Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2017
Fialho, Flavio Augusto de Carvalho. Cistos odontogênicos e não-
odontogênicos diagnosticados no laboratório de patologia oral da UFRJ
em um período de 30 anos/Flavio Augusto de Carvalho Fialho, Rio de
Janeiro, UFRJ/Faculdade de Odontologia, 2017.
14f.
Aprovado em _____/_____/_____
_____________________________________
Prof. Mario José Romañach Gonzalez Sobrinho
_____________________________________
Prof.ª Márcia Grillo Cabral
_____________________________________
Prof.ª Simone de Queiroz Chaves Lourenço
2017
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO 1
2 OBJETIVO 13
3 MATERIAIS E MÉTODOS 13
4 RESULTADOS 13
5 DISCUSSÃO 20
6 CONCLUSÕES 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25
RESUMO
Odontogenic and non-odontogenic cysts are observed only in the gnathic and casuistic bones of
different regions have been published in the English-language literature. The objective of this
study was to determine the frequency of odontogenic and non-odontogenic cysts diagnosed in
the Oral Pathology Laboratory of the Federal University of Rio de Janeiro between 1984 and
2015. These lesions were obtained after reviewing the institution's files. The evaluated features
were (1) type of microscopically diagnosed cyst, (2) age, (3) gender, and (4) location of the cyst.
The frequency of each type of cyst and its clinical features were descriptivelly presented
considering patients of all ages, younger than 17 years, and older than 17 years. One thousand
one hundred and forty one cysts were diagnosed in this period, 1026 (90%) of them were
odontogenic and 105 (10%) were non-odontogenic. The most frequent odontogenic cysts were
radicular cyst (449 cases, 39,3%), dentigerous cyst (195 cases, 17%), and odontogenic keratocyst
(147 cases, 12,8%). The most frequent non-odontogenic cyst were the nasopalatine duct cyst (32
cases, 2,8%), epidermoid cyst (25 casos, 2,1%) e mucus retention cyst (17 cases, 1,4%). The
odontogenic and non-odontogenic cysts diagnosed in the Oral Pathology Laboratory of the UFRJ
seem to show a clinicopathological profile similar to that found in other studies in the world,
with few variations in relation to age, gender and preferential location.
Dedico aos meus pais, Nei e Elisabeth, por serem os melhores pais do mundo. Sempre apoiando,
incentivando e estimulando o conhecimento profissional dos filhos, inclusive o meu. Vocês
merecem esse trabalho, pois sou o que de melhor vocês têm.
Dedico aos meus irmãos, Felipe e Frederico, que apesar das diferenças, o amor sempre nos uniu
e nos fez entender que é para sempre. São os melhores irmãos que poderia escolher para mim,
mesmo com todos os obstáculos que uma família pode ter, sempre estivemos e estaremos juntos.
Dedico ao meu avô, Francisco Fialho, uma pessoa que sempre me inspirou, por ser um
profissional honesto e digno, um professor exemplar na Anatomia Patológica, um avô
incentivador dos estudos e um estudioso nato, o qual eu prometi ser um excelente profissional e
espero que ele esteja assistindo isso, mesmo que pelo outro plano.
Dedico a minha avó Dulce Ferreira Pimentel, pelo amor que mostrou aos filhos e que foi passado
aos netos. Na vida, tudo com amor é mais simples, mais calmo. Obrigado por mostrar esse
sentimento tão bom que nos impulsiona para frente.
AGRADECIMENTOS
Meu primeiro agradecimento é ao meu professor e orientador Mario Romañach, que, apesar
de todas as dificuldades em ser um professor, pois um professor não acompanha somente um
aluno e sim vários, sempre se mostrou disposto a ajudar, com calma e paciência. Apesar das
nossas diferenças pessoais, foi um grande orientador e incentivou a realização deste trabalho,
com idéias e propostas para que ficasse um trabalho digno de mestrado. Obrigado por tudo, em
todos os aspectos.
Agradeço a cirurgiã-dentista Andrezza Costa, por ser o meu alicerce, a minha segunda
metade, a minha base para enfrentar tudo e todos. Uma pessoa digna, honesta e que merece todo
o meu agradecimento pois esteve comigo durante esses 2 anos de mestrado e sabe como é difícil
realizar um trabalho desse nível, abdicando até dos nossos momentos para concretizar esta etapa.
Obrigado pela paciência e pelos bons momentos.
Agradeço ao professor Bruno Benevenuto, pela simplicidade e paciência, sempre que eu tive
dúvidas e conseguia falar com alguém, este alguém era o Bruno. Obrigado pela ajuda na
Patologia Oral da UFRJ e por ser um professor tão querido por todos.
Agradeço aos meus amigos de turma do MPCO, pois sem eles o mestrado seria uma rotina
difícil e árdua. Com eles, nos momentos de aula, tudo fluiu muito bem e positivamente para o
engrandecimento profissional tanto meu, quanto deles. Obrigado pela convivência nesses 2 anos.
Agradecimento especial a todos os pacientes que analisei as fichas e prontuários, pois sem vocês,
este trabalho não seria realizado
A todos os que não foram citados, mas que de alguma forma contribuíram para a realização
deste trabalho, obrigado por tudo.
LISTA DE ABREVIATURAS
PÁGINA
Cistos Odontogênicos
Cistos radicular
Os cistos radiculares são os cistos inflamatórios mais comuns. Surgem dos
resíduos epiteliais do ligamento periodontal como resultado da periodontite periapical,
morte e necrose pulpar. Podem ser chamados de cistos residuais quando permanecem nos
maxilares mesmo quando o dente envolvido foi removido. (Neville et al. 2007)
Em estudos sul-africanos, cistos radiculares corresponderam a 62% dos cistos
odontogênicos e 52,2% dos cistos maxilares. Killey et al. (1977) encontraram uma taxa
de 68% de cistos radiculares e Jones et al. (2006) observaram que 60,3% dos cistos
odontogênicos foram diagnosticados como cistos radiculares em um período de 30 anos
1
de estudo.
