Revisão
MACHADO deAC;
Literatura
MATOS AB; RIOS LFF; TURBINO LM; SCARAMUCCI T
Hipersensibilidade Dentinária: revisão literária
e direcionamentos para abordagem clínica
Recebido em: mar/2017
Aprovado em: set/2017
Alana Cristina Machado: Graduada -
Mestranda
Adriana Bona Matos – Livre-docente
em Dentística pela Fousp; professora
titular do Departamento de Dentística
da Fousp; coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Odontologia/Dentís-
tica da Fousp
Luciana Fávaro Francisconi dos Rios –
Doutora em Odontologia/Ciências Odon-
tológicas Aplicadas e Dentística pela
FOB-USP; professora do Departamento
de Dentística da Fousp
Miriam Lacalle Turbino – Livre-docente
em Dentística Restauradora pela Fousp;
professora associada ao Departamento
de Dentística da Fousp
Tais Scaramucci – Pós-Doutorado pela
Oral Health Research Institute - Preven-
tive and Community Dentistry, Indiana
University School of Dentistry – Fousp;
professora do Departamento de Dentísti-
ca pela Fousp
Autor de correspondência:
Alana Cristina Machado
Faculdade de Odontologia da Universidade de São
Paulo - Fousp
Av. Lineu Prestes, 2227
Vila Universitária - São Paulo – SP
05508-000
machado3alana@gmail.com
148 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2018;72(2):148-155
Dentin Hypersensitivity: literary Review and Directions for
Clinical Approach
RESUMO
A Hipersensibilidade Dentinária (HD) é genericamente associada a túbulos dentinários aber-
tos em uma dentina exposta, e pode ser definida como uma dor aguda, de curta duração que
vem sendo reportada cada vez mais pelos pacientes no dia a dia clínico. Porém, devido a sua
etiologia multifatorial, por apresentar sinais e sintomas muito parecidos com os de outras pa-
tologias, e pela ampla gama de possíveis tratamentos existentes no mercado, os cirurgiões-den-
tistas ainda encontram dificuldades para diagnosticar e estabelecer a conduta mais adequada
para cada paciente. O objetivo desta trabalho é ressaltar, por meio de uma revisão de literatura,
os diversos aspectos relacionados à HD, com o objetivo de direcionar os cirurgiões-dentistas no
estabelecimento de terapias clínicas seguras e eficazes. Diversos aspectos são abordados, dentre
os quais: etiologia, particularidades clínicas, anamnese, diagnóstico diferencial e tipos de trata-
mentos em função de sua efetividade e indicações.
Descritores: Sensibilidade da Dentina; Odontalgia; Diagnóstico Diferencial; Protocolos Clí-
nicos
ABSTRACT
Dentin Hypersensitivity (DH) is generically associated with open dentinal tubules in an ex-
posed dentin, and can be defined as an acute, short-term pain that is being reported more and
more by patients in the clinical day-to-day. However, because of its multifactorial etiology,
presenting signs and symptoms very similar to other pathologies, and, because of the wide
range of possible treatments on the market, dentists still come across difficulties to diagnose
and establish the most appropriate conduct for each patient. The objective of this paper is to
highlight, through a literature review, the various aspects related to DH, with the aim of guiding
dental surgeons in the establishment of safe and effective clinical therapies. Several aspects are
discussed, among which: etiology, clinical particularities, anamnesis, differential diagnosis, and
types of treatments in function of their effectiveness and indications.
Descriptors: dentin sensitivity; pain; diagnosis, differential; clinical protocols

RELEVÂNCIA CLÍNICA
A HD é um problema comum na população, sendo uma
das principais razões para os pacientes buscarem tratamento
odontológico. Porém, na prática clínica, muitos cirurgiões-den-
tistas apresentam limitações e dificuldades para identificar a
etiologia, estabelecer o diagnóstico e o correto tratamento da
HD. Assim, é importante orientar os profissionais quanto às
principais condutas que podem ser tomadas em relação à HD.
