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DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA – UFRN

CONCURSO PÚBLICO PARA PROFESSOR EFETIVO


CLÍNICA INTEGRADA/ PERIODONTIA – 25/11/2013

Número do candidato

1. Segundo dados do último levantamento nacional em Saúde Bucal (SB


Brasil, 2010), o percentual de indivíduos sem nenhum problema
periodontal foi 68% para a idade de 12 anos, 51% na faixa etária de 15 a
19 anos, 17% para os adultos entre 35 e 44 anos e 1,8% para os idosos.
Essas informações ajudam na elaboração de estratégias de
implementação de métodos preventivos e educacionais. Dentro das
diretrizes de prevenção de doenças bucais recomenda-se a terapia
básica periodontal. Qual o conceito de terapia básica periodontal em
saúde pública e defina os grupos de ações estratégicas para prevenção
e promoção de saúde em periodontia. Fundamente sua resposta à luz
da ciência.

2. A patogênese das doenças periodontais envolve mecanismos de


interação entre a agressão da microbiota e o processo imune inato e
adaptativo do hospedeiro. Explique aspectos sobre a resposta imune
inata que ocorre na região do periodonto marginal. Fundamente sua
resposta à luz da ciência.

3. Didaticamente, pode-se dividir a terapia periodontal em três fases: (1)


terapia inicial; (2) fase corretiva (cirurgias periodontais e outras
especialidades) e (3) terapia de suporte. Descreva os procedimentos
que o periodontista deve realizar em um indivíduo adulto, diagnosticado
com periodontite crônica, para alcançar o sucesso no tratamento da
doença periodontal deste paciente. Fundamente sua resposta à luz da
ciência.
4. Os implantes osseointegrados revolucionaram o tratamento reabilitador
de pacientes parcial e totalmente edêntulos. Apesar do sucesso dos
implantes, complicações podem ocorrer, dentre as quais a peri-
implantite e mucosite peri-implantar. Explique o conceito dessas
doenças peri-implantares, incluindo etiologia, patogênese e métodos de
tratamento utilizados. Fundamente sua resposta à luz da ciência.

5. O diagnóstico periodontal tem sido baseado em uma avaliação de sinais


e sintomas clínicos de doença. Embora a descrição de sinais e sintomas
esteja presente nas muitas classificações de doenças periodontais já
propostas, existe a falta de um critério “operacional” para a definição de
“casos” de doença. Faça um comentário sobre o impacto da falta de um
critério diagnóstico universal para definição de “caso” nos estudos
epidemiológicos em Periodontia.

6. O tratamento das doenças periodontais tem como base principal a


natureza infecciosa das mesmas. Apesar de controvérsias, existem
evidências científicas para suportar o uso sistêmico de antimicrobianos
no tratamento de doenças periodontais destrutivas. Em quais situações
clínicas o uso terapêutico de antimicrobianos sistêmicos está indicado?
Justifique sua resposta.

7. O conceito de modulação do hospedeiro é relativamente novo na


Odontologia, mas é mais amplamente aplicado em algumas áreas da
Medicina no manejo de desordens crônicas destrutivas. Quais as bases
racionais para o uso das terapias de modulação da resposta do
hospedeiro no tratamento das periodontites?

8. O tratamento convencional das doenças periodontais destrutivas


paralisa a sua progressão, mas geralmente não recupera os tecidos
perdidos. Entretanto, as terapias periodontais regenerativas tem o intuito
de formar novo osso, cemento e ligamento periodontal. Quais os
principais fatores que afetam o prognóstico dos resultados clínicos das
terapias periodontais regenerativas?
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Ficha de Expectativa de Resposta da Prova Escrita
Departamento Acadêmico ou DEPARTAMENTO DE
ODONTOLOGIA
Unidade Acadêmica Especializada

CLÍNICA INTEGRADA/ PERIODONTIA


CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PARA TODAS AS QUESTÕES

 Clareza e propriedade no uso da linguagem;


 Coerência e coesão textual, com uso correto da Língua Portuguesa;
 Domínio dos conteúdos, evidenciando a compreensão dos temas objeto da prova;
 Domínio e precisão no uso de conceitos;
 Coerência no desenvolvimento das ideias e capacidade argumentativa.

