Você está na página 1de 9

Revista CEFAC

ISSN: 1516-1846
revistacefac@cefac.br
Instituto Cefac
Brasil

Santos Mendes, Andréia Cristina dos; Costa, Angelita Aparecida; Nemr, Kátia
O PAPEL DA FONOAUDIOLOGIA NA ORTODONTIA E NA ODONTOPEDIATRIA: AVALIAÇÃO DO
CONHECIMENTO DOS ODONTÓLOGOS ESPECIALISTAS
Revista CEFAC, vol. 7, núm. 1, enero-marzo, 2005, pp. 60-67
Instituto Cefac
São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=169320490008

Como citar este artigo


Número completo
Sistema de Informação Científica
Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
60 Mendes ACS, Costa AA, Nemr K

O PAPEL DA FONOAUDIOLOGIA NA ORTODONTIA E NA


ODONTOPEDIATRIA: AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS
ODONTÓLOGOS ESPECIALISTAS

The function of speech therapy in orthodontics


and in odontopediatricians: evaluation of knowledge
of odontologists specialists
Andréia Cristina dos Santos Mendes (1), Angelita Aparecida Costa (2), Kátia Nemr (3)

RESUMO

Objetivo: avaliar o conhecimento dos ortodontistas e odontopediatras da cidade de Anápolis – GO


sobre o papel da Fonoaudiologia nas especialidades. Método: pesquisa prospectiva com aplicação
de um questionário, com perguntas abertas sobre Fonoaudiologia, interdisciplinaridade entre as
especialidades e indicação de pacientes à Fonoaudiologia, aplicados a ortodontistas e
odontopediatras da cidade de Anápolis – GO. Resultados: todos os profissionais entrevistados
responderam que sabem o que é Fonoaudiologia, qual a correlação entre Fonoaudiologia e
Ortodontia/Odontopediatria e indicam pacientes para terapia fonoaudiológica em diversos casos.
Contudo, os resultados apontaram não haver conhecimento claro do papel da Fonoaudiologia para
parte dos profissionais. Conclusão: o papel da Fonoaudiologia nas especialidades não se encontra
totalmente definido para os ortodontistas e odontopediatras da cidade de Anápolis – GO.

DESCRITORES: Fonoaudiologia; Ortodontia; Odontopediatria

■ INTRODUÇÃO nhecer anatomia e fisiologia pertinente às estrutu-


ras orofaciais e cervicais; compreender fatores con-
A Fonoaudiologia é uma ciência da comunica- tribuintes e causais relacionados aos distúrbios mi-
ção humana cujas áreas de especialização estão ofuncionais orofaciais e cervicais; compreender os
divididas em Linguagem, Audiologia, Voz e Motrici- conceitos odontológicos e médicos básicos; com-
dade Oral. preender inter-relações da fala, voz e os distúrbios
Esta última especialidade prepara o fonoaudió- miofuncionais orofaciais e cervicais; compreender,
logo para atuar com prevenção, avaliação, diagnós- avaliar e identificar fatores e procedimentos que
tico, desenvolvimento, habilitação, aperfeiçoamento afetem o prognóstico; desenvolver um plano de tra-
e reabilitação dos aspectos estruturais e funcionais tamento apropriado e individualizado; atuar em
das regiões orofacial e cervical 1. ambiente apropriado para a realização dos servi-
O fonoaudiólogo que trabalha nesta área deve ços profissionais; documentar todos os procedimen-
ter alguns conhecimentos e habilidades, como: co- tos realizados; e ter responsabilidades legais e éti-
cas com clientes/pacientes, familiares e outros pro-
fissionais 1.
Esses conhecimentos e habilidades são essen-
(1)
Fonoaudióloga, Especialista em Motricidade Oral, ciais para que não haja falhas na mioterapia.
Fonoaudiológa da Clínica CREAR. O bom profissional deve, além disso, ter uma
(2)
Fonoaudióloga, Especialista em Motricidade Oral, visão do paciente em sua totalidade, realizando um
Fonoaudióloga da APAE – Anápolis – GO. bom diagnóstico, ou seja, identificando o que está
(3)
Fonoaudióloga, Doutora em Psicologia Social pela por trás de sua queixa, fazendo encaminhamentos
Universidade de São Paulo, Responsável pelo Servi- necessários e desenvolvendo um tratamento per-
ço de Fonoaudiologia do Hospital Heliópolis. sonalizado para cada paciente.
Fonoaudiologia e Odontologia especializada 61

