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DIRETRIZES PARA
ATENDIMENTO
ODONTOLÓGICO
DE PACIENTES
SISTEMICAMENTE
COMPROMETIDOS
Título: Pocket Book: Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente
Comprometidos
Autores: Bruna Lavinas Sayed Picciani, Paulo Sérgio da Silva Santos, Luiz Alberto Valente Soares
Junior e Bruna Michalski dos Santos
Editor: Rui Santos
Coordenação editorial: Mauricio Tramonti
Produtor editorial: Rafael Pereira Rodrigues
Revisão de texto: Marta Donila
Diagramação: Ricardo Lima
Capa: Paulo Roberto R. Salomão
Todos os direitos reservados à Quintessence Editora Ltda. Nenhuma parte desta publicação
pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida por quaisquer que sejam os meios –
mecânico, fotocópia, eletrônico ou outros –, sem a prévia permissão do Editor.
Autores
Bruna Lavinas Sayed Picciani
Cirurgiã-dentista. Especialista em Estomatologia pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades
Especiais pela Associação Brasileira de Odontologia/Rio de Janeiro (ABORJ). Mestre e
Doutora em Patologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Habilitada em La-
serterapia, Sedação Consciente com Óxido Nitroso e Odontologia Hospitalar. Profes-
sora Adjunta do Departamento de Formação Específica, Disciplina de Estomatologia,
da Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense
(ISNF-UFF). Professora Permanente do Programa de Pós-graduação em Odontologia
da ISNF-UFF. Professora Colaboradora do Núcleo de Pacientes com Necessidades
Especiais e Radiologia da Policlínica Piquet Carneiro da UERJ. Cirurgiã-dentista Volun-
tária do Instituto Rir – Atendimento Odontológico para Pacientes com Necessidades
Especiais – Rio de Janeiro.
III
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
IV
Colaboradores
Adrianna Milagres
Especialista em Estomatologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre e
Doutora em Patologia Oral pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora Adjunta do De-
partamento de Patologia da Faculdade de Medicina da UFF.
Alessandra Camargo
Especialista em Estomatologia pelo Hospital Heliópolis. Especialista em Pacientes Especiais pela
FUNDECTO/FOUSP. Mestre em Estomatologia pela FOUSP. Doutora em Patologia e Estomatologia
Básica e Aplicada pela FOUSP. Habilitada em Laserterapia. Habilitada em Odontologia Hospitalar.
Professora de Graduação, OPNE – Estomatologia, da UFSC. Professora da Pós-graduação, RIMS/
Odontologia de Alta Complexidade, do HU da UFSC. Coordenadora do Projeto de Extensão Ambu-
latório de DNPM. Presidente da Comissão OPNE do CRO-SC.
V
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
André Guollo
Especialista em Estomatologia. Mestre em Oncologia.
VI
Colaboradores
Eduardo Hebling
Professor Associado da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campi-
nas (FOP-Unicamp). Coordenador da Especialização em Odontogeriatria da FOP-Unicamp. Especialista
em Odontogeriatria pelo CFO. Mestre, Doutor e Especialista em Periodontia pela FOP-Unicamp.
VII
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
VIII
Colaboradores
IX
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
X
Colaboradores
Liana Codes
Médica. Especialista em Gastroenterologia e Hepatologia. Doutora em Medicina. Médica do Ambu-
latório de Transplante Hepático e Preceptora das Residências em Gastroenterologia e Hepatologia
do Complexo Hospital Universitário Professor Edgard Santos, UFBA.
Lilia Timerman
Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Especialista em Pacientes com
Necessidades Especiais pelo CFO. Habilitação em Odontologia Hospitalar pelo CFO – CRO-SP. Di-
retora Científica da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Cirurgiã-dentista do Institu-
to Dante Pazzanese de Cardiologia.
Liliane Lins
Cirurgiã-dentista. Especialista em Estomatologia e Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial.
Doutora em Patologia Humana. Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Livre-Docente, Preceptora da Odontologia Hospitalar, Residência Multiprofissional
e Estomatologista do Ambulatório de Transplante Hepático do Complexo Hospital Universitário
Professor Edgard Santos, UFBA.
XI
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Marcelo Pinheiro
Assistente-doutor e Chefe do Setor de Espondiloartrites da Disciplina de Reumatologia da Univer-
sidade Federal de São Paulo (Unifesp). Editor Associado da Advances in Rheumatology. Coordena-
dor da Comissão de Espondiloartrites da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
XII
Colaboradores
Marina Gallottini
Professora Titular de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
(FOUSP). Coordenadora do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da FOUSP.
Nicolas Homsi
Especialista, Mestre e Doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Professor Adjunto do
Instituto de Saúde de Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense (ISNF-UFF).
Paulo Moreira
Doutor em Ciências, área de Cardiologia e Infecção, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Renata Tucci
Mestre e Doutora em Patologia Bucal pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
(FOUSP). Professora Adjunta do Curso de Odontologia do Instituto de Saúde de Nova Friburgo da
Universidade Federal Fluminense (UFF).
XIII
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Stanley Nigro
Médico Patologista Clínico. Diretor do Laboratório Central da Irmandade da Santa Casa de Mise-
ricórdia de São Paulo. Chefe da Clínica Médica do Hospital Regional Sul. Membro da Sociedade
Brasileira de Patologia (SBP).
Sueli Carneiro
Professora Associada de Dermatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Es-
tado do Rio de Janeiro (FCM-UERJ). Coordenadora da Residência e Especialização em Dermato-
logia do HUPE/UERJ. Docente dos Programas de Pós-graduação em Ciências Médicas da UERJ e
em Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Docente do Convênio UERJ/UFMA.
Membro Titular do GRAPPA/IDEOM/ABR. Mestrado e Doutorado pela UFRJ. Pós-doutorado e Li-
vre-Docente pela USP. Dermatologista e Reumatologista pela AMB/SBD/SBR.
XIV
Colaboradores
Vander Fernandes
Médico Reumatologista. Especialista em Reumatologia e Membro Titular da Sociedade Brasileira
de Reumatologia (SBR). Especialista em Clínica Médica e Membro Titular da Sociedade Brasileira
de Clínica Médica (SBCM). Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Supervisor do Programa de Residência Médica em Clínica Médica do Hospital Geral (HG)/Universi-
dade de Cuiabá (UNIC). Professor da Disciplina Internato em Clínica Médica do Curso de Medicina
da UNIC. Coordenador do Serviço de Reumatologia do HG/UNIC. Professor do Programa de Mes-
trado em Ambiente e Saúde da UNIC.
XV
Prefácio
AGUARDANDO TEXTO
XVII
Agradecimentos
A Deus por me permitir realizar este sonho e militar na Odontologia com tanto amor
e alegria.
A todos os professores, alunos e pacientes que me ensinaram o que hoje sei.
A todos os colegas que acreditaram neste livro, aceitando o convite de autoria, em
especial àqueles que dividiram a árdua tarefa de coordenação: Prof. Paulo Sérgio da
Silva Santos, Profa. Bruna Michalski dos Santos e Prof. Luiz Alberto Valente Soares
Júnior. Um agradecimento especial à editora Vânia Santos e Rafael da Quintessence
Editora, que nos apoiaram e materializaram este sonho.
A todos os meus amigos de trabalho, que fazem da minha rotina profissional um
verdadeiro parque de diversões.
Por fim, à minha família, que entende minhas ausências e que me apoia incondicio-
nalmente para que eu possa concretizar meus sonhos profissionais. Em especial, des-
taco minha mãe Sheyla, meu irmão Thiago, minha vó Izélia (in memoriam), meu marido
Glauco e filho Pedro.
Bruna Lavinas Sayed Picciani
A Deus pela saúde e possibilidade de ajudar aos outros com o conhecimento adqui-
rido com o trabalho e a experiência clínica.
Aos meus colegas da coordenação desta obra, Dra. Bruna Lavinas Sayed Picciani,
Dra. Bruna Michalski e Dr. Luiz Alberto Valente Soares Junior, pela oportunidade de tra-
balharmos juntos nesta obra.
Agradeço aos colegas professores das Disciplinas de Estomatologia e Odontologia
para Pacientes com Necessidades Especiais da Faculdade de Odontologia de Bauru –
USP pelo apoio a todo o trabalho realizado com os indivíduos sistemicamente compro-
metidos, e aos pós-graduandos da área de Estomatologia e Radiologia que auxiliam na
aquisição e consolidação de conhecimento nesta área, além de auxílio na obtenção de
material para a realização de obras como esta.
Paulo Sergio da Silva Santos
XIX
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
À Dra. Maria Paula Siqueira de Melo Peres, pelo constante incentivo e apoio pessoal
e profissional.
Aos meus colegas da coordenação desta obra, Dra. Bruna Michalski, Dra. Bruna
Picciani e Dr. Paulo Sergio da Silva Santos, pela oportunidade de trabalharmos juntos
nesta obra.
Luiz Alberto Valente Soares Junior
XX
Dedicatória
Dedico este livro a todos os profissionais que buscam conhecimento
para levar o melhor para, uma das minhas maiores motivações, o paciente.
Bruna Lavinas Sayed Picciani
Dedico aos meus pais e à minha irmã por todo incentivo e apoio.
Aos meus colegas de coordenação desta obra,
Dra. Bruna Lavinas Sayed Picciani, Dr. Paulo Sérgio da Silva Santos
e Dr. Luiz Alberto Valente Soares Júnior,
pois sem os quais não seria possível escrevê-la.
Aos alunos e pacientes que nos motivam na busca pelo aprendizado
na área de Odontologia para pacientes especiais.
Bruna Michalski dos Santos
XXI
Sumário
Capítulo 1 – Exame Físico
Geraldo de Oliveira Silva-Júnior, Álvaro Cavalheiro Soares, Ruth Tramontani Ramos,
Marília Heffer Cantisano..................................................................................................................................... 1
3.3 – Citopatologia......................................................................................................................................... 31
Adrianna Milagres................................................................................................................................................... 31
3.4 – Biópsia......................................................................................................................................................... 34
Karla Bianca Fernandes da Costa Fontes, Maria Carolina de Lima, Jacy Monteiro Barki,
Nicolas Homsi, Renata Tucci............................................................................................................................ 34
3.6 – Imuno-histoquímica........................................................................................................................ 47
Priscilla Rodrigues Câmara, Rebeca de Souza Azevedo, Fábio Ramôa Pires....................... 47
Capítulo 4 – Cardiopatias
4.1 – Hipertensão Arterial........................................................................................................................ 55
Frederico Buhatem Medeiros, Levy Anderson César Alves........................................................... 55
XXIII
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Capítulo 5 – Coagulopatias
5.1 – Coagulopatias Hereditárias...................................................................................................... 67
Luiz Alberto Valente Soares Júnior............................................................................................................... 67
XXIV
Sumário
XXV
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
XXVI
1
Exame Físico
Geraldo de Oliveira Silva-Júnior • Álvaro Cavalheiro Soares
Ruth Tramontani Ramos • Marília Heffer Cantisano
Introdução
O exame físico é parte fundamental do exame clínico, visto que complementa a anam-
nese e auxilia na obtenção do diagnóstico e no estabelecimento do tratamento e do
prognóstico do paciente. De maneira geral, é importante que todas as suas etapas se-
jam sistematizadas com o intuito de que nenhuma região ou estrutura deixe de ser
avaliada; e que o profissional lance mão de todos os recursos semiotécnicos possíveis
(inspeção, palpação, auscultação, percussão e olfação) para que nenhuma alteração,
por menor que seja, passe despercebida. Sendo assim, divide-se o exame físico em
geral e locorregional, e este se subdivide em intraoral e extraoral.1 Esta etapa é sempre
precedida pela execução da lavagem bá-
sica das mãos como medida de biosse-
gurança padrão a fim de evitar infecção
cruzada, mesmo com o uso de luvas por
parte do operador (Fig. 1.1).
1
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Figura 1.2 Aferição de sinais vitais básicos com uso de instrumentos digitais. (A)
Aferição da saturação de oxigênio e frequência cardíaca. (B) Aferição da pressão
arterial e da frequência cardíaca com aparelho digital de pulso.
2
Cap. 1 • Exame Físico
3
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Face
O aspecto geral do rosto do paciente pode ser indicativo de determinadas doenças
ou condições clínicas; dito isto, toda a pele da fronte, pálpebras, ponte nasal e asas
do nariz, região malar, peribucal, auricular, palpebral, submentoniana e cervical devem
ser inspecionadas.3 Além disso, alterações em pelos e do formato da cabeça devem
ser registradas. Como exemplo, os pacientes com síndrome de Down apresentam hi-
pertelorismo, ponte nasal deprimida, pregas epicânticas, fissuras orbitais oblíquas e
pavilhões auriculares pequenos, conferindo uma fácies bem característica a este tipo
de paciente.2
Olhos
Através da eversão das pálpebras, tanto suas superfícies mucosas internas, como
o globo ocular podem ser examinados. A presença de fendas nas pálpebras (colo-
bomas) é sugestiva da síndrome de Treacher-Collins, por exemplo, assim como os
simbléfaros (cicatrizes entre a conjuntiva palpebral e bulbar) são indicativos de do-
enças dermatomucosas, como o penfigoide das membranas mucosas.6 Ademais,
alterações de coloração da esclera, como em pacientes ictéricos, são indicativas de
alterações hepáticas.
Glândulas Salivares
As glândulas salivares são examinadas pela inspeção e palpação em busca de tume-
fações, nódulos e alterações quantitativas e qualitativas do fluxo salivar. Deve-se pre-
ceder à secagem dos orifícios de todos os ductos das glândulas antes de realizar a
palpação. A parótida pode ser palpada através da pressão digital da glândula, posicio-
nando-se os dedos à frente do pavilhão auricular e com a outra mão pressionando-a
contra o ramo mandibular. Já o ducto de Stensen é mais bem palpado com a boca fe-
chada, observando-se o volume do fluxo salivar e possíveis alterações em sua colora-
ção e viscosidade. As glândulas submandibulares e sublinguais são palpadas bimanu-
almente, posicionando-se uma das mãos na região submandibular e submentoniana,
respectivamente, e pressionando-as com os dedos da mão oposta através do assoa-
lho de boca.1,3 Alterações de forma e volume das glândulas salivares podem estar pre-
4
Cap. 1 • Exame Físico
5
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Figura 1.5 Metodologia de palpação dos linfonodos. (A) Linfonodos parotídeos. (B) Linfonodos auric-
ulares. (C) Linfonodos submentonianos. (D) Linfonodos submandibulares. (E) Linfonodos cervicais. (F)
Linfonodos occipitais.
Nervos Cranianos
Alterações da sensibilidade geral e da mobilidade facial são indicativas de lesões nos
nervos periféricos ou nos gânglios e núcleos do sistema nervoso central (SNC); portan-
to, a avaliação dos nervos trigêmeo e facial deve ser realizada, visto que sua alteração
pode estar associada a inúmeras doenças neoplásicas, inflamatórias ou processos
degenerativos do SNC.3 A simetria facial, o movimento das pálpebras e a mobilidade
da boca do paciente ao falar, por exemplo, devem ser observados com o intuito de se
identificar possíveis alterações de função do nervo facial.2 A sensibilidade geral pode
ser avaliada através de um leve toque com um objeto, como uma pluma, nas regiões
inervadas pelos ramos do nervo trigêmeo.
O exame físico intraoral deve ser sistematizado, de maneira que nenhuma região ana-
tômica da cavidade oral deixe de ser examinada. De maneira geral, deve-se solicitar ao
paciente que remova as próteses ou qualquer outro dispositivo intraoral que possa es-
6
Cap. 1 • Exame Físico
tar usando; uma boa fonte de iluminação deve estar disponível para auxiliar na detec-
ção de qualquer alteração (Fig. 1.6). Vale lembrar que para esta etapa é recomendado o
uso de instrumentais e ou materiais (Fig. 1.7) para facilitar a execução do exame físico
intraoral. A seguir, serão apresentadas as estruturas que devem ser inspecionadas.
Figura 1.6 Sequência utilizada no exame físico intraoral. Observar que a utilização da
numeração é uma sugestão para acompanhamento da inspeção de toda a mucosa oral.
Figura 1.7 Bandeja com instrumentos auxiliares para a execução de exame físico in-
traoral.
7
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Mucosa Jugal
Solicita-se ao paciente que abra a boca aproximadamente até a metade da amplitude
máxima. Inspeciona-se a coloração e a integridade da mucosa. Localiza-se o ducto de
Stensen (na altura dos primeiros molares superiores) e examina-se sua forma e volu-
me, realizando-se posteriormente a palpação deste em busca de alguma alteração em
sua consistência ou presença de sialolitos.2
Língua e Assoalho
Com o auxílio de uma gaze, traciona-se a língua pelo seu ápice, expondo o seu dorso,
observam-se as formas e a quantidade de papilas filiformes e fungiformes nos 2/3
anteriores, e das papilas circunvaladas no 1/3 posterior, visto que a despapilação da lín-
gua pode estar associada a deficiências nutricionais. Posteriormente, traciona-se a lín-
gua para um dos lados para inspeção das bordas, onde se nota a presença das papilas
foliáceas na região posterior, que são por vezes confundidas com lesões neoplásicas.
Finalmente, traciona-se a língua para cima evidenciando-se seu ventre, onde podem
ser detectadas varicosidades em pacientes mais idosos. Ainda com a língua nessa po-
sição, inspeciona-se e palpa-se bidigitalmente todo o assoalho da boca, avaliando-se
o freio lingual e as carúnculas sublinguais.1-3
8
Cap. 1 • Exame Físico
ção da emissão da vogal “A” pelo paciente. Identifica-se a úvula, que em alguns casos
pode apresentar-se bífida, e segue-se a inspeção do istmo das fauces (pilares anterior
e posterior) e do trigonorretromolar.1,2
Dentes
Por fim, avaliam-se os dentes quanto a possíveis alterações de número (comum em
diversas síndromes), forma, tamanho e estrutura, além de possíveis lesões cariosas,
placa visível e cálculo dentário.6
Considerações Finais
Apesar das inúmeras regiões e estruturas que existem para serem avaliadas durante o
exame físico, é fundamental que cada uma delas seja metodicamente examinada (Qua-
dro 1.2), visto que informações fundamentais para o diagnóstico, elaboração do plano
de tratamento e prognóstico são obtidas nessa fase que, em conjunto com os dados
da anamnese, estabelecem as diretrizes para todo o manejo odontológico do paciente.
Aspecto geral: (...) Normal (...) Alterado. Desenhe e descreva no desenho abaixo se alterado.
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Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
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Referências Bibliográficas
1. Marcucci G. Fundamentos de Odontologia: Estomatologia. 2.ed. São Paulo: Grupo Gen; 2005.
2. Scully C. Medicina Oral e Maxilofacial: Bases do Diagnóstico e Tratamento. 2.ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2008.
3. Silverman S, Eversole L, Truelove E. Fundamentos de Medicina Oral. 2.ed. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan; 2004.
4. Stefani SD, Barros E. Clínica Médica: Consulta Rápida. 3.ed. Porto Alegre: Artmed; 2008.
5. Carey RM, Whelton PK. 2017 ACC/AHA Hypertension Guideline Writing Committee. Preven-
tion, detection, evaluation, and management of high blood pressure in adults: synopsis of the
2017 American College of Cardiology/American Heart Association Hypertension Guideline.
Ann Intern Med. 2018 Mar 6;168(5):351-8.
6. Neville B, Damm D, Allen C, Chi A. Patologia Oral e Maxilofacial. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016.
10
2
Prescrição
Medicamentosa
Eduardo Dias de Andrade • Francisco Carlos Groppo
A Lei 5.991/73, no Artigo 35, estabelece as normas de receituário para prescritores ha-
bilitados.4 Com base nessa lei, o Conselho Federal de Farmácia, por meio da Resolução
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Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Receita Comum
Identificação do Prescritor
É obrigatório constar: nome do profissional (ou da instituição onde ele trabalha), pro-
fissão (cirurgião-dentista), número de inscrição no Conselho Regional de Odontologia
(CRO). São considerados facultativos: a expressão clínico geral, a (s) especialidade(s),
os títulos de formação acadêmica stricto sensu e do magistério relativos à profissão,
endereço, telefone, endereço eletrônico, horário de trabalho, convênios, credencia-
mentos e atendimento domiciliar, além de logomarca e/ou logotipo. No caso de servi-
ços públicos de saúde, no talonário deverá constar o nome e o endereço da instituição.
Cabeçalho
Além do nome e endereço residencial do paciente, o cabeçalho deverá conter a forma
de uso do medicamento, que pode ser interno ou externo.
O medicamento é de uso interno somente quando for deglutido, como é o caso dos
comprimidos, cápsulas, drágeas, soluções orais, suspensões, etc. Todas as demais for-
mas farmacêuticas são de uso externo: comprimidos sublinguais, soluções para bo-
chechos, pomadas, cremes, supositórios e soluções injetáveis.6
Inscrição
A inscrição de uma receita comum deverá conter:
12
Cap. 2 • Prescrição Medicamentosa
• A concentração (quando esta não for padrão). Por exemplo, a amoxicilina, na for-
ma de pó para suspensão oral, é comercializada com as concentrações de 125
mg/5 mL; 250 mg/5 mL e 500 mg/5 mL, as quais deverão ser especificadas.
• A quantidade: 1 (uma) caixa com 15 ou 21 cápsulas, 1 (um) frasco, 1 (uma ampo-
la). A receita não deverá conter abreviaturas, códigos ou símbolos, (“comp.” ou
“cap.”, em vez de comprimidos ou cápsulas), ou intervalos entre doses (“8/8 h”
em vez de a cada 8 horas).4
* Observação: Se o prescritor decidir pela não intercambialidade (troca do medicamento de referência pelo
genérico), essa manifestação deverá ser feita por escrito, de forma clara, legível e inequívoca, bastando escre-
ver no corpo do talonário, ao final da prescrição: Não autorizo a substituição por genéricos. Não é permitida a
colagem de etiquetas ou carimbos para essa manifestação.3
Orientação
Destina-se ao paciente, com as informações de como fazer uso da medicação, espe-
cificando as doses, horários das tomadas ou aplicações dos medicamentos e duração
do tratamento.
Adscrição
Composta por outros cuidados (ou do prescritor ao paciente). Exemplos: “Não ingerir
bebidas alcoólicas durante o tratamento”; “Não deglutir a solução”; “Não ingerir com
leite”; “Não dirigir ou operar máquinas perigosas, etc.”
13
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Prescrição de Antimicrobianos
Em 2010, a Anvisa publicou a norma RDC 44/2010, que trata do controle do uso de
antimicrobianos, a fim de evitar a automedicação, inibir a comercialização indiscri-
14
Cap. 2 • Prescrição Medicamentosa
Nome do profissional
Número de inscrição no CRO
Uso interno
Amoxicilina suspensão oral 250 mg/5 mL – 1 frasco
Administrar 5 mL a cada 8 horas, pelo período de 3 dias.
Horários sugeridos: 7h, 15h e 23h.
Data e assinatura
Nota dos autores: A reconstituição de uma suspensão oral quase sempre gera dúvidas para os pais ou respon-
sáveis pelas crianças. Assim, numa folha à parte, é recomendada a elaboração de um texto explicativo informa-
tizado, com os seguintes dizeres:
15
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Modo de usar: Para preparar a suspensão, agite o frasco ainda fechado para soltar o pó do fundo, coloque
água filtrada até a marca indicada no rótulo do frasco e agite-o bem, em movimentos circulares, até que o pó
se misture totalmente com a água. Verifique se a mistura atingiu a marca, caso contrário, complete novamente
com água até atingi-la. Tampe e agite novamente. Mantenha o frasco na geladeira e sempre agite a suspensão
antes de usar.
Referências Bibliográficas
1. Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Lei 5081, 24 de agosto de 1966. Regula o Exercício
da Odontologia. [Internet]. Brasília: Casa Civil; 1973 [capturado em 15 mar. 2018]. http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5081.htm.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 344, de 12 de
maio de 1998. Aprova o regulamento técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a
controle especial [Internet]. Brasília: ANVISA; 1998 [capturado em 15 mar. 2018]. Disponível
em: http://www.anvisa.gov.br/legis/ portarias/344_98.htm.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 16, de 2 de março
de 2007. Aprova Regulamento Técnico para Medicamentos Genéricos [Internet]. Brasília: AN-
VISA; 2001[capturado em 15 mar. 2018]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saude-
legis/anvisa/2007/rdc0016_02_03_2007.html.
4. Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Artigo 35º da lei nº 5.991, de 17 de dezembro de
1973. Dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Far-
macêuticos e Correlatos, e dá outras Providências [Internet]. Brasília: Casa Civil; 1966 [captu-
rado em 15 mar. 2018]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5991.htm.
5. Conselho Federal de Farmácia. Resolução nº 357, de 20 de abril de 2001. (Alterada pela Re-
solução nº 416/04). Aprova o regulamento técnico das Boas Práticas de Farmácia. [Internet].
Brasília: CFF; 2001[capturado em 15 mar. 2018]. Disponível em: http://www.cff.org.br/userfiles/
file/resolucoes/357.pdf.
6. Andrade ED, Groppo FC. Normas de prescrição de medicamentos. In: Andrade ED. Terapêutica
medicamentosa em odontologia. 3.ed. São Paulo: Artes Médicas, 2014, p. 92-7.
7. Manual de orientação: prescrição e dispensação de medicamentos utilizados em Odontologia.
Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo,
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo. [Internet]. São Paulo: CRF; 2017 [capturado
em 15 mar. 2018]. Disponível em: http://portal.crfsp.org.br/documentos/comites/direitoseprer-
rogativas/171005_etica_manual_orientacao_WEB.pdf.
16
3
Exames
Complementares
3.1 – Exames Complementares Laboratoriais
Stanley Nigro • Valcir Chiferi Junior
A utilização cada vez maior dos testes diagnósticos laboratoriais possibilita muitas ve-
zes o diagnóstico precoce das doenças antes mesmo de suas manifestações clínicas.
No entanto, seu uso indiscriminado por profissionais desprovidos de informações clí-
nicas (exame e história) tem se tornado uma prática cada vez maior, ocasionando in-
terpretações errôneas dos resultados. Um profissional de saúde com um resultado de
exame laboratorial sem contexto clínico muitas vezes concebe condutas iatrogênicas
em que o tratamento do resultado não é necessariamente o tratamento do paciente.
A maioria dos valores de referência de um exame laboratorial tem como base, para
suas definições, parâmetros populacionais distribuídos em uma curva de Gauss em
que 5% dos resultados ficam fora da faixa esperada. Estes indivíduos saudáveis ne-
cessitam de uma investigação de seus antecedentes, tanto dos dados clínicos como
dos laudos anteriores, para que a conduta de tratamento ou não seja determinada.
Todo teste diagnóstico apresenta três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. A
fase pré-analítica envolve as seguintes etapas:
17
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
atualmente são capazes de aceitar o tubo primário (mesmo tubo utilizado na coleta),
eliminando o erro humano de aliquotagem durante o abastecimento das máquinas.
A fase pós-analítica corresponde à transcrição dos resultados do aparelho para o
laudo propriamente dito. O interfaceamento praticamente eliminou estas ocorrências.
Com o avanço tecnológico dos analisadores, resultados discrepantes atualmente
são atribuídos à fase pré-analítica em 70% dos casos.
Portanto, antes de qualquer conduta ante um resultado inesperado de exame, solici-
te a repetição dele e concentre-se nas condições de preparo do paciente.
Alguns exemplos apresentados na Tabela 3.1.1 ilustram resultados inesperados por
orientações inadequadas em pacientes saudáveis.
Volume insuficiente
TP, TTPA Elevado de sangue no tubo Jejum de 4h
de coleta
AnÁlise Hematológica
A produção de eritrócitos pela medula óssea inicia-se com a célula pluripotente que,
por mitoses sucessivas, dá origem às seguintes células em ordem de maturação: proe-
ritroblasto, eritroblasto basófilo, eritroblasto policromático, eritroblasto ortocromático,
reticulócito e, finalmente, hemácia.
No sangue periférico de indivíduos saudáveis encontramos hemácias e reticuló-
citos presentes. O encontro das demais formas está presente em situações em que
18
Cap. 3 • Exames Complementares
Complementação Diagnóstica
1. Curso inicial das anemias ferroprivas mostra RDW aumentado e VCM nL. Reticu-
lócitos estão baixos ou próximos da normalidade.
2. Nas anemias ferroprivas: presença de aumento de plaquetas, pois pertencem à
linhagem inicial na formação de hemácias. Reticulócitos necessariamente eleva-
dos. Ferritina nL ou ainda baixa.
3. Nas anemias agudas por perda de sangue, ferritina nL, reticulócitos aumentados.
Pode cursar com macrocitose e policromasia. Nos casos de anemia por insufi-
19
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Paciente saudável
VCM nL e RDW nL
HB nL
Anemia megaloblástica
VCM aumentado e RDW nL Anemia ferropriva em tratamento
ou aumentado
Poliglobulia (9)
Hb elevado
Policitemia (10)
20
Cap. 3 • Exames Complementares
Função Hepática
A célula hepática é a mais multifuncional do organismo. Sua função estende-se desde
a síntese de proteínas estruturais, cuja principal é a albumina, até enzimas e pró-enzi-
mas responsáveis pelo funcionamento do hepatócito. Os fatores de coagulação em
sua totalidade também são sintetizados no fígado; no entanto, o fator VIII também é
sintetizado nas células endoteliais.
