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GUIDELINES
PARA CUIDADOS
GUIDELINES
PARA CUIDADOS
DE SAÚDE ORAL
EM DOENTES
ONCOLÓGICOS
Prefácio
O tema desta publicação faz-me relembrar o tempo em que frequentei e concluí a minha Li-
cenciatura em Medicina e Cirurgia na Faculdade de Medicina de Lisboa, e como evoluiu o co-
nhecimento Médico ao longo destes anos.
Doentes que hoje passaram a ser seguidos pelos Estomatologistas, Médicos Dentistas e ou-
tros profissionais da área da saúde oral e maxilar, tinham naquela altura uma esperança de vida
diminuta sendo os cuidados orais e maxilares também limitados.
A evolução da terapêutica da patologia oncológica, a possibilidade de efectivação do trata-
mento em ambulatório e o consequente aumento da esperança de vida levou a uma maior pre-
sença destes doentes na nossa consulta quotidiana. Tornou-se, então, rotina “descobrirmos”
que uma percentagem crescente dos doentes que tratamos (nos hospitais, nas clínicas e nos
consultórios) têm alguns factores de risco associados a doença oncológica anterior. Outros,
referem mesmo a manutenção de terapêutica oncológica efectiva com alteração mínima da sua
aparente qualidade de vida.
Digamos que, de uma população de “pacientes” passámos a ter de lidar com uma de doen-
tes.
Ora, este texto é uma contribuição importante para o tratamento oral e maxilar destes doen-
tes à luz dos conhecimentos actuais.
Os objectivos são o de aglutinarem num só volume, de um modo sucinto, algumas das regras
mais importantes para o tratamento dos doentes que tenham patologia oncológica de locali-
zação oral ou não, e que, por este condicionalismo necessitem de cuidados orais e maxilares
com características específicas.
Não é, portanto, este pequeno livro, dedicado apenas aos profissionais com prática hospita-
lar. Em cada momento cada um de nós pode ser confrontado com estas situações necessi-
tando de cumprir adequadamente os procedimentos mais correctos.
Esta publicação só foi possível pela colaboração graciosa dos laboratórios Atral Cipan e à sua
disponibilidade para a divulgação de conhecimentos na área da Patologia Oral e Maxilar. Os
nossos sinceros agradecimentos.
3
Ficha Técnica
Direcção de Arte
Rui Lis Romão
Círculo Médico - Comunicação e Design
Revisão
Maria do Céu Lopes
Círculo Médico - Comunicação e Design
Impressão e Acabamentos
Jorge Fernandes, Lda.
Exemplares
3.000 exemplares
1a edição 2010
Depósito Legal
00000000/10
ISBN
978-989-20-1933-8
PÁG. 07 A. Introdução
5
Índice
38 › D.3 Consultas de estomatologia pós-tratamento oncológico
38 ›D.3.1 Objectivos
38 ›D.3.2 Consultas
39 ›D.3.3 Controlo do trismus
39 ›D.3.4 Alterações do paladar
39 ›D.3.5 Endodontia
40 ›D.3.6 Periodontia
40 ›D.3.7 Prostodontia
40 ›D.3.8 Cirurgia oral
42 ›D.3.9 Controlo da xerostomia
44 ›D.3.10 Osteorradionecrose
46 ›D.3.11 Osteonecrose associada aos bifosfonatos
53 ›D.3.12 Doença do enxerto contra-hospedeiro
55 ›D.3.13 Reabilitação pós-cirurgia da cabeça e pescoço
PÁG. 58 Bibliografia
PÁG. 61 Anexos
O objectivo deste trabalho, que se limita a co- Nestes doentes a actuação do médico esto-
ligir as recomendações existentes na litera- matologista/médico dentista deve ser orien-
tura médica sobre o controlo das conse- tada para:
quências orais dos tratamentos oncológicos,
1. Prevenção dos efeitos colaterais da te-
é auxiliar os profissionais de saúde oral a do-
rapia oncológica na saúde oral;
minar as competências da sua arte, perse-
guindo a excelência no interesse dos seus 2.Tratamento das complicações orais;
doentes. 3. Promover a saúde oral durante o follow-
O tratamento das patologias oncológicas -up.
tem importantes repercussões na cavidade A efectivação destas orientações passa por:
oral. As complicações destes tratamentos
são consequência: 1. Aumentar e regular a acessibilidade des-
tes doentes aos Serviços de Saúde Oral;
1. das sequelas da cirurgia oncológica da
cabeça e pescoço; 2.Estabelecer protocolos entre estes e os
Serviços onde se realizem tratamentos
2. do efeito da quimioterapia na medula Oncológicos, permitindo: uma selecção
óssea; dos doentes em risco, um aumento da
3. dos efeitos tóxicos directos dos agentes eficácia dos recursos disponíveis e uma
quimioterapêuticos nas estruturas do abordagem integrada e multidisciplinar;
aparelho estomatognático; 3. Formar os profissionais na área da
4. das alterações teciduais após a radiote- saúde oral dos doentes de risco, em par-
rapia da cabeça e pescoço; ticular daqueles com actividade extra-
-hospitalar;
5. dos efeitos colaterais da medicação as-
sociada (não anti-neoplásica), como por 4.Educar os doentes e respectivas famílias.
exemplo os bifosfonatos;
6. da resposta do organismo ao trans-
plante de medula e terapia imunossu-
pressora associada.
7
B.
Complicações estomatológicas
associadas à terapêutica
dos doentes oncológicos
9
A atrofia da estrutura glandular diminui a
quantidade e qualidade de saliva produ-
zida levando a:
1. Capacidade reduzida de tampão (o pH
normal de 6.8 a 7.2 cai para níveis áci-
dos);
2. Diminuição da capacidade de remine-
ralização dentária com aumento da
sensibilidade dentária;
3. Diminuição das propriedades antibac-
terianas da saliva com aumento das in-
fecções locais como candidíase, sialoa-
denites, cáries, glossites e consequente
halitose;
4. Diminuição da capacidade de limpeza
da boca;
[Figura 2]
5. Alterações do paladar;
GRUPO I – Engloba os Grupos submento-
niano, entre o véu anterior do digástrico e o 6. Dificuldades na deglutição, mastigação
osso hióide e o Grupo Submandibular, lo- e fonação;
calizado num triângulo delimitado pelos 7. Disfunção esofágica e esofagite cró-
véu anterior e posterior do digástrico com o
nica;
bordo inferior da mandíbula.