INTRODUÇÃO
A Hipersensibilidade Dentinária (HD) pode ser definida
como uma dor aguda, de curta duração, proveniente de túbulos
dentinários abertos em uma dentina exposta. Esta dor ocorre
devido a estímulos térmicos, evaporativos, táteis, osmóticos ou
químicos, não podendo ser relacionada com outros defeitos ou
alguma outra patologia dental.1
Tal condição vem sendo uma das principais razões para os
pacientes buscarem tratamento odontológico, pois tem se tor-
nado um problema cada vez mais frequente. Com o aumento
da expectativa de vida da população, que agora mantém por
mais tempo os dentes naturais na boca, os efeitos deletérios da
perda de estrutura dentária parecem ser cada vez mais eviden-
tes. Adicionalmente, o estilo de vida e a mudança de hábitos
(incluindo principalmente uma dieta mais ácida/erosiva) das
populações adultas jovens têm contribuído para o aumento da
incidência de HD.2
REVISÃO DA LITERATURA
Para explicar o mecanismo da dor na HD, a “Teoria Hidro-
dinâmica” é a mais aceita. Segundo essa teoria, a exposição
da dentina, com subsequente abertura dos túbulos dentinários,
permite a movimentação do fluido dentinário da superfície ex-
terna em direção à polpa, e vice-versa, quando da incidência
de estímulos térmicos, mecânicos, químicos, osmóticos e táteis,
o que ativaria os baroceptores pulpares e resultaria na geração
de impulsos e na percepção neurossensorial de dor.3
Em sua morfologia histológica, os túbulos dentinários con-
vergem da junção amelodentinária para a polpa; sendo assim,
a dentina próxima à polpa apresenta maior quantidade de tú-
bulos, com maior diâmetro (3 µm) e menos matriz calcificada
intertubular que a dentina periférica, situada mais próximo
àquela junção, onde os túbulos se encontram em menor quan-
tidade e com menor diâmetro (1 µm).4 Dessa forma, quanto
maior for a perda de estrutura dentária e a profundidade do
desgaste, ou seja, quanto mais próximo à polpa, maior será a
sensibilidade: os túbulos dentinários se encontrarão expostos,
possivelmente abertos, e em maior número, além de possuírem
maior diâmetro.
A oclusão física dos túbulos dentinários, isolando o seu
conteúdo do ambiente bucal e, consequentemente, impedindo
o fluxo e a circulação do fluido em seu interior, pode, pois,
ser uma estratégia utilizada para o tratamento da HD. Outra
abordagem seria o uso de agentes que dessensibilizam qui-
micamente as terminações nervosas sensoriais, bloqueando a
Dentística
transmissão dos estímulos para o sistema nervoso central.2
Atualmente, estão disponíveis no mercado diversos produtos
contendo agentes que atuam por uma, outra ou ambas as estraté-
gias, sendo que esses produtos podem ser de aplicação caseira ou
em consultório, como se discutirá mais aprofundadamente adiante.
Etiologia
Em situações de normalidade, a dentina é revestida por
esmalte em sua porção coronária, e por cemento e o tecido
periodontal em sua porção radicular.4
A perda dessas estruturas de revestimento pode ocorrer em
certas circunstâncias, levando à exposição da dentina subja-
cente. Quando a perda ocorre coronalmente à margem gen-
gival, tende a ser o resultado da interação entre os seguintes
processos: abrasão, atrição, erosão e, teoricamente, abfração.
Na abrasão, a perda de estrutura dentária é causada por forças
mecânicas, geralmente pela interação entre os dentes e objetos
ou materiais externos à cavidade bucal. Ocorre com frequên-
cia na região cervical dos dentes, e as lesões são lisas, com
margens agudas. Um dos fatores etiológicos mais comuns da
abrasão é a escovação com o uso de pastas de dente altamen-
te abrasivas e, potencialmente, quando realizada de maneira
abusiva (alta frequência, duração prolongada e/ou com muita
força).5 Na atrição, o desgaste da estrutura dentária ocorre nas
faces funcionais, devido ao contato dos dentes com seus an-
tagonistas. É, na maioria das vezes, causada por hiperfunção
ou hábitos parafuncionais, como o bruxismo.6 Já na erosão, a
perda de estrutura dentária resulta, após amolecimento super-
ficial do esmalte e evolução do processo, em lesões rasas, de
aspecto arredondado, que podem aparecer em todas as faces
dos dentes; é causada pela ação de ácidos não bacterianos, que
podem ser de origem extrínseca, provenientes da ingestão de
medicamentos ácidos e de uma dieta ácida, por exemplo, ou
de origem intrínseca, quando o suco gástrico estomacal atinge
a cavidade bucal com frequência, como nos casos de refluxo e
regurgitação ou vômitos recorrentes.7 A abfração, hipotetica-
mente, ocorre quando cargas mastigatórias não se distribuem
na direção do longo eixo do dente, o que pode resultar na con-
centração de tensões, de tração, na região cervical e, conse-
quentemente, em trincas e microfraturas do esmalte, expondo,
em última instância, a dentina coronária, e em casos mais se-
veros, coronária e radicular. O tipo de lesão resultante possui o
característico formato de cunha.8
Adicionalmente, doenças periodontais e suas terapias tam-
bém podem ser causadoras da exposição radicular e, num se-
gundo momento, da dentina radicular,2 uma vez que o cemento
não é tão resistente aos impactos ambientais frequentemente
presentes no meio bucal.