Esta gama de funções permite que qualquer lesão hepatocelular ou perda de função
seja detectada prontamente por testes bioquímicos. Toda agressão celular, indepen-
dentemente do tecido envolvido, inicia-se por alterações na permeabilidade da mem-
brana citoplasmática gerando extravasamento do conteúdo. Nessa condição, proteí-
nas do citosol alcançam a corrente sanguínea sendo detectadas de forma precoce.
São exemplos de analitos presentes no hepatócito:
21
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
22
Cap. 3 • Exames Complementares
Bilirrubina total
Níveis normais:
Verificar ALT Níveis aumentados
e seguir fluxograma
Síndrome de Gilbert**
Anemia hemolítica
Figura 3.1.2 Algoritmo para interpretação dos testes de função hepática (bilirrubina total).
Para pacientes sem icterícia: solicitar ALT, Gama GT, albumina e TP (Fig. 3.1.3).
ALT
23
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
1. Creatinina elevada (acima de 1,5 mg/dL). Insuficiência renal crônica, mas pode
também estar elevada em pessoas saudáveis com aumento de massa muscular.
Alguns medicamentos podem aumentar o valor da creatinina: cimetidina, quimio-
terápicos, cafalosporinas, acido ascórbico, aminoglicosídeos e hidantoína.
2. Creatina baixa (abaixo de 0,6 mg/dL). Aparece em pessoas com menor quanti-
dade de massa muscular: mulheres, idosos e pacientes com síndrome consupti-
va ou desnutridos.
3. Ureia elevada (acima de 40 mg/dL). Insuficiência renal aguda ou crônica. Esta
condição de insuficiência pode ser decorrente de outras comorbidades, como:
hipertensão arterial, diabetes, infecções ou desidratação. Porém, outras condi-
ções podem elevar a ureia, mesmo com o funcionamento correto dos rins: cân-
cer, infecções ou excesso de proteína na dieta.
4. Ureia baixa (abaixo de 10 mg/dL). A ureia pode estar baixa e não indicar nenhu-
ma doença específica, mas a falta de proteínas na alimentação, gravidez, baixa
absorção intestinal ou incapacidade do fígado de metabolizar amônia, como na
insuficiência hepática.
5. Sódio alto (acima de 145 mg/dL). O sódio elevado ou hipernatremia ocorre em
pacientes desidratados, diabetes insípido, síndrome de Cushing, coma, hiperal-
dosterismo primário e outros.
6. Sódio baixo (abaixo de 135 mg/dL). Uso de diuréticos. A doença de Addison, a
nefrite grave e a hiperglicemia com diurese osmótica também provocam a queda
do sódio plasmático.
7. Potássio alto (acima de 5,5 mEq/L). Indicativo de insuficiência renal aguda e crô-
nica, diabetes tipo 1, exercícios físicos intensos, uso de medicações diuréticas e
anti-inflamatórios, como o ibuprofeno.
8. Potássio baixo (abaixo de 3,5 mEq/L). Uso de medicamentos diuréticos, con-
sumo excessivo de chás diuréticos, diarreia e vômitos frequentes, insuficiência
renal aguda e crônica, deficiência de ácido fólico, uso excessivo de álcool e de
laxantes.
9. Magnésio alto (adultos: acima de 2,6 mg/dL). Uso de antiácidos contendo mag-
nésio, enemas com magnésio, nutrição parenteral, intoxicação por lítio. Insufici-
ência aguda e crônica do rim elevam o valor acima de 3,0 mg/dL.
10.Magnésio baixo (adultos: abaixo de 1,6 mg/dL). Alcoolismo agudo, perdas
gastrintestinais, renais. Não podemos esquecer o uso crônico de inibidores de
bomba de próton, por exemplo, o omeprazol. A hipomagnesemia pode levar à
hipocalemia e à hipopotassemia, que levam a sintomas neurológicos e eletrocar-
diográficos.
24
Cap. 3 • Exames Complementares
Introdução
25
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Diabetes
Definição
Alteração metabólica que se manifesta de duas maneiras: Tipo I, menos comum (insu-
linodependente) e Tipo II, de ocorrência comum e com significativo aumento na popu-
lação brasileira (insulinorresistente).
Achados Gerais
• São vários os achados e efeitos adversos na boca, dentre os mais conhecidos
estão: doença periodontal decorrente da predisposição aos processos inflama-
tórios e infecciosos, xerostomia decorrente da poliúria.
• Perda de peso, poliúria, suscetibilidade a infecções, formigamento nos pés, fome
exagerada, processo de cicatrização lento, alteração na visão.
Achados Radiográficos
As características radiográficas são de doença periodontal; não é possível fazer a distin-
ção radiográfica de diabetes. Reabsorção da crista alveolar e bolsas periodontais com
reabsorção óssea horizontal e vertical são comuns com consequente perda dos dentes.
A reabsorção óssea avançada está relacionada à gravidade da doença (Fig. 3.2.1).
Figura 3.2.1 Imagem radiográfica panorâmica apresentando reabsorção óssea generalizada e desapa-
recimento das cristas alveolares.
26
Cap. 3 • Exames Complementares
Hiperparatireoidismo
Definição
• Diagnóstico diferencial: Se de forma isolada, o diagnóstico diferencial inclui: lesão
central de células gigantes, cisto ósseo simples.
• Exames complementares: Fosfato (diminuído) e fosfatase alcalina (aumentada).
Achados Gerais
• Mais comuns em homens (30 a 60 anos).
• Cálculos renais, calcificação pulmonar úlcera péptica, dores ósseas e articulares.
Achados Radiográficos
• Perda gradual dos dentes, perda da lâmina em um ou mais dentes, borda inferior
da mandíbula, paredes do canal mandibular e parede dos seios maxilares mais
finas. A desmineralização da matriz óssea por aumento do hormônio (PTH), des-
truição localizada do osso por atividade de osteoclastos e produção de fibrose
produzem imagens radiolúcidas.
• Em aproximadamente 10% dos casos, há lesões centrais ou periféricas (tumor de
células gigantes/tumor marrom), que reproduzem áreas radiolúcidas mal defini-
das e desaparecimento da lâmina dura, que podem resultar em uma aparência de
raiz em forma de cone (Fig. 3.2.2).
Figura 3.2.2 Imagens panorâmica e periapical de um homem com 49 anos ilustrando a perda de vários
dentes e as áreas radiolúcidas localizadas especialmente na mandíbula, resultado da desmineralização
óssea pelo aumento do hormônio PTH; o desaparecimento da lâmina dura é mais evidente na imagem
periapical dos dentes 43, 44 e 45.
27
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Hipotireoidismo
Definição
• Produção excessiva de tiroxina pela glândula tireoide; a forma mais comum é co-
nhecida como doença de Graves.
• Secreção insuficiente de tiroxina apesar da produção do hormônio tireoestimu-
lante (TSH).
Achados Gerais
Achados gerais: letargia, constipação, edema periorbital, pele seca, queda de cabelo.
Achados Radiográficos
Achados gerais: diminuição na espessura da lâmina dura, atraso no irrompimento de
dentes e raízes encurtadas.
Hiperpituitarismo
Definição
Hiperfunção do lobo anterior da glândula pituitária (aumento da produção do hormônio
de crescimento).
Achados Gerais
Gigantismo, acromegalia, lábio, língua mãos e pés podem alcançar grandes propor-
ções.
Achados Radiográficos
• O tamanho dos dentes costuma ser normal, entretanto, especialmente nos den-
tes posteriores, pode-se observar hipercementose.
• Alongamento do processo condilar, aumento no ramo ascendente e corpo da
mandíbula, crescimento excessivo da mandíbula (relação de classe III).
Hipopituitarismo
Definição
Diminuição da secreção dos hormônios pituitários.
Achados Gerais
Diminuição da estatura, infertilidade, cansaço, intolerância ao frio, incapacidade de
produzir leite materno.
28
Cap. 3 • Exames Complementares
Achados Radiográficos
Achados radiográficos na região maxilomandibular: Diminuição nas dimensões da ma-
xila e mandíbula. Embora a dentição decídua ocorra em tempo normal, a esfoliação
dos dentes é tardia. A formação da coroa dos dentes permanentes é normal, com ir-
rompimento tardio.
Hipertireoidismo
Definição
Os hormônios T4 (tiroxina) e T3 (tri-iodotironina), produzidos na glândula tireoide, es-
timulam o metabolismo e regulam todos os processos bioquímicos do organismo. No
hipertireoidismo ocorre aumento na produção desses hormônios. Na doença de Gra-
ves, um anticorpo no sangue é o responsável pela produção excessiva.
Achados Gerais
• Nervosismo e irritação, aumento da frequência cardíaca, taquicardia, insônia, sudorese.
• Intolerância ao calor, perda de peso, tremores, exoftalmia, bócio.
Achados Radiográficos
• Pacientes adultos podem apresentar diminuição na densidade óssea generaliza-
da ou em algumas áreas desdentadas.
• Ao contrário dos pacientes com hipotireoidismo, esses pacientes podem apre-
sentar irrompimento precoce com perda prematura dos decíduos.
Síndrome de Cushing
Definição
• Excesso de secreção de glicocorticoides pelas glândulas adrenais.
• Resultante de: adenomas, carcinomas, hiperplasia ou adenoma no lóbulo ante-
rior na glândula pituitária, terapia com corticoides exógenos.
Achados Gerais
• Mais prevalente em mulheres na 3ª ou 4ª década de vida.
• Obesidade, cifose torácica, hipertensão, diabetes.
Achados Radiográficos
• Osteoporose generalizada.
• Afinamento ou desparecimento da lâmina dura, lesões homogêneas radiopacas
com aspecto de vidro despolido.
• Fraturas patológicas.
29
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Histiocitose X
Definição
• Condição reticuloendotelial inflamatória com provável etiologia viral.
• Desenvolve-se em formas diferentes: granuloma eosinófilo, doença de Hand
-Schüler (forma crônica e disseminada) e doença de Letterer-Siwe (forma agu-
da e disseminada).
Achados Gerais
Acúmulo de histiócitos e eosinófilos envolve o esqueleto; nas formas mais severas,
envolvem também tecidos moles. As lesões bucais estão presentes em aproximada-
mente 10% dos casos e podem ser a primeira manifestação da doença.
Achados Radiográficos
• Lesão osteolítica ou policística, nos jovens, um sinal característico é a lesão os-
teolítica com margem irregular e reação periosteal contínua ou não. Na forma
crônica, lesões radiolúcidas (únicas ou múltiplas) arredondadas ou ovaladas, ge-
ralmente com margens bem definidas, mas não corticadas. A destruição da lâmi-
na dura resulta na aparência de “dentes flutuantes” (Fig.3.2.3).
Doença de Rickets
Definição
• Doença de Rickets e osteomalácia resultam de níveis extracelulares de cálcio e
fosfato, necessários para a calcificação óssea resultando em hipocalcemia.
30
Cap. 3 • Exames Complementares
Achados Gerais
• Atraso no desenvolvimento, baixa estatura, deformidade óssea, dores ósseas e
musculares.
• Afeta o desenvolvimento ósseo em crianças.
Achados Radiográficos
• Abscessos dentoalveolares, atra-
so no irrompimento dos dentes.
• Afinamento da cortical do canal
mandibular.
• Diminuição da densidade no tra-
beculado ósseo.
• Hipoplasia do esmalte de dentes
irrompidos ou não.
• Diminuição na espessura da lâmi-
na dura.
• Aumento da câmara pulpar. Figura 3.2.4 Imagem radiográfica periapical de
uma paciente com doença de Rickets apresentando
• Perda óssea ao redor dos dentes. desaparecimento da lâmina dura, característico de
• Reabsorção externa da raiz (Fig. doenças sistêmicas, e áreas de discreta reabsorção
óssea em áreas onde clinicamente havia abscessos
3.2.4). dentoalveolares.
3.3 – Citopatologia
Adrianna Milagres
A citopatologia já vem sendo realizada desde 1867, quando o médico inglês Lionel
Smith Beale detectou células tumorais na saliva de pacientes com câncer em farin-
ge.1 Contudo, tornou-se mais conhecida em 1923, após o médico grego anatomista
George Papanicolaou ter analisado alterações celulares indicativas de câncer de colo
uterino, passando a ser adotada como rotina na prevenção de neoplasias malignas de
colo de útero (citologia oncológica).2
A citopatologia baseia-se na coleta de células esfoliadas do epitélio para observação
e análise ao microscópio óptico de campo claro.2,3 Assim, sua realização é mais indicada
em lesões que acometem o epitélio ou quando há erosão/ulceração, onde há perda do
epitélio com exposição do tecido conjuntivo. Já em lesões representadas por aumento
de volume (nódulos) revestido por epitélio íntegro, a punção aspirativa pode ser utilizada.
Na clínica odontológica, a citopatologia pode ser realizada em uma gama de lesões.
Utilizado para avaliação oncótica desde o início, o exame é de grande valia no diagnós-
31
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
tico de carcinoma de células escamosas oral,3,4 tumor maligno mais frequente na boca,
da mesma forma na identificação de alterações celulares (displasia epitelial) em lesões
precursoras de câncer oral, como leucoplasia e eritroplasia.
Além das neoplasias, outras doenças com manifestações frequentes na boca po-
dem ser diagnosticadas pelo exame citopatológico. Lesões de origem infecciosa,
como candidíase, paracoccidioidomicose, herpes simples e leucoplasia pilosa oral
podem ter a definição diagnóstica através da identificação dos seus agentes etioló-
gicos e/ou dos seus efeitos citopáticos correspondentes na análise microscópica.5-8
O diagnóstico citopatológico também se aplica nas lesões vesiculobolhosas, como o
pênfigo vulgar.9,10
Para a realização do exame citopatológico convencional, são necessários instru-
mentos para a coleta: lâminas de vidro, frasco para acondicionamento das lâminas e
substância fixadora.11
A coleta do material deve ser realizada com espátula (metálica ou plástica) ou esco-
va endocervical. As lâminas de vidro devem ter as extremidades foscas (despolidas)
para prévia identificação com o nome do paciente e a região anatômica da qual o ma-
terial será coletado. O frasco com tampa e canaletas para o encaixe das lâminas deve
conter álcool a 96º para fixação do material e etiqueta com identificação deste. Tanto
a identificação da lâmina como a do frasco devem ser feitas a lápis (grafite) para evitar
que seja danificada pelo contato com o álcool (Fig. 3.3.1).
Figura 3.3.1 Materiais utilizados na coleta de células da mucosa oral para exame citopatológico. (A)
Escova endocervical, espátula metálica e espátula de madeira. (B) Lâminas de vidro, porta-lâminas e
álcool 96º.
32
Cap. 3 • Exames Complementares
Figura 3.3.2 Sequência da coleta de células da mucosa oral para exame citopatológico. (A) Raspado da
lesão/área selecionada. (B) Esfregaço em lâmina de vidro identificada. (C) Inserção da lâmina no frasco
identificado contendo álcool 96º.
33
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
3.4 – Biópsia
Karla Bianca Fernandes da Costa Fontes • Maria Carolina de Lima Jacy Monteiro Barki
Nicolas Homsi • Renata Tucci
História Clínica
34
Cap. 3 • Exames Complementares
35
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Técnicas Cirúrgicas
Após a anestesia, ao realizar a biópsia em tecido mole, alguns princípios devem nortear
a execução como (Figs. 3.4.1 a 3.4.4):
36
Cap. 3 • Exames Complementares
Figura 3.4.1 Semimucosa labial inferior exibindo Figura 3.4.2 Incisão em formato elíptico realiza-
queilite actínica. Indicação de biópsia em placa da de forma contínua, uniforme, única ao longo
branca. da maior dimensão da lesão, convergindo para
a base. Também foi removida amostra de tecido
clinicamente saudável.
Figura 3.4.3 Após divulsão para aproximação Figura 3.4.4 Sutura exibindo o nó deslocado
das bordas da ferida. para a lateral da ferida.
37
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Biópsia Incisional
As principais indicações para este tipo de biópsia são para lesões: grandes (parâmetro
subjetivo que varia de acordo com a habilidade do cirurgião), suspeitas de neoplasia
maligna e que terão outros tipos de tratamento não cirúrgico após a conclusão diag-
nóstica, como lesões dermatomucosas.1-3 Vale ressaltar que a lesão pode apresentar
um espectro variável com características histopatológicas distintas em toda a sua
área,3 o que torna a seleção da área da biópsia incisional uma tarefa extremamente
importante para o correto diagnóstico.
Nesse contexto, na presença de lesões extensas ou quando a lesão apresenta ca-
racterísticas clinicamente distintas, torna-se necessário retirar mais de uma amostra
no intuito da maior abrangência e/ou mapeamento da lesão.3 Outra questão relevante
é que na presença de lesão suspeita de malignidade, a área selecionada deverá ser na
borda da lesão, não considerando áreas de necrose por perda de detalhamento celular.
Em suma, a biópsia incisional para ser bem-sucedida precisa ser realizada no local
adequado, contendo uma amostra com quantidade e profundidade satisfatórias da le-
são e, se possível, com margem de tecido clinicamente saudável.
A sutura, quando envolve áreas de remanescentes da lesão, deve ser realizada com
penetração da agulha mais distante das bordas, uma vez que estas se encontram friá-
veis quando acometidas por lesão.5
Biópsia Excisional
As principais indicações para biópsia excisional são para lesões pequenas e vascula-
res. Muitas vezes, em lesões extensas, pode-se considerar a possiblidade de realizar
vários tempos cirúrgicos de biópsia incisional para evitar a mutilação ou perda exces-
siva de tecido de uma vez.
A biópsia excisional precisa garantir a remoção completa da lesão, assim como
apresentar todas as margens (laterais e profunda) livres da lesão contendo margem
de tecido clinicamente saudável.1,3
Biópsia intraóssea
38
Cap. 3 • Exames Complementares
Orientações Pós-operatórias
Os cuidados pós-operatórios são fundamentais para uma boa recuperação do pa-
ciente. Diante disso, algumas orientações devem ser explicadas detalhadamente ao
paciente e de preferência ao acompanhante, oralmente e por escrito, de forma que
o paciente entenda as instruções e assine o recebimento delas. Uma estratégia per-
tinente que pode ser empregada é a leitura das orientações escritas e sua explicação
minuciosa concomitantemente, inclusive enfatizando a necessidade da disciplina do
paciente. O tempo que o paciente deverá seguir as orientações pode variar de acordo
com o tipo (tecido mole ou intraóssea) e a extensão da biópsia. Nesse contexto, as
principais orientações após biópsia são:
39
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
• Desconforto pós-operatório;
• Dor local;
• Edema;
• Hemorragia local;
• Laceração dos tecidos moles;
• Hematoma e equimose;
• Infecção;
• Trismo;
• Comunicação buco-sinusal;
• Febre;
40
Cap. 3 • Exames Complementares
• Parestesia;
• Enfisema – é uma rara complicação que pode ser ocasionada pelo uso da turbi-
na de alta rotação, seringa tríplice, trauma facial, espirros fortes, vômitos ou por
aumento da pressão intrabucal no pós-operatório, por tocar um instrumento de
sopro ou encher bolas;
• Injúrias aos dentes, próteses fixas ou restaurações adjacentes à área da biópsia.
Vale ressaltar que todas as próteses dentárias removíveis devem ser retiradas
durante a biópsia;
• Necrose pulpar dos dentes adjacentes à área de biópsia intraóssea;
• Fratura óssea;
• Acidentes com material cirúrgico – fratura, deglutição ou broncoaspiração de
material/instrumento cirúrgico.
Outro aspecto relevante durante a biópsia é o cuidado com a peça, uma vez que se for
manuseada de forma inadequada poderá não ser possível obter o diagnóstico. Diante
disso, os procedimentos adotados após a obtenção do fragmento apresentam a mes-
ma importância que o procedimento cirúrgico.
Após a realização do ato cirúrgico, se o fragmento for pequeno, pode-se acomodá
-lo em um pequeno papel (geralmente se utiliza uma parte do papel do fio de sutura)
mantendo a posição anatômica com o epitélio voltado para cima, e esse material deve-
rá ser imediatamente fixado de forma adequada. Vale ressaltar também que em alguns
casos de biópsia excisional, o cirurgião pode identificar as margens para que o pato-
logista avalie o comprometimento, confirmando a remoção total da lesão. Caso uma
ou mais margens estejam comprometidas, o patologista identificará qual das margens
ainda apresenta lesão remanescente. Uma técnica simples para identificação das mar-
gens é a marcação com fio de sutura, podendo identificar as margens com número de
voltas distintas de fio de sutura.
A fixação tem como finalidade a preservação dos componentes teciduais, impedin-
do a autólise e a putrefação. Um fixador adequado preservará o tecido possibilitando o
seu reconhecimento nas reações histo e imuno-histoquímicas realizadas no laborató-
rio. A peça removida cirurgicamente deverá ser colocada em frasco de abertura larga
identificado (nome do paciente, data de realização da biópsia e localização da lesão)
contendo formol tamponado a 10%. Caso o formol não esteja pronto nesta diluição,
para prepará-lo basta diluir 1 litro do formol puro em 9 litros de água. O formol é consi-
derado um fixador universal, pois preserva todos os tecidos com boa qualidade. Vale
ressaltar que a quantidade de formol no frasco deverá ser de 10 a 20 vezes o volume
do material.3 Soro fisiológico, álcool ou água não fixam o tecido e o material sofrerá
autólise, fato que impede o processamento e a análise histopatológica.
41
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Em caso de lesão intraóssea, pedimos a gentileza de nos enviar o exame imaginológico e/ou sua
imagem digital.
TIPO DE MATERIAL
A) Biópsia incisional Biópsia excisional Curetagem Exodontia Outro:____________________
B) Mucosa Vermelhão Intraósseo Dente Glândulas salivares labiais Outro:_____________
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
LOCALIZAÇÃO: ___________________________________________________________________________
Lado: direito esquerdo
Número: única dupla múltipla
Lesão: mácula placa pápula nódulo vesícula bolha úlcera crosta
Base: séssil pediculada
Formato: irregular esférico oval outro:________________________________________________
Consistência: firme pétrea mole borrachoide
Cor: rósea/normal branca preta vermelha amarela outra:____________________________
Limites: precisos imprecisos circinado
Superfície: lisa ulcerada lobulada irregular outra:_____________________________________
42
Cap. 3 • Exames Complementares
Considerações Finais
43
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Ribossomos Lisossomos
Grânulos de zimogênio Grânulos de núcleo denso
Células acinares das glândulas Retículo endoplasmático liso
salivares Filamentos intermediários
Mucina ácida Miofilamentos
44
Cap. 3 • Exames Complementares
45
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
elásticas até grandes fibras. Essas fibras são evidenciadas nas colorações de rotina
pela H&E. No entanto, métodos mais específicos, como a utilização de orceína e fucci-
na-resorcina, mostram evidenciação específica.
A Tabela 3.5.2 mostra as principais reações do tecido conjuntivo e suas colorações.
Tricômico
Tecido H&E Van Gieson Reticulina Prata PAS
Masson
Rosa es-
Músculo Amarelo Vermelho Cinza Cinza +
curo
Rosa es-
Colágeno Vermelho Azul/verde Cinza – +
curo
Fibra elás-
Rosa Amarelo – – – –
tica
Fibra reti-
– Amarelo Azul/verde Preto – ++
cular
Membrana
Rosa Amarelo Azul/verde Cinza Preto +++
basal
Rosa es-
Osteoide Vermelho Variável Cinza – +
curo
Cartilagem Roxo Variável Variável Variável Variável ++
Fibrina Rosa Amarelo Vermelho Cinza – +/–
46
Cap. 3 • Exames Complementares
3.6 – Imuno-histoquímica
Priscilla Rodrigues Câmara • Rebeca de Souza Azevedo • Fábio Ramôa Pires
47
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
o antígeno é uma proteína, o anticorpo vai reagir com várias partes (epítopos) desta
proteína. Assim sendo, os anticorpos policlonais possuem uma maior afinidade e uma
ampla reatividade, mas apresentam menor especificidade e maior possibilidade de re-
atividade cruzada e de resultados falso-positivos quando comparados aos anticorpos
monoclonais. O animal mais utilizado para a produção de soros policlonais é o coelho,
mas estes podem também ser obtidos a partir de outras espécies, como cabras, por-
cos e ovelhas. Os soros monoclonais são produzidos em laboratório e derivados de
um único plasmócito, que é imortalizado. Assim, os clones são idênticos e reagem ape-
nas com um determinado epítopo contra o qual foi produzido, apresentando, portanto,
maior especificidade. O animal mais utilizado para a produção dos anticorpos mono-
clonais é o camundongo. A escolha do anticorpo a ser utilizado vai depender do objeto
do estudo; no entanto, há uma preferência quanto ao uso de anticorpos monoclonais
devido a sua alta especificidade quando comparados aos anticorpos policlonais.3-7
A IHQ pode ser realizada em tecidos ou em células isoladas. Quando são utilizados
tecidos, a técnica pode basear-se em tecidos frescos congelados ou em tecidos inclu-
ídos em parafina. Na prática clínica diária, e na maioria dos casos nos quais a IHQ é utili-
zada como ferramenta de diagnóstico complementar, os tecidos utilizados foram pro-
venientes de espécimes armazenados em blocos de parafina. Estes espécimes foram
inicialmente fixados em formol, processados rotineiramente e incluídos em blocos de
parafina para que fossem obtidas lâminas histológicas coradas por histoquímica con-
vencional (em coloração de hematoxilina e eosina, por exemplo). Para a realização da
IHQ pela técnica da imunoperoxidase, que é a mais comumente utilizada, o processo
pode ser dividido em três fases: a Fase 1, denominada pré-analítica, que inclui todas as
etapas até a obtenção do espécime incluído em um bloco de parafina, a microtomia e a
fixação dos cortes obtidos em lâminas contendo uma substância adesiva (“silanizada”)
ou com carga eletrostática, para que o tecido tenha maior adesão e não se perca ao
longo das etapas seguintes; a Fase 2, que compreende a realização da técnica propria-
mente dita; e a Fase 3, que inclui as etapas após a reação IHQ, como a interpretação
dos resultados e a avaliação dos controles utilizados.4,8
Para garantir o resultado da IHQ é necessário usar um controle positivo em toda
a reação, que nada mais é do que um tecido que sabidamente possua positividade
para o anticorpo que se deseja usar. É também importante utilizar em todas as reações
um controle negativo, que pode ser um tecido sabidamente negativo para o anticorpo
analisado ou a simples omissão da aplicação do anticorpo primário ou outro reagente
durante o desenvolvimento da reação.2,4,9-11
A marcação para cada anticorpo utilizado dependerá diretamente do antígeno-alvo
da reação. Por exemplo, se o antígeno que estamos buscando no tecido é um receptor
de membrana celular, devemos esperar positividade apenas na membrana das célu-
las que o expressem; se buscamos uma proteína exclusivamente citoplasmática, não
devemos encontrar expressão nuclear. Os resultados poderão ser avaliados de forma
qualitativa (presença ou ausência de expressão) ou de forma semiquantitativa (bus-
cando quantificar a expressão em um determinado tecido – por exemplo, o número
de células com núcleos positivos dentro do número total de células na área avaliada).4
48
Cap. 3 • Exames Complementares
CD20 Linfócitos B
CD3 Linfócitos T
CD68 Macrófagos
49
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Figura 3.6.1 Expressão de CD34 em células endoteliais na cápsula fibrosa de um cisto radicular (Imu-
noperoxidase, 100x).
Figura 3.6.2 Expressão de citoqueratinas (clone AE1AE3) nas células tumorais de um carcinoma de
células claras de palato (Imunoperoxidase, 200x).
50
Cap. 3 • Exames Complementares
Figura 3.6.3 Expressão de ki-67 no núcleo das células tumorais de um adenoma canalicular de lábio
(Imunoperoxidase, 400x).