8. Compromisso nutricional;
GRUPO II – Grupo jugular superior locali-
zado à volta da parte superior da jugular in- 9. Alterações do sono.
terna e nervo espinhal acessório. Estende-
-se da base do crânio até à bifurcação da e. Cáries dentárias
carótida (osso hióide como limite clínico), Sem uma adequada higiene oral e um pro-
limitado posteriormente pelo bordo poste- grama de fluorização, as alterações sali-
rior do esternocleidomastoideu e anterior- vares e a debilitação física e psicológica
mente pelo músculo esterno-hióideu. criam condições para cáries extensas e de
evolução rápida conhecidas como “cáries
d. Xerostomia de radiação”. Estas cáries rampantes en-
A radiação ionizante ao atingir as glându- volvem peças dentárias tanto no campo ir-
las salivares provoca lesão e/ou morte das radiado como fora dele e aumentam o
células acinares, afecta a rede vascular e risco de osteorradionecrose (Figura 3).
leva à fibrose glandular.
A diminuição do fluxo salivar tem sido f. Trismus
descrita em doses de 10 Gy e a perma- Associada à fibrose dos músculos masti-
nente hiposalivação em doses superiores gadores e cápsula da ATM, que podem
a 25 Gy. ocorrer 3 a 6 meses após a RT.
g. Periodontopatia
Perda da inserção periodontal das peças
dentárias localizadas na área da radiação
com periodontopatia grave e incapacidade
de mastigação.
h. Osteorradionecrose (ORN)
Incapacidade do osso irradiado em res-
ponder aos traumas e agressões. O pré-
-tratamento dentário é fundamental para
eliminar ou reduzir os focos sépticos e ou-
tros factores de agressão (Figura 4).
i. Dificuldades na deglutição
Associadas a alguns dos problemas acima [Figura 5]
referidos. A - RT convencional. O feixe fixo da radiote-
j. Neoplasias induzidas rapia convencional aplicada lateralmente
pela radiação fornece uma dose elevada e consistente a
toda a área da zona escurecida. B - Com o
A recente radioterapia de intensidade modu- feixe da IMRT constantemente em movi-
lada (IMRT) permite uma maior precisão na mento, a dose de radiação varia depen-
aplicação da radiação, aumentando a dose dendo da localização. A área mais escura re-
na área tumoral e diminuindo os efeitos nos presenta a localização do tumor e recebe a
tecidos vizinhos (Figura 5). A sua maior van- maior dose de radiação. Tons mais claros de
tagem talvez seja a poupança relativa das cinza representam progressivamente mais
glândulas salivares. baixas doses de radiação. Em contraste com
a radioterapia convencional, todas as áreas
recebem alguma exposição à radiação.
11
B.3 Associadas às sequelas da cirurgia
oncológica da cabeça e pescoço
A perda de tecidos associada à extirpação do - Deficit de mastigação e deglutição;
tumor com margem de segurança pode levar a: - Risco de aspiração de alimentos para as
- Perdas dentárias e/ou das estruturas de vias respiratórias;
suporte; - Deficit da fonética;
- Incompetência oral e labial; - Sequelas estéticas.
b. Corticoterapia prolongada
Aumento de susceptibilidade às infecções.
c. Bifosfonatos (BFF)
Osteonecrose dos maxilares (Figura 6).
Ocorre em cerca de 4 a 13% dos doentes
com patologia óssea maligna, tratados
com BFF por via e.v. Surge, em média,
entre os 22 e os 39 meses depois do iní-
cio da medicação. [Figura 6] Osteonecrose associada aos BFF
13
g. Terapêutica associada, como B. O estomatologista
bifosfonatos, corticoterapia ou outra; deve fornecer ao oncologista
h. Valores hematológicos importantes como a seguinte informação:
leucograma e plaquetas. a. Plano de tratamento e data prevista de
No anexo I, reproduzimos o formulário a conclusão;
preencher pelo Oncologista que acompanha b. Data da última manobra invasiva;
o doente quando é enviado ao Serviço de Es-
tomatologia do CHLN. c. Situações não resolvidas que podem for-
çar a interrupção ou complicar a tera-
pêutica oncológica ou afectar significati-
vamente o conforto do doente;
d. Previsão de possíveis complicações orais.
No anexo II, reproduzimos o formulário res-
posta a preencher pelo Estomatologista.
15
D.1.1 Objectivos gerais Exame objectivo:
- Exame da cabeça e pescoço incluindo pal-
a. Efectuar exame objectivo completo da ca-
pação cervical com identificação de ade-
vidade oral e região maxilo-facial; nopatias;
b. Realizar exames radiográficos (pelo menos - Exame intra-oral completo, documen-
uma Ortopantomografia) para estabelecer tando sensibilidade e vitalidade dentária,
uma avaliação inicial de base (despiste de restaurações presentes, mobilidade das
patologias pulpares, apicais periodon- peças, alterações das partes moles, iden-
tais, inclusões dentárias etc.); tificação de fontes de possíveis traumas
c. Eliminar focos sépticos intra-orais; como próteses mal adaptadas, alterações
anatómicas como “torus” e grau de hi-
d. Eliminar fontes de potencial traumatismo giene oral;
(dentes com arestas pontiagudas, res-
- Registo da dimensão vertical (DVO) e
taurações fracturadas, próteses mal adap-
abertura máxima;
tadas etc.);
- Avaliação do débito salivar;
e. Obter impressões das arcadas dentárias
para estudo, planeamento de possíveis - Pedido de Ortopantomografia e realizar ra-
obturadores, fabrico de goteiras de pro- diografias intra-orais, se necessário;
tecção ou de goteiras para fluorização; - Realização de impressões das arcadas;
f. Resolver limitações dentárias a uma ade- - Estabelecimento de um plano de trata-
quada nutrição. mento provisório a confirmar depois da
avaliação radiológica e com o acordo do
D.1.2 Primeira consulta paciente/família e do oncologista;
Deve ser realizada, pelo menos, 15 dias - Fornecer informações e motivar para uma
antes da RT ou 10 dias antes da QT. melhor higiene oral e cuidados de higiene
com as próteses. Há algumas evidências
Colheita de dados: da utilidade da aplicação de solução de
História clínica completa incluindo: Clorexidina (10 ml a 0.2%), Corsodyl®, por
exemplo, duas vezes por dia a iniciar uma
- História pregressa oral minuciosa: doenças semana antes do tratamento oncológico;
mucocutâneas anteriores como herpes sim-
- Incentivar o doente a ter um estomatolo-
plex, estomatite aftosa, candidíase, e trau-
gista/dentista assistente de proximidade
matismos orais;
que pode e deve colaborar no plano de tra-
- Hábitos de higiene oral, sua eficácia e pos- tamento;
síveis limitações físicas; - Comunicar ao estomatologista/dentista
- Hábitos alcoólicos e/ou tabágicos; assistente o plano de tratamento e esta-
belecer uma via de comunicação facilitada.
