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Autor de correspondência:
Luciana Butini Oliveira
Faculdade São Leopoldo Mandic
Rua José Rocha Junqueira, 13
Swift - Campinas - SP
13045-755
Brasil
luciana.butini@slmandic.edu.br
Alguns pesquisadores15 não recomendam tratar exposições pulpares nente do FC, como carcinogênicos e recomendar sua substituição por
por cárie de dentes decíduos vitais com pulpotomia ou capeamento pul- materiais alternativos.28 Além da carcinogenicidade, outros fatores como
par direto, devido aos riscos de pulpite irreversível e chances de insucesso, à sua distribuição sistêmica, alteração da resposta imunológica, poten-
e neste caso indicam a pulpectomia ou exodontia do dente decíduo. cial citotóxico e mutagênico e mecanismo de ação de desvitalização do
Com relação à pulpectomia ou tratamento endodôntico dentes de- tecido pulpar26,29,30 foram levantados na literatura. Alguns pesquisadores31
cíduos sem vitalidade não há um protocolo bem estabelecido e diversos concluíram que o risco de câncer, mutagenicidade ou sensibilização
materiais, tais como cimento de óxido de zinco e eugenol, materiais à imune associada ao formocresol é inconsequente na terapia pulpar em
base de hidróxido de cálcio e/ou pastas iodoformadas têm sido preco- Odontopediatria, e que até o surgimento de alternativas superiores ou
nizados para a obturação de dentes decíduos. As evidências científicas evidências definitivas suportando o risco de câncer, não há razões para
apontaram que há desempenho clínico semelhante entre estes dife- descontinuar seu uso. Além disso, outros autores30 observaram que pa-
rentes materiais, com resultados proprissórios para as pastas à base de cientes apresentaram defeitos cromossômicos após o uso do formocre-
iodofórmio + hidróxido de cálcio.16,17 sol e dada a genotoxicidade acumulada com a idade, crianças entre 5 a
Em 2003 outros pesquisadores18 realizaram revisão sistemática para 10 anos de idade, por apresentarem crescimento rápido, tornar-se-iam
avaliar a efetividade de várias técnicas de tratamento pulpar em molares mais vulneráveis a futuros problemas com a sua saúde.
decíduos, com cárie envolvendo a polpa por, no mínimo, 12 meses. Não Diante desta diversidade de resultados e da recomendação da
houve restrição quanto ao idioma de publicação e apenas artigos clínicos AAPD5 os profissionais que realizam a técnica optam pelo uso do
randomizados e quase randomizados: de diferentes materiais na mesma formocresol diluído, em uma única sessão, por cinco minutos, para
técnica de tratamento; uma determinada técnica de tratamento em rela- reduzir o grau e a extensão da reação inflamatória, capacidade de
ção à exodontia ou nenhum tratamento para molares decíduos cariados penetração no tecido pulpar e toxicidade, e tendo o cimento de óxido
foram incluídos. Dois avaliadores independentes realizaram a coleta dos de zinco e eugenol como o material restaurador da câmara pulpar.
dados importantes dos artigos e a avaliação da qualidade através do mé- De acordo com a recomendação da AAPD5 e os resultados das revi-
todo de randomização; do mascaramento dos avaliadores; dos dados de sões sistemáticas13,22,24,25 disponíveis na literatura, o MTA pode ser empre-
falhas e perda amostral; da definição de critérios de inclusão, exclusão, su- gado com segurança na prática clínica, por ser mais biológico e apresentar
cesso e falha. Considerando oito artigos identificados, apenas três foram taxa de sucesso superior ao formocresol. Clinicamente, os profissionais
incluídos. Os autores avaliaram a pulpotomia realizada com formocresol, devem estar atentos ao maior tempo de presa do MTA e a necessidade
sulfato férrico e eletrocoagulação e pulpectomia feita com óxido de zinco de manutenção da umidade do meio, portanto é recomendado que os
e eugenol. Para estes autores, não foi possível concluir qual a melhor op- profissionais sigam as recomendações do fabricante antes do seu uso. A
ção de tratamento ou técnica para molares decíduos com envolvimento maior limitação do uso do MTA em Odontopediatria está relacionada ao
pulpar devido à escassez de evidência científica disponível na literatura. custo do material, que se contrapõe ao tempo de permanência do den-
te decíduo na cavidade bucal. Neste caso, quando na análise de custo x
DISCUSSÃO benefício o período de permanência do dente decíduo na cavidade bucal
A revisão sistemática da literatura é considerada a melhor evi- for curto, o sulfato férrico seria o material de escolha em pulpotomias.14
dência científica por estabelecer critérios sistemáticos para seleção Muitos clínicos gerais e principalmente Odontopediatras resis-
de artigos, coleta e análise estatística dos dados, e consequentemen- tem em adotar o capeamento pulpar indireto e preferem a pulpoto-
te responder de forma clara e objetiva uma pergunta clínica. A lite- mia, mesmo com indicações clínicas precisas e excelentes índices de
ratura é vasta em relação à pulpotomia de dentes decíduos, assim sucesso da técnica.8-12 Um recente editorial publicado no periódico
como o capeamento pulpar indireto pelas técnicas de Capeamento International Journal of Paediatric Dentistry32 trouxe o seguinte
Pulpar Indireto (CPI) em sessão única e Escavação Gradativa (EG). questionamento em seu título: Há espaço para a pulpotomia com
A técnica de pulpotomia consiste na amputação da polpa co- formocresol? O editorial ainda apontou que o CPI é a real alternativa
ronária, tratamento do remanes cente pulpar vital com medica- com base nas evidências científicas já disponíveis na literatura.
