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Ciência e Odontologia
casos clínicos baseados em evidências científicas
1ª edição
VOLUME 2
MUNDI BRASIL
Reservados todos os direitos. É proíbida a duplicação ou reprodução do volume, no todo ou em parte, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web, ou
outros), sem permissão expressa da Editora.
Capa
Soraia Leite
Criação e Organização
Samanta Capeletto
Normalização
Lohana Coelho Souza
Lucineide Ricardo da Silva
Samanta Capeletto
Thaysa Valentoni Lotfi
Revisão
Sílvia Balbo Messias
Endereço de Correspondência
Faculdade São Leopoldo Mandic
Rua José Rocha Junqueira, 13
Swift
13045755 Campinas SP Brasil
(19) 32113689
Email: editoracao@slmandic.com.br
Copyright © 2016 by
Mundi Brasil Editora Ltda.
ISBN: 978-85-8424-015-9
Autores
Parte I
Clínica Integrada
Parte II
Clínica Odontológica
Parte III
Dentística
Parte IV
DTM
Parte V
Endodontia
Parte VI
Implante
Capítulo 106 L-PRF para proteção de área enxertada com osso autógeno e 644
otimização da cicatrização dos tecidos moles previamente à
instalação de implante osseointegrado
Zandra Meire de Melo Coelho, Marcela Ribeiro Lopes de
Paulo, Joviniano Martins de Oliveira Junior, George Furtado
Guimarães
Capítulo 114 Enxerto ósseo em bloco alógeno na maxila: relato de caso 692
clínico
Raul Carlos Sarti, Bruno Salles Sotto Maior
Capítulo 120 Integração estética entre dentes e tecido periodontal: relato 734
de caso
Daniel Lyra, Rafael Carneiro, Bruno Salles Sotto Maior,
Carlos Eduardo Francischone
Capítulo 121 Implante em área estética com carga imediata em dente com 738
lesão endo-periodontal num protocolo Flapless
Carlos Alexandre de Araújo Vieira, Benhur Stümer, Izaura
Aparecida Bianchi Pinto, Júlio César Joly, Daiane Cristina
Peruzzo
Parte VII
Odontopediatria
Capítulo 140 Utilização de prótese parcial fixa com sistema tubo-barra em 852
Odontopediatria: um relato de caso
Daniela Chaves Coelho Pires, Elisa Cristina Gnoatto
Tolentino, Valchia Gotardo Gusson Colombi , Thaís
Gimenez, José Carlos Pettorossi Imparato
Capítulo 141 Uso de coroas TDV para reabilitação de dente decíduo 857
Daniela Dias de Almeida Romancini, Sabrina Gonella,
Gabriela Azevedo de Vasconcelos Cunha Bonini
Parte VIII
Ortodontia
Capítulo 147 Tratamento de paciente padrão face curta com uso de 890
propulsor Power Scope
Alexandre Magno dos Santos, Izabelle Gino David Jorge,
Stephanie Lorraine de Lima Urbano, Aguinaldo Silva
Garcez Segundo, Hideo Suzuki
Capítulo 152 Tratamento de primeira fase do padrão III, com auxílio de 919
dois disjuntores tipo “borboleta”
Cláudia Silva Gonçalves, Maria Cristina Jimenez Pellegrin,
Hideo Suzuki
Capítulo 160 Tratamento precoce da classe III: relato de caso clínico 960
Emiliana Socorro Guerra Alves, Lila Parente Aguiar, Mário
Vedovello Filho
Parte IX
Patologia Bucal
Capítulo 163 Osteoma 975
Fernanda Trentin Brum, Suéllen Trentin Brum, Zarlutti
Tomás Litaiff, Rubens Gonçalves Teixeira, Cláudio Roberto
Pacheco Jodas, Andresa Borges Soares
Parte X
Periodontia
Capítulo 173 Recessão gengival múltipla: correção cirúrgica pela técnica 1028
de Zucchelli & De Sanctis
Roberta Pinto Zardi Ferreira, Silvia Naomi Tsukumo,
Marcelo Sperandio, Victor Angelo Martins Montalli
Parte XI
Protése
Capítulo 185 Uso de uma cerâmica fresada Lava All-Ceramic System 1101
(3M/ESPE) em dentes anteriores
César Alexandre Pereira de Figueiredo, Karina Andrea
Novaes Olivieri
Capítulo 187 Relato de caso: reabilitação oral com protocolo parcial da 1110
maxila
Danielle Porto Pinheiro, Karine Chagas Freire, Ricardo
Teixeira Abreu
Capítulo 188 Restabelecimento da dimensão vertical por meio de 1115
reabilitação estética posterior com onlays em dissilicato de
lítio
Cristiane Dias da Silva Mendes, Milton Edson Miranda
Capítulo 190 Solução protética para implante mal posicionado: relato de 1128
caso clínico
Helanne de Oliveira do Nascimento, Dorival Hebling,
Milton Edson Miranda
Capítulo 191 Reabilitação estética anterior com prótese fixa apoiada sobre 1133
implantes na técnica da carga imediata
Fernando Moro, Hélcio Mota, Milton Edson Miranda
Capítulo 195 Prótese fixa e coroas em cerâmica pura com infraestrutura à 1153
base de zircônia
Marcus Menezes Alves de Azevedo, Roberta Tarkany
Basting
Capítulo 197 Resolução protética sobre Implantes em região estética com 1163
PPF em cerâmica com infraestrutura em zircônia
Sinésio Henrique Siqueira, Marcia Fernanda de Rezende
Siqueira, Ricardo Tatsuo Inoue, Pedro Paulo Feltrin, Raquel
Virgínia Zanetti
Capítulo 202 Prótese sobre implantes com o uso de pilar em zircônia 1189
Enio de Lima Bicudo, Cristiano Caetano Reis de Freitas,
Ricardo Tatsuo Inoue, Pedro Paulo Feltrin, Raquel Virgínia
Zanetti
Capítulo 209 Reabilitação de maxila atrófica com prótese tipo protocolo 1226
de Branemark
Marcus Bravo Alves, Priscila Cambria Kashima, Solange
Morita, Milton Edson Miranda
Capítulo 211 Solução estética em região anterior da maxila com extração 1236
dos incisivos e colocação de implantes com carga imediata
Fernanda Terribili D’Almeida, Jussara Gimenes de Faria,
Antônio Lucas Costa Scholz, Carlos Henrique Justus,
Milton Edson Miranda, Cristiano Soares
Capítulo 213 Relato de caso clínico: coroa metalocerâmica e faceta pura 1245
em dentes homólogos
Fabíola Bruno Lacerda Carneiro, Artêmio Luiz Zanetti
O
sorriso harmônico é um desejo resistência, pois alguns são reforçados com leucita e
e busca constate por parte dos dissilicato de lítio, o que possibilita a realização de
pacientes, elevando o nível de laminados cerâmicos com espessuras muito
expectativa e exigência dos mesmos. Esse fato leva pequenas (0,1 a 0,7 mm de espessura) sobre
a Odontologia atual a buscar o desenvolvimento de estrutura dental com mínimo ou nenhum desgaste
materiais que proporcione maior estabilidade, (Kina et al., 2007) (Baaratieri et al., 2008). Em
resistência, durabilidade e manutenção da cor relação à escolha do material para cimentação das
(Gomes et al., 2015). facetas cerâmicas, os sistemas adesivos atuais e
É sabido, todavia, que o conceito de cimentos resinosos fotoativados permitem adequada
estética é pessoal, sendo fundamental ao cirurgião- interação entre a cerâmica e a estrutura dental. Os
dentista intervir de forma a alcançar resultados cimentos resinosos apresentam uma variedade de
estéticos que não somente agradem aos diversos cores e níveis de opacidade, oferecendo opções para
graus de exigência do paciente, mas que sejam a otimização do resultado estético (Horn et al.,
funcionalmente viáveis (Saku et al., 2010). 2007; Sensi et al., 2007; Lacy et al., 2008; Kamada
A função dos materiais odontológicos é et al., 2009). Essas opções são importantes para a
tentar mimetizar ao máximo as estruturas naturais realização das facetas cerâmicas minimamente
presentes no elemento dental, não só em função invasivas, pois a cor do cimento utilizado exerce
mas também em estética. Entre as várias opções de efeito decisivo no resultado estético final,
tratamento com finalidades estéticas, as facetas principalmente quando a cerâmica de eleição
laminadas destacam-se pela possibilidade de apresentar alta translucidez (Sensi et al., 2007).
proporcionar um menor desgaste de estruturas Os dentes anteriores têm importância
dentárias comparadas às coroas totais (Cunha et al., fundamental na estética da face e, por isso, são
2014). Estas se caracterizam pelo recobrimento da extremamente valorizados pelos pacientes que
face vestibular do elemento dental por um material desejam clarear, aumentar, melhorar a anatomia ou
restaurador, unido ao elemento dentário e podendo posição dos mesmos, na busca de um sorriso mais
ser confeccionada pela técnica direta ou indireta natural e harmônico. As facetas laminadas
(Gresnigt et al., 2012). conseguiram combinar o requisito conservador de
A técnica direta é confeccionada com seus preparos com suas qualidades de resistência e
resina composta constituída de uma matriz resinosa biocompatibilidade.
e diferentes tipos de cargas. Em contrapartida, a A indicação da faceta de porcelana deve
técnica indireta é confeccionada por cerâmicas ser precedida de uma análise do caso e constatada a
compostas basicamente por vidro e cristais real necessidade deste tratamento, pois o bom senso
adicionados para aumentar a sua resistência é fundamental, já que a conservação das estruturas
(Drummond et al., 2008). Segundo Lin et al. dentais é um objetivo a ser alcançado (Mondelli et
(2012), as facetas laminadas em cerâmica têm al., 2003).
provado ser uma modalidade de tratamento bem As alterações no sorriso podem ter causas
sucedido para reabilitação estética na prática clínica variadas, como cárie, envelhecimento dental,
nos últimos anos (Walter et al., 2008). Esses novos escurecimento dental, bruxismo, erosão química e
sistemas cerâmicos apresentam estética e má oclusão. Trata-se de procedimento que promove
62
o reequilíbrio estético e funcional (Pini et al. 2012). DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
As facetas de porcelana podem ser indicadas para
reduzir ou fechar diastemas, modificar a cor, forma, Paciente EG, 35 anos, ASA I, sexo
textura de superfície, o comprimento e alinhamento masculino, compareceu a Clínica de Pós-Graduação
de um ou vários dentes, tanto na arcada superior da Faculdade São Leopoldo Mandic Campinas,
como na inferior; restaurar dentes fraturados; em queixando-se da desarmonia do seu sorriso, devido
casos especiais para restaurar dentes tratados aos dentes anteriores serem pequenos, desalinhados
endodonticamente (Radz, 2011). e com diastema (figura.1). Após anamnese, exame
Existem, ainda, algumas situações clínicas clínico, foi realizado o exame radiográfico
para indicações de facetas: hipoplasia de esmalte; panorâmico (figura 2).
manchas e ranhuras de esmalte; amelogênese Ao exame clínico foi verificada presença
imperfeita congênita, causada por hormônios ou de fratura na incisal do elemento 11 e restauração
tetraciclinas; alterações cromáticas causadas pela Classe IV de Black no elemento com descoloração
fluorose; substituição de restaurações de resina e perda de forma. Verificou-se, ainda, presença de
composta superficiais esteticamente insatisfatórias; diastema entre os elementos 11/21 e 21/22. A
agenesia do incisivo lateral, quando o canino oclusão do paciente estava equilibrada com a
transpor para essa posição; anomalias de forma e presença das guias incisivas e caninas.
volume (microdens); otimizar a forma dos dentes e O plano de tratamento traçado foi a
posição; dentes desalinhados; reparo de coroa remoção da restauração do elemento 21 e confecção
metalocerâmica; perda de estrutura dos dentes de dois laminados cerâmicos em dissilicato de lítio
devido a doença ou trauma (Beier et al., 2012). nos incisivos centrais (IPS e.max Press, Ivoclar
O tratamento realizado com laminados de Vivadent AG, Schaan, Liechtenstein). Após a
cerâmica apresentam bons resultados em longo remoção da restauração do elemento 21, foi
prazo em pacientes que tenham forma de arco realizada moldagem com silicona de adição
oclusal bem desenvolvida, oclusão equilibrada e (Express XT 3M/ESPE St Paul, MN, EUA). A cor
alinhada, tratamento pós ortodontia, arquitetura escolhida para confecção dos laminados foi A1 pela
gengival simétrica, e o mínimo de restaurações escala Vita Classical.
anteriores existentes (Radz et al., 2011).
Também são indicadas, em dentes com
ampla restauração que envolvem a face vestibular;
dentes com amplas lesões cervicais ou de cárie; em
dentes anteriores que se desejam restabelecer guia
anterior e guia canina; em dentes que necessitam de
modificação de contorno para suporte de prótese
parcial removível (Conceição et al., 2007).
O objetivo deste caso clínico é descrever a
solução estética para dentes com diastemas e
pequenos por meio da utilização de facetas
laminadas cerâmicas.
63
Os elementos dentais foram tratados com
sistema adesivo convencional de três passos de
aplicação (Excite DSC, Ivoclar, Vivadent),
seguindo as instruções do fabricante. Em seguida, o
cimento convencional dual (Variolink II, Ivoclar,
Vivadent) foi manipulado e inserido nas facetas que
foram posicionadas nos elementos dentais. Os
excessos de cimento foram removidos com um
pincel descartável e seguiu-se com a fotoativação
por 60 segundos em cada restauração.
O resultado final foi extremamente
satisfatório, atingindo as expectativas do paciente
quanto à estética e função (figura 5).