Cistos radiculares são mais comuns na 4ª e 5ª décadas de vida, com pico de
incidência na 3ª década, sendo raros nas primeiras décadas de vida. Jones et al. (2006)
encontraram média de idade de 37,3 anos dos pacientes com cisto radicular, com maior
tendência ao gênero masculino. A sua localização é maior na região anterior da maxila
(60% dos casos). Muitos cistos radiculares são assintomáticos e são descobertos por
radiografias periapicais em dentes não vitais. São a causa mais provável de edema maxilar
e o lento crescimento, o que são normalmente a queixa dos pacientes. Uma condição
necessária para cisto radicular é a necrose pulpar, o que é raro em dentições decíduas.
(Neville et al. 2007)
Radiograficamente, vários estudos demonstram a dificuldade de diferenciar os
aspectos radiográficos dos cistos radiculares e granulomas apicais. Redondos ou ovóides
(radiolucentes) circundados por uma fina margem radiopaca que se estende da lâmina
dura do dente envolvido. Quando há infecção, essa margem radiopaca pode não estar
presente.
Microscopicamente, são limitados por epitélio escamoso estratificado de
espessura variável, podendo medir de 1 a 1,5 cm de diâmetro, raramente excedendo 3 cm.
A cápsula do cisto consiste em tecido conjuntivo fibroso denso, com infiltrado
inflamatório contendo linfócitos, neutrófilos, plasmócitos, histiócitos e, raramente,
mastócito e eosinófilos. A natureza do revestimento depende da idade ou do estágio de
desenvolvimento do cisto ou da intensidade da inflamação. A reabsorção radicular é pode
ser encontrada em alguns casos. (Neville et al. 2007)
O tratamento é a extração dentária ou o tratamento endodôntico conservador.
Lesões maiores podem ser submetidos à marsupialização ou descompressão com
acompanhamento por 1 a 2 anos. A recidiva é rara.
Cisto dentígero
O cisto dentígero é um cisto odontogênico de desenvolvimento que se origina pela
separação do folículo da coroa de um dente incluso. É o tipo mais comum de cisto de
desenvolvimento compreendendo cerca de 20% de todos os cistos epiteliais dos
maxilares. A patogênese desse cisto é desconhecida, mas aparentemente se desenvolve
pelo acúmulo de liquido entre o epitélio reduzido do esmalte e a coroa do dente.
Embora os cistos dentígeros possam estar associados com qualquer dente incluso
2
mais frequentemente eles envolvem os terceiros molares inferiores. Outros locais
relativamente frequentes são os caninos superiores, terceiros molares superiores e
segundos pré-molares inferiores. Ainda que cistos dentígeros possam ser encontrados em
pacientes de diferentes idades, eles são com mais frequência descobertos em pacientes
com 10 e 30 anos de idade. Há uma prevalência maior nos homens. Cistos dentigeros são
assintomáticos e usualmente descobertos em exames radiográficos de rotina ou quando
são feitas para determinar a razão da falha de erupção de um determinado dente. Podem
aumentar consideravelmente de tamanho e estarem associados a expansão indolor de osso
da região afetada. (Neville et al. 2007)
Radiograficamente, apresenta-se como uma lesão radiotransparente unilocular
associado a coroa de um dente incluso. Comumente, a área radiotransparente tem uma
margem bem definida e muitas vezes esclerótica, porém, um cisto infectado poderá
mostrar limites mal definidos. Variantes radiográficas considerando a relação cisto-coroa
são observadas: central, lateral e circunferencial.
Os aspectos histopatológicos incluem cápsula de tecido conjuntivo fibroso
arranjada frouxamente revestida por epitélio com 2 a 4 camadas de células achatadas não
ceratinizadas e a interface entre o epitélio e o tecido conjuntivo é plana. Pequenas ilhas
ou cordões de restos de epitélio odontogênico aparentemente inativos podem estar
presentes na capsula fibrosa.
O tratamento usual para o cisto dentígero é a cuidadosa enucleação e remoção do
dente incluso associado. Se a erupção do dente envolvido é considerada viável, o dente
pode ser mantido no local após a remoção parcial da parede do cisto. A marsupialização
pode ser uma escolha de tratamento, em casos de cisto dentígeros grandes, o que
acarretará na descompressão e redução do tamanho do defeito ósseo. Recorrência não é
esperada e o prognóstico é bom.
3
Clinicamente, aparecem como tumefações indolores semelhantes a uma cúpula,
frequentemente com menos de 0,5 cm de diâmetro embora raramente possam ser maiores.
Muitas vezes são azulados ou azul-acinzentados. Na histopatologia, constituem um
limitante epitelial fino e plano com ou sem placas localizadas que contem células claras.
Pequenos ninhos dessas células claras ricas em glicogênio que constituem restos da
lamina dentária podem ser vistos circundando o tecido conjuntivo. O seu tratamento
inclui excisão cirúrgica conservadora, com bom prognóstico. (Neville et al. 2007)
4
recorrência é incomum, ainda que tenha sido relatada na literatura com a variante
botrióide devido a sua natureza policística. (Neville et al. 2007)
Cisto de erupção
O cisto de erupção é o análogo do cisto dentigero no tecido mole. Desenvolve-se
como resultado da separação do folículo dentário que envolve a coroa de um dente em
erupção que está dentro dos tecidos moles sobre o osso alveolar. Consiste em uma
tumefação mole que recobre a coroa de um dente em pacientes, geralmente, menores de
10 anos de idade. Está mais associada aos primeiros molares permanentes e incisivos
superiores. Quando acontece um trauma na região, pode ser chamado de hematoma de
erupção, por conter sangue em seu interior. O revestimento do cisto, na porção mais
profunda do material, é formado por uma camada fina de epitélio escamoso não-
ceratinizado. (Neville et al. 2007)
O tratamento é uma simples excisão na lesão para promover a erupção do dente associado.
Em alguns casos, não há a necessidade da excisão, pois a lesão se rompe
espontaneamente.
Queratocisto odontogênico
O queratocisto odontogênico é uma forma distinta de cisto odontogênico de
desenvolvimento que requer considerações especiais por conta do seu comportamento
clínico e aspectos histopatológicos específicos. Alguns autores não defendem a teoria de
pressão osmótica relacionada ao crescimento da lesão e sim, fatores inerentes
desconhecidos do próprio epitélio ou com atividade enzimática na cápsula fibrosa.
