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MEDICINA PERIODONTAL EBOOK 1ª EDIÇÃO


SAÚDE PERIODONTAL E SISTÊMICA

Preprint · December 2023


DOI: 10.13140/RG.2.2.34241.33123/1

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6 authors, including:

Giovanna Denuncio Sandy Lima Araújo


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Nidia Castro dos Santos


Universidade Guarulhos
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1ª EDIÇÃO

EBOOK

MEDICINA
PERIODONTAL
SAÚDE PERIODONTAL E SISTÊMICA

FELIPE MAZZINI
FERNANDA COLOMBO
GIOVANNA DENUNCIO
JOÃO PAULO ROCHA
SANDY ARAÚJO
NÍDIA CASTRO
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

Introdução____________________________________________________ 3
Diabetes mellitus e doença periodontal__________________ 5
Doenças cardiovasculares e doença periodontal________ 8
Gestação e doença periodontal___________________________ 10
SUMÁRIO

Doenças neurodegenerativas e doença periodontal___ 13


Câncer e doença periodontal______________________________ 16
Conclusão____________________________________________________ 19
Referências __________________________________________________ 20
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

Somos alunos de Mestrado do Programa de Pós-


graduação em Odontologia - Área de Periodontia - da
Universidade Guarulhos (UNG). Nosso objetivo com
esse e-book é apresentar conceitos de Medicina
Periodontal a profissionais da saúde. Ao longo do
texto, nós relatamos como as doenças periodontais
podem se relacionar a condições sistêmicas,
fornecendo evidências sobre mecanismos biológicos
e aspectos clínicos das doenças. Assim, oferecemos
PREFÁCIO

insights sobre um campo que desempenha um papel


fundamental na saúde bucal e geral.

Felipe Mazzini Silva Vilela


Graduado em Odontologia - UNG
Mestrando em Periodontia - UNG

Fernanda Santos Colombo


Graduada em Odontologia - UNG
Especialista em Endodontia - UNG
Especialista em Periodontia - APCD
Mestranda em Periodontia - UNG

Giovanna Denuncio
Graduada em Odontologia - UNINOVE
Especialista em Implantodontia - APCD
Especialista em Periodontia - ABO
Mestranda em Periodontia - UNG

João Paulo Antunes Rocha


Graduado em Odontologia - UFMG
Especialista em Periodontia - NUCLEO/BH
Mestrando em Periodontia - UNG

Sandy Lima Araújo


Graduada em Odontologia - UNG
Mestranda em Periodontia - UNG

Profa. Dra. Nidia Castro dos Santos


Graduada em Odontologia - UNESP
Especialista em Periodontia - APCD
Mestre em Microbiologia e Imunologia - UNESP
Doutora em Periodontia - UNESP e Forsyth Institute
Pós- doutorado em Periodontia - UNG
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

INTRODUÇÃO

A periodontia é uma especialidade odontológica destinada ao estudo


dos padrões de normalidade dos tecidos ao redor dos dentes, bem
como as alterações patológicas que lhes afetam, e os devidos
tratamentos. O periodonto, de forma didática, pode ser divido em
periodonto de proteção e periodonto de sustentação. O periodonto de
proteção é compreendido pela gengiva, possui a função de isolar o
periodonto de sustentação do meio externo, além de resistir às forças
que incidem nesse tecido durante o processo fisiológico da mastigação.
Por outro lado, o periodonto de sustentação é constituído pelo
ligamento periodontal, osso alveolar e cemento; em seu conjunto, esses
elementos auxiliam na fixação do elemento dentário ao processo
alveolar permitindo que os dentes cumpram sua função durante o
processo digestório (1).