Figura 1 – A) Sorriso inicial; B) Visão aproximada
evidenciando diastemas, fratura incisal do elemento 21 e
restauração Classe V do elemento 11.
REFERÊNCIAS
Manoella Luppino
André Henrique Ferfoglia Possebon
Fernando Luppino
Fabiana Mantovani Gomes França
Daiane Cristina Peruzzo
67
A
atratividade física é uma entre margem gengival e junção mucogengival,
questão social e cultural de considerando a perda óssea interdental. A tabela 1
importância para os seres descreve as classes de Miller.
humanos hoje em dia. O rosto e suas expressões Classificação de Miller
desempenham papel crucial na relação interpessoal, Recessão do tecido marginal não se
associados a uma variedade de características, Classe I estende até a junção mucogengival. Não
há perda de osso ou de tecido mole
incluindo a confiabilidade (SCHMIDT; interdentais.
LEVENSTEIN; AMBADAR, 2012). Durante Recessão do tecido marginal se estende
Classe II até ou além da junção mucogengival.
interações sociais, a atenção é dirigida
Não há perda de osso ou tecido mole
principalmente para a boca e os olhos do orador; interdentais.
dessa forma, o sorriso tem função importante na Recessão do tecido marginal se estende
até ou além da junção mucogengival. A
expressão facial e aparência (THOMPSON et al., perda de osso ou tecido mole
Classe III interdentais é apical em relação à junção
2004; VAN DER GELD et al., 2007). A estética do
cemento-esmalte, porém coronária à
sorriso é um dos principais motivos pelo qual o extensão apical da retração do tecido
paciente procura atendimento no consultório marginal.
Recessão marginal se estende além da
odontológico.
junção mucogengival. A perda do osso
Não apenas posição, forma e cor dos Classe IV interdental se estende até um nível apical
em relação à extensão da retração do
dentes determinam se um sorriso é estético, mas
tecido marginal.
também os tecidos gengivais. A recessão gengival é
Tabela 1 – Definição das classes de Miller.
a migração apical da gengiva marginal expondo a
superfície radicular ou alongando, de forma não
estética, a coroa dental (GULATI et al., 2016). Todas as classes de Miller podem ser
Causada principalmente por processo inflamatório tratadas com o recobrimento radicular cirúrgico,
das doenças periodontais, a recessão gengival pode entretanto, a classe IV pode ser apenas melhorada,
aparecer também devido a outros fatores, como não apresentando resultados previsíveis (TATAKIS
problemas relacionados à oclusão, estresse et al., 2015). O tratamento cirúrgico muitas vezes
emocional, trauma e respiração bucal (KINA et al., não é bem visto, lançando-se mão de uma
extrema importância, uma vez que a migração compósitos cor de dente ou coloridos com
apical do tecido gengival leva ao aumento no tonalidades gengivais para simular os tecidos moles
acúmulo de placa, hipersensibilidade dentinária e adjacentes é uma alternativa que pode ser aplicada
posterior tratamento do defeito (ALANI; que apresentam queixa de um sorriso não estético,
identificar o grau da recessão. A classificação da arquitetura dos tecidos das gengivas (CENSI et
preconizada por Miller (1985) baseia-se na medida al., 2014). O Digital Smile Design (DSD) é uma
ferramenta de diagnóstico muito importante para
68
reabilitações estéticas. A partir de fotografias, o
planejamento digital avalia forma, tamanho e
posição dos dentes, bem como o contorno gengival
(COACHMAN; CALAMITA, 2012). Esta
ferramenta permite a confecção de enceramento
diagnóstico seguindo os padrões estéticos. Assim é
possível realizar o mock-up, que dá ao paciente uma
visualização tridimensional do novo sorriso antes Figura 1 - Condição intra-bucal inicial.
formato) quanto os gengivais (margem, perfil THOMPSON, L. et al. The distribution of attention
across a talker’s face. Discourse Processes: A
gengival), para que se possa alcançar resultados Multidisciplinary Journal, v. 38, n. 1, p. 145–168,
estéticos de excelência, além da satisfação do 2004.
M
uitas vidas são perdidas suporte básico de vida (SBV) e ressuscitação
anualmente no Brasil por cardiopulmonar (RCP), pois vítimas de paradas
parada cardíaca, mesmo com cardiorrespiratórias necessitam de atendimento
a maior preocupação com a saúde e com os avanços imediato para aumentar as chances de
tecnológicos ocorridos nos últimos anos sobrevivência (BERG et al., 2010). Desta forma, o
relacionados à prevenção e ao tratamento de cirurgião-dentista, como profissional da área de
doenças (GONZALES et al., 2013). A parada saúde, também deve estar preparado para lidar com
cardíaca ainda é uma das principais causas de morte essas ocorrências, sendo essencial o conhecimento
no mundo e pode ser decorrente de arritmias adequado sobre as manobras de SBV e RCP, caso
cardíacas, e, dentre elas, a fibrilação ventricular é estas sejam necessárias em ambientes
uma das mais graves, pois esta condição dificulta o odontológicos (ARSATI et al., 2010;
bombeamento de sangue e pode causar uma parada VICTORELLI et al., 2013).
cardiorrespiratória (KANDRAY et al., 2007; Conferências internacionais tem sido
BOGLE et al., 2013). realizadas periodicamente para estabelecer um
Nestas situações, é fundamental que seja consenso mundial sobre este tema, e algumas
realizada a desfibrilação para permitir a restauração associações (como a AHA) tem preconizado
do ritmo normal do coração da vítima se manobras diretrizes, sendo a última atualização realizada no
de ressuscitação forem instituídas precocemente. final de 2015.
Adicionalmente, a desfibrilação precoce é um elo Portanto, o objetivo deste capítulo é
fundamental na cadeia de sobrevivência, e o abordar algumas alterações recomendadas pela
intervalo de tempo entre a compressão cardíaca e o Atualização das Diretrizes de 2015 da American
uso do desfibrilador é um passo crucial para Heart Association em relação ao Suporte Básico de
melhorar a probabilidade de sobrevivência da Vida (SBV) e Ressuscitação Cardiopulmonar
vítima (ELANCHEZHIYAN et al., 2013; (RCP) para adultos, com o intuito de informar o
GADIPELLY; NESHANGI, 2015). cirurgião-dentista sobre o tema.
A American Heart Association (AHA)
desenvolveu o conceito de cadeia de sobrevivência DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
que preconiza uma série ordenada e encadeada de
procedimentos durante o atendimento de uma Reconhecimento imediato e acionamento
parada cardiorrespiratória (PCR) que envolve: do serviço médico de emergência
reconhecimento imediato de uma PCR e Recomenda-se que o profissional da área
acionamento do serviço de atendimento a de saúde peça ajuda nas proximidades do evento ao
emergências médicas; ressuscitação encontrar uma vítima sem responsividade.
cardiopulmonar (RCP) precoce com ênfase nas Entretanto, seria prático que o profissional
compressões torácicas; rápida desfibrilação; suporte continuasse a avaliar a respiração e pulso
avançado de vida eficaz e cuidados pós PCR simultaneamente antes de acionar o serviço médico
integrados. de emergência (ou telefonar para apoio) (figura 1).
Além disso, a entidade também enfatiza a
necessidade do conhecimento sobre manobras de
73
Nesta última atualização, para vítimas
adultas de PCR, o correto é que sejam realizadas
compressões torácicas a uma frequência de 100 a
120/min. O limite superior de 120/min foi
adicionado, pois acima deste valor, a profundidade
das compressões pode diminuir de forma
dependente.
N a atual
valorização
sociedade,
da
trouxe para a Odontologia a
a
estética
negativamente na harmonia
(OMAIS; YASSUMOTO, 2001).
do sorriso
REFERÊNCIAS
L
complicações anatômicas, estéticas e funcionais
esões benignas de origem vascular (NAGLER et al., 2002). O diagnóstico preciso é
(LBOV) são relativamente comuns fundamental para definir a conduta a ser tomada e deve
na cavidade oral. As LBOV são ser baseado fundamentalmente no exame clínico,
anomalias de desenvolvimento dos vasos que acompanhado de análise anátomo-patológica. É
condicionam acúmulo de sangue e são de etiologia imprescindível o diagnóstico diferencial entre
desconhecida (BORACK, 2001). Dentre os tipos de malformações e hemangiomas, tendo em vista as
lesões relacionadas, as LBOV, além de hemangiomas condutas terapêuticas e, principalmente, no diferencial
e mal formações vasculares, estão a artéria de calibre com lesões malignas (melanomas), que podem levar ao
persistente, varizes, flebolitos, trombos e o granuloma óbito, em caso de diagnóstico e conduta inadequada
piogênico. A trombose venosa é a formação aguda de (KABAN, 1986; ZHAO, 2004).
trombos (coágulos) no sistema venoso superficial ou
profundo, provocando oclusão total ou parcial da veia. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Os trombos formam-se espontaneamente ou como
resultado de lesão parietal traumática ou inflamatória. Paciente LMZ, de 10 anos, gênero feminino,
Emprega-se a denominação de trombose venosa compareceu à Clínica Odontológica privada localizada
profunda (TVP) quando os trombos atingem o sistema em Criciúma - SC, alegando um aumento de volume no
venoso profundo e tromboflebite superficial, quando as lábio superior que constantemente ficava manipulando
veias superficiais são acometidas (PICCINATO, 2008). com os lábios. Percebeu o aparecimento por volta de
Há pouca literatura com relação a trombos e a 60 dias com intervalos de aumento e diminuição da
diferenciação clínica entre algumas LBOV pode ser lesão neste período. Ao exame clínico, foi constatada
bastante desafiadora. Algumas manobras são uma lesão circunscrita, com coloração semelhante à
fundamentais para o auxílio na exclusão, por exemplo, mucosa, flutuante à palpação, bem delimitada, com 0,8
a diascopia, uma manobra semiotécnica simples que X 0,5 cm de diâmetro em lábio superior direito de
consiste na observação da irrigação cutânea através de superfície lisa e mucosa íntegra. Lesão indolor e
uma lâmina de vidro que, comprimindo a lesão, ajuda mesmo durante manipulação não apresentava nenhuma
no diagnóstico diferencial de lesões de componente sintomatologia (figura 1).
vascular sanguíneo de outras lesões com coloração
assemelhada (BORACK, 2001). As condutas
terapêuticas nas lesões vasculares são controversas,
pois dependem do tipo de lesão, da localização, da
idade do paciente, proximidade com estruturas vitais e,
algumas vezes, o dano estético e/ou funcional que
possa causar. Várias modalidades de tratamento têm
sido utilizadas nas lesões vasculares, como cirúrgica,
embolização, radioterapia, corticosteróide intralesional
e sistêmico, LASER, interferon-alfa e esclerose física e
química. De maneira geral, o tratamento objetiva Figura 1 - Exame clínico.
Figura 2 - Incisão.
Figura 6 - Sutura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O
pela exposição excessiva (1,5 a - linha do sorriso baixa: exposição de menos
3mm) da margem gengival em um de 75% do tamanho das coroas.
sorriso total (ROBBINS, 1999;
NARAYANAN et al., 2015). Esta A medida do lábio superior (mensurada da
condição, muitas vezes, tem base nasal à borda inferior do lábio superior) normal
impacto negativo nas relações em mulheres é de 20 a 22mm, enquanto que nos
afetivas, assim como outros problemas estéticos bucais homens é de 22 a 24mm. Quando o lábio superior está
(PITHON, et al., 2015). A etiologia do sorriso gengival em repouso, existe uma exposição do bordo incisal dos
é variada, sendo que o diagnóstico é de fundamental incisivos superiores, que varia de 3 a 4mm nas
importância para o correto planejamento do caso. O mulheres e de 1 a 2mm nos homens, sendo que a altura
Desenho Digital do Sorriso, também conhecido como mais comumente normal da coroa do incisivo central
Digital Smile Design (DSD) é uma metodologia que superior é de 10 a 11mm (ROBBINS, 1999;
utiliza ferramentas digitais estáticas e dinâmicas para SILBERBERG; GOLDSTEIN; SMIDT, 2009).
verificação de fatores envolvidos na estética facial, do
sorriso e dental. Esta ferramenta pode ser utilizada Etiologia do sorriso gengival
como base para a realização de procedimentos Várias condições, isoladas ou concomitantes
diagnósticos, comunicação com o laboratório podem provocar o sorriso gengival. Entre elas:
odontológico, educação e apresentação do caso ao
paciente (COACHMAN et al., 2011). Excesso maxilar vertical
Quando o terço inferior for maior que o terço
Dinâmica labial e padrões estéticos médio da face. Neste achado, o sorriso gengival pode
Durante o sorriso, o lábio superior move-se estar associado a algum excesso maxilar (ROBBINS,
para a interface dente/gengiva dos incisivos centrais e 1999). O tratamento para este quadro vai depender da
caninos superiores. Com isso, as bordas incisais dos gravidade do excesso maxilar, variando do manejo
dentes anterossuperiores formam uma curvatura ortodôntico/ortognático associado ou não a
paralela à curvatura do lábio inferior, tocando procedimentos periodontais e restauradores (CHU;
levemente o lábio inferior (ROBBINS, 1999; KARABIN; MISTRY, 2004).
SILBERBERG; GOLDSTEIN; SMIDT, 2009).
