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HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA: DIAGNÓSTICO E


TRATAMENTO

Aline Siega de Freitas1


Giselle Rodrigues dos Reis2

RESUMO

Uma das doenças bucais mais incidentes da atualidade, assim tem sido descrita a
hipersensibilidade dentinária. Considerada atualmente como uma doença que promove
sensibilidade excessiva à dentina, dor aguda de curta duração, originada de um esmalte
vulnerável e uma dentina cervical exposta. Possui ampla variedade de prevalência, geralmente
de 11 a 33%, tornando-se uma questão de saúde pública. A vasta quantidade de critérios
diagnósticos atuais sugere que há incerteza e falta de confiança entre os cirurgiões dentistas
sobre o que é a hipersensibilidade dentinária, como diagnosticar e tratar tal condição. O
objetivo geral deste trabalho foi discutir fatores etiológicos, mecanismos de ação, diagnóstico,
diagnóstico diferencial e tratamento da hipersensibilidade dentinária, apresentando os
protocolos de diagnóstico e tratamento de forma simplificada. Essa revisão de literatura foi
realizada utilizando as bases de dados Google Acadêmico, Pubmed, Scielo e livros
relacionados ao assunto. Foram utilizados artigos disponibilizados na íntegra na língua
portuguesa e inglesa, entre os anos de 2010 a 2020, e foram descartados os artigos de outra
língua e trabalhos não disponibilizados integralmente. Desta forma, foi observado que o
protocolo associativo no tratamento para a hipersensibilidade dentinária tem garantido
resultados satisfatórios e duradouros, além da facilidade em reprodução, e possibilidade de ser
abordado na grande maioria dos casos clínicos.

Palavras-chave: Hipersensibilidade. Dor. Sensibilidade da dentina. Dessensibilizantes


dentinários.

1
Graduanda em Odontologia pela Universidade de Rio Verde, Campus Rio Verde, GO. E-mail:
alinesiegadefreitas@outlook.com
2
Orientadora, Doutora em Clínica Odontológica Integrada. Professora do Curso de Odontologia da Universidade
de Rio Verde, Campus Rio Verde, GO. E-mail: rodrigues.giselle@yahoo.com.br
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1 INTRODUÇÃO

A hipersensibilidade dentinária é considerada atualmente como uma doença que


promove sensibilidade excessiva à dentina. Tem sido descrita na literatura como dor aguda de
curta duração originada de um esmalte vulnerável e uma dentina cervical exposta, que é
induzida por estímulos de ar, frio, toque, impulso térmico, exposição ácida ou a combinação
destes estímulos e que não pode ser atribuída a qualquer outro defeito ou forma de patologia
dental (ALCÂNTARA et al., 2018; SOARES; GRIPPO, 2017).

Tendo em vista que possui ampla variedade de prevalência, geralmente de 11 a 33%,


a hipersensibilidade dentinária é atualmente considerada uma questão de saúde pública por ser
uma patologia de sintomatologia dolorosa com menores índices de sucesso em tratamentos.
Comprova-se assim, a necessidade de uma análise detalhada sobre este problema que é muito
comum entre jovens e adultos (MARTO et al., 2019).

A vasta quantidade de critérios diagnósticos atuais sugere que há incerteza e falta de


confiança entre os cirurgiões dentistas sobre o que é a hipersensibilidade dentinária, como
diagnosticar e tratar tal condição. Tal incerteza reflete significativamente em consequências
na vida dos pacientes e do profissional, que necessita praticar a conscientização devido à alta
prevalência atual desta patologia (ZEOLA; SOARES; CUNHA-CRUZ, 2019).

Por gerar dor aguda e curta, derivada de estímulos geralmente não prejudiciais a
dentes saudáveis, a hipersensibilidade dentinária afeta a qualidade de vida dos pacientes, tanto
em atividades diárias como comer, beber, falar e escovar os dentes, quanto psicologicamente.
Portanto, fica evidente a importância de revisar protocolos de diagnóstico e tratamento de
forma simplificada, elegendo o mais adequado para a maioria dos casos (LIU et al., 2020).

