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CURSO INTENSIVO EM MEDICINA PALIATIVA

Cuidados à boca

Júlia Magalhães
Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos
Gaia
9 de novembro de 2023
Cuidados orais em Portugal

Em Portugal, no ano de 2015, foi conduzido um primeiro estudo relativamente aos hábitos de higiene oral da
população portuguesa. Participaram no estudo indivíduos saudáveis com mais de 15 anos, concluindo-se que
97,6% da amostra referia escovar os dentes diariamente, dos quais 72,7% escovavam duas vezes por dia. Este
mesmo estudo referia que 70% havia perdido pelo menos um dente e 6% não tinha qualquer dente (Melo,
Marques & Silva, 2017).

Num outro estudo (Barómetro da Saúde Oral) realizado em 2019, e cujos resultados reiteram os do estudo
anterior, concluiu-se que 77,6% da população portuguesa escovava os dentes duas vezes ao dia, sendo este
hábito maior no sexo feminino. Salientando ainda, que apenas 31% possuía dentição completa e que
aproximadamente 10% não tinha qualquer dente (Ordem dos Médicos Dentistas, 2019).
Cuidados orais

A boca é um órgão complexo e importante, com significado fisiológico e


psicológico, responsável pela expressão do ser humano, pelo que a
existência de sintomas desconfortáveis é angustiante para qualquer
pessoa. As doenças orais afetam o bem-estar físico, psicológico e social
devido à dor, alteração da capacidade funcional e diminuição da qualidade
de vida (Sifuentes & Lapane, 2020).
Cuidados orais

Doenças orais, tais como xerostomia, candidíase oral, estomatite e


mucosite oral, possuem uma alta prevalência em adultos de idade mais
avançada, portadores de doenças agudas ou crónicas graves, e em fase
paliativa (Orcina et al., 2021); levando ao comprometimento do conforto e
da qualidade de vida da pessoa, como consequência direta da terapêutica
a que estão submetidos e de deficientes cuidados orais, entre outras
causas (Orcina et al., 2021; Santana, 2020).
Cuidados orais

A avaliação da cavidade oral passa pelo registo da história de problemas orais presentes
ou passados, medicação habitual e estado nutricional, consideradas e valorizadas todas
as queixas da pessoa. Deve ser realizada e registada englobando a correta avaliação e
monitorização de diversos aspetos, como a voz, língua, lábios, mucosas, gengiva, saliva,
deglutição, dentes e próteses dentárias (Benito, 2010; Capaz, 2019).
Cuidados orais

Importa pois ter um algorítmo que avalie: a voz, a deglutição, os lábios, a língua, a saliva,
a mucosa, as gengivas, e os dentes e/ou próteses. Assim, por tal razão, dever-se-á realizar
uma observação sistemática da cavidade oral (Benito, 2010; Reis, 2012; Rocha, 2011).
Sempre que é aplicado um determinado cuidado ou terapêutica deve ser realizada nova
avaliação ao fim de três dias, de modo a avaliar a eficácia das intervenções e do
tratamento implementado.
Principais problemas

Xerostomia
Infeções fungicas
Mucosite oral
Halitose
Disgeusia
Xerostomia

A xerostomia é uma problemática frequente em cuidados


paliativos, com uma prevalência de 60 a 88% em portadores de
doença oncológica progressiva e avançada, com consequências
físicas, psicológicas e sociais (Orcina et al., 2021).
Xerostomia
A xerostomia origina, muitas vezes, alterações da microflora oral, fatores desencadeadores de outos
problemas da mucosa oral, nomeadamente infeções fúngicas; sendo considerada fator de risco para
outras afeções da boca, tais como candidíase oral ou disgeusia (Miletich, 2010; Twycross et al.,
2009).
Define-se como a sensação subjetiva de boca seca, enquanto resultado de hipossecreção salivar ou
da total ausência da produção salivar. A idade avançada, a desidratação, a polimedicação e a reação
adversa a fármacos são alguns dos fatores de risco associados à xerostomia que, por conseguinte,
são frequentes na pessoa em situação paliativa (Kenny et al., 2017; Orcina et al., 2021; Yousefi &
Abdollahi, 2018).
Xerostomia - causas
Xerostomia - tratamentos

Lysik et al. (2019) defendem que os estimulantes salivares têm


efeitos benéficos superiores aos substitutos de saliva, visto
que os estimulantes aumentam a secreção da saliva natural,
melhorando a xerostomia e a hipossalivação, enquanto, os
substitutos da saliva, apenas, melhoram a xerostomia (Barros,
2020). De acordo com Fazel e Millsop (2016), a estimulação da
produção salivar pode ser potenciada pela sucção de cubos de
gelo, fruta ácida e pelo aumento do consumo de água.
Xerostomia - tratamentos

Na maioria das situações, não se consegue a resolução


completa do problema, mas...
• Estimualntes da saliva
• Pastilhas elásticas sem açucar
• Rebuçados de limão
• Ananás congelado
• Citrinos congelados
• Granizados
• Substitutos da saliva
• Cubos de gelo
Candidiase oral
A candidíase oral é das infeções fúngicas mais frequentes
na pessoa em situação paliativa, principalmente nas que
foram previamente sujeitas a quimioterapia e/ou
radioterapia (Orcina et al., 2021). A candidíase oral é
geralmente assintomática, no entanto, as manifestações
clínicas dependem dos fatores de risco presentes. Assim,
algumas pessoas podem referir sensação de desconforto
oral, tais como: dor, sensação de ardor, dificuldade na
ingestão de líquidos e alimentos, tumefação,
sintomatologia esta que afeta significativamente a
qualidade de vida das mesmas (Ferreira et al., 2015).
Candidiase oral - causas

