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BACHARELADO EM BIOMEDICINA

IASMIM LUCENA MONTEIRO


RAILYM FONSECA DE SOUSA

DOENÇA DO ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO AGUDA NO


TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO

Salvador
2017
IASMIM LUCENA MONTEIRO
RAILYM FONSECA DE SOUSA

DOENÇA DO ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO AGUDA NO


TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO

Trabalho de conclusão do curso de


biomedicina da Universidade Salvador –
UNIFACS como requisito parcial da
obtenção do título de bacharel.

Orientador: Drª Rosalina Guedes Donato


Santos

Salvador
2017
RESUMO:
Palavras-chave:

ABSTRACT:

1
Discentes do Curso de Biomedicina com habilitação em Banco de Sangue, 2017/2- Universidade Salvador –
UNIFACS/Ba.
2
Doutora em Imunologia Universidade Federal Da Bahia; Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNIRB e professora
UNIFACS Laureaute
*E-mail para contato: railymsousa@gmail.com
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ______________________________________________________
2 OBJETIVOS _________________________________________________________
Objetivo geral
Objetivos específicos
3 MATERIAL E MÉTODOS ____________________________________________
4 RESULTADOS ______________________________________________________
5 DISCUSSÃO ________________________________________________________
REFERÊNCIAS _____________________________________________________

1 INTRODUÇÃO

O transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) é um procedimento utilizado


para o tratamento de doenças hematológicas, imunológicas e neoplásicas, a qual serve
como uma alternativa para reconstruir o sistema imune do paciente, transplantando
células sadias, que possuem a capacidade de fornecer um efeito antitumoral. Essas
células podem se originar na medula óssea, no sangue periférico ou no sangue do
cordão umbilical, injetadas em pacientes imunossuprimidos (INCA, 2012).

Na prática terapêutica, a terapia com células tronco hematopoiéticas (CTH) é uma das
modalidades de terapia celular que vem apresentando grande efetividade ao longo dos
anos no tratamento de doenças malignas e benignas. O transplante de células tronco
hematopoiéticas é rotineiramente usado no tratamento de linfomas e leucemias e certas
condições não-malignas, como imunodeficiências congênitas (SILVA JR et al, 2009).

Uma das complicações que ainda se mantem no TCTH é a doença enxerto contra
hospedeiro (DECH), que ocorre em transplantes alogênicos, essa síndrome é um
resultado do reconhecimento de antígenos leucocitários humano (HLA) dos tecidos do
receptor pelas células T implantadas do doador (BALMAN et al., 2009; VIZONI et al.,
2008). Devido ser uma doença intermediada por fatores imunológicos e tem por
definição como uma enfermidade sistêmica de rápida progressão, que acomete injúria
tissular em vários órgãos como pele, fígado e intestinos (INCA, 2012).

A DECH é uma síndrome sistêmica clínica caracterizada por febre, acometimento


cutâneo, náuseas, vômitos, anorexia, diarreia e disfunção hepática e ocorre quando o
transplante é realizado por doação alogênica, histocompatíveis, por diferenças nos
antígenos de histocompatibilidade secundários (PATON; COUTINHO; VOLTARELLI,
2000).

A princípio o órgão mais comprometido na DECHa é a pele. Podendo aparecer


inicialmente com uma erupção cutânea pruriginosa ou dolorosa. Tem sido relatada como
uma forma hiperaguda da DECHa incluindo febre, eritrodermia generalizada e
descamação, evoluindo de 5-14 dias, logo após transplante (AZEVEDO, 2010).

A DECH é descrita como uma ação ocasionada principalmente de monócitos e


linfócitos T, originário do enxerto contra diferentes tecidos do organismo do receptor,
resultando em distintas manifestações de acordo com o tecido lesionado. Fora as células
envolvidas, as citocinas inflamatórias se destacam, pois são liberadas no decorrer do
regime de condicionamento. Na DECH, os mediadores inflamatórios, atuam na ativação
de células T, derivadas do doador, que produzem diferentes citocinas, conduzindo na
ação de linfócitos T efetores, linfócitos NK (Natural Killer) e fagócitos mononucleares,
acarretando ao desenvolvimento de lesão tecidual (ALEIXO, et al., 2010).