Questão 01: (Valor 0,00 a 1,00 pt).

- Definição do conceito de terapia básica periodontal: um conjunto de


procedimentos terapêuticos que visam eliminar o biofilme microbiano
visando o controle, manutenção e monitoramento contínuo da saúde
periodontal.
- Definir os grupos de ação: (1) estratégia de ação precoce, (2)
Estratégia de alto risco e (3) estratégia populacional.
- Estratégia de ação precoce: baseada no diagnóstico precoce da
gengivite para prevenir a ocorrência de casos mais graves de doença
periodontal. Tem como prioridade faixa etária mais jovem.
- Estratégia de alto risco: tratamento de grupos de alto risco para
desenvolver doença periodontal como indivíduos portadores do HIV,
diabéticos e gestantes.
- (3) estratégia populacional, aplicação de medidas preventivas e de
promoção de saúde para toda a população. Toda a comunidade se
beneficia e reduz o risco do indivíduo se inserir no grupo de alto risco.
As estratégias populacionais estão baseadas na redução do biofilme
microbiano.
* PEREIRA, AC. Saúde coletiva: métodos preventivos para doenças bucais.
São Paulo: Artes Médicas, 2013.
SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais /
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância
em Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012.

Questão 02: (Valor 0,00 a 1,00 pt).

- Definição de resposta imune inata.


- A importância do sulco gengival e epitélio juncional como barreira
epitelial e dos constituintes do fluido do sulco gengival sobre a
colonização de patógenos na região subgengival.
- A indução do processo inflamatório pelo biofilme microbiano;
- Eventos vasculares e celulares da resposta inflamatória e as
alterações estruturais observadas no periodonto (lesão inicial, precoce,
estabelecida e avançada)
* CARRANZA JR, AF; NEWMAN, MG; TAKEI,T. Periodontia Clínica. 11/12
ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2012.
* LINDHE, J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral. 5 ed. Rio
de Janeiro. Guanabara Koogan. 2010.
* Host-parasite interactions in periodontitis: microbial pathogenicity and innate
immunity. Amano A. Periodontol 2000. 2010 ;54:9-14.

Questão 03: (Valor 0,00 a 1,50 pts).

- Conceituar as fases do tratamento periodontal: terapia inicial; fase


corretiva e terapia de suporte.
- Descrever os procedimentos a serem realizados em cada fase do
tratamento
- Terapia inicial: remoção de depósitos microbianos mineralizados e não
mineralizados, por meio de sessões de raspagem e alisamento
coronoradicular, tratamento químico (sistêmico/local) e motivação do
paciente.
- Fase corretiva: planejada e executada após a avaliação dos resultados
da fase inicial do tratamento e, inclui diferentes modalidades de
cirurgia periodontal, cuja a indicação vai depender da sequela da
doença no periodonto. Neste momento, outras especialidades podem
atuar, como endodontia e ortodontia.
- Terapia de suporte: definida de acordo com a análise de risco do
paciente a doença periodontal.
 CARRANZA JR, AF; NEWMAN, MG; TAKEI,T. Periodontia Clínica.
11/12 ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2012.
 LINDHE, J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral. 5 ed.
Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2010.

Questão 04: (Valor 0,00 a 1,50 pts).

- Definição de peri-implantite e de mucosite peri-implantar, descrevendo


as diferenças entre estas complicações e métodos de diagnóstico
utilizados: clínicos (profundidade de sondagem, sangramento a
sondagem/supuração, mobilidade) e de imagem.
- Diferenciar da remodelação óssea inicial após a instalação do
implante.
- Etiopatogênese: mucosite peri-implantar é um processo inflamatório
similar a gengivite e o biofilme microbiano desempenha um papel
importante no inicio e progressão da doença. A peri-implantite é
semelhante a periodontite e ocorre como resultado da agressão da
microbiota e subsequente resposta imune do hospedeiro. Apesar da
semelhança com infecções periodontias, sinais clínicos e radiográficos
de destruição tecidual são mais pronunciados na peri-implantite.
Aspectos anatômicos podem explicar esta diferença de severidade ao
redor dos implantes. Fatores de risco também devem ser
considerados na patogênese das infecções peri-impalntares, como
tabagismo e diabetes.
- Tratamento: indicação de terapias não cirúrgica e cirúrgica.

