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ISSN: 2595-6825
RESUMO
Introdução: A participação da Odontologia na equipe interdisciplinar oncológica é fundamental,
visto que a cavidade oral é um dos sítios mais acometidos pela toxicidade da terapia
antineoplásica, como a mucosite oral. A Laserterapia de baixa potência (LBP) é indispensável
para pacientes com Mucosite Oral, entretanto, inúmeras vezes não é realizado pela
impossibilidade de o paciente custear este tratamento. A saúde suplementar engloba os
planos/seguros de saúde e atualmente a LBP consta no rol de procedimentos da Agência
Nacional de Saúde (ANS) e por este motivo deve ser contemplada, mas algumas diretrizes
devem ser seguidas. Objetivo: Avaliar o perfil do suporte odontológico realizado em uma
clínica oncológica privada e discutir as normativas da ANS referentes a Laserterapia para
auxiliar aos médicos e cirurgióes-dentistas (CD) quanto à cobertura da saúde suplementar.
Método: Foi realizado um estudo retrospectivo descritivo com dados obtidos de prontuários
digitais de pacientes que estavam sob quimioterapia e/ou radioterapia, com atendimentos a
pacientes particulares e/ou que possuem convênio médico, para atendimento odontológico e de
laserterapia. Resultado: Foram selecionados 61 prontuários de pacientes, destes somente um
paciente foi beneficiado com a cobertura do convênio e/ou reembolso, além de 13 (21,31%)
optarem por não realizar o tratamento com LBP devido a impossibilidade de assumir os custos
desse tratamento. Conclusão: Conclui-se que a presença do CD na equipe Interdisciplinar, além
de melhorar a qualidade de vida dos pacientes oncológicos precisa da interação com equipe
médica e administrativa para conhecer as normativas da ANS e usá-las para suporte aos
pacientes.
ABSTRACT
Introduction: The participation of dentistry in the oncologic interdisciplinary team is essential,
since the oral cavity is one of the sites most affected by the toxicity of antineoplastic therapy,
such as oral mucositis. Low-power laser therapy (LLLT) is indispensable for patients with oral
mucositis; however, this treatment is often not performed due to the patient's inability to pay
for it. The supplementary health system includes health insurance plans and currently the LLLT
is included in the list of procedures of the National Health Agency (ANS) and for this reason it
should be contemplated, but some guidelines must be followed. Objective: To evaluate the
profile of dental support performed in a private oncology clinic and to discuss the ANS norms
related to Laser Therapy to help physicians and dentists (DC) regarding the supplementary
health coverage. Method: A retrospective descriptive study was performed with data obtained
from digital medical records of patients who were under chemotherapy and/or radiotherapy,
with private patients and/or those with medical insurance, for dental care and laser therapy.
Results: Sixty-one patient records were selected, of which only one patient benefited from
health insurance coverage and/or reimbursement, and 13 (21.31%) chose not to undergo
treatment with LLLT because of their inability to bear the costs of this treatment. Conclusion:
We conclude that the presence of the DC in the Interdisciplinary team, in addition to improving
the quality of life of cancer patients needs the interaction with the medical and administrative
team to know the norms of the ANS and use them to support the patients.
1 INTRODUÇÃO
Segundo a última estimativa (2020-2022) do Instituto Nacional de Câncer (INCA), no
Brasil ocorrerão 450 mil novos casos de câncer por ano, não incluindo os casos de câncer de
pele não melanoma.¹ O câncer ocupa a segunda posição das causas de mortes no mundo e a
quarta posição das causas de mortes prematuras, representando um grande obstáculo para o
aumento da expectativa de vida no mundo do século XXI 1,2,3.