As doenças periodontais são alterações patológicas que afetam esses


tecidos, tornando-os incapazes de exercerem suas funções
corretamente. Dentre elas, destacam-se a gengivite e a periodontite. A
gengivite é caracterizada pela inflamação do periodonto de proteção, ou
seja, do tecido gengival. Em contrapartida, a periodontite é caracterizada
como a inflamação e destruição dos tecidos que formam o periodonto
de inserção - ligamento periodontal, osso alveolar e cemento (2).

A inflamação na doença periodontal é uma resposta imunológica


complexa desencadeada pela interação entre biofilme dental e o
hospedeiro. A patogênese começa com a colonização bacteriana na
superfície dental, formando a placa bacteriana. A presença de bactérias
periodontopatogênicas desencadeia uma cascata de eventos
imunoinflamatórios, mediados por citocinas, quimiocinas e células do
sistema imunológico. A ativação de células residentes e infiltrantes
culmina na liberação de enzimas destrutivas e mediadores pró-
inflamatórios, comprometendo a integridade do tecido gengival,
ligamento periodontal e osso alveolar.
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

INTRODUÇÃO

A inflamação crônica sustentada resulta em remodelação tecidual


patológica, incluindo perda de inserção, formação de bolsas periodontais
e eventualmente reabsorção óssea, manifestando-se clinicamente como
sangramento e secreção purulenta, recessão gengival e mobilidade
dentária.

O entendimento aprofundado da patogênese é crucial para


desenvolver estratégias de intervenção precisas e terapias que visem
mitigar o curso dessa doença (2,3).

A relação entre condições sistêmicas e periodontia tem sido cada vez


mais reconhecida devido às interações complexas entre saúde bucal e
bem-estar geral. Uma série de alterações sistêmicas, como diabetes,
doenças cardiovasculares e distúrbios imunológicos, demonstrou
influenciar a saúde periodontal e vice versa. A inflamação crônica
característica da doença periodontal pode desencadear respostas
inflamatórias sistémicas, potencialmente exacerbando as alterações
supracitadas. Por outro lado, as alterações sistêmicas comprometem a
resposta imunológica do hospedeiro, influenciando a suscetibilidade à
doença periodontal e sua progressão. A compreensão dessas
interconexões é essencial para uma abordagem holística da saúde,
destacando a importância da colaboração interdisciplinar entre
profissionais de saúde bucal e médicos, visando não apenas a saúde
oral, mas também contribuindo para a promoção do bem-estar geral do
paciente.

FIGURA 1: PATOBIONTES
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DIABETES MELLITUS E DOENÇA


PERIODONTAL

No contexto brasileiro, o diabetes apresenta uma incidência e


prevalência significativas, representando um desafio substancial para a
saúde pública do país. De acordo com dados do Ministério da Saúde,
estima-se que mais de 13 milhões de brasileiros vivam com diabetes,
sendo que a prevalência varia conforme faixa etária e região geográfica.
O diabetes tipo 2 predomina, correspondendo a cerca de 90% dos casos
diagnosticados, e está frequentemente associado a fatores de risco
como obesidade, sedentarismo e histórico familiar da doença. A
crescente urbanização, mudanças nos padrões alimentares e estilo de
vida têm contribuído para o aumento constante desses números,
ressaltando a necessidade de estratégias abrangentes de prevenção,
rastreamento e controle para mitigar os impactos do diabetes na
população brasileira (Ministério da Saúde).

A interação complexa entre a periodontite e o diabetes tem sido alvo de


crescente atenção na comunidade médica e odontológica. Ambas as
condições são influenciadas por fatores imunológicos e inflamatórios, e
suas conexões vão além do mero acaso (3). A periodontite, uma doença
inflamatória crônica das estruturas de suporte dos dentes, e o diabetes,
uma disfunção metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose
no sangue, compartilham vias fisiopatológicas que podem exacerbar
mutuamente seus efeitos (2).