Na área de Motricidade Oral, há a necessidade estabilidade dos casos tratados por ortodontistas,
permanente de interligação com áreas correlatas, ortopedistas funcionais dos maxilares e/ou odonto-
sendo que, nesta pesquisa, serão especificadas pediatras, buscando evitar recidivas oclusais após
duas especialidades odontológicas: a Ortodontia e a retirada do aparelho.
a Odontopediatria. Dentro de qualquer área, especialmente na área
O Odontopediatra é o profissional que irá acom- da saúde, não há como acreditar que a atuação de
panhar bebês, crianças e adolescentes, a fim de um profissional possa acontecer de uma maneira
manter os dentes e as estruturas de suporte em isolada e auto-suficiente 9. Na literatura é possível
perfeita saúde o mais precoce possível 2. Nesse encontrar várias pesquisas enfatizando sobre a im-
sentido, cabe a esse especialista a realização de portância do trabalho conjunto.
diagnósticos precoces de más oclusões, buscando Algumas dessas pesquisas encontradas evi-
métodos para que o desenvolvimento dentário e denciam o trabalho interdisciplinar entre a Fono-
facial ocorra de maneira equilibrada. audiologia e áreas da Odontologia 6,8,9-14, entre a
A devida intervenção do odontopediatra faz com Fonoaudiologia e outras áreas da saúde 3,15-18 e
que o tratamento do ortodontista se desenvolva mais entre as especialidades da Odontologia 19-22, além
adequadamente, pois esse especialista irá atuar de do trabalho multidisciplinar entre a Fonoaudiolo-
forma a prevenir, interceptar e corrigir as más oclu- gia e as diversas áreas da saúde 23-26, que apesar
sões dentárias e suas implicações esqueléticas, de não ser tratado nesta pesquisa tem igual impor-
buscando o equilíbrio de forma, função e estética tância.
dento-facial para cada paciente 3. Nos dias de hoje é de extrema importância a
Estas especialidades integram-se ao trabalho atuação interdisciplinar, que inclua profissionais da
da Fonoaudiologia, uma vez que atuam sobre o Sis- saúde com diferentes áreas de atuação e que este-
tema Estomatognático. jam integrados em um propósito único de benefici-
Este sistema, formado por partes duras e mo- ar, melhorando a qualidade de vida do elemento
les, ou seja, passivas ou estáticas (arcos osteoden- mais importante deste processo: o paciente 27.
tários, maxila, mandíbula e articulação temporoman- Este trabalho interdisciplinar tem se tornado
dibular) e ativas ou dinâmicas (unidade neuromus- cada vez mais relevante, especialmente nos diag-
cular) que movimentam as partes estáticas, está nósticos precoces e em planejamentos terapêuti-
sujeito a interferências tanto estruturais como fun- cos que minimizem as possibilidades de conseqü-
cionais 4. ências difíceis de serem solucionadas.
Por ser um sistema interdependente e desen- O conhecimento do trabalho de outros profissi-
volver funções comuns, qualquer alteração num de onais, bem como a correlação dos pontos de con-
seus componentes acarretará em um desarranjo vergência entre as áreas, são de grande valia para
geral. Porém não justifica que os fonoaudiólogos os profissionais, abrindo-se assim, caminhos para
conheçam apenas as estruturas ativas, assim como uma nova visão de atendimento 27.
o dentista conheça apenas as estruturas passivas 5. O interesse pela pesquisa foi reforçado a partir
Não basta aos profissionais o conhecimento das da busca bibliográfica na qual apenas um trabalho
estruturas e funções desse sistema, é preciso com- foi encontrado com o mesmo tema, o qual nos pos-
preender seu crescimento e desenvolvimento, re- sibilitou uma análise comparativa 8.
lacionando suas estruturas e interpretando suas O objetivo desta pesquisa foi avaliar o conheci-
anomalias. mento dos ortodontistas e odontopediatras da ci-
Vários estudos defendem a relação entre for- dade de Anápolis – GO sobre o papel da Fonoaudi-
ma e função 6-7, e muitos apontam a postura da lín- ologia nas especialidades.
gua como uma das principais causas da ocorrência
de recidivas orais 8.
Sabe-se que a recidiva oral é uma quebra na ■ MÉTODO
estabilidade oclusal que ocorre após o final do tra-
tamento ortodôntico, ortopédico e/ou odontopediá- A pesquisa foi realizada em consultórios parti-
trico. A estabilidade apresenta-se como um dos culares de Ortodontistas e Odontopediatras da ci-
objetivos principais dessas especialidades. dade de Anápolis – GO, cadastrados no Conselho
A possibilidade de recidiva é uma preocupação Regional de Odontologia de Goiás. Compuseram
destes profissionais, bem como do fonoaudiólogo esta casuística todos os profissionais que aceita-
que trabalha com terapia miofuncional oral, assim ram participar da pesquisa e assinaram o Termo de
como do próprio paciente. Consentimento Livre e Esclarecido.
O Fonoaudiólogo, portanto, por meio da terapia Os critérios de inclusão foram profissionais de
miofuncional, promove o tratamento das alterações ambos os gêneros, independente da idade, etnia, e
musculares e funcionais orofaciais favorecendo a data de conclusão da especialização.
62 Mendes ACS, Costa AA, Nemr K