Por fim, alguns dos processos dantes mencionados, como
a erosão e a abrasão por escovação, principalmente quando
associados, não apenas resultam em desgaste dentário, mas
podem, em princípio, causar a abertura e alargamento dos
túbulos da dentina já exposta ao meio bucal, predispondo ao
aparecimento da HD.2
REV ASSOC PAUL CIR DENT 2018;72(2):148-155 149
MACHADO AC; MATOS AB; RIOS LFF; TURBINO LM; SCARAMUCCI T
A determinação de etiologia é de extrema importância,
pois nos permite tomar medidas para eliminação ou con-
trole dessa condição, evitando a progressão ou recidiva do
quadro de HD. Porém, isso só se torna possível através da
realização de um correto diagnóstico da condição apresen-
tada pelo paciente.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da HD deve basear-se na história médica e
odontológica do paciente, e em sua percepção de dor frente a
estímulos térmicos, táteis, evaporativos, osmóticos e químicos.
Ressalta-se que a HD é subjetiva e varia de paciente para pa-
ciente, podendo apresentar-se como um leve desconforto ou
como uma dor de alta intensidade, que pode afetar a qualidade
de vida do indivíduo, interferindo em seus hábitos de alimen-
tação e higiene.9
É necessário realizar o diagnóstico diferencial descartando
algumas possíveis condições patológicas que podem apresen-
tar sintomas similares ou até mesmo idênticos, tais como: fra-
tura dentária, fratura dentária incompleta (síndrome do dente
gretado), restaurações fraturadas ou com vedamento marginal
deficiente, sensibilidade pós-tratamento restaurador, lesão de
cárie e pulpite.
Só assim é que, em um segundo momento, o profissional
poderá eleger o melhor tratamento para o quadro clínico apre-
sentado pelo paciente. Para isso, inicia-se o diagnóstico com a
adequada anamnese, que deve ser bem detalhada e criteriosa,
contendo além das questões habituais, pontos que podem di-
recionar ao correto diagnóstico da HD, como descrito em mais
detalhes abaixo:
Anamnese – Histórico geral do paciente
Sugere-se que, quando da anamnese de paciente que apre-
sente HD, as seguintes questões sejam incluídas no questioná-
rio de saúde:
- Com que frequência faz ingestão de bebidas ou alimentos
ácidos? (frutas cítricas, refrigerante, sucos e substâncias ácidas de
maneira geral)
- Sofre distúrbios psicogênicos como bulimia e anorexia ner-
vosa? Outros?
- Sofre distúrbios gástricos como gastrite nervosa e refluxo?
Outros?
- Trabalha em indústria química?
- Faz uso de medicamentos contínuos? Qual(is)?
- Fez tratamento periodontal recentemente?
