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em Cuidados
Paliativos
Júlia Magalhães
Saúde Oral
• Em Portugal, no ano de 2015, foi conduzido um primeiro estudo relativamente aos
hábitos de higiene oral da população portuguesa. Participaram no estudo indivíduos
saudáveis com mais de 15 anos, concluindo-se que 97,6% da amostra referia escovar
os dentes diariamente, dos quais 72,7% escovavam duas vezes por dia. Este mesmo
estudo referia que 70% havia perdido pelo menos um dente e 6% não tinha
qualquer dente (Melo, Marques & Silva, 2017).
• Num outro estudo (Barómetro da Saúde Oral) realizado em 2019, e cujos resultados
reiteram os do estudo anterior, concluiu-se que 77,6% da população portuguesa
escovava os dentes duas vezes ao dia, sendo este hábito maior no sexo feminino.
Salientando ainda, que apenas 31% possuía dentição completa e que
aproximadamente 10% não tinha qualquer dente (Ordem dos Médicos Dentistas,
2019).
Saúde oral
• A saúde oral é parte integrante da saúde geral e assume uma
componente essencial da Qualidade de Vida (QdV). Durante
anos, a saúde oral foi determinada exclusivamente pela clínica,
não permitindo uma avaliação do verdadeiro impacto das
doenças orais no dia a dia dos doentes. (Spanemberg, Cardoso,
Slob & López-López, 2019)
Saúde Oral
• As alterações na boca são comuns nos doentes com cancro avançado e
na maioria das doenças progressivas, com um forte impacto funcional
e social nestes. Estas alterações são responsáveis por diminuírem a
Qualidade de Vida nas pessoas, prolongando dor, sofrimentos e
causam problemas funcionais, estéticos, nutricionais e psicológicos.
• A dor orofacial, boca seca, alterações da deglutição, disgeusia e
dificuldades na fala, podem ser alguns dos sintomas que interferem
em diferentes aspetos da vida diária, como comer, comunicar e dormir
(Jucan & Saunders, 2015; Parikh, R. B., Kirch, R. A., Smith, T. J., &
Temel, J. S., 2013).
O que influencia...
• Diferentes fatores, como o mau estado nutricional e consequente diminuição do aporte vitamínico,
cuidados orais insuficientes, a polimedicação e desidratação, podem desempenhar um papel importante
no desenvolvimento de afeções da boca em doentes em fase terminal, sendo por isso os cuidados de
higiene oral, essenciais na abordagem paliativa e que deverão primar pela melhoria do conforto,
controlo de sintomas e a diminuição das complicações (Chen, X., Chen, H., Douglas, C., Preisser, J. S.,
& Shuman, S. K., 2013).
Principais
problemas
• Xerostomia
• Infeções fungicas
• Mucosite oral
• Sarro lingual
• Halitose
• Disgeusia
Xerostomia
• A Xerostomia define-se como sendo a sensação subjetiva de
boca seca que resulta da hipossecreção salivar ou da total
ausência de saliva e é o quarto sintoma mais comum nos doentes
com cancro avançado. É responsável pelo impacto negativo quer
no bem-estar físico, quer no bem-estar psicossocial dos doentes.
Consideram-se como fatores de risco, a idade avançada, a
desidratação e a polimedicação que, por conseguinte, são fatores
comuns nos doentes com doença em estado avançado (Kenny,
Mukerji & Walsh, 2017).
Xerostomia - causas
Contém amílase que contribui para a digestão do amido e lipase lingual para a digestão da gordura.
A sua função antibacteriana, contém lisozimas que destroem as paredes celulares das bactérias.
O fluxo salivar é aumentado pela mastigação, permitindo a deglutição. A saliva desencadeia a perceção da
sede e melhora a perceção do paladar (Miletich, 2010; van’t Hof, Veerman, Amerongen & Ligtenberg,
2014). A boca seca poderá desencadear dificuldades funcionais, como dificuldade em mastigar e/ou
em deglutir, podendo daí resultar disfagia e alterações do paladar (disgeusia). A sensação
persistente de boca seca, predispõe igualmente a pessoa a infeções orais, cáries dentárias e
candidíase oral (Miletich, 2010; Twycross, Wilcock & Toller, 2009).