A inflamação desempenha um papel central na interação entre


periodontite e diabetes. Indivíduos com diabetes mal controlado
frequentemente exibem uma resposta imunológica deficiente, tornando-
os mais suscetíveis a infecções, incluindo as periodontais. Por outro lado,
a periodontite pode levar a um aumento da inflamação sistêmica,
afetando os níveis de glicose no sangue e a resistência à insulina em
pacientes diabéticos. Esta bidirecionalidade da influência inflamatória
cria um ciclo de feedback que agrava as duas condições. Logo, um
controle efetivo do quadro periodontal poderia auxiliar no controle
glicêmico dos pacientes (4).
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DIABETES MELLITUS E DOENÇA


PERIODONTAL

Além disso, a periodontite pode agravar a progressão do diabetes


através de mecanismos adicionais. A inflamação oral crônica induzida
pela periodontite pode levar à disfunção endotelial, contribuindo para
complicações vasculares observadas no diabetes, como a aterosclerose.
Adicionalmente, a presença de bactérias patogênicas na cavidade oral,
característica da periodontite, pode contribuir para o aumento da
resistência à insulina, prejudicando o controle glicêmico (5).

A abordagem multidisciplinar para o tratamento dessas condições


interconectadas é crucial. Profissionais de saúde devem trabalhar em
conjunto para otimizar o controle glicêmico em pacientes diabéticos, ao
mesmo tempo em que monitoram a saúde periodontal. A educação dos
pacientes sobre a relação entre periodontite e diabetes é fundamental,
incentivando a adesão a uma higiene oral rigorosa e exames
odontológicos regulares. Além disso, a pesquisa continua a investigar
terapias que visam interromper o ciclo inflamatório compartilhado entre
essas condições, com o potencial de melhorar os resultados clínicos em
pacientes afetados.

Em resumo, a interação entre periodontite e diabetes é um campo de


estudo em constante evolução, revelando conexões profundas entre
inflamação, imunidade e metabolismo. O reconhecimento da influência
mútua entre essas condições reforça a importância da colaboração entre
profissionais de saúde e destaca a necessidade de intervenções precoces
e preventivas para preservar tanto a saúde oral quanto sistêmica.
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DIABETES MELLITUS E DOENÇA


PERIODONTAL

FIGURA 2 E 3: INTERRELAÇÃO ENTRE PERIODONTITE E DIABETES


Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DOENÇAS CARDIOVASCULARES E
DOENÇA PERIODONTAL

As doenças cardiovasculares (DCV) são responsáveis por muitas mortes


em todo o mundo. Além disso, a periodontite é a sexta doença mais
prevalente entre os humanos e parece que existem fatores de risco
comuns entre estas doenças criando uma comunicação entre
prevalência e tratamento.

Existem evidências através de vestígios de DNA, RNA ou antígenos


derivados de espécies bacterianas orais, principalmente patógenos
periodontais, que foram identificados em tecidos aterotrombóticos.
Estudos têm tentado correlacionar a presença destas bactérias nesses
tecidos, com outras fontes de amostras (biofilme subgengival, soro, etc.),
nos mesmos pacientes, e estes sugerem que em pacientes com
periodontite há uma maior probabilidade de uma correlação positiva (6).
Pelo menos dois estudos demonstraram Porphyromonas gingivalis e
Aggregatibacter actinomycetemcomitans viáveis no tecido aterotrombótico
ao cultivar as amostras de ateroma (7).

Não se pode negar que há um impacto da Periodontite nas DCV, que é


biologicamente plausível. A literatura científica atual tem demonstrado
uma correlação entre a microbiota subgengival da periodontite e os
patógenos encontrados nas lesões ateromatosas.