Os critérios de exclusão foram odontólogos sem questões 1 e 2: “é a ciência que estuda a fala e a
título de especialista em Ortodontia e/ou Odonto- audição” e “a fonoaudiologia e a odontopediatria
pediatria. estão relacionados por apresentarem em comum um
Foi utilizado questionário com 3 perguntas es- campo de trabalho que seria a cavidade bucal”.
truturadas com alternativas de sim e não. Nos ca- As respostas com alguma relação com o que
sos de respostas sim, foram realizadas duas per- está especificado acima, porém de forma mais ge-
guntas abertas para as questões 1 e 2, e uma per- neralizada foram classificadas em genérica satisfa-
gunta semi-estruturada para a pergunta 3. O ques- tória, por exemplo: “área que trata dos distúrbios da
tionário foi deixado com cada profissional sujeito da fala, audição, musculatura, interferindo em má pos-
pesquisa para preenchimento por escrito, tendo sido tura e hábitos” e “para acelerar o tratamento do pa-
entregue após à uma das autoras conforme proto- ciente ‘trabalho em equipe”.
colo abaixo. As respostas que se aproximaram mais com o
As respostas foram catalogadas para análise a que está especificado acima porém, que não de-
partir dos seguintes critérios: monstraram total conhecimento foram classificadas
como específica não satisfatória, por exemplo: “área
1. O Senhor (a) sabe o que é Fonoaudiologia? que estuda as alterações que possam ocorrer nos
Sim ( ) Não ( ) tecidos moles (cabeça, pescoço, tórax) suas fun-
1.1 Se sim, especifique. ções no som, audição, fala e qualquer alteração da
2. O Senhor(a) sabe qual a correlação entre normalidade; a respiração é avaliada” e “a fonoau-
Fonoaudiologia e Ortodontia/Odontopediatria? diologia auxilia na correção das hipotonicidades
Sim ( ) Não ( ) musculares relacionadas ou não à respiração bu-
2.1 Se sim, especifique. cal, complementando o tratamento ortodôntico”.
3. O Senhor(a) indica pacientes para terapia E, finalmente, as respostas que mais se ade-
fonoaudiológica? quaram foram classificadas como específicas satis-
Sim ( ) Não ( ) fatórias, por exemplo: “é uma ciência que atua aper-
3.1 Se sim, especifique quando, porque e em feiçoando a comunicação humana, tendo como ob-
quais casos. jetivo a análise da voz, fala, linguagem, a audição e
De acordo com as respostas obtidas a leitura e escrita, observando tanto o ponto pre-
através das questões 1 e 2 acima, foi ventivo como o terapêutico” e “são áreas da saúde
utilizado como critério: co-responsáveis na detecção e tratamento de alte-
( ) Resposta genérica não satisfatória rações do desenvolvimento das funções muscula-
( ) Resposta genérica satisfatória res bucofaciais e dos conseqüentes desvios do cres-
( ) Resposta específica não satisfatória cimento músculo esquelético bucofacial, bem como
( ) Resposta específica satisfatória do posicionamento das estruturas que compõem o
sistema estomatognático”.
Em relação à pergunta 1, as respostas obtidas Para a questão 3, foi utilizado como critério:
foram classificadas de acordo com o documento ( ) Má-oclusão
divulgado pelo Comitê de Motricidade Oral da Soci- ( ) Interposição de língua
edade Brasileira de Fonoaudiologia 1: ( ) Respirador oral
“A Fonoaudiologia é uma ciência da comunica- ( ) Recidiva de tratamento ortodôntico
ção humana cujas áreas de especialização estão ( ) Outros
divididas em Linguagem, Audiologia, Voz e Motrici-
dade Oral”. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Éti-
Esta última especialidade prepara o fonoaudió- ca em Pesquisa do Centro de Especialização em
logo para atuar com prevenção, avaliação, diagnós- Fonoaudiologia Clínica sob número 146/03 e o con-
tico, desenvolvimento, habilitação, aperfeiçoamen- siderou sem risco com necessidade do Termo de
to e reabilitação dos aspectos estruturais e funcio- Consentimento Livre e Esclarecido.
nais das regiões orofacial e cervical”. Os dados colhidos foram apresentados em nú-
Em relação à pergunta 2, o principal ponto ob- meros absolutos e em porcentagem, uma vez que
servado foi o conhecimento dos profissionais acer- não foi possível estabelecer relações entre as vari-
ca da atuação das áreas sobre o sistema estoma- áveis com aplicação de testes de hipóteses.
tognático e da importância do trabalho interdiscipli-
nar. ■ RESULTADOS
De acordo com o critério utilizado, as respostas
vagas, sem relação com o que está especificado De acordo com listagem emitida pelo Conselho
acima foram classificadas em genérica não satisfa- Regional de Odontologia de Goiás em novembro
tória, tendo como exemplo, respectivamente das de 2002, havia 23 especialistas em Ortodontia e
Fonoaudiologia e Odontologia especializada 63