Referências Bibliográficas
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Cap. 3 • Exames Complementares
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4
Cardiopatias
4.1 – Hipertensão Arterial
Frederico Buhatem Medeiros • Levy Anderson César Alves
55
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
tes, insuficiência renal e acidente vascular cerebral. Por outro lado, o seu tratamento
farmacológico pode acarretar em efeitos colaterais indesejados na cavidade bucal,
como apresentados na Tabela 4.1.2.4
56
Cap. 4 • Cardiopatias
para avaliação médica, e o procedimento eletivo não deve ser realizado. Já quando ne-
cessitar impreterivelmente de abordagem odontológica, deve ser encaminhado para
o serviço de emergência, pois se caracteriza uma urgência hipertensiva, para que se
possa realizar a conduta adequada.1,6
No plano de tratamento da maioria dos pacientes que necessitam de cuidados es-
peciais, um assunto que ainda causa muita controvérsia diz respeito à escolha da so-
lução anestésica local. Segundo uma reportagem conjunta da American Heart Asso-
ciation e American Dental Association, os vasoconstritores não são contraindicados a
pacientes com enfermidade cardíaca diagnosticada e controlada desde que se tomem
cuidados especiais e não se ultrapassem as doses máximas recomendadas, uma vez
que a quantidade de vasopressor é tão ínfima e seus efeitos são tão benéficos, no
sentido do controle da dor e de se evitar a adrenalina endógena.1,7,8
A American Dental Association, em 1964, já reafirmava que as concentrações de va-
soconstritores normalmente utilizadas em soluções anestésicas locais odontológicas
não são contra-indicadas para pacientes com doença cardiovascular quando adminis-
tradas cuidadosamente e com aspiração preliminar.9
Outro assunto de grande relevância é a prescrição de anti-inflamatórios em pacien-
tes hipertensos, uma vez que estes medicamentos podem interferir no mecanismo de
ação das drogas anti-hipertensivas. A recomendação de anti-inflamatórios não hor-
monais, por cirurgiões-dentistas, deve ser realizada de forma cautelosa, uma vez que
estes podem diminuir a efetividade anti-hipertensiva de diuréticos, beta-bloqueado-
res, alfa-bloqueadores, vasodilatadores, inibidores da ECA e agonistas de ação central.
Recomenda-se a sua substituição pelos anti-inflamatórios hormonais, em curto espa-
ço de tempo, aproximadamente 3 dias.
57
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
58
Cap. 4 • Cardiopatias
Cefalexina
2g 50 mg/kg
Alérgicos a penicilina Clindamicina
600 mg 20 mg/kg
(1h antes) Azitromicina ou
500 mg 15 mg/kg
Claritromicina
59
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Recém-nascido 70-190
1 a 2 anos 80-130
2 a 6 anos 75-120
7 a 9 anos 70-110
Esportistas 40-60
60
Cap. 4 • Cardiopatias
• Bradiarritmias: bradicardia.
• Taquiarritmias: supraventriculares e ventriculares.
Bradicardia e Taquicardia
A frequência cardíaca fora do intervalo de 50 a 100 batimentos por minuto em re-
pouso é considerada arritmia cardíaca. Entre os sintomas mais comuns, o indivíduo
pode apresentar:
• Tontura;
• Fadiga;
• Dor no peito;
• Falta de ar;
• Desmaios.
61
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
• Envelhecimento;
• Desequilíbrio eletrolítico;
• Álcool;
• Hipertensão;
• Doenças cardíacas.
• Pericardite;
• Hipertensão;
• Hipertireoidismo;
• Insuficiência cardíaca;
• Ataque cardíaco.
• Palpitações;
• Falta de ar;
• Dor no peito;
• Desmaio (síncope).
• Infarto do miocárdio;
• Cardiopatias congênitas;
• Miocardite;
• Complicações cirúrgicas;
• Hipotireoidismo;
• Desequilíbrio de eletrólitos no sangue;
• Apneia do sono;
• Doenças inflamatórias (p. ex., febre reumática);
• Medicamentos, como antiarrítmicos ou medicamentos para hipertensão.1
Fibrilação Atrial
Bastante frequente, a fibrilação atrial (FA) é o tipo mais comum de arritmia grave. É
mais frequente em idosos, caracterizando-se pelo batimento irregular dos átrios, com
contrações rápidas, podendo ultrapassar 300 batimentos por minuto (BPM).
62
Cap. 4 • Cardiopatias
A equipe deve estar preparada para identificar sinais de uma emergência médica e
atuar quando necessário. Importante obter treinamento pelo Basic Life Suport (BLS).
O consultório deve dispor de equipamentos e drogas para situações de emergência.
A prevenção desses acidentes é o mais importante, como já foi dito, pelo levanta-
mento completo da história clínica e dos cuidados acima citados.
O paciente cardiopata ou não nos períodos pré e transoperatórios de uma urgência
odontológica passa por forte alteração emocional provocada pelo estado de dor e medo,
o que pode promover aumento de diversas funções vitais que se manifestam através de
63
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Referências Bibliográficas
Subcapítulo 4.1
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Cap. 4 • Cardiopatias
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65
5
Coagulopatias
5.1 – Coagulopatias Hereditárias
Luiz Alberto Valente Soares Júnior
Introdução
67
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Para restabelecer a função fisiológica dos vasos, o coágulo deverá ser removido
pelo sistema fibrinolítico. Isto ocorre quando o plasminogênio (pró-enzima) é conver-
tido em sua forma ativa, proteolítica, a plasmina, pela ação dos ativadores do plasmi-
nogênio.2
O sistema hemostático, que é altamente desenvolvido, permite uma resposta rápi-
da e eficaz na perda de sangue, mas também evita uma resposta trombogênica fora
do sítio de lesão ou além do tempo fisiológico necessário. Qualquer alteração deste
processo pode levar a um desequilíbrio, muitas vezes discreto, resultando em doença
clínica trombótica ou hemorrágica.
Alterações Plaquetárias
68
Cap. 5 • Coagulopatias
Coagulopatias
69
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Tratamento Odontológico
Planejamento
Tratamento Preventivo
A manutenção da boa saúde bucal do indivíduo é o pilar básico da odontologia mo-
derna. Infelizmente, os pacientes com risco elevado de sangramento tendem a ne-
gligenciar os cuidados com a higiene oral por receio de sangramento. É de respon-
sabilidade do cirurgião-dentista informar ao paciente a importância da manutenção
da saúde oral.15,16
Tratamento Restaurador/Protético
Tratamentos restauradores podem e devem ser executados de maneira rotinei-
ra. O material restaurador deve ser escolhido seguindo princípios já consagrados
pela odontologia, com respeito à durabilidade, características, indicação, estética
e disponibilidade.16,17,20
Tratamento Endodôntico
A abordagem endodôntica dos pacientes coagulopatas deve ser rotineira e seguir os
preceitos já consagrados na odontologia tanto na abordagem técnica quanto na me-
dicação intracanal.16,17
70
Cap. 5 • Coagulopatias
Tratamento Ortodôntico
Não há contraindicação para as diversas modalidades de tratamento ortodôntico e/ou
de ortopedia de maxilares.16,17
Tratamento Periodontal
Tecido periodontal saudável é sinônimo de uma boa saúde oral e, consequentemente,
de menor risco de episódios de sangramento.16-18,24 Muitas vezes, a gengivorragia es-
pontânea é observada especialmente em pacientes plaquetopênicos com contagem
abaixo de 10.000 plaquetas/mm3. Nunca é necessário suspender a higiene oral diária
nos pacientes coagulopatas. A intensidade e a abordagem nesta situação devem ser
incrementais e rotineiras: controle químico da placa bacteriana (gluconato de clorexi-
dina a 0,12%), controle mecânico da placa bacteriana (escovação e polimentos coro-
narianos), raspagem coronorradicular supragengival, raspagem radicular subgengival,
cirurgia periodontal.16
Tratamento Cirúrgico
O tratamento cirúrgico odontológico de pacientes com risco elevado de sangramento
sempre foi causa de apreensão tanto para o paciente quanto para os profissionais da
equipe multidisciplinar. Devem ser avaliados exames hematológicos (hemograma, co-
agulograma e contagem de plaquetas) e exames radiográficos.16-18 Quatro elementos
básicos devem ser considerados: tipo da coagulopatia, extensão do procedimento ci-
rúrgico, suporte hematológico e materiais hemostáticos locais. É importante salientar
que quanto maior a extensão da ferida cirúrgica, maior será o risco de sangramento.
No transoperatório, as técnicas utilizadas nos procedimentos cirúrgicos odontológi-
cos não diferem daquelas utilizadas nos indivíduos não coagulopatas. Sutura sempre
deve ser executada na tentativa da aproximar ao máximo as bordas da ferida cirúrgica;
o uso de fio de sutura não absorvível é o indicado. O uso de métodos hemostáticos lo-
cais não dispensa a sutura.16,18 No período pós-operatório, orientação é essencial para
o sucesso de todo o procedimento. Retornos predeterminados devem ser obedeci-
dos, assim como o uso correto da medicação recomendada e das orientações pós
-operatórias rotineiras.16-18
71
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
72
Cap. 5 • Coagulopatias
Considerações Finais
73
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Anestesia
– – – –
infiltrativa
Anestesia Pré-procedi-
30% 30% Dose única
Bloqueio mento
Tratamento
– – – –
preventivo
Tratamento
– – – –
restaurador
Tratamento
– – – –
endodôntico
Tratamento
– – – –
protético
Tratamento
– – – –
ortodôntico
Tratamento
– – – –
periodontal
Cirurgia Pré-procedi- Retornos para
30% 30%
periodontal* mento avaliação
Exodontias Pré-procedi-
30% 30% Dose única
simples** mento
Exodontias com- Pré-procedi- Retornos para
50% 50%
plexas*** mento avaliação
74
Cap. 5 • Coagulopatias
Plaquetopenias Plaquetopenias
Procedimentos Acima 30.000 Abaixo 30.000 Plaquetopatias Frequência
plaquetas/mm3 plaquetas/mm3
Anestesia
– – – –
infiltrativa
Anestesia de
– – – –
bloqueio
Tratamento
– – – –
preventivo
Tratamento
– – – –
restaurador
Tratamento
– – – –
endodôntico
Tratamento
– – – –
protético
Tratamento
– – – –
ortodôntico
Tratamento
– – – –
periodontal
+ + Retornos
Cirurgia perio-
– Pré-procedi- Pré-procedi- para
dontal*
mento mento avaliação
Exodontias + +
Dose única
simples** – Pré-procedi- Pré-procedi-
mento mento
+ + + Retornos
Exodontias
Pré-procedi- Pré-procedi- Pré-procedi- para avalia-
complexas***
mento mento mento ção
75
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Hemostasia Primária
76
Cap. 5 • Coagulopatias
Hemostasia Secundária
77
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Pico da ação 4-5 dias 1-3 horas 2-4 horas 1-3 horas
78
Cap. 5 • Coagulopatias
Bochecho ou
Solução irrigação da área 3 a 4 vezes ao dia
cirúrgica
Macerado + veículo
Ácido (2 ou 3 gotas de 2 a 3 vezes ao dia
tranexâmico soro fisiológico, Sobre a ferida
anestésico, cirúrgica ou
Antifibrinolíticos Comp.
água potável sangramento
ou o próprio com compressão
antifibrinolítico em local
solução)
Bochecho ou
Ácido épsilon
Solução irrigação da área 3 a 4 vezes ao dia
aminocaproico
cirúrgica
Embebido em
Ácido gaze e aplicado Deixar por 5 min
tricloroacético Solução topicamente e repetir se ne-
a 10% sobre o local do cessário
Agentes sangramento
cauterizantes
Aplicado
Corrente topicamente 1 vez e repetir se
Eletrocautério
elétrica sobre o local do necessário
sangramento
Aplicado
Compressa topicamente Utilizar nas pri-
Crioterapia Gelo
local sobre o local do meiras 24 horas
sangramento
Sobre a ferida
Selantes de
Aplicado cirúrgica ou
fibrina, colágeno,
topicamente sangramento
trombina tópica, – Solução
sobre o local do com compressão
celulose oxidada,
sangramento local. Repetir, se
adesivo cirúrgico
necessário
Cada vez mais tem se demonstrado que o risco de eventos tromboembólicos repre-
senta um desfecho pior para o paciente do que a possibilidade de hemorragia trans ou
pós-operatória.10
Realizar uma estratificação de riscos cirúrgicos, baseada no perfil individual de cada
paciente e na extensão da ferida cirúrgica, é essencial para alcançar o sucesso no ma-
nejo odontológico desse grupo de pacientes.
A literatura recomenda que o manejo odontológico para os pacientes em uso da
varfarina seja realizado dentro da faixa terapêutica de INR (2-3,5), sem suspensão do
medicamento, com avaliação laboratorial ideal dentro de 24 horas, e tolerável, até 72
horas antes do procedimento odontológico.1,6,8-11
79
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Para os pacientes em uso de terapia antiplaquetária única ou dual, com AAS e clo-
pidogrel, não há necessidade de suspensão previamente ao procedimento para extra-
ções de até três dentes;12,13 assim como para pacientes em uso de anticoagulantes ini-
bidores diretos de fatores Xa e trombina, sobre o qual não existe controle laboratorial
terapêutico até o momento.9,14
Ressalta-se a importância, para todas as situações impostas, da necessidade de o
cirurgião-dentista estar capacitado para controlar um sangramento de maior intensi-
dade bem como para dar resolução adequada a uma possível complicação hemorrá-
gica pós-operatória.
Para procedimentos odontológicos com maior risco de sangramento, e principal-
mente em pacientes com terapias medicamentosas e doenças associadas, recomen-
da-se que o cirurgião-dentista discuta previamente com toda a equipe multidisciplinar
a melhor oportunidade cirúrgica, para individualização de cada caso (Tabela 5.2.4 e
Tabela 5.2.5).
Procedimento
cirúrgico
odontológico
Extensão cirúrgica
Tipo de
coagulopatia
+ exames
complementares
necessários
Probabilidade
de eventos
tromboembólicos
Suspender ou atra-
Risco de sar a primeira dose
sangramento Nenhuma alteração na terapia medicamentosa
moderado Retornar 4 horas
após
80
Cap. 5 • Coagulopatias
Sugadores de saliva
Não colocar diretamente na mucosa bucal → hematoma
e bomba a vácuo
Sangramento – Evitar ↓
Moldagens Proteger as bordas das moldeiras metálicas com roletes de cera
Evitar pressão do vácuo na remoção das moldeiras
Radiografias
Proteger as bordas da película
intrabucais
81
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
• Compressão local;
• Anestesia local;
• Limpeza do coágulo;
• Remoção de sutura, se necessário;
• Curetagem/remoção do coágulo malformado;
• Remoção de fragmentos ósseos ou tecidos de granulação;
• Alveoloplastias;
• Irrigação com SF 0,9%; ou com antifibrinolítico;
• Manipulação dos tecidos moles;
• Coaptação de bordas cirúrgicas, sempre por primeira intenção;
• Nova sutura, se necessário;
• Colocação de hemostáticos locais/uso de antifibrinolítico local;
• Suporte hematológico, se necessário após decisão multidisciplinar;
• Checar hábitos e traumas;
• Reforçar cuidados pós-operatórios;
• Medicação pós-operatória, se necessário.
82
Cap. 5 • Coagulopatias
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Subcapítulo 5.1
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86
6
Diabetes Mellitus
Marina Helena Cury Gallottini • Nathalie Pepe Medeiros de Rezende
O diabetes mellitus (DM) é uma desordem metabólica dos carboidratos, lipídeos e pro-
teínas, causada por distúrbio na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é pro-
duzido pelas células beta do pâncreas, resultando em hiperglicemia.
O diabetes pode ser classificado em tipo 1, tipo 2, gestacional e outros tipos. O DM
do tipo 1 manifesta-se preferencialmente em jovens, geralmente antes da adolescên-
cia, sendo responsável por 5 a 10% de todos os casos de diabetes. Está na maioria das
vezes relacionado a um processo autoimune, que leva à destruição das células beta do
pâncreas, o que causa a deficiência absoluta da produção de insulina. Outras causas
do DM do tipo 1 são a fibrose cística, perda do tecido pancreático, ou remoção cirúrgica
do pâncreas.
O DM do tipo 2 atinge adultos, geralmente após os 40 anos de idade, e é associa-
do ao sobrepeso e à obesidade. É causado por diminuição da resposta tecidual aos
níveis normais de insulina circulante (resistência à insulina), seguido por um quadro
de hiperinsulinemia e, posteriormente, pela deficiência de produção da insulina, ge-
rando hiperglicemia.
O DM gestacional está relacionado à intolerância à glicose, com etiopatogenia se-
melhante ao DM do tipo 2, regredindo no período pós-parto.
Outros tipos de DM incluem: DM monogênico (causado por alteração genética),
DM induzido por drogas (por exemplo: corticóides, diuréticos, drogas agonistas de re-
ceptores β-adrenérgicos), DM associado a síndromes genéticas (síndrome de Down,
síndrome de Turner, síndrome de Klinefelter), DM associado a endocrinopatias (por
exemplo: hipertireoidismo e síndrome de Cushing) ou, ainda, DM associado à disfun-
ção exócrina do pâncreas, causada por agentes infecciosos como o citomegalovírus
e a rubéola.
A Tabela 6.1 mostra os exames laboratoriais e os valores de referência usados em
2018 para o diagnóstico de estados de pré-diabetes e diabetes, segundo a American
Diabetes Association.
87
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Teste de tolerância
Glicemia após Glicemia Hemoglobina
Valores à glicose oral
jejum de 8h aleatória glicada (A1C)
(2h após 75g)
O dentista pode e deve participar do rastreio de pessoas com diabetes. Para tanto,
recomenda-se que pessoas com mais de 65 anos de idade sejam testadas para o dia-
betes, assim como indivíduos mais jovens, mas considerados de alto risco para o de-
senvolvimento do diabetes, como os obesos, sedentários, parentes de primeiro grau
de pessoas com DM, mulheres que tiveram diabetes gestacional, hipertensos, pessoas
com HDL inferior a 35 mg/dL e/ou triglicérides acima de 250 mg/dL e pessoas com
histórico de doença vascular.
A diabete tipo 2 pode ser assintomática por muito tempo, o que faz com que o indi-
víduo muitas vezes demore a receber o diagnóstico de diabetes. A diabete tipo 1 tem o
aparecimento abrupto e, portanto, o diagnóstico é estabelecido desde o seu apareci-
mento. O DM não controlado por um longo período de tempo leva ao estabelecimento
de uma série de complicações que se originam da microangiopatia e da macroangio-
patia. As complicações microvasculares são causadas por aumento na espessura da
membrana dos capilares, levando à diminuição da perfusão celular e à isquemia. Com-
plicações como insuficiência renal, retinopatias e neuropatias são decorrentes da mi-
croangiopatia. As complicações macrovasculares incluem doença arterial coronariana,
acidente vascular cerebral, doença vascular periférica e insuficiência cardíaca, que são
as principais causas de morte nesses pacientes.
As complicações agudas da diabete incluem as emergências hiperglicêmicas e hi-
poglicêmicas. As emergências hiperglicêmicas do diabetes mellitus são a cetoacidose
diabética (CAD) e estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH), que diferem entre si pelo
grau de hiperglicemia e a presença ou não de cetoacidose. Deve-se suspeitar des-
tas condições em todos os pacientes com hiperglicemia, especialmente se associada
à desidratação. Com o uso de inibidores do SGLT2, existe a possibilidade de ocorrer
cetoacidose com glicemia inferior a 250 mg/dL. O manejo das emergências hipergli-
cêmicas é hospitalar e inclui reconhecer e corrigir o fator precipitante, hidratação e
reposição hídrica, correção da hiperglicemia, e monitoração e correção de eletrólitos.
A hipoglicemia é a intercorrência aguda mais comum do diabetes. Não há uma defini-
ção consensual de hipoglicemia, mas as academias científicas a definem com valores
que variam de <54 a <70 mg/dL de glicose no sangue. Pode ser leve, moderada ou
88
Cap. 6 • Diabetes Mellitus
severa, com consequente sequela neurológica, podendo levar ao óbito se não tratada
em tempo.
O tratamento da hipoglicemia deve ser feito com ingestão de 10 a 15 gramas de
açúcar diluído numa pequena quantidade de água ou suco. Após repetir a mensuração
da glicemia, 3 a 5 minutos após a ingestão de açúcar, se os valores ainda não estiverem
dentro dos valores normais, deve-se repetir o primeiro passo até estabilizar a glicemia.
Após a estabilização, o indivíduo deve ingerir alimento rico em carboidrato de absor-
ção lenta, como pão, massas, bolachas de água e sal. Para tratar a hipoglicemia grave,
pode-se colocar uma “papa de açúcar” em contato com a mucosa bucal ou administrar
glucagon: 1 mg por via intramuscular ou subcutânea.
O tratamento do DM tem por objetivo normalizar os níveis de glicose no sangue,
prevenir as complicações agudas e eliminar os sintomas, promover a manutenção do
peso ideal1 e prevenir ou minimizar as complicações crônicas.1,4 O DM tipo 1 possui
tratamento à base de insulina obrigatoriamente4,6, entretanto, o uso prolongado deste
medicamento possui efeitos colaterais, como o aumento do peso e da hipoglicemia.
Hoje em dia há diversos tipos de insulina disponíveis, sendo comum a utilização de
diferentes tipos de insulina por um mesmo paciente. O dentista deve estar familiari-
zado com o tipo ou com os tipos de insulina que seu paciente odontológico utilizou
no dia da consulta, para facilitar a prevenção de crises, em especial as hipoglicêmicas.
O tratamento da diabetes tipo 2 começa pela implementação de dieta com restrição
calórica, abstenção do consumo de açúcares simples, perda de peso e mais atividade
física. No entanto, estas medidas nem sempre são suficientes para controlar os níveis
de glicemia. Desta forma, são prescritos os hipoglicemiantes orais que atuam de for-
ma diferente e por isso podem ser prescritos em conjunto. O diabetes tipo 2 ainda é
considerado uma doença inexoravelmente progressiva. Isto significa que virtualmente
todos os pacientes acabarão precisando de insulina para controle da glicemia, se vive-
rem tempo suficiente. O início da insulinoterapia ocorre quando a combinação de dro-
gas orais com ou sem agonistas do receptor do GLP-1 não oferece mais um controle
glicêmico satisfatório.
Além do tratamento, o paciente e os profissionais de saúde que assistem esse in-
divíduo devem fazer o controle diário da doença. Para tanto, recomenda-se a aferição
da glicemia capilar, popularmente conhecido como “ponta de dedo”, que pode auxiliar
no controle diário do DM. Idealmente, a glicemia deve ser aferida de 4 a 6 vezes ao dia,
sempre antes e após as refeições.
Dois aspectos devem preocupar o dentista que vai atender pacientes com diabetes:
as manifestações bucais relacionadas com a doença de base e o manejo clínico neces-
sário para que o atendimento preserve a homeostase do paciente.
Nenhuma alteração bucal é exclusivamente relacionada à diabetes, mas existem
condições que são mais frequentemente encontradas na boca de pacientes com dia-
betes. A doença periodontal merece atenção especial; o Quadro 6.1 resume a relação
entre estas condições.
89
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
A doença periodontal (DP) é a manifestação bucal comum em pacientes com DM. Pa-
cientes com DM do tipo 2 possuem três vezes mais chances de desenvolver DP do que
pacientes normorreativos. Pacientes fumantes e portadores de DM do tipo 1 possuem
20 vezes mais chances de desenvolver a DP do que pacientes apenas fumantes. Muitas
vezes, a doença periodontal manifesta-se de forma avançada e relacionada com o grau
de descompensação do DM. Por outro lado, a DP, por ser uma infecção, pode colaborar
com a hiperglicemia, dificultando a compensação do paciente. Portanto, alguns autores
acreditam que a resolução da DP pode ajudar no controle glicêmico e vice-versa.
A xerostomia é queixa frequente entre pessoas com DM e pode ser decorrente de
poliúria ou alterações na membrana basal das glândulas salivares. A diminuição do fluxo
salivar pode acentuar problemas nutricionais, dificultando a mastigação e a deglutição, e
levando a alterações de paladar e aumento do risco da doença cárie, além do ressecamen-
to da mucosa oral fina, síndrome da boca ardente, úlceras, descamação, língua seca, depa-
pilada e inflamada. A utilização de saliva artificial facilita a mastigação e a deglutição, e sua
associação com bochechos fluoretados e correta higiene oral diminui o risco para cárie.
A descompensação do DM, associada à hipossalivação, predispõe o aparecimen-
to de infecções fúngicas, principalmente a candidíase, que pode manifestar-se como
glossite mediana rômbica, queilite angular, estomatite protética, glossite atrófica e
candidíase pseudomembranosa. O tratamento da candidíase deve ser sempre reali-
zado por pelo menos duas semanas, e pode ser realizado com antifúngicos tópicos ou
sistêmicos. O tratamento tópico pode ser realizado com nistatina ou daktarin gel. Já
o tratamento sistêmico pode ser realizado com fluconazol (100 mg/dia), cetoconazol
(200 mg/dia) ou itraconazol (200 mg/dia).
A síndrome da boca ardente tem sido relatada em pessoas com DM descompensa-
da. É caracterizada por dor e ardor intensos em toda a mucosa oral e está relaciona-
da com a presença de xerostomia, candidíase, alterações neurológicas (depressão) e
neuropatia. Uma vez compensado o DM, há uma melhora na xerostomia e na candidía-
se, levando a uma melhora do quadro da síndrome da boca ardente.
O tratamento odontológico do paciente com diabetes deve incluir o conhecimento
do estado de saúde atual, tipo de tratamento e controle, complicações presentes. A
glicemia capilar e a pressão arterial deverão ser aferidas no início de cada consulta
odontológica. O dentista deve antecipar o risco de complicações durante as consultas
90
Cap. 6 • Diabetes Mellitus
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91
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
92
7
Doenças Hepáticas
7.1 – Hepatites Virais
Karem López Ortega • Janaina Braga Medina • Juliana Bertoldi Franco
O fígado pode ser afetado por agentes químicos, físicos ou biológicos. Neste último
grupo encontram-se os vírus hepatotrópicos, que são assim denominados por pos-
suírem um tropismo específico pelos hepatócitos.1 Dentre esses vírus, cinco são res-
ponsáveis por epidemias ou endemias: o vírus da hepatite A (VHA), vírus da hepatite B
(VHB), vírus da hepatite C (VHC), vírus da hepatite D ou delta (VHD) e o vírus da hepatite
E (VHE)2-4 (Tabela 7.1.1). As hepatites virais continuam entre as causas mais comuns de
doença aguda e crônica do fígado, situando-se entre os principais problemas de saúde
pública em todo o mundo.5 Estima-se que anualmente, em média, 180.000 norte-a-
mericanos sejam infectados pelo VHA, 200.000, pelo VHB e 36.000, pelo VHC. Como
consequência, são estimadas 100 mortes por hepatite A fulminante, de 5.000 a 6.000
por hepatite B e entre 8.000 e 10.000 por hepatite C.2
Apesar de comporem um grupo de doenças cuja característica principal é acometer
o fígado, estas são diferentes em transmissibilidade, período de incubação, severidade
de infecção e presença ou ausência de um estado portador e sequelas, como cirrose
e câncer (Tabela 7.1.2).
As hepatites virais de maior relevância para os dentistas são a B, C e D.6 Essa rele-
vância vincula-se à possibilidade de transmissão no consultório odontológico (Tabela
7.1.3) e ao manejo de pacientes com doença crônica.
O cuidado dentro do ambiente clínico começa com a delimitação de zonas de atua-
ção, evitando que pessoas sem a devida paramentação trafeguem por zonas de trata-
mento odontológico, ou que pessoas paramentadas deixem essas mesmas zonas sem
se despirem de todo o equipamento de proteção individual (EPI).7
Todo material crítico ou semicrítico, que não for passível de descarte, deverá ser
esterilizado. O método preferencial é através do calor úmido, em autoclave, por 30 mi-
nutos a 121ºC e 1 atmosfera de pressão.8 As superfícies devem ser desinfetadas com
hipoclorito de sódio a 1% (evitar superfícies metálicas), álcool a 70% (friccionado con-
tra a superfície por 1 minuto e deixar secar por 10 minutos), glutaraldeído a 2% (durante
15 minutos por imersão) e fenóis a 2 ou 3%.5,7,9,10
93
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
94
Cap. 7 • Doenças Hepáticas
pode ser transitório ou irreversível1,46 (Tabela 7.1.6). Cabe lembrar que essas alterações
podem aparecer tanto em quadros de hepatite aguda quanto em quadros de hepatite
crônica.5,6,11,19,26,47,48
Além das alterações relativas ao comprometimento do órgão, o cirurgião-dentis-
ta49-51 também deve estar atento às medicações utilizadas pelos pacientes e seus
possíveis efeitos adversos (Tabelas 7.1.7 e 7.1.8). Tratamentos medicamentosos são
implementados apenas para as hepatites B, C e D.
Presença
Nome Ano da
Tipo Genótipos Tamanho Genoma Família Transmissão em fluidos
do vírus descoberta
corpóreos
Fecal-oral
6 genótipos
(via água
(I, II, III, IV, V, Fezes,
ou comida
VI) e 2 subti- saliva,
Hepatite pos (A e B)
contaminada)
VHA 27 nm RNA Picornaviridae 1973 secreção
A ou através
Em humanos respirató-
de contato
só os genóti- ria e soro
interpessoal
pos I, II e III
íntimo
10 genótipos
(A, B, C, D, E, Sexual Sangue,
Hepatite F, G, H, I, J) e fluidos
VHB 42 nm DNA Hepadnaviridae 1965 Parenteral
B mais de 30 sexuais,
subtipos Perinatal saliva
(1, 2, 3,...)