Esta lesão pode ser encontrada em idades variadas, com 60% dos casos em
pacientes entre 10 a 40 anos de idade, com leve predileção pelo sexo masculino e com
60-80% de acometimento na mandíbula. As regiões de preferência na mandíbula são
região posterior do corpo mandibular e ramo ascendente. (Neville et al. 2007)
Possui diferenças clínicas quando analisado o seu tamanho. Geralmente, os
menores são assintomáticos e representam achados radiográficos. Já os maiores, podem
apresentar dor, tumefação ou drenagem, mas mesmo assim, também podem ser
assintomáticos. Possuem tendência à expansão no sentido ântero-posterior, pelos espaços
medulares, sem causar expansão óssea evidente, o que ajuda no diagnóstico diferencial,
se comparado com o cisto radicular e dentigero (geralmente associados com expansão do
5
osso). Apresentam área radiotransparente bem definida com margens regulares
corticalizadas e frequentemente festoneadas. As lesões grandes podem ser multiloculares.
Em 25 a 40% dos casos um dente incluso está envolvido na lesão.
Como características histológicas possui cápsula fina e friável, difícil de ser
enucleada sem romper o osso e em seu interior possui um liquido claro, semelhante ao
transudato de plasma ou material caseoso, com aspecto de queijo que corresponde a restos
de queratina. O limitante epitelial é constituído de uma camada uniforme de epitélio
escamoso estratificado queratinizado, comumente com seis a oito células de espessura. A
separação do limitante epitelial da cápsula fibrosa é observada. A superfície luminal
possui células epiteliais paraceratinizada achatadas, que apresentam aparência corrugada
ou ondulada. A camada basal é composta por células epiteliais colunares ou cúbicas,
dispostas em paliçada, muitas vezes hipercromáticas. Quando há processo inflamatório
associado, a superfície luminal paraqueratinizada pode desaparecer e o epitélio pode
proliferar, formando projeções com perda da característica camada basal em paliçada. Se
isto acontecer, outros cortes histológicos devem ser feitos para encontrar as características
citadas acima. (Neville et al. 2007)
Para lesões grandes, o tratamento consiste na marsupialização ou descompressão
seguida de ressecção cirúrgica com osteotomia periférica. Para lesões menores a
marsupialização ou descompressão prévia podem ser desnecessárias. A enucleação ou
curetagem aumentam as chances de recidiva, que usualmente têm taxas em torno de 30%,
sendo necessário o acompanhamento clínico–radiográfico longo após a cirurgia.
6
odontogênico, pois os índices de recidiva são menores.
7
geralmente não apresenta infiltrado inflamatório. As células epiteliais superficiais que
limitam a cavidade cística tendem a ser cuboidais a colunares e tem superfície irregular
e, algumas vezes, papilar. Aglomerado de material com afinidade pelo corante
mucicarmim muitas vezes está presente no epitélio, limitados estes por células cúbicas.
Estruturas pseudo-ductais são uma características marcante no limitante epitelial.
O tratamento de escolha pode ser enucleação ou curetagem, entretanto o cisto tem
propensão à recorrência (30%). Devido ao seu comportamento e a taxa de recorrência,
alguns autores preconizam a ressecção em bloco para esta lesão.
Cistos Não-Odontogênicos
8
veias, frequentemente são encontrados na parede do cisto. Frequentemente, há uma
resposta inflamatória na cápsula do cisto (leve a acentuada), geralmente crônica,
constituída de linfócitos, plasmócitos e histiócitos. O tratamento proposto é a enucleação,
com raras recorrências e bom prognóstico.
Cisto nasolabial
O cisto nasolabial é um cisto de desenvolvimento que ocorre na região nasolabial
lateralmente à linha média, tendo como características clínicas uma tumefação do lábio
superior que causa elevação da asa do nariz. Em algumas ocasiões, pode causar obstrução
nasal e interferir no uso da prótese superior. Pacientes não sentem dor e drenagem
espontânea pelo nariz pode ser observada. Quando infectados, causam dor ao paciente.
Sua incidência é maior em adultos (4ª e 5ª décadas de vida) com preferência pelo sexo
feminino (relação M:F 1:3). Como o cisto nasolabial é originário dos tecidos moles,
alterações radiográficas não são comuns, podendo eventualmente causar deslocamento
da cortical anterior do seio maxilar. (Neville et al. 2007)
O cisto nasolabial é revestido por epitélio colunar pseudo-estratificado com
células caliciformes e ciliadas. A cápsula do cisto é composta de tecido conjuntivo fibroso
com tecido muscular esquelético adjacente. O tratamento é a remoção cirúrgica, as vezes
com parte da mucosa nasal associada. A recorrência é rara e o prognóstico é bom.
9
uma tumefação sublingual podendo até deslocar a língua. A variação no tamanho é de
milímetros até 12 cm de diâmetro. Mais comuns em crianças e adultos jovens.
Assintomático, com características de borracha ou massa de pão, podendo ter infecção
secundária ou drenagem de pus para o interior da cavidade oral. O tratamento é idêntico
ao epidermóide (excisão cirúrgica e sem recorrências).
10
cisto odontogênico calcificante, cisto gengival e cisto odontogênico glandular.
Em uma revisão sistemática da literatura de 1993 a 2011, 18.297 cistos
odontogênicos foram incluídos no estudo de Johnson et al. 2014, dos quais 9.982 (54,6%)
eram cistos radiculares, 3.772 (20,6%) eram cistos dentígeros e 2.145 (11,7%)
queratocistos odontogênicos.
El Gehani et al. (2008) avaliaram a frequência de 326 cistos odontogênicos
(14,8%, total de 2190 biópsias) diagnosticados no Departamento de Patologia e
Microbiologia Oral da Universidade de Ciências Médicas Al arab, Benghazi, Líbia em
um período de 15 anos. Os cistos mais comuns foram cisto radicular (222 casos, 68,1%),
seguido do cisto dentigero (49 casos, 15%), queratocisto odontogênico (43 casos, 14,1%)
A relação M:F era 1,3:1 e a região anterior da maxila foi mais afetada (132 casos, 37,4%)
seguida da região posterior da mandíbula (96 casos, 29,4%).