Esta posição do lábio superior em relação aos Extrusão dentoalveolar
incisivos e gengiva maxilar é denominado de linha do Quando existe uma extrusão do complexo
sorriso (PECK; PECK; KATAJA, 1992; dente/periodonto, devido à falta de adequado
SILBERBERG; GOLDSTEIN; SMIDT, 2009). A linha posicionamento oclusal, normalmente em pacientes de
do sorriso pode ser classificada em: maloclusão classe II de Angle. O tratamento para este
- linha do sorriso alta: exposição de todas as caso é ortodôntico/cirúrgico (ROBBINS, 1999;
coroas dos dentes anteriores e uma SILBERBERG; GOLDSTEIN; SMIDT, 2009).
quantidade abundante de gengiva;
- linha do sorriso média: exposição de 75 a Erupção passiva alterada
100% do tamanho das coroas e gengiva Quando o tecido gengival demonstra-se
88
saudável e a redução do tamanho das coroas não é de higiene oral meticulosa para controle de biofilme
causada por desgastes (ROBBINS, 1999). A bacteriano. A gengivectomia é indicada para remoção
patogênese se dá por uma falha ou atraso no do tecido hiperplásico (SILBERBERG; GOLDSTEIN;
mecanismo de erupção passiva (ALPISTE-ILLUECA, SMIDT, 2009).
2011), com uma incidência média na população de
12% (SILBERBERG; GOLDSTEIN; SMIDT, 2009). Visagismo
A erupção passiva é uma condição fisiológica onde Desenvolvido pelo artista Philip Hallawell, o
existe a migração apical das margens gengivais até o visagismo envolve a criação de uma imagem pessoal
limite cemento-esmalte (JCE) após a erupção completa customizada que expressa a identidade temperamental.
do dente (SILBERBERG; GOLDSTEIN; SMIDT, Segundo Hipócrates, a personalidade é formada pela
2009). Alguns fatores têm sido apontados pela combinação de 4 tipos de temperamentos: colérico
literatura como responsáveis pela patogênese: (forte), sanguíneo (dinâmico), melancólico (sensitivo) e
interferência interoclusal na parte dos tecidos moles fleumático (pacífico). Um ou dois destes
durante a fase eruptiva; presença de gengiva espessa e temperamentos são, geralmente, mais dominantes em
fibrosa, que tende a migrar mais lentamente; e fatores relação aos demais (PAOLUCCI et al., 2012). O
hereditários (ALPISTE-ILLUECA, 2011). visagismo na odontologia nada mais é do que
O tratamento para os casos de erupção passiva transmitir a personalidade e emoções através de linhas,
é a cirurgia plástica periodontal (ROBBINS, 1999; ângulos e formas identificadas no arranjo dental. A
SILBERBERG; GOLDSTEIN; SMIDT, 2009). tabela 1 descreve as características que relacionam os
fatores envolvidos no visagismo.
Lábio superior curto/hiperativo O objetivo deste trabalho é o relato de caso
Acontece quando a medida do lábio superior clínico com a aplicação do DSD para diagnóstico e
for menor que as medidas normais, tanto em homens planejamento do tratamento estético relacionado ao
quanto em mulheres. O lábio hiperativo constitui uma sorriso gengival.
condição na qual o lábio possui dimensão normal,
porém, com uma atividade aumentada dos músculos Tabela 1 - Descrição dos fatores avaliados pelo visagismo
técnica de reanatomização com resina composta. Isso fotográfico, fotografia frontal (figura 2), de sorriso
se tornou possível porque a evolução das resinas (figura 3), intra-oral (figura 4) e intra-oral com fundo
restauradoras diretas, com suas diversas cores e preto (figura 5), e planejamento do caso.
REFERÊNCIAS
(GOLDESTEIN et al., 1994; RADZ, 2011; KORKUT nos dentes 11, 12, 13, 21, 22 e 23, de acordo com a
ressaltando-se sua correta indicação e seleção de executada uma canaleta vertical, levando-se em
- Foi feito o protocolo adesivo na superfície dos dentes Figura 8 - Prova das facetas
com condicionamento com ácido fosfórico a 37% por
15 segundos, lavagem com água em abundância,
secagem e aplicação de adesivo Adper Single Bond
(3M-ESPE), seguidos de leve jato de ar e
polimerização por 40 segundos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
tratamento estético da alteração severa de Press (Ivoclar Vivadent, Schaan, Liechtenstein) em um
cor em um único elemento dental representa incisivo central superior direito.
um grande desafio clínico para o cirurgião-
dentista. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
A primeira escolha para intervenção é o
clareamento dental, devido ao seu potencial de A paciente LC, sexo feminino, 36 anos, sem
homogeneização de cor do elemento dentário alterações de saúde, apresentou-se insatisfeita com a
(NAGAVENI et al., 2011). No entanto, casos extremos alteração de cor do seu incisivo central superior direito
de alteração de cor muitas vezes se mostram resistentes (figura 1). A paciente informou, também, que o mesmo
ao clareamento dentário (VIEIRA-DANTAS et al., elemento dentário já havia sido submetido, no passado,
2014). a procedimentos de clareamento interno e externo.
Facetas diretas em resina composta ou Radiograficamente, pôde-se notar adequado tratamento
laminados cerâmicos também poderiam ser indicados endodôntico e ausência de retentor intrarradicular.
considerando a quantidade de estrutura dental Considerando a severa alteração de cor e a
remanescente, porém, devido à pequena espessura quantidade de estrutura dental remanescente, foi
disponível, não são capazes de mascarar alterações proposto para a paciente a colocação de pino de fibra
severas de cor (COSTA, 2007). de vidro para auxiliar na retenção da restauração
A escolha entre o tratamento restaurador associada a núcleo de preenchimento em resina
direto ou indireto, seja este último utilizando laminados composta fotopolimerizável e confecção de restauração
ou coroas cerâmicas, dificilmente é um consenso em indireta do tipo coroa total em cerâmica de dissilicato
casos que envolvam dentes com alteração de cor e de lítio (IPS e.max Press, Ivoclar Vivadent).
tratados endodonticamente (SCHLICHTING et al., Como a coroa do dente apresentava forma e
2015). contorno adequados, decidiu-se confeccionar a
Quando escolhido o tratamento restaurador restauração provisória em resina bisacrílica (Protemp 4,
indireto, mascarar alteração de cor, sem alterar o grau 3M ESPE, Seefeld, Germany).
de opacidade da restauração final, requer conhecimento Em primeiro lugar, foi confeccionado um
técnico, destreza manual, utilização de materiais index em silicone de adição (Xpress XT 3M ESPE,
adequados e, principalmente, boa comunicação com o Seefeld, Germany), consistência putty, para posterior
laboratório de prótese (CARDOSO et al., 2011). confecção da restauração provisória (figura 2).
Com o desenvolvimento e evolução das Em seguida, foi realizada a remoção da
cerâmicas de dissilicato de lítio (IPS e.max Press, restauração de resina composta existente, preparo do
Ivoclar Vivadent, Barueri, SP, Brasil), tornou-se mais remanescente do incisivo central e preparo do conduto
simples a solução destes desafios clínicos. Estes novos radicular sob isolamento absoluto. Foi selecionado e
materiais representam uma evolução em translucidez e cimentado um pino de fibra de vidro #2 (WhitePost
estética, principalmente quando comparados às FGM, Joinville, SC, Brasil) (figura 3).
cerâmicas à base de zircônia e restaurações Em seguida, foi confeccionado um núcleo de
metalocerâmicas (SRAVANTHI et al., 2015). preenchimento em resina composta (Filtek™ Z350 XT
No presente trabalho, foi proposta a confecção cor A2 3M/ESPE St Paul, MN, USA) e realizado o
de uma coroa total livre de metal, do sistema IPS e.max preparo para coroa total, obedecendo os princípios de
105
retenção e estabilidade. Após remoção do isolamento A restauração recebida do laboratório foi
absoluto, foi introduzido no sulco gengival um fio avaliada no troquel e sobre contorno generalizado foi
retrator #00 (Ultrapack, Ultradent, Indaiatuba, SP, encontrado. O ajuste foi executado na mão e,
®
Brasil) embebido em solução hemostática (ViscoStat , posteriormente, verificado no preparo (figura 8). A
Ultradent, Indaiatuba, SP, Brasil) e procedeu-se com o restauração foi enviada novamente ao laboratório para
refinamento do preparo (figura 4). acabamento e polimento. A restauração finalizada foi
O preparo, uma vez polido, foi isolado entregue pelo laboratório, como mostra a figura 9.
relativamente com roletes de algodão (ROEKO, Após nova prova da restauração em boca, uma
Langenau, Alemanha) e, com auxílio do index de pequena diferença de cor foi notada, provavelmente
silicone de adição, iniciou-se a confecção da pelo desgaste executado para eliminação do sobre
restauração provisória em resina bisacrílica (Protemp 4, contorno inicial. A paciente mostrou-se satisfeita e
3M ESPE) na cor A2 (figura 5). relutante em enviar novamente a coroa para o
Após remoção e acabamento da restauração laboratório.
provisória, foi inserido no sulco gengival um fio Apesar da pequena alteração de cor, a paciente
retrator #2 (Ultrapack, Ultradent) seco para obtenção preferiu finalizar o caso desta forma, mesmo avisada da
de afastamento gengival químico-mecânico adequado, possibilidade de melhora no mimetismo e estética da
de acordo com a técnica de afastamento com duplo fio. restauração final, caso novo contato fosse feito com o
A moldagem foi executada com silicone de adição laboratório de prótese.
(Xpress XT, 3M ESPE), em passo único, empregando- O preparo foi, então, isolado relativamente e
se a massa putty e a base leve de consistência regular foi introduzido no sulco gengival um fio retrator #00
(figura 6). A moldagem do antagonista foi feita com (Ultrapack, Ultradent) para evitar o escoamento
alginato (Jeltrate Dentsply, Petrópolis, RJ, Brasil). excessivo do cimento para o interior do sulco. A
Com o objetivo de estabilizar os modelos de porção de esmalte remanescente do preparo foi
trabalho, um registro de mordida foi confeccionado em condicionada com ácido fosfórico 35% (Condac 37,
silicone específico para este fim (Oclufast, Zermack, FGM, Joinville, SC, Brasil) durante 15 segundos. O
Badia Polesina, RO, Itália). interior da coroa foi condicionado com ácido
Antes da restauração provisória ser cimentada, fluorídrico 10% (Dentsply, Petrópolis, RJ, Brasil)
foi verificada a cor do elemento 21 (dente análogo) durante 20 segundos. Ambas as superfícies
(figura 8) e do preparo realizado. As cores B1 e A2 condicionadas foram abundantemente lavadas com
foram selecionadas, respectivamente. água. O interior da peça também foi condicionado com
A restauração provisória foi cimentada com Silano (Angelus, Londrina, PR, Brasil) durante 1
cimento de óxido de zinco sem eugenol (RelyX Temp minuto, aplicando-se leve jato de ar para secagem do
NE, 3M/ESPE, Sumaré, SP, Brasil), para evitar mesmo, após o tempo de aplicação.
interferência na polimerização do cimento resinoso Uma vez preparadas as superfícies a serem
escolhido para cimentação da peça final. aderidas, uma porção de cimento resinoso dual
A articulação dos modelos obtidos foi autoadesivo (RelyX U200 cor TR, 3M ESPE, Seefeld,
conferida e os mesmos enviados ao laboratório com a Germany) foi manipulada e levada ao interior da coroa.
requisição para confecção de restauração cerâmica (IPS A mesma foi levada em posição, com suave pressão
e.max Press) do tipo coroa total na cor B1, substrato incisal, por 1 minuto. Os excessos foram removidos e
A2, com superfície lisa e brilhosa. as margens vestibular e lingual foram polimerizadas
106
por 40 segundos cada.
O resultado final imediato pode ser observado
na figura 10.
Figura 6 - Moldagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
estética dos dentes anteriores na harmonia Paciente do gênero feminino, com idade de 62
do sorriso tornou-se tão importante quanto a anos, apresentou-se à clínica de pós-graduação do
função mastigatória. Analisar a estética do curso de Mestrado em Dentística da Faculdade São
sorriso tornou-se fundamental ao se deparar com Leopoldo Mandic após finalizado o tratamento com
situações em que o paciente apresenta desarmonia do implantes dentais na região posterior. A queixa
sorriso. Assim, no planejamento do tratamento estético principal da paciente era a de ausência de estética na
reabilitador, torna-se importante utilizar vários região anterior. Pode-se verificar que os elementos
métodos de diagnóstico, por meio do uso de dentais 11, 12, 13, 21, 22 e 23 apresentavam
radiografias, fotografias, modelos de estudos e restaurações em resina composta escurecidas e com
enceramento de diagnóstico, garantindo o melhor ausência de forma e lisura adequadas. Também foram
conhecimento sobre os problemas existentes no observados “black spaces” entre os dentes 11 e 12, e
paciente e formas de proporcionar uma melhor entre 11 e 21, além de diastema entre os dentes 21 e 22
intervenção restauradora. Para a previsibilidade do (figura 1).
tratamento, a realização de mock up proporciona ao
paciente a mais próxima visualização do que será
executado durante o tratamento (CUNHA et al., 2014;
GUZMAN-ARMSTRONG, ROCHA, 2016).
Dentre as opções de tratamentos
restauradores, as facetas cerâmicas apresentam uma
boa opção para a reabilitação de dentes anteriores,
proporcionando maior preservação de estrutura dental
com mínimo desgaste (LI et al., 2014; GE et al., 2014).
Figura 1 – Fotografia intrabucal dos dentes anteriores
Ao se utilizar a cerâmica como material restaurador,
superiores no início do tratamento.
pode-se obter estética satisfatória devido às
características de similaridade de lisura e brilho ao
Após a realização de completa anamnese,
esmalte dental, maior longevidade quanto à
exames clínico e radiográfico, realizou-se moldagem
manutenção da cor da restauração (GUREL et al.,
com alginato para obtenção de modelo de gesso para a
2013), além de apresentar boa adesão aos tecidos
execução de enceramento de diagnóstico dos dentes 11,
dentários com o uso de cimentos resinosos (BONA,
12, 13, 21, 22 e 23. Neste enceramento, solicitou-se o
2009).
fechamento dos diastemas (figura 2) e alongamento do
Este caso clínico de facetas indiretas
comprimento cérvico-incisal (figura 3). A seguir, a
cerâmicas mostra a sequência de procedimentos
paciente foi agendada para consulta para a realização
clínicos e laboratoriais com o objetivo de apresentar o
do mock up com resina bis-acrílica Protemp 4 (3M
planejamento de tratamento restaurador com
ESPE) para se estudar a previsibilidade do tratamento
previsibilidade de resultado, até a cimentação das
restaurador (figura 4).
restaurações.