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Discutir fatores etiológicos, mecanismos de ação, diagnóstico, diagnóstico diferencial


e tratamento da hipersensibilidade dentinária.
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2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentar os protocolos de diagnóstico e tratamento de forma simplificada, elegendo


o mais adequado para a maioria dos casos de hipersensibilidade dentinária.

3 MATERIAL E MÉTODOS

Essa revisão de literatura foi realizada utilizando as bases de dados Google


Acadêmico, Pubmed, Scielo e livros relacionados ao assunto. Foram utilizados artigos
disponibilizados na íntegra na língua portuguesa e inglesa, entre os anos 2010 a 2020. Serão
descartados os artigos de outra língua e trabalhos não disponibilizados integralmente.

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 ETIOLOGIA

A princípio, a hipersensibilidade dentinária foi definida como dor aguda de curta


duração, em consequência da exposição dos túbulos dentinários a estímulos no meio bucal,
sendo estes de origem química, mecânica, térmica, táctil, evaporativa ou osmótica, que não
pode ser atribuída a outra forma de defeito ou patologia dentária (OLIVEIRA et al., 2012;
RIBEIRO et al., 2016; SILVA et al., 2011).

Entretanto, atualmente com novas evidências científicas e clínicas, a


hipersensibilidade dentinária foi definida como um processo patológico de etiologia
multifatorial, que depende de estímulos em túbulos dentinários expostos supragengivais,
subgengivais, e abaixo de defeitos estruturais e trincas de esmalte, que desencadeiam a
sintomatologia de dor aguda e de curta duração (SOARES; MACHADO, 2020).

Os principais fatores etiológicos que modulam a formação e evolução da


hipersensibilidade dentinária são tensão, fricção e biocorrosão. Julga-se que a associação dos
fatores é mais importante do que o fator atuando isolado, e que na maioria dos casos o
componente estresse ou tensão mecânica está presente, e que fricção e biocorrosão podem
predominar em alguns grupos de risco (MOURA et al., 2019).
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O fator etiológico de tensão equivale à perda de estrutura do órgão dental pelo


acúmulo de tensão pela concentração de energia transmitida durante contatos oclusais ou
parafuncionais. O fator de fricção se refere ao desgaste pelo atrito de substâncias (sólido,
líquido ou gasoso) na estrutura dental, de forma intrínseca (atrição – dente x dente) ou
extrínseca (abrasão – agentes abrasivos, escova versus dente). E o fator biocorrosão, refere-se
a um processo de degradação química, bioquímica e eletroquímica das estruturas dentais
(SOARES; GRIPPO, 2017).

Segundo os últimos e mais atuais estudos clínicos, por possuírem etiologia


multifatorial comum, correspondente à tríade de fatores etiológicos, a hipersensibilidade
dentinária, a recessão gengival e as lesões cervicais não cariosas possuem relação entre si.
Além disso, estas também são doenças que favorecem a exposição dentinária, e
consequentemente o possível surgimento da sensibilidade excessiva. É importante ressaltar
que estes fatores estão quase sempre associados a um mesmo indivíduo, por isso a relevância
de compreender suas correlações (TEIXEIRA et al., 2018).

Vale ressaltar que, comumente encontram-se dentes vitais com dentina exposta
clinicamente sem qualquer dor ou sintomatologia. E da mesma maneira, é possível encontrar
dentina hipersensível em regiões de defeitos de esmalte, alterando assim o paradigma da
hipersensibilidade com a exposição dentinária. De modo geral, a presença da
hipersensibilidade dentinária serve de alerta, pois seus sintomas favorecem a busca do
diagnóstico, identificação de áreas em início de exposição, e evitar evolução e progressão de
recessões gengivais e lesões cervicais não cariosas (SOARES; MACHADO, 2020).

Em relação aos dentes e perfil de pacientes acometidos, diferentemente das lesões


cervicais não cariosas e recessão gengival, que tem prevalência elevada com a idade, em
virtude de uma exposição aos fatores etiológicos por maiores períodos de tempo que os mais
jovens, a hipersensibilidade dentinária tende a diminuir com o tempo, provavelmente devido à
deposição contínua de dentina e atrofia pulpar subsequente durante a vida (WEST; SEONG;
DAVIES, 2014).