 LINDHE, J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral. 5 ed.


Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2010.
 Esposito M, Grusovin MG, Worthington HV. Treatment of peri-
implantitis: what interventions are effective ? A Cochrane systematic
review. Eur J Oral Implantol. 2012;5 Suppl:S21-41.
 American Academy of Periodontology. Peri-implant mucositis and peri-
implantitis: a current understanding of their diagnoses and clinical
implications. J Periodontol 2013;84: 436-443.

Questão 05: (Valor 0,00 a 1,00 pts).

- Discutir a diversidade de critérios em relação as combinações e limiares de


profundidade de sondagem, perda de inserção e número de dentes/sítios
exigidos.
- Discutir o impacto da falta de um critério universal na comparação de
estudos, na comparação das taxas de prevalência, nas associações de risco
em medicina periodontal.
O instrumento fundamental da epidemiologia periodontal é uma medida da
ocorrência da doença. A diversidade de medidas para avaliar a condição
periodontal ou doença periodontal é alta. Para a definição de “casos” de
periodontite diferentes critérios têm sido propostos por diferentes autores.
Estes critérios apresentam variações na extensão (número de dentes e/ou
sítios afetados) e na gravidade (limiar de perda de inserção e/ou
profundidade de sondagem). Como resultado da falta de um critério universal
pra definição de doença, torna difícil até mesmo avaliar se a prevalência da
doença periodontal destrutiva está aumentando, diminuindo ou
permanecendo constante. Esta falta de homogeneidade nos critérios dificulta
a comparação de estudos, a comparação das taxas de prevalência, além de
ter impacto direto nas associações de risco e sua magnitude.
 Carranza Jr AF; Newman MG; Takei T. Periodontia Clínica. 11 ed. Rio
de Janeiro. Guanabara Koogan. 2011.
 Demmer RT, Papapanou PN. "Gum bug, leave my heart alone!"--
epidemiologic and mechanistic evidence linking periodontal infections
and atherosclerosis. Kebschull M, J Dent Res. 2010 Sep;89(9):879-
902.
 Demmer RT, Papapanou PN. Epidemiologic patterns of chronic and
aggressive periodontitis. Periodontol 2000. 2010 Jun;53:28-44.
 Baelum V, López R. Periodontal disease epidemiology - learned and
unlearned? Periodontol 2000. 2013 Jun;62(1):37-58.

Questão 06: (Valor 0,00 a 1,00 pts).


- Citar as principais situações clínicas para o uso de antibióticos sistêmicos
no tratamento das periodontites
- Justificar e discutir, com base em evidências, esta indicação.
Situações clínicas onde o uso da antibioticoterapia sistêmica está indicada:
*Periodontites agressivas
*Casos refratários, principalmente generalizados – com perda contínua de
inserção após terapia mecânica convencional (obs: casos refratários
localizados ou recorrências localizadas da doença podem ser tratados com
aplicação local de antibióticos)
*Periodontite crônica avançada (embora controversos, alguns estudos tem
mostrado benefícios adicionais em longo prazo da antibioticoterapiasistêmica
para estabilização da condição periodontal de casos avançados)
Justificativas:
*Possível associação destas condições com patógenos específicos mais
virulentos, difíceis de serem controlados/eliminados com terapia mecânica
convencional isolada
*Possível associação destas condições com deficiências específicas na
resposta do hospedeiro
*A antibioticoterapia sistêmica coadjuvante pode melhorar o efeito da terapia
convencional nestas situações, sobretudo provendo um benefício adicional
em bolsas profundas e reduzindo a necessidade de terapia adicional
cirúrgica.
 Carranza Jr AF; Newman MG; Takei T. Periodontia Clínica. 11 ed. Rio
de Janeiro. Guanabara Koogan. 2011.
 Lindhe J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral. 5 ed.
Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2010.
 Systemic antibiotics in periodontal therapy. Heitz-Mayfield LJ. Aust
Dent J. 2009 Sep;54 Suppl 1:S96-101.