A doença pode se expressar de maneira aguda ou crônica. A doença enxerto contra


hospedeiro aguda se manifesta nas primeiras semanas após o transplante, sendo mais
frequente e severa quando os HLA não são semelhantes. Portanto, a DECH aguda
ocorre logo após a realização do transplante alogênico de células-tronco (transplante
realizado entre irmão ou familiar e não relacionado ou não aparentado). Descrita como
uma síndrome caracterizada por dermatite, hepatite e enterite, evoluindo dentro de 100
dias do procedimento cirúrgico, tendo como apresentação clínica, uma inflamação
multiorgânica. Já a DECH crônica, é uma doença ainda rara e ocorre em 30 a 50% dos
transplantes e envolve a mucosa oral, pele, fígado, trato gastrointestinal e sistema
linfoide (SÉRGIO et al., 2014; INCA, 2012).

Frente ao exposto, o estudo tem como objetivo analisar pesquisas que abordam sobre a
DECHa, evidenciando a importância do estudo, levando em consideração ainda a falta
de conhecimento por ser uma das maiores causas da morbidade dos pacientes que
realizam o TCTH.

2 OBJETIVOS

Geral
Frente ao exposto, o estudo tem como objetivo analisar pesquisas que abordam sobre a
DECHa, evidenciando a importância do estudo, levando em consideração ainda a falta
de conhecimento por ser uma das maiores causas da morbidade dos pacientes que
realizam o TCTH.

Específico
● Reconhecer as manifestações clínica que desencadeiam a doença;
● Descrever a fisiopatologia da DECHa;
● Identificar o principal método utilizado para o diagnóstico
● Apontar as melhores formas profiláticas e terapêuticas para a DECHa.

3 MATERIAL E MÉTODOS
Os artigos analisados foram apurados a partir de material já elaborado, constituído de
artigos científicos.

A coleta de dados seguiu a seguinte premissa: leitura exploratória de todo o material


selecionado (leitura rápida que objetiva verificar se a obra consultada é de interesse para
o trabalho) leitura seletiva (leitura mais aprofundada das partes que realmente
interessam); registro das informações extraídas das fontes em instrumento específico,
sobre a temática foram acessados nas bases de dados Scielo, PUBMED e MEDLINE.

Para a seleção das fontes, foram consideradas como critério de inclusão para este estudo
artigos publicados em português e inglês com resumos disponíveis nas bases de dados
selecionados, no período de 1990 a 2017, as bibliografias que abordassem sobre o
enxerto contra hospedeiro aguda e consequentemente a temática, e foram excluídas
aquelas que não atenderam a temática, relacionando com a crônica, transfusão ou outros
tipos de etiologias.

Os artigos foram selecionados levando em conta a abordagem dos descritores: doença


enxerto contra manifestações clínicas e a fisiopatologia da doença enxerto contra
hospedeiro aguda, os que abordam o melhor método de diagnóstico, formas de
profilaxia e tratamento para a doença enxerto contra hospedeiro aguda.

4 RESULTADOS
Foram inclusos 23 (100%) artigos utilizados no presente estudo, em relação ao idioma
de divulgação dos artigos 17 (74%) foram publicados em português e 6 (26%) em
inglês, disponíveis online em texto completo, com publicações aceitas nos últimos 27
anos, iniciando no ano 1990 a 2017.

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos artigos pesquisados.

Os dados da Figura 1 apresentam os artigos classificados, conforme os descritores


indicados.

5 DISCUSSÃO
Manifestações Clínicas

Através de estudos, ficou evidenciado que com o transplante de células tronco pode-se
devolver a DECH. Essa síndrome, normalmente, acontece a partir do resultado do
reconhecimento dos antígenos leucocitário humano (HLA) dos tecidos do receptor pelas
células T transplantados do doador, ou seja, a doença expressa quando células
imunocompetentes do doador atacam tecidos do receptor, por serem geneticamente
distintos, ocasionando a alta morbidade e mortalidade ainda relatada em pacientes
transplantados (AZEVEDO, 2010).