Desta forma, desvendar os fatores etiológicos da hipersensibilidade dentinária,


sabendo que atuam de forma multifatorial e que quase sempre se apresentam relacionados a
recessões gengivais ou lesões cervicais não cariosas em um mesmo indivíduo, além de buscar
fornecer os meios de controle e prevenção, torna-se a base para atingir o sucesso na
terapêutica da hipersensibilidade dentinária (RIBEIRO et al., 2016).
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4.2 MECANISMO DE DOR

Diversas teorias buscam explicar o mecanismo pelo qual um estímulo é transmitido da


dentina para a polpa, no entanto, a teoria mais amplamente aceita é a da hidrodinâmica,
proposta pela primeira vez por Gysi e mais tarde comprovada por Brännström. Esta propõe
que os túbulos dentinários são preenchidos por fluidos dentinários, e quando expostos a
estímulos externos (físicos, químicos, osmóticos, de pressão ou temperatura), induzem
movimentação do fluido, estimulando barorreceptores que conduzem à descarga neural,
resultando em dor (KINA et. al., 2019; WEST; SEONG; DAVIES, 2014).

Segundo Soares e Machado (2020) um exemplo desta teoria é a desidratação, que


promove fluxo do fluido para a superfície desidratada, que ativa barorreceptores e fibras
nervosas, desencadeando a sensação dolorosa. Sabe-se ainda que, quando um estímulo é
imposto na dentina, os fluidos sofrem um deslocamento dentro dos túbulos dentinários, e esse
movimento em direção à polpa ou em sentido contrário, promove deformação mecânica das
fibras nervosas, que estão no interior de túbulos ou interface polpa/dentina, induzindo
resposta sensorial (MATIAS et al. 2010).

Alguns estudos realizados em dentes sensíveis extraídos mostraram os túbulos


dentinários oito vezes maiores em quantidade e duas vezes mais largos na região cervical
vestibular, em comparação com dentes não sensíveis. Sendo assim, o raio do túbulo é
provavelmente bastante importante, pois com o diâmetro duplicado o fluxo de fluido tubular
aumenta 16 vezes, e isso explica o conceito de uso da oclusão tubular, de qualquer natureza
ser pensada para reduzir a dor da hipersensibilidade dentinária (CUNHA et al., 2017; WEST;
SEONG; DAVIES, 2014).

Existem ainda, outras duas filosofias que buscam explicar os mecanismos de ação da
hipersensibilidade dentinária. A primeira destas é a teoria da transdução odontoblástica, a qual
explica que prolongamentos odontoblásticos que ficam expostos na superfície dentinária,
podem ser ativados por estímulos químicos e mecânicos, e esse processo estimula
neurotransmissores emitindo impulso a terminações nervosas. Quanto à segunda teoria, a
teoria da inervação direta (neural), é considerada como uma extensão da teoria odontoblástica,
e defende que os estímulos agem por comunicação direta com as fibras pulpares (SOARES;
MACHADO, 2020).
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4.3 DIAGNÓSTICO

Diagnosticar com precisão a hipersensibilidade dentinária é um importante passo para


se eleger um tratamento eficaz e individual. O objetivo principal do diagnóstico é identificar e
controlar os fatores etiológicos, sendo a tríade tensão, biocorrosão e fricção os principais
envolvidos, com destaque para a multifatoriedade e para os grupos de risco. A avaliação da
história médica e odontológica em uma anamnese minuciosa é o ponto de partida para
desvendar os fatores etiológicos (SOARES; MACHADO, 2020; TRUSHKOWSKY;
GARCIA-GODOY, 2014).

As etapas para se concluir um diagnóstico preciso incluem: uma anamnese detalhada


seguida de um exame clínico com exame extraoral e intraoral minucioso; exame periodontal
completo; análise oclusal e montagem em articulador; análise do perfil e parâmetros salivares;
análise de hábitos alimentares; análise de hábitos de higiene bucal e, para fechar, o
diagnóstico, isto é, o teste de hipersensibilidade dentinária propriamente dito. Os exames
complementares também são primordiais, como o exame radiográfico (GILLAM, 2013).