- Estado nutricional; Deve ser fornecido telefone de contacto e
- Diferenciação, expectativas e motivação morada de correio electrónico do Serviço
do doente. ou do médico responsável.
17
para a cárie dentária, higiene oral, idade, mo- Dentes com tratamento endodôntico ante-
tivação e enquadramento económico, tendo rior e com lesões apicais radiotransparentes
sempre a faculdade de alterar o método es- devem ser avaliados, procurando sinais e sin-
colhido em posteriores avaliações. tomas de infecção. Em caso de dúvida e/ou
Se o clínico optar pela aplicação do gel de localizados na área de radiação, devem ser
flúor em goteiras personalizadas no domicí- extraídos. Nos doentes que façam só qui-
lio, estas não devem traumatizar ou irritar a mioterapia, as lesões assintomáticas e infe-
gengiva e a mucosa oral. O doente deverá: riores a 5 mm podem ficar sem tratamento
nesta fase. Estudos evidenciam que estas le-
- Escovar os dentes e passar o fio dental;
sões não são exacerbadas pela terapia onco-
- Colocar a goteira pouco cheia com o gel lógica.
sobre os dentes durante 4 minutos. Se o
gel escorre da goteira, demasiado gel foi Lembrar que o tratamento endodôntico em
aplicado; dentes decíduos está contra-indicado du-
rante a quimioterapia, pelo que pode ser ne-
- Remover a goteira e cuspir o excesso. Não
cessário proceder a exodontias em casos de
bochechar nem deglutir. Lavar a goteira
dentes decíduos com prognóstico duvidoso.
em água corrente;
- Não comer ou beber durante 30 minutos. As peças dentárias localizadas em tumores
orais ou adjacentes devem ser extraídas e
As pastilhas elásticas com flúor são particu-
larmente indicadas nos casos de xerostomia, não tratadas endodonticamente.
pois estimulam a remanescente secreção sa-
livar, aumentando a capacidade tampão. Profilaxia
de infecções orais
Recentemente desenvolveram-se dispositi-
vos intra-orais de libertação lenta de flúor. O Os doentes em preparação para transplante
objectivo destes dispositivos é o de libertar, de medula devem receber profilaxia com Flu-
constantemente, baixos níveis de flúor para a conazol (Diflucan® 400 mg/dia) para pre-
saliva, por um período prolongado. A sua efi- venção de infecções fúngicas desde o início
cácia é indiscutível, mas o seu uso ainda é li- da QT e até ao final do período neutropénico.
mitado.
O Aciclovir (Zovirax® 200 mg 2 vezes por
dia) ou o Valaciclovir (Valtrex® 500 mg 2
Tratamentos endodônticos
vezes por dia) são os indicados para a pre-
Como princípio geral, têm indicação nos doen- venção de reactivação do vírus Herpes Sim-
tes com patologia pulpar limitada à peça den- plex (HSV) em doentes com análise positiva
tária. para os anticorpos do HSV.
Dentes com lesões periapicais na área de ra-
diação devem ser extraídos. Cirurgia Oral
Dentes com lesões periapicais fora da área Devem ser extraídos:
de radiação podem ser tratados endodonti- a. Sisos semi-inclusos. Nos doentes sub-
camente se for possível eliminar completa- metidos apenas a QT podem não ser ex-
mente o foco séptico. traídos se assintomáticos, sem antece-
19
Os pacientes para transplante de medula Ortodontia
devem ter realizado as exodontias antes do
dia da colheita. Remover bandas e outras peças que possam
causar trauma à mucosa oral. O tratamento
Em relação aos BFF por via e.v., existe um pe- deve ser suspenso até, pelo menos, 1 ano
ríodo de oportunidade para procedimentos in- após a terapia oncológica.
vasivos até aos 3 meses (incluindo o período
cicatricial pós-procedimento) depois do início No caso dos bifosfonatos, o seu efeito anti-
da medicação. São raros os casos de osteo- -osteoclástico parece desaconselhar a colo-
necroses antes dos 6 meses de exposição. cação de aparelhos de ortodontia ou, pelo
menos, levar à diminuição da velocidade dos
Há necessidade de profilaxia antibiótica antes movimentos dentários.
dos procedimentos cirúrgicos em doentes
que, devido à sua condição neoplásica prévia, Prostodontia
possam apresentar-se neutropénicos, com
Remover próteses mal adaptadas.
valores inferiores a 1.000. Nos doentes que
possam ter já colocado um cateter central Aconselhar uso descontínuo de próteses re-
para a medicação quimioterápica é prudente movíveis (não utilizar à noite). Avisar o
também efectuar-se antibioterapia prévia, mas doente que aos primeiros sintomas de boca
não representa uma indicação absoluta. Deve seca deve suspender a sua utilização.
ser utilizado o protocolo da AHA (Tabela 3). Os obturadores devem ser mantidos em per-
manência, pois a contracção dos tecidos
Dentisteria pode ocorrer em algumas horas.
Evitar restaurações a amálgama em doentes Evitar a utilização de adesivos protéticos, ex-
com indicação de RT da cabeça e pescoço. cepto em doentes com xerostomia.
Aconselhar uma boa higiene da prótese.
Periodontia
Lavar 2 vezes por dia com escova mole e
Tartarectomia e alisamento radicular estão in- mergulhar em solução de hipoclorito de
dicadas em todos os pacientes. sódio diluído a 1:25 ou em clorexidina du-
Dentes com bolsas periodontais de 4 a 6 mm rante 30 minutos após a lavagem.
devem ser extraídos. No caso da quimiotera- Sempre que possível devem ser construídos
pia isolada podem manter-se os dentes com aparelhos protectores revestidos com chum-
bolsas até 6 a 8 mm. bo para reduzir a morbilidade. Os tecidos ad-
jacentes devem ser protegidos das radiações
Dentes com grande perda óssea, mobilidade
dispersas por reflexão nas restaurações e
excessiva e com exsudado purulento e/ou he-
próteses fixas metálicas.
morrágico, devem ser extraídos.