- Possui hábito parafuncional? (morder objetos, ranger ou
apertar os dentes, outros)
Hábitos de higiene oral
- Intensidade da força aplicada na escovação:
- Dentifrício utilizado (convencional ou dessensibilizante):
- Tipo de escova:
- Frequência de escovação diária:
150 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2018;72(2):148-155
Descrição da característica da dor
- Local:
- Duração:
- Frequência:
- Intensidade:
- Estímulos que desencadeiam a resposta dolorosa:
Frio;
Quente;
Doce;
Ar;
Após a anamnese deve-se prosseguir com o exame clínico,
da maneira mais completa e minuciosa possível, incluindo o
diagnóstico diferencial para confirmação do quadro de HD ou
de outras possíveis patologias. Para isso, pode-se lançar mão do
exame visual e de testes e exames complementares:10
Exame visual: Deve-se procurar nos dentes do paciente a
presença de lesões de cárie, fraturas ou trincas, lesões com
comunicação com a polpa, restaurações fraturadas e/ou de-
sadaptadas, descartando-se nesses casos a HD. Caso a região
cervical do dente apresente desgaste superficial ou recessão
gengival, devemos proceder aos testes táteis para confirmação
do diagnostico de HD, com a utilização de jato de ar ou sonda
exploradora, e avaliação do nível de dor na sequência.
Análise de interferências oclusais: Deve-se identificar sinais
de traumas oclusais, os quais não necessariamente implicam
HD, porém podem estar relacionados em alguns casos. Deve-se
buscar por possíveis facetas de desgaste e se analisar a oclu-
são do paciente não apenas em repouso, mas também nos mo-
vimentos excursivos, utilizando-se carbono para detecção de
contato prematuro e/ou interferências oclusais. É fundamental
que se verifique, além disso, restaurações inadequadas, den-
tes ausentes e possíveis hábitos parafuncionais, especialmen-
te se associados a fratura dentária, mobilidade, extrusão ou
movimentação dentárias com possível exposição radicular e/
ou desgastes cervicais. Há que se ponderar, nesse contexto, que
a teoria da abfração dentária, como originalmente proposta,
continua sendo sobremaneira controversa.
Percussão e palpação: Pequenos impactos na superfície
dentária, no sentido vertical ou horizontal, podem auxiliar na
localização do elemento doloroso e na especulação da causa
da dor. Dor à percussão vertical normalmente sugere a presen-
ça de lesão periapical, e à horizontal, a de comprometimentos
periodontais. Já a palpação da mucosa na região que apresenta
sintomatologia dolorosa pode indicar presença de abscessos ou
fístulas. Nesses casos, pode-se realizar exame radiográfico para
diagnóstico diferencial e descarte da possibilidade de HD.
Exame radiográfico: Exame complementar que pode se
tornar extremamente importante, principalmente para o diag-
nóstico diferencial. A obtenção tanto de radiografias interpro-
ximais quanto periapicais, caso necessário, é recomendada;
assim, os dois exames se complementam, permitindo uma aná-
lise mais completa e abrangente, auxiliando na identificação
de lesões de cárie, cárie adjacente a restaurações, restaurações
 Dentística

danificadas, fraturas radiculares, perda óssea e lesões apicais

associadas a alterações de origem endodôntica ou periodontal.
Teste de vitalidade pulpar: Geralmente realizado com es-
tímulos térmicos (quente ou frio), os quais determinam uma
resposta positiva ou negativa frente aos mesmos, ou seja, dor
ou ausência de dor. O teste ao frio é o de eleição e o mais uti-
lizado, pois pode-se identificar um quadro de pulpite, em que,
diferentemente da HD, o paciente sentirá dor aguda de longa
duração, que persiste após a remoção do estímulo. No caso de
HD, o paciente sentirá dor aguda, porém de curta duração, e
que não persiste após a remoção do estimulo.

Prevalência
Estudo epidemiológico reporta uma prevalência de HD mui-
to distinta, variando de 1,34% a 98%, sendo que isso pode ser
explicado pelos diferentes métodos de diagnóstico empregados
nos estudos e pelos diferentes hábitos alimentares e de higiene
oral entre as populações.11 Existem poucos estudos relatando
a prevalência de HD em populações brasileiras. Estudos recen-
tes mostraram uma prevalência nessa população variando de
aproximadamente 34% a 46%.12
A faixa etária de pacientes com HD está entre os 20 e 40
anos, com uma incidência maior na terceira década de vida e
após a idade de 40 anos, a sensibilidade tende a diminuir.2

TRATAMENTO
Independentemente da idade do paciente, ou do dente
acometido, para o sucesso no tratamento da HD é importan-
te, primeiramente, a conscientização e motivação do paciente
com relação a eliminação ou controle do fator causal, identi-
ficado na anamnese, impedindo novas perdas estruturais e a
possível potencialização da HD. Preconiza-se 13 que a aborda-
gem inicial do tratamento da HD deva ser sempre feita com
o uso de produtos caseiros, como os dentifrícios dessensibili-
zantes, principalmente quando a sensibilidade é branda e não
se nota lesão clinicamente visível. Caso não seja observada
uma melhora nos sintomas, ou o grau de sensibilidade seja
considerado alto e houver desgaste dentário, o tratamento
deve ser complementado ou realizado com produtos e tera-
pias de consultório (Figura 1). FIGURA 1
Os agentes dessensibilizantes devem ser resistentes aos Fluxograma para diagnóstico e tratamento da hipersensibilidade dentinária
constantes desafios químicos e mecânicos presentes no meio
bucal. Porém, inúmeras técnicas são apresentadas na literatu-
ra, demonstrando a inexistência de uma que seja totalmente tentativa de tratamento caseiro.