Ortopedia Facial no município de Anápolis – GO. Na totalidade dos entrevistados, 4 profissionais


Cabe ressaltar que nesta data o curso de especia- não estavam atuando, 5 não concordaram em par-
lização ainda não havia sido dividido em Ortodontia ticipar da pesquisa alegando falta de tempo, 6 não
ou Ortopedia Facial, ou seja, o profissional que fez foram localizados e 25 participaram da pesquisa,
o curso de especialização neste período recebia o uma vez que um dos profissionais é especialista
título de ortodontista e ortopedista funcional dos nas duas áreas.
maxilares. Na primeira pergunta todos os profissionais res-
Destes 23 especialistas, 2 não estavam atuan- ponderam que sim, que sabem o que é Fonoaudio-
do, 5 não concordaram em responder alegando fal- logia. Os tipos de respostas obtidas encontram-se
ta de tempo, 2 não foram localizados e 14 concor- demonstradas na Figura 1.
daram em participar da pesquisa. Em relação à segunda pergunta, todos os pro-
Em relação à Odontopediatria, na listagem emi- fissionais responderam que sim, ou seja, que sa-
tida em setembro de 2003, constavam 18 especia- bem qual a correlação entre Fonoaudiologia e Or-
listas, sendo que 2 não estavam atuando, 4 não todontia/Odontopediatria. Os tipos de respostas
foram localizados e 12 concordaram em participar obtidas encontram-se demonstrados na Figura 2.
da pesquisa.

O Senhor(a) sabe o que é Fonoaudiologia?


Índice percentual de cada resposta

40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Resposta Resposta Resposta Resposta
Genérica não Genérica Específica Específica
Satisfatória Satisfatória não Satisfatória
Satisfatória
Tipos de respostas obtidas

Figura 1 – Distribuição das respostas para a pergunta 1- O senhor(a) sabe o que é Fonoaudiologia?