Questão 07: (Valor 0,00 a 1,50 pts).


- Caracterizar e discutir o processo inumoinflamatório na etiopatogênese das
periodontites.
- Discutir a ação das terapias de modulação do hospedeiro na
etiopatogênese das periodontites.
As periodontites são caracterizadas por uma resposta imunoinflamatória
frente a presença da agressão microbiana no sulco gengival. A resposta do
hospedeiro é responsável pela maior parte da destruição periodontal que
ocorre. O equilíbrio entre a destruição periodontal (doença) e a estabilidade
periodontal (saúde) é deslocado para a doença pela produção excessiva de
enzimas e citocinas inflamatórias e sobreatividade de aspectos
imunoinflamatórios da resposta do hospedeiro. Evidências do papel das
metaloproteinases da matriz, citocinas e mediadores inflamatórios na
patogênese das periodontites colocam estes como alvos viáveis para
abordagens quimioterápicas. Assim, as terapias de modulação do hospedeiro
constituem um meio de tratar o lado do hospedeiro da interação entre
bactéria e hospedeiro. As terapias de modulação do hospedeiro oferecem a
oportunidade de modular ou reduzir esta destruição por controlar os aspectos
da resposta inflamatória; elas não “desligam” os mecanismos de defesa
normal, ao contrário, controlam os processos inflamatórios excessivos ou
patologicamente elevados e aumentam, assim, as oportunidades para a
cicatrização e estabilidade periodontal.
As terapias de modulação do hospedeiro podem:
 reduzir níveis enzimáticos, de citocinas e prostanóides excessivos
 modular a função osteoclástica e osteoblástica
 aumentar níveis de mediadores protetores ou antiinflamatórios
O uso da modulação do hospedeiro como coadjuvante no tratamento das
periodontites pode ser particularmente útil em pacientes susceptíveis de alto
risco nos quais a prolongada e excessiva resposta a presença de patógenos
promove a atividade de metaloproteinases e osteoclastos.
 Carranza Jr AF; Newman MG; Takei T. Periodontia Clínica. 11 ed. Rio
de Janeiro. Guanabara Koogan. 2011.

Questão 08: (Valor 0,00 a 1,50 pts).


a) – Citar os principais fatores gerais e locais que afetam o prognóstico das
técnicas regenerativas
b) Fatores relacionados ao paciente
*Infecção periodontal (a regeneração não trata a periodontite. Por essa razão
um tratamento periodontal apropriado deve sempre estar completo antes das
técnicas regenerativas serem aplicadas. Evidências mostram que controle de
placa deficiente, altos níveis de sangramento a sondagem e persistência de
altas taxas de patógenos específicos tem sido associados, de forma dose-
dependente, a resultados clínicos desfavoráveis);
*Tabagismo (estudos mostram que tabagistas exibem piores resultados em
comparação a não tabagistas, com redução nos ganhos do nível de inserção,
apresentando um efeito dose-dependente);
*Idade
*Cooperação e motivação - características comportamentais
*Condições sistêmicas (diabetes não controlado ou instável, altos níveis de
estresse, doenças graves, dentre outros.)
c) Fatores relacionados ao defeito periodontal:
*Tipo do defeito (defeitos supra-ósseos - ou horizontais – o componente
supracristal de defeitos infraósseos ou lesões de furca classe III não pode ser
tratados com previsibilidade com técnicas atuais disponíveis; defeitos infra-
ósseos e lesões de furca classe II apresentam melhor prognóstico)
*Morfologia do defeito (o número de paredes ósseas remanescentes, bem
como a profundidade e a largura do componente infra-ósseo do defeito
influenciam o prognóstico e o ganho de inserção clínica – quanto maior o
número de paredes, e maior a profundidade, melhor o prognóstico / quanto
maior a largura do defeito, pior o prognóstico)
d) Fatores relacionados ao dente:
*Hipermobilidade dental grave e não controlada
 Carranza Jr AF; Newman MG; Takei T. Periodontia Clínica. 11 ed. Rio
de Janeiro. Guanabara Koogan. 2011.
 Lindhe J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral. 5 ed.
Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2010.

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