mento, restauração da polpa coronária com óxido de zinco e eu- Quanto à terapia pulpar radical indicada para dentes decíduos – pul-
genol ou outro material de base e restauração definitiva do dente.5 pectomia há escassez de estudos clínicos randomizados e não há como
Atualmente, o formocresol ainda é considerado o padrão ouro na comprovar a superioridade de um material em relação ao outro.18 Além
pulpotomia de dentes decíduos, seja pelos anos de aplicação clínica da disso, uma recente publicação33 apontou que há nos estudos clínicos já
técnica, resultados de pesquisas, facilidade de aplicação clínica e fami- publicados, uma grande diversidade nos critérios de seleção, randomiza-
liaridade profissional com a técnica. Pesquisas mostraram que no Brasil19 ção e alocação dos grupos amostrais, aos avaliadores cegos e calibrados,
e nos Estados Unidos20 ele é o material mais recomendado nas escolas à perda amostral no período de acompanhamento e também quanto aos
de Odontologia e mais empregado pelos profissionais na técnica. Con- parâmetros de comparação para determinar sucesso ou fracasso nos es-
siderando as revisões sistemáticas encontradas na literatura13,14,21-27, o tudos clínicos sobre a terapia pulpar em dentes decíduos. Quando esses
formocresol apresentou bons índices de sucessos, quando comparado a critérios são negligenciados, comprometem a qualidade, consistência e
outros materiais. Entretanto, a Agência Internacional de Pesquisa sobre confiabilidade dos resultados e realização de metanálises. Entretanto
o Câncer (IARC), ao avaliar a literatura disponível, concluiu, em 2004, evidências científicas disponíveis mostram atualmente, que o tratamento
que há evidência suficiente, com base em estudos com animais e hu- pulpar radical em dentes decíduos já deixou de ser empírico há algum
manos, que permitem classificar os formaldeídos, o principal compo- tempo. O tratamento que era realizado muitas vezes sem a instrumenta-
ção dos canais radiculares e alicerçado pela colocação de medicamentos coces e erupção do permanente subsequente à esfoliação do decíduo.
tóxicos, e muitas vezes agressivos,5 passa a ser feito com mais critérios e Em relação à terapia pulpar radical - pulpectomia - as evidências
novas opções de recursos técnicos, como conhecimento anatômico, uso são inconclusivas e não há como apontar a superioridade de um deter-
de localizadores apicais eletrônicos e instrumentação mecanizada.34,35 minado material em comparação ao outro, porém as pastas à base de
Espera-se portanto, o aumento de pesquisas nessa área. iodofórmio + hidróxido de cálcio têm se mostrado promissórias como
substitutas ao ZOE - óxido de zinco e eugenol (padrão ouro). Além disso,
CONCLUSÃO em casos de exposição pulpar por cárie o uso da pulpectomia seria mais
Pode-se concluir que há evidências científicas suficientes em rela- apropriado. Assim mesmo são necessários estudos clínicos randomiza-
ção às terapias pulpares conservadoras. O tratamento pulpar indireto dos comparando os diferentes materiais indicados para a obturação de
realizado pelas técnicas de Capeamento Pulpar Indireto (CPI) em sessão dentes decíduos, bem como a avaliação da superioridade da pulpecto-
única e a Escavação Gradativa (EG) assim como a pulpotomia podem mia frente à extração dentária considerando diversos desfechos clínicos.
ser indicados para o tratamento de dentes decíduos vitais. Entretan- O sucesso da terapia pulpar não depende apenas do material
to, quando bem avaliada por métodos clínicos, radiográficos e locais, a a ser empregado. A indicação do tratamento mais adequado deve
indicação do CPI é superior na prática clínica, uma vez que permite a estar pautada no correto diagnóstico através de criteriosa ana-
aplicação do princípio da Mínima Intervenção através da manutenção mnese, exames clínicos e radiográficos bem como na cuidadosa
da vitalidade, redução do número de pulpectomias e exodontias pre- execução da técnica e acompanhamento dos pacientes.
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