21
[Tabela 5] Terapêutica de infecções bacterianas
ANTI-MICROBIANOS TÓPICOS
Bacitracina – 500 unid/gr – aplicar 2 a 3 x/dia
Neomicina – 500 unid/gr – aplicar 2 a 3 x/dia
ANTIBIÓTICOS SISTÉMICOS
Para infecções por gram +:
Vancomicina, 500 mg a 1.000 mg e.v. de 6/6 horas
Para infecções por gram - :
Ciprofloxacina, 250 a 750 mg p.o. de 12/12 horas ou 200 a 400 mg e.v. de 12/12 horas
(Em simultâneo com a ciclosporina aumenta o risco de nefrotoxicidade).
Trimetoprim/sulfametoxazole, 800 mg+160 mg p.o. ou e.v. de 12 em 12 horas
D.2.4 Tratamento
das infecções orais
Os doentes sujeitos a RT da cabeça e pes-
coço estão em risco de infecção por Candida
albicans e os doentes sujeitos a QT e trans-
plante da medula correm risco de infecções
recorrentes no período neutropénico. Os [Figura 7] Candídiase oral
quando existe doença periodontal. Estes da- clorito de sódio em 250 ml de água;
dos sugerem que a flora anaeróbia encontra 4. Aplicar na prótese um gel de miconazol
condições favoráveis para o seu desenvolvi- (Daktarin® gel oral) antes de voltar a in-
mento durante a imunodepressão. Os esta- troduzi-la na boca.
filococos são os mais frequentes gram+.
Virais
Fúngicas
As apresentações tópicas de antivirais não
Um em cada 2 ou 3 pacientes com tumores da estão indicadas nestes doentes uma vez que
cabeça e pescoço que sofreram RT ou RT as- a extensão da doença requer terapia sisté-
sociada a QT sofrem de Candidíase (Figura 7). mica (Tabela 7).
Tratar a candidíase oral de forma agressiva Para formas menos graves, aciclovir p.o.
impedindo a extensão ao tubo digestivo.
Também pode provocar sépsis por dissemi- Em formas mais severas, aciclovir e.v.
nação hematógenea. Outras formas com maior tolerância para o
O Fluconazol e o Clotrimazol são os mais uti- paciente, mas mais caros:
lizados. Evitar a solução de Nistatina pois
Famciclovir e Valaciclovir.
contém açúcar (Tabela 6).
Limpeza e desinfecção de próteses. Seguir o D.2.5 Controlo da mucosite
seguinte protocolo:
1. Escovagem e lavagem em água corrente; D.2.5.1 Introdução
2. Colocar a prótese durante 30 minutos por A mucosite é definida como uma inflamação e
dia em solução a 0.12% de Cloroexidina; ulceração da mucosa oral com formação de
3. Colocar a prótese durante 30 minutos por pseudomembrana, dolorosa e fonte potencial
dia em solução diluída de 10 ml de hipo- de infecções com risco de morte (Figura 8).
23
[Tabela 7] Antivirais
1 cap 5 x/dia, durante 7 dias
ACICLOVIR ZOVIRAX®, cap de 200 mg
Transplante de medula
É mais frequente nos transplantes alogéni-
cos e quando é necessária a utilização de me-
totrexato para prevenção da GVHD, a severi-
dade da mucosite será maior. Em média a
[Figura 8] Mucosite severa
mucosite tem o seu pico de intensidade entre
25
Não é, pois, de estranhar que a mucosite re- nibilidade de L-glutamina na mucosa torna-
presente para alguns doentes a pior expe- -se crítica quando esta foi lesada pela qui-
riência do seu tratamento oncológico. Estu- mioterapia e/ou radioterapia e ajuda a recu-
dos realizados em doentes submetidos a perar a função normal dos tecidos. Porém,
transplante de medula confirmam a muco- há recomendação expressa para a sua não
site como a mais frequente causa de dor, o utilização por via sistémica.
efeito colateral mais debilitante e a pior ex- A Palifermina (Kepivance®) é a única droga
periência de que o paciente se recorda. aprovada pela FDA para prevenção e trata-
No entanto, a maior causa de insucesso no mento da mucosite. A palifermina, é um factor
controlo da dor e do desconforto da muco- de crescimento que estimula o crescimento e o
site é simplesmente o tratamento insufi- desenvolvimento das células epiteliais que re-
ciente. Quer por responsabilidade do clínico vestem o aparelho gastrintestinal. É muito se-
– insuficiente conhecimento do controlo da melhante a um factor de crescimento natural
dor, avaliação incorrecta da dor, receio de que existe no organismo humano, denominado
prescrever drogas como os opiáceos com os factor de crescimento dos queratinócitos (KGF).
seus efeitos colaterais, quer do doente – re- No entanto, devido à limitada experiência e se-
lutância em relatar a dor, medo que a dor sig- gurança, a palifermina é recomendada apenas
em doentes sujeitos a transplantes de medula
nifique o falhanço da terapêutica, receio que
autolólogos com RT prévia. Deve ser usada
o médico lhe prescreva mais fármacos com
uma dosagem de 60 µg/Kg/dia durante três
efeitos acessórios desagradáveis.
dias antes do início dos tratamentos e por mais
três dias após o transplante.
D.2.5.2 Prevenção
A Crioterapia preventiva é a única medida tó- A Amifostina, um radioprotector, parece tam-
pica que comprovadamente reduz a incidên- bém benéfica na prevenção da mucosite por
cia e gravidade da mucosite quando são uti- RT mas, pode ser também radioprotectora
lizadas drogas quimioterapêuticas com semi- para as células tumorais. São necessários
vida curta. Os doentes são instruídos a man- mais estudos antes da possível recomenda-
terem na boca pedaços de gelo antes da ad- ção do seu uso.
ministração dos agentes quimioterapêuticos Outras drogas como a Velafermina (um fac-
até algumas horas depois. Múltiplos estudos tor de crescimento dos fibroblastos), e a N-
confirmam uma menor incidência, gravidade, -acetilcisteína, também se mostraram úteis
utilização de opióides e dias de internamen- em ensaios recentes, mas ainda sem com-
to nestes doentes. É mais eficaz na QT com provação inequívoca.
5-FU, edatrexato e melfalano.