A hipersensibilidade dentinária demonstrou estar extremamente relacionada com


hábitos individuais, e teve prevalência aumentada com o estilo de vida contemporâneo. Na
primeira etapa do diagnóstico, que é uma anamnese detalhada, é fundamental obter
informações sobre hábitos ocupacionais, diário de dieta, doenças gástricas, distúrbios
temporomandibulares e medicamentos de uso cotidiano. A história médica/odontológica,
alterações emocionais, psicológicas, fisiológicas são informações extremamente relevantes, e
devem ser levadas em consideração, apresentando uma abordagem diferenciada, ampla e livre
de antigos dogmas (MOURA, et al. 2019).

No exame físico extraoral é essencial realizar a palpação dos músculos mastigatórios,


auxiliando na identificação de desordens da articulação temporomandibular, como bruxismo,
apertamento e disfunção. Já no exame clínico intraoral, observa-se de maneira global a
cavidade oral, tecidos moles e duros, atentando-se para a presença de recessões gengivais,
biofilme e cálculo visíveis, lesões cariosas, restaurações, defeitos ou alterações que
provoquem alteração da rugosidade superficial dos dentes, além de avaliar especialmente a
junção amelocementária, em busca de lesões cervicais não cariosas e exposições dentinárias
(SOARES; MACHADO, 2020).
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A análise periodontal avalia as condições do periodonto, incluindo mobilidade,


inflamação, trauma oclusal e recessão gengival. As recessões gengivais podem ser suscetíveis
a desgaste biocorrosivo e de fricção na região cervical, e devem ser classificadas de acordo
com Miller. A sondagem periodontal identifica a presença de bolsas, sangramento,
sensibilidade gengival, irregularidades subgengivais como trincas e fissuras – por isto sua
relevância. A presença de desconforto (não doloroso) durante a sondagem por parte do
paciente, sem sangramento, serve como alerta para fatores etiológicos ativos (SOARES;
GRIPPO, 2017).

As interferências oclusais provocam enormes concentrações de tensão na região


cervical, sendo assim, a análise oclusal possui um papel fundamental entre as etapas do
diagnóstico. A manipulação da mandíbula em relação cêntrica auxilia na identificação de
prematuridades, excursões laterais ou interferências protusivas, sendo estas condições que
favorecem o desequilíbrio oclusal e o surgimento da hipersensibilidade dentinária. A presença
de facetas de desgastes são sugestivas de hábito parafuncional, ativo ou inativo, sobrecarga na
oclusão ou algum desvio mandibular (MOURA et al., 2019).

Ainda sobre a análise de oclusão, a presença de hábitos parafuncionais, como exemplo


clássico, o bruxismo, já é um fator que eleva os índices de presença da hipersensibilidade
dentinária, assim como de lesões cervicais não cariosas, e isto justifica a importância de estar
atento à presença e associação de tais doenças. Um método de amparo para o diagnóstico é o
registro com arco facial e montagem em articulador, e caso possua métodos digitais para
análise oclusal (OccluSense da Bausch ou Scanner Digital 3Shape) sua vantagem é a
possibilidade de mensurar o tempo do primeiro ao último contato durante o fechamento
oclusal (SOARES; MACHADO, 2020).

Para a análise do perfil salivar, são realizados testes específicos, que possibilitam
mensurar a quantidade de fluxo salivar e do efeito tampão, sendo que, a diminuição da
capacidade de tamponamento salivar pode vir associada a desgastes severos por biocorrosão.
Para a análise do perfil alimentar, recomenda-se que o cirurgião-dentista peça um roteiro
alimentar do paciente por 7 dias, e caso seja identificada alta frequência de consumo de
alimentos ácidos, propícios à biocorrosão, deve-se recomendar ao paciente uma avaliação
nutricional, e fornecer orientações sobre possível substituição da dieta por uma com menores
concentrações de ácidos (LOPES; EDUARDO; ARANHA, 2017).

Outro fator que deve ser avaliado é o processo de higienização do paciente.


Recomenda-se que o paciente leve a escova, o dentifrício e o colutório que faz uso, para que
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possa ser avaliado o método de higienização, força de fricção, tipos de movimentos e o tempo
de escovação. Deve-se atentar à quantidade, distribuição e dureza das cerdas da escova, e
identificar o pH, abrasividade e se há dessensibilizante na composição do dentifrício, assim
como no colutório. Caso haja presença de dessensibilizante na composição destes produtos, é
recomendado que o paciente suspenda o uso para não interferir no tratamento (SOARES;
GRIPPO, 2017).