A mortalidade referente ao TCTH tem reduzido nos últimos anos, porem no transplante
alogênico ainda se existe a estimativa de 10% a 40% que vão a óbito nos primeiros 100
dias após realização do transplante e no caso de doação autóloga é de 5% a 20%,
correlacionando com a doença de base e das condições clínicas do paciente. Desta
forma, a DECH pode ser dividida em tempo de ocorrência e manifestações clínicas. Em
pacientes que manifestam a forma aguda, a doença se desenvolve no intervalo de tempo
do primeiro ao terceiro mês após transplante (NUCCI et al, 2000; INCA, 2012).

Segundo o NIH (National Institute oh Health) a DECH tem por classificação quatro
graus: leve (I), moderada (II), severa (III) e risco de vida (IV), que segue de acordo com
o acometimento agravante de cada órgão atingido, sabendo-se que o zero simboliza
nenhuma manifestação e quatro é quando o paciente está com o grau mais grave e
funcional. Os órgãos apontados para avaliação da pontuação referente ao estagio da
doença são: a pele, boca, TGI, fígado, articulações, trato genital feminino e pulmões.
Assim, são considerados pacientes de grau leve na DECH, quando um ou dois órgãos,
com exceção do pulmão, são afetados, recebendo a pontuação no máximo de 1. Já em
relação ao estágio moderado, ocorre quando pelo menos um órgão apresenta pontuação
2 ou mais de dois órgãos sofrem danos pela doença. Seguindo a classificação, a doença
considerada no estágio grave, ocorre quando qualquer órgão possua pontuação 3, ou o
pulmão possua a nota 2. Visto que, mais de 30% dos pacientes transplantados que
possuam HLA idênticos ou não aparentados desenvolvem a DECH grau II,
independente da profilaxia imunossupressora (INCA, 2012; VIZONI et al, 2008).

O estadiamento e a graduação da DECHa determinam a evolução e o prognóstico de


acordo com o acometimento dos órgãos (Tabelas 1 e 2). A graduação clínica da DECHa
é descrita baseada no estadiamento clínico, levando em consideração a porcentagem da
superfície corporal que apresenta envolvimento cutâneo, nos níveis sanguíneos de
bilirrubinas e no volume diário de diarreia (BALMAN et al., 2009).

Tabela 1 – Estadiamento da DECH aguda


GRAU PELE FÍGADO TRATO GASTRO
INTESTINAL
0 Sem “rash” cutâneo Bilirrubina < 2 Diarreia < 500 ml/dia
mg/dl
I “Rash” Bilirrubina 2 – 3 Diarreia 500 – 1000
maculopapular < mg/dl m/dia, náusea e emese
25% superfície
corporal sem outros
sintomas associados
II “Rash” Bilirrubina 3 – 6 Diarreia 1000-1500
macropapular ou mg/dl ml/dia, náusea e emese
eritema com prurido
ou outro sintoma
associado cobrindo
de 25-50%
superfície corporal
III Eritroderma Bilirrubina 6 – 15 Diarreia > 1500 ml/dia,
generalizado ou mg/dl náusea e emese
erupção vesicular
com formação de
bolhas cobrindo >
50% da área da
superfície corporal
IV Dermatite esfoliativa Bilirrubina > 15 Dor abdominal +/- íleo
generalizada ou mg/dl paralítico
dermatite
ulcerativa ou
formação de bolhas
Fonte: Adaptado de PATON et al, 2000; INCA, 2012.