Corticoides e antibióticos
Xerostomia
Próteses dentárias
Diabetes
Alterações nutricionais
Imunosupressão
Má higiene oral
Candidiase oral - prevenção

Recorrendo a uma higiene oral adequada


Gestão da xerostomia
Manutenção das próteses dentárias.
As medidas de higiene oral deverão incluir uma
escovagem adequada de todos os tecidos orais e das
próteses dentárias (quando aplicável), que
periodicamente deverão ser sujeitas a avaliação, de modo
a encontrarem-se bem adaptadas.
Candidiase oral - tratamento

Antifúngicos tópicos, a nistatina e o miconazol são


geralmente os mais prescritos.
a nistatina poderá ter pouca recetividade por parte dos doentes, devido ao
seu sabor desagradável,
o miconazol é geralmente melhorntolerado(Garcia-Cuesta, Sarrion-Pérez &
Bagán, 2014).

Antifúngicos sistémicos mais comuns:


anfotericina B
derivados azólicos.:
- itraconazol
- Fluconazol
Mucosite oral - causas

A mucosite oral está, muitas vezes, presente na pessoa em


situação paliativa, principalmente nas portadoras de doença
oncológica, submetidas a quimioterapia e/ou radioterapia (Orcina
et al., 2021). Tem como manifestações clínicas a ulceração,
xerostomia, ageusia, dor, infeções, hemorragias e alteração do
estado nutricional, interferindo na qualidade de vida da pessoa; e
caracteriza-se pela inflamação e ulceração da mucosa oral,
acompanhada de edema local, eritema da pele e sensibilidade
aumentada (Bolton, 2021).
Mucosite oral sinais e sintomas

Edema, o eritema, o aumento da sensibilidade a alimentos quentes ou


com maior nível de acidez, e a sensação de ardor.
É comum o aparecimento de ulcerações dolorosas de coloração
esbranquiçada ou opalescente, resultado da diminuição da ingestão
alimentar, má nutrição e desidratação, resultando no aumento do risco
de infeção local e sistémica, e no comprometimento das funções da
cavidade oral.
Mucosite oral sinais e sintomas

Em algumas situações é necessário adaptar a dieta, no que se refere


à sua consistência, temperatura e tipo de alimentos. Em casos mais
graves poderá ser necessário recorrer a outras vias de alimentação.
Para além disto, no caso da pessoa ainda se encontrar sob tratamento
antineoplásico, pode resultar na suspensão do mesmo,
comprometendo a sua sobrevida (Hong, et al., 2019).
Mucosite oral - tratamento

A existência de vários estudos relacionados com a


mucosite oral, tem vindo a demonstrar que o
tratamento de eleição se centra no controlo de
sintomas, sendo considerado um cuidado paliativo
(Barillari et al., 2015). Preconiza-se, em
consequência, a utilização de analgésicos para
controlo da dor associada, e de medicamentos
antifúngicos, sempre que indicado, em associação
com o reforço dos cuidados de higiene oral.
Mucosite oral - tratamento

Prevenção da mucosite
Benzidamina
Associação de antibióticos, analgésicos e antifúngicos
tópicos
Alopurinol em doentes tratados com 5 – Fluoracilo
Crioterapia se tratamento com 5 – Fluoracilo em bólus;
Tratamento da mucosite instalada
Benzidamina;
Anestésicos tópicos;
Tratamento de sintomas;
Anestésicos tópicos;
Anti-inflamatórios;
Analgésicos para dor ligeira a severa (opióides);
Take home messages

- Avaliar e prevenir
- Assegurar bons e adequados cuidados de
higiene ajustados à realidade do doente
- -uso adequado de dispositivos
- Estratégias não farmacológicas
- Gelatinas
- Gelo
- Fruta congelada
- Granizados
- Pastilhas elásticas sem açucar
- Rebuçados
Take home messages

Embora os cuidados orais representem um cuidado essencial nos CP, muitas vezes não são
considerados prioritários, especialmente se o doente apresenta um conjunto de sintomatologia
complexa, sobretudo, descontrolada, levando os profissionais de saúde a priorizar os cuidados
prestados e a dirigir a sua atenção para sintomas como a dor, náuseas, vómitos ou fadiga,
descurando soluções para uma intervenção sistemática no que respeita às afeções da boca.
Dados da literatura mostram que os médicos e enfermeiros prestam pouca atenção às
condições orais dos doentes e que geralmente a avaliação clínica da cavidade oral não é
mencionada nos registos médicos e de enfermagem (Öhrn, Wahlin & Sjödén, 2001; Wilberg,
Hjermstad, Ottesen & Herlofson, 2012).

O sofrimento não é um sintoma, nem é um
diagnóstico, mas uma experiência
humana muito complexa.”
António Barbosa (2003)
FOTO LOCAL DE TRABALHO / OUTRA

Obrigado!

Júlia Magalhães
jaamagalhaes@arsnorte.min-saude.pt

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