Figura 2 – Enceramento de diagnóstico dos dentes 11, 12, 13, Figura 5 – Dentes anteriores após 3 semanas de clareamento
21, 22 e 23. dental com uso de moldeiras com peróxido de carbamida a
10%.
C odontológicos, o cirurgião-dentista
possui como opções restauradoras
para os dentes anteriores algumas
modalidades de tratamento, podendo indicar
estética do sorriso da paciente.
REFERÊNCIAS
D
articulação
(DTM) é um termo que se refere a
um conjunto
disfunções
temporomandibular
que
de
(ATM)
desordens
afetam
e/ou
e
a
os
varia de 33% a 76%, sendo bem maior que a
encontrada na população em geral, que é em torno de
15% a 20% (LAM et al., 2001).
A etiologia da disfunção é complexa, sendo de atividades diárias e profissionais, bem como a vida
causas para o surgimento de sinais e sintomas de DTM A classificação de zumbido mais utilizada na
estão relacionadas com traumas diretos e indiretos à literatura divide o zumbido em dois tipos: o subjetivo,
ATM, alterações esqueléticas, alterações posturais, que é aquele percebido apenas pelo paciente e o
alterações oclusais, alterações sistêmicas ou locais, objetivo, o qual é identificado também pelo
hábitos parafuncionais e questões psicossociais examinador; sendo este último mais raro,
(OKESON, 1998). representando em torno de 1% dos casos (ABEL,
estudos têm demonstrado uma relação entre sintomas Várias condições clínicas podem causar ou
otológicos e DTM (BERNHARDT et al., 2004; interferir na apresentação do zumbido subjetivo, como
FELÍCIO et al., 2008; COX, 2008; BERNHARDT et as doenças otológicas, anormalidades vasculares,
al., 2011; HILGEMBERG et al., 2012, SALDANHA et doenças metabólicas, doenças neurológicas,
al., 2012). Sintomas como otalgia, zumbido, sensação farmacológicas ou sintomas induzidos por medicação,
de diminuição de acuidade auditiva, plenitude fatores dentários ou emocionais
auricular, hiperacusia, tonturas e vertigens fazem parte (OTORRINOLARINGOLOGIA, 2003). Portanto,
de uma variedade de sintomas que têm exigido dos qualquer situação clínica que seja capaz de alterar a
especialistas envolvidos, dentre eles, médicos fisiologia da via auditiva pode relacionar-se ao
otorrinolaringologistas, dentistas e fonoaudiólogos, zumbido.
empenho e conhecimento no sentido de realizarem o
Apesar de pacientes com DTM reportarem
diagnóstico diferencial e o tratamento adequado
frequentemente o zumbido na orelha interna como um
(FELÍCIO, 1999; KUTTILA et al., 1999).
sintoma associado, a relação entre estas duas
O zumbido é o sintoma que mais tem manifestações ainda não foi completamente esclarecida
despertado a atenção de pesquisadores, uma vez que a
120
(BERNHARDT et al., 2011; HILGENBERG et al., músculos da mastigação e estruturas associadas: o
2012). modelo Neuromuscular e o Somatossensorial.
Diversas teorias foram propostas com o As primeiras teorias que surgiram, levam em
objetivo de explicar essa associação, podendo estas consideração o modelo neuromuscular. Assim, o
serem divididas em dois grupos: o Neuromuscular, primeiro trabalho publicado reporta que a ocorrência de
advindo de um modelo embriológico, que descreve sintomas otológicos em pacientes que apresentavam
uma associação das estruturas relacionadas à ATM disfunção temporomandibular propõe que a perda de
com o aparato auditivo através da relação dos dentes posteriores e diminuição da Dimensão vertical
mecanismos musculares, da comunicação óssea através de Oclusão (DVO) poderia provocar o deslocamento
de ligamentos e da inervação comum; e o do côndilo mandibular em direção à parte posterior do
Somatossensorial, que sugere que alterações no tímpano, resultando em compressão da tuba de
Sistema Nervoso Central, na presença de dor crônica Eustáquio, pressão do nervo auriculotemporal e/ou
e/ou depressão, causam hipersenssibilidade sensorial, pressão no nervo da corda do tímpano, com secundária
alterando a percepção de certos estímulos nas vias diminuição da audição, em conjunto com outros
auditivas (MOLLER, 2000; RAMIREZ; sintomas otológicos (COSTEN, 1934).
BALLESTEROS; SANDOVAL, 2008).
Outra teoria foi levantada por Pinto (1962),
que acreditou ter encontrado um minúsculo ligamento,
chamado de ligamento disco-maleolar, conectando o
aparato da ATM e o músculo martelo, sendo
responsável pelos sintomas otológicos em pacientes
com DTM.
Teorias propostas
Apesar de todas estas teorias, ainda não está A influência dos aspectos psicológicos nestas
clara a associação entre estas duas condições, desordens também têm sido analisadas. O zumbido tem
parecendo mais haver uma situação de comorbidade, sido associado à DTM, dor muscular, cefaleia e
do que de causa-efeito propriamente dita estresse, podendo ser exacerbado pela tensão nervosa e
(HILGEMBERG et al., 2012). fadiga (WRIGHT; BIFANO, 1997). Zumbido e
sintomas crônicos de DTM estão comumente presentes
em pacientes com um perfil psicológico semelhante,
com presença de depressão e incapacidade
122
significantes. Pacientes com zumbido podem dos maxilares, face ou pescoço, além de ter dores na
apresentar uma modulação dos sintomas de acordo com ATM ou na palpação; todos os 15 foram
suas emoções, flutuações de humor e atenção que diagnosticados com DTM (MORGAN, 1992).
recebem (HILGENBERG, 2012). Vários estudos
Assim, em um número significante de
demonstraram índices de depressão significantemente
pacientes que procuram o médico para tratamento de
mais altos em pacientes com zumbido, reforçando o
sintomas otológicos, em que não é encontrada
fato de que a depressão deve alterar a severidade,
nenhuma disfunção na orelha interna, problemas na
percepção e intensidade dos sintomas de ambos, DTM
ATM e músculos mastigatórios, devem ser
e zumbido (CAMPARIS et al., 2005; SALVETTI et
considerados.
al., 2006; ZOGER et al., 2006; AUVENSHINE, 2007;
Estudos têm demonstrado que tratamentos
HILGENBERG et al., 2012; SALDANHA et al.,
odontológicos como placas oclusais e aparelhos
2012). Além disso, analisando as semelhanças entre
ortopédicos são eficientes na redução de sintomas
zumbido e dor crônica, observa-se que ambas são
otológicos em pacientes com DTM (RUBINSTEIN,
sensações subjetivas, apresentam causas diversas,
CARLSSON, 1987; COOPER et al., 1991; TUZ, 2001;
podem ser influenciadas pelo sistema nervoso central e
WRIGTH, 2007). Em indivíduos com DTM, ao invés
sofrer modulações de intensidade ou em suas
de um funcionamento harmônico entre a face, boca e
características ao longo do tempo (SALDANHA,
faringe, existe uma modificação gradual dos
2009).
movimentos das articulações durante a mastigação,
deglutição e fala, devido ao processo de degeneração
Tratamentos propostos articular (PASCOAL et al., 2001). Esta desarmonia do
sistema estomatognático, manifestada como dor
Conforme anteriormente comentado, durante a
orofacial e dificuldades funcionais, parece estar
anamnese no consultório odontológico, não é comum
associada com sintomas otológicos em casos de DTM
haver um relato espontâneo de sintomas otológicos,
(FELÍCIO et al., 2008). Terapias que buscam a
pelo fato de que os pacientes não relacionam estes
recuperação da funcionalidade do sistema
sintomas com DTM. Sendo assim, as reclamações mais
estomatognático, são de grande valia nestes casos. A
comuns de pacientes com DTM são dor nos músculos
Terapia Miofuncional Orofacial é uma modalidade de
da mastigação e na ATM, as quais são relacionadas
exercícios terapêuticos que visa promover a
com dificuldades na abertura da boca, mastigação e
propriocepção, tonicidade e mobilidade da musculatura
fala (FELICIO, 2002). Por outro lado, médicos também
facial e cervical, restabelecendo funções da respiração,
têm dificuldade em diagnosticar DTM e seu papel nos
mastigação, deglutição e fala (FUNT et al., 1985;
sintomas otológicos (SHULMAN, 1991). Um estudo
FELICIO et al., 1991; KEERSMAEKERS et al., 1996).
exemplifica bem este problema. Nele, 20 pacientes
Pesquisando os efeitos da Terapia Miofuncional
com zumbido, em que não foi encontrado um motivo
Orofacial nos sintomas orofaciais e otológicos, Felício
de ordem otológica para a sua queixa, também negaram
et al. (2008) obteve como resultado positivo a redução
apresentar dor ou disfunção relacionados com DTM,
destes sintomas.
sendo que somente dois percebiam, ocasionalmente,
sons na ATM. No entanto, quando examinados Estudos longitudinais mostraram que de 46%
especificamente para DTM, foi revelado que 15 dos 20 a 96% dos pacientes que apresentavam DTM e
pacientes apresentavam pontos gatilhos na musculatura zumbido, o zumbido melhorou ou desapareceu após
123
terapia para DTM (RUBINSTEIN, CARLSSON, 1987; com DTM e zumbido provavelmente é um indivíduo
WRIGHT, BIFANO, 1997). Tanto estudos sobre DTM que apresenta um processo de sensibilização
como sobre zumbido têm sugerido os mesmos tipos de generalizada, com alterações no Sistema Nervoso
tratamentos não específicos, tais como biofeedback, Central, geralmente apresentando sintomas de dor
relaxamento, terapia cognitiva, uso de generalizada e depressão associada (SALDANHA,
benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos e 2009). Sendo assim, um tratamento multiprofissional
acupuntura; os quais se mostram benéficos para ambas deve ser considerado para estes casos, a fim de permitir
as desordens (WRIGHT; SCHIFFMAN, 1995; um correto diagnóstico e uma terapia adequada,
OKESON, 1996; OKESON, 2003). envolvendo, entre outras, terapia comportamental
cognitiva, farmacoterapia, fisioterapia e tratamento
Um fato interessante é que pacientes mais
odontológico (HILGENBERG et al., 2012).
jovens parecem obter melhores respostas na melhora
do zumbido, otalgia e tontura, por meio da terapia para
DTM. A DTM é mais prevalente entre indivíduos entre REFERÊNCIAS
20 e 40 anos de idade, enquanto que o zumbido, otalgia
de origem não otológica e tontura são mais prevalentes
ABEL, M.D.; LEVINE, R.A. Muscle contractions and
em indivíduos mais velhos (SLOANE et al., 1994; auditory perception in tinnitus patients and nonclinical
subjects. Cranio, v. 22, n.3, p. 181-191, 2004.
EATON; ROLAND, 2003; PROUDLOCK et al.,
AHMAD, N.; SEIDMAN, M. Tinnitus in the older
2004). Sugere-se que a etiologia dos sintomas
adult: epidemiology, pathophysiology and treatment
otológicos tendem a estar relacionados à DTM em options. Drugs & Aging, v. 21, n. 5, p. 279-305, 2004.
indivíduos mais jovens, enquanto para os mais velhos, AUVENSHINE, R.C. Temporomandibular disorders:
associated features. Dental Clinics of North America,
parecem estar associados a outras fontes (WRIGHT,
v. 51, p. 105-127, 2007.
2007).
BERNHARDT, O. et al. Signs of temporomandibular
disorders in tinnitus patients and in a population-based
Baseado na literatura pode-se afirmar que não
group of volunteers: results of the Study of Health in
há um tratamento único para estas desordens, seu Pomerania. Journal of Oral Rehabilitation, v. 31, p.
controle adequado depende de uma abordagem 311-319, 2004.
A
articulação temporomandibular Algumas doenças reumáticas, como artrite
é a articulação da mandíbula reumatoide, fibromialgia, entre outras apresentam
com o crânio, especificamente repercussões na ATM e merecem atenção do
a cabeça da mandíbula com o osso temporal. Ela é especialista para realizar uma importante interação
formada por um conjunto heterogêneo de órgãos e com especialidades médicas como Reumatologia e
tecidos, os quais devem atuar integrados e Neurologia. Da mesma forma, a interação com um
harmonicamente, de tal maneira que seus Otorrinolaringologista pode ocorrer, pois muitas
envolvimentos fisiológicos e patológicos são vezes, o paciente pode relatar zumbido e/ou dor no
absolutamente interdependentes, participando da ouvido, sendo que, na realidade, sua causa pode
mastigação, deglutição, respiração, fonação e estar relacionada a problemas de DTM.
postura (BEHSNILIAN, 1974).