De acordo com TOMBLYM et al (2009) a doença enxerto versus hospedeiro aguda


(DECHa) promove uma quebra de barreira mucocutânea que permite o surgimento de
episódios de bacteremia espontânea, infecção fúngica, relacionados por Candida sp. e
Aspergillus sp. e reativação de vírus. Tendo em vista que, as manifestações clínicas que
possuem classificação de grau I ao IV, e podem variar desde febre, diarreia, náuseas,
vômitos a ate disfagia grave, incapacitando a alimentação devido a necrose superficial
da mucosa, fazendo assim, necessária a alimentação parenteral, translocação bacteriana
intestinal, que pode levar a quadros sépticos graves por enterobactérias, assim como nos
abscessos perianais e nas fístulas.
Tabela 2- Graduação da DECH aguda
GRAU PELE FÍGADO TRATO DEBILITAMENT
GASTRO O FUNCIONAL
INSTESTINA
L
0 (nenhum) 0 0 0 0
I (leve) 1a2 0 0 0
II (moderada) 1a3 1 1 1
III (severa) 2a3 2a3 2a3 2
IV (risco de vida) 2a3 2a3 2a3 2a4

Fonte: Adaptado de INCA, 2012.

Fiosiopatologia

Segundo VIZONI et al (2008) a patogênese da DECHa é explicada através de 3 fases,


nas quais os fagócitos mononucleares e células acessorias seriam responsáveis pelo
desencadeamento de uma reação do enxerto contra o hospedeiro e pelo surgimento de
lesões teciduais do hospedeiro após a interação complexa com citocinas. Por isso, a
importancia da cascata de citocinas após o condicionamento durante a DECH esta
estabelecida na fase 1.

Para se obter a análise crítica do desencadeamento da DECH, é preciso conhecer as


fases imunopatológicas que vêm sendo estudadas (Figura 1). Na fase 1 ocorre o regime
de condicionamento do receptor ao receber o enxerto do doador, acarretando uma lesão
nos seus tecidos, incluindo a mucosa intestinal e fígado, causando a indução da secreção
de citocinas inflamatorias, sendo as mais comuns TNF-α e IL-1. A decorrência da ação
dessas citocinas são a evolução na expressão de antígenos CPH, moleculas de adesão
coestimulatórias nos tecidos do hospedeiro após o transplante alogênico, ativando o
reconhecimento dos antígenos de HLA do receptor por células T maduras do doador.
Com a liberação das citocinas, elas possuem a capacidade de induzir apoptose
endotelial, que é responsável por causar danos no trato gastrointestinal. Deste modo,
resulta na liberação de endotoxinas, como o lipopolissacarídeo (LPS), componentes
celulares de bactéria gram-negativas, que podem ser liberadas através dos danos
sofridos na mucosa e que sinaliza aos linfocitos e macrofagos presentes no intestino, a
produzirem um aumento de TNF-α e IL-1 (INCA, 2012; VIZONI et al, 2008).
Figura 1: A fisiopatologia da DECH pode ser resumida em 3 fases: I) O regime de condicionamento, efeitos da
doença básica e infecções prévias causam lesões teciduais; II) Células T do doador são ativadas por antígenos do
receptor, liberando citocinas de padrão Th1; III) Linfócitos T lisam especificamente células do receptor, enquanto
outras células citotóxicas são ativadas, inespecificamente por citocinas. Lipopolissacarídeos liberados do intestino
amplificam o processo estimulando citocinas inflamatórias (PATON et al, 2000).

Na fase 2, é caracterizada pela ativação das células T auxiliadoras do doador que se