Sangue,
urina, sali-
6 genótipos Sexual va, sêmen,
Hepatite (1, 2, 3, 4,...) e
VHC 50 nm RNA Flaviviridae 1989 Parenteral liquido
C 30 subtipos
ascítico
(a, b, c, d...) Perinatal
e outras
secreções
Sexual Sangue,
Hepatite 8 genótipos fluidos
VHD 35 nm RNA Deltavirus 1977 Parenteral
D (1, 2, 3...) sexuais,
Perinatal saliva
Sangue
Hepatite 4 genótipos 27-34 e outros
VHE RNA Hepeviridae 1980 Fecal-oral
E (1, 2, 3, 4) nm fluidos,
fezes
95
96
Tabela 7.1.2 – Características clínicas das hepatites virais
Tipo de
Período de Período de
hepatite Cronicidade Complicações Icterícia Sintomas
incubação transmissibilidade
viral
É semelhante ao Desde uma semana antes do início Coinfecção*: hepatite Geralmente está
Sim Icterícia
da hepatite B, dos sintomas. A duração está vincu- fulminante associada à doença
Variável Na coinfecção, também podem
D porém menor na lada à cronicidade Na superinfecção, Cirrose aguda que, por sua vez,
Coinfecção:* 5-10% estar presentes os sintomas da
superinfecção: 15 não se conhece o período de trans- Carcinoma hepato- acontece em menos
Superinfecção:* 80% hepatite B.
a 56 dias missibilidade. celular de 5% dos casos
Resistência Resistência a
Tipo Inativação
no ambiente desinfetantes
Água e solos contaminados: 3 Fervura a 100ºC por um minuto; formaldeído (0,25%) por
meses a 25ºC; Éter e detergentes
Hepatite A 72 horas; cloro (1 mg/mL) por 30 minutos e radiação ul-
não iônicos
Superfícies inertes: 1 mês a 25ºC travioleta
Provavelmente o
Hepatite D ? Provavelmente o mesmo que o VHB
mesmo que o VHB
Provavelmente o
Hepatite E ? Provavelmente o mesmo que o VHB
mesmo que o VHB
97
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Tipo de
Infecção Suscetível Infecção
hepatite Vacinado Infecção aguda
passada à infecção crônica
viral
IgM (+)
IgG (+) = IgG (+) =
IgM – aparece ao
A Anti-VHA total Anti-VHA total (+) Anti-VHA (-) Não existe
mesmo tempo em
(+) e IgM (-) e IgM (-)
que os sintomas
Anti-HBs (+) Anti-HBs (+) Anti-HBs (-) Anti-HBs (-) Anti-HBs (-)
Anti-HBc (-) Anti-HBc (+) Anti-HBc (-) Anti-HBc (+) Anti-HBc (+)
B
HBsAg (-) HBsAg (-) HBsAg (-) HBsAg (+) HBsAg (+)
IgM anti-HBc (-) IgM anti-HBc (-) IgM anti-HBc (-) IgM anti-HBc (-) IgM anti-HBc (+)
anti-HEVIgM (+)
e HEV RNA (+)
E Não há vacina Anti-VHEIgG (+) Anti-VHE (-) Ou Anti-VHE (+)
anti-HEVIgM (-)
e HEV RNA (+)
98
Cap. 7 • Doenças Hepáticas
Função hepática
Testes de coagulação
*Esses valores podem variar de acordo com o método e a aparelhagem utilizados pelo laboratório. Os valores
aqui apresentados foram extraídos do manual do site www.hepcentro.com.br. **É uma enzima que catalisa a
reação: aspartato + alfa-queroglutarato = oxaloacetato + glutamato. É encontrada em altas concentrações no
citoplasma e nas mitocôndrias do fígado, músculos esquelético e cardíaco, rins, pâncreas e eritrócitos (glóbulos
99
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
vermelhos do sangue); quando qualquer um desses tecidos é danificado, a AST é liberada no sangue. Como
não há um método laboratorial para saber qual a origem da AST encontrada no sangue, o diagnóstico da causa
do seu aumento deve levar em consideração a possibilidade de lesão em qualquer um dos órgãos onde for
encontrada. ***É uma enzima que catalisa a reação: alanina + alfa-queroglutarato = piruvato + glutamato. É en-
contrada em altas concentrações apenas no citoplasma do fígado, o que torna o seu aumento mais específico
de lesão hepática; no entanto, pode estar aumentada em conjunto com a AST em miopatias (doenças muscu-
lares) severas. Tanto a AST quanto a ALT costumam subir e descer mais ou menos na mesma proporção em
doenças hepáticas. Elevações pequenas de ambas, ou apenas de ALT em pequena proporção, são encontradas
na hepatite crônica (especialmente hepatite C e esteato-hepatite não alcoólica). Como na hepatite alcoólica
há maior lesão mitocondrial, proporcionalmente, do que nas outras hepatopatias, observa-se tipicamente ele-
vação mais acentuada (o dobro ou mais) de AST (que é encontrada nas mitocôndrias) do que de ALT, ambas
geralmente abaixo de 300 U/L. Elevações de ambas acima de 1.000 U/L são observadas em hepatites agudas
virais ou por drogas.
*Também há a associação dos fármacos: ombitasvir (inibidor do complexo enzimático NS5A), dasabuvir (inibi-
dor não nucleosídico da polimerase NS5B), veruprevir (inibidor de protease NS3/4A) e ritonavir (potencializador
farmacocinético) – 3D; ledipasvir (inibidor do complexo enzimático NS5A) e sofosbuvir (análogo de nucleotídeo
que inibe a polimerase do HCV); elbasvir (inibidor do complexo enzimático NS5A) e grazoprevir (inibidor da
protease NS3/4A).
100
Cap. 7 • Doenças Hepáticas
O fígado, a maior víscera do corpo humano, está relacionado a muitas funções vitais
que promovem o funcionamento do metabolismo de modo equilibrado, garantindo a
homeostasia.1-3
Destacam-se como principais funções hepáticas, a função excretora (mecanismo
de desintoxicação de drogas, toxinas, produtos do metabolismo da hemoglobina), o
metabolismo de hormônios (inativação de hormônios esteroidais), a regulação do me-
tabolismo de nutrientes (metabolismo energético e de carboidratos, metabolismo lipí-
dico, metabolismo proteico), o armazenamento de substâncias (cobre, ferro, vitaminas
lipossolúveis – A, D, E, K, vitamina B12, ácido fólico), a função endócrina (hidroxilação
inicial da vitamina D, deiodinação da tiroxina em tri-iodotironina, síntese de IGF-1), e a
formação e secreção da bile.3
A renovação celular acontece lentamente, porém, caso a lesão seja contínua ou se
repita com frequência, ocorre a substituição do parênquima hepático por fibrose e for-
mação de nódulos, que, com frequência, são acompanhados de necrose. Esse proces-
so patológico é chamado de cirrose hepática.3 A cirrose hepática é a consequência de
todas as doenças crônicas, de longo prazo, que acometem o fígado, sendo as causas
mais comuns a hepatite C e o consumo excessivo de álcool, seguidos pela obesidade,
101
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Ca = cálcio; FP3 = fosfolipídeos plaquetários; FT = fator tissular; IVFT = inibidor da via do fator tissular.
102
Cap. 7 • Doenças Hepáticas
Local de Exame
Fator Sinônimos Natureza Via
produção laboratorial
Proteína
I Fibrinogênio Fígado Comum TP; TTPa
plasmática
Proteína
II Protrombina Fígado Comum TP; TTPa
plasmática
Glicoproteína Fígado,
Ativa a via
III Fator tissular da membrana tecidos em –
extrínseca
plasmática geral
Necessário
para todos os
estágios do
Íon
IV Íons cálcio Plasma processo de –
inorgânico
coagulação;
sempre pre-
sente
Fígado,
Proacelerina (fator Proteína plaquetas
V Comum TP; TTPa
lábil) plasmática e células
endoteliais
VI* Número não mais utilizado; substância que hoje se acredita seja a mesma que o fator V
Proconvertina, fator
estável, acelerador Proteína Intrínseca e
VII Fígado TP
da conversão da plasmática extrínseca
protrombina
Fator anti-hemofí- Proteína
VIII Fígado Intrínseca TTPa
lico A plasmática
Fator anti-hemofílico Proteína
IX Fígado Intrínseca TTPa
B, fator de Christmas plasmática
Proteína
X Fator Stuart Fígado Comum TP
plasmática
Precursor da trom-
boplastina plasmáti- Proteína
XI Fígado Intrínseca TTPa
ca, fator anti-hemo- plasmática
fílico C
Proteína
XII Fator Hageman Fígado Intrínseca TTPa
plasmática
Fator estabilizador Proteína Fígado e
XIII – –
da fibrina plasmática plaquetas
103
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
ALT = alanina aminotransferase; AST = aspartato aminotransferase; FA = fosfatase alcalina; GGT = gama gluta-
miltransferase; TP = tempo de protrombina.
104
Cap. 7 • Doenças Hepáticas
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Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
106
Cap. 7 • Doenças Hepáticas
sistema MELD (model for end-stage liver disease),1 modelo indicado para estimar o
prognóstico de pacientes com cirrose hepática. O MELD é um escore que varia de 6
a 40, sendo calculado por meio de uma fórmula que utiliza resultados de três exames
laboratoriais de rotina: bilirrubina, creatinina e a Relação Normalizada Internacional,
RNI [3,8 x log bilirrubina sérica (mg/dL) + 11,2 x log RNI + 9,6 x log creatinina (mg/dL)].
Os critérios de priorização2,3 para o transplante de fígado são: insuficiência hepática
aguda grave, não funcionamento primário do enxerto, trombose de artéria hepática
e anepatia por trauma. Condições que modifiquem desfavoravelmente o curso da
operação ou a evolução pós-operatória são contraindicações para o transplante de
fígado.4 Dentre estas condições se encontram: malignidade extra-hepática, colangio-
carcinoma, hemangiossarcoma, doenças cardíacas ou respiratórias graves não rela-
cionadas à doença hepática, insuficiência hepática aguda grave com pressão intracra-
niana sustentada, infecções sistêmicas, polineuropatia amiloidótica familiar avançada,
síndrome da imunodeficiência adquirida, abuso de substâncias e incapacidade do
paciente em compreender o processo. Extremos de idade, dificuldades anatômicas,
tromboses da veia porta ou veia mesentérica e cirurgias abdominais prévias represen-
tam contra-indicações relativas.
O transplante hepático está associado ao aumento significativo de sobrevida, sobre-
tudo de pacientes com MELD >15. A sobrevida estimada é de 80 a 95% em um mês, e
70 a 90% em 1 e 5 anos.5,6 O uso de drogas imunossupressoras é realizado de forma a
haver um equilíbrio entre o risco de rejeição e riscos de infecções e toxicidade de me-
dicamentos, sendo mantido por tempo indeterminado. Os esquemas de imunossupres-
são variam de acordo com a experiência de cada centro transplantador. Associações de
drogas com mecanismos de ação diferentes, minimizando doses para evitar ocorrência
de efeitos colaterais, são comuns. São utilizados corticoides, antimetabólicos, como áci-
do micofenólico e inibidores de calcineurina, como tacrolimus ou ciclosporina.
No primeiro ano pós-transplante, complicações técnicas ou infecciosas contribuem
para cerca de 60% dos óbitos ou falência do enxerto,4 ressaltando-se a importância da
atuação do cirurgião-dentista nas equipes de transplante para tratamento das infecções
bucais.7,8 Após o período de um ano, as doenças malignas, cardiovasculares e renais pas-
sam a contribuir para a maior proporção de óbitos.4 O acompanhamento clínico e labora-
torial regular no pós-operatório imediato e tardio é crucial para prevenção e tratamento
de complicações que causam impacto adverso na sobrevida pós-transplante.
107
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
108
Cap. 7 • Doenças Hepáticas
109
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
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Cap. 7 • Doenças Hepáticas
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116
8
Diagnóstico e Tratamento
Odontológico em Pacientes
com Doença Renal Crônica
Diva Claudia de Almeida • Thinali Sousa Dantas • Fabrício Bitu Sousa
A doença renal crônica (DRC) é considerada uma síndrome complexa por induzir vários
eventos adversos ao longo da sua progressão, embora normalmente seja assintomáti-
ca até alcançar fases avançadas. O seu desenvolvimento caracteriza-se por ser lento,
progressivo e irreversível, relacionado a uma agressão renal que pode ser imunológica,
mecânica ou hemodinâmica, resultando na redução progressiva da taxa de filtração
glomerular (TFG) e das funções renais.1-3 Quando a DRC chega a sua fase terminal, os
pacientes necessitam de terapia renal substitutiva (TRS), que consiste de duas moda-
lidades: diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal), ou transplante renal.2
A gravidade desta doença fica evidente quando relacionamos a importância dos
rins para a manutenção da vida, através de suas funções que incluem: (1) excreção de
produtos indesejáveis do metabolismo e de substâncias exógenas (ureia, creatinina,
fármacos, etc.); (2) função endócrina: produção de eritropoietina (hormônio que induz à
formação de eritrócitos), e da regulação do PTH; (3) controle da pressão arterial através
do sistema renina-angiotensina e do sistema calicreína-cinina; (4) produção da forma
ativa da vitamina D; (5) função hidroeletrolítica pela regulação do volume e osmolari-
dade do fluido extracelular, regulação do equilíbrio ácido-básico, concentração de íons
e eletrólitos (sódio, potássio, cloreto, bicarbonato, hidrogênio, magnésio e fosfato).2,4,5
As principais causas são a hipertensão arterial e a diabete mellitus. Outras causas
incluem as glomerulopatias, doenças hereditárias, doenças autoimunes, infecções
sistêmicas, infecções urinárias de repetição, obstrução do trato urinário, nefrites túbu-
lo-intersticiais, neoplasias, analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais (AINES).1,2
A DRC apresenta alto índice de óbito, relacionado principalmente com as doenças car-
diovasculares (40% do total de óbitos) e às infecções.1,6
117
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
A perda das funções renais que ocorre durante a progressão da DRC ocasiona o
surgimento de diversas comorbidades importantes, tornando o paciente renal um
paciente de risco. Dentre elas, cita-se: anemia; desnutrição; anorexia; dislipidemias;
diabetes mellitus; hiperparatireoidismo e alteração do metabolismo ósseo; deficiência
de coagulação (alterações qualitativas de plaquetas; diminuição da vida média da he-
mácia; alteração do fator III da coagulação; diminuição da adesividade plaquetária e do
fator de Von Willebrand’s); cardiopatias (insuficiência cardíaca congestiva, valvopatias,
arritmias, hipertrofia do ventrículo esquerdo); hipertensão arterial; alterações hidroele-
trolíticas; deficiência imunológica; inflamação crônica sistêmica.3,5,7-9
No que tange à odontologia, essas comorbidades podem ser fatores de risco para
dificuldade de cicatrização de feridas, hemorragias, fraturas ósseas, insucessos cirúr-
gicos, infecções e óbito.5
Além das alterações sistêmicas, a DRC ocasiona também diversos sintomas bucais,
como: hálito urêmico; palidez de membrana mucosa; xerostomia; estomatite urêmi-
ca; sangramento gengival, petéquias e equimoses; inflamação gengival; hiperplasia
gengival; hipoplasia de esmalte, obliteração pulpar, desmineralização do osso alveolar,
alteração de lâmina dura, mobilidade dentária, má oclusão e calcificações na articu-
lação temporomandibular; erosões da língua e dos dentes; aumento da formação de
biofilme; periodontite moderada a severa; aumento da formação de cálculo dentário;
frequentes infecções fúngicas; suscetibilidade à displasia epitelial e carcinoma.9-13
118
Cap. 8 • Diagnóstico e Tratamento Odontológico em Pacientes...
119
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
120
Cap. 8 • Diagnóstico e Tratamento Odontológico em Pacientes...
Evitar consultas longas com procedimentos extensos e/ou complexos, inclusive para procedimen-
tos cirúrgicos. Optar por procedimentos fracionados.
Realizar controle de higiene, além de controle de tratamento da doença periodontal.
Realizar controle de hipossalivação e xerostomia com administração de substitutos salivares.
Correto uso de anestésico – preferencialmente utilizar lidocaína ou mepivacaína. A dosagem anes-
tésica máxima deve variar entre 25% a 50% da dose normalmente indicada para paciente saudável.
Ressalta-se que o uso de anestésicos nesses pacientes deve ser ponderado e preferencialmente
utilizar droga sem vasoconstrictor.
Definição de medicamentos necessários e respectivos ajustes de doses (controle da ansiedade,
sedação, controle da dor, antibióticos, etc.). Não usar medicamento nefrotóxico e avaliar tipo de
imunossupressores utilizados.
Aferir PA antes e depois de cada procedimento odontológico, porém nunca aferir a PA no braço
onde se encontra a FAV.
Paciente HD: evitar procedimento no dia da diálise.
Paciente DP: a DP é realizada em domicílio e utiliza várias bolsas de dialisato ao dia. Assim, o trata-
mento odontológico deverá transcorrer durante o intervalo de tempo entre o término de uma bolsa
e o início de outra. Para a previsão de tempo, deverá ser calculado o deslocamento do paciente
ida e volta associado ao tempo necessário para o procedimento dentário. No caso dessa previsão
ultrapassar o horário de uma nova bolsa de diálise, o nefrologista deverá ser previamente contatado
e informado, para que ele faça os ajustes necessários.
Profilaxia antibiótica sempre que houver possibilidade de sangramento ou bacteremia para os pa-
cientes em fases avançadas e dialíticos (HD e DP).
Pacientes cardiopatas, anticoagulados, hipertensos e diabéticos: associar os cuidados recomenda-
dos para o manejo odontológico inerente.
Infecções orofaciais: tratar agressivamente – culturas e antibiogramas. De acordo com a gravidade
e a extensão da infecção, é importante discutir com o médico responsável a melhor opção antibió-
tica. Considerar internação hospitalar.
Pacientes com tendência a sangramentos ou em procedimentos cirúrgicos: hemostasia meticulo-
sa. Considerar medicamentos e hemostáticos locais.
Não realizar diálise com heparina por até 48h pós-procedimento cirúrgico.
Em pacientes transplantados, avaliar periodicamente a mucosa oral, com objetivo de prevenir e
tratar precocemente lesões orais associadas à imunossupressão. Atentar para suscetibilidade a le-
sões de origem fúngica, viral, bacteriana e neoplásica. Se possível, instituir visitas periódicas a cada
6 meses (de acordo com as necessidades de cada caso).
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9
Definição
Epidemiologia
É considerada a doença crônica mais prevalente da infância e está entre as doenças
crônicas mais predominantes no mundo, afetando cerca de 300 milhões de pessoas.
No Brasil, assim como em outros países, a prevalência varia de acordo com a faixa etária,
sendo geralmente mais elevada em pré-escolares do que em adolescentes e adultos.5-7
Etiologia
É resultado da interação entre genética, exposição ambiental a alérgenos e irritantes,
e de outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento de inflamação das vias
aéreas e manutenção dos sintomas.3
Patogênese
A patogenia básica da asma associa-se a mecanismos moleculares e celulares da in-
flamação das vias aéreas.1,8 Esta inflamação é um processo multicelular, envolvendo
principalmente eosinófilos, neutrófilos, linfócitos CD4+ e mastócitos. Resumidamente,
durante o primeiro contato do alérgeno com o organismo, este é apresentado aos lin-
fócitos T auxiliares (LT helper – Th) que sintetizam citocinas (principalmente interleuci-
123
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
A obstrução do fluxo aéreo, seja pela contração da musculatura lisa dos brônquios ou
por edema de mucosa, em consequência da inflamação crônica das vias aéreas, gera
interferência no fluxo aéreo, levando aos principais sintomas da asma: tosse, dispneia,
chiado no peito (broncoespasmo) e sensação de aperto no tórax.8
Diagnóstico
O diagnóstico da asma deve ser baseado na anamnese, exame físico e, sempre que pos-
sível, nas provas de função pulmonar e na avaliação da sensibilização alérgica, através dos
testes cutâneos de leitura imediata para aeroalérgenos, realizados pelo médico alergista.3
Classificação
Asma alérgica e não alérgica. A asma alérgica, que corresponde a 80% da asma infantil
e mais de 50% da asma em adultos, é amplamente dependente da sensibilização pela
imunoglobulina E (IgE).1,9 A importância de outros mecanismos imunológicos no desen-
cadeamento da inflamação associada à asma alérgica ainda requer mais investigações.6
As formas não alérgicas de asma são mais frequentes em adultos e podem envolver
processos inflamatórios mediados por neutrófilos ou eosinófilos, mas sem participação
evidente de sensibilização alergênica mediada por IgE a antígenos ambientais comuns.
Tratamento
124
Cap. 9 • Doença Pulmonar – Asma
pacientes com asma de difícil controle, isto é, naqueles pacientes que permanecem sinto-
máticos apesar da terapia otimizada e do uso correto das medicações, o controle pode ser
obtido com o uso de imunobiológicos, tais como anti-IgE e anti-interleucina 5.
Manejo Odontológico
O cirurgião-dentista deve estar inserido na equipe multidisciplinar de tratamento ao
paciente asmático, estabelecendo contato direto com o médico responsável pelo
paciente. Este contato preferencialmente deve ser por escrito, conforme modelo de
solicitação de parecer médico (Fig. 9.1).
Uma minuciosa anamnese deve ser elaborada focando nos aspectos gerais, trata-
mento, estabilidade da doença e, sempre que necessário, devem ser realizadas mo-
dificações pré, trans e pós-operatória para minimizar o risco de uma crise durante o
atendimento odontológico.
Ao exame extra e intraoral, podem ser observadas alterações dentárias (overjet
acentuado e mordida cruzada) e do crescimento maxilomandibular (Fig. 9.2A). Uma das
justificativas para isto é que, em geral, o paciente asmático é um respirador oral em
função da associação frequente de asma e rinite e, assim, como resultado da inflama-
ção de vias aéreas superiores de natureza alérgica ou não alérgica, ocorre obstrução
nasal, espirros, coriza hialina e prurido nasal. Desse modo, o paciente pode apresentar
modificações orofaciais como: face longa e estreita; lábios entreabertos, com superior
curto e inferior evertido; maxilares pouco desenvolvidos e palato ogival; cianose infra-
orbitária; tônus da musculatura orofacial diminuído; face pouco expressiva; hipertonia
do músculo mentalis; hipotonia da língua; deglutição atípica, malformações craniofa-
ciais e alteração na erupção dentária.8
125
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Figura 9.2 Principais alterações orais em pacientes asmáticos. (A) Má oclusão. (B) Cárie dentária. (C)
Doença periodontal.
Figura 9.3 Candidíase oral em pacientes asmáticos usuários de corticoide inalatório: atrofia de papi-
las com uma área vermelha bem delimitada no dorso da língua.
126
Cap. 9 • Doença Pulmonar – Asma
127
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
4. Realizar anamnese minuciosa com coleta dos seguintes dados: idade, frequência,
gravidade e fatores precipitantes da crise; tipo de asma; medicamentos em uso.
5. Solicitar parecer médico sobre o quadro geral e atual da doença.
6. Solicitar que o paciente leve na consulta a medicação inalatória, e em casos de asma
moderada, este deve realizar uma inalação profilática antes do procedimento.
7. Reduzir ansiedade, através da utilização de óxido nitroso ou medicação ansiolíti-
ca (benzodiazepínico).
8. Utilizar oxímetro de pulso durante a consulta, saturação de oxigênio aceitável
até 91%.
9. Durante o exame intraoral, estar atento para as principais lesões, como: candidía-
se, lesão eritematosa em palato e/ou língua devido uso dos inaladores sem espa-
çador, papilite transitória lingual, hipossalivação, erosão do esmalte, má oclusão,
doença periodontal e cárie.
10. Evitar soluções anestésicas que contenham sulfito, prescrição de anti-inflamató-
rios não esteroidais, barbitúricos e narcóticos. O anestésico de escolha deve ser
prilocaína 3% com felipressina 0,03 UI/mL.
11. Em pacientes que utilizam teofilina, evitar prescrição de eritromicina e azitromicina.
12. Instruir o paciente a lavar a boca após o uso da medicação inalatória para contro-
le da asma.
13. Conhecer os sinais e sintomas da crise e, em caso de urgência, administrar beta-
2-agonista de curta ação (salbutamol) por via inalatória com o uso de espaçador.
14. Conscientizar o paciente a respeito da importância de visitas regulares ao cirur-
gião-dentista, sendo importante realizar instrução de higiene oral e avaliar a ne-
cessidade de fluorterapia mensal.
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129
10
Doenças Oncológicas
10.1 – Câncer de Cabeça e Pescoço
Fábio de Abreu Alves • Graziella Chagas Jaguar
Introdução
O câncer de cabeça e pescoço envolve diversos tipos de câncer e regiões. Os cânce-
res da boca, da orofaringe, da nasofaringe e das glândulas salivares são os de maior
interesse para o cirurgião-dentista (CD). Por participar de várias etapas, que começa
com o diagnóstico destes tumores, passando pelo planejamento terapêutico, pelo
controle dos efeitos colaterais do tratamento oncológico e da reabilitação, o CD está
inserido nas equipes multiprofissionais que cuidam de pacientes oncológicos.
O carcinoma espinocelular (CEC) ou epidermoide representa 90% dos tumores lo-
calizados na região de cabeça e pescoço. Linfomas, sarcomas e tumores de glândulas
salivares perfazem o restante. O tratamento de CEC inicial da boca, em geral, requer
apenas uma modalidade terapêutica, sendo a cirurgia a mais utilizada, por apresen-
tar altas taxas de cura e menos efeitos colaterais. Contudo, tumores mais avançados
necessitam de duas ou mais modalidades, que incluem radioterapia e quimioterapia.
Neste capítulo, discutiremos os principais aspectos clínicos, diagnóstico e trata-
mento dos tumores de cabeça e pescoço com ênfase nos tumores da boca.
131
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Fatores Etiológicos
Características Clínicas
132
Cap. 10 • Doenças Oncológicas
Figura 10.1.2 Tumor em estádio clínico avançado. (A) Úlcera infiltrativa com superfície necrótica. (B) De-
struição parcial da língua pelo tumor.
Tratamento
133
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
mores que são positivos para HPV (positividade imunoistoquímica para o marcador
p16) apresentam melhor prognóstico quando comparados aos tumores em pacien-
tes fumantes.
O conhecimento da história natural e da biologia tumoral tem trazido informa-
ções para o tratamento. Recentemente, a medicina personalizada tem ganhado
evidência em diversos tipos tumorais. Contudo, para o câncer de boca, ainda há
muito a ser desenvolvido.
O prognóstico é muito dependente do estádio clínico da doença; consequentemen-
te, os cirurgiões-dentistas têm um trabalho árduo para estimular o diagnóstico preco-
ce do câncer de boca.5
Pré-quimioterapia
134
Cap. 10 • Doenças Oncológicas
Durante a Quimioterapia
135
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Laserterapia
Raspagem
Restauração Biopulpectomia Exodontia (632-830
radicular
nm)
Neutrófilos >
2.000/mm3
Sim Sim Sim Sim Sim
e Plaquetas
>75.000/ mm3
Neutrófilos
Não Não Não Não Sim
≤2.000/mm3
Plaquetas
40.000- Sim Não Não Não Sim
75.000/ mm3
Plaquetas
Não Não Não Não Sim
<40.000mm3
Emergência Conduta
Mucosite Laserterapia
136
Cap. 10 • Doenças Oncológicas
Exodontia/
Biopulpectomia/ Raspagem Laserterapia
Restauração Drenagem de
Necropulpectomia radicular (632-830 nm)
abscesso
Neutrófilos >
2.000/mm3
Sim Sim Sim Sim Sim
e plaquetas
>75.000/mm3
Pós-quimioterapia
137
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Tratamento Conduta
Quimioterapia em adulto sem hipossalivação Controle anual
Quimioterapia em adulto com hipossalivação Controle semestral
Quimioterapia em criança sem hipossalivação,
Controle anual
com baixo risco de cárie
Quimioterapia em criança sem hipossalivação,
Controle trimestral
com médio/alto risco de cárie
Quimioterapia em criança com hipossalivação Controle trimestral
TCTH alogênico com DECH crônica oral Controle mensal
Introdução
138
Cap. 10 • Doenças Oncológicas
Anamnese
Recomenda-se: (1) Solicitar informações sobre o tratamento cirúrgico, incluindo lau-
do histopatológico do tumor primário e estadiamento. (2) Informações sobre tipo de
radioterapia, tempo disponibilizado para o tratamento odontológico (geralmente 3 se-
manas) e planejamento radioterápico (mapeamento, dose total e fracionada).
Exame Físico
(1) Avaliar o reparo do leito cirúrgico. (2) Avaliar o uso de tampão/obturador bucomaxi-
lofacial. (3) Avaliar o comprometimento das funções (mastigação, deglutição, risco de
aspiração, fonação, estética). (4) Avaliar o grau de higiene bucal. (5) Avaliar as neces-
sidades odontológicas acumuladas (cáries, doença periodontal, próteses mal adapta-
das, implantes, dentes inclusos).
