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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINORTE

CURSO DE BACHARELADO EM ODONTOLOGIA

O MANEJO DE PACIENTES PORTADORES DE LÚPUS ERITEMATOSO


SISTÊMICO PELO CIRURGIÃO DENTISTA

Rio Branco – Acre


2020
JONAS MOURÃO DE CASTRO
LAURETTE FERREIRA DE PAIVA
MARIA JOSÉ SILVA DO NASCIMENTO

O MANEJO DE PACIENTES PORTADORES DE LÚPUS ERITEMATOSO


SISTÊMICO PELO CIRURGIÃO-DENTISTA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro Universitário
Uninorte, como requisito para obtenção
do título de Bacharel em Odontologia.

Orientador: Prof. Esp. Alexandre da


Costa Borro

Rio Branco – Acre


2020
JONAS MOURÃO DE CASTRO
LAURETTE FERREIRA DE PAIVA
MARIA JOSÉ SILVA DO NASCIMENTO

O MANEJO DE PACIENTES PORTADORES DE LÚPUS ERITEMATOSO


SISTÊMICO PELO CIRURGIÃO-DENTISTA

Trabalho de Conclusão de Graduação em Odontologia para a obtenção do


título de Bacharel em Odontologia pela Centro Universitário Uninorte.

Banca Examinadora

______________________________

Prof. (Título do Prof) XXXXXX

ORIENTADOR

______________________________

Prof. (Título do Prof) XXXXXX

MEMBRO

______________________________

Prof. (Título do Prof) XXXXXX

MEMBRO

______________________________

Prof. (Título do Prof) XXXXXX

MEMBRO

Conceito: Aprovado (somente na versão após a banca)

Rio Branco, xx de xxxxxxx de xxxx.


O MANEJO DE PACIENTES PORTADORES DE LÚPUS ERITEMATOSO
SISTÊMICO PELO CIRURGIÃO-DENTISTA

THE MANAGEMENT OF PATIENTS WITH SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS


BY THE DENTAL SURGEON

Jonas Mourão de Castro¹*, Laurette Ferreira de Paiva¹, Maria José Silva do


Nascimento¹, Alexandre da Costa Borro²

1. Acadêmicos do curso de Odontologia. Centro Universitário Uninorte, AC, Brasil.


2. Docente do curso de Odontologia. Centro Universitário Uninorte, AC, Brasil.
Autor correspondente: mouraojonas@gmail.com

RESUMO
Introdução: O Lúpus Eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica
auto imune, sua etiologia é pouco conhecida porém, alguns fatores podem está
relacionados com o surgimento da doença: fatores genéticos, hormonais, imunológicos
e ambientais. O uso de diversos medicamentos e a presença de múltiplas alterações
sistêmicas podem comprometer o atendimento odontológico destes pacientes, podem
ocorrer lesões bucais, comprometimento da ATM, comprometimento pulmonar,
cardiovascular, alterações renais, hematológicas, imunológicas e psíquicas. Método:
Este estudo trata-se de uma revisão literária de natureza aplicada utilizando o método
dedutivo e abordagem qualitativa. Objetivo: Descrever a atuação do cirurgião dentista
no tratamento de pacientes com LES. Resultado e Discussão: O cirurgião-dentista é
importante no cuidado destes pacientes, podendo atuar tanto no diagnóstico precoce
como no tratamento adequado da cavidade oral proporcionado segurança e atuando
de forma conjunta fazendo parte de uma equipe multidisciplinar. Conclusão: Conclui-
se que o Cirurgião-Dentista deve obter conhecimento sobre a doença e suas
manifestações, para planejar e, a partir de uma anamnese detalhada, proporcionar
procedimentos seguros, elegendo de forma correta medicamentos e anestésicos, e
trabalhando de forma multidisciplinar para obter sucesso e oferecer o melhor
tratamento de forma segura e eficaz, proporcionando conforto e evitando possíveis
complicações durante e após os atendimentos.
Palavras-chave: Lúpus na odontologia, manifestações bucais, tratamento
multidisciplinar.