proliferam na primeira fase, que ativam a transcriação de genes para citocinas, como a
IL-2, IFN-γ e seus receptores. Essas citocinas induzem a expansão numérica das
proprias células T, além de ativar e expandir linfócitos T, quanto as respostas das CTL e
células NK. Sob as diferenças no CPH classe I estimulam células T CD8, e diferenças
no CPH classe II estimulam células T CD4. A interação do receptor de célula T com o
peptídeo da molécula CPH inicia um sinal de estimulação para a célula T. Entretanto,
um sinal coestimulatório é também necessário para a completa estimulação da célula T,
provido por um conjunto de ligantes, dos quais os mais bem caracterizados são os
antígenos B7, nas células apresentadoras de antígenos e os receptores CD28 e CTLA-4
na célula T. Quando ativadas, as células T do doador produzem um conjunto de
citocinas do tipo TH1, principalmente IL-2 e IFN-γ, que iniciam a cascata de eventos
inflamatórios da DECH. Elas são contrabalançadas por citocinas do tipo TH2,
principalmente IL-4 e IL-10, e por diversos tipos de células T supressoras. A proporção
entre células T reativas, incluindo as TH1, e supressoras, incluindo as TH2, pode
controlar a frequência e intensidade da DECH (HO; GLIMCHER, 2002; INCA, 2012;
VIZONI, S. L. et al., 2008).

Na fase 3, as funções efetoras de fagócitos mononucleares são induzidas pela ação


direta de IFN- γ e via um sinal secundário, provido de LPS, liberados da mucosa
intestinal durante a fase 1. Os LPS podem ativar de maneira consecutiva os linfócitos e
macrófagos associados à mucosa intestinal. Na pele, os LPS podem ainda estimular
queratinócitos, fibroblastos e macrófagos a produzirem citocinas pró-inflamatórias,
IFN- γ e outros mediadores, como o óxido nítrico (ON) e Fas. A vista disso, devido ao
aumento do apoptose conduzido por Fas, o IFN- γ executa um importante papel na
regulação da morte celular das células T ativadas do doador (JAKSCH et al, 2005;
VIZONI et al, 2008).

Vários estudos mostram que na DECHa, a expressão de Fas quanto a de FasL (Fas
Ligante) se encontram aumentadas nas células T CD4 e CD8, oriundas dos doadores,
onde os níveis séricos dessas moléculas solúveis estão correlacionados com a gravidade
severa da doença. Por outro lado, linfócitos T citolíticos (CTLs) CD4 utilizam a via
Fas/FasL, enquanto CTLs CD8 usam a via perfurina/granzima, possuem a capacidade
de induzir a DECH aguda. Isso sugere que, o TNF-α pode produzir necrose ou apoptose
pela via do Fas, e, juntamente com a IL-1, IL-6 e IL-8, pode ser um importante
mediador da desnutrição, febre e outras manifestações inflamatórias da DECH. Sendo
importante salientar que, um dos tratamentos para a DECHa é a administração de
anticorpos antiTNF, afim de bloquear sua atividade (JAKSCH et al, 2005; VIZONI et
al, 2008).

Diagnóstico

O diagnóstico da DECH baseia-se nas manifestações clínicas e na comprovação


histológica da doença, não é a presença de sintomas do TCTH que determinam se a
DECH é aguda ou crônica (FUNKE; MOREIRA; VIGORITO, 2016).

O diagnóstico e gerenciamento da doença é realizado através de biopsias cutâneas


obtidas nas primeiras semanas após o transplante, e geralmente, apresentam alterações
decorrentes da toxicidade do regime de condicionamento e de reações a outras drogas,
não se diferenciando das alterações da DECH apresentando, portanto, pouco valor
diagnóstico. Degeneração vacuolar de queratinócitos, com infiltrado linfocitário que
pode progredir para disceratose, necrose da camada basal, acantólise e epidermólise são
algumas das alterações na pele típicas da DECHa. Apenas em suspeitas de DECH
hepática isolada é realizada a biopsia hepática para diferenciação de hepatopatias
infecciosas, tóxicas ou medicamentosas. O epitélio dos ductos biliares é um dos
principais alvos da DECHa, por apresentarem apoptóticas com vacuoalização
citoplasmática, envolvidas por infiltração linfocitária. Os estágios da DECHa mais
avançados apresentam necrose hepatocelular. No trato gastro instestinal a apoptose do
epitélio das criptas, com infiltração linfocitária, pode progredir para o desparecimento
das criptas e descamação do epitélio nos casos mais graves da DECHa (PATON;
COUTINHO; VOLTARELLI, 2000).