O senhor(a) sabe qual a correlação entre


Fonoaudiologia e Ortodontia/Odontopediatria?
Índice percentual de cada resposta

60%

50%
40%

30%

20%
10%

0%
Resposta Resposta Resposta Resposta
Genérica não Genérica Específica Específica
Satisfatória Satisfatória não Satisfatória
Satisfatória
Tipos de respostas obtidas

Figura 2 – Distribuição das respostas para a pergunta 2 – O senhor(a) sabe qual a


correlação entre Fonoaudiologia e Ortodontia/Odontopediatria?
64 Mendes ACS, Costa AA, Nemr K

Em relação à terceira pergunta todos os profis- musculares – 2; falta de selamento labial – 3; hiper-
sionais responderam que indicam pacientes para a tonia/hipotonia da musculatura labial – 3; assime-
terapia fonoaudiológica. Os tipos de respostas ob- tria facial – 1; alterações de crescimento – 1; tonici-
tidas nessa questão encontram-se demonstrados dade de lábios e língua alterados – 1; desequilíbrio
na Figura 3. da musculatura peribucal – 2; flacidez – 1; proble-
Nesta questão, as respostas consideradas em mas de audição – 3; casos de cirurgia de freio lin-
“outros” e as respectivas vezes que foram citadas gual – 1; pressionamento lingual atípico – 1; distúrbi-
pelos sujeitos foram: hipotonicidade facial – 1; alte- os de motricidade – 1 e pacientes especiais – 1.
rações posturais de língua e lábio – 3; alterações

O senhor(a) indica pacientes para terapia fonoaudiológica?


Índice percentual de cada resposta

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
Respirador

Recidiva de

Deglutição

Outros
Deletérios
Interposição

Ortodôntico
Tratamento
Má Oclusão

Alterações
de Língua

Hábitos
na Fala
Atípica
Oral

Tipos de respostas obtidas

Figura 3 – Distribuição das respostas para a pergunta 3 – O senhor(a)


indica pacientes para terapia fonoaudiológica?

■ DISCUSSÃO resposta satisfatória, percebe-se que um número


considerável da amostra ainda tem uma visão da
De acordo com a primeira pergunta do questio- fonoaudiologia insuficiente, mesmo respondendo
nário, os resultados obtidos, conforme demonstra- sim à questão se sabem o que é Fonoaudiologia.
do na Figura 1, foram na maioria específica satisfa- Essa falta de conhecimento do real papel do
tória, apesar disso, observa-se uma grande falta de fonoaudiólogo pode ser destacada relacionando-se
conhecimento do real papel do fonoaudiólogo pela as respostas obtidas com essa mesma pergunta em
maioria dos odontólogos entrevistados. Muitos não uma outra pesquisa realizada 8, respondida somente
sabem todas as áreas de atuação e colocam o tra- por ortodontistas. Na referida pesquisa, as respos-
tamento como o papel do fonoaudiólogo, não en- tas obtidas poderiam ser classificadas, analogamen-
globando a prevenção e diagnóstico. te ao critério utilizado neste estudo, em genéricas
A maioria das respostas dos entrevistados está não satisfatórias. Observando-se, ainda, que as
relacionada à fala e audição, parecendo um foco respostas desses profissionais foram bem menos
limitado para esses profissionais da abrangência da elaboradas, uma vez que todos colocaram a Fo-
atuação da fonoaudiologia. Observa-se que as res- noaudiologia como uma profissão que trabalha com
postas mais satisfatórias foram dadas por profis- a língua ou com a musculatura facial, entre outros.
sionais que atuam conjuntamente com fonoaudió- Em relação à segunda questão (Figura 2), as
logos ou que têm maior contato com esses profis- respostas foram na maioria genérica satisfatória, de-
sionais. monstrando que o conhecimento dos profissionais
Observamos na questão 1 que 15 profissionais entrevistados acerca da correlação entre o traba-
apontaram respostas satisfatórias, (genéricas ou es- lho do fonoaudiólogo e dos odontólogos ainda não
pecíficas) e em 10 as respostas foram insatisfató- se encontra totalmente definido. O número de res-
rias. Apesar de mais da metade terem apresentado postas satisfatórias (genéricas ou específicas) es-
Fonoaudiologia e Odontologia especializada 65

teve presente em 21 profissionais e de respostas terapia fonoaudiológica, sendo que um respondeu