O teste de sensibilidade propriamente dito tem por objetivo detectar e quantificar a


dor. Além de identificar os dentes sensíveis, é indicado que seja feito com jato de ar que é um
estimulo térmico/osmótico, ou com atrito de sonda exploradora gerando estímulo mecânico.
Inicialmente, o teste deve ser realizado em um dente sem sinais de sensibilidade por fins de
comparação. A escala EVA (Escala Visual Analógica), que descreve de 0 a 10 o grau de
intensidade de dor, auxilia e facilita o diagnóstico, tratamento e acompanhamento da
hipersensibilidade (GILLAM, 2013).

4.4 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Almejando alcançar o sucesso no tratamento, é imprescindível que se realize o


diagnóstico diferencial da hipersensibilidade dentinária, pois, clinicamente esta possui
características que podem confundir com outras patologias. Desta forma, para que seja feito
de forma correta, o diagnóstico diferencial deve avaliar e investigar a história clínica do
paciente, comparar dentes com e sem sintomatologia, buscando eliminar possíveis causas de
dor (RIBEIRO et al., 2016; SOARES; MACHADO, 2020).

Por esta razão o exame clínico deve ser minucioso e buscando realizar o diagnóstico
diferencial, evidenciando se há presença de lesões cariosas, restaurações fraturadas e
desadaptadas, dentes fraturados, trincas de esmalte, lesões que tenham comunicação com a
câmara pulpar, invaginação de esmalte e patologias pulpares, visto que estas condições se
confundem devido à similar sintomatologia de dor dentária (WEST; SEONG; DAVIES,
2014).

Testes complementares são um valioso auxílio para a confirmação de diagnóstico, até


mesmo para descartar outras hipóteses de diagnóstico. São estes: a percussão, palpação,
sondagem periodontal, radiografia e testes de sensibilidade pulpar, sejam eles com estímulos
térmicos ou elétricos. Em específico, os testes de percussão vertical e horizontal, palpação da
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mucosa alveolar e os exames radiográficos são importantes recursos para descartar hipóteses
de processos cariosos, alterações periapicais, pericementite, doenças derivadas de ações
bacterianas e necrose pulpar (SOARES; GRIPPO, 2017).

Durante a realização do teste de hipersensibilidade propriamente dito, em que são


utilizadas a escala EVA e jato de ar, deve-se atentar ao fato que a sensação dolorosa deve se
restringir apenas à região em que o ar foi aplicado, pois, caso contrário, pode ser um
indicativo de outro tipo de patologia. Em pacientes que relatam dor pulsátil que permanece
minutos após a remoção do estímulo, estima-se que devido à presença de fatores etiológicos
por longo período, suspeita-se de comprometimento pulpar (SOARES; MACHADO, 2020).

4.5 TRATAMENTO

O tratamento eficaz da hipersensibilidade dentinária deve visar à definição dos fatores


etiológicos, antes que os métodos para controle e tratamento da doença sejam selecionados,
pois, desta forma, há uma concentração na causa do problema e não apenas nos sintomas. O
quanto antes definida a etiologia, refletirá em efeitos preventivos, reduzindo condições
ambientais ou sistêmicas que induzem e provocam a evolução da doença. Além do mais, a
obtenção do domínio das técnicas e mecanismos de ação das terapias existentes promove um
tratamento eficaz e duradouro (AMARAL et al., 2012).

Segundo Soares e Machado (2020), a hipersensibilidade dentinária é uma doença que


pode ocorrer a dessensibilização espontânea em alguns casos, porém na maioria das vezes são
necessárias intervenções. O tratamento pode ser baseado na dessensibilização dentinária,
recobrimento gengival e restauração. Em casos de perda de menos de 1 mm de estrutura
dentária, a indicação é dessensibilizar. Os agentes dessensibilizadores podem atuar com ação
neural ou obliteradora.