Evidências observacionais consistentes sugerem que várias


intervenções de saúde oral, incluindo hábitos de higiene oral realizados
pelo próprio paciente, tais como escovação dos dentes (8), profilaxia
dentária (9), aumento de consultas odontológicas auto relatadas (10) e
tratamento periodontal (11) produziram uma redução na incidência de
eventos de ACVD.
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DOENÇAS CARDIOVASCULARES E
DOENÇA PERIODONTAL

Consequentemente o tratamento periodontal parece reduzir a


inflamação sistêmica através da redução dos níveis de marcadores
inflamatórios, como a PCR (Proteína C Reativa) e da função endotelial,
com melhora significativa da condição clínica.
O deslocamento da microbiota oral pela circulação sanguínea, parece
induzir direta ou indiretamente uma inflamação sistêmica que
influenciará na patogênese da doença cardiovascular (DCV),
tromboaterogênese.
Diante das atuais evidências, indivíduos portadores de Periodontite e
com presença de fatores ou indicadores de risco, necessitam ser
acompanhados por uma equipe Multiprofissional com médicos e
periodontista, para uma abordagem completa e eficaz.
A eleição da melhor terapia periodontal, associada a mudanças de
estilo de vida, dieta, prática de esportes e hábitos saudáveis e consultas
periódicas de manutenção, deverão fazer parte da manutenção de saúde
sistêmica do indivíduo com risco a DCV.

INDICADORES DE RISCO BIOFILME

OBESIDADE FATOR ETIOLÓGICO


ESTRESSE
OSTEOPOROSE

PERIODONTITE
DCV PROCESSO INFLAMATÓRIO

HÁ EVIDÊNCIAS ROBUSTAS DE SINAIS CLÍNICOS:


QUE PESSOAS COM SANGRAMENTO, EDEMA E
PERIODONTITE TEM MAIOR MOBILIDADE DENTAL.
PREVALÊNCIA DE DCV

FIGURA 4 : RELAÇÃO DAS DCV E DOENÇA PERIODONTAL


Medicina Periodontal - 1ª Ed.

GESTAÇÃO E DOENÇA
PERIODONTAL

Ao longo da vida, a mulher passa por diversas fases de flutuações


hormonais, além de interferir no seu sistema reprodutivo, exercem
influência em outros órgãos e sistemas. Como também o periodonto, na
presença de inflamação gengival preexistente, induzida por um biofilme.
Durante a gravidez, a mulher é exposta a alterações hormonais
significativas, uma vez que a placenta produz altas quantidades de
estrogênio e progesterona, afetando os tecidos bucais (12). Além das
alterações hormonais, a gestante também possui alterações na sua
defesa imune inata que gera um impacto no desenvolvimento e no curso
da doença periodontal.

Uma das condições que ocorrem pelas alterações hormonais na


gestação são o surgimento ou o aumento da severidade de gengivite.
Mulheres sem gengivite prévia podem apresentar vermelhidão e
sangramento gengival durante a gravidez, ainda que mantenham os
mesmos padrões de higiene bucal. Por outro lado, mulheres que já
apresentavam gengivite antes da gravidez, perceberam um aumento da
severidade da inflamação (13). Vale ressaltar, que os hormônios por si só
não são capazes de produzir mudanças nos tecidos gengivais, no
entanto eles podem alterar as reações dos tecidos na presença de um
biofilme.

Outra condição que ocorre em decorrência de alterações fisiológicas na


gestante, é a presença da doença periodontal que pode levar a respostas
adversas na gravidez, como o parto prematuro, pré-eclâmpsia e baixo
peso da criança ao nascer (14). Quando responsável por desfechos
adversos da gravidez, a periodontite é considerada um reservatório para
disseminação através circulação sanguínea de bactérias orais e
mediadores inflamatórios para a unidade materno-fetal.
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

GESTAÇÃO E DOENÇA
PERIODONTAL

Em relação aos mecanismos biológicos responsáveis pelos resultados


adversos da gravidez, dois caminhos principais foram identificados:

Mecanismos diretos: microrganismos orais e seus componentes


invadem a unidade fetal-placentária por meio de disseminação
hematogênica, ou em rota ascendente através do trato geniturinário.
Quando os patógenos da doença periodontal em alto nível cruzam a
placenta e atingem o feto em desenvolvimento, são capazes de
estimular a produção de anticorpos contra essas bactérias. A infeção
do líquido amniótico por microrganismos orais tem se mostrado uma
grande complicação na gravidez, bem como a causa provável de
alguns casos de parto prematuro.