insatisfatórias apenas em 4, o que demonstra que que indica durante o tratamento ortodôntico, um in-
apesar de um maior número não ter claro o que é dica antes ou durante o tratamento ortodôntico e
fonoaudiologia, quando a questão se refere sobre um referiu o mais precoce possível.
a relação da fonoaudiologia com a odontologia, O momento em que os encaminhamentos são
parece haver uma noção mais adequada e compa- realizados é muito importante, pois, uma alteração
tível com a resposta sim para a pergunta se sabem num componente do sistema estomatognático pode
qual a correlação entre Fonoaudiologia e Ortodon- acarretar em alterações nos demais, tornando-se
tia/Odontopediatria. necessário um intercâmbio de informações entre
Comparando-se essa questão com a outra pes- esses profissionais para a total recuperação do pa-
quisa correspondente 8, apesar de não ter essa ciente.
mesma pergunta, é possível relacioná-la a algumas A necessidade de definir diagnósticos e obter
respostas. resultados mais rápidos e eficientes, nos remete à
Um dos profissionais respondeu que “a Fonoau- importância dos profissionais afins adquirirem co-
diologia é um complemento da Ortodontia”, reme- nhecimentos atualizados das áreas correlatas.
tendo-nos ao fato do trabalho interdisciplinar, que A falta de aprofundamento do conceito, papel e
foi um dos aspectos observados na classificação. áreas de atuação da Fonoaudiologia observada nos
Pode-se ainda relacionar essa segunda ques- profissionais pesquisados, assim como do trabalho
tão com as respostas de uma outra de pesquisa que pode ser desenvolvido entre as especialidades
referida 8, na qual dentre 22 profissionais entrevis- reforçou o intuito desta pesquisa e sua importância
tados, 8 não encaminham à Fonoaudiologia por não na região em que foi realizada. A carência de pes-
considerarem a necessidade e 1 por não acreditar quisas que apontem este grau de conhecimento e
em fonoterapia. os resultados aqui demonstrados, aponta para a
Com isso, percebemos que muitos desses pro- necessidade de novas pesquisas em outras regi-
fissionais ainda não têm conhecimento da correla- ões para que seja possível uma análise mais fide-
ção entre o trabalho do fonoaudiólogo e do odontó- digna do grau de conhecimento da odontologia es-
logo, demonstrando este desconhecimento ao rea- pecializada sobre a Fonoaudiologia e a interface
lizarem encaminhamentos. entre as duas profissões no âmbito nacional e sua
De acordo com a terceira questão (Figura 3), diferenciação entre os grandes centros e as regi-
os profissionais indicam diversos casos para tera- ões mais distantes.
pia fonoaudiológica. Alguns dos profissionais entrevistados parabe-
Nos chamou atenção o fato de apenas um nizaram a iniciativa dessa pesquisa por percebe-
profissional ter citado a recidiva de tratamento orto- rem que é necessário estreitar os laços entre as
dôntico para esta indicação, motivo que parece ser profissões, mostrando a importância da divulgação
comum na busca por tratamento fonoaudiológico. do trabalho do fonoaudiólogo esclarecendo dúvidas,
Como citado anteriormente, estudos defendem a realizando estudos em conjunto, palestras em cur-
relação entre forma e função 6-7; e a postura da lín- sos e congressos da área odontológica, artigos em
gua é apontada como uma das principais causas jornais e revistas, conscientizando-os da necessi-
da ocorrência de recidivas orais 8. Como a interpo- dade do conhecimento dessa área.
sição de língua e a deglutição atípica foram citadas Dessa maneira o indivíduo que busca atendi-
várias vezes, pode ser que muitos profissionais não mento ortodôntico/odontopediático terá um atendi-
tenham mencionado a recidiva, mas que ela esti- mento mais aperfeiçoado, em equipe, com encami-
vesse embutida nessas indicações. A recidiva tam- nhamentos realizados em momentos oportunos, e
bém não foi mencionada na pesquisa correspon- acompanhamento especializado até depois do fi-
dente8, sendo que os profissionais citaram como nal do tratamento odontológico visando o máximo
casos de encaminhamento má postura de língua, de aproveitamento estético e funcional.
deglutição atípica, mordida aberta, musculatura in-
tra e perioral, respiração bucal e problemas de fala; ■ CONCLUSÃO
ou seja, as respostas obtidas se assemelham com
as mais citadas na nossa pesquisa. Por meio dos dados obtidos com esta pesqui-
Nessa questão era para ser especificado “quan- sa, pode-se concluir que o papel da Fonoaudiolo-
do, porque e que casos”, porém, dos 25 profissio- gia não se encontra totalmente definido para os or-
nais entrevistados, apenas três responderam o todontistas e odontopediatras da cidade de Anápo-
momento em que encaminham seus pacientes para lis – GO.
66 Mendes ACS, Costa AA, Nemr K