O zumbido no ouvido é uma sensação de
A disfunção temporomandibular (DTM) é som percebido pelo indivíduo na ausência de uma
um termo coletivo que abrange um largo espectro fonte de ruído externa. Pode ser referido como um
de problemas clínicos da articulação chiado, apito, cachoeira, barulho escutado dentro de
temporomandibular e dos músculos na região uma concha, de cigarra, escape da panela de
orofacial (CARLSSON AGNUSSON, pressão, campainha, voo de um inseto, pulsação do
GUIMARÃES, 2012). Dentre os principais sinais e coração, batimento de asa de borboleta e muitos
sintomas, temos: dores na musculatura da face, outros. Pode ser contínuo ou intermitente, mono ou
cabeça e articulação, sons articulares, como estalos poli tonal.
e crepitação, sintomas otológicos como dores de
Atualmente, múltiplos fatores são
ouvido e zumbido e dificuldades em abrir e fechar a
discutidos como desencadeadores do zumbido,
boca.
deixando claro que nem a perda dos dentes
A etiologia da DTM apresenta caráter posteriores ou o deslocamento posterior da cabeça
multifatorial, estando associada geralmente à da mandíbula, causando compressão de estruturas
hiperatividade muscular, trauma e/ou estresse como nervo corda do tímpano ou aurículo temporal,
emocional, além de outros fatores predisponentes artéria maxilar e tuba auditiva, seriam as únicas
ou perpetuantes dessa condição. Em virtude da condições desfavoráveis para causar os sintomas
complexidade etiológica e da variedade de sinais e otológicos, como se pensava anteriormente
sintomas que podem também representar outras (LASKIN, 1969; McNeill, 1997). Omitia-se a ideia
patologias, o reconhecimento e diferenciação das de que compressões que determinem sintomas, de
disfunções temporomandibulares podem modo geral, são contínuas, no entanto a articulação
apresentar-se não tão claras para o profissional. temporomandibular está em constante movimento
Entretanto, por ser cada vez mais comum nos (em média 1800 vezes ao dia), sendo alterada com a
atendimentos clínicos diários, a exigência ao presença da desordem temporomandibular
profissional pelo conhecimento dessa desordem, (DOUGLAS, 1998).
bem como suas implicações e tratamentos, precisa
Contudo, nessa diversidade de causas e
ser bastante estudada.
fatores, existe um elo que une todas as categorias: a
dor muscular, que se apresenta como resultado da
128
atividade contínua dos músculos da face. A dor será Além disso, em cerca de metade destes pacientes, é
capaz de determinar mecanismos de proteção que possível modular a sonoridade ou o tom do
interferem nos padrões fisiológicos de estruturas zumbido sob palpação dos PGs (BEZERRA;
próximas, como é o caso do ouvido e articulação SANCHEZ; TESSEROLI, 2008).
temporomandibular. Movimentos fisiológicos da
Geralmente, o controle das DTMs é
mandíbula, que promovem a deglutição, mastigação
simples e conservador, feito por meio de terapias
e sucção são modificados pelo sistema nervoso
caseiras, exercícios, compressas e relaxamento
central, no intuito de limitar o dano progressivo nos
muscular, podendo, em alguns casos, ser indicado o
tecidos articulares (SESSLE et al., 1986).
uso de placa oclusal noturna.
Existem muitos estudos que apontam uma
Nos casos de zumbido relacionados à
conexão direta entre zumbido e DTM (SANCHEZ,
Síndrome da Dor Miofascial, o tratamento é
2005; CHOLE; PARKER, 1992; NEWMAN et al.,
iniciado com orientações ao paciente de medidas a
2011; HILGENBERG, 2012). A prevalência de
serem realizadas em casa (alongamentos e
zumbido em pacientes com Disfunção da ATM é
termoterapias). É realizada a instalação de uma
alta, varia de 36% a 60%. Existe, também, uma
placa para realizar desprogramação muscular e
associação entre desordens na musculatura cervical
assim, com a musculatura já em uma condição
e a função dos músculos mastigatórios com o
melhor, se necessário, pode ser realizado o
zumbido, em que alterações no volume e na
agulhamento seco para desativação dos pontos
frequência do barulho ocorrem durante a
gatilho.
movimentação ou estimulação de certos músculos,
Em 2006, Tullberg & Ernberg trataram
principalmente o esternocleiodomastoideo e o
pacientes com DTM e zumbido usando placas
pterigoideo lateral (NEWMAN et al., 2011;
oclusais, exercícios musculares e relaxamento. Eles
BIESINGER et al., 2015). Alguns trabalhos
relataram que 43% dos pacientes melhoraram do
sugerem também uma associação do zumbido com
zumbido após estas intervenções.
pontos gatilho miofaciais (TRAVELL, 1960;
ROCHA; SANCHEZ, 2012). Em 2006, Attanasio et al. fizeram
tratamento com placa estabilizadora em
Pontos gatilhos (PGs) são pequenas áreas
55 pacientes que apresentavam DTM e eram
hipersensíveis, em regiões mais endurecidas e
afetados por zumbido sem perda de audição. A
palpáveis em uma banda tensa muscular. O PG
comparação entre os sintomas pré e pós-tratamento
ativo gera dor espontânea no tecido imediatamente
mostrou diminuição estatisticamente significante da
adjacente e/ou em locais distantes. A palpação neste
dor na escala Visual Analógica e dos valores de
aumenta a dor e reproduz uma experiência de dor
incapacitação por zumbido. Os autores acreditam
familiar para o paciente. Na presença de um ou
que, quando as causas mais comuns de zumbido,
mais PGs se caracteriza a Síndrome da Dor
como desordens otológicas e distúrbios
Miofascial (GUIMARÃES, 2012).
neurológicos são excluídos, é correto avaliar a
Pacientes com zumbido têm cinco vezes
ATM e a musculatura mastigatória e, se necessário,
maior propensão de terem PGs, e três vezes maior
tratar essa patologia para obter melhora do
probabilidade de se queixarem de dor miofascial
zumbido.
quando comparados a indivíduos sem sintomas.
129
O objetivo da apresentação desse caso apertamento noturno, associado a estresse e
clínico é o de demonstrar a relação existente entre o ansiedade descritos pela paciente.
zumbido e a Disfunção da ATM, enfatizando a
No exame clinico, não se notou estalidos
importância de um diagnóstico diferencial frente a
na abertura ou fechamento da boca. Ocorreu dor
essa situação.
muscular na palpação do músculo masseter direito,
sendo esta dor familiar ao paciente, como a dor
descrita em sua queixa principal. Houve dor na
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
palpação também dos músculos
esternocleidomastoideo bilateral, suboccpitais e
Paciente L.F.A.M, 32 anos, gênero trapézio bilateral. Não ocorreu dor articular à
feminino, compareceu à Clínica de Desordens palpação.
Temporomandibulares e Dor Orofacial da
Como a disfunção temporomandibular está
Faculdade São Leopoldo Mandic com queixa
associada como sendo uma das etiologias do
principal de dor na região parotídea massetérica do
zumbido, foram realizados testes para verificação
lado direito e zumbido bilateral, sendo o lado
de alterações nessa sintomatologia, tendo seus
direito mais intenso, ambos ocorrentes há,
resultados e orientações de tratamento descritos
aproximadamente, 1 ano. Já havia procurado,
abaixo:
anteriormente, médico Otorrinolaringologista, o
• teste do esternocleidomastoideo (levando a
qual não identificou nenhum problema auditivo.
cabeça para baixo com resistência) e do
Na investigação da história pregressa da
pterigoideo lateral (protrusão com
moléstia, foram coletados os seguintes dados: dor
resistência) para avaliar se ocorre piora do
na região parotídea massetérica do lado direito, há
zumbido.
um ano, dor tipo cansada, com intensidade 6 na
• zumbido piorou com esses movimentos.
escala visual analógica de dor de 0 a 10, sendo 0
representativo de ausência de dor e 10 como a pior • tratamento: Exercício ativo resistente para
dor já sentida. A frequência da dor era de quatro o esternocleidomastoideo (paciente faz a
vezes ao mês, geralmente, de início, ao acordar e extensão do pescoço, levando a cabeça
com duração de dois dias. Não houve relato de fator para trás, mas faz resistência com a mão
de melhora ou de fator acompanhante, como enjoos atrás da cabeça para o esternocleido
ou tonturas, por exemplo. Como fator de piora, relaxar e os occpitais contraírem). Contra
relatou a mastigação. Já em relação ao zumbido, resistência na protrusão (contrai o
ocorre bilateralmente, sendo mais intenso do lado pterigoideo, mas depois relaxa).
direito, há um ano, constantemente, como barulho
• termoterapia para o músculo
de cigarra e piora quando da ocorrência da dor
esternocleidomastoideo.
descrita acima.
Para a dor na região do músculo masseter
Como hipótese diagnóstica, foi apontada
recomendou-se:
Disfunção Temporomandibular muscular na região
de masseter direito, tendo como fator de risco • exercício de alongamento
• termoterapia
130
• terapia comportamental cognitiva,
orientando o paciente a observar se faz
apertamento dos dentes durante o dia,
evitando-o.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na consulta seguinte, após 60 dias, a
paciente relatou melhora no zumbido, passando a Desse modo, conclui-se que o especialista
ocorrer apenas em alguns momentos e não mais em Disfunção Temporomandibular deve ser capaz
constantemente. Houve, também, melhora da dor na de diagnosticar todas as dores orofacias, tratando as
região parotídea massetérica, esta ocorrendo duas que estejam relacionadas à sua área de atuação,
vezes por semana, pela manhã, ao acordar, e com sendo quando necessário, o encaminhamento do
duração de apenas uma hora. Na consulta, foi paciente e a interação com outros profissionais da
realizado agulhamento seco nos pontos de saúde.
dolorimento (pontos gatilho) dos músculos
masseter e esternocleiomastoideo, seguido de REFERÊNCIAS
termoterapia. Foi instalada placa de Michigan com
aconselhamento de uso noturno e mantido o
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Capítulo 14
Síndrome da dor miofascial
A
dor é um dos sintomas mais al., 2012). O agente etiológico mais comum
comuns das disfunções relacionado ao fator miogênico da DTM é a
temporomandibulares (DTMs), hiperatividade muscular. Essa hiperatividade pode
podendo haver variação de intensidade, de tipo e de contribuir aos desarranjos internos da ATM. Além
localização. A DTM é um conjunto de desordens disso, tal hiperatividade pode se originar dos
que envolvem músculos mastigatórios e a traumas, de doenças sistêmicas e das desordens do
articulação temporomandibular (ATM). As DTMs crescimento (FREITAS et al., 2011). A DTM
acometem todos os grupos etários, sendo mais muscular tem uma prevalênciasignificativamente
predominante em mulheres com idade entre 20 e maior. Por isso, existem inúmeras formas de
40 anos, numa proporção de 5:1 em relação aos tratamentos com foco principal na musculatura
homens (ASH; RAMFJORD; SCHMIDSEDER, mastigatória. Recursos fisioterápicos, que incluem a
2001). Os pacientes com DTM apresentam sinais e terapia manual, massoterapia e a cinesioterapia
sintomas diversos, como: cefaleia, dor, estalidos ou como base terapêutica, apresentam melhora na
ruídos na ATM, dor e/ou zumbido no ouvido, amplitude de movimento nos pacientes (ALVES et
dificuldade de abrir a boca, desvio na mandíbula, al., 2010).
travamento em boca aberta ou fechada, dores A Síndrome da dor miofascial (SDM) é
faciais (MARTINS et al., 2004). Esses sinais e um termo utilizado para descrever uma condição de
sintomas não são necessariamente estados de dor crônica que se origina em músculo e tecidos
doença ou de necessidade de tratamento, porém, conjuntivos adjacentes (as fáscias). A SDM é uma
estima-se que 5% a 20% dos indivíduos precisarão desordem dolorosa regional, caracterizada pela
ser tratados de alguma forma (TOSATO et al., presença de um ou mais pontos-gatilhos miofasciais
2007). (PGm). Um PGm é um nódulo discreto
As DTMs são classificadas como DTM hipersensível em uma banda tensa do músculo. O
muscular, articular e musculo-articular, e PGm ativo causa dor espontânea no tecido
correspondem a distúrbios funcionais do sistema imediatamente adjacente, e/ou locais distantes. A
mastigatório incluindo suas relações artrogênicas e palpação neste aumenta a dor e reproduz uma
miogênicas, bem como a influência do sistema experiência de dor familiar para o paciente. No
nervoso, de órgãos internos e do psiquismo (MELO PGm latente, a banda tensa está presente
et al., 2014). As miogênicas afetam os músculos da fisicamente, mas não causa dor espontânea
mastigação e os músculos da região do pescoço, as (GUIMARÃES, 2012).
artrogênicas apresentam distúrbios intra-articulares O tratamento adequado de pacientes com
e as mistas ou musculoarticulares acometem a SDM abrange a combinação de métodos e terapias,
musculatura e a articulação simultaneamente incluindo formas de alongamento muscular,
(OKESON, 2000). liberação miofascial, técnicas para aumentar o
Não existe fator etiológico único para a relaxamento muscular, agulhamento seco dos PG,
DTM, portanto é uma condição multifatorial, o que métodos físicos, biomecânica, manejo de fatores
exige uma abordagem terapêutica interdisciplinar perpetuantes, correção de fatores associados,
envolvendo, além de dentistas, fisioterapeutas, educação do paciente e um plano de tratamento
médicos, psicólogos e fonoaudiólogos (TORRES et domiciliar (FERNANDES; FERNANDES, 2011).
134
Existe uma relação dos músculos da face, principal de dor na região da mandíbula, próxima
membros superiores, tronco, abdômen e seus ao ouvido, do lado direito, com intensidade 8 na
respectivos PG miofasciais associados aos seus escala visual analógica de 0 a 10, constante, do tipo
padrões de dor irradiada conforme localização dos pressão, e sensação de inchaço e assimetria facial.