Mecanismos indiretos: causados por mediadores inflamatórios


localmente produzido nos tecidos periodontais, resultando em um
aumento da inflamação sistêmica, com a presença de proteína C-
reativa, que mais tarde teria impacto na unidade feto-placentária. A
endotoxina de bactérias Gram negativas quando entram na
circulação em níveis altos são capazes de estimular a produção de
mediadores inflamatórios, considerados potentes indutores do
trabalho de parto (15).

O aumento da inflamação gengival associado à gravidez é um


fenômeno bem documentado e universalmente aceito pela comunidade
científica. Da mesma forma que existe muitos estudos epidemiológicos
sugerindo que a inflamação periodontal seja um fator de risco para
vários desfechos adversos da gravidez. Vale ressaltar que existem vários
benefícios centrados no paciente em controlar ou tratar infecções
periodontais por si só (16). O controle das doenças periodontais está
relacionada a grande parte do fornecimento de uma boca saudável,
confortável, funcional, e principalmente com consequências positivas na
saúde gestacional.
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

GESTAÇÃO E DOENÇA
PERIODONTAL

Sabe-se há muitos anos que a terapia periodontal é eficaz e segura


na redução da inflamação periodontal durante a gravidez, e se as
infecções periodontais são realmente importantes na patogênese
dos resultados adversos da gravidez, o tratamento dessas
infecções deve reduzir a incidência desses resultados.

FIGURA 5 : MECANISMOS BIOLÓGICOS RELACIONADOS ÀS REAÇÕES ADVERSAS NA


GESTAÇÃO
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS
(ALZHEIMER E PARKINSON) E DOENÇAS
PERIODONTAIS

As doenças neurodegenerativas são condições debilitantes que não


tem cura, e causam degeneração progressiva e até morte das células do
sistema nervoso. Pode-se resultar em problemas motores e mentais. As
demências são responsáveis pelo maior fardo das doenças
neurodegenerativas, representando a Alzheimer aproximadamente 60-
70% dos casos de demência (17).

A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva


caracterizada por uma sintomatologia típica constituída por um défice
amnésico inicial, delírios e alucinações. Esta sintomatologia está
interligada com alterações no córtex cerebral (18).

A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio neurodegenerativo


progressivo crônico e tem uma taxa de prevalência de 0,5 a 1% entre
pessoas com mais de 65 anos, que o torna o segundo distúrbio,
neurodegenerativo progressivo mais comum após a doença de
Alzheimer (19). A doença resulta na perda seletiva de neurônios no
mesencéfalo, responsável pela produção de dopamina, importante na
regulação do sistema sensório-motor e estados de humor. Com a
progressão da doença, ocorre sintomas motores, cognitivos e
psiquiátricos.

Vários estudos relataram uma maior prevalência de Periodontite em


indivíduos com doença de Parkinson e doença Alzheimer, devido ao
comprometimento motor os pacientes apresentam dificuldade com o
autocuidado e devido ao uso de diversos medicamentos que alteram o
fluxo e qualidade salivar (20-22).

A cavidade oral em condições normais possui diversas barreiras que


impedem a entrada de microrganismos na circulação sistêmica, já no
periodonto comprometido e alto nível de colonização bacteriana, a
Doença periodontal pode causar inflamação sistêmica, o que pode ser
demonstrado pelo aumento nos níveis de Proteína C- Reativa e bactérias
encontradas em circulação ou em outros órgãos (23,24).
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS
(ALZHEIMER E PARKINSON) E DOENÇAS
PERIODONTAIS

Há fortes associações sobre a relação entre a doença periodontal e as


doenças neurodegenerativas, sendo cíclica ou bidirecional. A inflamação
sistêmica e a influência das bactérias e seus subprodutos contribuem
para a progressão da doença neurodegenerativa, o que leva a piora do
quadro cognitivo e dificulta o autocuidado com a cavidade oral,
contribuindo para a progressão da doença periodontal (25,26).