Um estudo sobre a frequência de cistos odontogênicos e não-odontogênicos da
Universidade de Palermo – Itália em um período de 20 anos encontrou 1.310 cistos
(10,4%, total de 12.179 pacientes), dos quais 1.273 eram de origem odontogênica e 37
eram de origem não-odontogênica. O cisto radicular (1.107 casos, 84,5%) foi o cisto
odontogênico mais comum, seguido do cisto dentígero (149 casos, 11,4%) e o
queratocisto odontogênico (17 casos, 1,4%). Os cistos não-odontogênicos em sua maioria
foram os pseudo-cistos (28 casos, 2,1%). Os cistos radiculares foram mais comumente
observados nas regiões anteriores da maxila (68,6%) e mandíbula (41,5%), enquanto que
os cistos dentígeros afetaram principalmente a região anterior da maxila (72,1%) e a
região de pré-molares da mandíbula (70,5%). Os queratocistos odontogênicos
predominaram na região de molares mandibulares (100%) (Tortorici et al. 2008).
De maneira semelhante, Açikgöz et al. (2012) avaliaram a frequência de cistos
odontogênicos e não-odontogênicos em uma população da Turquia em um período de 9
anos. Eles encontraram 452 cistos odontogênicos (98,5%) e 7 cistos não-odontogênicos
(1,5%, todos eram cisto do ducto nasopalatino), que somados representavam 3,51% de
todos os casos diagnosticados neste período. O cisto radicular foi o cisto odontogênico
mais frequente (54,7%), seguido do cisto dentígero (26,6%), cisto residual (13,7%),
queratocisto odontogênico (3,3%), e cisto periodontal lateral (0,2%).
11
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi determinar a frequência dos cistos odontogênicos e
não-odontogênicos diagnosticados no Laboratório de Patologia Oral da UFRJ entre os
anos de 1984 até 2015, buscando uma comparação em relação a outros estudos do mundo
considerando a idade média, gênero mais acometido e localização preferencial destas
lesões.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Cistos diagnosticados como de origem odontogênica ou não odontogênica no
Laboratório de Patologia Oral da Faculdade de Odontologia da UFRJ (Rio de Janeiro/RJ,
Brasil) foram obtidos após revisão dos arquivos e laudos da instituição no período entre
os anos de 1984 até 2015.
O critério de inclusão estabelecido foi a disponibilidade de informações clínicas
básicas nas fichas de requisição de exame histopatológico arquivadas no Laboratório. As
características avaliadas foram: (1) tipo de cisto diagnosticado, (2) idade do paciente, (3)
gênero do paciente e (4) localização da lesão. Os resultados da frequência de cada tipo de
cisto e suas características clínicas foram apresentados de maneira descritiva
considerando pacientes de todas as idades, pacientes adultos (maiores que 17 anos) e
pacientes jovens (menores que 17 anos).
4. RESULTADOS
Durante os 30 anos, foram avaliados 10187 pacientes, dentre esses, 1141 casos
(11,2%) diagnosticados como cistos odontogênicos (1026 casos, 90%) e não-
odontogênicos (115 casos, 10%) no Laboratório de Patologia Oral da UFRJ, sendo 959
(84%) em adultos após 17 anos, 178 (15,6%) pacientes jovens até os 17 anos e 4 (0,4%)
pacientes sem idade informada. A Tabela 1 mostra os dados gerais dos casos
diagnosticados neste período. As Tabelas 2 e 3 mostram os cistos mais frequentes em
adultos e jovens, respectivamente.
12
Tabela 1. Frequência de cistos odontogênicos e não-odontogênicos no Laboratório de Patologia Oral de
UFRJ (1984-2015).
Diagnóstico microscópico N (%) M/F Idade média Localização (n)*
(relação) (variação)
Cistos Odontogênicos
Cisto radicular 449 (39,3%) 193/255 (1:1,32) 34,4(4-92) Max Ant (142)
Cisto dentigero 195 (17,0%) 100/94 (1,06:1) 19,6 (5-73) Mand Post (71)
Queratocisto odontogênico 147 (12,8%) 82/65 (1,26:1) 28,8 (3-79) Mand Post (66)
Cisto odontogênico não-classificável 98 (8,5%) 54/44 (1,22:1) 30 (3-78) Mand Post (24)
Cisto residual 67 (5,8%) 28/39 (1:1,39) 47,8 (16-84) Max Ant (21)
Cisto paradentário 18 (1,5%) 10/8 (1:1,25) 20 (10-70) Mand Post (17)
Cisto odontogênico calcificante 17 (1,4%) 6/10 (1:1,66) 32 (08-67) Max Ant (5)
Cisto odontogênico glandular 17 (1,4%) 6/11 (1:1,83) 36,8 (11-66) Mand (11)
Cisto periodontal lateral 8 (0,6%) 4/4 (1:1) 29,6 (08-47) Max Ant (3)
Cisto gengival do adulto 5 (0,4%) 1/4 (1:4) 57,2 (33-89) Mand Ant (4)
Cisto de erupção 3 (0,2%) 1/2 (1:2) 06 Max Ant (1)/
Mand (1)
Cisto odontogênico ortoqueratinizado 2 (0,1%) 1/0 13 Mand Post (2)
Total cistos odontogênicos 1026 486/536 29,5 Max Ant (176)
Mand Post (180)
Cistos não-odontogênicos
Cisto do ducto nasopalatino 32 (2,8%) 17/15 (1,1:1) 35,4 (10-69) Max Ant (25)
Cisto epidermóide 25 (2,1%) 12/13 (1:1,08) 37,7 (18 -77) Pele (6)
Cisto de retenção de muco 17 (1,4%) 5/11 (1:2,2) 52,9 (20-77) Mucosa Jugal (5)
Cisto nasolabial 11 (0,9%) 2/9 (1:4,5) 42 (29-66) Labio Sup (11)
Cisto dermóide 9 (0,7%) 7/2 (3,5:1) 30 (11-60) Assoalho Buc (4)
Cisto linfoepitelial oral (cervical) 8 (1) (0,7%) 7/2 (3,5:1) 35,8 (04-88) Lingua (4)
Cisto pilar 3 (0,2%) 1/2 (1:2) 44,3 (33-58) Pele (2)