ABSTRACT

Introduction: Systemic lupus erythematosus (SLE) is a chronic autoimmune


inflammatory disease, its etiology is little known, however, some factors may be related
to the onset of the disease: genetic, hormonal, immunological and environmental
factors. The use of various medications and the presence of multiple systemic changes
can compromise the dental care of these patients, oral lesions, TMJ impairment,
pulmonary, cardiovascular impairment, renal, hematological, immunological and
psychological changes can occur. Method: This study is a literary review of an applied
nature using the deductive method and qualitative approach. Objective: with the aim of
describing the dentist's performance in the treatment of patients with SLE.
Results and Discussion: The dental surgeon is important in the care of these patients,
being able to act both in the early diagnosis and in the appropriate treatment of the oral
cavity, providing safety and acting together forming part of a multidisciplinary team.
Conclusion: It is concluded that the dental surgeon must obtain knowledge about the
disease and its manifestations, to plan and from a detailed anamnesis provide safe
procedures, correctly choosing medications and anesthetics, and working in a
multidisciplinary way to obtain success and offer the best safe and effective treatment,
providing comfort and avoiding possible complications during and after appointments.
Keywords: Lupus in dentistry, oral manifestations, multidisciplinary treatment

INTRODUÇÃO

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória autoimune


sistêmica, que tem como características a produção de auto anticorpos contra vários
constituintes celulares, formação e deposição de imunocomplexos que acarretam o
comprometimento de muitos órgãos e danos teciduais. Em sua etiologia, embora pouco
conhecida, sabe-se da participação de alguns fatores para o surgimento da doença,
como os fatores genéticos, hormonais, imunológicos e ambientais¹. A patologia afeta
indivíduos de todas as raças, sendo 9 a 10 vezes mais frequente em mulheres na
idade reprodutiva, estima-se que no Brasil, tenha a incidência de 8,7 casos para cada
100.000 pessoas por ano. A mortalidade dos pacientes com LES é cerca de 3 a 5
vezes maior do que a da população geral e está relacionada a atividade inflamatória da
doença, especialmente quando há acometimento renal e do sistema nervoso central².
No estado do Acre, o Governo sancionou em 2016, a lei n 3.170 que instituiu a
política de conscientização e orientação sobre o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) e
Lúpus Eritematoso Discóide (LED)³. Em 2013, o munícipio de Rio Branco já havia
sancionado a lei n 1983 com a mesma finalidade que, inclusive, garante todos os anos
a entrega gratuita de protetor solar para pacientes diagnosticados com lúpus 4. O
estado também possui desde 2013 a APLAC (Associação dos Portadores de Lúpus do
Acre), os dados mais recentes registram mais de 200 pacientes em tratamento
atualmente pela rede pública no estado 5.
Com a probabilidade de inflamação de múltiplos órgãos, os pacientes apresentam
diferentes manifestações de sinais e sintomas entre si. Nos comprometimentos
orofaciais, os pacientes podem apresentar lesões e ulcerações bucais, problemas na
ATM, envolvimento das glândulas salivares e trismo ao mover a mandíbula e as
alterações sistêmicas podem dificultar a realização de procedimentos odontológicos
quando se avalia o risco x benefício. Mediante isso, entende-se a real importância do
cirurgião-dentista ter conhecimento da medicina como um todo a fim de auxiliar no
diagnóstico e ter participação ativa no atendimento multidisciplinar do paciente com
LES6.
A possibilidade de conflitos intrapsíquicos como depressão, diminuição da
autoestima e medo afetam a vulnerabilidade do paciente, haja visto que se trata de
uma patologia de alta morbidade, cronicidade e mortalidade, com eventos de vida
estressantes, como o uso intenso de medicamentos e procedimentos que, de certa
forma, afetam o psicológico7.
Pelo anteriormente descrito, este artigo apresenta a seguinte problemática de
estudo: Quais as dificuldades para o atendimento odontológico em paciente com Lúpus
Eritematoso Sistêmico? Sendo o Lúpus uma patologia complexa, com manifestações
variadas e que, até hoje, ainda não existe um protocolo específico para o tratamento
odontológico desses pacientes8, este trabalho é de fundamental importância para
comunidade científica e para a população, pois caso seja ignorado ou considerado
uma doença irrelevante no atendimento odontológico, pode gerar trágicos riscos para a
saúde geral do individuo, pois não ocorrerá um atendimento integral de acordo com a
especificidade da doença, onde desde a anamnese e exame físico, o Cirurgião-
Dentista deve conhecer os sinais e sintomas do seu paciente para, no mínimo, realizar
um encaminhamento correto e, assim, poder atuar na equipe multidisciplinar de saúde.
Assim sendo, no decorrer do trabalho iremos abordar as condições sistêmicas que
interferem no tratamento odontológico, compreendendo as dificuldades existentes para
o tratamento e descrevendo o perfil do paciente com LES.
MATERIAL E MÉTODO

CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa bibliográfica trata-se de um trabalho de natureza aplicada com o


método dedutivo, utilizando a abordagem qualitativa com fins de descrever a atuação
do cirurgião dentista no tratamento de pacientes com Lúpus Eritomatoso Sistêmico e
conforme os procedimentos técnicos trata-se de uma revisão sistemática de literatura.

COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados a partir da plataforma de pesquisa Scielo e PubMed,


revistas literárias/eletrônicas (revista brasileira de reumatologia, revista Odonto
Ciência, revista UNISANTA), artigos e livros publicados entre os anos de 2000 e 2017
sem restrição de idioma, e em sites do governo do Acre, as fontes de pesquisa foram
selecionadas de acordo com o título, conteúdo e sua relevância ao objetivo da
pesquisa, os não selecionados não apresentaram material relevante/específico para
ser incluso na revisão literária. As palavras chaves utilizadas para as buscas foram:
lúpus na odontologia, tratamento multidisciplinar, manifestações bucais. No total foram
selecionados 57 dados, e inclusos 31 no trabalho.

ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS

Foi realizada a análise interpretativa das publicações selecionadas com o objetivo


de estabelecer uma conexão entre os conteúdos analisados e o tema de pesquisa,
deste modo foram extraídas as ideias principais de acordo com o objetivo a ser
desenvolvido no trabalho para posteriormente serem classificados por categorias e
assim serem produzidos os resultados e discussões.

Inclusos: 31
- Trabalhos convenientes
Artigos: 26 - Relevância com o tema
- Disponibilidade do
conteúdo completo e sua
tradução.

Revistas e Sites Total:


do Governo do 57
Acre: 27
Excluídos: 26
- Conteúdos de baixa
qualidade.
Livros: 04 - Ausência de dados a
serem extraídos.
- Conteúdos repetitivos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Existem diferentes tipos de Lúpus, o Discoide que se limita somente a pele, o


Lúpus induzido por drogas e o Eritematoso Sistêmico, que é o mais grave de todos e
pode atingir quase todos os órgãos e sistemas do corpo, onde o sistema imune produz
anticorpos para proteger o corpo dos próprios anticorpos, gerando complexos
imunológicos que crescem constantemente, podendo gerar inflamação, lesões e
dores8.
O sistema imunológico atua produzindo anticorpos para eliminar antígenos do
organismo, onde o lúpus causa uma desorganização imunológica fazendo com que o
sistema de defesa não saiba a distinção entre antígeno e células do próprio corpo 9. A
gravidade do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) se dá por ser uma doença
inflamatória, que causa distúrbios e desequilíbrios em diversos órgãos, tendo períodos
de pico e outros de remissão10.
Muitas vezes devido alterações na função física, que pode afetar a independência
e interação social, pode-se originar consequências psicológicas no portador do LES. O
medo de morte, fadiga, e interferência no planejamento familiar ou gravidez são fatores
agravantes para casos de depressão ou histeria. O conhecimento das características
de personalidade é fundamental para a compreensão da forma pela qual um indivíduo
pode lidar com o estresse psicológico desencadeado pelas manifestações de uma
doença e seu tratamento, ou outras situações estressantes que podem ocorrer em seu
ciclo vital11.
O prognóstico dos pacientes com LES vem melhorando nos últimos anos devido
a vários fatores como diagnóstico precoce, melhores opções terapêuticas e controle
das condições de enfermidades associadas. A mortalidade da doença pode estar
relacionada ao grau de agressividade e padrão evolutivo 12.

Quadro 01: Informações sobre a patogênese e diagnóstico do LES 13,14,15.


