 2008;9(2):58-73.
7. Hincapié S, Fuks A, Mora I, Bautista G, Socarras F. Teaching and practical guideli- 25. Ghajari MF, Kermani NM, Fard MJK, Vantanpour M. Comparison of formocresol
nes in pulp therapy in primary teeth in Colombia – South America. Int J Paediatr and ferric sulfate pulpotomy in primary molars: a systematic review and meta-
Dent 2014. Mar 21. doi: 10.1111/ipd.12103. [Epub ahead of print] -analysis. J Dent (Tehran) 2009;6(1):29-36.
8. Ricketts DN, Kidd EA, Innes N, Clarkson J. Complete or ultraconservative remo- 26. Simancas-Pallares MA, Díaz-Caballero AJ, Luna-Ricardo LM. Mineral trioxide ag-
val of decayed tissue in unfilled teeth. Cochrane Database Syst Rev. 2006 Jul gregate in primary teeth pulpotomy. A systematic literature review. Med Oral Pa-
19;(3):CD003808. Review. Update in: Cochrane Database Syst Rev. 2013;3:CD003808. tol Oral Cir Bucal 2010;15(6):942-6.
9. Farooq NS, Coll JA, Kuwabara A, Shelton P. Success rates of formocresol pul- 27. Coster P, Rajasekharan S, Martens L. Laser-assisted pulpotomy in primary teeth: a
potomy and indirect pulp therapy in the treatment of deep dentinal caries in systematic review. Int J Paediatr Dent 2013; 23(6):389-99.
primary teeth. Pediatr Dent 2000; 22:278-86. 28. World Health Organization. International Agency for Research on Cancer. IARC clas-
10. Falster CA, Araújo FB, Straffon LH, Nör JE. Indirect pulp treatment: in vivo ou- sifies formaldehyde as carcinogenic to humans [text on the internet]. 2004 [cited
tcomes of an adhesive resin system vs calcium hydroxide for protection of the 2013 July 15]. Available from: http://iarc.fr/en/media-centre/pr/2004/pr153.html
dentin-pulp complex. Pediatr Dent 2002; 24:241-8. 29. Odabas ME, Bodur H, Baris E, Demir C. Clinical, radiographic, and histopathologic evalu-
11. de Souza EM, Cefaly DF, Terada RS, Rodrígues CC, de Lima Navarro MF. Clinical ation of Nd:YAG laser pulpotomy on human primary teeth. J Endod 2007;33(4):415-21.
evaluation of the ART technique using high density and resin-modified glass io- 30. Leite ACGL, Rosenblatt A, Carlixto MS. Genotoxic effect of formocresol pulp the-
nomer cements. Oral Health Prev Dent 2003; 1:201-7. rapy of deciduous teeth. Mutat Res 2012;747:93-7.
12. Pinto AS, de Araújo FB, Franzon R, et al. Clinical and microbiological effect of calcium 31. Milnes AR. Is formocresol obsolete? A fresh look at the evidence concerning safety
hydroxide protection in indirect pulp capping in primary teeth. Am J Dent 2006; 19:382-6. issues. Pediatr Dent 2008;30(3):237-46.
13. Shirvani A, Asgary S. Mineral Trioxide Aggregate versus formocresol pulpotomy: a 32. Deery C. Editorial: Is there a place for the formocresol pulpotomy? Indirect pulp cap-
systematic review and meta-analysis of randomized clinical trial. Clin Oral Inves- ping, the real alterative. Int J Paediatr Dent. 2014 Jan;24(1):1. doi: 10.1111/ipd.12084.
ting. 2014. Jan 23. [Epub ahead of print] 33. Smaïl-Faugeron V, Fron Chabouis H, Durieux P, Attal JP, Muller-Bolla M, Courson
14. Lin PY, Chen HS, Wang YH, Tu YK. Primary molar pulpotomy: a systematic review F. Development of a core set of outcomes for randomized controlled trials with
and network meta-analysis. J Dent 2014, Feb 7. [Epub ahead of print] multiple outcomes--example of pulp treatments of primary teeth for extensive
15. Coll JA. Indirect pulp capping and primary teeth: is the primary tooth pulpotomy out decay in children. PLoS One. 2013;8(1):e51908.
of date J Endod. 2008 Jul;34(7 Suppl):S34-9. doi: 10.1016/j.joen.2008.02.033. Review. 34. Ahmed HM. Anatomical challenges, electronic working length determination and
16. Barja-Fidalgo F, Moutinho-Ribeiro M, Oliveira MA, de Oliveira BH. A systematic current developments in root canal preparation of primary molar teeth. Int Endod
review of root canal filling materials for deciduous teeth: is there an alternative J. 2013 Nov;46(11):1011-22. doi: 10.1111/iej.12134.
for zinc oxide-eugenol? ISRN Dent. 2011;2011:367318. 35. Fumes AC, Sousa-Neto MD, Leoni GB, Versiani MA, da Silva LA, da Silva RA, Conso-
17. Barcelos R, Santos MP, Primo LG, Luiz RR, Maia LC. ZOE paste pulpectomies outco- laro A. Root canal morphology of primary molars: a micro-computed tomography
me in primary teeth: a systematic review. J Clin Pediatr Dent. 2011;35(3):241-8. study. Eur Arch Paediatr Dent. 2014. [Epub ahead of print].

262 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2014;68(3):259-62

Artigo 04 - Evidências científicas atuais sobre a pulpotomia de dentes decíduos - fluxo 956.indd 262 25/08/14 19:29

Você também pode gostar