ABSTRACT

Purpose: to evaluate the knowledge of orthodontics and odontopediatricians of Anápolis-Go city


about the function of Speech Therapy in specialties. Methods: prospective research with application
of a interview with open questions about Speech therapy, interdisciplinarity between the specialties
and indication of patients, applied to orthodontics and odontopediatricians of Anápolis-GO city.
Results: all the professionals interviewed answered that they know what is Speech therapy, the
correlation between Speech therapy and Orthodontics/Odontopediatricians and that they conduct
patients to Speech therapy in several cases. However, the results showed that a portion of the
professionals involved does not have a clear knowledge on the function of speech therapy.
Conclusion: the function of Speech therapy is not fully defined for orthodontics and
odontopediatricians of Anápolis-Go city.

KEYWORDS: Speech, Language and Hearing Sciences; Orthodontics; Pediatric Dentistry

■ REFERÊNCIAS
10. Penteado RZ, Almeida VF, Leite EFD. Saúde
1. Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Co- bucal em pré-escolares: estudo fonoaudiológi-
mitê de Motricidade Oral, 2001. co e odontológico. Pró-fono 1995; 7:21-9.
2. Altmann EBC. Fissuras labiopalatinas. 4. ed. 11. Almeida MLPW, Castro LA, Primo LG, Marassi
Carapicuíba: Pró-fono; 1997. 555 p. C, Freire MFM, Moura NG. Remoção do hábito
3. Marchesan IQ. Motricidade oral: visão clínica de sucção do polegar: uma atuação interdisci-
do trabalho fonoaudiológico integrado com ou- plinar. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê
tras especialidades. 2. ed. São Paulo: Pancast; 2002; 5(5):458-63.
1999. 93 p. 12. Goldsmith D. Surgical: orthodontic correction
4. Tanigute CC. Desenvolvimento das funções of vertical facial excess. JCO 1980; 5:343-53.
estomatognáticas. In: Marchesan IQ. Funda- 13. Marcondes GB. Contribuições para uma apro-
mentos em fonoaudiologia: aspectos clínicos ximação entre as áreas da fonoaudiologia e da
da motricidade oral. Rio de Janeiro: Guanaba- odontologia [monografia]. São Paulo (SP): Cen-
ra Koogan; 1998. p. 1-9. tro de Especialização em Fonoaudiologia Clí-
5. Marchesan IQ. Avaliando e tratando o sistema nica; 1999.
estomatognático. In: Lopes Filho OC, editor. 14. Stratton CS, Burkland GA. The effect of maxi-
Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca; llary retainers on the clarity of speech. JCO
1997. p. 763-80. 1993; 27:338-40.
6. Meirelles AJC. Ortodontia: ortopedia facial e fo- 15. Pedromônico MRM. A integração do trabalho
noaudiologia: uma relação de forma e função psicológico e fonoaudiológico na avaliação da
[monografia]. Londrina (PR): Centro de Especi- linguagem. Pró-Fono 1992; 4:16-7.
alização em Fonoaudiologia Clínica; 2000. 16. Nelli EA, Vicente MCZ, Buchala RG, Buffa
7. Bianchini EMG. Disfunções da articulação tem- MJMB, Souza RF. Ações integradas na reabili-
poromandibular: relações com a deglutição e tação de crianças portadoras de lesões labio-
fala. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 1999; palatais. In: Kudo AM, organizador. Fisiotera-
5:55-60. pia, fonoaudiologia e terapia ocupacional em
8. Pena CR. Fonoaudiologia x ortodontia: nível de pediatria. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 1997. p.
conhecimento dos ortodontistas de Barbacena 255-65.
sobre a fonoaudiologia [monografia]. Belo Ho- 17. Ferraretto I, Ferreira A, Ignácio A, Prado AEO,
rizonte (MG): Centro de Especialização em Pinto MCF, Moura MJ et al. Ações integradas
Fonoaudiologia Clínica; 1999. na reabilitação de crianças portadoras de pa-
9. Comin I, Filho LPP. Ortopedia funcional dos ralisia cerebral. In: Kudo AM, organizador. Fisi-
maxilares e fonoaudiologia: uma possibilidade oterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional
terapêutica multidisciplinar. R Dental Press em pediatria. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 1997.
Ortodon Ortop Facial 1999; 4:63-70. p. 266-81.
Fonoaudiologia e Odontologia especializada 67