Patogênese Sistêmica Patogênese Oral Diagnóstico
As mulheres tem uma maior As lesões bucais se Segundo a Associação
prevalência para o lúpus. desenvolvem em 5% a 25% Americana de Reumatismo,
dos casos, embora estudos depende tanto dos aspectos
As lesões cutâneas podem
comprovem que sejam 40%. clínicos quanto os
ser específicas ou
laboratoriais.
inespecíficas da doença e a
luz solar faz com que as
Afeta o palato, mucosa jugal, No exame histopatológico
lesões se agravem.
a gengiva, principalmente apresenta hiperqueratose,
com ulcerações. degeneração das camadas de
Os rins são afetados em células basais, atrofia
quase 40% a 50% dos casos Pode ser observado algumas epitelial, inflamação
e a insuficiência renal é o vezes o envolvimento da perivascular*.
aspecto mais significativo da região do vermelhão do lábio Na imunofluorescência
doença. inferior (queilite por lúpus). indireta com biópsia da
Em 40% a 50% dos pacientes mucosa perilesional
afetados, desenvolve-se um apresenta: IGG ou IGM com
exantema apresentam um A terapia para LES depende ou sem depósitos de C3 na
padrão de borboleta na região da gravidade e extensão da junção dermoepidérmica*.
malar e nasal. doença, variando de Na imunofluorescência direta
Os achados comuns incluem esteroides tópicos à droga com sorologia: ANA em >
febre, perda de peso, artrite, anti-inflamatória não 95% dos casos; DNA e EAN
fadiga e mal-estar esteroide. com anticorpos em > 50% dos
generalizado casos*.
* A imunofluorescência direta dos tecidos perilesional e normal revela depósitos de
imunoglobulinas e C3 na interface da derme-epiderme; Anticorpos antinucleares (ANA) estão
presentes em mais de 95% dos casos, enquanto anticorpos para ácido desoxirribonucleico
(DNA) e antígeno nuclear extraído (ENA) estão presentes em mais de 50% dos pacientes.
Dentre outros exames se destacam: Hemograma, Teste de Coombs, Urina, Anticorpo anti-
DNA e anti-SMA e FAN (Fator Antinúcleo).

Tendo a notoriedade que o LES é de grande implicância sistêmica, no que se


refere à saúde bucal e geral, é importante que o cirurgião-dentista esteja ciente destas
16
amplas repercussões .

Os pacientes com LES tem que tomar diversos medicamentos que acabam
gerando alterações sistêmicas, e somando ao estado debilitado em que o paciente se
15
encontra, faz com que o atendimento odontológico seja comprometido . O controle da
atividade da doença é realizado principalmente pelo uso de corticoides devido sua
capacidade anti-inflamatória, porém o seu uso crônico causa imunodepressão 17.
Os pacientes portadores de LES sofrem com variadas moléstias orofaciais,
podendo ocorrer lesões intra e extraoralmente, como ulcerações, acometimento de
glândulas salivares maiores e menores e até distúrbio na ATM. Pode-se ter erosão na
mucosa, placas descamativas, fissuras hemorrágicas e fissuras brancas irradiadas. O
18
lábio inferior pode apresentar-se com quelite gengivite descamativa e marginal,
lesões ulcerativas, xerostomia, e outras lesões dolorosas. Sendo essas alterações no
sistema estomatognático, imprescindíveis para a atuação do CD, pois os sinais são
fatores importantes para o diagnóstico e tratamento, e podem dificultar a higienização
bucal facilitando a instalação de doenças periodontais e cárie 19.

Figura 01: ulcerações irregulares na mucosa jugal


13
causadas por Lúpus Eritematoso Sistêmico .
Figura 02: LES na cavidade oral apresentando-se
como gengivite descamativa. Essa ulceração
margeada por linhas brancas, se não tratada, pode
evoluir para uma doença periodontal ainda mais
grave14.