139
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
lesões periapicais crônicas e/ou outras lesões ósseas e dentes inclusos. Caso neces-
sário, solicitar outras técnicas radiográficas.
Planejamento Odontológico
Conjunto de procedimentos odontológicos que visam eliminar focos sépticos.
140
Cap. 10 • Doenças Oncológicas
Figura 10.3.1 (A) Radiografias panorâmicas para diagnóstico e planejamento, ambas pré-radioterapia.
Associar a dados clínicos. Observar necessidades odontológicas acumuladas. Em A, observam-se cáries
radiculares em 15 e 16, importante comprometimento endoperiodontal de 35, 36, 45, 46 e 47. (B) Co-
locação dos cicatrizadores dos implantes, região superior esquerda, para evitar posterior manipulação
cirúrgica no local. Dente 38 incluso e totalmente intraósseo, sem lesão associada. Demais dentes em
condições aceitáveis.
141
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Figura 10.3.2 Eritema e múltiplas úlceras afetando locais da mucosa irradiada. Observar crosta em
semimucosa labial inferior esquerda.
142
Cap. 10 • Doenças Oncológicas
Figura 10.3.3 (A) Dispositivo para abertura de boca confeccionado em acrílico, alterando a posição
da língua e mantendo-a sempre na mesma posição durante todas as sessões de radioterapia, evitando
ainda o trismo. (B) Região de eritema com úlcera de mucosite oral recoberta por membrana, próxima a
candidíase pseudomembranosa em paciente no trans-radioterapia. (C-E) Radiodermite em face, delim-
itando a área afetada pela radioterapia. Em E, contraste em radiodermite e presença de pelos de barba
em área não irradiada.
Candidíase Oral
Associada principalmente ao fungo Candida albicans, a candidíase oral é considera-
da a infecção oportunista mais frequente em pacientes em radioterapia (Fig. 10.3.3B).
Nos casos de realização concomitante de radio e quimioterapia, existe a tendência da
candidíase ser mais extensa, afetando também o esôfago tornando-se mais grave e
debilitante. A presença da MO, juntamente com as alterações salivares, debilidade sis-
têmica, cansaço e comprometimento nutricional podem colocar o paciente em risco
de vida. Recomenda-se o uso de bochechos com solução oral de nistatina 100.000 UI/
mL de 3 a 4 vezes ao dia, ou antifúngicos sistêmicos, se necessário.
Alterações Salivares
As glândulas salivares são facilmente atingidas pela radiação ionizante durante o tra-
tamento de radioterapia, devido à própria localização anatômica das glândulas maio-
res e menores. As células deste tecido são extremamente radiossensíveis e em geral
recebem doses primárias e/ou secundárias de radiação. A fibrose glandular começa
imediatamente após o início da radioterapia e se intensifica até o final do tratamento,
provocando rápida redução do fluxo salivar, dependendo do campo irradiado. Quando
a dose da radioterapia é maior que 30 Gy, o dano sofrido pela glândula salivar pode
143
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
ser irreversível.10 A Figura 10.3.4C mostra a alta viscosidade da saliva produzida pela
glândula parótida direita, de um paciente transtratamento. Falaremos um pouco mais
do tratamento, no item Hipossalivação e Xerostomia.
Pós-tratamento de Radioterapia
Hipossalivação e Xerostomia
A xerostomia é a queixa de boca seca, e sua percepção normalmente está associada
à diminuição do fluxo salivar, a hipossalivação. Pacientes com hipossalivação podem
apresentar dificuldades de mastigação, deglutição, fonação, sensação de queimação
e alteração na percepção do paladar, corroborando para o aparecimento de infecções
bucais como a candidíase e as cáries de radiação. Os pacientes devem receber trata-
mentos paliativos com substitutos salivares nas mais diferentes formas de apresenta-
ção (pasta dental, spray, gel para uso noturno e bochechos) e terapia com flúor. O uso
de sialogogos (pilocarpina, betanecol e cevimeline) exige uma análise da viabilidade
do funcionamento das glândulas salivares maiores que, por sua vez, depende da dose
recebida durante a radioterapia.
Trismo
A irradiação dos músculos da mastigação e da articulação temporomandibular podem
provocar alterações inflamatórias com posterior fibrose muscular e dor. O trismo leva à
diminuição de abertura de boca e dificulta a mastigação, a deglutição e a fonação, além
de prejudicar o acesso à cavidade oral para avaliação e tratamento odontológico. Os pri-
meiros sinais começam em torno de três dias após o início da radioterapia e, muitas ve-
zes, o paciente não está atendo para a redução gradativa de abertura até que sintomas,
como dor e limitação de função, apareçam.4 Além disso, a cirurgia oncológica também dá
origem a áreas de fibrose, limitando mais ainda os movimentos articulares da mandíbula.
A confecção de dispositivos individualizados, de acrílico (Fig. 10.3.4A), visando estabilizar
a abertura da boca durante toda a radioterapia, ajuda a prevenir a contração muscular e a
preservar a abertura de boca. A realização de fisioterapia com exercícios de abertura pós
-radioterapia também é indicada como estratégia de combate ao trismo (Fig. 10.3.3A).
Cárie de Radiação
A cárie de radiação é uma consequência tardia da radioterapia, e tem como caracte-
rística a ausência de dor aguda; é mais comumente encontrada em superfícies lisas e
cervicais de dentes incisivos, pré-molares e molares. A cárie de radiação em geral tem
início e progressão rápidos (Fig. 10.3.4A).11 A radiação induz modificações diretas no
tecido dental mineralizado e, consequentemente, em suas propriedades mecânicas
144
Cap. 10 • Doenças Oncológicas
Osteorradionecrose (ORN)
A Osteorradionecrose é a complicação mais grave e temida da radioterapia de ca-
beça e pescoço, caracterizada por um processo necrótico nos ossos maxilares
(Fig. 10.3.4E,F), com maior risco de aparecimento em doses totais de radiação supe-
riores a 45 Gy.13 Manifesta piora do quadro clínico (dor, mau odor, supuração, fístula,
sequestro ósseo) com o passar do tempo e não apresenta cura.14 Frequentemente
refratária aos tratamentos convencionais (debridamento não cirúrgico, cirurgia, anti-
bioticoterapia e oxigenação hiperbárica), preocupa-nos sua demanda cada vez maior
de pacientes pós-tratamento, devido aos graus variáveis em que pode se apresentar
e pela dificuldade de manejo e frequente insucesso de seu tratamento. A mandíbula
é o lugar mais comum da ORN, devido ao seu menor aporte sanguíneo. A lesão em
mandíbula aumenta a morbidade do paciente devido a dor e perda óssea, podendo
levar à fratura patológica.15 Na Figura 10.3.4 observamos as principais sequelas da ra-
dioterapia de cabeça e pescoço.
Figura 10.3.4 Sequelas da radioterapia. (A) Cárie de radiação acometendo todos os dentes. (B) Trata-
mento endodôntico de 4 incisivos inferiores que estavam acometidos por cárie de radiação, tendo sido
realizado o sepultamento dental dos elementos 31 e 41. (C) Alteração da qualidade salivar, a qual se tor-
nou mais espessa, produzida pela irradiação em região de glândulas parótida direita. (D) Trismo decor-
rente de a RTX ter sido realizada com a boca fechada, sem uso de dispositivo para abertura de boca. (E,F)
Osteorradionecrose, com osso exposto e infectado, extra e intraoral, respectivamente.
145
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
A fisiopatologia da ORN foi defendida inicialmente por Meyer,16 que sustentava que
um trauma (extração dentária, por exemplo) promoveria o acesso de bactérias da cavi-
dade oral ao osso, fundamentando o uso de antibiótico e cirurgia para tratar a ORN. Em
1983, Marx defendeu que a ORN poderia não ter sinais clínicos de infecção, podendo
ocorrer sem traumas locais. Ele propôs a teoria do tecido hipóxico-hipovascular-hi-
pocelular, onde a força motriz principal dessa patogênese seria a hipóxia; esta teoria
fundamentou o uso da câmara hiperbárica no tratamento da ORN. A teoria mais aceita
hoje é a teoria fibroatrófica radioinduzida,17 na qual o evento-chave que promoveria a
progressão da ORN seria a ativação e desregulação da atividade fibroblástica, levando
à atrofia do tecido da área que foi previamente irradiada.
Delanian et al.18 propuseram o protocolo PENTOCLO: pentoxifilina (800 mg/dia), to-
coferol (1.000 UI/dia) e clodronato (1.600 mg/dia) durante 5 dias na semana, e alter-
nando com prednisona (20 mg/dia, 2 dias por semana) e ciprofloxacina (1.000 mg/dia,
2 dias por semana). O tempo médio de terapia com PENTOCLO foi de 16 ± 9 meses. Os
autores concluíram que esse tratamento a longo prazo é eficaz, seguro, induz cicatri-
zação mucosa e óssea e melhora os sintomas significativamente.
Em 2016, Ribeiro19 estudou o uso da laserterapia como tratamento adjuvante da
ORN, dentro de um conjunto de manobras clínicas, trazendo efeitos benéficos ao con-
trole da doença e proporcionando melhora da qualidade de vida do paciente.
Muitos são os fatores que implicam a patogênese da ORN, dentre eles: localização
do tumor primário, estadiamento do tumor, extensão da cirurgia do tumor primário,
dose total/fracionamento da radiação recebida, técnica radioterapêutica, suporte
odontológico recebido pelo paciente, índice de higiene oral, manutenção de hábitos
como tabagismo e etilismo e estado nutricional do paciente.
Nossas observações clínicas em pacientes dentados apontam que a região de mo-
lares inferiores, especialmente a furca, é o local onde geralmente começa o processo
da ORN, havendo perda da integridade do ligamento periodontal e da capacidade de
“selamento” coronário. Esta perda de integridade do ligamento periodontal, associada
à localização anatômica dos dentes posteriores inferiores, às dificuldades de acesso
local para o controle de placa bacteriana, à perda anatômica dos tecidos bucais de-
correntes da cirurgia oncológica, às alterações nutricionais, à falta de supervisão pro-
fissional adequada e capacitada, à falta de saliva e de motivação do paciente levam
à entrada de bactérias. A instalação de uma bolsa periodontal profunda inviabiliza a
autolimpeza, levando ao aumento da mobilidade dental e à perda do dente, com difícil
cicatrização do osso alveolar e instalação da ORN.
Diante e todo o exposto, é indiscutível o papel do cirurgião-dentista no preparo, su-
porte e controle das sequelas da RTx nos pacientes oncológicos.
Referências Bibliográficas
Subcapítulo 10.1
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Cap. 10 • Doenças Oncológicas
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Cap. 10 • Doenças Oncológicas
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149
11
Medicamentos Antirreabsortivos
e Antiangiogênicos
151
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Aspectos Preventivos
Sempre que possível, todos os pacientes que iniciaram terapias baseadas em bisfos-
fonatos, antirreabsortivos e antiangiogênicos devem passar por uma consulta odon-
tológica – com um profissional que deve ter conhecimento e experiência com essa
classe de drogas e/ou com pacientes sistemicamente comprometidos – previamente
ao início ou logo após iniciado o uso.5 Os objetivos desta avaliação prévia serão:2,5,6
Sempre que necessário, a cirurgia bucal deve ser realizada seguindo alguns princípios,
com o objetivo de minimizar o risco de desenvolvimento da ONM.7 Estes princípios
152
Cap. 11 • Manejo em Pacientes que Utilizam Bisfosfonatos
Figura 11.1 Técnica proposta por Heufelder et al., 2014.7 (A) Dente a ser extraído no seu respectivo al-
véolo. (B) Extração dentária concluída e alveoloplastia com brocas. (C) Incisão do periósteo para facilitar
a tração da mucosa. (D) Fechamento primário do alvéolo com suturas duplas em posição. (Fonte: https://
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23182374.)
153
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Implantes Dentários
A instalação de implantes dentários em pacientes que fazem uso de bisfosfonatos
orais não é considerada uma contraindicação. Mantém o mesmo risco de desenvolvi-
mento para ONM de 0,5%2, e os pacientes devem receber a devida orientação deste
risco. Entretanto, aumento da falha dos implantes foi observado numa recente meta
-análise (RR de 1,73) quando comparado a pacientes que não fazem uso da medica-
ção.9 Em pacientes portadores de câncer e que recebam bisfosfonatos endovenosos,
a instalação de implantes deve ser evitada.2
154
Cap. 11 • Manejo em Pacientes que Utilizam Bisfosfonatos
Conclusões
Referências Bibliográficas
155
12
Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida
Arley Silva-Júnior • Vanessa de Carla Batista dos Santos
Juliana Tristão Werneck • Sônia Maria Soares Ferreira
HIV e AIDS
157
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Tratamento Odontológico
158
Cap. 12 • Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
tropenia grave (<500 cels/mm3), pode ser realizada a terapia antibiótica ou a profilaxia
antibiótica. A profilaxia antibiótica poderá ser a mesma recomendada pela Associação
Americana de Cardiologia (American Heart Association – AHA 2007).1,6,7
Indivíduos HIV positivos podem apresentar uma maior predisposição a cáries, devi-
do à hipossalivação relacionada ao próprio HIV ou a medicações, refluxo associado a
medicamentos, dificuldade na realização da higiene devido a alterações motoras, dieta
cariogênica, e devido ao uso de drogas. Deve-se estabelecer um plano terapêutico
preventivo, realizar se necessário as restaurações, prescrição de flúor e instrução de
higiene oral. As restaurações protéticas devem ser adiadas até que as cáries estejam
controladas e a higiene oral, adequada. Pacientes com alto índice de cáries podem ter
as consultas de revisão em tempo mais curto para um melhor controle.1,3,6,7
Embora o HIV tenha sido identificado nas lesões periapicais e no tecido pulpar, não
existe qualquer indício de que ele cause problemas pulpares. Os estudos têm demons-
trado que não existe incidência maior de complicações após tratamento endodôntico
comparado com indivíduos HIV negativos, mesmo nos casos em que a contagem de
CD4 é inferior a 200 cels/mm.3 O uso rotineiro de antibiótico para o tratamento endo-
dôntico não é recomendado.1,2
Nos casos de doença avançada pelo HIV, deve ser solicitado o hemograma com
contagem de plaquetas antes de qualquer procedimento invasivo; e qualquer modi-
ficação no tratamento deve ser baseada nas alterações existentes. Alguns estudos
contraindicam procedimentos invasivos quando a contagem de plaquetas for inferior
a 50.000 cels/mL, mas não são uma contraindicação absoluta. Os estudos não têm de-
monstrado aumento significativo de complicações no pós-operatório ou de infecções
pelo simples fato de o paciente ser HIV positivo. As complicações quando ocorrem
tendem a ser pequenas e de fácil manejo. A reabilitação protética nos implantes pode
ser realizada, independentemente da contagem de CD4, da carga viral ou do tipo de
medicação antirretroviral. Os critérios para a indicação ou contraindicação do implante
devem ser baseados nos mesmos critérios de pacientes HIV negativos, como avalia-
ção óssea, existência de outros problemas sistêmicos, como diabetes não controlada,
doença renal e hepática avançada e tabagismo. Vários estudos têm demonstrado que
não há um aumento de infecção, e mesmo de osseointegração, quando comparados
indivíduos HIV positivo bem controlados com HIV negativos, bem como semelhante
cicatrização e ganho ósseo. Os antibióticos podem eventualmente ser utilizados, e a
sua prescrição deve ser baseada no julgamento de cada caso e não pelo fato de o
indivíduo ser HIV positivo.1,6,7
Na consulta inicial, o risco de doença periodontal deve ser avaliado em cada pacien-
te, incluindo-se qualquer história de doença periodontal associada ao HIV, tais como o
eritema linear gengival e a gengivite/periodontite necrosante. Deve ser realizado um
exame criterioso com sondagem, índice de placa, e avaliação da higiene oral, inclusi-
ve quanto à destreza na higiene, como nos casos de comprometimento neurológico.
Deve-se sempre enfatizar uma boa higiene oral. As raspagens e alisamento radicular
devem ser realizados sempre que necessários e indicados. As cirurgias periodontais
podem ser realizadas se necessário, desde que os níveis hematológicos estejam re-
gulares. Para os indivíduos que não conseguem manter uma boa higiene oral pelas
159
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
técnicas rotineiras, pode-se considerar modificações na higiene oral com o uso coad-
juvante de bochechos antimicrobianos diário, como a clorexidina a 0,12%. A marcação
das consultas de revisão deve ser de acordo com a necessidade de cada indivíduo,
sendo em espaços mais curtos para os casos de gengivite/periodontite necrosante,
presença de diabetes e periodontite crônica.1-6 Um resumo das considerações para o
tratamento odontológico em pacientes HIV positivos pode ser visto no Quadro 12.1.
• Nenhuma contraindicação para o tratamento odontológico de rotina para os pacientes não hos-
pitalizados
• Obter valores laboratoriais atualizados antes de qualquer procedimento invasivo, em particular se
a contagem de CD4 for <200 cels/mm3
• Importantes valores: contagem de neutrófilos e plaquetas
• Profilaxia antibiótica baseada na contagem de neutrófilos (<500 cels/mm3) e não nos valores do
CD4 e da carga viral
• Importante avaliar:
• Capacidade da hemostasia
• Capacidade de recuperação de uma bacteremia
• Capacidade de suportar o tratamento odontológico
• Condições comórbidas
• Cardiovascular
• Hepáticas
• Diabetes
• Conhecimento dos efeitos colaterais dos medicamentos
• Pode ser necessário maior frequência de consultas de revisão
• Diminuição do fluxo salivar e maior índice de cárie
• Aumento da frequência de doença periodontal
• Monitoramento da mucosa oral devido a sinais de infecções oportunistas
• A probabilidade de complicações pós-operatórias é comparável à de indivíduos HIV negativos
• A maioria das complicações não está relacionada a problemas pelo HIV
Ref.: Robbins MR. Recent Recommendations for Management of Human Immunodeficiency Vi-
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160
Cap. 12 • Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
Os pacientes têm razão em ter este tipo de medo. Os estudos mostram que a ocorrência
de atitudes discriminatórias na assistência à saúde de pessoas que vivem com HIV/AIDS
é elevada, e vem sendo praticada por cirurgiões-dentistas, profissionais de enfermagem e
médicos.11 Os profissionais que não se sentem aptos ao atendimento às PVHA apontaram
como principais motivos: falta de informação, de capacitação técnica, de capacitação do
pessoal auxiliar, de estrutura da unidade de saúde, insegurança e medo de contaminação.12,13
O investimento em educação permanente para os profissionais e a abordagem
deste tema nos cursos de odontologia podem representar as principais formas de
enfretamento às barreiras de acesso ao tratamento odontológico que, se superadas,
podem melhorar consideravelmente o acesso de forma humanizada, com diminuição
da iniquidade em saúde bucal das PVHA.
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8. Argolo Júnior C, Ferreira SMS, Albuquerque VWT, Silva JIBW. Avaliação da qualidade de vida de
mulheres com diagnóstico de HIV/AIDS em Maceió, Alagoas, Brasil. O mundo da saúde, São
Paulo. 2014; 38 (4): p. 448-461.
9. Soares GB et al. Quality of life of people living with HIV/AIDS treated by the specialized service
in Vitória, ES, Brazil. Ciênc. Saúde Coletiva (Rio de Janeiro). 2015;20(4):1075-1084.
10. Soares et al. Oral health associated with quality of life of people living with HIV/AIDS in Brazil.
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11. Lelis RT, Garbin CAS, Garbin AJI, Soares GB. Vivendo com HIV/AIDS: estudo da ocorrência de
discriminação nos serviços de saúde. Rev Bras de Pesq em Saúde. 2012;14(4):22-28.
12. MAIA, LA et al. Atenção à saúde bucal das pessoas que vivem com HIV/Aids na perspectiva
dos cirurgiões-dentistas. Saúde Debate. Rio de Janeiro, 2015 Sept.;39 (106):730-747.
13. UNAIDS. Pelo fim da discriminação das pessoas que vivem com HIV/Aids. Lei nº 12.984/14. Dis-
ponível em https://unaids.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Cartilha-pelo-fim-da-discrimi-
na%C3%A7%C3%A3o-das-pessoas-que-vivem-com-hiv.pdf. Acesso em 22 de abril de 2018.
161
13
Doenças Imunomediadas
13.1 – Artrite Idiopática Juvenil e Artrite Reumatoide
Liete Figueiredo Zwir • Maria Teresa Terreri • Marcelo Pinheiro
Alguns aspectos devem ser considerados quando se analisa a interação entre saúde
oral e artrite idiopática juvenil (AIJ): o envolvimento da articulação temporomandibular
(ATM) pela doença inflamatória, o efeito da AIJ no crescimento mandibular e na função
mastigatória, a incapacidade de executar uma higiene oral satisfatória pelo envolvi-
mento do membro superior e as consequências das medicações utilizadas para o tra-
tamento da doença.
A AIJ engloba um grupo heterogêneo de doenças de etiologia desconhecida, ca-
racterizado por inflamação crônica em uma ou mais articulações (chamada de artrite),
com início antes dos 16 anos de idade e com duração de no mínimo 6 semanas.1
163
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
164
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Recomendações Clínicas
O principal enfoque odontológico de pacientes com AIJ deve ser a prevenção. É recomen-
dado o acompanhamento com visitas frequentes ao cirurgião-dentista, que incluam ins-
trução, revisão e reforço das técnicas de higiene oral. Para pacientes com envolvimento do
membro superior, pode-se recomendar o uso de escovas elétricas ou adaptadores, com
o objetivo de se compensar as dificuldades advindas das limitações articulares de mãos
e braços. A utilização de flúor tópico e a orientação quanto à diminuição de ingestão de
alimentos cariogênicos devem ser consideradas. O envolvimento de pais e cuidadores é
fundamental no prognóstico destes pacientes. A avaliação da amplitude de abertura da
boca deve ser sempre contemplada, assim como a presença de dor na ATM, nos músculos
da mastigação e a presença de sons articulares (estalido e crepitação).
165
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Recomendações Clínicas
O manejo clínico adequado das alterações orais relacionadas à AR depende de
um diagnóstico preciso, e o conhecimento do potencial envolvimento da ATM deve
ser sempre considerado. A avaliação intraoral cuidadosa é necessária, com particu-
lar interesse para a saúde periodontal e a hipossalivação, assim como a avaliação das
dificuldades para a execução da higiene oral decorrentes das limitações de mãos e
punhos em pacientes com AR, que podem ser minimizadas com o auxílio de órteses
e avaliação de adaptações orientadas por um terapeuta ocupacional. Nestes casos, a
adequação e individualização de técnicas de escovação são medidas recomendadas,
incluindo o uso de escovas elétricas, a utilização de enxaguatórios bucais específicos
e visitas mais frequentes ao cirurgião-dentista.29
166
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Definição
Lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune que acomete múltiplos
órgãos e sistemas. É caracterizada pela produção de autoanticorpos, formação e de-
posição de imunocomplexos que levam à inflamação em diversos órgãos, resultando
em dano tecidual.1
Epidemiologia
Afeta indivíduos de todas as raças, sendo de 9 a 10 vezes mais frequente em mulheres
durante a idade reprodutiva.2,3 A incidência estimada em diferentes locais do mundo é
de aproximadamente 1 a 22 casos para cada 100.000 pessoas por ano; e a prevalência
pode variar de 7 a 160 casos para cada 100.000 pessoas.3-6
No Brasil, de acordo com um estudo epidemiológico realizado na região Nordeste7, esti-
ma-se uma incidência de LES em torno de 8,7 casos para cada 100.000 pessoas por ano.
Etiologia
Sua etiologia permanece ainda pouco conhecida, porém se sabe da importante participação
de fatores hormonais, ambientais, genéticos e imunológicos para o surgimento da doença.1
Patogênese
Sendo uma doença autoimune, o LES tem como alvo constituintes nucleares como
DNA, histonas e ribonucleoproteínas. Sabendo que estes constituintes normalmente
estão protegidos dentro das células pelas membranas nuclear e celular, suspeita-se
que anormalidades envolvendo a apoptose sejam um importante processo na geração
destes autoantígenos, resultando em autoimunidade.8-10
167
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Diagnóstico
Para o diagnóstico de LES, a metodologia mais utilizada foi proposta pelo American
College of Rheumatology (ACR) em 198212 e revisada em 1997.13 O diagnóstico pode
ser estabelecido a partir da presença de pelo menos 4 dos 11 critérios de classificação,
em qualquer momento da vida dos pacientes, conforme descrito na Tabela 13.2.1.
Exantema cutâneo, como reação não usual à exposição à luz solar, de acor-
Fotossensibilidade
do com a história do paciente ou conforme observado pelo avaliador
Úlceras orais ou nasofaríngeas, usualmente indolores, observadas pelo
Úlceras orais/nasais
avaliador
Artrite não erosiva em uma ou mais articulações periféricas, com dor e
Artrite
edema ou derrame articular
Pleurite (caracterizada por história convincente de dor pleurítica ou atrito aus-
Serosite cultado pelo médico ou evidência de derrame pleural) ou pericardite (docu-
mentado por eletrocardiograma, atrito ou evidência de derrame pericárdico)
Comprometimento
Proteinúria persistente (0,5 g/dia ou 3+) ou cilindrúria anormal
renal
Alterações Convulsão (na ausência de outra causa) ou psicose (na ausência de outra
neurológicas causa)
Anemia hemolítica ou leucopenia (menor que 4.000 leucócitos/mL em
Alterações duas ou mais ocasiões), linfopenia (menor que 1.500 linfócitos/mL em
hematológicas duas ou mais ocasiões) ou plaquetopenia (menor que 100.000 plaque-
tas/mL na ausência de outra causa)
a) Anti-DNA em títulos anormais ou b) presença de anticorpos anti-Sm
ou c) sinais positivos de anticorpos antifosfolipídeos baseado em: índices
Alterações
anormais de anticorpos anticardiolipina (IgG ou IgM), ou presença de an-
imunológicas
ticoagulante lúpico, usando teste padrão ou em VDRL falso positivo, por
pelo menos 6 meses e confirmado por FTA-Abs negativo
Títulos anormais de fator antinuclear em qualquer período, na ausência
Fator antinuclear
de medicações associadas a “LES induzido por medicações”
168
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Tratamento
Os objetivos do tratamento do LES têm sido:14 propiciar controle das manifestações
clínicas e laboratoriais, reduzindo assim a atividade da doença; prevenir as recidivas de
atividade da doença; prevenir o dano ao longo da evolução da doença; diminuir a dose
cumulativa de corticoide e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
O tratamento medicamentoso é realizado com os medicamentos da classe antima-
láricos (cloroquina e hidroxicloroquina), glicocorticosteroides (betametasona, dexa-
metasona, metilprednisolona e prednisona) e diversos tipos de imunossupressores ou
imunomoduladores, independentemente do órgão ou sistema afetado pela doença, e
deve ser proposto por médico capacitado para o tratamento do LES.1,2,14
Manejo Odontológico
• Lúpus eritematoso oral (LEO): para descrever aquelas que são específicas
do Lúpus;
• Associadas ao lúpus: o surgimento pode estar relacionado à própria doença ou
devido ao tratamento;
• Inespecíficas: demais lesões, aquelas que podem estar presentes em pacientes
com lúpus ou não.
Uma vez identificadas, devem ser relatadas nas fichas clínicas, descrevendo: tipo de
lesão fundamental, localização, se única, múltipla ou disseminada, cor, uniformidade,
superfície, base da lesão, contorno, limites, consistência, tamanho, sintomatologia e
tempo de evolução. A história clínica, anamnese minuciosa e um exame clínico apura-
do de toda a região orofacial do paciente são importantes para o diagnóstico; entre-
tanto, muitas vezes faz-se necessário a confirmação diagnóstica por meio de exames
complementares, como a biópsia das lesões orais.
O LEO é a manifestação específica do lúpus na mucosa oral e pode surgir em todas
as etapas da doença, ou seja, como primeira manifestação, durante o curso ou ainda
estar presente nos momentos de exacerbação desta. A incidência varia entre 2 e 54%
dos doentes.15-17 Podem ser identificados três tipos de lesão: discoide, eritematosa e
ulcerativa (Tabela 13.2.2), sendo que os diferentes tipos podem coexistir de maneira
separada ou até mesmo se fundir uma com a outra.15,16,18
169
Diretrizes para atendimento odontológico de Pacientes sistemicamente Comprometidos
170
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
do LES, haja vista que estas sofrem modificações de acordo com a atividade da doen-
ça. Destaca-se que lesões associadas ao lúpus podem ainda ser encontradas como
efeito colateral dos medicamentos em uso, como exemplo hipossalivação, candidíase
e estomatite (Tabela 13.2.3).