Segundo Moura et al. (2019), o mecanismo neural atua na dessensibilização das fibras
nervosas, sendo o potássio o único agente dessensibilizante químico de ação neural, que age
promovendo um aumento da concentração de íon potássio nas terminações odontoblásticas,
reduzindo a capacidade de condução do estímulo sensorial das fibras nervosas que
promoveriam dor. Um agente físico que também é classificado como de ação neural são os
lasers de baixa potência, por agirem nas terminações nervosas, aumentando o limiar de dor do
paciente (CLARK; LEVIN, 2016).
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Já o mecanismo de ação obliteradora atua bloqueando a micromovimentação dos


fluidos dentinários por meio da obliteração de túbulos expostos, impedindo a ativação dos
barorreceptores e, consequentemente, a liberação de dor. Os agentes obliteradores podem ser
divididos em precipitantes de proteína: glutaraldeído, nitrato de prata, cloreto de estrôncio;
precipitantes de cristais: derivados do cálcio, fluoreto de sódio, oxalatos, vernizes e selantes; e
selantes tubulares adesivos: resinas fluidas e adesivos. O uso de lasers de alta potência
também é classificado como mecanismo obliterador (MACHADO et al., 2017).

A terapia de fotobiomodulação com laser de baixa potência, com ação neural, é


considerada adequada no tratamento de hipersensibilidade dentinária, por ser conservadora,
reprodutível e com resultados satisfatórios. O laser de baixa potência gera mudanças no
potencial elétrico na membrana celular e aumento na síntese de trifosfato de adenosina, e isto
irá estimular células em estado de estresse a se normalizarem, promove analgesia, modula o
processo inflamatório e promove biomodulação celular. E mesmo em sua irradiação máxima
(100 mW), este não altera morfologicamente a superfície do esmalte e dentina, diferentemente
do laser de alta potência (LOPES; EDUARDO; ARANHA, 2017; MACHADO et al., 2017).

Em relação à terapia de fotobiomodulação do laser de alta potência, esta possui ação


obliteradora, visto que sua ação, mediante ao aumento da temperatura, proporciona um
derretimento superficial e uma ressolidificação da dentina, vedando os túbulos dentinários.
Entretanto, quando se utiliza o laser de alta potência de maneira desfocada, ou seja, afastando
o foco de luz do tecido dentário, apresentará ação neural, pois consequentemente houve
diminuição de potência da luz que está sendo repassada ao tecido (SOARES; MACHADO,
2020).

O tratamento ideal para hipersensibilidade seria aquele que tem efeito duradouro, é
resistente aos desafios orais, tem ação imediata e traz conforto ao paciente. Entretanto, na
literatura, não existe uma padronização de protocolo e produto universal para aplicação de
dessensibilizantes no tratamento da hipersensibilidade dentinária. De maneira mais atual, é
recomendado o uso do protocolo associativo, que associa o mecanismo neural e
posteriormente usa-se o mecanismo obliterador, sendo que inicia-se com o agente de ação
neural, pois o vedamento dos túbulos por obliteração diminuiria a permeabilidade do potássio
e, consequentemente, sua ação. (LOPES; EDUARDO; ARANHA, 2017).

Considerando distintos modos de ação dos agentes obliteradores, sua escolha será
embasada no fator etiológico predominante. Quando a sensibilidade possuir como fator
principal o biocorrosivo, está contém na superfície dentinária maior quantidade de fibras
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colágenas e escassez de matriz inorgânica. Neste caso, o agente obliterador deve ser de
precipitação de proteínas, pois se associará à parte inorgânica da dentina e fará a obliteração
os túbulos. Em contrapartida, se houver hipersensibilidade principalmente por fatores
mecânicos, a dentina exposta terá vasta quantidade de minerais expostos, sendo indicado
agentes obliteradores de ação precipitadora de cristais (SOARES; GRIPPO, 2017).

De acordo com o protocolo associativo, são necessárias no mínimo quatro sessões,


com intervalo de 48 horas. Inicia-se o protocolo com o laser de baixa potência (100Mw
potência/1J por ponto), seguido por isolamento relativo, inserção de fio afastador e aplicação
de agente de ação neural químico (nitrato de potássio 3%). Com pincel aplicador, friccionar
por 5 minutos, em sequência remover o fio afastador e remover o produto com algodão
umedecido, aplicar novamente na região subgengival por 5 minutos, remover adequadamente,
repetir por mais duas sessões todo o procedimento (segunda e terceira sessões). Já na última
sessão (quarta sessão) realiza-se a terapia obliteradora, também utilizando o fio retrator e
isolamento relativo. O nível de durabilidade do protocolo é de 12 meses (SOARES;
MACHADO, 2020).