Com a existência de vias imunológicas e predisposição genética comum ao


Lúpus Eritematoso Sistêmico, a periodontia moderna busca estabelecer relações de
susceptibilidade às doenças periodontais, visando efetividade desde a prevenção ao
tratamento. Nesse contexto, estudos com portadores de doenças sistêmicas vem
sendo feitos a respeito do LES e doenças periodontais 20 .
Em um estudo realizado para fazer um comparativo da saúde bucal de pacientes
com LES (n=75) comparado aos controles (n=78) – pareados por gênero e idade – e
quais as consequências disso na qualidade de vida dos dois grupos, o resultado obtido
mostrou que ao analisar as condições bucais e de higiene, apesar da maior frequência
de escovação, os pacientes com LES apresentaram maiores percas dentárias além de
mostrarem uma qualidade de vida relacionada a saúde bucal pior em relação aos
controles21 .
Doenças sistêmicas como o Lúpus, não tem a capacidade de iniciar por si próprio
a DP, porém, podem agravar o estado dos tecidos acelerando a cronologia de uma
doença periodontal pré-existente, e do mesmo modo a doença periodontal pode gerar
modificações no estado geral de saúde, com cardiopatias, alterações nos pulmões, que
podem ser de fator crônico ou agudo como: bronquite, asma, pneumonia e enfisema
etc. Caso seja encontrado um caso de doença periodontal em paciente portador do
LES, o seu tratamento deve ser feito para que não venha influenciar na evolução da
doença22.
A patogênese entre o LES e a doença periodontal são semelhantes, como: as
duas doenças têm hiperatividade de linfócitos B, grande produção de anticorpos IgG, e
também influenciaçóes genéticas, ambientais, hormonais e imunológicas. Suspeita-se
que a terapia imunossupressora empregada no tratamento do Lúpus gera uma alta
taxa de lesões periodontais, encontrando maiores perdas dentais e um maior processo
inflamatório nos pacientes com LES em estados severos pela alteração dos padrões
das imunoglobinas. Um sinal comum nos pacientes com Lúpus é a xerostomia, que
acaba alterando a cavidade oral, como a lubrificação, deglutição e paladar,
influenciando a saúde periodontal dos individuos 23.
É comum essa prevalência de doença periodontal nesses pacientes, onde as
mesmas possuem um mecanismo destrutivo causado por uma desordem no sistema e
isso possivelmente explicaria a relação entre as duas 16. Embora a maioria dos estudos
já realizados sobre a relação das duas patologias aponte uma possível existência de
suscetibilidade, ainda não está estabelecida como se dá essa relação e como o
mecanismo de ação do lúpus eritematoso interfere na saúde periodontal do paciente

lúpitico 24.
Quadro 02: Outras manifestações Orais do Lúpus Eritematoso Sistêmico e suas
implicações clínicas 25, 26, 27.

Manifestações orais Implicações clínicas


Dependendo da extensão da lesão, pode
prejudicar a mastigação, e ter focos de
Lesão de Cárie
infecção que podem agravar as diabetes,
doenças hematológicas e cardíacas.
Prurido e/ou queimação na mucosa;
Candidíase
inapetência; risco de infecção esofágica
Disfonia, disfagia, aftas e úlceras na mucosa
bucal, maior propensão a infecções bucais e
Hipossalivação da orofaringe, esofagias recorrentes, e sono
interrompido para ingestão de água e para
urinar.
Xerostomia Diminuição na qualidade de vida
Halitose Diminuição na qualidade de vida
Disgeusia, dificuldade na alimentação, e
Ardência bucal
cancerofobia.
Dor, dificuldade na alimentação e
Úlceras orais
higienização bucal
Cefaleia, otalgia e/ou zumbido, sensação de
tamponamento do ouvido, dor cervical
DTM irradiada, dor de cabeça crônica, limitação na
abertura bucal, dificuldade para mastigar e
falar.
Alterações patológicas nas glândulas
Hipossalivação, disfagia e disfonia
salivares

O protocolo como conduta a ser adotado pelo CD em pacientes com Lúpus


requer um tratamento especial. Na anamnese deve ser feito um questionário de
saúde detalhado e minucioso, com a história médica, hábitos e antecedentes
familiares, além da histopatologia, o diagnóstico pode ser precoce, pois as
manifestações intraorais podem aparecer antes das cutâneas, observando as áreas
avermelhadas, lisas e circunscritas, com ausência de papilas, ou placas brancas

parecidas com a leucoplasia28.