Terapêuticas
para lesões orais Acompanhamento:
171
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
172
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
13.3 – Psoríase
Bruna Lavinas Sayed Picciani • Thays Teixeira de Souza
Sueli Carneiro • Heron Fernando Sousa Gonzaga
Introdução
Aspectos Clínicos
Subdivide-se clinicamente nos subtipos vulgar, gutata, invertida, artropática, palmo-
plantar, pustulosa e eritrodérmica.4
As lesões se apresentam basicamente como pápulas e placas eritematosas ou prate-
adas, algumas vezes com a presença de um anel concêntrico esbranquiçado na ou perto
da borda da placa; de formato arredondado ou oval, recobertas por escamas brancas,
frequentemente simétricas, mostrando predileção por couro cabeludo, unhas, região
posterior dos cotovelos e região anterior dos joelhos.4 Na psoríase artropática, ocorre
envolvimento das articulações axiais, decorrente de inflamação da membrana sinovial,
sendo frequentemente progressiva, levando a anormalidades nas corticais ósseas.5,6
Etiologia
A etiologia da doença é desconhecida, mas sabe-se que é caracterizada por um defeito
no ciclo normal do desenvolvimento epidérmico, causando hiperproliferação, com ma-
turação alterada dos ceratinócitos, associado às alterações inflamatórias e vasculares.
Admite-se hoje que um antígeno, ainda não identificado, deflagre a resposta imunológi-
ca celular dos tipos Th1 e Th17, que persistiria e manteria a doença em um curso crônico.4
Aspectos Genéticos
Os antígenos leucocitários humanos (HLA), localizados no cromossomo 6p21, trans-
portam os fatores genéticos mais importantes relacionados à psoríase.7 A associação
das moléculas HLA com a ocorrência de psoríase é ainda mais frequente nos pacien-
tes de início precoce e com história familiar da doença. As células natural killer (NK) são
células efetoras da imunidade inata e possuem receptores tipo-imunoglobulina (KIR)
na sua superfície, específicos para as moléculas HLA classe I. Tem sido encontrada
associação de determinados KIR e alelos HLA-C com a suscetibilidade à psoríase e à
psoríase artropática.8
173
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Manifestações Orais
A psoríase é uma doença com diversas manifestações, dependentes de fatores ge-
néticos e ambientais para se manifestar; podendo acometer outras regiões além da
pele, como o lábio e as mucosas.9,10 Em geral, as lesões orais na psoríase podem ser di-
vididas em duas categorias: a primeira incluindo lesões psoriáticas autênticas compro-
vadas pela biópsia e com curso clínico paralelo com lesões de pele. No entanto, apesar
de alguns relatos sobre lesões com quadro clínico e histopatológico compatíveis com
psoríase oral, as manifestações orais mais frequentes em pacientes psoriáticos são o
segundo grupo de lesões, representando achados inespecíficos como língua geográ-
fica e língua fissurada (Fig. 13.3.1).9-13
Figura 13.3.1 (A-B) Presença de língua geográfica e língua fissurada em pacientes psoriáticos.
174
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Articulação Temporomandibular
O envolvimento da articulação temporomandibular (ATM) em pacientes acometidos
pela psoríase artropática já foi descrito. Clinicamente, quando a ATM é envolvida, são
comuns crepitação, dor articular, sensibilidade à palpação dos músculos mastigató-
rios, edema articular e limitação dos movimentos mandibulares, podendo evoluir para
anquilose. O diagnóstico de psoríase artropática na ATM não é fácil, sendo os achados
radiográficos inespecíficos.5
Os sinais radiográficos mais comumente encontrados na ATM destes indivíduos
são: erosão e aplainamento da cabeça da mandíbula, presença de osteófitos, osteo-
porose, esclerose na cortical da cabeça da mandíbula, diminuição dos espaços arti-
culares, periostites, osteólise, deformidades e esclerose subcondral. Os exames por
imagem, como a ressonância magnética e a ultrassonografia, podem demonstrar a
progressão da doença na ATM, mesmo sem uma evidente progressão de alteração
óssea. Podem, ainda, diferenciar a psoríase artropática da artrite reumatoide por mos-
trar inflamação extracapsular e entesite, dando suporte a esta inovadora hipótese pa-
togênica, o que permite novos acessos terapêuticos. Como a psoríase artropática é
progressiva na maioria dos casos, há a necessidade de um monitoramento por meio
de exames imaginológicos frequentes, para que a terapia possa ser ajustada de acor-
do com a atividade da doença.5,6
Manejo Odontológico
175
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Figura 13.3.2 Aspectos clínicos da candidíase em pacientes psoriásicos. (A) Glossite romboi-
dal mediana. (B) Queilite angular.
Figura 13.3.3 Aspectos clínicos da candidíase em pacientes psoriáticos. (A) Candidíase pseu-
domembranosa. (B) Candidíase eritematosa (atrófica aguda).
176
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Conclusão
177
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
178
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Líquen Plano
O líquen plano (LP) é uma condição inflamatória que afeta mais frequentemente a mu-
cosa bucal e a pele. A patogênese ainda não é bem estabelecida; entretanto, linfócitos
T provocam dano aos queratinócitos na camada basal do epitélio e, consequentemen-
te, a apoptose celular. Esta condição é mais comum em mulheres entre 30 a 60 anos,
com uma prevalência de 0,5 a 2,2%.3
As áreas da mucosa mais afetadas são língua, mucosa jugal e labial e gengiva, onde
pode se encontrar gengivite descamativa. As manifestações orais são divididas em
reticular, placa, atrófica erosiva e bolhosa. O padrão reticular é o mais comum, com pre-
sença de pápulas brancas em forma de renda conhecidas como estrias de Wickham
(Fig. 13.4.1). O principal diagnóstico diferencial dever ser a leucoplasia.4
Os pacientes em geral são assintomáticos; entretanto sintomas como queimação,
prurido, disgeusia, raramente dor devido a úlceras podem ser descritos. Na literatura
há controvérsia de transformação maligna do LP em carcinoma de células escamosas,
com a maior frequência registrada no LP atrófico, erosivo e bolhoso. Por esse motivo,
é indicada a monitorização regular. Finalmente, em alguns pacientes, é possível que as
alterações bucais após regressão deixem cicatrizes.4
179
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, especialmente do padrão reticular. É importante a busca por
lesões em pele e fatores psicológicos envolvidos. A biópsia para confirmação micros-
cópica, em alguns casos, pode não ser decisiva.4
Tratamento
Primeiro, deve-se eliminar os fatores desencadeantes para melhora dos sintomas,
como bordas cortantes, substâncias ácidas, picantes. Uma boa higiene oral e bo-
chechos com clorexidina a 0,12% sem álcool são indicados para diminuir acúmulo
de biofilme. Para as lesões sintomáticas, pode-se indicar uso tópico de corticoide ou
propianato de clobetasol a 0,05%. A redução do estresse também pode auxiliar na
diminuição das ocorrências.3,4
Pênfigo Vulgar
Etiologia
A maioria dos casos é idiopática; casos isolados têm um fator desencadeante identifi-
cável, como dieta ou medicamentos (inibidores da enzima conversora de angiotensina
[ECA], AINEs e alguns antibióticos). Um número significativo de casos mostra uma for-
te relação genética, bem como étnica, principalmente em judeus Ashkenazi e naqueles
de descendência mediterrânea. O processo patológico é mediado por autoanticorpos,
que têm como alvo os componentes extracelulares de adesão, que no caso de PV oral,
é principalmente a desmogleína.7
Características Clínicas
A mucosa bucal em geral é afetada em um estágio inicial no PV, com presença de bo-
lhas, que eventualmente levam a erosões e úlceras, presentes principalmente na mu-
cosa bucal, palato, superfície ventral da língua e lábios. Nos estágios avançados, con-
sistem em descamações severas ou gengivite erosiva (Fig. 13.4.2). As lesões orais são
quase invariavelmente seguidas por lesões na pele. O PV pode às vezes ser associado
a outras desordens autoimunes, particularmente artrite reumatoide, lúpus eritemato-
so ou síndrome de Sjögren.4-7
180
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Diagnóstico
Em pacientes com PV, a pressão firme em uma área normal destaca o epitélio, forman-
do uma bolha (sinal de Nikolsky), entretanto este sinal não é sensível nem específico
desta condição. Uma biópsia do tecido perilesional para análise histopatológica é ne-
cessária. Em alguns casos, ainda podemos lançar mão da imunofluorescência. Exames
laboratoriais com ensaio de títulos de anticorpos séricos por imunofluorescência tam-
bém podem ajudar no prognóstico e tratamento (por exemplo, IgG, IgM e C3).4-7
Tratamento
O tratamento é, em princípio, destinado a trazer a doença sob controle rapidamente
e, em seguida, usando a menor dose de droga para prevenir a ativação da doença.
O tratamento é invariavelmente com corticosteroides sistêmicos e tópicos para as
manifestações bucais, com ou sem agentes poupadores de esteroides (azatioprina
versus micofenolatomofetil). Outros tratamentos incluem ciclosporina, tacrolimus, ri-
tuximabe, e imunoglobulinas intravenosas em esteroides resistentes.4-6
Penfigoide benigno das membranas mucosas (PBM) é uma doença autoimune bolho-
sa subepitelial crônica. O PBM pode ser localizado ou extenso, e pode afetar tanto a
mucosa quanto a pele. A prevalência é de 2 a 5 pessoas por 100.000 ao ano; as mu-
lheres são afetadas duas vezes mais que os homens.7-9
181
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Etiologia
Os autoanticorpos atacam os antígenos das moléculas que ligam o epitélio ao tecido
conjuntivo e impedem a ligação de moléculas nos hemidesmossomos. Os antígenos
envolvidos no PBM oral são BP180 e laminina.5,7-9
Características Clínicas
O penfigoide pode surgir em qualquer local da mucosa, mais comumente na oral e
na conjuntiva (simblefaro). Mais de 85% dos casos tem envolvimento da mucosa oral,
sem o envolvimento da pele. As lesões em geral envolvem as mucosas das gengivas,
palato e mucosa jugal, sendo menos frequente em língua e lábios (Fig. 13.4.3). A apre-
sentação gengival é tipicamente dolorosa, sendo erosões eritematosas com desca-
mação, com surgimento espontâneo ou após trauma físico, como a escovação dentá-
ria. Muitas vezes, há uma incapacidade em manter o cuidado bucal com consequente
acúmulo de placa acrescentando uma carga inflamatória. Pequenas vesículas que se
rompem facilmente podem ser observadas; em comparação com as do PV, estas são
duradouras e bem definidas. Com o tempo, pode haver cicatrizes nos locais de desen-
volvimento da lesão vesiculobolhosa, principalmente sobre o palato mole.3,7-9
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado nos aspectos clínicos, sinal de Nikolsky positivo e exame
histopatológico da área perilesional. Em alguns casos, a imunofluorescência direta
pode auxiliar no diagnóstico, mostrando autoanticorpos na zona da membrana basal
(IgG/IgM e C3).3,7,8
Tratamento
O manejo do penfigoide depende da gravidade da doença. Os pacientes imunossupri-
midos devem receber suporte odontológico em situações de urgência, principalmen-
te em casos de trauma, hemorragia e infecção. Uma doença generalizada envolvendo
182
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Eritema Multiforme
Etiologia
Geralmente está associado a infecções prévias do vírus herpes simples (HSV). As
lesões desenvolvem-se em 10-14 dias após as manifestações clínicas da infecção her-
pética, embora infecções de outras naturezas, bacteriana, fúngica e viral, possam de-
sencadear esta condição. A síndrome de Stevens-Johnson (Fig. 13.4.4) está associada
ao uso de medicamentos antibióticos e analgésicos.2,3,8 Frequentemente, o diagnósti-
co é clínico, sendo necessária identificação do fator desencadeante.
Figura 13.4.4 Eritema multiforme: presença de múltiplas úlceras e crosta nas mucosas labiais.
183
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Tratamento
O tratamento é sintomático para as lesões dolorosas, com bochechos com anesté-
sicos tópicos. O uso de prednisona é efetivo no controle das lesões quando a infecção
pelo vírus do herpes não estiver envolvida. O tratamento múltiplo das lesões exige
abordagem multidisciplinar, especialmente médica.3
Etiologia
A patogênese da estomatite aftosa recorrente é desconhecida, entretanto, os me-
canismos da imunidade parecem desempenhar um papel importante. A história
familiar positiva é vista em um terço dos pacientes.3,7 A imunidade é mediada por
células, e a formação de complexos imunes também pode desempenhar um papel
no desenvolvimento das aftas, além de um mecanismo mediado por linfócitos B en-
volvido. Alguns fatores não imunológicos foram identificados no EAR; contudo, não
há fortes evidências para apoiar o papel causal desses fatores que incluem: deficiên-
cias hemáticas (B12, ferro e ácido fólico), elementos microbianos, fatores ambientais
ou comportamentais (trauma, estresse ou ex-fumante), sensibilidade aos alimentos,
como tomates, chocolates, nozes e laticínios, alterações hormonais relacionadas
com a menstruação, compostos químicos (lauril sulfato de sódio) e medicamentos
(beta-bloqueadores, nicorandil).3,5
Características Clínicas
As lesões apresentam-se como úlceras orais recorrentes, bem delimitadas, ovais,
recobertas por uma pseudomembrana branca ou amarela e um halo eritematoso cir-
cundante. As lesões podem aparecer inicialmente como máculas vermelhas, mas rapi-
damente formam a úlcera clássica. A maioria das úlceras se desenvolve em órgãos não
queratinizados, livremente móveis na mucosa bucal. O diagnóstico diferencial é infec-
ção viral por herpes simples (HSV)7. As úlceras de HSV são tipicamente observadas em
mucosas não móveis e queratinizadas.3,5 As úlceras da EAR são dolorosas e, em casos
graves, elas podem estar desativando. Embora sintomas prodrômicos, sensação de
queimação ou eritema focal possam estar presentes; geralmente são ignorados pela
maioria dos pacientes até que a úlcera dolorosa se desenvolva.3,5,8
184
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Figura 13.4.5 Estomatite aftosa recorrente: úlcera única, com halo eritematoso,
leito raso recoberto por uma pseudomembrana.
A afta maior (afta de Sutton) representa cerca de 10 a 15% dos casos. O seu início
é geralmente na puberdade; uma recidiva crônica pode persistir por muitos anos. As
úlceras são maiores que 1 cm de diâmetro, com leito mais profundo, mais doloroso e
pode levar até seis semanas para cicatrizar. A cicatriz no local da lesão é comum, e as
aftas podem comprometer o estado nutricional do paciente.3,5,8
As úlceras aftosas herpetiformes são as menos comuns, apresentam-se como pe-
quenas úlceras de 1 a 3 mm de diâmetro, regridem dentro de 10 a 14 dias e não deixam
cicatrizes. Elas podem aparecer em qualquer lugar da cavidade oral, e são comumente
confundidas com a infecção por HSV.
O diagnóstico é clínico, entretanto, faz-se necessário investigar deficiências nu-
tricionais com exames laboratoriais, como hemograma completo, ferro sérico, ácido
fólico e vitamina B12. O diagnóstico diferencial é feito com citologia esfoliativa para a
presença de células Tzank, infecção viral, bacteriana e fúngica.3,5,8
Tratamento
O tratamento deve levar em consideração a apresentação clínica da EAR, sua gravida-
de e sintomatologia. A orientação dos pacientes sobre a natureza benigna da EAR e de
grande importância para a redução do estresse e eliminação de pequenos traumas. Os
pacientes são encorajados a evitar alimentos que podem desencadear ou prolongar
185
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Introdução
186
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Manifestações Orais
Xerostomia/hipossalivação Candidíase
Aftas Queilite angular
Úlceras Halitose
Cáries cervicais Disgeusia
Doença periodontal Tumefação difusa e bilateral das glândulas sali-
Língua fissurada vares
Métodos Diagnósticos
O exame físico demonstra, na maioria das vezes, uma mucosa oral ressecada e eri-
tematosa, cáries cervicais e atrofia das papilas filiformes no dorso da língua e no ângu-
lo labial, fissuras, gengivite e descamação dos lábios.33,42
187
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Diagnóstico Diferencial
Diversos podem ser os fatores que levam ao quadro de hipossalivação, e esses fatores
devem ser excluídos para o correto diagnóstico da SS. Hábitos como tabagismo, alco-
olismo e ingestão de bebidas cafeinadas podem reduzir o fluxo salivar.26 Entretanto, a
causa mais comum é decorrente da utilização de medicamentos consideravelmente
xerogênicos, como diuréticos, laxantes, antiácidos, anoréticos, anti-hipertensivos, anti-
depressivos, antipsicóticos, sedativos, anti-histamínicos, anticolinérgicos, antiparkiso-
188
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
nianos.29,54 Por outro lado, situações de estresse e condições sistêmicas, como: artrite
reumatoide, menopausa, diabetes mellitus, também podem reduzir o fluxo salivar.9,32,44
Devido ao quadro clínico amplo e pouco conclusivo, é necessário que se faça diag-
nóstico diferencial com outras doenças, como: sialolitíase, sarcoidose, doença enxerto
versus hospedeiro, infecção pelo HIV, hipossalivação induzida por radioterapia de ca-
beça e pescoço, amiloidose, diabetes, uso de medicação inibidora da salivação, infec-
ção pelo vírus da hepatite C, linfoma e síndrome de HiperIg G4, devido à existência de
algumas semelhanças clínicas.25,55,56
Critérios Diagnósticos
O diagnóstico da síndrome continua sendo controverso, tendo em vista a ampla pos-
sibilidade de manifestações clínicas que podem estar presentes. Recomenda-se, por-
tanto, a utilização do Critério da American College of Rheumatology (2012). Tal confir-
mação é dada quando são evidenciados no paciente dois dos três possíveis achados
apresentados por este critério,16 segundo o Quadro 13.5.2.
São classificados como síndrome de Sjögren pacientes que apresentarem pelo menos dois dentre
os três seguintes critérios objetivos:
1. Presença de anti-SSA-Ro e/ou anti-SSB-La ou (fator reumatoide positivo e ANA título ≥1:320).
2. Sialoadenite linfocítica focal com presença de focus/score ≥1 focus/4 mm2.
3. Ceratoconjutivite seca com escore de coloração ocular (OSS) ≥3 (válido para pacientes que não
estejam em uso de colírio para glaucoma e não tenham sido submetido à cirurgia de córnea ou
estética de pálpebras nos últimos 5 anos).
Tratamento
189
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Protocolo de Atendimento
Após anamnese e exame físico detalhados e concluído o diagnóstico precisamente,
devemos formular o plano de tratamento de acordo com as condições clínicas do
paciente.
Há uma ordenação básica de prioridades, que normatiza a elaboração dos planos de
tratamento integrado, apresentada no Quadro 13.5.3.
1. Urgências
2. Controle da atividade de doença/educação em saúde
3. Procedimentos periodontais e cirúrgicos (focos de infecção)
4. Intervenção endodôntica
5. Tratamento restaurador/reabilitador
6. Reavaliação do paciente
7. Manutenção periódica do paciente (definida pelo profissional)
190
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Atendimento Ambulatorial
Inicia-se com os procedimentos mais simples para os de maior complexidade, fazen-
do adequação do meio bucal e controle da atividade das doenças antes de iniciar o
tratamento clínico restaurador. Neste caso, vale ressaltar a importância de se realizar
um exame estomatológico minucioso associado à prescrição de exames complemen-
tares, como radiografias periapicais e panorâmica, bem como de exames laboratoriais
para avaliação geral da saúde do paciente (hemograma, glicemia de jejum, hepatogra-
ma, sódio, ureia, creatinina e ácido úrico, VHS, C3, C4 e PCR). Aplicação de anamnese
contida no prontuário para avaliação do comportamento da saúde oral dos pacientes.
Para análise qualitativa do comportamento da saúde oral dos pacientes, o ideal é ava-
liar parâmetros descritos na história odontológica pessoal: atual e pregressa.
Figura 13.5.1 Exame de sialometria de repouso. (A) Materiais utilizados para coleta e mensuração. (B)
Coleta propriamente dita com tubo graduado.
Parâmetros Avaliados
Volume:
• Normal: maior ou igual = 0,3 mL/min.
• Hipossalivação: menor = 0,3 mL/min.
191
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Turbidez:
• Excesso de células epiteliais em suspensão na saliva.
Viscosidade:
• Espuma = >viscosidade (excesso de mucina).
Coloração:
• Normal.
• Purulenta.
• Sanguinolenta.
• Outras.
Obs: Para eliminação da espuma salivar, usar antiespumante dimeticona (5 gotas = 0,25 mL).
• Beber dois litros de água por dia. Manter sempre uma garrafa de água ao seu alcance;
• Ingerir alimentos que necessitam de mastigação vigorosa: cenoura crua, maçã,
amendoim;
• Ingerir alimentos que apresentam conteúdo líquido: melão, melancia, sorvete
sem açúcar;
• Mascar chiclete sem açúcar;
• Chupar bala sem açúcar;
• Mastigar cristais ou raiz de gengibre, três vezes ao dia;
• Comer maçã em pedaços coberta com gotas de limão três vezes ao dia. Cortar a
maçã em cubos, pingar gotas de limão, guardar na geladeira e ingeri-la ao longo
do dia;
• Chupar ameixa umeboshi (ameixa salgada) três vezes ao dia;
• Misturar: suco de dois limões + uma colher de sopa rasa de sal + dois dedos de
água; em seguida, armazenar na geladeira em um frasco com conta-gotas. Pin-
gar três gotas sobre a língua, três vezes ao dia;
192
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Tratamento de Cárie
Seguir os padrões convencionais de tratamento de lesões cariosas, que é o restaura-
dor, entretanto, o que se deve observar é a existência do risco para a instalação da do-
ença. Logo, deve-se seguir a metodologia de identificação do risco de cárie conforme
a Figura 13.5.2.
TRATAMENTO
Risco Identificado
Risco Identificado
• 1 sessão;
• quatro sessões (intervalos
• entrevista;
semanais);
• exame clínico - higiene oral;
• entrevista / exame clínico –
• Tratamento;
higiene oral;
• Preventivo;
• aplicação tópica de flúor;
• Retorno 90 dias e/ou de acordo
• Retorno 30 dias - reavaliar..
com a necessidade.
193
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
As lesões orais nas doenças inflamatórias intestinais podem ser específicas e não
específicas, baseado na presença de inflamações granulomatosas nas lesões quan-
do avaliadas ao exame histopatológico.9 Somente na doença de Crohn observam-se
lesões específicas, tais como: ulcerações lineares profundas, tumefações de tecido
mole – semelhantes à hiperplasia fibrosa –, pregas hiperplásicas localizadas em fun-
do de vestíbulo e região retromolar.1,3,12,13 Edema labial é um achado muito frequente
na doença de Crohn, e usualmente pode ocorrer a presença de fissuras verticais,
onde microorganismos podem ser isolados. Edemas faciais e em língua também não
são incomuns.8,14,15
A gengiva nos pacientes com doença de Crohn pode apresentar um aspecto hiper-
plásico e granular com a presença ou não de ulcerações, quadro clínico denominado
mucogengivite. Toda a gengiva inserida e mucosa alveolar podem estar envolvidas,
sendo uma das lesões específicas mais comumente encontradas.16,17 Na região pos-
terior da mucosa oral e no palato, podem ser observadas áreas em que a mucosa
oral apresenta um aspecto semelhante a pedras arredondadas (edema nodular e
granulomatoso da mucosa oral).1,18 Este aspecto é considerado patognomônico na
194
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Figura 13.6.1 Líquen plano em língua de paciente com doença de Crohn. (Fotografia gentilmente cedida
pela Profa. Dra. Bruna Picciani.)
195
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Reação liquenoide
5-Aminossalicilatos: Paladar metálico
sulfasalazina, mesalazina Reações de hipersensibilidade
Infecções orais
Candidíase
Corticosteroides Alterações nos ossos maxilares devido à osteoporose
Calcificações pulpares
196
Cap. 13 • Doenças Imunomediadas
Úlceras orais
Mucosite
Metotrexato
Ageusia, hipogeusia
Alterações orais decorrentes de supressão medular óssea
Hiperplasias gengivais
Hiperplasia de papilas filiformes da língua
Inibidores de calcineurina:
Candidíase
ciclosporina A e tacrolimus
Carcinoma de células escamosas em lábio
Linfoma não Hodgkin
Candidíase
Drogas imunobiológicas:
Eritema multiforme
infliximabe, adalimumabe
Reação liquenoide
197
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
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14
Distúrbios Neurológicos,
Psiquiátricos e
Comportamentais
14.1 – Pacientes com Doença de Alzheimer e Outras
Demências: Manejo Odontológico
Almir Oliva Filho • Eduardo Hebling
Demência não é uma doença, mas um grupo de sintomas caracterizados por um declí-
nio progressivo das funções cognitivas, como o raciocínio, a linguagem e a memória,
devido a desordens que afetam o cérebro, severo o bastante para interferir com as
atividades de vida diária e social do indivíduo. Esse declínio pode ser decorrente de
uma série de causas (Tabela 14.1.1), de forma parcial ou completa, reversível ou irrever-
sível (permanente) e, suficientemente importante a ponto de provocar uma perda de
autonomia do indivíduo.1
Pessoas com demência apresentam os mesmos problemas de saúde bucal que as
pessoas da população geral da mesma idade. Contudo, a saúde bucal dessas pessoas
pode ser comprometida pela natureza da demência (incluindo a severidade do declínio
cognitivo, a perda da função social e os aspectos comportamentais), a falta de coo-
peração no tratamento odontológico, a dificuldade do indivíduo e dos cuidadores em
manter uma higiene bucal adequada e a perda da habilidade do indivíduo em realizar
as atividades de vida diária. Independentemente do tipo de causa, os pacientes porta-
dores de demência apresentam manejo odontológico semelhante.2
A doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência (50-60% do total).
É uma doença progressiva, neurodegenerativa e, até o presente momento, não apre-
senta cura, mas um controle de sua evolução e sintomas, com uso de medicamentos.
Tipicamente, essa doença ocorre após os 65 anos de idade, com prevalência aumen-
tando com o avanço da idade. Após os 70 anos, a prevalência dobra a cada 5 anos.
Após os 85 anos, cerca de 40% dos indivíduos apresentam o risco de desenvolver
DA. Assim, o risco de apresentar DA pode variar de 1 a cada 1000 pessoas, abaixo da
207
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
idade de 65 anos, para 5 a 10 a cada 100 pessoas acima de 65 anos, e para 1 a cada 5
pessoas acima da idade de 80 anos. A etiologia (causa) da DA é desconhecida, contu-
do, vários fatores de risco são associados (Quadro 14.1.1), sendo o avanço da idade o
mais prevalente.2-4
Histologicamente, fatores ainda não identificados desencadeiam a deposição ex-
tracelular de pepitídeos β-amiloide sobre os neurônios, iniciando uma resposta infla-
matória que resulta em emaranhados neurofibrilares intracelulares, que contêm pro-
teína Tau hiperfosforilada, resultando em perda de neurônios corticais. Esse processo
começa no hipocampo e no córtex entorrinal e se espalha para as áreas do cérebro
responsáveis pela memória e pelo aprendizado (os lobos temporal, parietal e frontal).
Eventualmente, a destruição contínua de neurônios leva à atrofia do córtex cerebral e
ao aumento dos ventrículos. No entanto, as porções motoras, visuais e somatossenso-
riais do córtex cerebral, geralmente, permanecem intactas.5
Doença de Huntington
Câncer cerebral
208
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Fatores de Risco
Avanço da idade (quanto mais velha a pessoa, maior o risco)
Genético:
• Histórico familiar de DA
• Gene autossômico dominante
• DA precoce familiar envolve a mutação em pelo menos três genes nos cromossomos 14, 1 e 21
(20%)
• Forte relação entre o gene da apolipoproteína E (APOE) no cromossomo 19 e DA esporádica e
familiar de início tardio (polimorfismo)
• Pessoas homozigotas para o alelo APOE-4 apresentam risco 10 vezes maior de apresentar DA
• Pessoas heterozigotas para o alelo APOE-4 apresentam risco 4 vezes maior de apresentar DA
• Presença ou histórico familiar de trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down) aumenta o
risco de DA em 2 a 3 vezes
Lesão na cabeça ou trauma (comum em esportistas, como os pugilistas)
Educação limitada (nível educacional) ou capacidade linguística limitada no início da vida
Sexo feminino (Controversa: maior prevalência de DA em mulheres pode ser atribuída a aumento da
longevidade de mulheres em idades mais avançadas)
209
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
irá necessitar cada vez mais de assistência, evoluindo para uma dependência total e,
eventualmente, para a necessidade de institucionalização, sob cuidados de institui-
ções de longa permanência. Devido a isso, a DA não é apenas uma doença do paciente,
mas também da família, responsável pelos cuidados. Não é incomum a sobrecarga de
trabalho e o estresse elevado dos cuidadores familiares, o que deve ser considerado
no manejo e planejamento do atendimento desses pacientes.2,3,6,7
O último quadro clínico da DA é de um paciente acamado, totalmente dependente
para todas as funções básicas. A disfagia (dificuldade de deglutição) pode prejudicar
a nutrição do paciente, induzindo ao uso de sonda nasogástrica ou de tubos gastroin-
testinais. A morte para esses pacientes, geralmente, resulta de aspiração pulmonar,
decorrente da disfagia, ou de processos infecciosos, associados ao decúbito prolon-
gado, devido à acamação.7
A falta de cooperação do paciente com o avanço da DA é a principal dificuldade
de manejo no tratamento odontológico. A Tabela 14.1.2 apresenta uma forma de ava-
liação dessa cooperação para direcionar na melhor escolha do plano de tratamento
odontológico (Tabela 14.1.3).8 O uso de sedação oral com benzodiazepínicos ou de
anestesia geral, em ambiente hospitalar, pode ser indicado nos casos avançados da
doença.9 Sugestões de manejo interpessoal e de atendimento da equipe odontológica
em paciente com doença de Alzheimer são apresentadas no Quadro 14.1.2.