PG. Como fator de melhora, relatou o uso de fármaco
O método mais empregado para inativação (miosan 10 mg – quando a dor estava mais intensa),
do PG é o seu agulhamento. Além de proporcionar e piora com má qualidade do sono e estresse;
relaxamento muscular, estimula o sistema supressor • Foram encontradas algumas condições que
endógeno de dor e, frequentemente, melhora o sono poderiam atuar como fatores de risco: presença de
e diminui a ansiedade (DOMMERHOL; MORAL; apertamento dentário em vigília; ansiedade;
GROBLI, 2011). estresse. Relatou que acordava com dor e câimbras
Outro coadjuvante no tratamento das dores nas mãos;
miofasciais é a termoterapia. Os efeitos da elevação • No exame clínico, durante a palpação
da temperatura nos tecidos são: aceleração das muscular, a origem da dor foi atribuída aos pontos-
trocas químicas e do metabolismo, aumento da gatilho localizados no músculo masseter direito
irrigação sanguínea pela vasodilatação, da com dor referida para a região frontal e ouvido
oxigenação e efeito sedativo sobre os nervos direito, pois quando palpados, a paciente relatava
sensitivos (LIMA, 1995). O efeito fisiológico do sentir a dor relatada na sua queixa principal;
calor utilizado na reabilitação da DTM deve-se a • Apresentava, também, pontos-gatilho no
fatores direto e indireto, como redução do edema e masseter esquerdo com dor referida para a região
uma diminuição do espasmo muscular (KITCHEN, frontal e temporal esquerda;
2003). • O tratamento envolveu aconselhamento
Por ser cada vez mais frequente o para remoção da mão debaixo do travesseiro
aparecimento de pacientes acometidos por DTM na durante a noite de sono, termoterapia três vezes ao
clínica diária, a exigência por parte do profissional dia por 20 minutos. Além disso, foram feitas quatro
aumenta não só pelo conhecimento dessa desordem sessões de agulhamento a seco dos pontos gatilho e
e suas implicações, mas, também, pelo manejo termoterapia na região de masseter direito e
apropriado desses indivíduos (SARTORETTO; esquerdo.
BELLO; BONA, 2012).
O objetivo deste caso clínico é enfatizar a
importância dos recursos fisioterápicos para
remissão da sintomatologia dolorosa dos músculos
da face.
DESCRIÇÃO DO CASO
O
bruxismo caracteriza-se pelos infantil. Neste caso, quando há necessidade de
contatos não funcionais entre os proteção dentária, sugere-se o uso de um
dentes, em movimentos dispositivo ortopédico que impeça os contatos
ritmados e involuntários; pode ser cêntrico dentários, evitando assim os desgastes de esmalte e
(apertamento dentário) e excêntrico (ranger de dores por sobrecarga no tecido músculo esquelético
dentes) e pode ser de manifestação diuna ou e interferências no desenvolvimento dentário.
noturna. (KATO et al., 2003). O bruxismo não é
A ortopedia é a especialidade que
considerado como uma doença e, sim, como uma
diagnostica, previne e trata os problemas de
disfunção que pode provocar sinais e sintomas
crescimento e desenvolvimento que afetam os arcos
clínicos e pode ocorrer em qualquer faixa etária
dentários. Seu objetivo é remover interferências
(SHINKAY; SANTOS, 1998).
durante o crescimento e desenvolvimento
O bruxismo infantil não apresenta causas fisiológico. Para a ortopedia, o bruxismo infantil é
específicas (TEIXEIRA et al., 1994). Sua etiologia considerado uma interferência para o
é multifatorial, o que explica diversidades de linhas desenvolvimento do sistema (SIMÕES, 1998).
de atuação. O estresse na criança ainda é
Para a Reabilitação Neuro Oclusal, a força
considerado como o fator etiológico mais provável
do apertamento dentário com o aparelho de pistas
(GONDO; FAÇANHA; BUSSADORI, 2001).
planas é dissipada na sutura palatal e, devido a
Existem duas correntes em relação ao eliminação completa de toques dentários, o SNC
controle do bruxismo: A não intervencionista, que não recebe informações de nocicepção do
acredita que o controle se dá por redução de nível periodonto, quanto a posição postural, e
de estresse e ansiedade por meio de terapias interferências a serem eliminadas, além de que o
psicológicas (SILVA, 2003) e a não aparelho proporciona total liberdade de
intervencionista, que defende a proteção dentária, movimentos da mandíbula (SERNANDES;
sugerindo a utilização de um dispositivo FERREIRA; BRIZOLA, 2000).
interoclusal que evite desgastes dentais, fraturas de
restaurações e dores nas musculaturas responsáveis
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
pelo movimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
Temporomandibulares (DTMs) como deslocamento de disco com redução (DDCR).
abrangem um grupo de No entanto, se o disco articular permanece
condições musculoesqueléticas deslocado em frente ao côndilo da mandíbula
e neuromusculares que durante a abertura e o fechamento da boca,
envolvem a articulação temporomandibular (ATM), classifica-se este como deslocamento de disco sem
os músculos da mastigação e todos os tecidos redução (DDSR) (BRISTELA et al., 2016). Os
associados. A dor associada à DTM pode ser DDSR podem variar entre DDSR com limitação de
clinicamente expressa como dor nos músculos abertura bucal, e DDSR sem limitação da abertura
mastigatórios ou dor na ATM, sendo que a bucal. Os DDSR com limitação de abertura são
mastigação ou outra atividade mandibular, em caracterizados clinicamente por abertura menor que
geral, agrava essa dor músculo esquelética. A dor 40 mm, desvio da abertura para o mesmo lado do
da DTM pode ser associada à disfunção do sistema disco deslocado, podendo ou não apresentar dor e
mastigatório (IASP, 2013). desconforto local (LIST; DWORKIN, 1996).
Os sintomas mais comuns observados em Existem diversas modalidades de tratamento para o
uma ATM afetada são: artralgia, estalido articular, deslocamento de disco sem redução com limitação
alteração dos movimentos mandibulares e de abertura, entre eles, manipulação da mandíbula,
deslocamento de disco. Estes distúrbios podem ser infiltração de anestésico, viscossuplementação,
causados por um simples desarranjo ou até mesmo artrocentese, artroscopia e cirurgia da ATM
uma degeneração dos componentes intra- (CORREA et al., 2009). Em 1982, Farrar &
articulares. O desarranjo articular é definido como McCarthy descreveram uma técnica de
um desequilíbrio entre o côndilo da mandíbula, manipulação da mandíbula para casos
osso temporal e disco articular (VOGL et al., 2016), diagnosticados de DDSR com redução de abertura,
sendo mais comuns, as desordens articulares obtendo bons resultados clínicos. Desde então,
relacionadas ao disco - deslocamentos de disco outras manobras tem sido descritas por outros
articular. autores como VAN DYKE & GOLDMAN (1990),
É de fundamental importância saber em (SEGAMI) et al. (1990); MINAGI et al. (1991),
que posição se encontra o disco para um manejo MONGINI (1998).
correto do paciente. O deslocamento do disco pode O presente capítulo tem o objetivo de
ocorrer tanto no plano sagital, sendo classificado demonstrar, por meio de um caso clínico, a
como deslocamento anterior, ou deslocamento resolução de um quadro de DDSR com limitação,
posterior, quanto ocorrer no plano transversal, diagnosticado pelo RDC – eixo I, com uma terapia
sendo classificado como deslocamento medial ou conservadora de manipulação da mandíbula
deslocamento lateral (KUMAR et al., 2015). (MINAGI et al., 1991).
Outro ponto importante para o sucesso A "manobra de Minagi" consiste
terapêutico é avaliar a mobilidade de disco durante basicamente destes procedimentos: estando o
a abertura da boca, para um correto diagnóstico. operador de frente para o paciente, o operador
Caso ocorra a recaptura do disco para a posição colocará o dedo polegar no canino da maxila do
fisiológica sobre o côndilo durante o movimento de lado não afetado do paciente e o indicador no
142
canino da mandíbula do lado afetado, apoiando o O diagnóstico clínico foi de deslocamento
ângulo da mandíbula com o indicador e o dedo do disco articular do lado direito sem redução. Foi
médio da outra mão. O paciente será instruído a feita a manipulação da mandíbula, seguindo o
fazer a máxima lateralidade com a mandíbula para conceito de MINAGI et al. (1991), com a finalidade
o lado não afetado e deverá abrir a boca a partir de reduzir o disco articular, sem sucesso. Foi
desta posição, sendo este movimento apoiado pelo confeccionada uma placa parcial anterior, com a
polegar e indicador do operador. O operador finalidade de promover o relaxamento muscular e
continuará apoiando a posição de abertura máxima. diminuir a atividade para funcional noturna
Essa técnica possui características ímpares entre as (OKESSON, 2000) e a paciente foi orientada a usá-
outras, que são: fácil execução, tanto para o lo para dormir por uma semana, até a próxima
profissional quanto para o paciente, o qual pode consulta e a fazer compressa morna (termoterapia)
realizar até sozinho, não há efeito traumático sobre por 20 minutos na região de ATMs, masseteres e
as ATMs e pode ser facilmente aplicada em temporais bilateralmente, duas vezes ao dia
paciente, cuja abertura bucal esteja severamente (FURLAN et al., 2015), assim como a movimentar
limitada, pois não há a necessidade de fazer apoio a mandíbula fazendo movimentos de abertura,
em dentes molares. fechamento, lateralidade direita e esquerda, com a
finalidade de relaxar a musculatura, aumentar a
anos, apresentou como queixa principal limitação consulta seguinte, a paciente apresentou os mesmos
da abertura de boca e dor na região de ATM do sinais clínicos, porém com redução de dor nos
lado direito há 3 meses. Ao exame físico de músculos e na ATM direita e a remissão da cefaleia
palpação, a paciente apresentou dor no polo lateral ao acordar. Foi realizada a "manobra de Minagi"
paciente e exames por imagem são as melhores OKESSON, J. P. Tratamento das desordens
temporomandibulares e oclusão. São Paulo: Artes
ferramentas para o diagnóstico e tratamento de Médicas, 2000, p. 383.
DDSR, com limitação de abertura. A avaliação na VOGL, T. J. et al. The value of MRI in patients
área de Disfunção Temporomandibular e Dor with temporomandibular joint dysfunction:
Correlation of MRI and clinical findings. European
Orofacial deve ser realizada em todos os pacientes Journal of Radiology, v. 85, n. 4, p: 714-719, 2016,
que buscam o tratamento para esta patologia. Caso
confirme-se o diagnóstico de DTM Articular, com
ou sem limitação de abertura, o tratamento
conservador deve preceder os procedimentos
invasivos. Estudos longitudinais são necessários
para verificar a efetividade de tratamentos
interdisciplinares e controle desta patologia.
REFERÊNCIAS
Capítulo 17
Tratamento de trismo muscular
agudo com agulhamento seco
A
palavra Trismo origina-se do Trigger Point muscular tem se mostrado altamente
Grego “Trismos” que significa eficiente no controle da dor e, consequentemente,
ralar ou triturar e tem sido no Trimo M (ESENYEL; CAGLAR; ALDEMIR,
associado ao tétano desde 1884, quando um 2000).
pesquisador chamado Nicolaier foi o primeiro a O objetivo deste trabalho é relatar um caso
induzir o Tétano experimentalmente em animais. de trismo causado por espasmo muscular agudo,
Anos mais tarde, o termo trismo foi usado para tratado por agulhamento seco.
representar outras alterações médicas, incluindo
condições que se caracterizam por inabilidade de DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
abrir a boca (POULSEN, 1984). Trismo oral é
definido por uma limitação no movimento de
Paciente T.C.M.S., 25 anos, gênero
rotação e translação mandibular (DORLAND,
feminino, compareceu a clínica de Desordens
1988). Geralmente, aberturas bucais iguais ou
Temporomandibulares e Dor Orofacial da
menores que 35 mm são considerados anormais
Faculdade São Leopoldo Mandic, com queixa
(DIJKSTRA; HUISMAN; ROODENBURG, 2006).
principal de travamento bucal de boca fechada
Esta disfunção leva a dificuldades para
durante o sono. Este quadro estava associado com
alimentação, fala, manter uma adequada higiene
dor em musculatura da mastigação (masserteres e
oral, levando, inclusive, impactos psicossociais
temporais), intensidade 8 na escala visual
negativos (GARNETT; NOHL; BARCLAY, 2008).
analogical de dor de 0 a 10, constante, tipo
Diversas são as causas para o Trismo, das quais
queimação. Durante exame físico foi constatada
podemos citar trauma, infecção, doenças
uma diferença de 6 mm entre a abertura bucal
inflamatórias, fraturas faciais, fixação intermaxilar,
espontânea e a abertura bucal forçada. Evidenciou-
cirurgia ortognática, espasmos dos músculos da
se, também, a presença de uma grande banda tensa
mastigação e radioterapia na região cranio-maxilo-
em ambos os músculos masseteres (triggers point),
mandibular (GUVEN, 2000). A limitação na
o que sugeriu um trismo muscular.
abertura mandibular pode, muitas vezes, se
O tratamento procedeu-se com uma única
apresentar como um dilema para o diagnóstico.
sessão de agulhamento seco em ambos os masseter
Muitas patologias podem ser incluídas no
após assepsia com solução a base de iodo,
diagnostico diferencial. Dentre elas, podemos citar:
associado a orientações de Exercícios Ativos Livres
Doenças intra-articulares e nos músculos da
de abertura bucal, Terapia Cognitiva
mastigação, alterações no sistema nervoso central e
Comportamental (não apertar os dentes durante o
periférico, além de outras alterações nos tecidos
dia), associada à Termoterapia (Calor) uma vez ao
moles e osséo (GORLIN; COHEN JUNIOR;
dia, durante 20 minutos. Imediatamente após o
LEVIN, 1990).
agulhamento seco, observou-se uma regressão
Tradicionalmente, o manjeto da dor
imediata no trismo e na dor. O agulhamento foi
míofascial associada ou não ao trismo inclue
realizado utilizando-se uma agulha de acupuntura
relaxantes musculares, terapias térmicas e
0,18X8mm no trigger point. A localização do local
massagens (RICHARDS, 2009). Porém,
do agulhamento foi feita de maneira bidigital. Após
recentemente, o Agulhamento Seco diretamente no
147
um ano de acompanhamento, o quadro clinico
encontra-se estável, sem recidivas.