eficaz e absolutamente duradoura, até o presente momento. Compostos que atuam apenas na obliteração tubular in-
Dentre as substâncias dessensibilizantes presentes nos cre- cluem o NovaMin®, um biovidro (fosfossilicato de cálcio e só-
mes dentais, destacam-se os sais de potássio, que agem princi- dio – CSPS) que em ambiente oral, é atraído pelo colágeno da
palmente na despolarização neural, bloqueando a passagem do dentina, formando um precipitado de cálcio, fosfato e sílica so-
estímulo nervoso e, portanto, cessando a dor.13 Cremes dentais bre a superfície e internamente nos túbulos dentinários. Quan-
contendo citrato e nitrato de potássio possuem, ainda, sílica, do esse precipitado interage com a saliva, resulta na formação
que é um composto capaz de promover a obliteração dos tú- de hidroxiapatita carbonatada, sendo esta insolúvel em água
bulos dentinários, atuando dessa forma na redução da perme- e ácido. Possui também, certa resistência mecânica, o que o
abilidade dentinária.14 Por terem dupla ação na diminuição da torna, um diferencial para o tratamento da HD.15
HD, esses cremes dentários podem ser indicados como primeira A arginina é um aminoácido carregado positivamente em

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MACHADO AC; MATOS AB; RIOS LFF; TURBINO LM; SCARAMUCCI T
pH fisiológico, o qual tem a habilidade de interagir em con-
junto com o carbonato de cálcio encontrado na saliva, acele-
rando o mecanismo natural de oclusão dos túbulos dentiná-
rios através de adsorção de minerais na superfície dentária.
Entretanto, tanto a arginina quanto o biovidro são dependen-
tes de componentes salivares fundamentais, o cálcio e o fos-
fato, para obtenção de resultados mais eficazes e duradouros
na oclusão tubular.16
Outro composto é o acetato de estrôncio, que atua ligan-
do-se diretamente à dentina, independente de componentes
salivares, formando camadas de um complexo entre apatita e
estrôncio, as quais apresentam certa resistência a desafios ero-
sivos, ainda que não se encontrem evidências satisfatórias de
sua eficácia frente a desafios mecânicos.17
Exemplos de produtos de consultório recomendados para
os casos onde não há grande perda de estrutura dentária
são, as pastas profiláticas de consultório, as soluções, os
géis e vernizes. As pastas profiláticas de consultório apre-
sentam, em maiores concentrações, os mesmos compostos
dessensibilizantes e princípios ativos descritos para trata-
mento caseiro, por exemplo: NovaMin e arginina. Porém, es-
ses tratamentos parecem ser mais efetivos/duradouros com
a utilização contínua de uma pasta dessensibilizante casei-
ra, além de exigirem reaplicação periódica, quando ocorrer
recidiva da dor e/ou para obtenção de uma maior eficácia e
longevidade.
Géis e soluções fluoretados, que podem ser compostos por
flúor fosfato acidulado, fluoreto de estanho ou fluoreto de
sódio, em concentrações maiores (0,2 ou até 2%) do que as
encontradas em dentifrício de aplicação caseira, estimulam a
formação de dentina menos solúvel, reagem com os íons cálcio
da saliva e do fluido dentinário precipitando fluoreto de cálcio
(CaF2) no interior dos túbulos, obliterando-os.18
Os géis de oxalato de potássio, além de agirem diretamen-
te na fibra nervosa através do potássio, os íons de oxalato
reagem com o cálcio e formam oxalatos de cálcio na forma
insolúvel resultando em oclusão tubular.19 Porém,20 realizou
uma revisão sistemática e concluiu que tratamentos com
oxalatos não apresentam nenhum beneficio para a HD além
de um efeito placebo.