Cisto cirúrgico ciliado da maxila 2 (0,1%) 0/2 (2) 54 (51-57) Maxila (2)
Cisto do ducto salivar 2 (0,1%) 2/0 (2) ND Labio e Palato
(2)
Cisto da papila incisiva 2 (0,1%) 0/2 (2) 23 (15-27) Max Ant (2)
Cisto palatino mediano 1 (0,08%) 1 33 Palato (1)
Cisto broncogênico 1 (0,08%) 1 61 Mand (1)
Cisto sinovial 1 (0,08%) 1 34 Punho (1)
Cisto do ducto tireoglosso 0 0 ND ND
Total cistos não-odontogênicos 115 56/58 37,1 Max Ant (33)
13
Tabela 2. Frequência de cistos odontogênicos e não-odontogênicos em adultos com 17 anos ou mais no
Laboratório de Patologia Oral de UFRJ (1984-2015)
Diagnóstico microscópico N (%) M/F (relação) Idade média Localização
(variação) preferencial (n)*
Cistos Odontogênicos
Cisto radicular 424 (44,2%) 185/239 (1:1,29) 40,2 (17-92) Max Ant (138)
Cisto dentigero 108 (11,2%) 55/52 (1,05:1) 35,5 (17-73) Mand Post (52)
Queratocisto odontogênico 122 (12,7%) 70/52 (1,35:1) 40,8 (17-79) Mand Post (57)
Cisto odontogênico não-classificável 78 (8,1%) 38/40 (1:1,05) 41,9 (17-78) Mand Post (24)
Cisto residual 66 (6,8%) 28/38 (1:1,36) 50,6 (21-84) Max Ant (23)
Cisto paradentário 17 (1,7%) 10/7 (1,42:1) 25,1 (17-70) Mand Post (16)
Cisto odontogênico calcificante 12 (1,2%) 5/7 (1:1,4) 48,4 (19-67) Max Ant (3)
Cisto odontogênico glandular 16 (1,6%) 5/11 (1:2,2) 47,4 (23-66) Mand Post (5)
Cisto periodontal lateral 6 (0,6%) 3/3 (1:1) 36,2 (17-47 Max Ant (2)/
Mand Pré (2)
Cisto gengival do adulto 5 (0,5%) 1/4 (1:4) 57,2 (33-89) Mand Ant (4)
Cisto de erupção 0 0 0 -
Cisto odontogênico ortoqueratinizado 0 0 0 -
Total cistos odontogênicos 854 400/453 42,3 Max Ant (165)/
Mand Post (154)
Cistos não-odontogênicos
Cisto do ducto nasopalatino 29 (3,0%) 16/13 (1,2:1) 41,6(19-69) Max Ant (25)
Cisto epidermóide 25 (2,6%) 12/13 (1:1,08) 41 (18-77) Assoalho (5)
Cisto de retenção de muco 17 (1,7%) 5/12 (1:2,4) 56,6 (20-77) Mucosa Jugal (4)
Cisto nasolabial 11 (1,1%) 2/9 (1:4,5) 42 (29-66) Max Ant (7)
Cisto dermóide 5 (0,5%) 4/1 (4:1) 42,6 (20-60) Mandibula (2)
Cisto linfoepitelial oral (cervical) 7 (0,7%) 2/5 (1:2,5) 52,3 (20-88) Língua (4)
Cisto pilar 3 (0,3%) 1/2 (1:2) 44,3 (33-58) Pele (2)
Cisto cirúrgico ciliado da maxila 2 (0,2%) 0/2 54 (51-57) Maxila (2)
Cisto do ducto salivar 2 (0,2%) 2/0 ND Palato (1)/Lábio(1)
Cisto da papila incisiva 1 (0,1%) 0/1 27 Max Ant (1)
Cisto palatino mediano 1 (0,1%) 1/0 33 Palato Duro (1)
Cisto broncogênico 1 (0,1%) 0/1 61 Submentoniana
Cisto sinovial 1 (0,1%) 0/1 34 Punho (1)
Cisto do ducto tireoglosso 0 0 0 -
Total cistos não-odontogênicos 105 45/60 44 Max Ant (33)
14
Tabela 3. Frequência de cistos odontogênicos e não-odontogênicos em crianças e adolescentes com
menos de 17 anos no Laboratório de Patologia Oral de UFRJ (1984-2015).
Diagnóstico microscópico N (%) M/F (relação) Idade média Localização
(variação) preferencial (n)*
Cistos Odontogênicos
Cisto radicular 25 (14,0%) 12/13 (1:1,08) 11,6 (5-16) Mand Post (8)
Cisto dentigero 87 (48,8%) 45/42 (1,07:1) 11,02 (4-16) Max Ant (29)
Queratocisto odontogênico 24 (13,4%) 11/13 (1:1,18) 12,5 (3-16) Mand Post (9)
Cisto odontogênico não-classificável 20 (11,2%) 14/6 (2,3:1) 11,1 (3-16) Max Ant (6)
Cisto residual 1 (0,5%) 0/1 16 Maxila (1)
Cisto paradentário 1 (0,5%) 0/1 10 Mand Post (1)
Cisto odontogênico calcificante 5 (2,8%) 2/3 (1:1,5) 12,2 (8-15) Max Ant (2)
Cisto odontogênico glandular 1 (0,5%) 1/0 11 Assoalho (1)
Cisto periodontal lateral 2 (1,1%) 1/1 (1:1) 10(8-12) Max Ant (1)/
Mand Post (1)
Cisto gengival do adulto 0 0 0 -
Cisto de erupção 2 (1,1%) 1/1 (1:1) 6 (6) Max Ant (1)/
Fundo vestíbulo (1)
Cisto odontogênico ortoqueratinizado 2 (1,1%) 2/0 13 (13) Mand Post (2)
Total cistos odontogênicos 170 89/81 11,3 Max Ant (39)
Cistos não-odontogênicos
Cisto do ducto nasopalatino 1 (0,5%) 0/1 10 Max Ant (1)
Cisto epidermóide 0 0 0 -
Cisto de retenção de muco 0 0 0 -
Cisto nasolabial 0 0 0 -
Cisto dermóide 4 (2,2%) 1/3 (1:3) 14,2 (11-16) Assoalho (3)
Cisto linfoepitelial oral (cervical) 2 (1,1%) 0/2 9,5 (4-15) Assoalho bucal (1)/
Cervical (1)
Cisto pilar 0 0 0 -
Cisto cirúrgico ciliado da maxila 0 0 0 -
Cisto do ducto salivar 0 0 0 -
Cisto da papila incisiva 1 (0,5%) 0/1 15 Max Ant (1)
Cisto palatino mediano 0 0 0 -
Cisto broncogênico 0 0 0 -
Cisto sinovial 0 0 0 -
Cisto do ducto tireoglosso 0 0 0 -
Total cistos não-odontogênicos 8 1/7 12,1 Assoalho bucal (4)
15
O cisto radicular foi o que apresentou maior número de casos, com 449 registros
(39,3%). Em segundo lugar, temos o cisto dentigero com 17% dos casos (195 pacientes)
e em terceiro lugar o queratocisto odontogênico com 147 casos (12,8%). Em seguida,
observa-se em ordem decrescente cisto odontogênico não-classificável (8,5%), cisto
residual (5,8%), cisto paradentário (1,5%), cisto odontogênico calcificante e cisto
odontogênico glandular (1,4%). Outros três cistos não-odontogênicos também tiveram
porcentagens similares: cisto do ducto nasopalatino (2,8%), cisto epidermóide (2,1%) e
cisto de retenção de muco (1,4%).