Atualmente, existem evidências de que tratamento periodontal local


diminui os níveis inflamatórios e melhora o controle metabólico, perfil
lipídico e outros marcadores substitutos de doença sistêmica, e
evidências claras de que o sucesso do tratamento da doença periodontal
pode reduzir o risco ou a incidência de condições inflamatórias (27).

E existem estudos em desenvolvimento que visam associar adjuvantes


de modulação do hospedeiro que poderiam ser utilizados em terapia
periodontal e sua contribuição para reduzir a inflamação sistêmica e
promover a saúde sistêmica, sendo promissor para o controle de
progressão das doenças neurodegenerativas (28).

Pode-se concluir que a prevenção e o tratamento da doença periodontal


inicial pode ter resultados benéficos na inflamação sistêmica, podendo
auxiliar no controle ou na progressão de doenças inflamatórias, dentre
elas, as neurodegenerativas.
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS
(ALZHEIMER E PARKINSON) E DOENÇAS
PERIODONTAIS

FIGURA 6 : VIA BIDIRECIONAL ENTRE DOENÇA PERIODONTAL E


DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

CÂNCER E DOENÇA
PERIODONTAL

O câncer é um processo complexo que se inicia com uma série de


mutações genéticas. Essas mutações frequentemente são desencadeadas
por fatores oncogênicos, e o desenvolvimento do câncer envolve estágios
distintos, incluindo invasão, proliferação e, por fim, metástase. A
carcinogênese, ou o processo de transformação das células saudáveis em
cancerosas, é um caminho gradual. É importante ressaltar que nem toda
proliferação descontrolada resulta em um tumor maligno. Exemplos de
fatores oncogênicos incluem exposição à radiação, certos vírus, substâncias
químicas e predisposição genética. Células saudáveis seguem um ciclo de
crescimento e divisão controlados. Contudo, quando ocorrem alterações no
seu DNA, esse equilíbrio é interrompido, levando-as a proliferar
descontroladamente e se transformarem em células cancerosas.

Por outro lado, a doença periodontal é uma doença inflamatória crônica


associada a um biofilme disbiótico e suscetibilidade do hospedeiro. Resulta
de uma interação entre a resposta dos hospedeiros e o estímulo patogênico.
A doença é classificada em estadiamento, que informa a severidade da
doença, e a gradação, que denota o risco de progressão. Atualmente, a
doença periodontal é considerada um problema de saúde pública.

A existência de uma microbiota oral disbiótica cursa com a doença e suas


relações com outras como por exemplo, a diabetes. Bactérias específicas
etiopatogênicas da doença periodontal colaboram para a toxicidade em
células circundantes podendo desencadear mutações em pro-oncogenes e
genes supressores de tumores. Isso acontece devido a células inflamatórias
e seus produtos que deslocam-se por vias sanguíneas e alteram as vias que
sinalizam a proliferação celular.

Um dos principais periodontopatógenos associados a tumores é o


Fusiobacterium nucleatum. Estudos demonstraram que ele afeta a
heterogeneidade das células dando início a um processo carcinogênico
maligno. Um estudo recente focado em carcinoma espinocelular oral (OSCC)
e câncer colorretal (CRC) realizou o sequenciamento do gene 16S rRNA em
44 amostras de tecido dos tumores do colo de 11 pacientes. A partir disso,
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

CÂNCER E DOENÇA
PERIODONTAL

avaliou-se o efeito da microbiota associada ao tumor em micro nichos


locais. O patógeno F. nucleatum foi encontrado dentro da amostra de
tumor o que demonstra um possível achado entre as duas doenças. Foi
realizado uma hibridização in situ RNAscope-cromogênica que mostra a
distribuição do F. nucleatum no tecido tumoral. Por meio disso, sabe-se
que ele induz a formação de aglomerados celulares em células imunes e
cancerosas, além de induzir neutrófilos, e faz com que ocorra a
migração de células epiteliais cancerígenas (29).