Vernizes fluoretados são opções viáveis, sendo que alguns,
além de fluoreto de sódio, também contém tricálcio fosfato
(TCP), uma tecnologia que, de acordo com o fabricante, permite
que os íons cálcio e fosfato coexistam com os íons flúor sepa-
radamente, formando um mineral mais resistente na superfície
do dente (de acordo com o fabricante).
Os vernizes fluoretados, no geral, formam uma película im-
permeabilizadora na superfície dentinária, promovendo o sela-
mento dos túbulos com a ação física da película na superfície,
associando-se ainda com a ação benéfica do flúor. Porém, essa
película é facilmente removida, sendo necessárias aplicações
frequentes do produto.21
Já para casos onde o grau de sensibilidade for mais severo,
sem apresentar, ainda, grande perda estrutural, ou os trata-
152 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2018;72(2):148-155
mentos acima não se mostrem eficazes, requerendo reaplica-
ções constantes, devemos partir para o uso de tratamentos
mais duradouros, tais como os sistemas adesivos, os selantes
ionoméricos, irradiação por laser e até mesmo terapias pe-
riodontais em casos de recessões gengivais. Os sistemas ade-
sivos atuam pela impregnação de monômeros na superfície
desmineralizada, formando a camada híbrida que promove
selamento dos túbulos. Porém, sabe-se que essa camada não
é muito resistente aos desafios erosivos-abrasivos aos quais
a cavidade bucal está sujeita diariamente, podendo se de-
gradar/desgastar e perder seu efeito protetor rapidamente.22
Um dos adesivos indicados especificamente para o tratamen-
to da HD tem entre seus componentes hidroxietilmetacrilato
(HEMA) e 5% de glutaraldeído. Seu mecanismo de ação se dá
pela reação de coagulação das proteínas plasmáticas do flui-
do tubular frente à ação do glutaraldeído. Essa reação cau-
sa precipitações que reduzem o diâmetro tubular, e que são
responsáveis pela polimerização do HEMA, bloqueando fisi-
camente os túbulos dentinários. 23 Alguns efeitos indesejáveis
desse produto também são relatados, como o seu potencial
citotóxico, quando em contato com os tecidos orais, como
fibroblastos e queratinócitos,24 e ainda, segundo o fabricante,
sua capacidade de irritação das vias aéreas, podendo provocar
sintomas de alergia, asma ou dificuldades respiratórias. Dessa
forma, sua indicação e utilização devem ser cautelosas e cri-
teriosas, não sendo adequadas a pacientes que relatam qua-
dro de alergia prévia, dificuldades respiratórias ou qualquer
patologia do trato respiratório.
Mais recentemente, foi lançado no mercado um novo se-
lante ionomérico resino-modificado, que também possui indi-
cação para o tratamento da HD, incluindo os casos onde há so-
mente retração gengival, sem necessariamente existir perda de
estrutura dentária. De acordo com o fabricante, a aplicação de
uma fina camada do produto (aproximadamente 0,5 mm), sem
necessidade de preparo ou condicionamento, promove uma
cobertura fotoativada sobre a dentina, sem sobrecontorno, e
mais durável em função da retenção micromecânica propor-
cionada pela porção resinosa. Tem, ademais, a capacidade de
liberar flúor, cálcio e fosfato para as adjacências. Toda vez que
o paciente escovar os dentes com cremes dentais fluoretados, o
produto é recarregado, o que, teoricamente, oferece alívio ime-
diato da HD, permanecendo por seis meses ou mais (de acordo
com o fabricante). Apesar de o produto parecer ser promissor,
sua eficácia e longevidade vêm sendo estudadas, e ainda não
são encontrados resultados conclusivos sobre elas.