Considerando a idade geral, obtivemos uma média de 33,5 anos para todos os
cistos analisados. Se separarmos os odontogênicos, a média foi de 29,5 anos e os não-
odontogênicos obteve média de 37,1 anos.
Nos adultos após 17 anos, o cisto radicular ainda tem sua alta taxa com 424
pacientes (44,2%), seguido por queratocisto odontogênico com 122 pacientes (12,7%) e
cisto dentígero com 108 casos (11,2%). Já a análise em pacientes jovens até os 17 anos,
o cisto dentígero assume o posto de maior prevalência com 87 casos (48,8%) deixando o
cisto radicular em segundo lugar com 25 (14%) casos e o queratocisto odontogênico com
24 (13,4%) pacientes.
Nos dados obtidos, 594 foram do sexo feminino e 542 do masculino (F/M =
1,09:1). Em 5 casos (0,4%), a informação sobre o gênero do paciente não estava
disponível. Nos adultos, tivemos 445 homens e 513 mulheres, com taxa M:F de 1:1,15.
Já nos jovens, a quantidade de casos do sexo masculino foi 90 pacientes e 88 casos do
sexo feminino com taxa M:F = 1,02:1.
Dos 1141 casos, somente 53 (4,6%) não tiveram sua localização informada e 1088
(95,4%) casos tiveram sua localização definida. Na classificação por faixa etária e
considerando os adultos, tivemos 907 casos com localização definida e 52 casos sem
definição. Nos jovens, dos 178 casos, somente 1 caso não conseguimos identificar o local
acometido.
O diagnóstico com maior incidência foi o cisto radicular, totalizando 449 casos
(39,3%) o que pode ser observado na tabela 1. Além disso, representou um alto número
em maxila anterior com 142 casos e com preferência ao sexo feminino (taxa M/F de
1:1,32). Levando em consideração a idade dos pacientes, o cisto radicular é muito mais
comum em adultos se comparado com pacientes jovens. Nos adultos, o resultado foi de
16
424 casos contra apenas 25 em jovens, o que representa 44,2% contra 14%.
Neste estudo, o cisto residual obteve 67 casos registrados (5,8%) com a maxila
anterior o local preferencial (21 casos – 31,3%). Somente 1 caso registrado em pacientes
jovens, o que retifica a teoria de que o cisto residual é a recorrência do radicular e por ter
sua maioria representada neste estudo com os 66 casos em adultos, provavelmente
persistentes de cistos inflamatórios radiculares antes de se tornarem residuais.
Cisto dentígero foi a segunda lesão verificada nos dados obtidos, com 195 casos
(17%) e com uma taxa M/F de 1,06:1. A idade média dos pacientes desta lesão foi de 19,6
anos, levando em consideração todos os pacientes. Com 71 casos, a mandíbula posterior
é o local preferencial desta lesão, porém, quando se analisa os dados de pacientes jovens,
temos 29 (40,8%) casos em maxila anterior contra os 52 (59,2%) dos pacientes adultos.
Inclusive, a diferença na quantidade de pacientes adultos e jovens não é tão larga, temos
108 (55,3%) casos nos adultos e 87 (44,7%) casos nos jovens.
O queratocisto odontogênico foi representado com 147 casos (12,8%) com a idade
média de 28,8 anos. A relação M/F foi 1,26:1 e a localização preferencial
independentemente da idade foi mandíbula posterior com 66 casos (44,9%). O seu índice
é muito maior em adultos do que em jovens (122 casos contra 25), o que representa 83%
dos casos de queratocisto neste estudo.
O cisto odontogênico não-classificável foi descoberto em 98 casos (8,5%) sendo
70 em pacientes acima dos 17 anos e 20 casos em pacientes abaixo desta idade. Mesmo
com a falta de informação da lesão, sua localização preferencial foi a mandíbula posterior
com 24 casos. Nos jovens a localização preferencial foi a maxila anterior (6 casos dos 20
encontrados).
Considerando os outros cistos odontogênicos deste estudo, temos o cisto
paradentário com 18 casos (17 registros em mandíbula posterior), cisto odontogênico
calcificante e glandular com 17 casos cada um, cisto periodontal lateral com 8 pacientes,
cisto gengival do adulto com 5 casos, cisto de erupção com 3 casos e cisto odontogênico
queratinizado com 2 casos.
Com relação aos cistos não-odontogênicos, o que representou o maior número de
casos foi o cisto do ducto nasopalatino com 32 casos (2,8%) sendo 29 pacientes adultos.
Sua idade média foi de 35,4 anos de idade e a taxa M/F foi de 1,1:1, mostrando que
homens são mais susceptíveis a apresentar a lesão.
Logo em seguida temos o cisto epidermóide, com 25 casos (2,1%), com idade
17
média de 37,7 anos. Os outros cistos encontrados foram: cisto de retenção de muco com
17 casos, cisto nasolabial com 11 registros e cisto dermóide com 9 pacientes e 5 casos
relatados em assoalho bucal, temos o cisto linfoepitelial oral com 9 casos também (sendo
um deles linfoepitelial cervical, mas incluído nesta classificação por ter as mesmas
características, porém em localização diferente) e cisto pilar com 3 casos. Com 2 casos
temos alguns cistos: cirúrgico ciliado da maxila, ducto salivar e papila incisiva. Com
somente um registro de pacientes os cistos palatino mediano, broncogênico e sinovial
empataram nos dados deste estudo.