A Clorexidina não deve ser utilizada na pre-
Estudos recentes confirmam que a suspen- venção da mucosite. É apenas útil quando o
são oral de glutamina (Saforis®) é útil na pre- controlo da placa bacteriana é deficiente.
venção da mucosite. A L-glutamina é o ami-
noácido mais abundante no plasma humano O Aciclovir não deve ser utilizado para a pre-
e tem várias funções benéficas no orga- venção da mucosite.
nismo, incluindo o fornecimento de energia Colutórios ou pastilhas com antibióticos ou
e regulação da síntese de proteínas. A dispo- antissépticos não devem ser utilizados.
27
h. Os medicamentos recomendados para o próximo nível, as estratégias utilizadas na
dor ligeira a moderada (paracetamol, etapa anterior devem ser continuadas - por
anti-inflamatórios não esteróides) têm li- exemplo, lavagens com colutórios e anesté-
mitações de dose para evitar a toxicidade; sicos tópicos utilizados para o manejo da
i. É essencial a avaliação regular da analge- dor leve da mucosite devem continuar,
sia e dos efeitos adversos das drogas mesmo depois do paciente iniciar opióides
analgésicas; (Figura 10).
j. Deve ser utilizada a escada analgésica da
OMS (Figura 9). Nível 1
Cuidados básicos de saúde oral
D.2.5.4 Abordagem por etapas
para controlo Higiene Oral
da dor por mucosite O doente deve manter uma higiene oral com-
Esta abordagem é baseada nos princípios da petente utilizando as técnicas referidas ante-
riormente.
crescente agressividade das estratégias de
manejo da dor e integra os princípios da on- O doente deve ser educado e motivado para
cologia oral, estomatologia e medicina in- manter a higiene oral mesmo após o início
terna. É importante realçar que, quando os dos sintomas e quando as manobras de hi-
cuidados ao doente são intensificados para giene forem desconfortáveis e até dolorosas.
Degrau 3
Dor intensa
Degrau 2
Dor moderada Opióide forte
Morfina
Degrau 1 Buprenorfina
Dor leve Opióide fraco
Codeína Fentanil, etc.
Não-opióides Tramadol
± não-opióides
AAS
± não-opióides ± adjuvantes
Paracetamol
AINEs ± adjuvantes
± adjuvantes
[Figura 10] Abordagem por etapas para controlo da dor por mucosite
29
[Tabela 8] Soluções para lavagens orais
Composição
Colutórios Vantagens Desvantagens
e instruções
Neutraliza ácidos
do vómito e refluxo
Bicarbonato de sódio Dilui a saliva espessa
Soluções dissolvido Nenhuma
neutras em água 2/2 horas Acalma a irritação
da mucosa
Limpeza de detritos
Colutórios com clorexidina devem ser pres- dos. A educação do doente e respectiva fa-
critos se o controlo da placa for deficiente. mília permite antecipar e agir precocemente
quando necessário.
Lavagens orais (Tabela 8) O instrumento mais utilizado na avaliação
Soluções suaves são úteis para humidificar a clínica da mucosite é a classificação da OMS
mucosa e reduzir a irritação e o desconforto. (Tabela 9) para o grau de severidade da mu-
Estudos recentes confirmam uma solução cosite.
salina a 0.9% como a melhor e mais barata.
A utilização de soluções com lidocaína, dife- Profilaxia
nidramina, antiácidos e nistatina, não mos- das infecções orais
trou resultados mais eficazes.
Na mucosite induzida pela QT suspeitar
Devem ser evitadas soluções contendo álcool sempre de infecções pela Cândida e pelo
e essências como a menta e o limão, devido HSV. As formas de apresentação podem ser
ao factor irritativo destas substâncias. pouco comuns e levar à necessidade de rea-
Soluções de Sucralfate não devem ser usa- lizar esfregaços e culturas.
das na mucosite induzida por radiação. Na mucosite por radiação, a reactivação do
HSV não é significativa.
A Clorexidina não deve ser utilizada para la-
vagens orais na mucosite induzida pela QT. A identificação precoce e tratamento das in-
fecções diminuem a severidade da mucosite e
Lubrificação dos lábios ajudam a controlar a dor (ver capítulo D.2.4).
É recomendada a utilização precoce de cre-
mes com linóleo para humidificação e lubri- Níveis 2 a 4
ficação dos lábios. Dor moderada a severa
Avaliação da Mucosite Controlo tópico da dor
Deve ser feita precocemente após o início da
Lavagens orais
terapêutica oncológica e repetida regular-
mente, por uma equipa multidisciplinar. Os A frequência dos bochechos deve ser au-
factores de risco presentes devem ser avalia- mentada quando o desconforto aumenta.
31
[Tabela 10] Anestésicos tópicos e outros
- Podem ser utilizados simultaneamente - Embora sejam baratos e não produzam to-
(1 hora de diferença entre aplicações) lerância ou dependência, a sua toxicidade
anestésicos verdadeiros e outros colutó- limita bastante o seu uso. A disfunção pla-
rios com efeito anti-inflamatório como o quetária (importante nestes pacientes
Diclofenac (Diclodent®) e a Benzidamina com trombocitopenia) a toxicidade renal
(Tantun Verde®). e hepática, interacções com varfarina, me-
trotexato, ciclosporina, digitálicos e anti-
Protectores da mucosa -diabéticos orais são desvantagens impor-
Ensaios clínicos identificaram produtos po- tantes.
tencialmente benéficos:
Opióides (Tabela 12 e 13)
- Gel Clair® (aprovado pela FDA mas com
eficácia discutível); - São decisivos para o controle da dor mo-
- Geles de Hidroxipropilcelulose (Tabela 20). derada a severa da mucosite proporcio-
nando longos períodos de analgesia;
Dieta
- As doses requeridas variam muito de pa-
- Dieta líquida e pastosa à temperatura am-
ciente para paciente, pelo que é aconse-
biente, de sabor suave e livre de alimentos
lhável iniciar com uma dose baixa e titular
ácidos ou condimentos;
subsequentemente as doses pela analge-
- Batidos de fruta não-ácida, arroz, massas, sia e pelos efeitos colaterais;
purés, leite, ovos e legumes cozidos são
alimentos adequados; - Começar com opióides de libertação nor-
mal até ao controlo da dor e passar depois
- Abstinência de álcool e tabaco.
aos de libertação prolongada;
Controlo farmacológico - Prevenir precocemente os efeitos colate-
da dor rais (náuseas e obstipação);
Ao iniciar analgésicos sistémicos não deve- - Deve ser prescrito um tipo de opióide de
mos suspender todas as outras estratégias cada vez, excepto com os transdérmicos.