Os lasers de alta potência, como o de Neodymium-doped
Yttrium Aluminium Garnet (Nd:YAG), e os de baixa potên-
cia, como o de Gallium Aluminum Arsenide (GaAIAs) e o de
Helium-Neon (He-Ne), tem sido testados e vêm mostrando
resultados promissores, pois os primeiros tem a capacidade
de obliteração dos túbulos dentinários, e os segundos, efeitos
terapêuticos moduladores da dor, que podem ser benéficos
para o tratamento da HD.25
O mecanismo de ação dos lasers de baixa é baseado na

absorção de energia pelos tecidos, agindo sobre a transmis-
são nervosa, gerando efeito analgésico, anti-inflamatório e
de cicatrização (reparação dentinária – produção de dentina
terciária reparadora). O efeito analgésico do laser de baixa
se deve à prevenção da formação de prostaglandinas e pela
sua ação inibidora sobre a enzima ciclo-oxigenase. Inibin-
do a ação da ciclo-oxigenase, o laser interfere na biossín-
tese das prostaglandinas, a partir do ácido aracdônico que
ocorre como parte do processo inflamatório. A diminuição
resultante da concentração das prostaglandinas no tecido
inflamado coincide com o alívio da dor. Atua também nos
receptores do sistema nervoso central, induzindo um efeito
analgésico periférico, deprimindo os neurônios nocicepti-
vos, enquanto estimulam as células não nociceptivas. 26 Essa
é uma terapêutica bem aceita pelos pacientes, sem efeitos
colaterais e que não gera calor aos tecidos.
Dentre os lasers de alta potência, o laser de Nd:YAG foi o
primeiro a ser utilizado para o tratamento da HD, e é o mais
usado com essa finalidade. Assim, ele tem sido considerado
como padrão ouro, devido a sua efetividade e facilidade de
utilização clínica. O seu mecanismo de ação é explicado pelo
aumento de temperatura na superfície dentária, gerando der-
retimento e resolidificação das estruturas, o que resulta em
obliteração e/ou redução do diâmetro dos túbulos dentiná-
rios. Apesar do mecanismo de ação ainda não ser totalmente
claro, o laser de Nd:YAG pode também, induzir a analgesia
pulpar e reduzir a HD através do impedimento da despolari-
zação das fibras nervosas pulpares.27
A laser terapia nem sempre é oferecida pelos cirurgiões
dentistas, por ser uma tecnologia relativamente nova que exi-
ge atualização do profissional para domínio da técnica e pode
ser, ainda, considerada de alto custo. Em relação aos lasers
de alta potência, isso pode ser considerado mito, pois estes
estão cada dia mais acessíveis aos profissionais. Porém, por se
tratar de uma tecnologia que passa por evolução inovadora
constante, o uso dos lasers requer treinamento específico e
atualização constante por parte dos profissionais, uma vez
que, para o melhor resultado no tratamento sem causar danos
às estruturas dentais, se faz necessária a utilização correta de
parâmetros como potência e tempo de exposição.
Para pacientes com HD proveniente de recessões gengi-
vais podemos lançar mão das terapias periodontais, como a
cirurgia para recobrimento radicular, que tem como objetivo
principal aumentar a faixa de tecido gengival queratinizado,
promovendo o recobrimento da porção radicular exposta, e
consequentemente reduzindo ou eliminando a HD por meio
da formação de uma barreira com capacidade de oclusão
dos túbulos dentinários expostos presentes nessa porção ra-
dicular. 28
Em casos de lesões não cariosas apresentando perda de
estrutura dentária com profundidade superior a 1 mm, com
risco de envolvimento pulpar ou por razões estéticas, deve-
mos realizar restaurações de resina composta ou de cimento
de ionômero de vidro. As resinas são os materiais mais utili-
Dentística
zados atualmente, por serem mais resistentes ao desgaste e
se assemelharem mais às propriedades ópticas das estruturas
dentais. O ionômero de vidro se sobressai à resina composta
em relação a sua liberação de flúor, que é um agente dessen-
sibilizante, e principalmente por sua forte adesão químico-fí-
sica, que não exige tanta sensibilidade técnica para o controle
da umidade, como a resina composta, e consequentemente
promove maior resistência e durabilidade ao tratamento, já
que em sua maioria as lesões ocorrem na região cervical dos
dentes, onde há umidade constante através do fluido gengi-
val.29 Ainda assim, é indicado para ambas as técnicas a utiliza-
ção de isolamento absoluto, e se necessário for, grampos re-
tratores e fios afastadores como forma de conveniência para
realização adequada da restauração. Ressalta-se, contudo,
que os ionômeros são materiais que possuem estética desfa-
vorável, se desgastam mais rápido e que visitas frequentes ao
cirurgião dentista para controle são indicadas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esse estudo consiste em uma revisão da literatura na qual
utilizou-se consultas em periódicos da base de dados PubM-
ded. A pesquisa dos artigos foi realizada entre junho e dezem-
bro de 2016. A busca foi realizada utilizando palavras-chave
em inglês como: “dentin hypersensitivity”, “teeth pain”, “lite-
rature review”, “treatment”, “diferential diagnosis”.