18
B
5. DISCUSSÃO
Os cistos dos ossos gnáticos possuem considerável informação na literatura atual.
O presente estudo levou em consideração a frequência destas lesões diagnosticadas no
laboratório de Patologia Oral da UFRJ, de forma a contribuir com novos dados que
pudessem servir como comparação com dados de outras instituições. Apesar de sabermos
que estes cistos podem mostrar características clínicas e radiográficas bem semelhantes,
o conhecimento da frequência, média de idade de acometimento e localização
preferencial podem não apenas ajudar no diagnóstico destas lesões, mas também contribui
para o estabelecimento de um perfil clinicopatológico destas lesões em uma determinada
região.
Levando em consideração a tabela 1 os dados são semelhantes comparados com
os de Grossmann et al. 2007, Gaitán-Cepeda et al. 2010, Johnson et al. 2014, Açikgöz et
al. 2012, Tortorici et al. 2008, El Gehani et al. 2016 e Jones et al. 2006 quando
verificamos os casos de cistos radiculares. O cisto radicular foi predominante em todos
estes estudos, corroborando com os nossos achados.
Se observarmos a idade média dos cistos radiculares no presente estudo (34,4
anos), conseguimos encontrar resultados similares aos casos reportados por Tortorici et
al. 2008 (35,6 anos), Grossmann et al. 2007 (52,3% dos casos entre a 3ª e 4ª década de
vida), Jones et al. 2006 (3ª e 4ª década de vida) e Açikgöz et al. 2012 (4ª década de vida).
Ao avaliarmos o gênero dos pacientes acometidos com cisto radicular, obtivemos
uma relação M:F = 1:1,32, o que indica uma predileção pelo gênero feminino, assim como
encontrado por Grossmann et al. 2007 (51,1% dos casos sendo mulheres). Contrariando
nossos dados, Jones et al. 2006 encontraram uma relação M:F = 1,06:1, com mais casos
em homens (1914 homens e 1804 mulheres). Tortorici et al. 2008 também relataram um
índice M:F igual a 1.19 (692 homens e 581 mulheres) e Açikgöz et al. 2012 encontraram
mais homens do que mulheres (132/119 com taxa M:F igual a 1,1:1). El Gehani et al.
2016 também relataram uma taxa de M:F igual a 1,38:1.
O cisto radicular obteve como localização preferencial a maxila anterior neste
estudo com 31,6% dos casos, assim como Grossmann et al. 2007 (33,0%), El Gehani et
al. 2016 (48,6%), Jones et al. 2006 (52,3%), Tortorici et al. 2008 (68,6%) e Açikgöz et
al. 2012 (42,2%).
O cisto dentígero foi encontrado em 195 casos (17%) neste período pesquisado.
Os estudos de Jones et al. 2006 obtiveram 18,1%, Grossmann et al. 2007 relataram
19
25,3%, Johnson et al. 2014 com 20,6%, Tortorici et al. 2008 com 11,4%, El Gehani et al.
2016 com 15% , Açikgöz et al. 2012 com 26,6% e Gaitán-Cepeda et al. 2010 com 34,5%.
A idade média dos cistos dentígeros encontrada foi de 19,6 anos, dado próximo a
El Gehani et al. 2016 (22,7 anos) e Grossmann et al. 2007 que encontraram predomínio
entre a 2ª e 3ª década de vida em 73% dos casos. Ao contrário, Açikgöz et al. 2012
mostraram que cistos dentigeros acometeram pacientes na 3ª década de vida, Tortorici et
al. 2008 mostrando idade média de 31 anos e Jones et al. 2006 com uma idade média de
40,8 anos.
A variação M:F para cistos dentigeros neste estudo foi 1,06:1, sendo um dado
obtido similar a Açikgöz et al. 2012 (1,1:1), Jones et al. 2006 (1,86:1), El Gehani et al.
2016 (1,4:1) e Tortorici et al. 2008 (1,57:1).
Os cistos dentígeros acometeram preferencialmente a mandíbula posterior (71
casos – 36,4%), assim como relatado por Grossmann et al. 2007 (43% - 303 casos),
Açikgöz et al. 2012 (65 casos – 53,2%), El Gehani et al. 2016 (20 casos – 40,8%) e Jones
et al. 2006 com 73,2% dos casos. Ao contrário, Tortorici et al. 2008 descreveu a região
de pré-molares da mandíbula (41,6%) como local de preferência.
Embora alguns autores tenham considerado o queratocisto odontogênico como um
tumor odontogênico queratocístico assim como a classificação da OMS de 2005, o
presente trabalho considera-o como cisto odontogênico, seguindo a atual classificação da
OMS recentemente publicada em 2017. Encontramos 147 casos de queratocisto
odontogênico no Laboratório de Patologia Oral desta instituição representando 12,8% dos
cistos. Nos estudos de Gaitán-Cepeda et al. 2010 foram encontrados 266 casos (20,1%),
Jones et al. 2006 encontrou 828 casos (11,6% - 30 anos de estudo), El Gehani et al. 2016
obteve 46 casos com 14,1%, Johnson et al. 2014 com 3308 casos – 12,5% (18 anos de
pesquisas), Açikgöz et al. 2012 com 15 casos (3,3%), Tortorici et al. 2008 apresentou 17
casos (1,3%) e Grossmann et al. 2007 com 7,2% (202 casos, considerando um período de
51 anos de estudo).
A idade média encontrada para queratocisto odontogênico (28,8 anos) é
semelhante ao estudo de Açikgöz et al. 2012 - 26,7% na 2ª década de vida e Grossmann
et al. 2007 que relataram maior incidência na 2ª e 3ª década de vida (59,6%). Jones et al.
2006 (41,3 anos), Açikgöz et al. 2012 (26,7% dos casos na 6ª década de vida – no mesmo
estudo) encontraram faixas etárias diferentes. Assim como Tortorici et al. 2008 com
média de idade de 39.1 e El Gehani et al. 2016 com média de idade de 36,1 anos.