Pacientes em estágios avançados da DA são, muitas vezes, incapazes de comuni-
car sintomas dentários de dor e disfunção. A presença do sintoma da dor em pessoas
com demência pode manifestar-se pela súbita piora do comportamento, gemendo ou
gritando, pela recusa em fazer tarefas ou comer certos alimentos, pelo aumento da
inquietação e pelo prejuízo do sono.1
Para os pacientes institucionalizados portadores de próteses removíveis, totais ou
parciais, a perda ou mesmo a troca das próteses pelos indivíduos ou seus cuidadores é
comum. Para evitar esses fatos, é importante a identificação do nome do paciente na pró-
tese, inserindo um pequeno papel com o nome do paciente na região lingual ou do palato,
durante a acrilização de novas próteses ou confeccionando um pequeno leito na base das
próteses que permita a inserção dessa identificação, recobrindo-a com resina incolor.2
Necessita Necessita
Capaz de escovar os dentes ou
Sim (0) alguma (1) assistência (2)
as próteses
assistência total
210
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Total de pontuações 0 5 10
Classificação
0-3 = doença leve (nenhuma alteração no tratamento);
4-7 = doença moderada (modificações no plano de tratamento);
8-10 = doença severa (somente tratamento emergencial ou indicação de uso de sedação)
Abordagem
Doença Leve Doença Moderada Doença Severa
do Plano de
(0-3 pontos) (4-7 pontos) (8-10 pontos)
Tratamento
Mudanças mínimas no Pode ser necessário o Pode ser necessário o
atendimento uso de sedação uso de sedação
Considerações Redução no tempo da Redução no tempo da
–
gerais consulta consulta
Rechamadas mais fre- Rechamadas mais fre-
–
quentes quentes
Plano de prevenção: Plano de prevenção: Plano de prevenção:
• Uso de flúor tópico • Uso de flúor tópico • Uso de flúor tópico
• Higiene oral diária • Higiene oral diária • Higiene oral diária
• Educação para a saú- • Educação para a saúde • Educação para a saú-
de oral para os cuida- oral para os cuidado- de oral para os cuida-
dores res dores
Plano de tratamento Plano de tratamento Plano de tratamento
Considerações antecipando o declínio com escolha de proce- focado na manutenção
específicas cognitivo dimentos mais rápidos dos dentes presentes
e simples
Realização de procedi- (p. ex.: reembasamento
mentos complexos de próteses presentes
em vez de confecção de –
nova prótese, quando
possível)
Restaurar as funções o Foco na prevenção de Cuidados emergenciais
mais rápido possível doenças orais e paliativos
211
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Conclusão
O plano de tratamento odontológico do paciente com doença de Alzheimer deve man-
ter a qualidade de vida deste, objetivando a eliminação de infecções orais e a restaura-
ção da dentição, para que o paciente possa manter a alimentação saudável, a estética
e a fala pelo maior tempo possível.
212
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
213
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
214
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Figura 14.2.1 Condição de saúde bucal precária de idoso, 68 anos, com doença de
Parkinson. Relato de caso clínico pelo responsável Prof. Dr. Alexandre Franco Miranda,
cedido especificamente a este capítulo do livro.
215
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
216
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
217
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
218
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
os quais em geral têm efeito notável sobre os sintomas positivos, porém em quase
nada afetam os sintomas negativos.1,3
Os antipsicóticos típicos (p. ex.: haloperidol e clorpromazina) ou atípicos (p. ex.: rispe-
ridona, olanzapina e quetiapina)3 podem provocar efeitos colaterais de interesse para
a odontologia. Destacamos a xerostomia4 e também os transtornos do movimento,
especialmente discinesia tardia, na região oromandibular. Também podem ocorrer
nessa mesma região episódios agudos de distonia, mais frequentemente causados
por antipsicóticos típicos de alta potência (p. ex.: haloperidol).1,3
Na CID-115,6 são descritas as seguintes formas clínicas ou subtipos da esquizofrenia:
219
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
O DSM-57 não dá ênfase à divisão em subtipos clínicos, como na CID-11, e utiliza a ex-
pressão “espectro da esquizofrenia” no título da seção, destacando com isso o caráter plu-
ral e a variabilidade clínica desse transtorno. Tal característica, entretanto, dificulta a possi-
bilidade de traçarmos regras gerais ou orientações por demais rígidas para o atendimento
odontológico de pacientes portadores de esquizofrenia e outros transtornos psicóticos.
O profissional deve sempre buscar manter uma postura ao mesmo tempo cautelosa
e acolhedora, procurando despertar a confiança do cliente e a aceitação do tratamen-
to. Caso o paciente compareça ao atendimento durante episódio psicótico agudo, nem
sempre será possível a realização do tratamento, devido à agitação psicomotora ou ao
comportamento bizarro ou desorganizado, sendo preferível adiar o procedimento até
que o paciente esteja em melhores condições. Tais limitações não devem justificar a
frustração ou a sensação de incapacidade por parte do profissional, podendo, ao con-
trário, ser encaradas com naturalidade, como circunstâncias inerentes ao atendimento
desses pacientes, os quais nem sempre estarão em condições de cooperar com o pro-
fissional devido às próprias características e limitações da doença.
Odontologia
Figura 14.3.1 Aspectos clínicos e radiográficos de paciente portador de esquizofrenia. (A) Perda pre-
coce dos dentes. (B) Radiografia panorâmica, mostrando as ausências dentárias.
220
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
221
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
222
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Conclusão
223
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
O sofrimento psíquico é inerente à própria condição humana; por essa razão, é possível
afirmar que, enquanto doença, ela já estivesse presente nas primeiras culturas huma-
nas.1,2 De acordo com dados atuais, as doenças psíquicas representam a causa mais
comum de incapacidade, afetando cerca de 16% da população global, e, segundo, a
Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), estas doenças têm sido apontadas como
uma das principais causas de deficiência no mundo até o ano de 2030; gerando sofri-
mento significativo ou um importante prejuízo no funcionamento social, ocupacional
ou em qualquer outra área importante da vida do indivíduo.
Dentre os transtornos mentais mais prevalentes, destacam-se a esquizofrenia, o
Transtorno Bipolar (TB) e o Transtorno Depressivo Maior (TDM). O TDM é caracterizado
pela presença de choro sem causa aparente, humor triste, vazio ou irritável (motivação
reduzida ou desesperança), anedonia (diminuição da capacidade de experimentar uma
atividade prazerosa, como comida, sexo e interações sociais), dificuldade em concen-
tração, exacerbação de dores preexistentes, sono interrompido, apetite e cognição e
tendência ao suicídio,3,23 acompanhados de alterações somáticas e cognitivas que afe-
tam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo.4
A maioria desses transtornos tende a ser recorrente, e o início dos episódios in-
dividuais é frequentemente relacionado com eventos ou situações estressantes. Os
fatores genéticos são responsáveis por cerca de 40% dos casos, juntamente com
fatores de risco ambientais associados com anormalidades endócrinas (hiper ou hi-
potireoidismo), tumores malignos, efeitos adversos de drogas5 e distúrbios relacio-
nados ao estresse, que podem induzir uma série de alterações psicológicas e fisio-
lógicas, incluindo ativação do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HPA) e sistema
nervoso simpático.6
O TDM se caracteriza por episódios distintos de pelo menos duas semanas de
duração, embora a maioria dos episódios dure um tempo consideravelmente maior,
envolvendo nítidas perdas no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas,
e remissões entre os episódios.4 A fisiopatologia pode envolver a desregulação de
uma série de sistemas de neurotransmissores, incluindo os da serotonina, norepine-
frina, dopamina, acetilcolina e ácido gama-aminobutírico; e os estudos indicam que
episódios depressivos ocorrem com frequência duas vezes maior em mulheres do
que em homens.7,8
O tratamento é feito com antidepressivos, os quais são efetivos no tratamento agu-
do das crises moderadas e graves, porém não diferentes de placebo em crises leves.
Os diferentes antidepressivos têm eficácia semelhante para a maioria dos pacientes
deprimidos, variando em relação ao perfil de efeitos colaterais e potencial de interação
com outros medicamentos.6 Pode-se associar um antipsicótico em pacientes com de-
224
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
pressão psicótica, por ser mais efetivo do que antidepressivos isoladamente; enquan-
to o tratamento psicológico específico para episódio depressivo é mais efetivo para
depressões leves a moderadas.6
Uma das principais consequências da depressão é a restrição ou incapacidade de
realizar tarefas individuais comuns em contextos sociais. Afeta várias dimensões da
qualidade de vida, como autocuidado e independência, atividades familiares, sociais,
profissionais, emocionais e religiosas, além da atenção à saúde bucal.10
O TDM, assim como as doenças bucais, é visto como um dos mais prevalentes de
todos os problemas de saúde, podendo ser considerado uma “doença de igualdade e
de oportunidade” que afeta todas as idades, raças e grupos econômicos. Mais espe-
cificamente, representa um espectro de comportamentos, psicológicos e disfunção
biológica, dentro do qual é um risco inerente no aumento de incapacidade, perda da
liberdade e, muitas vezes, perda desnecessária de vida através do suicídio.7
Quando não é realizado o tratamento medicamentoso, o paciente, frequentemente,
apresenta retardo psicomotor com redução na atividade muscular facial, medida por
meio da eletromiografia. Isto pode explicar a expressão facial fixa e sulcos profundos
na testa e ao lado da boca, comumente observados nesses pacientes.10
225
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
salivares, que, associada à higiene bucal precária e resposta imune alterada, facilitam
o aumento da colonização por bactérias patogênicas. Portanto, a promoção de saúde
e higienização bucal é de extrema importância para este grupo de pacientes.11,15 Outras
consequências do baixo fluxo salivar incluem um aumento da prevalência de infec-
ções fúngicas e dificuldades na mastigação e fala.10,13
Outras complicações bucais encontradas em pacientes com TDM são bruxismo,
síndrome da ardência bucal, nevralgia do nervo trigêmeo e dor pela disfunção tem-
poromandibular (DTM); sendo também descritos casos de sialodenite, estomatite,
disgeusia, edema e descoloração da língua,9,16 úlceras aftosas recorrentes e líquen pla-
no,10 além de herpes labial, língua geográfica, língua fissurada, discinesia oral, mordida
de lábios ou bochecha e gengivoestomatite ulcerativa necrosante.9 Estas alterações
bucais passam por períodos de remissões e exacerbações que, frequentemente, se
relacionam claramente com o estado emocional do paciente.
Os medicamentos utilizados no tratamento do TDM podem estar associados à diminui-
ção do fluxo salivar e também à deficiência na coordenação motora,16 causando piora na
destreza manual, já ocasionada pela falta de motivação,15 o que pode favorecer um maior
acúmulo de biofilme e, consequentemente, o favorecimento de doenças bucais.11,15,17,18
O cirurgião-dentista deve mostrar uma atitude de apoio e sem preconceito, sempre
informando sobre a confidencialidade das informações fornecidas. É importante que
haja a integração com a equipe multiprofissional que acompanha o paciente para a troca
de informações e complementação da história médica, inclusive com relação ao pos-
sível abuso de álcool ou outras substâncias. Nestes casos, o cirurgião-dentista deverá
solicitar testes de função hepática, hemograma e avaliação da coagulação. Pacientes
deprimidos podem, ocasionalmente, não cooperar com o tratamento odontológico, de-
monstrando irritabilidade e insatisfação. Educação preventiva e reforço para higieniza-
ção bucal são fundamentais, não só para o paciente, mas também para o acompanhante
(cuidador), com ênfase na instrução da técnica e frequência de escovação, bem como
sobre a necessidade do uso fio dental. Produtos como sialogogos e bochechos com
fluoretos devem ser prescritos para pacientes com hipossalivação.16,19,20
O planejamento para o tratamento deve ser flexível e realista e, em muitos casos, deve
ser mais agressivo em termos de cuidados preventivos. O objetivo do tratamento será
manter uma condição bucal satisfatória e sem infecção, aliada ao conforto e à função.
Esta população específica de pacientes, muitas vezes, exigem consulta multidisciplinar
com um médico ou psiquiatra para estabelecer os atuais tratamentos farmacotera-
pêuticos, psicológico e, se necessário, questões que envolvem o consentimento para o
tratamento. Além disso, deve-se planejar se será necessário o tratamento com alguma
modalidade sedativa e, dessa forma, exigir uma consulta médica prévia, a fim de evitar
qualquer potencialização dos efeitos colaterais das medicações psicotrópicas atuais.21
O tratamento odontológico do paciente com TDM pode ser afetado pela condição de
saúde mental que, muitas vezes, leva à diminuição dos cuidados de higiene e diminuição
da capacidade de obter ou de tolerar o tratamento odontológico,8 que, sempre que pos-
sível, deve ser breve e seguro; a anamnese é de fundamental importância para esclarecer
a história do paciente. Esses pacientes não permanecem imóveis, podendo apresentar
226
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
reações as mais diversas; dessa forma, podemos prever qualquer tipo de reação, muitas
vezes inesperadas, podendo ser agradáveis ou não. Durante o atendimento, o profissional
deverá estar acompanhado de uma auxiliar no consultório, e o instrumental deverá ficar
fora do alcance do paciente, bem como da sua visão, pois esses instrumentais podem tor-
nar-se armas contra o profissional. O cirurgião-dentista deve ter o conhecimento dos me-
dicamentos utilizados pelo paciente devido às interações medicamentosas, principalmen-
te as relacionadas com os anestésicos locais. O termo de consentimento, e/ou contrato de
prestação de serviço, deve ser assinado pelo paciente e pelo seu curador (responsável),
pois dessa forma o profissional ficará respaldado judicialmente.21
O presente descortina-se com a busca de melhoria da qualidade de vida e promo-
ção de saúde através de políticas de saúde mental com a implantação de CAPS, hos-
pitais-dia, residências terapêuticas e a extinção de todos os hospitais psiquiátricos do
Brasil.10,15,22 Em relação à saúde bucal, as exodontias múltiplas do passado devem ser
substituídas pela reabilitação oral, através das restaurações, próteses, tratamentos
endodônticos, tratamentos ortodônticos e implantes.8
O cirurgião-dentista deve incentivar e motivar a prevenção de saúde bucal dos pa-
cientes com TDM, por sua propensão a negligenciá-la, proporcionando, desta forma, a
melhoria da saúde, reforçando e melhorando o sentido de identidade e sua autoestima
e contribuindo, assim, em algum grau, para a sua reabilitação psicológica e melhora na
qualidade de vida.13,15,16,26
227
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
228
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
e/ou em altas doses da substância. Pode ocorrer com ou sem delirium, e outros
sintomas, tais como agitação, insônia ou inversão do ciclo do sono, alucinações
ou delírios.
• Transtorno psicótico: ocorre imediatamente (até 48 horas) após o uso de drogas,
com alteração do juízo da realidade, alterações da sensopercepção como, por
exemplo, alucinações auditivas, falsos reconhecimentos, ideias de referência ou
ideias de perseguição.
• Síndrome amnéstica: comprometimento significativo da memória recente ou,
menos frequentemente, também da memória remota, com preservação de ou-
tras funções cognitivas, quadro que se segue a período de uso crônico (e em
geral de altas doses) de álcool ou drogas.
• Transtorno psicótico residual e de início tardio: persistência de alterações cogni-
tivas, afetivas, de personalidade ou de comportamento após período de ausência
de uso da substância, de forma que não se possa mais atribuir essa condição ao
efeito direto do álcool ou de outra substância utilizada.
• Outros transtornos mentais e de comportamento: existe o uso da substância e
a presença de sinais ou sintomas, mas não se configura nenhum dos quadros
acima descritos.
• Transtorno mental e de comportamento não especificado: categoria residual
para qualquer quadro relacionado ao uso de substâncias que não possa ser clas-
sificado entre as categorias acima ou quando não se tenha informações suficien-
tes para essa categorização.
Atendimento Odontológico
O dentista deve estar apto a identificar os sinais e sintomas que podem indicar abuso
de substâncias, tais como: lesões na pele, ansiedade, boca seca, rubor na face, odor,
fala acelerada, dificuldade de permanecer sentado na cadeira. As características pe-
229
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
230
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Figura 14.5.1 Aspectos precários da cavidade oral de usuários de substâncias: (A-B) Usuário de metan-
fetamina apresentando cárie cervical (seta preta), recessão gengival e fratura dentária. (C-D) Usuário de
cocaína apresentando restos radiculares e peri-implantite na região inferior com supuração.
Manejo Odontológico
1. Estar apto para reconhecer os sinais e sintomas que podem indicar abuso de
substâncias, somente realizando tratamento odontológico com no mínimo um
intervalo de 6-24 horas do último consumo.
2. Realizar anamnese minuciosa, sendo necessário coletar: tempo de uso, frequên-
cia e quantidade da substância; utilização de outras substâncias; história familiar;
comorbidades associadas; tempo sem utilização; tratamento para abstinência.
3. Solicitar exames laboratoriais, tais como: hemograma, sorologia para hepatite,
anti-HIV e VDRL.
231
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Maconha
As alterações orais mais frequentes são: hipossalivação, cárie dentária, estomatite ni-
cotínica, pigmentação exógena, leucoedema e hiperplasia gengival.18-23 Alguns autores
sugerem que em consumidores crônicos pode ocorrer lesões pré-malignas, como leu-
coplasia e eritroplasia, com possível evolução para uma neoplasia maligna.19,20 O uso de
anestésico local com adrenalina em consumidores de altas doses da maconha pode
levar a taquicardia, sendo a felipressina o vasoconstrictor de escolha.24,25
Cocaína
O paciente não deve receber tratamento com no mínimo 6 horas de intervalo do últi-
mo consumo. Para obter uma rápida absorção, o usuário esfrega o pó sobre a gengiva,
provocando recessão gengival e úlceras na mucosa associadas com necrose por vaso-
232
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
233
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Metanfetamina
O paciente não deve receber tratamento com no mínimo 24 horas de intervalo do
último consumo. Observam-se nestes pacientes hipossalivação, cáries rampantes,
erosão do esmalte, fraturas dentárias, bruxismo e trismo.13 O termo “Meth Mouth” é
utilizado para descrever as lesões de cáries típicas que se encontram em quase todos
os dentes nas faces lisas ou proximais, envolvendo principalmente a cervical dos den-
tes anteriores. Clinicamente, são semelhantes a cáries de radiação, entretanto, apre-
sentam evolução lenta (Fig. 14.5.1).32 Este fato está relacionado com a precária higiene,
hipossalivação e compulsão por consumo de açúcares. Os pacientes após uso da me-
tanfetamina podem ranger e realizar apertamento dentário.32
Álcool
Adicionar na anamnese perguntas a respeito de história de doença hepática e distúrbios
de coagulação. Observar se há tumefação de parótida ou hálito alcoólico. Em usuários de
álcool, observam-se higiene oral precária, hipossalivação, erosão dentária, candidíase,
gengivite e queilite angular (Fig. 14.5.4). Deve-se sempre alertar o paciente que o álcool
é considerado um fator de risco para o desenvolvimento de câncer oral.33 Evitar prescre-
ver medicamentos e colutórios à base de álcool. Solicitar exames laboratoriais – hemo-
grama, coagulograma, TGO, TGP. Pacientes crônicos podem apresentar cirrose hepática
e distúrbios de coagulação, pois o fígado não armazena níveis adequados de vitamina K,
reduzindo os níveis de fatores de coagulação dependente de vitamina K (II, VII, IX e X).
Estes pacientes podem apresentar risco de sangramento espontâneo (Fig. 14.5.4). Pre-
caução nas drogas metabolizadas pelo fígado, sendo necessário ajuste da posologia.13
Figura 14.5.4 (A) Usuário de cocaína e álcool apresentando candidíase eritematosa em dorso de língua e
queilite angular. (B) Usuário de álcool, portador de cirrose hepática apresentando sangramento espontâ-
neo nos lábios.
Opioides
Para realizar o tratamento odontológico, o ideal é esperar pelo menos 6 horas antes da
última utilização da droga. Os usuários apresentam alta prevalência de cárie, doença
234
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Sedativos
Os pacientes dependentes de sedativos, hipnóticos e ansiolíticos ou usuários crônicos
de antidepressivos podem apresentar hipossalivação, o que resultaria na probabilida-
de do desenvolvimento de cárie dentária, doença periodontal e infecções fúngicas.
Além disso, podem gerar hipotensão postural; discinesia tardia, caracterizada por mo-
vimentos anormais iniciados na região orofacial. Merece cautela, também, o uso de
vasoconstritores adrenérgicos em pacientes que utilizam antidepressivos tricíclicos,
devido à potencialização dos efeitos adrenérgicos. A eritromicina pode aumentar o
nível sérico e a ação farmacológica dos benzodiazepínicos.
14.6 – Epilepsia
Eliane de Oliveira Aranha Ribeiro
• Pelo menos duas crises não provocadas (ou reflexas) com mais de 24 horas de intervalo.
• Uma crise não provocada (ou reflexa) e uma probabilidade de apresentar novas
crises nos próximos 10 anos, semelhante ao risco geral de recidiva (pelo menos
60%) depois do aparecimento de duas crises não provocadas.
• Houver o diagnóstico de uma síndrome de epilepsia.
235
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Suas causas são múltiplas e em alguns casos existe uma base genética. Mas outras
causas comuns de epilepsia são: danos cerebrais causados por lesões pré-natais ou
perinatais; anomalias congênitas ou malformações cerebrais; traumatismos cranio-
encefálicos; acidentes vasculares cerebrais; infecções neurais, tais como meningite,
encefalite e neurocisticercose; e tumores cerebrais. Em cerca de metade dos casos
de epilepsia, a causa não pode ser determinada.5
Os grupos etiológicos podem ser: estrutural, genético, infeccioso, metabólico, imune
e desconhecido. A epilepsia de um paciente pode ser classificada em mais de uma
categoria etiológica.6 A mais recente classificação das epilepsias é baseada em múl-
tiplos níveis. O ideal é que o diagnóstico seja realizado nos três níveis e que a etiologia
também seja buscada.
No seu nível inicial, primeiro há de se definir os tipos de crises epilépticas, que po-
dem ser classificadas em crises de início focal, crises de início generalizado e crises de
início desconhecido.
No segundo nível estão os tipos de epilepsias. Estas podem ser focais, generaliza-
das, focais e generalizadas combinadas e desconhecidas.
As epilepsias focais incluem distúrbios unifocais e multifocais, bem como crises en-
volvendo um hemisfério.
Nas epilepsias generalizadas, os pacientes apresentam atividade de complexos de
espícula-onda generalizados no eletroencefalograma (EEG).
O novo grupo de Epilepsias com Crises Focais e Generalizadas Combinadas descre-
ve pacientes que apresentam tanto crises focais como generalizadas. Exemplos co-
muns nos quais ambos os tipos de crises estão presentes são as síndromes de Dravet
e de Lennox-Gastaut.
O termo “desconhecido” é usado quando se sabe que o paciente tem epilepsia, mas
o clínico não consegue determinar de que tipo.
No terceiro nível, encontra-se a síndrome epiléptica, que se refere a um conjunto de
características, incluindo tipos de crises, EEG e características de imagem, que tendem
a ocorrer juntas.
A epilepsia é dita resolvida quando o indivíduo com uma síndrome epiléptica relacio-
nada à idade atingiu a idade correspondente, ou naqueles que não tiveram convulsões
nos últimos 10 anos e que não tomaram medicação antiepiléptica nos últimos 5 anos.1
Odontologia e Epilepsia
236
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
ta (CD) tem responsabilidade parcial sobre esta condição, uma vez que nem todos se
sentem aptos para atender estes pacientes.8
O tratamento odontológico do paciente com epilepsia deve ser precedido por uma
etapa importante que é a anamnese. Conhecer a história clínica do paciente é extre-
mamente relevante. Nessa fase, todos os dados devem ser coletados e analisados
para melhor planejar o atendimento.
Saber se o paciente está tendo crises, qual a frequência, qual o tipo da epilepsia, data
da última crise, tipo da crise, uso de medicamentos, se as crises estão controladas são
informações obrigatórias.
O ideal para o inicio do tratamento odontológico é que o paciente esteja com as
crises controladas há pelo menos um mês; mesmo assim, isso não garantirá que não
venha a ocorrer alguma crise.9
Nesses casos, recomenda-se a prescrição de benzodiazepínicos 30-45 minutos an-
tes do procedimento odontológico, sendo o Lorazepam 0,5-1,0 mg o mais indicado.10
A interação com o neurologista também é importante.11 Uma vez que através desta
comunicação se poderá saber como anda o acompanhamento, quando foi a última
consulta e qual medicação foi prescrita.
Os CDs devem estar atentos aos medicamentos anticonvulsivantes tomados pelo
paciente, às complicações e aos efeitos adversos desses medicamentos.12
O risco de ocorrer convulsões durante o atendimento odontológico é um dos maio-
res receios do CD. Por isso, três princípios fundamentais devem orientar sua interação
com o paciente em um ambiente clínico: (1) conhecimento dos episódios de crises e
medicações anteriores do paciente; (2) conhecimento das condições que provocam
epilepsia e convulsões e ordem para evitar tais condições; e (3) ser capaz de reconhe-
cer os sinais precoces de uma convulsão, tomar precauções antes que ela ocorra e
fornecer ao paciente cuidados de suporte caso ocorra.13-15
O sinal do início de uma crise epiléptica pode ser, por exemplo: tremor no braço ou
na perna, suor excessivo, alterações de humor, perda de apetite, poliúria, alterações
visuais, olfativas e auditivas, entre outros.16
A maioria dos pacientes sabe identificar os fatores que estão associados com um
risco aumentado de convulsões. Os fatores mais comuns são a privação do sono, o
estresse, a época do ciclo menstrual, o uso de álcool e o uso irregular do medicamento
antiepilético.17,18
O estresse e a ingestão de bebidas alcoólicas antes do atendimento odontológico
devem ser evitados. Bem como seguir a correta posologia dos medicamentos, espe-
cialmente durante os dias anteriores ao atendimento.19
Preferencialmente, a consulta odontológica deve ser realizada nas primeiras horas
do dia; as sessões de tratamento devem ser curtas; movimentos bruscos, luzes e ruí-
dos devem ser evitados.14 Sugere-se o uso de óculos escuros pelo paciente para mini-
mizar os problemas com a luz.22
Se um paciente tiver uma crise epiléptica durante o tratamento odontológico, este
deve ser interrompido e sugadores, algodões, próteses e instrumentos devem ser remo-
237
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
vidos da cavidade bucal.13,20 O paciente deve ser colocado na posição supina,21 e, se pos-
sível, em decúbito lateral, com apoio para a cabeça, para evitar aspiração de secreções
ou materiais dentários. A contenção passiva deve ser usada só para evitar que o pa-
ciente se machuque ou caia da cadeira.22 As roupas que o paciente usar devem ser sol-
tas.13 Se houver algum sinal de que a crise irá ocorrer, tampões grossos de gaze ou pano
devem ser colocados na boca do paciente para evitar qualquer tipo de lesão ou dano
aos dentes.14,23 É importante ressaltar que esta manobra não pode ser realizada quando
ele já começou a crise, é praticamente impossível realizar.24 Alguns pacientes caem em
sono profundo após uma convulsão. Em tais casos, o paciente deve ser monitorado de
perto.14,25 Se a convulsão durar mais de 3 minutos e ocorrer novamente, a administração
de medicamentos é necessária.21 O paciente deve ser monitorado para garantir que sua
via aérea não seja obstruída. No entanto, se a crise durar mais tempo e continuar, apesar
da medicação, o paciente deve ser encaminhado para um hospital.13,23,26 Após o paciente
recuperar a consciência, ele deve ser mandado para casa para descansar. O tratamento
deve ser adiado até que o paciente se sinta bem novamente.13,14,20,23,26
Embora o paciente com epilepsia não tenha manifestações bucais típicas, podemos
encontrar alterações relacionadas ao uso de medicamentos, aos traumas que podem
afetar tanto os dentes quanto os tecidos moles, que podem ocorrer durante as crises.27
Durante uma crise convulsiva, o paciente pode deslocar a articulação temporoman-
dibular (ATM), avulsionar dentes, lacerar o tecido mole e a língua.28,29 Em paciente com
alto número de crises convulsivas não controladas, indica-se o uso de protetor bucal.13,30
Os medicamentos antiepilépticos podem provocar efeitos colaterais que afetam
cavidade bucal. A fenitoína, por exemplo, tem o efeito colateral mais conhecido, pois
causa hiperplasia gengival14,20,31-33 (Figs. 14.6.1 e 14.6.2). A carbamazepina e a lamotrigi-
na podem causar xerostomia, úlcera, glossite e estomatite.14,20,34 O valproato de sódio
pode reduzir a eficácia do mecanismo de coagulação do sangue.14,34 O fenobarbital
induz o eritema multiforme, causando formação de bolhas e erupções. A primidona
pode causar anemia megaloblástica.20,35
Figura 14.6.1 Hiperplasia gengival causada pelo uso da fenitoína. (Fonte: arquivo pessoal.)