18. Cohen MD, Ardore M, Honda RA, Samejina A, bês especiais segundo os princípios multidis-
Sarruf MC, Silva BPA. Ações integradas na re- ciplinares. Rev da Fac de Odontol Anápolis
abilitação de crianças portadoras da síndrome 2000; 54-9.
de down. In: Kudo AM, organizador. Fisiotera- 26. Cardoso LC, Morales VP, Oliveira AJ. Bruxis-
pia, fonoaudiologia e terapia ocupacional em mo: uma visão multidisciplinar. Rev da Fac de
pediatria. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 1997. p. Odontol Anápolis 2001; 3: 30-4.
282-90. 27. Levy JA, Oliveira ASB. Reabilitação em doen-
19. Almeida RR, Bonfante G, Neto GI, Almeida MR. ças neurológicas: guia teórico prático. In: Chi-
A inter-relação ortodontia e prótese: apresen- appetta ALM, Leico A. Disfagia orofaríngea
tação de um caso clínico. R Dental Press Orto- neurogênica. 2. ed. São Paulo: Lovise; 91 p.
don Ortop Facial 1997; 4:13-9. 28. Brandt S. JCO interviews Dr. William R Proffit
20. Janson MRP. Tratamento ortodôntico em paci- on the proper role of myofunctional therapy. JCO
entes com lesões periodontais avançadas. R 1977; 101-15.
Dental Press Ortodon Ortop Facial 1999; 5: 29. Brandt S. The editor’s corner. JCO 1975;
101-20. 665-6.
21. Ito RT, Melo ACM, Bronzi ES, Yoshida AH, Ito 30. Graber TM. The “three m’s”: muscles, malfor-
FA, Yoshida N et al. Aparelho anti-ronco: um mation and malocclusion. AJO-DO 1963;
enfoque multidisciplinar. R Dental Press Orto- 418-50.
don Ortop Facial 2000; 2:48-53. 31. Wasson JL. Correction of tongue-thrust swallo-
22. Fillion D. A ortodontia lingual do adulto e o tra- wing habits. JCO 1989; 23: 27-9.
tamento multidisciplinar. BUSO L, tradutora. R 32. Moyers RE. Ortodontia. 4. ed. Rio de Janeiro:
Dental Press Ortodon Ortop Facial 2000; 5: Guanabara Koogan; 1991. 483 p.
93-101. 33. Egermark I, Thilander B. Craniomandibular di-
23. Henriques JFC, Janson G, Almeida RR, Dai- sorders with special reference to orthodontic
nesi EA, Hayasaki SM. Mordida aberta anteri- treatment: an evaluation from childhood to adu-
or: a importância da abordagem multidiscipli- lhood. AJO-DO 1992; 101:28-34.
nar e considerações sobre etiologia, diagnósti- 34. Dalston RM, Vig PS. Effects of orthognathic
co e tratamento: apresentação de um caso clí- surgery on speech: a prospective study. AJO-
nico. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2000; DO 1984; 86:291-8.
3:29-36. 35. Moorrees CFA, Burstone CJ, Christiansen RL,
24. Barrêto EPR, Faria MMG, Castro PRS. Hábi- Hixon EH, Weinstein S. Research related to ma-
tos bucais de sucção não-nutritiva, dedo e locclusion: a “state-of-the-art” workshop con-
chupeta: uma abordagem multidisciplinar. ducted by the oral-facial growth and develop-
J Bras Odontopediatr e Odontol Bebê 2003; ment program, the national institute of dental
6:42-8. research. AJO-DO 1971; 1-18.
25. Cardoso PC, Jesus CM, Cardoso PC. Avalia-
ção das necessidades odontológicas em be-

RECEBIDO EM: 10/01/04


ACEITO EM: 07/10/04

Endereço para correspondência:


Rua 06 Quadra 06 Lote 04
Anápolis – GO
CEP: 75075-330
Tel: (62) 318 6693
e-mail: fga_andreia@hotmail.com

Você também pode gostar