20
De acordo com o gênero dos pacientes com queratocisto odontogênico, Açikgöz
et al. 2012 encontraram uma maior prevalência em mulheres (66,7%), diferente dos
resultados de El Gehani et al. 2016 que relataram maior número de casos em homens
(M:F de 1,42:1). Tortorici et al. 2008 também observaram uma discreta predileção por
homens (9 casos masculinos e 8 femininos com taxa M:F de 1,12:1), assim como
Grossmann et al. 2007 que encontraram uma maior predileção pelo sexo masculino. Jones
et al. 2006 com um índice M:F de 1,27:1, mostraram resultados similares aos nossos (82
casos em homens e 65 casos femininos, M:F de 1,26:1). A localização preferencial do
queratocisto odontogênico é a mandíbula posterior com 66 casos neste estudo, em
concordância com os dados obtidos por Grossmann et al. 2007, Jones et al. 2006 com
71,1% dos casos, Tortorici et al. 2008 (94%), Açikgöz et al. 2012 (73% dos casos) e El
Gehani et al. 2016 com 26 casos representando 56,5%.
Os cistos não-odontogênicos com maior frequência neste estudo foram o cisto do
ducto nasopalatino com 32 casos (2,8%), o cisto epidermóide com 25 casos (2,1%) e o
cisto de retenção de muco com 17 casos (1,4%).
O cisto do ducto nasopalatino foi encontrado em 32 casos (2,8%) sendo 29
pacientes adultos e 3 jovens. Açikgöz et al. 2012 encontraram 7 casos (1,5%), todos em
adultos no seu trabalho. O total de Grossmann et al. 2007 foi de 64 casos (2,2%) e Uchoa-
Vasconcelos et al. 2014 citaram um número de 31 casos (43,6%) relatados em seu estudo.
Sua idade média foi de 35,4 anos de idade neste estudo. Açikgöz et al. 2012 não relataram
a idade média dos seus pacientes acometidos pela lesão, Grossmann et al. 2007 citaram
que a 3ª e 4ª décadas de vida são as mais encontradas para esta lesão e Uchoa-Vasconcelos
et al. 2014 observaram uma idade média de 47,4 anos, idade maior do que a encontrada
pelo presente trabalho. A predileção por homens nos cistos do ducto nasopalatino está
representada na proporção M:F de 1,1:1. Açikgöz et al. 2012 obtiveram uma relação M:F
de 2,5:1, o que representa uma diferença quando comparado ao nosso estudo. Grossmann
et al. 2007 encontraram uma predileção pelo sexo masculino e Uchoa-Vasconcelos et al.
2014 descreveram homens sendo acometidos em 58% dos casos. Sua localização
preferencial foi mais comum na linha média da maxila anterior em 25 casos (78,1%) no
presente estudo, assim como descreveram Açikgöz et al. 2012 (100% dos casos) e Uchoa-
Vasconcelos et al. 2014 com 30 casos (96,7%).
Estes resultados contribuirão para a compreensão da frequência dos cistos
odontogênicos e não-odontogênicos em uma população do Rio de Janeiro. Além disso,
21
espera-se que os resultados obtidos sirvam de base para estudos futuros e ajudem os
profissionais a diagnosticarem e tratarem estas lesões da maneira apropriada.
22
6. CONCLUSÕES
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Shear, M. and Speight, P. (2007); Cysts of the Oral and Maxillofacial Regions, Fourth
Edition, Blackwell Munksgaard, Oxford, UK
2. Neville, B.W.; Damm, D.D.; Allen, C.M.; Bouquot, J.E.; Patologia Oral e Maxilofacial,
2ª edição, Guanabara Koogan, 2007, cap. 1:24-36; cap. 15:565-574.
3. Jones, A. V.; Craig, G. T.; Franklin, C. D.; Range and demographics of odontogenic
cysts diagnosed in a UK population over a 30-year period, J Oral Pathol Med (2006)
35:500-7.
4. Açikgöz, A.; Uzun-Bulut, E.; Özden, B.; Gündüz, K.; Prevalence and distribution of
odontogenic and nonodontogenic cysts in a Turkish Population, Med Oral Patol Oral Cir
Bucal, 2012; 17(1): e108-15.
5. Tortorici, S.; Amodio, E.; Massenti, M. F.; Buzzanca, M. L., Burruano, F., Vitale, F.;
Prevalence and distribution of odontogenic cysts in Sicily: 1986-2005; Journal Of
Science, Vol. 50, No. 1, 15-18, 2008.
6. El Gehani, R., Krishnan, B.; Orafi, H.; The Prevalence of Inflammatory and
Developmental Odontogenic Cysts in a Libyan Population; Libyan J Med, AOP: 75-77,
2016
7.Gaitán-Cepeda, L. A.; Quezada-Rivera, D.; Tenorio-Rocha, F.; Leyva-Huerta, E. R.;
Reclassification of odontogenic keratocyst as tumour. Impact on the odontogenic tumours
prevalence; Oral Diseases (2010) 16, 185-187.
8. Johnson, N. R.; Gannon, O. M.; Savage, N. W.; Batstone, M. D.; Frequency of
odontogenic cysts and tumours: a systematic review; Journal of Investigative and Clinical
Dentistry (2014), 5, 9-14.
9. Uchoa-Vasconcelos, A. C.; Oliveira, D. J. F.; Martelli, S. J. R.; Etges, A.; Gomes, A.
P. N.; Tarquínio, S. B. C.; Demographic profile of oral nonodontogenic cysts in a
Brazilian population, Med Oral Patol Oral Cir Bucal, 2014 Jul 1, 19(4), e308-12.
10. Grossmann, S. M.; Xavier, G. M.; Gomez, R. S.; Mesquita, R. A.; Machado, V. C.;
Moura, M. D.; Aguiar, M. C. F.; Demographic profile of odontogenic and selected
nonodontogenic cysts in a Brazilian population; Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral
Radiol Endod 2007; 104:e35-41.
11. Speight & Soluk Tekkesin, 2017
24
12. Killey, H. C.; Kay L.W.; Seward, G. R.; Benign Cystic Lesions of the Jaws, their
Diagnosis and Treatment, 3ª ed, Edinburgh and London; Churchill Livingstone, 1977
25