Diagnóstico diferencial deve ser feito com reações cutâneas da quimioterapia ou


radioterapia, farmacodermias e mesmo apresentando algumas infecções virais, os
sintomas clínicos e os aspectos histológicos não são específicos. O envolvimento
extracutâneo pode útil na diferenciação (SILVA; BOUZAS; FILGUEIRA, 2005).

Embora SOCIE et al (2004) tenha descrito que as biópsias são desprovidas de


sensibilidade e especificidade, quando apresentam resultado positivo elas podem ser
utilizadas para a comprovação do diagnóstico, mesmo apresentando manifestações
clínicas não específicas, prevendo resultados e conduzindo a terapia imunossupressiva.

Profilaxia e Tratamento

Conhecer e identificar as complicações do TCTH, de forma rápida, permite ao paciente


receber um tratamento eficiente, possibilitando uma melhor qualidade de vida (BOCHI
et al, 2007)

A primeira prática para prevenir o desenvolvimento da DECH é minimizar os fatores de


risco o mais breve possível. O padrão de profilaxia para a DECHa é a utilização de
ciclosporina (CSA), metotrexato (MTX), tacrolimus (FK506) micofenolato mofetil
(MMF) por seis meses em transplantes alogênicos de medula óssea (AZEVEDO, 2010;
BALMAN et al., 2009).

CHAVES et al (2008) desenvolveu um estudo utilizando a talidomida associada à


ciclosporina para a profilaxia da rejeição de aloenxertos cutâneos. As combinações de
talidomida com doses subterapêuticas de ciclosporina resultaram na sobrevida do
aloenxerto em comparação com a dose habitual de ciclosporina utilizada em
transplantes. Este estudo certifica a possibilidade da talidomida atuar sinergicamente ou
intensificar a função da ciclosporina.

Segundo TABAK et al (2000a) alguns estudos demonstraram a vantagem da


combinação do metrotrexato (MTX) e a ciclosporina (CSA) na profilaxia da DECHa
repercurtindo em uma maior sobrevida em pacientes transplantados nas primeiras fases
da doença.

O uso da tacrolimus para prevenção de DECHa tem sido amplamente avaliado na


população adulta em transplantes medula, mas seu efeito em pacientes pediátricos é
desconhecido. De acordo com PRZEPIORKA et al (1999) o estudo demonstrou que o
esquema utilizado nos adultos também era apropriado para pacientes pediátricos.

A profilaxia inclui: a) doador de maior compatibilidade; b) o tratamento


imunossupressor do recipiente pós-transplante; c) depleção das células T do enxerto; d)
a redução de intensidade do condicionamento. A escolha do doador é feita através da
análise de compatibilidade entre os antígenos de histocompatibilidade (HLA) e também
se baseia na escolha do doador do mesmo sexo, evitando doadores do sexo feminino
para receptores do sexo masculino (PATON; COUTINHO; VOLTARELLI, 2000).

Os pacientes que apresentam DECH aguda, os sintomas evoluem durante a profilaxia


com imunossupressores. O tratamento inicial para DECHa consiste na adição de
glicocorticoides sistêmicos que são utilizados como tratamento de primeira linha ou
terapia primária (COURIEL et al, 2004; BALMAN et al, 2009). Os glicocorticoides
monitoram efetivamente manifestações inflamatórias associadas a DECHa em
necessidade de interações com drogas imunossupressoras, podendo o tratamento ser
possivelmente interrompido. A escolha da terapia primária para a DECHa divide-se em
duas etapas: (1) pacientes com diagnóstico de DECHa devem receber metilprednisolona
ou prednisona dose padrão de 2 mg/kg por dia, tratamento agressivo para evitar
progressão para forma grave da DECHa; (2) tratamento com doses menores de
glicocorticoides podem assegurar o controle clínico de formas mais brandas da DECH.
Pacientes que apresentam variações de formas brandas a formas graves de DECHa,
podem ser inicialmente tratados com doses baixas de glicocorticoides sistêmicos em
combinação com dipripionato de beclometasona (BDP), indicaram níveis baixo de falha
no tratamento e níveis elevados de sobrevida do que aqueles que receberam menores
concentrações de glicocorticoides de forma isolada (BALMAN et al., 2009).
Adicionando outros fármacos imunossupressores para esteroides não melhora o
resultado do tratamento para aumentar o risco de complicações infecciosas.
Aproximadamente 40% dos pacientes com DECHa respondem a terapia com
corticosteroides, entretanto a maioria dos pacientes têm manifestações persistentes ou
DECH progressiva. A DECHa esteroide-resistente é extremamente difícil de gerir está
associada à morte em mais de 70% dos pacientes (COURIEL et al, 2004).