DISCUSSÃO
O correto diagnóstico da HD está fortemente relaciona-
do com as informações fornecidas pelo paciente, a partir de
dados colhidos na anamnese. Sendo assim de extrema im-
portância a coleta do maior número possível de informações,
através da realização de uma anamnese direcionada para HD.
Sendo que a identificação dos fatores etiológicos que expuse-
ram a dentina também é muito importante, realizando-se um
diagnóstico diferencial, nos permitindo tomar medidas para
eliminação ou controle dessa condição e evitando a progres-
são ou recidiva do quadro de HD.10
Por volta da terceira década é considerada a época de
maior incidência de pacientes com hipersensibilidade denti-
nária, podendo ser justificada pela escovação iniciada desde
a primeira década de idade que pode provocar recessão gen-
gival e/ou desgaste da estrutura dentária. E após a idade de
40 anos, muito provavelmente devido a ação de processos
fisiológicos reparadores pulpares, com a formação de dentina
terciária, a sensibilidade tende a diminuir. Pois, reduz-se o
diâmetro dos túbulos e cria-se dentina reparadora dentro da
câmara pulpar, aumentando a espessura da dentina remanes-
cente, tornando, assim a dentina menos permeável.2
O tratamento é bastante diversificado, dependendo do
caso. A maioria deles é tratada com a aplicação de substâncias
que funcionam como vedadores da entrada dos túbulos denti-
nários ou como bloqueadores de estímulos sensoriais de dor da
polpa. Sendo que essas substâncias podem ser encontradas em
produtos de aplicação caseira ou de consultório.2
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MACHADO AC; MATOS AB; RIOS LFF; TURBINO LM; SCARAMUCCI T
Os métodos caseiros, em quase todos os casos são os den-
tifrícios e são conhecidos por terem efeito imediato, menor
custo e maior comodidade, tendo como principal vantagem a
exposição constante da dentina sensível ao agente dessensibi-
lizante, uma vez que, o seu protocolo de utilização é a pratica
da escovação diária, por no mínimo 3x ao dia. O creme den-
tário, juntamente com a escovação, forma um esfregaço que
obstrui os túbulos dentinários.30
Por outro lado, os agentes de consultório podem apresentar
um efeito melhor, pois os profissionais podem oferecer uma ampla
gama de agentes dessensibilizantes mais complexos e mais poten-
tes.30 Geralmente, são produtos utilizados com os princípios ativos
em concentrações maiores e em veículos mais resistentes.
Para grandes perdas estruturais o tratamento restaurador é o
mais indicado, pois, proporciona o restabelecimento anatômico,
funcional e estético, com consequente oclusão dos túbulos denti-
nários e eliminação da HD.29
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154 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2018;72(2):148-155
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A HD pode ser causada por uma variedade de fatores, na
maioria das vezes combinados entre si. Uma vez diagnosticada
corretamente, identificando-se o principal agente causador e
excluindo-se as possíveis patologias que apresentem sinais e
sintomas parecidos, a HD pode ser tratada de maneira ade-
quada e relativamente eficaz. A eliminação do agente etiológi-
co tem um papel importante para o controle e diminuição da
incidência da HD, principalmente quando associada a algum
tratamento dessensibilizante, que proporcionará assim, um tra-
tamento mais completo e duradouro. Em muitos casos, inclusi-
ve, a efetividade e a durabilidade do tratamento envolvem uma
dimensão multiprofissional (psico-físico-social). De qualquer
forma, o cirurgião dentista tem grande responsabilidade nes-
se processo, devendo estar apto a diagnosticar corretamente a
condição e sua etiologia, além de indicar a melhor estratégia
de tratamento para cada caso.
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