Outro marcador microbiano específico é a P. gingivalis. Um patógeno


etiológico muito relacionado a doença periodontal, como também,
sabe-se da sua estreita relação com o câncer orodigestivo e seu risco de
morte (30). O estudo realizado por Michaud et al (31) concluiu que os
indivíduos que possuíam anticorpos para a P. gingivalis ATTC 53978
tinha o dobro de chance de desenvolver o câncer de pâncreas do que os
outros indivíduos.

Desta forma, a relação entre os periodontopatógenos e a toxicidade


das células circundantes apontam para a associação das doenças
periodontais com o câncer. Não obstante, as amostras de tumor com
sua heterogeneidade demonstram a forte influência do F. nucleatum.
Achados recentes fazem um levantamento de uma possível associação
entre as duas doenças. Entretanto, são necessários estudos futuros que
comprovem melhor a relação entre a doenças periodontais e o câncer.
Essas descobertas são relevantes para a saúde pública da população
visando a boa manutenção regular e recomendações de boa higiene
levantes para a saúde pública da população visando a boa manutenção
regular e recomendações de boa higiene oral.
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

CÂNCER E DOENÇA
PERIODONTAL

FIGURA 7: RELAÇÃO ENTRE PERIODONTOPAGÓGENOS QUE CIRCULAM VIA


CORRENTE SANGUINIA CORRELACIONANDO AO CÂNCER
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

CONCLUSÃO

A relação entre as doenças periodontais e as doenças sistêmicas é um


campo de estudo em constante evolução, e tem despertado um
interesse significativo na comunidade médica e odontológica. À medida
que nossa compreensão cresce, torna-se evidente que as doenças
periodontais, não são limitadas apenas à cavidade oral, mas têm
implicações significativas para a saúde sistêmica.

Diversos estudos científicos demonstraram associações entre as


doenças periodontais e diversas condições sistêmicas, como doenças
cardiovasculares, diabetes, parto prematuro, doenças
neurodegenerativas, câncer, entre outras. Embora não se possa afirmar
que as doenças periodontais sejam de causa direta dessas condições
sistêmicas, a evidência sugere que a inflamação crônica e a microbiota
presentes nas doenças periodontais podem contribuir para o
agravamento e o desenvolvimento de problemas de saúde sistêmica.
Portanto a prevenção e o tratamento das doenças periodontais
desempenham um importante papel na promoção de saúde geral.

É crucial que profissionais de saúde tenham o conhecimento dessa


relação e trabalhem em conjunto para fornecer cuidados abrangentes
aos pacientes. Isso inclui a educação sobre a importância da higiene
bucal adequada, exames regulares e a busca de tratamento precoce.
Além disso, os pacientes com condições sistêmicas devem estar cientes
do impacto de que as doenças periodontais podem ter em sua saúde e
considerar o tratamento odontológico como parte integrante de seu
plano de cuidados.

A prevenção e o tratamento adequado das doenças periodontais não


apenas melhoram a saúde bucal, mas também podem contribuir para a
prevenção e controle de doenças sistêmicas, resultando em uma melhor
qualidade de vida para os pacientes.
Para contribuir, formulamos duas questões para que profissionais da
saúde possam identificar a presença de sinais das doenças periodontais
e realizar o encaminhamento ao cirurgião-dentista:

1- Apresenta sangramento gengival?


2- Notou mobilidade ou mudança na posição dos dentes?
Medicina Periodontal - 1ª Ed.

REFERÊNCIAS

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