O câncer é caracterizado por ser uma doença grave sendo que as principais modalidades
terapêuticas se baseiam em cirurgia, quimioterapia e radioterapia e dependem do tipo de tumor,
sua localização e malignidade. Estes tratamentos oncológicos podem causar danos a cavidade
oral, como disgeusia, mucosite oral (MO), hipossalivação decorrente de danos às glândulas
salivares, além de alterar a estrutura dos dentes e ossos.1,4,5
A presença do cirurgião dentista na equipe interdisciplinar do tratamento oncológico
desempenha um papel importante de orientação e prevenção de complicações orais em
pacientes sob quimioterapia, imunoterapia e/ou radioterapia através da adequação bucal
previamente ao início do tratamento oncológico, durante o tratamento com a Laserterapia de
baixa potência (LBP), quando indicada, monitorização das complicações e alivio dos sintomas
orais e no pós-tratamento para o acompanhamento das sequelas transitórias ou permanentes,
decorrentes do tratamento oncológico, sendo de responsabilidade dos oncologistas responsáveis
por esses pacientes, oferecer um serviço integral aos seus pacientes, com o objetivo de
minimizar os efeitos deletérios, bem como melhorar a qualidade de vida.6,7,8
As diretrizes da Multinational Association of Supportive Care in Cancer/International
Society of Oral Oncology (MASCC/ISOO) refletem como a LBP atua de forma substancial e
positiva na incidência e gravidade da MO tornando-se dessa maneira imprescindível nos casos
dos pacientes oncológicos submetidos a radioterapia na região de cabeça e pescoço e/ou sob
quimioterapia (alguns quimioterápicos específicos).9,10
A saúde suplementar é caracterizada por serviços e ações prestados de forma privada
por meio de planos de saúde. Refere-se a prestação de serviço exclusivamente na esfera
privada.11Atualmente a LBP faz parte dos procedimentos cadastrados no rol da Agência
Nacional de Saúde (ANS) e por este motivo deve ser coberta pelos planos de saúde para
pacientes de câncer cabeça e pescoço além dos diagnósticos de câncer hematopoiéticos.12
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi discutir as normativas atuais da ANS referentes
a Laserterapia de baixa potência para esclarecer ao cirurgião dentista como orientar os pacientes
oncológicos e proceder frente a saúde suplementar bem como avaliar retrospectivamente o
perfil do suporte odontológico realizado nesses pacientes em uma Clínica Oncológica de saúde
suplementar.
2 MÉTODOS
Foi realizado um estudo retrospectivo descritivo com dados obtidos de prontuários
digitais de pacientes que estavam sob TTO (quimioterapia e/ou radioterapia) pertencentes a
uma clínica especializada com atendimentos a pacientes particulares e/ou que possuem
convênio médico. Esta pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética e Pesquisa em Seres
Humanos seguindo a Declaração de Helsinque (CAAE 59646522.2.000.5475). Todos os
pacientes incluídos neste estudo realizaram avaliação odontológica previamente ou durante o
tratamento oncológico, no período entre os anos de 2019 e 2020. Os dados demográficos
coletados foram sexo, idade, tipos de comorbidades, hábitos ou vícios, condição bucal, doença
de base, tratamento oncológico (protocolos e número de sessões de quimioterapia, números de
sessões de radioterapia e dose de radiação total (cGy), medicamentos em uso (dor, inflamação,
infecções oportunistas) e acompanhamento com LBP realizados pelo paciente.
A MO foi classificada de acordo com a escala da Organização Mundial de Saúde
(OMS13) e foram coletados dados sobre os tratamentos realizados para MO, número de sessões
de LBP e medicamentos prescritos.
Foi coletada a informação sobre o tipo de atendimento realizado, ou seja, se o paciente
foi atendido de maneira particular e custeou o tratamento para MO ou se o tratamento foi
coberto pelo plano de saúde a qual o paciente fazia parte.
3 RESULTADOS
Realizou-se uma busca no prontuário eletrônico de uma Clínica de Oncologia privada
onde foram selecionados para amostra final 61 prontuários de pacientes que receberam
avaliação e/ou tratamento odontológico após solicitação do médico responsável pelo paciente.
Os dados coletados referentes a amostra final encontram-se nas tabelas 1,2 e 3. As
informações sobre Grau de MO (A), Sessões de LBP(B) e a relação dos principais
medicamentos prescritos para o tratamento oncológico encontram-se nos gráficos 1 (A e B) e 2
respectivamente.