REFERÊNCIAS
P
or definição, dor orofacial é toda B) Fatores Determinantes: Causam o
dor associada a tecidos moles início da desordem. Podem ser macrotraumas e
mineralizados da cavidade oral e microtraumas;
da face, podendo ser referida na região da cabeça C) Fatores Perpetuantes: Interferem no
e/ou pescoço. As principais fontes de dor orofacial tratamento e controle. Parafunção, problemas
são problemas odontogênicos, cefaleias, patologias hormonais e/ou psicossociais associados com
neurogênicas, dores musculoesqueléticas, dores qualquer fator determinante ou predisponente,
psicogênicas, câncer, infecções, fenômenos podem sustentar a disfunção ou complicar seu
autoimunes e trauma tecidual. controle.
A causa mais frequente de dor orofacial é Diferentes estratégias de tratamento são
de origem odontogênica (12,2%), seguida de usadas para cada condição e o sucesso do
disfunção temporomandibular (5,3%) na população tratamento frequentemente depende do diagnóstico
(CARRARA; CONTI; BARBOSA, 2010). diferencial. O objetivo do tratamento da DTM é
Segundo a Academia Americana de Dor controlar a dor, recuperar a função do aparelho
Orofacial, a DTM é definida como um conjunto de mastigatório, reeducar o paciente e amenizar cargas
distúrbios que envolvem os músculos mastigatórios, adversas que perpetuem o problema.
a articulação temporomandibular (ATM) e A terapia com a Estimulação Elétrica
estruturas associadas. Nervosa Transcutânea (TENS) consiste na
Os sinais mais encontrados são a administração de corrente elétrica de baixa
sensibilidade muscular e da ATM à palpação, voltagem, pulsada, em forma de onda bifásica,
limitação e/ou incoordenação de movimentos simétrica ou assimétrica balanceada com uma
mandibulares e ruídos articulares. Os sintomas mais semionda quadrada positiva e um pico negativo na
relatados são dores na face, ATM e/ou músculos da superfície cutânea de modo a relaxar os músculos
mastigação, dores na cabeça e orelha. Alguns hiperativos, fortalecer músculos atrofiados e
pacientes ainda relatam zumbido, plenitude promover o alívio da dor nociceptiva (MONACO et
auricular e ruídos articulares (GROSSMANN et al., al., 2013).
2012). Os efeitos da TENS baseiam-se em
Atualmente, a DTM é classificada em dois diferentes bases teóricas:
segmentos, sendo um das desordens da articulação A) A estimulação direta dos nervos
temporomandibular e outro das desordens dos motores faz com que os músculos mastigatórios
músculos da mastigação. executem contrações rítmicas, aumentando a
Os fatores etiológicos podem ser divididos circulação sanguínea local e, assim, reduzindo o
em três categorias: edema intersticial e o acúmulo tecidual de
A) Fatores Predisponentes: Predispõem o metabólitos nocivos. Dessa forma, a dor é reduzida,
paciente ao risco de DTM ou do desenvolvimento aumentando a disponibilidade energética de
da dor orofacial. Podem ser biomecânicos, radicais fosfatos, diminuindo a hipóxia muscular e a
genéticos ou psicológicos; fadiga dos músculos da mastigação
(GROSSMANN et al., 2012);
151
B) Teoria do portão da dor: Estímulo vai
para as vias mais rápidas (fibras A alfa e A beta)
chegando mais rápido ao cérebro que a mensagem
de dor. Há um portão no corno dorsal da medula
espinal que regula a entrada nociceptiva através de
fibras nervosas aferentes de pequeno diâmetro. Essa
pode ser contrabalanceada ou mesmo anulada, por
estímulos táteis, de pressão e/ou através de corrente
elétrica sobre fibras de largo diâmetro, o que resulta
em inibição do estímulo nociceptivo a estruturas
espinais e supraespinais e o portão pode ser
efetivamente fechado (JONES; JOHNSON, 2009).
Portanto, a TENS agiria envolvendo
mecanismos periféricos e centrais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
palavra Trismo origina-se do eficente no controle da dor e consequentemente no
Grego “Trismos” que significa Trismo (ESENYEL; CAGLAR; ALDEMIR, 2000).
ralar ou triturar e tem sido O objetivo deste trabalho é relatar um caso
associado ao tétano desde 1884 quando um de trismo causado por espasmo muscular agudo
pesquisador chamado Nicolaier foi o primeiro a tratado por agulhamento seco.
induzir o Tétano experimentalmente em animais.
Anos mais tarde o termo trismo foi usado para DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
representar outras alterações médicas, incluindo
condições que se caracterizam por inabilidade de Paciente T.C.M.S., 25 anos, gênero
abrir a boca (POULSEN, 1984). Trismo oral é feminino, compareceu a clínica de Desordens
definido por uma limitação no movimento de Temporomandibulares e Dor Orofacial da
rotação e translação mandibular (DORLAND’S, Faculdade São Leopoldo Mandic, com queixa
1988). Geralmente, aberturas bucais iguais ou principial de travamento bucal de boca fechada
menores que 35 mm são considerados anormais durante o sono. Este quadro estava associado com
(DIJKSTRA; HUISMA; ROODENBURG, 2006). dor em musculatura da mastigação (masserteres e
Esta disfunção leva a dificuldades para temporais) intensidade 8 na escala visual analogical
alimentação, fala, manter uma adequada hygiene de dor de 0 a 10, constante, tipo queimação.
oral, levando inclusive impactos psicossociais Durante exame físico foi constato uma diferença de
negativos (GARNETT; NOHL; BARCLAY, 2008). 6 mm entre a abertura bucal expontânea e a
Diversas são as causas para o Trismo onde abertura bucal forçada. Evidenciou-se também a
podemos citar trauma, infecção, doenças presença de uma grande banda tensa em ambos os
inflamatórias, fraturas faciais, fixação intermaxilar, músculos masseteres (triggers point), o que sugeriu
cirurgia ortognática, espasmos dos músculos da um trismo muscular.
mastigação e radioterapia na região cranio-maxilo- O tratamento precedeu-se com uma única
mandibular (GUVEN, 2000). A limitação na sessão de agulhamento seco em ambos os masseter
abertura mandibular pode muitas vezes se após antissepsia com solução a base de iodo,
apresentar como um dilema para o diagnóstico. associado a orientações de Exercícios Ativos Livres
Muitas patologias podem ser incluídas no de abertura bucal, Terapia Cognitica
diagnostico diferencial. Dentre elas podemos citar: Comportamental (não apertar os dentes durante o
Doenças intra-articulares e nos músculos da dia), associada a Termoterapia (Calor) uma vez ao
mastigação, alterações no sistema nervoso central e dia durante 20 minutos. Imediatamente após o
periférico além de outras alterações nos tecidos agulhamento seco, observou-se uma regressão
moles e osséo (GORLIN; COHEN; LEVIN, 1990). imediata no trismo e na dor. O agulhamento foi
Tradicionnalmente o manjeto da dor realizado utilizando-se uma agulha de acumputura
míofascial associada ou não ao trismo incluem 0,18 X 8 mm no trigger point. A localização do
relaxantes musculares, terapiais térmicas e local do agulhamento foi realizado de maneira
massagens (RICHARDS, 2009), porém bidigital. Após um ano de acompanhamento quadro
recetemente, o Agulhamento Seco diretamente no clinico encontra-se estável sem recidivas.
Trigger Point muscular tem se mostrado altamente
155
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratamento da disfunção
temporomandibular minimamente
invasivo: relato de caso clínico
D
isfunção temporomandibular A aplicação de calor úmido no tratamento
(DTM) é um termo coletivo da DTM é uma das modalidades mais utilizadas. O
que abrange um largo espectro tratamento com calor traz como beneficio, alívio da
de problemas clínicos da articulação e dos dor, redução da tensão muscular, melhora nas
músculos na área orofacial; estas disfunções são funções mandibulares e aumento da abertura de
caracterizadas principalmente por dor, sons na boca (FURLAN et al., 2015).
articulação e função irregular ou limitada da Exercícios terapêuticos empregados no
mandíbula. Sua etiologia multifatorial vem tratamento da DTM tendem a manter, a curto e a
acompanhada de sinais e sintomas que devem ser longo tempo, os ganhos obtidos durante o
pesquisados criteriosamente, com o objetivo de tratamento, principalmente quando os pacientes
obter um preciso diagnóstico e um plano de recebem orientação de autocuidado e treinamentos
tratamento mais adequado para cada desordem de exercícios domiciliares (MALUF et al., 2008).
(CARLSSON; MAGNUSSON; GUIMARÃES,
2006). DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
A principal característica da DTM é que
ela altera a função oral, os sinais mais comuns
A paciente D. N., gênero feminino, idade
incluem dor à palpação nos músculos e/ou
55 anos, divorciada, grau de instrução: 7ª serie,
Articulação Temporomandibular (ATM), dor ou
profissão: do lar.
limitação dos movimentos mandibulares,
Foi encaminhada pelo posto de saúde para
movimentos irregulares da mandíbula e sons
a clínica de dor orofacial da Faculdade São
articulares (SESSLE et al., 2010).
Leopoldo Mandic, devido a queixa principal de dor
Tratamento multidisciplinar, odontologia e
e cansaço na região facial. No exame inicial, a
fisioterapia, apresentam melhores resultados na
paciente apontou a dor na região partídea
qualidade de vida dos pacientes quando comparado
massetérica e frontal bilateralmente.
com tratamento odontológico isoladamente
A paciente disse que não havia se
(VIANA, M., 2008).
submetido a nenhum tipo tratamento para essa
Agulhamento seco é um procedimento em
queixa até então.
que uma agulha de acupuntura é inserida no
Durante a anamnese, a paciente relatou:
músculo onde está localizado um ponto-gatilho
Dor na região parotídea massetérica
miofascial e apresenta redução imediata da dor em
bilateralmente há mais de 10 anos. Dor tipo
pacientes com dor miofascial (KIETRYS et al.,
canseira e pressão, com frequência de até 5 vezes
2013).
por semana. A dor piora pela manhã, sensação de
A terapia cognitiva comportamental para
dolorimento dos dentes. Dentro da escala de dor, 0
dor crônica em DTM apresenta melhora
a 10, tem intensidade 7. Tem como fatores de piora
significativa no quadro clínico, no curto e longo
nervosismo e apertamento dos dentes, e como fator
prazo, quando comparado com o grupo controle
de melhora, abstração mental.
(TURNER; MANCL; AARON, 2006).
159
Dor na região frontal há,aproximadamente, • Masseter superior direito com
10 anos. A paciente correlaciona esta dor com um dor familiar que expande para região frontal.
tratamento realizado no dente 26. Dor tipo aguda, • Masseter superior esquerdo
parece um machucado aberto. Dor flutuante que com dor familiar que expande para região frontal e
agrava quando o dente dói (o dente dói quando dente 26.
aperta muito os dentes). Dor de intensidade 5, • Masseter médio direito com dor
porém nas crises, chega a 9. Em crise, a dor lateja e familiar que expande para região frontal.
dá agulhada, ataca o lado esquerdo. Quando dói • Masseter médio esquerdo com
muito, tem duração de 2 a 3 dias. Durante a crise, dor familiar que expande para dente 26.
toma tylenol, mas não melhora muito. • Masseter inferior direito com
Ao exame clínico observou-se: dor familiar.
• Padrão de abertura e fechamento • Masseter inferior esquerdo com
bucal reto; dor familiar.
• Abertura bucal sem auxílio e sem • Trapézio direito com dor
dor de 40 mm; familiar que expande para região da nuca.
• Abertura máxima sem auxílio de • Trapézio esquerdo dor familiar.
45 mm; • Esternocleidomastoideo direito
• Abertura máxima com auxílio de com dor familiar.
49 mm; • Esternocleidomastoideo
• Trespasse incisal vertical de 4 esquerdo com dor familiar que expande para região
mm; da nuca.
• Presença de estalido no final da • Suboccipitais direitos com dor
abertura e no início do fechamento, bilateral, familiar que expande para região do tapézio.
caracterizando hiperexcursão mandibular; • Suboccipitais esquerdos com dor
• Ausência de ruídos durante os familiar que expande para região alveolar.
movimentos excursivos e protusivos da mandíbula.
Na palpação da musculatura extraoral
identificou-se (fig.1):
• Temporal posterior direito com
dor familiar que expande para região frontal.
• Temporal posterior esquerdo
com que expande para região da nuca.
• Temporal médio direito com dor
familiar que espalha.
• Temporal médio esquerdo com Figura 1 – A) fotografia frontal da face da paciente; B)
leve restrição.
• Inclinação direita dor local com
leve restrição. Exame dos nervos cranianos:
• Inclinação esquerda dor local
com leve restrição. • Acuidade visual (II)
• Sensorial (V¹, V², V³) dentes; a orientamos para que prestasse atenção em
• Motor músculos faciais (VII) mais estressantes e/ou de maior concentração para
D
esordenstemporomandibula Os pontos-gatilhos miofasciais (PGm)
res (DTM) manifestam dor são extremamente comuns e, em um momento
que podem afetar as ou outro, tornam-se uma parte dolorosa da vida
articulações temporomandibulares bem como de quase todas as pessoas. Os PGm latentes
os músculos da mastigação. A dor miofascial é podem produzir os outros efeitos
uma das principais causas de dor de origem não característicos de um PG, incluindo tensão
dental na região orofacial, atingindo, muscular aumentada e encurtamento muscular,
aproximadamente, 30% dos pacientes que mas não produzem dor espontânea. Além disso,
procuram tratamento para DTM PGm latentes são bem mais comuns que os
(FERNÁNDEZ-CARNERO et al., 2010). PGm ativos, que, além de tudo, provocam dor.