Candidiase oral
• A candidíase oral é uma infeção fúngica e é considerada como
uma das infeções fúngicas mais comuns, especialmente nos
doentes com cancro da cabeça e pescoço, com neoplasias
hematológicas e/ou com cancro avançado, sobretudo nos que
foram sujeitos a tratamentos de QT e RT, ou combinadas
(Davies, Brailsford & Beighton, 2006; Jain, Shah, Chandolia,
Mathur, Chauhan, Chawda & Bhagalia, 2016).
Candida albicans – mais frequente
outros fungos oportunistas
Candidiase oral - causas
• Corticoides e antibióticos
• Xerostomia
• Próteses dentárias
• Diabetes
• Alterações nutricionais
• Imunosupressão
• Má higiene oral
Candidiase oral
Relativamente ao diagnóstico e ao tratamento da candidíase oral, Fazel & Millsop (2016) defendem que
tão ou mais importante do que tratar a infeção diagnosticada, é prevenir, através da identificação de
fatores de risco e da eliminação ou tratamento das causas. O diagnóstico é geralmente clínico e
baseia-se no reconhecimento das lesões pelo profissional de saúde.
Candidiase oral - estratégias
Recorrendo a uma higiene oral adequada
Gestão da xerostomia
Manutenção das próteses dentárias.
As medidas de higiene oral deverão incluir uma escovagem adequada de todos os tecidos orais e das
próteses dentárias (quando aplicável), que periodicamente deverão ser sujeitas a avaliação, de modo a
encontrarem-se bem adaptadas.
Candidiase oral - estratégias
Relativamente aos cuidados com as próteses dentárias e cuidados orais nos doentes com candidíase oral,
Fazel & Millsop (2016) sugerem que a higiene oral seja reforçada, sobretudo com o intuito de prevenir ou
tratar a estomatite protética.
As próteses devem ser removidas no período noturno, lavadas e colocadas numa solução de vinagre
branco, hipoclorito a 0,1% ou suspensão de gluconato de clorohexidina a 2% e posteriormente secarem
naturalmente.
Os doentes deverão ser instruídos e incentivados em relação à execução diária dos cuidados orais, pelo
menos duas vezes por dia, escovando dentes e língua e usando fio dentário diariamente.
Candidiase oral - fármacos
Antifúngicos tópicos, a nistatina e o miconazol são geralmente os mais prescritos.
• a nistatina poderá ter pouca recetividade por parte dos doentes, devido ao seu sabor
desagradável,
• o miconazol é geralmente melhorntolerado(Garcia-Cuesta, Sarrion-Pérez & Bagán,
2014).
Tratamento de sintomas;
• Anestésicos tópicos;
• Anti-inflamatórios;
• Analgésicos para dor ligeira a severa (opióides);
Resumindo
- Avaliar e prevenir
- Assegurar bons e adequados cuidados de higiene ajustados à realidade do doente
- -uso adequado de dispositivos
- Estratégias não farmacológicas
-Gelatinas
-Gelo
-Fruta congelada
-Granizados
-Pastilhas elásticas sem açucar
-Rebuçados
-....
Concluindo
• Embora os cuidados orais representem um cuidado essencial nos CP, muitas vezes não são
considerados prioritários, especialmente se o doente apresenta um conjunto de sintomatologia
complexa, sobretudo, descontrolada, levando os profissionais de saúde a priorizar os cuidados
prestados e a dirigir a sua atenção para sintomas como a dor, náuseas, vómitos ou fadiga, descurando
soluções para uma intervenção sistemática no que respeita às afeções da boca. Dados da literatura
mostram que os médicos e enfermeiros prestam pouca atenção às condições orais dos doentes e que
geralmente a avaliação clínica da cavidade oral não é mencionada nos registos médicos e de
enfermagem (Öhrn, Wahlin & Sjödén, 2001; Wilberg, Hjermstad, Ottesen & Herlofson, 2012).