Tabela 1: Distribuição das variáveis sociodemográficas dos pacientes (sexo, idade, comorbidades tabagismo,
etilismo e condição oral:
Dados Pacientes
Masculino: 22 (36,07%)
Sexo
Feminino: 39 (63,93%)
Mínima: 29
Máxima: 89
Idade (anos)
Média: 59,63
Mediana: 59
Hipertensão: 19 (31,15%)
Diabetes: 9 (14,76%)
Comorbidades
Depressão: 8 (13,11%)
Dislipidemia: 3 (4,91%)
Tabagismo: 14 (22,96%)
Hábitos/Vícios
Etilismo: 40 (65,57%)
Candidíase: 17 (27,87%)
Condição oral
Prótese dentária: 11 (18,03%)
Tabela 2: Distribuição de acordo com doença de base e tratamentos oncológicos preconizados e manifestação da
Mucosite Oral:
também desenvolveram algum grau de MO. No gráfico 2 (A) estão relacionados os graus de
MO apresentados pelos pacientes e 2 (B) o número de sessões de LBP realizadas.
Gráfico 1: Gravidade da Mucosite Oral desenvolvida pelos pacientes e Quantidade de sessões de Laserterapia
realizadas.
Gráfico 2:Relação dos principais medicamentos prescritos para o tratamento oncológico para amostra final:
4 DISCUSSÃO
Os cirurgiões dentistas capacitados no atendimento para pacientes oncológicos devem
fazer parte da Equipe Interdisciplinar de Oncologia contribuindo para a prevenção e tratamento
das complicações orais e melhora da qualidade de vida desses pacientes.10,14,15
Os dados levantados neste estudo corroboram com perfil dos pacientes oncológicos
encontrados na literatura, bem como tipo de tratamentos oncológicos mais frequentes1,5,9e
manifestações das complicações orais associadas a toxicidade do quimioterápico e/ou da
radiação ionizante16,17.
Dentre as intervenções não farmacológicas voltadas para prevenção e tratamento da
MO, a aplicação da LBP apresenta vasta evidências clínicas e laboratoriais que comprovaram
a sua eficácia através da utilização do uso terapêutico do laser, com uma técnica simples,
atraumática e com objetivo de reduzir a incidência e duração da MO além do manejo dos fatores
associados à dor intensa que acomete esses pacientes.10,14,15,18.
5 A SAÚDE SUPLEMENTAR
A saúde suplementar envolve o ramo da atividade que inclui as operadoras de planos e
os seguros privados de assistência médica à saúde, é regularizada e fiscalizada pela ANS,
composta por operadoras, profissionais e beneficiários, sendo que essas ações e serviços não
estão vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). A saúde no Brasil tem um sistema
suplementar com os maiores sistemas privados do mundo, o que não invalida o direito dos
brasileiros serem atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)11. Em julho 2020 o SUS
acrescentou a LBP no rol de procedimentos para tratamento de lesões da mucosa bucal (tabela
3), porém ainda não apresenta um sistema de repasse de LBP para as instituições que realizam
esse procedimento19.
referentes as sessões de LBP custeados pelo paciente, bem como um relatório minucioso sobre
o tratamento oncológico que o paciente realizou, as manifestações orais que justifiquem a
indicação da LBP, relatando o grau de MO apresentada pelo paciente, a intensidade de dor (por
exemplo através da Escala Visual Analógica23) e as complicações decorrentes da MO, como
por exemplo, perda ponderal, prescrição de opióides e necessidade de suporte hospitalar através
de hidratação venosa ou mesmo internação hospitalar nos casos mais graves.6,7,8
O controle do quadro de MO também é de interesse dos planos e seguros de saúde visto
que quanto menor for a gravidade da MO, menor serão os gastos dos planos e seguros com o
beneficiário em questão, evitando necessidade de internação hospitalar, alimentação via sonda
nasoenteral e interrupção do tratamento, o que irá interferir diretamente na sobrevida e
qualidade de vida do paciente.24,25,26Torna-se essencial a divulgação em grande escala aos
colegas cirurgiões dentistas sobre como intervir junto ao plano/seguro de saúde para favorecer
o paciente, gerando menos complicações, sofrimento adicional e custos para todas as partes
envolvidas, além de proporcionar alívio ao sofrimento durante o período do tratamento do
câncer e melhorar a qualidade de vida.
6 CONCLUSÃO
A presença do cirurgião-dentista na equipe Interdisciplinar é essencial para reduzir as
complicações orais decorrentes dos tratamentos oncológicos bem como melhorar a qualidade
de vida desses pacientes. Torna-se primordial ao cirurgião-dentista o conhecimento das
normativas da ANS para orientação e suporte aos pacientes que se beneficiam da saúde
suplementar.
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