33
[Tabela 12] Fármacos usados no tratamento da dor (10 e 20 Grau da Escada da Oms)
Princípio activo Dose Apresentações Observações
Comp. 500 mg e 1 g
Paracetamol 1 g de 8/8 h Comp. Eferv. 1 g
ou 6/6 h Xarope 200 mg /5 ml
(Ben-u-ron®,
Dose máx. Supositórios de 125, 250,
Panadol®) – 4 g/dia 500 e 1.000 mg
amploas e.v. De uso hospitalar
8/8 h ou 6/6 h Comp. de 30 mg
Paracetamol Dose máx.: 8 comp de codeína + 500 mg
Prevenir obstipação
+ Codeína ou 4 sup./dia de paracetamol
e náuseas
(Dol-u-ron forte®) 240 mg de codeína Sup. de 60 mg de Codeína
+ 4 g de paracetamol e 1 g de paracetamol
50, 100 mg cáps LN
50 mg comp. 50 mg de tramadol
orodispersíveis oral = a 10 mg
Gotas orais 100 mg/ml de morfina oral
25-100 mg Sist. Doseador 100 mg de tramadol
Tramadol 8/8 ou 6/6 (1 bomb=12.5 mg) = a 10 mg de morfina SC
(Tramal® Travex®) Dose max. Susp. 100 mg
400 mg/dia Ampolas 100 mg/2 ml
50, 100, 150, 200 mg
cáps. LP 12/12 h
150, 200, 300, 400 mg
cáps. LP 24h/24h
Paracetamol
Dose máx. 2 cp de 325 mg de paracetamol
+ Tramadol
6/6 h + 37,5 mg de tramadol
(Zaldiar®)
Avaliar diariamente até ao controlo da dor os diária e pode ser repetida hora a hora até ao
seguintes parâmetros: alívio da dor. Ao contrário do tramadol que
tem dose máxima diária de 400 mg, a morfina
- Dose total diária;
não tem dose limite, dependendo da tolerân-
- Efeitos colaterais; cia individual aos efeitos acessórios. A titula-
- Característica e intensidade da dor (atra- ção é feita aumentando a dose em 25% a 50%
vés de uma escala da dor) (Figura 11). cada 48 h, se o doente necessitar de mais 2 ou
3 doses de resgate por dia.
Se o doente estava a fazer anteriormente um
Se for necessário alterar o opióide ou a sua
analgésico não-opióide poderá começar com
via de administração deve ter-se em consi-
tramadol de libertação normal 25 mg de 6/6 h
deração a equianalgesia das doses (Tabela
(solução oral, 10 gotas) mas, para um rápido
14) e os factores de conversão (Tabela 15)
controlo da dor recomenda-se a morfina com
todavia, as doses devem ser ajustadas in-
4 horas de semi-vida (5 mg de 4/4 h). A dose
dividualmente.
de resgate, (SOS) deverá ser um sexto da dose
35
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0 2 4 6 8 10
Sem dor Pior dor
possível
Fármacos
de para Regra
Codeína oral Morfina oral Dividir por 10
Tramadol oral Morfina oral Dividir por 5
Tramadol e.v. Morfina e.v. Dividir por 10
Tramadol Oral Buprenorfina TD Dividir por 5
Morfina Oral Morfina SC Dividir por 2
Morfina Oral Morfina e.v. Dividir por 3
Morfina Oral Fentanil TD Dividir por 3
Dose de resgate de morfina oral Dividir dose de Fentanil
em doentes a fazer Fentonil TD (µg/h) por 2
37
que a curativa, mas em alguns casos registam- Para o diagnóstico diferencial com patologia
se a cura das lesões e o alívio da dor. A aplica- pulpar é fundamental uma história clínica
ção do laser de baixa intensidade é uma téc- completa e exame objectivo cuidadoso. São
nica não-invasiva, que parece efectivamente geralmente necessárias radiografias e testes
promover a redução da severidade da muco- de vitalidade pulpar.
site. Requer aparelhagem própria e treino téc- O tratamento é sintomático para controlo da
nico. Mais estudos são necessários para defi- dor. As drogas mais utilizadas são a Carba-
nir os parâmetros ideais do laser, tais como o mazepina (dose diária inicial de 200 mg. e ti-
comprimento de onda, energia e horário de tular com aumentos de 200 mg/dia, em cada
aplicação, mas sempre que disponível pode semana até à dose máxima de 1.200 mg) e a
ser aplicado pois não tem contra-indicações Gabapentina (dose diária inicial de 300 mg
quando não atinge a área tumoral. dividida em 2 ou 3 administrações e titular
com aumentos de 300 mg cada 24 horas. A
D.2.6 Neurotoxicidade dose efectiva varia entre os 900 e os 1.800
mg/dia e a dose máxima é de 2.400 mg/dia).
Alguns agentes quimioterapêuticos, sobretudo Pode haver necessidade de recorrer aos
os alcalóides da vinca, (vincristina e vinblas- opióides em alguns casos.
tina), podem causar neurotoxicidade periférica.
Quando envolve nervos orais causa descon- Os sintomas são habitualmente reversíveis e
forto e dor semelhante à pulpite, atingindo desaparecem com a suspensão ou diminui-
mais frequentemente os molares inferiores. ção da dose da QT.
39
2. Os agentes cáusticos devem ser evitados; D.3.8 Cirurgia oral
3. Os acessos nunca devem ficar abertos.
Se houver necessidade de efectuar alguma
As restaurações provisórias devem ser
cuidadosamente efectuadas; exodontia ou outra manobra invasiva:
Hipercalcemia
Fármacos anticolinérgicos
Anti-histamínicos
Anti-parkinsónicos
Alcalóides da beladona
Anti-depressivos tricíclicos
Opióides
Diuréticos
Respiração oral
Outras patologias como diabetes (mellitus e insípida),
hipotiroidismo, doenças auto-imunes, depressão
Hábitos tabágicos
Desidratação
41
acima referidos e, sob o consentimento infor- Aderir a um programa de fluorização (ver ca-
mado do paciente em relação à real possibili- pítulo D.1.3).
dade de vir a ocorrer uma osteonecrose.
Comparecer a consultas frequentes, pelo
menos todos os 3 meses, durante o primeiro
D.3.9 Controlo da xerostomia ano.