Em casos nos quais a hipersensibilidade está associada ou foi gerada pela recessão
gengival, tem sido indicado como tratamento nesta condição o enxerto gengival, que
demonstrou redução significativa de hipersensibilidade dentinária cervical, após tratamento
com posicionamento de retalho coronariamente e enxerto de tecido conjuntivo. A associação
da cirurgia de retalho periodontal seguida do uso de um laser de alta potência, também
demonstrou resultados satisfatórios reduzindo consideravelmente a sensibilidade (CLARK;
LEVIN, 2016).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por afetar de maneira prejudicial a qualidade de vida dos pacientes, a compreensão dos
fatores etiológicos, mecanismos de ação, protocolos de diagnóstico e execução correta das
técnicas de tratamento da hipersensibilidade dentinária, resultará em uma conduta clínica mais
segura e eficaz para os cirurgiões-dentistas (LIU et al., 2020).

Através de um diagnóstico correto, pode-se desvendar os fatores etiológicos


envolvidos, compreendendo a multifatoriedade, fatores de risco, hábitos e comportamentos
individuais, sendo o princípio para se elaborar um planejamento personalizado, visando
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administrar os fatores etiológicos para uma correta intervenção e prevenção de futuros danos
(WEST; SEONG; DAVIES, 2014).

O diagnóstico da hipersensibilidade deve ser realizado em etapas, são estas: uma


anamnese detalhada, seguida de um exame clínico com análise extraoral e intraoral, e que se
avalia individualidades do paciente e se existem alterações de normalidade bucais, seguido da
análise oclusal, em que qualquer desequilíbrio presente deve ser sinal de alerta (SOARES;
GRIPPO, 2017).

Sendo de extrema importância os exames de imagem, análise de parâmetros salivares,


perfil alimentar, processo de higienização do paciente devem ser avaliados para garantir o
diagnóstico correto, e por fim o teste de hipersensibilidade propriamente dito, na qual a
técnica mais indicada é a de jato de ar – estas etapas formam a base para se planejar um
tratamento adequado (GERNHARDT et al., 2013).

Como meio de tratamento, a hipersensibilidade dentinária possui várias opções de


materiais e técnicas, e ainda não há um consenso na literatura sobre um protocolo universa.
Desta forma, o protocolo associativo tem garantido resultados satisfatórios e duradouros, além
de ser de fácil reprodução, podendo ser aplicado na grande maioria dos casos (SOARES;
MACHADO, 2020).
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DENTIN HYPERSENSITIVITY: DIAGNOSIS AND TREATMENT

ABSTRACT

One of the most incident oral diseases of the present time, has been described as dentin
hypersensitivity. Currently considered as a disease that promotes excessive sensitivity to
dentin, short-term acute pain, originating from a vulnerable enamel and an exposed cervical
dentin. It has a wide variety of prevalence, usually from 11 to 33%, becoming a public health
issue. The vast amount of current diagnostic criteria suggests that there is uncertainty and lack
of trust among dentists about what is dentin hypersensitivity, how to diagnose and treat such a
condition. The general aim of this paper was to discuss etiological factors, mechanisms of
action, diagnosis, differential diagnosis and treatment of dentin hypersensitivity, presenting
diagnostic and treatment protocols in a simplified way. This literature review was written
using the databases Google Scholar, Pubmed, Scielo and books related to the subject.
Research articles available in Portuguese and English were used in full, published between the
years 2010 a 2020, and were discarded research articles from another language and the ones
which are not available in full. Thus, it was observed that the associative protocol in the
treatment for dentin hypersensitivity has guaranteed satisfactory and lasting results, besides
the ease in reproduction, and possibility of being approached in the vast majority of clinical
cases.

Keywords: Hypersensitivity. Pain. Dentin sensitivity. Desensitizing agents.


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