Para o tratamento de segunda linha ou terapia secundária os anticorpos monoclonais tais


como daclizumab, visilizumab, infliximab e alemtuzumab têm sido avaliados no
tratamento e na prevenção da DECHa (INCA, 2012).

Figura 2 – Fluxograma do tratamento da doença do exerto-contra-hospedeiro aguda após o seu


diagnóstico (Dia 0). Primeira linha de tratamento consiste na administração de MP 2 mg/kg/dia. No Dia 7,
se não houver resposta do paciente, é iniciada uma segunda linha de tratamento, na qual, além da MP
continuada, são associadas uma ou mais terapias (INCA, 2012).

Os anticorpos monoclonais são os agentes mais amplamente utilizados. Existe uma


considerável experiência com globulina antitimócitica (ATG), que tem sido usada por
mais de 30 anos. A globulina antitimócitica tem sido a forma mais comum de
imunossupressão. Juntamente com linfócitos T circulantes, a ATG age provocando
linfopenia e diminuição das respostas imunológicas das células T. ATG pode estar
associada com reações febris aguda, hipotensão, trombocitopenia, em casos raros
reações anafiláticas. Em pacientes previamente tratados intensivamente com ATG pode
conduzir ao desenvolvimento de desordens linfoproliferativas no pós-transplante
(geralmente associadas ao vírus Epstein-Baar [EBV]). No entanto, cerca de 20% a 50%
dos pacientes apresentam melhoras após a administração do ATG, e respostas de
DECHa cutânea foram observadas em 60% a 75% dos pacientes (DEEG, 2007).

A daclizumab é um anticorpo monoclonal humanizado que atua contra a subunidade


alfa (CD25) do receptor de interleucina 2 (IL-2) das células T ativadas e inibe a resposta
da proliferação T a aloantígenos no modelamento dose-dependente (SANTOS et al,
2006). O alemtuzumab (também conhecido como compath-I) é um anticorpo
monoclonal anti-CD52 muito utilizado para depleção de células T. Como anticorpo é
reativo contra linfócitos T e B, o risco de transtornos linfoproliferativos relacionados ao
EBV é baixo. Entretanto, dependendo das doses utilizadas o risco de infecções de
etiologia viral, parece ser elevado (DEEG, 2007; BALMAN et al, 2009). O infliximab é
um anticorpo (IgG1) monoclonal quimérico anti-fator de necrose tumoral alfa
(anti-TNF-α) inibindo atividades biológicas do TNF-α pelo bloqueio da interação dessas
moléculas com seus respectivos receptores (SANTOS et al, 2006). Foram obtidas boas
respostas também com o anticorpo humanizado visilizumab (HuM291), dirigido à
cadeia ε CD3 invariante do receptor de células T induz seletivamente a apoptose das
células T ativadas, afetando a fase efetora na patogenia da DECHa (DEEG, 2007).

Em alguns casos a DECHa continua afetando consideravelmente a sobrevida de


pacientes transplantados, um exemplo são os pacientes que utilizam o TCTH para
tratamento de leucemias. De acordo com TABAK (2000b) diversas tentativas foram
feitas no sentido de modificar o equilíbrio DECH x recidiva, dado que uma redução na
taxa da DECH constantemente resulta em uma taxa elevada de recaídas.
REFERÊNCIAS

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