As glândulas salivares major produzem apro-
Procurar/Eliminar
ximadamente 1 litro de saliva por dia com
uma média de fluxo não-estimulado de 0.4
outras causas
ml/minuto e estimulado de 2.0 ml.
concorrentes (tabela 17)
Os valores comummente aceites para os li- Quantificar a xerostomia
mites inferiores da função salivar normal são (Tabela 18)
0,1-0,2 ml/minuto, de fluxo não-estimulado e
0,7 ml de fluxo estimulado, embora a defini- Controle dos sintomas
ção do volume salivar adequado para evitar
doença oral/dentária e manter o conforto Controle tópico
não esteja claramente definida. Pastilhas elásticas sem açúcar e contendo xi-
litol são seguras e eficazes para estimular a
Educação do doente produção salivar (Tabela 19).
O doente deve ter conhecimento da repercus-
Na tabela 19 podemos consultar alguns pro-
são que tem a diminuição do fluxo salivar na
dutos comerciais vendidos em Portugal.
sua saúde oral e que, sem a sua cooperação,
as complicações não podem ser controladas. Outro método para aumentar a humidifica-
As funções salivares protectoras que o doente ção da cavidade oral é a aplicação tópica de
perdeu devem ser detalhadamente explicadas. substitutos da saliva (baseiam-se em Car-
Os conselhos dietéticos são extremamente boximetilcelulose, mucinas naturais e enzi-
importantes, uma vez que a diminuição do mas, humedecendo e lubrificando a mucosa
fluxo salivar aumenta o efeito cariogénico de de forma mais duradora) ou humidificado-
alimentos ricos em hidratos de carbono. res/protectores da mucosa. Produtos com
pH <5.5 não são recomendados. Na Tabela
Líquidos ricos em açúcar como Ice tea, refri-
20 podemos consultar alguns produtos co-
gerantes e sumos devem ser evitados para
merciais.
humidificar a boca. Aconselhar a utilização
de água ou produtos indicados para o efeito Soluções simples como bicarbonato e soro
(Tabela 19 e 20). fisiológico podem ser utilizadas como colu-
Evitar colutórios com pH ácido e pastilhas e tório. Evitar colutórios com álcool. Soluções
rebuçados com açúcar para estimular a pro- contendo limão ou vit. C. não devem ser uti-
dução de saliva. lizadas por períodos longos de tempo.
Reforçar a higiene oral. Utilizar pastas dentífri- Hidratar o paciente (aconselhar a ingestão
cas fluoretadas pelo menos duas vezes por dia. de 2 litros de água por dia).
43
[Tabela 21] Pilocarpina
não ingerir alimentos nem escovar os dentes ser obstruídos facilitando o aparecimento de
nas 4 horas seguintes após sair do gabinete. sialoadenites bacterianas. O tratamento re-
A aplicação tópica de flúor utilizando goteiras comendado consiste na estimulação do fluxo
está indicada em casos de xerostomia severa. salivar, massagens glandulares e antibiotera-
Utilizar gel com 1,1% de fluoreto de sódio. pia sistémica. Amoxicilina,(Cipamox®) 500
Aplicar 1 a 2x/dia durante 5 a 10 minutos. mg a 1.000 mg de 8/8 horas durante 10 dias
Não bochechar ou ingerir alimentos durante ou Clindamicina,(Dalacin®) 300 mg de 6/6
os 30 minutos seguintes. horas também durante 10 dias.
45
[Tabela 22] Classificação da osteorradionecrose
Ulceração superficial e osso cortical exposto
Estádio 1
Maior atingimento dos tecidos moles e exposição
Estádio 2
de osso medular. Pode haver presença de sequestros
Presença de fístula cutânea, fractura patológica,
Estádio 3 reabsorção do rebordo inferior da mandíbula
ou deiscência de sutura de cirurgia anterior
47
Factores de risco A via de administração é relevante. 94% dos
casos de osteonecrose ocorre em pacientes
A composição da molécula de BFF é o factor
medicados por via endovenosa.
mais relevante. Cinco moléculas, todas elas
aminobifosfonatos, têm sido relacionadas Cerca de 60% dos casos aparecem secunda-
com a osteonecrose: o zoledronato, o pami- riamente a actos cirúrgicos como exodontias,
dronato, o ibandronato, o alendronato e o ri- cirurgia periodontal, colocação de implantes
sédronato (Tabela 22) O Zoledronato é o BFF ou outros actos invasivos na cavidade oral.
mais frequentemente responsável pelas os- Mesmo de entre os casos espontâneos, MAX
teonecroses (um estudo da Fundação Inter- e col. referem que 39% surgem em exosto-
nacional do Mieloma responsabiliza-o por ses ou relevos ósseos cobertos por uma mu-
74% das osteonecroses). O segundo res- cosa fina facilmente traumatizável, tal como
ponsável é o Pamidronato. Estas diferenças a crista milo-hióideia. A Tabela 25 resume os
têm a ver com a potência da molécula e sua principais factores de risco.
biodisponibilidade no osso. (Tabela 24). O
Pamidronato é dez vezes menos potente que Recomendações para
o Alendronato, mas a sua maior biodisponi- prevenção e tratamento
bilidade (45-80% vs. 0.64%) faz com que seja da Osteonecrose associada
responsável por mais casos. aos BFF
A dose acumulada que representa a dose As correntes recomendações terapêuticas são
total do fármaco administrada antes do início limitadas ao consenso e opiniões de especia-
da osteonecrose é outro factor importante, listas, mas o estomatologista/médico dentista
apesar de não reflectir a quantidade fixada ao assistente, conhecedor da história médica do
osso. Esta quantidade, ou dose absorvida, paciente e da sua vulnerabilidade para doen-
corresponde à dose acumulada corrigida pela ças orais, está na melhor posição para tomar
taxa de biodisponibilidade. as decisões terapêuticas apropriadas.