238
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Figura 14.6.2 Hiperplasia gengival induzida pelo uso da fenitoína. (Fonte: arquivo pessoal.)
Alguns medicamentos prescritos por CDs podem diminuir a absorção dos antiepi-
lépticos. Anti-inflamatórios não esteroidais e alguns antifúngicos, como o metronida-
zol, o fluconazol e o miconazol, afetam negativamente o metabolismo do valproato de
sódio, da fenitoína e da carbamazepina. Portanto, essas combinações de medicamen-
tos precisam ser evitadas.14,23,35
No que diz respeito à segurança da administração de anestesia local, estudos re-
latam que anestésicos locais contendo lidocaína poderiam precipitar convulsões em
pessoas com epilepsia. Isso é improvável, pois embora grandes doses de lidocaína
possam causar convulsões ao serem administradas por via intravenosa,36,37 o meca-
nismo de ajuste causado pela overdose de lidocaína é bem diferente do mecanismo
convulsões na epilepsia.34 A técnica anestésica da carpule com aspiração para evitar
injeção intravenosa é indicada.23,37
Em pequenas doses, os anestésicos locais geralmente reduzem o fluxo sanguíneo
cerebral, o metabolismo e a atividade elétrica do cérebro, e atuam como anticonvul-
sivantes, sedativos e analgésicos, enquanto em altas doses eles agem como drogas
pró-convulsivas. Alguns autores relatam que os anestésicos locais administrados em
doses terapêuticas não interagem com o padrão de drogas antiepilépticas; entretanto,
no caso de uma sobredosagem de anestesia local crítica, podem ser observadas con-
dições clínicas, como convulsões tônicas.38
239
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Com relação à anestesia geral (AG), esta tem sido considerada a escolha certa se as
convulsões forem de difícil controle.14 Além disso, se o paciente for deficiente mental,
a AG pode ser necessária, tendo em vista que uma convulsão pode ser desencadea-
da pelo estresse devido a dificuldades na comunicação.14,20,39 No entanto, a anestesia
local deve ser preferida à AG sempre que possível no tratamento de pacientes epilép-
ticos. Isso ocorre porque o cérebro pode sofrer de anóxia temporária durante a AG, o
que pode desencadear crises epilépticas.39
Quanto à sedação com óxido nitroso ou sedação intravenosa com benzodiazepí-
nicos, tem-se sugerido que o desenvolvimento de crises pode ser controlado atra-
vés dela.14,25 No entanto, uma convulsão pode desenvolver-se durante o tratamento
odontológico, apesar da sedação intravenosa; nesse caso, o tratamento deve ser
adiado.14,25 A sedação com midazolan pode causar convulsões,40 e a sedação com
óxido nitroso ou AG pode reduzir estes riscos, por minimizar o estresse do paciente
durante o atendimento.41
Recomenda-se o tratamento odontológico preventivo e periódico a pacientes epilé-
ticos, uma vez que dores e infecções podem provocar convulsões13,41 (Fig. 14.6.3). Além
de que a prevenção ajudará na diminuição da placa bacteriana e na melhora da hiper-
plasia gengival.42,43 Nos casos em que a hiperplasia é grave, gengivectomia pode ser
recomendada, e a troca do medicamento sistêmico, sugerida.19
240
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
241
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Comportamentos restritos
Nível de gravidade Comunicação social
e repetitivos
242
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
tato visual é uma atividade que requer treino e o profissional necessita incentivar a
busca do contato visual para prosseguir as atividades (Fig. 14.7.2).
Comunicação alternativa (CA) é uma área clínica que se propõe a compensar, tem-
porária ou permanentemente, indivíduos com dificuldade severa de comunicação,
apresentando as novas habilidades através de imagens,4,14 podendo ser classificadas,
de acordo com a complexidade de uso, custo e confecção do material a ser trabalhado
(Tabela 14.7.2).
Técnicas de baixo custo e de fácil confecção Técnicas com custo alto que envolvam o uso
Geralmente materiais artesanais e de uso in- de software
dividual Computadores, acionadores, vocalizadores,
entre outros, que substitua ou amplie a co-
municação oral e/ou escrita
243
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
244
Cap. 14 • Distúrbios Neurológicos, Psiquiátricos e Comportamentais
Dificuldade em manter con- Estimular contato visual Utilizar recursos visuais es-
tato visual pelhos, cores chamativas na
região do rosto, gorros, tiaras,
antes de apresentar alguma
atividade.
245
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
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Paralisia Cerebral
Maria Teresa Botti Rodrigues dos Santos • José Reynaldo Figueiredo • Renata de Oliveira Guaré
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Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
258
Cap. 15 • Paralisia Cerebral
Identificação
Consulta
do paciente Ortopedista
Odontológica
Neuro pediatria
Anamnese
História médica
progressa e atual Pneumologia
Tratamento odontologico
emergencial - DOR
Hospital
Abordagem
Exame físico
comportamental
Ambulatorial
Posicionamento na cadeira
Inibição de reflexos patológicos
Respeitando capacidade
respiratória
Alta
Cirurgia
Preiodontia
Prótese
Ortodontia
259
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
260
Cap. 15 • Paralisia Cerebral
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263
16
Atenção Odontológica
Integral na Síndrome de
Down
Rafael Celestino Colombo de Souza • Sofia Takeda Uemura
Introdução
Prevalência e Incidência
Comprometimento Geral na SD
265
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Terapia antifúngica:
• Nistatina 100.000 UI/
mL suspensão oral –
bochechar 4 a 6 mL por
Fissura no canto dos alguns minutos, 4 vezes/
15% Candidíase
lábios e da língua dia, durante 2 semanas.
• Miconazol a 2% gel oral:
aplicar diretamente so-
bre a lesão, 4 vezes/dia
durante 2 semanas
Respiração nasal
Macroglossia relativa 100% Voz alterada –
Inclinação de incisivos
Raspagem e alisamento
coronorradicular
PDT
Associação com terapia
Mobilidade medicamentosa
Doença periodontal 90 a 100%
Perda do elemento Em casos de perda do ele-
mento, após recuperação
da saúde bucal, implantes
dentários podem ser con-
siderados.
266
Cap. 16 • Atenção Odontológica Integral na Síndrome de Down
Hipodesenvolvimento
do maxilar e hipofun-
A má oclusão mais preva-
ção da mandíbula.
lente é a classe III de Angle,
Má oclusão e bruxismo 60% Palato atrésico que pode ser tratada com
Mordida aberta anterior aparelhos ortopédicos e
ortodônticos.
Mordida cruzada pos-
terior
Dentre as más oclusões mais frequentes entre os indivíduos com SD, podemos
apontar a protrusão mandibular, mordida aberta anterior e mordida cruzada posterior;12
muitas vezes, a má oclusão é grave e com indicação para tratamento ortodôntico,13
que deve ser bem avaliada considerando o grau de cooperação, de comprometimento
intelectual e de higiene bucal. Segundo Oliveira et al.,14 o uso de mamadeira por mais de
24 meses aumenta a prevalência de mordida aberta anterior e posterior em indivíduos
com SD, sendo importante a orientação precoce em bebês com SD.
Em relação a prevalência de cárie na SD, os estudos apontam dados controversos.
Por um lado, alguns autores apresentam dados de menor quantidade de dentes afe-
tados em comparação com indivíduos normorreativos na mesma faixa etária, devido
a alguns fatores como agenesias, diastemas, erupção dentária tardia, bruxismo e pH
salivar.11,15,16 Por outro, há trabalhos que relatam taxa de cárie similar ou maior entre
crianças com e sem SD.17-20 Uma recente revisão sistemática, conduzida por Moreira et
al.,21 aponta que não há evidências científicas que apoiem a hipótese de que pessoas
com síndrome de Down tenham uma menor experiência de cárie do que indivíduos
267
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
268
Cap. 16 • Atenção Odontológica Integral na Síndrome de Down
Erosão dentária
Alterações
14 a 60% Hipersensibilidade
gastrointestinais
Restrição de dieta
Aspiração de secreções orais
Infecções respiratórias 40 a 60% Respiração nasal – considerar aparelho orto-
dôntico/ortopédico
Baixo peso e cansaço
Cardiovascular 40%
Risco de endocardite infecciosa
Hipotonicidade dos músculos periorais, lábios,
músculos da bochecha e língua.
Hipotonia muscular 100% Dificuldade em mamar (sucção)
Interposição lingual e/ou respiração nasal –
considerar aparelho ortodôntico/ortopédico
Transtornos depressivos e obsessivo-com-
pulsivos;
Disfunção psicológica
18 a 38% Consumo de medicamentos depressores do
e/ou psiquiátrica
SNC
269
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
deve buscar realizar uma revisão dos sistemas mais geralmente comprometidos e na
presença de alguma descompensação, orientar, tratar ou encaminhar ao médico res-
ponsável, quando necessário.
Considerações na
Técnica Descrição
síndrome de Down
Consiste em mudar a atenção do Apresenta bons resultados em pa-
paciente do que pode ser conside- cientes SD, tanto crianças como
rado desagradável adultos, desde que, utilizado com um
Distração
objeto transicional de interesse do
paciente. Por exemplo: time de fute-
bol preferido, desenho preferido, etc.
270
Cap. 16 • Atenção Odontológica Integral na Síndrome de Down
Considerações na
Técnica Descrição
síndrome de Down
Técnica em que o paciente se ob- A participação ativa do paciente
serva sendo representado por um nesta técnica é necessária. Pacien-
boneco de pelúcia ou até mesmo tes com SD, em sua maioria, neces-
Modelagem por outro paciente. Nesta técnica, sitam viver os dois papéis “dentis-
demonstra-se parte do atendimen- ta” e “paciente”.
to para antecipar ao paciente o que
irá ocorrer
Apresentação aos poucos do am- Ao apresentar gradualmente um
biente e das técnicas odontológi- instrumento ou equipamento, o
Falar-mostrar-fazer
cas paciente se sente seguro e pode
elaborar sua relação com ele.
Consiste em realizar um proce- Contar números ou acompanhar a
dimento sob uma contagem nu- contagem gera uma organização
Contagem mérica predeterminada e que o mental e demanda bastante aten-
numérica paciente possa acompanhar. Se ção. Porém, está técnica depende
necessário, podem ser feitas inú- do cognitivo do paciente.
meras repetições
Consiste na apresentação gráfica Tem maior eficiência com crianças.
Antecipação por por imagens antecipadas das eta- Podem ser utilizadas fotografias do
imagens pas do tratamento odontológico ou próprio paciente para recordação
do ambiente em futura consulta.
Gratificar o paciente mediante a A técnica é eficiente no controle
uma atitude ou comportamento comportamental, principalmente,
desejado, de forma afetiva (com quando realizada de forma indi-
Reforço positivo elogios) ou não (com presentes ou vidualizada para o paciente. Por
algo preferido pela criança) exemplo, para adultos, brinquedos
podem não ser efetivos, mas um
CD com músicas pode.
Consiste na alteração do tom e Está técnica é muito eficiente para
volume da voz, controlado, para pacientes com SD carentes de re-
influenciar o comportamento da ferências (seja paterna, materna ou
Controle de voz criança. Estabelece autoridade e outras), pois, ao falar com certeza e
evita comportamento negativo diretivamente, o paciente se sente
seguro em um ambiente ou mo-
mento “ameaçador”.
Considerações na
Técnica Descrição
síndrome de Down
271
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Considerações na
Técnica Descrição
síndrome de Down
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Cap. 16 • Atenção Odontológica Integral na Síndrome de Down
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17
Manifestações Orais
da Neurofibromatose
Luiza de Moura Carvalho Figueira • Lilian Machado de Sousa Almeida • Karin Soares Cunha
275
diretrizes para atendimento Odontológico de Pacientes sistemicamente Comprometidos
As manchas café com leite se apresentam como manchas ovoides na pele, geral-
mente com bordas regulares e bem definidas, que variam do marrom claro ao escuro
(Fig. 17.1A). Estas manchas estão presentes desde o nascimento ou no início da infân-
cia e ocorrem em 99% dos casos.9 Na infância, geralmente apresentam em torno de
5 mm, mas costumam crescer em tamanho e em número durante a primeira década
de vida. Nos adultos, apresentam tamanho que varia de 15 a 30 mm, mas lesões de
muitos centímetros podem ocorrer.9
As “efélides” axilares e inguinais (sinal de Crowe) são manchas com cor semelhante
às manchas café com leite, porém menores, medindo entre 1 e 3 mm, e geralmente
surgem entre 3 e 5 anos de idade8 (Fig. 17.1B). Apesar de serem chamadas de efélides
(sardas), histopatologicamente não são sardas, nem clinicamente se apresentam em
áreas de exposição solar nem ficam mais escuras com a exposição ao sol, como ocor-
re com as efélides verdadeiras.10
276
Cap. 17 • Manifestações Orais da neurOfibrOMatOse
Figura 17.1 (a) Manchas café com leite no antebraço e dorso da mão. (b) “efélides” axilares. Múltiplos
neurofibromas localizados cutâneos. (C) Neurofibroma plexiforme facial.
Os nódulos de Lisch aparecem por volta dos cinco anos de idade e estão presentes
em cerca de 90% dos pacientes com NF1 com mais de 6 anos.11 São totalmente assin-
tomáticos e não trazem nenhuma complicação para os pacientes, mas são importan-
tes como critérios diagnósticos. Representam hamartomas de origem melanocítica, e
quase sempre são bilaterais.12 Seu diagnóstico deve ser feito por um oftalmologista.
Os neurofibromas são tumores benignos que se originam da bainha dos nervos
periféricos, sendo compostos por uma mistura de células de Schwann, fibroblastos,
células perineurais e mastócitos.13 Podem surgir em qualquer parte do corpo, sendo
a pele a localização mais comum.9 Podem ser localizados (cutâneos ou subcutâneos),
difusos ou plexiformes.13
Os neurofibromas localizados cutâneos são os mais comuns e ocorrem na maioria
dos pacientes com NF1. Em geral, começam a surgir no início da puberdade. Durante
a puberdade e gravidez, observa-se aumento em número e tamanho destes tumores,
sugerindo influência hormonal.14,15 Os neurofibromas apresentam um número que va-
ria grandemente de pessoa para pessoa (desde poucos até milhares) e comumente
são nódulos sésseis ou pediculados, de consistência flácida ou firme, normocrômicos
ou rosados (Fig. 17.1C). Geralmente são assintomáticos, porém alguns pacientes se
queixam de prurido ou dor.
Os neurofibromas localizados subcutâneos são lesões mais profundas na pele, fir-
mes e podem ser dolorosos, e os difusos são grandes, porém planos.13 Os neurofibro-
mas plexiformes, por sua vez, envolvem múltiplos fascículos nervosos, sendo lesões
que podem chegar a grandes proporções, trazendo grande deformidade e, conse-
quentemente, morbidade significativa (Fig. 17.1D). Os neurofibromas plexiformes ocor-
rem em cerca de 30% dos pacientes com NF1 e podem transformar-se em tumores
malignos da bainha do nervo periférico (TMBNP), sendo a maior causa de morte dos
indivíduos com NF1.8 Neurofibromas localizados subcutâneos também podem ocasio-
nalmente sofrer transformação maligna.16
277
diretrizes para atendimento Odontológico de Pacientes sistemicamente Comprometidos
neoplasias
Embora não sejam tão frequentes quanto os neurofibromas em pele, os neurofi-
bromas orais ocorrem em uma proporção significativa dos pacientes com NF1 (25-
33%).17-19 Assim como os neurofibromas cutâneos, estas lesões usualmente não
ocorrem na infância e começam a aparecer a partir da puberdade. Os neurofibromas
orais comumente são assintomáticos, mas alguns pacientes se queixam de prurido.
Apresentam-se em geral como lesões únicas, nodulares, de base séssil ou pediculada,
normocrômicas, amareladas ou leve-
mente eritematosas, flácidas ou fir-
mes (Fig. 17.2). Os neurofibromas orais
apresentam maior predileção pela lín-
gua, mas podem desenvolver-se em
outros locais da boca.17-19 A presença
de neurofibroma oral comumente
não traz grandes problemas para o
paciente, porém, dependendo de sua
localização, pode ser constantemente
traumatizado e acarretar dificuldade
de higiene. Os neurofibromas fazem
diagnóstico diferencial com muitas
outras lesões nodulares orais. Sendo
assim, é indicado que os neurofibro-
mas localizados orais sejam removi-
dos cirurgicamente e submetidos a Figura 17.2 Neurofibroma localizado se apresentan-
exame anatomopatológico. do como nódulo normocrômico de base séssil em
semimucosa labial.
278
Cap. 17 • Manifestações Orais da Neurofibromatose
Alterações Ósseas
Muitas das alterações ósseas na NF1 representam achados durante exames radiográ-
ficos de rotina. Malformações dos ossos maxilares quase sempre ocorrem ipsilateral-
mente a um neurofibroma plexiforme facial adjacente, mas também podem ser bilate-
rais e incluem: aumento do canal e forame mandibulares, aumento do forame mentual,
alongamento e afilamento do côndilo e processo coronoide e aprofundamento da
incisura sigmoide.17,18,22-25 Estudos recentes mostraram que indivíduos com NF1 apre-
sentam encurtamento da maxila, da mandíbula e da base de crânio.26-28
Outra alteração dos ossos maxilares associada à NF1 são múltiplas lesões centrais
de células gigantes.29-36 Essas lesões são mais comumente encontradas na man-
díbula e se apresentam radiograficamente como radiolúcidas, maldefinidas, uni ou
multiloculares. Embora as lesões em geral se apresentem clinicamente como uma
expansão óssea assintomática, existem casos de pacientes com NF1 com lesões
mais agressivas, com presença de dor, sangramento, destruição óssea significativa
e mobilidade dentária.32,34-36
Aumento da prevalência de displasia fibrosa cemento-óssea periapical em pacien-
tes com NF1 foi descrito em um estudo.37 Esta lesão ocorre na região periapical de
incisivos inferiores vitais. Embora na população geral a displasia cementária periapical
ocorra mais comumente em mulheres adultas negras, nesse estudo, as lesões esta-
vam presentes em mais de 30% das mulheres com NF1 acima de 20 anos. Citado es-
tudo tinha uma amostra composta apenas por caucasianos.37
Neurofibromas, embora raramente, podem ocorrer nos ossos maxilares e se apre-
sentam como lesões radiolúcidas uni ou multiloculares, com margens bem ou pobre-
mente definidas.23,38-40 Ainda mais incomumente, os TMBNP podem ocorrer nos ossos
maxilares, como já citado neste capítulo.41-44
279
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
280
Cap. 17 • Manifestações Orais da Neurofibromatose
Considerações Finais
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Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
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Cap. 17 • Manifestações Orais da Neurofibromatose
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284
18
Epidermólise Bolhosa
Thays Teixeira de Souza • Aline Lopes Bressan
Lucas Fernandes Leal • Letícia Dias Gomes Cerqueira
Introdução
Epidemiologia
Formas
285
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
mamadeira. Cabelos e dentes não são afetados. Alteração ungueal é rara, mas
quando ocorre, é leve. As bolhas se resolvem, em mais de 80% dos casos, sem
cicatriz ou milia.8
• EBS severa generalizada (conhecida como Dowling-Meara): forma mais severa.
O envolvimento da mucosa oral é comum.9 Manifestações extracutâneas, como
estenose de laringe, podem ser severas e aumentar a mortalidade.10
• EBS intermediária generalizada (conhecida como Koebner): as bolhas se iniciam
ao nascimento ou na primeira infância. O desenvolvimento dos cabelos, unhas
e dentes está preservado. Raramente atinge os olhos. As lesões geralmente se
resolvem com alteração da pigmentação. Pode ocorrer atrofia ou milia.
286
Cap. 18 • Epidermólise Bolhosa
Figura 18.1 Paciente com forma de epidermólise bolhosa distrófica severa generalizada,
apresentando contratura e atrofia cicatricial extensas nas mãos, levando à perda dos dedos.
Complicações
287
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Diagnóstico
Feito através da biópsia cutânea para imunofluorescência com bolha recentemente
induzida. A análise de mutações pode ser considerada, mas não é recomendada como
primeira linha para o diagnóstico porque é cara, tem pouca disponibilidade e grande
heterogeneidade genética.19
Tratamento
Até o momento não há nenhuma terapia especifica. As lesões cutâneas devem ser
cobertas com curativos não aderentes de silicone ou com espuma que absorvam ex-
sudatos. Banhos ou compressas com água sanitária diluída, antissépticos tópicos e
antibióticos tópicos são usados para reduzir a carga bacteriana nas feridas coloniza-
das.20 Feridas infectadas merecem antibioticoterapia sistêmica. Outro fator importan-
te é o controle da dor. Se leve ou moderada, usa-se analgésicos e anti-inflamatórios
não esteroidais. Se intensa, opioides e/ou ansiolíticos.21 Todos os pacientes acometi-
dos de forma grave apresentam déficit nutricional com necessidade de reposição de
ferro, com ou sem eritropoietina. A reposição de cálcio e vitamina D deve ser avaliada.22
Os acometimentos oftalmológico e da mucosa oral devem ser avaliados em conjunto
com o oftalmologista e o cirurgião-dentista.23 Espera-se o dia que a terapia gênica seja
realidade para pelo menos alguns subtipos de epidermólise bolhosa.24
Odontologia
288
Cap. 18 • Epidermólise Bolhosa
Figura 18.2 Lesão cariosa ativa em paciente com epidermólise bolhosa com extensa mi-
crostomia.
Manejo Odontológico
289
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Tratamento Dentário
• No primeiro contato com o paciente, o exame por imagem tipo panorâmico pode
ser indicado, por ser um exame pouco traumático para os tecidos bucais (Fig. 18.3).
290
Cap. 18 • Epidermólise Bolhosa
Todas as formas de EB são candidatas a tratamento dentário, desde que haja pla-
nejamento e conhecimento pelo cirurgião-dentista atendente, podendo ser ambu-
latorial ou sob anestesia geral. O planejamento do atendimento eletivo a estes pa-
cientes inclui a acolhida do paciente, o correto manejo e a preparação de materiais
e instrumentais odontológicos, de forma a minimizar o tempo de atendimento e dar
conforto ao paciente.
291
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
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19
Doenças Hematológicas –
Doenças Falciformes
Cyrene Piazera Silva Costa • Halinna Larissa Cruz Correa de Carvalho
Soraia de Fátima Carvalho Souza
295
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Figura 19.1 Fisiopatologia das doenças falciformes. Os eventos de polimerização da HbS, hiperviscos-
idade, vasoclusão, hemólise e disfunção endotelial são exibidos. A desoxigenação faz com que a HbS se
polimerize, dando aspecto falciforme às hemácias. A vasoclusão resulta da interação dessas hemácias
falciformes com leucócitos, levando a infarto, hemólise e inflamação. A reperfusão do tecido isquêmi-
co gera radicais livres e danos oxidativos, contribuindo para o desenvolvimento de vasculopatia. (Fonte:
adaptado de Ress et al., 2010.1)
296
Cap. 19 • Doenças Hematológicas – Doenças Falciformes
Pessoas com DF podem ter complicações agudas que requerem intervenções rápi-
das para evitar ou diminuir o risco de consequências fatais. Os episódios recorrentes
de vasoclusão e inflamação resultam em danos progressivos na maioria dos órgãos,
incluindo cérebro, rins, pulmões, ossos e sistema cardiovascular, que se agravam com
o aumento da idade.1
Crises álgicas são os sintomas clínicos mais comuns e importantes da DF. Outras com-
plicações foram descritas, incluindo: acidente vascular cerebral, infarto pulmonar com
função pulmonar diminuída, priapismo, insuficiência renal crônica, disfunções esplênicas
e hepáticas, icterícia, isquemia retiniana causando cegueira transitória ou permanente,
ulceração crônica das pernas, apatia, alterações cardíacas, convulsão e alterações ósse-
as como osteonecrose, osteomielite, osteopenia e osteoporose.1,2 Pessoas com TF são
geralmente assintomáticas, no entanto, em determinadas situações extremas em que a
oxigenação de Hb é alterada pode ocorrer falcização das hemácias, levando a complica-
ções clínicas.10,11 Uma ampla variedade interindividual de gravidade da doença resulta em
polimorfismos de vários genes, como apresentado na Tabela 19.1.
Considera-se que as oclusões microvasculares são responsáveis pela maioria das ma-
nifestações clínicas das DF, inclusive as que ocorrem na cavidade bucal.12
297
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
Os achados mais comuns das DF na cavidade bucal, em especial da AF, são atra-
so da erupção dentária, osteomielite e hipomaturação e hipomineralização tanto
do esmalte quanto da dentina.12-15 Foi demonstrada associação entre AF e necrose
pulpar assintomática (NPA) em dentes hígidos. A pessoa com AF tem 8,33 vezes
maior risco de ter NPA.16 Entretanto, acreditamos que dentes hígidos com NPA sem
evidências clínicas e imagenológicas de infecção endodôntica e lesão periapical não
necessitam de tratamento endodôntico preventivo, porém, esses dentes devem ser
proservados periodicamente, a cada seis meses. Além disso, já foi demonstrado que
pessoas com AF apresentam menores níveis de saturação de oxigênio corporal e
nos dentes maxilares, exceto caninos, e mandibulares quando comparados com pes-
soas sem AF.17
Alterações dentárias importantes, como calcificação pulpar e reabsorção externa
radicular, estão associadas à AF. Pessoas com TF mesmo sendo consideradas tradi-
cionalmente assintomáticas apresentam com mais frequência alterações dentárias na
forma, no tamanho e na raiz, em especial a hipercementose.18,19 A taurodontia é muito
comum em talassêmicos.20
Outras alterações que podem ser verificadas radiograficamente em pessoas com
AF e TF são a diminuição da radiodensidade dos ossos maxilomandibulares e a for-
mação de um padrão trabecular grosseiro, descrito como “em forma de escada”,
bem como perdas parcial e total de lâmina dura em sujeitos homozigotos e heteri-
zogotos.18,19 Esse padrão trabecular grosseiro contraindica a utilização de implantes
dentários nessas pessoas, pois dificulta a osseointegração, o que pode afetar o prog-
nóstico do tratamento.19 A expansão da medula óssea, característica da AF, promove o
crescimento excessivo da maxila, o que pode aumentar a distância entre os incisivos
superiores e inferiores, resultando em distâncias interlabiais e atuando com um fator
de risco para as más oclusões moderada e severa.21 Apesar de ser caracterizada por
uma maior suscetibilidade às infecções, a AF não parece predispor a doenças perio-
dontais (DP), condições inflamatórias associadas à presença de bactérias no ambiente
periodontal. Em contrapartida, foi verificado que o TF está associado à gengivite e à
periodontite, além da consequente perda óssea alveolar, atuando como um fator pre-
ditor para as DP.22
Não há evidências que estabeleçam a AF como fator de risco para doença cárie. A
ocorrência de cárie nessas pessoas está associada a outros fatores, como baixa renda,
grau de instrução e hábitos comportamentais, tais como ingestão de açúcar e negli-
gência com a higiene bucal.23
298
Cap. 19 • Doenças Hematológicas – Doenças Falciformes
Tabela 19.2 – Cuidados odontológicos e seus por quês para pacientes com DF
O tratamento odontológico de roti- Pacientes na crise falciforme e/ou com níveis de Hb <11
na pode acontecer no paciente fora g/dL são considerados instáveis e devem ser subme-
da crise falciforme e/ou com níveis tidos apenas a tratamentos odontológicos paliativos.
de Hb ≥11 g/dL
A sedação por inalação de óxido A sedação por óxido nitroso/oxigênio é segura, pois a
nitroso/oxigênio é a técnica eleita concentração de oxigênio mínima usada é de 50% de
para manejo de ansiedade do pa- oxigênio, muito maior que a concentração no ar am-
ciente com doença falciforme biente.
Ao término da administração de óxido nitroso, 100%
de oxigênio deve ser administrado por 5 minutos, para
evitar a exalação rápida do óxido nitroso e o desenvol-
vimento potencial de hipóxia por difusão.
O uso de vasoconstritor não é con- O vasoconstritor pode produzir hipóxia e estase vas-
traindicado cular na área da punção anestésica, no entanto, livre de
complicações graves.
Aspirina e anti-inflamatórios não es- Pode ter efeito adverso no equilíbrio ácido-base, pro-
teroides não devem ser prescritos movendo acidose e consequentemente crise falcifor-
me, bem como pode prejudicar a função renal e exa-
cerbar qualquer dano renal preexistente.
Hb: hemoglobina.
299
Diretrizes para Atendimento Odontológico de Pacientes Sistemicamente Comprometidos
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