O cirurgião-dentista entra como peça importante no cuidado com o paciente
com LES por dois motivos principais: capacidade de diagnóstico precoce; e pela
quantidade e frequência de alterações bucais, visto que a boca funciona como
barreira física de defesa imunológica em condições normais e na presença do lúpus
o paciente está imunossuprimido29. Como o LES caracteriza-se por um envolvimento
multissistêmico, o tratamento deve ser personalizado de acordo com qual órgão ou
sistema afetado29.
Deve-se ter cuidado com as lesões eritematosas no palato duro para não
confundir com aftas, avaliar também se os lábios estão cobertos por escamas ou
crostas localizadas, se tem sintomatologia dolorosa e se ocorre sangramento ao
28
remover as escamas . O paciente deve receber orientação sobre a importância de
uma minuciosa higienização bucal, onde a escovação tenha em média uma duração de
8 a 10 minutos, alcançando todas as faces dentárias, assim como orientar sobre a
importância da utilização do uso do fio dental na prevenção da inflamação gengival e
de cáries ocultas interproximais. Instruir o paciente sobre a realização regular de um
autoexame da boca para a constatação de possíveis alterações nas gengivas e em
mucosas, sendo que diante de tais situações deve-se procurar auxílio do cirurgião
dentista 30. O profissional deve proporcionar incentivo para que o paciente compareça a
consultas regulares de em média três a seis meses, para a manutenção da higiene oral
e prevenção do agravamento da saúde bucal 30.
O CD não pode interferir ou prescrever medicamentos para tratar o lúpus
propriamente ou outros sistemas. Como os problemas bucais encontrados nesses
casos geralmente são sobre infecções oportunistas, os medicamentos mais prescritos
comumente são antivirais, antifúngicos, medicamentos ou soluções para o tratamento
de problemas periodontais e bicarbonato de sódio para substituir o dentifrício na
escovação em casos onde o paciente está cometido por úlceras. Podem ser prescritos
também antibióticos como dose profilática pré-operatória visando prevenir a
endocardite bacteriana31.
Outro cuidado importante relacionado a medicamentos é que, tendo em vista ser
um paciente que geralmente faz uso de diversos tipos de medicamentos, estar atento a
possíveis interações medicamentosas com imunossupressores, corticosteroides,
antimaláricos ou anti-inflamatórios não esteroidais. Deve-se evitar prescrição de sulfas
e penicilinas que podem gerar episódios desagradáveis ou agravar ainda mais a
situação. Logo, a comunicação entre cirurgião-dentista, médico e paciente é essencial,
principalmente em casos de necessidade de um procedimento mais invasivo para que
o mesmo seja realizado no momento apropriado e com toda cautela 31.
Assim como o tratamento é personalizado de acordo com o sistema afetado, o
tipo de anestésico também segue o mesmo preceito. Em casos de pacientes que
fazem ou já fizeram uso de corticosteroide, pode-se utilizar o anestésico de primeira
escolha – lidocaína 2% + epinefrina 1:100.000 – mas deve-se entrar em contato com o
médico responsável para uma ação em conjunto e avaliar se há necessidade da
alteração do esquema terapêutico ou de uma dose de suplementação da dose do
corticosteroide31; em caso de pacientes nefropatas a lidocaína também pode ser
utilizada, mas nesse caso o fator determinante para data do procedimento cirúrgico
será baseado no dia de efetuação da hemodiálise e nas condições gerais do paciente,
frisando também usar a quantidade mínima de tubetes possíveis para diminuir a
quantidade de toxinas presentes no sangue; já em pacientes acometidos no sistema
cardíaco, o anestésico mais indicado é a prilocaína associada a felipressina 31.

CONCLUSÃO

Levando em consideração as questões sistêmicas e neurológicas que afetam o


paciente com LES, a preparação do cirurgião dentista deve trazer agilidade no
atendimento, tendo preparo para lidar com complicações caso estas ocorram na
consulta odontológica. O cirurgião-dentista pode contribuir com o diagnóstico precoce
da doença, pois ocorrem manifestações bucais da mesma, portanto o profissional deve
atuar de forma conjunta com outros profissionais para oferecer um tratamento
multidisciplinar e proporcionar o melhor tratamento para o paciente.
Como o LES e a DP são desordens com características semelhantes, tanto de
patogênese similar, como alta produção de anticorpos IgG, e alta atividade dos
linfócitos B, podendo ter influência de fatores ambientais, genéticos, imunológicos e
hormonais, além das complicações acarretadas pela terapia imunossupressora, o
Cirurgião-Dentista deve realizar ações de prevenção da doença periodontal nos
pacientes portadores do LES, para que assim, o prognóstico do paciente seja mais
favorável.
Assim, para um atendimento com riscos minimizados é necessário obter
conhecimento prévio sobre a doença e suas manifestações gerais, devem ser
oferecidas consultas rápidas, seguras, verificando os sinais vitais, sendo realizada
previamente uma anamnese detalhada para diminuir os riscos de complicações
durante e após atendimento odontológico, para assim, obter sucesso no tratamento e
também na escolha correta de medicamentos e anestésicos referentes ao tratamento
orofacial.

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