Os doentes podem ser incluídos em 3 grupos: As recomendações para cada grupo são as
seguintes:
GRUPO I - Pacientes que vão iniciar trata-
mento com BFF;
GRUPO I
GRUPO II - Pacientes que já iniciaram BFF
- Avaliação da saúde oral;
mas que não apresentam osteonecrose;
- Informação e educação do paciente. Este
GRUPO III - Pacientes com osteonecrose. deve saber que a osteonecrose pode ocorrer
49
espontaneamente, na sequência de uma 1. Nos doentes a fazer BFF por via e.v.:
doença dentária ou periodontal, ou secun-
dariamente a um procedimento cirúrgico. - Os implantes estão contra-indicados;
Deve ser instruído a recorrer ao seu médico - Evitar exodontias e outros actos cirúrgicos
assistente logo que algum problema surja orais se já decorrem mais de 3 meses de
na cavidade oral; medicação;
- Instituição de uma boa higiene oral; - Caso seja absolutamente imprescindível,
- Identificar possíveis factores de risco e eli- as extracções devem ser realizadas com o
miná-los; menor trauma possível. Recorrer se ne-
- Eliminar focos sépticos e possíveis causas cessário ao retalho, alveoloplastia e sutura
de traumas orais segundo as guidelines sob mínima tensão para obter um encer-
descritas no capítulo referente às consul- ramento primário da ferida operatória;
tas pré-terapia oncológica; - Nenhuma diferença foi encontrada entre os
- Proceder aos actos cirúrgicos necessários pacientes que continuaram ou interrompe-
para uma reabilitação oral posterior, como ram a terapia endovenosa com BFF, possi-
por exemplo, colocação de implantes ou velmente devido à sua longa semi-vida, que
cirurgia pré-protética; pode chegar aos 10 anos, pelo que não há
- Não há necessidade de atrasar o início do vantagens em requerer a suspensão dos BFF;
tratamento com BFF se for possível con- - É importante obter o consentimento infor-
cluir os tratamentos invasivos e sua cica- mado, por escrito do paciente ou família;
trização nos primeiros 3 meses de tera-
- É obrigatória a profilaxia ATB antes de
pêutica com BFF.
qualquer procedimento cirúrgico, utili-
GRUPO II zando o protocolo da AHA;
- Por um período menor que 3 anos, mas uma cicatrização adequada, prosseguir
com a prescrição simultânea de corticói- com o plano de tratamento.
des, deve ser solicitada a suspensão dos
Foi recentemente proposta uma análise la-
BFF por um período de 4 a 6 meses e rei-
boratorial que avalia o risco de osteonecrose
niciar apenas quando terminar a cicatriza-
pós-exodontias ou outros actos cirúrgicos
ção após o procedimento cirúrgico ou os-
orais, o CTX sérico. Trata-se de um fragmento
teointegração do implante;
proteico resultante da clivagem do colagénio
- Por um período superior a 3 anos, deve ser tipo I durante a reabsorção óssea. Os seus
equacionada a suspensão dos BFF por um níveis séricos acompanham o turnover ósseo
período de 4 a 6 meses e reiniciar apenas e é mais uma ferramenta para o controlo des-
quando terminar a cicatrização; tes doentes. Assim:
- É recomendada a aplicação bi-diária de - Se CTX <100 pg/ml – alto risco de osteo-
Clorohexidina durante 2 meses após o necrose;
acto cirúrgico.
- Se CTX de 100 a 150 pg/ml – risco mode-
- Tipicamente, a osteonecrose ocorre nos rado;
primeiros 2 meses após o procedimento
- Se CTX >150 pg/ml – risco mínimo.
cirúrgico, pelo que, havendo necessi-
dade de actuar em mais de um qua-
GRUPO III
drante se deve proceder faseadamente.
Actuar num quadrante, aguardar a evo- As recomendações dependem do estádio
lução durante 2 meses e caso ocorra da doença (Tabela 26).
51
[Tabela 26]
Estádio Tratamento
53
[Figura 15] GVHD crónica [Figura 16]
Hiperplasia gengival por ciclosporina
55
de aço (0.24) ou ao osso alveolar remanes- neurologicamente afectado não ocorre o en-
cente, na ausência destes. cerramento palato-faríngeo com repercus-
sões na fala (nasalada) e na deglutição. Este
Obturador provisório obturador não deve interferir na respiração,
Substitui o obturador cirúrgico, pode possuir comprimir os tecidos durante os movimen-
ganchos em aço para retenção nos dentes, tos posturais ou interferir com o movimento
pode ter dentes de prótese e apoio para o da língua. Deve estender-se posteriormente
lábio e bochecha. Assim, ao facilitar a masti- de modo que permita passar o ar durante a
gação, melhorar a estética e a voz, prevenir a respiração e de modo a que as paredes da fa-
passagem dos alimentos para as fossas na- ringe, ao contrair as suas paredes laterais e
sais, aumenta a qualidade de vida e auto-es- posterior, durante a deglutição e a produção
tima do doente. Pode ser aproveitada uma de sons, entrem em contacto com o obtura-
prótese removível prévia para fabricar o ob- dor e encerrem a abertura palato-faríngea. É
turador provisório. A base deve ser feita com um trabalho difícil, mesmo para um prosto-
base mole e ajustada periodicamente du- dontista experiente. As moldagens devem ser
rante o período de cicatrização e organização feitas com moldeiras extendidas posterior-
do defeito. mente com cera e após 10 dias da cirurgia.
Uma telerradiografia de perfil, ou mesmo
Obturador definitivo uma cinefluoroscopia com ingestão de bário
podem ajudar a determinar a extensão ideal
Quando o defeito cicatriza e é dimensional- do obturador.
mente estável (normalmente 3 a 4 meses
após a cirurgia), uma prótese obturadora de- Prótese para aumento do palato
finitiva é construída. Se, no entanto, o pa-
ciente receber radioterapia pós-operatória, É útil após glossectomias parciais ou em si-
este período de cicatrização pode prolongar- tuações com limitações do movimento da
se até aos 6 meses. O obturador definitivo língua. Quando o remanescente dorso da lín-
deve estender-se o máximo possível ao longo gua (ou a sua reconstrução com retalho) não
das paredes laterais do defeito para melhor consegue entrar em contacto com o palato
estabilização e restaurar as funções de de- (junção dos palatos duro e mole), durante a
glutição e fala no limite máximo. O doente deglutição ou na produção de sons (con-
deve recorrer periodicamente ao clínico para soantes), o aumento deste pode favorecer
despiste de alguma recorrência, possíveis esse contacto.
ajustamentos e vigilância do cumprimento
das normas de higiene, quer do obturador
Defeitos mandibulares
quer da área do defeito. Tumores da mandíbula e pavimento da boca
levam frequentemente a mandibulectomias
Obturador do véu do palato parciais, com ou sem glossectomias. Daí re-
Defeitos no véu do palato podem requerer sulta:
também uma intervenção protética. Quando - Dificuldade na articulação verbal;
o véu do palato foi excisado, perfurado ou - Dificuldade na mastigação e deglutição;
57
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Paulo Palmela
Assistente graduado de Estomatologia
do Serviço de Estomatologia do Hospital de Santa Maria
Director: Prof. Doutor Francisco Salvado
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