Dor nos músculos da mastigação é a Tanto os PGm ativos quanto os
maior causa de dor orofacial crônica de origem latentes podem causar disfunção motora
não dental, sendo experimentada por 12 a 14% importante. Acredita-se que os mesmos fatores
da população adulta (GUIMARÃES, 2012). responsáveis pelo desenvolvimento de um PG
ativo, em menor grau, podem causar um PG
A fisiopatologia da dor muscular não é
latente. (SIMONS; TRAVELL, 1999).
completamente conhecida, entretanto, a
Essa distinção clínica entre PG ativo e
síndrome da dor miofascial tem sido
latente é fundamentada por achados
considerada uma das principais causas de dor
histoquímicos devido aos altos níveis de
unilateral da ATM. Geralmente, esta síndrome
mediadores neuroativos (por exemplo:
é caracterizada por áreas de dolorimento nos
bradicinina, substância P ou serotonina)
músculos quando submetidos à palpação e pela
encontrados em PG ativos, quando comparados
presença de um ou mais pontos-gatilho. Estes
com PG latentes e com áreas musculares sem
pontos são doloridos à compressão, dando
presença de PG (ALONSO-BLANCO et al.,
origem às características da dor referida,
2012).
podendo haver disfunção motora e autonômica.
Do ponto de vista clínico, pontos-
A manifestação clínica ainda pode vir
gatilho ativos causam dor, e a dor referida é
acompanhada de fadiga, limitação do
reconhecida pelo paciente como dor familiar
movimento mandibular e leve fraqueza
(FERNÁNDEZ-CARNERO et al., 2010).
muscular. Nos casos de síndrome da dor
A dor miofascial inicia-se de um PGm
miofascial na área temporomandibular, o
ativo, que causa dor espontânea no tecido
músculo masseter é o mais afetado, seguido do
imediatamente adjacente, e/ou locais distantes
músculo temporal (DIRAÇOGLU et al., 2012).
em padrões específicos de dor referida. Os
Pontos-gatilhos musculares definidos
PGm ativos são identificados quando os
como pontos hiperirritáveis localizados dentro
pacientes reconhecem a dor que é induzida pela
das bandas tensas dos músculos esqueletais,
aplicação de pressão em um PGm como sendo
são considerados a principal causa de dor
familiar. Pontos-gatilho podem causar
músculo esqueletal. (SIMONS; TRAVELL,
disfunção e fraquezas musculares, e limitar a
1999).
165
amplitude de movimento. (GUIMARÃES, Quando uma síndrome de PG
2012). miofascial aguda não é tratada e passa a ser
A ativação de um PG em geral está crônica, torna-se desnecessariamente
associada a algum grau de abuso mecânico do complicada, mais dolorosa e cada vez mais
músculo na forma de sobrecarga muscular prolongada, frustrante e dispendiosa.
aguda, fadiga por excesso de trabalho, trauma (SIMONS; TRAVELL, 1999).
por impacto direto, entre outros fatores. O tratamento efetivo da síndrome de
(GUIMARÃES, 2012). dor miofascial causada por PGm costuma
A intensidade e a extensão do padrão envolver mais do que a simples aplicação de
de dor referida dependem do grau de um procedimento aos PG. Frequentemente, é
irritabilidade do PG, e não do tamanho do necessário considerar a causa que ativou os PG
músculo. (SIMONS; TRAVELL, 1999). e lidar com ela, bem como identificar e corrigir
A gravidade dos sintomas causados quaisquer fatores perpetuantes (que
pelos PG miofasciais varia desde dor frequentemente são diferentes daqueles que
incapacitante e intensa causada por PG muito ativaram os PG) e ajudar o paciente a restaurar
ativos, até restrição de movimento e distorção e manter a função muscular normal. (SIMONS;
da postura indolor devido a PG latentes tão TRAVELL, 1999).
comumente negligenciados. (SIMONS; Fisioterapia, exercícios, compressas
TRAVELL, 1999). com calor, alongamento e técnica do spray,
Um fator perpetuante aumenta a acupuntura, injeções locais e tratamentos
probabilidade de o estresse por sobrecarga farmacológicos são recursos usados no controle
converter um PG latente em um PG ativo dos pontos-gatilho miofasciais. Entre estes, as
(SIMONS; TRAVELL, 1999). injeções nos pontos-gatilho são consideradas o
Com repouso adequado, e na ausência método mais efetivo. (TEKIN et al., 2013).
de fatores perpetuantes, um PG ativo pode Há evidências de que qualquer
reverter-se espontaneamente para um estado estímulo mecânico em um ponto-gatilho possa
latente. Os sintomas de dor desaparecem, mas a causar significativo efeitoanalgésico. A dor
reativação ocasional do PG excedendo a referida pelo paciente pode ser aliviada pela
tolerância ao estresse do músculo pode ser estimulação dos pontos-gatilho. O agulhamento
responsável por episódios recorrentes da seco, inserção de agulha no ponto-gatilho
mesma dor durante anos (SIMONS; localizado no músculo dolorido, tem se
TRAVELL, 1999). demostrado eficaz. Um alívio analgésico
Além disso, parece haver espontânea também foi observado quando realizado o
atividade elétrica intramuscular nos pontos- agulhamento seco em pacientes com dor
gatilho quando o músculo está em repouso. miofascial crônica (GODDARD et al., 2002).
Sem intervenção, a dor (local e referida) pode O agulhamento seco dos pontos-
se tornar crônica e restringir a amplitude dos gatilho é um procedimento comumente
movimentos mandibulares e causar fraqueza utilizado para o controle dos pontos-gatilho
muscular. (FERNÁNDEZ-CARNERO et al., (FERNÁNDEZ-CARNERO et al., 2010).
2010).
166
Apesar do mecanismo do agulhamento melhora da qualidade de vida e reduziu a
seco dos pontos-gatilho musculares ser pouco necessidade do uso de medicamentos (TEKIN
conhecido, a técnica de inserir agulhas de et al., 2013).
acupuntura nos pontos-gatilho parece reduzir a A descrição do caso clínico a seguir
sintomatologia dolorosa. (FERNÁNDEZ- tem como objetivo demonstrar o benefício a
CARNERO et al., 2010). curto prazo da técnica do agulhamento seco
A técnica do agulhamento seco dos realizado no músculo masseter, aplicada em
PGm é um procedimento utilizado para a paciente com diagnóstico de dor miofascial.
desativação destes, consistindo no
agulhamento dos PGm nos músculos por meio DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
de agulhas de acupuntura curtas. O objetivo do
agulhamento seco é eliminar essa área de • Paciente de 31 anos, gênero feminino,
tensão muscular. No momento em que a agulha apresentando dor na região parotídea-
penetrar no PGm, haverá uma contração da massetérica, bilateral, há quatro anos,
banda muscular tensa (resposta contrátil local, do tipo cansada, intensidade 8,
que poderá ou não ser sentida pelo paciente), manifestando-se 3 a 4 vezes na
seguida de seu relaxamento profundo semana, com ocorrência ao final da
(GUIMARÃES, 2012). tarde e duração aproximada de 12
horas.
O fator terapêutico fundamental é o • Como fator de melhora, associa
rompimento mecânico dos nós de contração do automassagem e repouso. Como fator
PG pela agulha, o que põe fim à base para crise precipitante,relata o estresse
energética local e a sua sensibilização dos emocional. Não refere fatores
nervos próximos. (SIMONS; TRAVELL, acompanhantes, nem de piora.
1999). • Clinicamente, pode-se observar
O agulhamento seco dos pontos- padrão de abertura bucal reto, com
gatilho ativos em músculo masséter induziu um limitação (sem auxílio: 30
aumento significativo no limiar de dor à mm).
palpação e no grau de máxima abertura de • À palpação, foram constatados PGm
boca, sem dor, quando comparado ao no músculo masseter bilateralmente.
agulhamento placebo. Essa constatação reforça • Por meio do exame clínico e dos testes
a hipótese de que há um efeito benéfico do funcionais, pode-se confirmar a
agulhamento dos pontos-gatilho nos sinais e hipótese diagnóstica sindrômica de
sintomas dos pacientes com desordens DTM muscular em músculo masseter
temporomandibulares, ao menos no curto bilateral por bruxismo em vígilia.
prazo. (FERNÁNDEZ-CARNERO et al., • A conduta terapêutica proposta foi
2010). aliar terapias conservadoras
Além da efetiva redução da dor, a (termoterapia, cognitivo
técnica do agulhamento seco dos pontos- comportamental e exercícios
gatilho também mostrou uma significativa
167
apropriados) à técnica do agulhamento
seco.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
D
isfunção Temporomandibular Ponto-gatilho miofascial (PGm) é um nódulo
(DTM) é um termo coletivo que discreto hipersensível em uma banda muscular tensa. O
abrange um largo espectro de PGm ativo causa dor espontânea no tecido
problemas clínicos da articulação e dos músculos na imediatamente adjacente, e/ou locais distantes. A
área orofacial. Estas disfunções são caracterizadas palpação neste aumenta a dor e reproduz uma
principalmente por dor, sons na articulação, e função experiência de dor familiar para o paciente. No PGm
irregular ou limitada da mandíbula. A DTM é latente, a banda tensa está presente fisicamente, mas
considerada um subgrupo distinto das desordens não causa dor espontânea (GUIMARÃES, 2012).
musculoesqueléticas e reumatológicas, representando Há diversas formas de controle da DTM que
assim, uma causa importante de dor não-dental na foram desenvolvidas a partir de experiências clínicas
região orofacial, sendo sua causa multifatorial que vêm sendo estudadas ao longo dos anos. O
(CARLSSON; MAGNUSSON; GUIMARÃES, 2006). tratamento conservador tem sido amplamente utilizado
A dor é um dos sintomas mais comuns na para o controle da mesma, especialmente naqueles
DTM, podendo haver variação em relação ao seu grau. casos nos quais os indivíduos, após a aplicação do
Além da dor, a fadiga e espasmo muscular podem RDC/TMD Eixo I, são classificadas como dor
alterar a função dos músculos da mastigação e da miofascial com ou sem limitação de abertura. Como
região cervical (PAIVA et al., 1997). terapia, utiliza-se:
Quanto aos sinais, encontram-se Termoterapia: bolsas gel aquecidas a 40◦C
primariamente a sensibilidade à palpação nos músculos durante 20 minutos, três vezes ao dia. Esta terapia
da mastigação, músculos adjacentes e na região da promove uma vasodilatação e, consequentemente, um
ATM, limitação e/ou descoordenação de movimentos relaxamento da musculatura. É frequentemente
mandibulares e ruídos articulares. Não é possível isolar aplicada na região parotídea massetérica, podendo se
uma só causa nítida e universal da DTM, pois muitos estender para a porção mais inferior dos músculos
estudos têm demonstrado que esta apresenta origem temporais e para a região do músculo trapézio superior.
multifatorial (LEEUW, 2010). A termoterapia prepara os músculos para os
A Síndrome Dolorosa Miofascial (SDM), exercícios terapêuticos e para o alongamento muscular.
segundo o Comitê de Taxonomia da International O tratamento cognitivo comportamental é
Association for Study of Pain (IASP), é uma disfunção amplamente utilizado, pois faz com que os indivíduos
muscular regional causada pela presença de Pontos percebam seus hábitos e deixem de realizá-los.
Gatilho Miofasciais (PGm) nos músculos esqueléticos. Para desativação de PGm, utiliza-se a terapia
Está diretamente relacionada com a DTM e Dor manual intramuscular (agulhamento à seco), técnica
Orofacial (CARLSSON; MAGNUSSON; minimamente invasiva, realizada mediante palpação
GUIMARÃES, 2006). É identificada em diversas muscular e localização dos pontos-gatilho miofasciais
especialidades clínicas como uma fonte comum de dor (PGm) e posteriormente associação da aplicação do
que pode ser sentida pelo indivíduo por meio de um TENS (Trans Eletro Neuro Estimulação associado à
estímulo mecânico sobre os PGm durante a palpação termoterapia).
muscular (SIMONS; TRAVELL; SIMONS, 2005).
172
DESCRIÇÃO DO CASO direito, a referência de dor foi para a região
temporal e occipital esquerda, dor esta que
A paciente H. L. C. S., 29 anos, gênero coincidia com a queixa principal da paciente.
feminino, apresentou-se para exame no dia Imediatamente após a técnica aplicada, a dor
09/05/2014. Sua queixa principal foi pressão e referida no temporal inicialmente aumentou e
dor no ouvido esquerdo acompanhada por logo passou. Em seguida, foi realizado um
cefaleia, relatando serem mais intensas nos massageamento digital no local e aplicada
últimos seis meses. Realizada anamnese e bolsa gel quente por alguns minutos, enquanto
avalição clínica, incluindo exame de palpação eram posicionados os eletrodos adesivos para
digital dos músculos da cabeça e pescoço, a a realização da terapia com TENS (Trans
paciente apresentou dor à palpação no Eletro Neuroestimulação) por 30 minutos. Os
músculo masseter bilateral. A hipótese eletrodos foram dispostos aos pares (canais)
diagnóstica foi dor miofascial envolvendo os no masseter e temporal inferior direito e
músculos masseter bilateral com referência esquerdo. Outros dois pares (canais) no
para outras áreas. Como terapêutica, foi trapézio e peitoral de ambos os lados. Ao
indicada termoterapia quente com bolsas gel término da sessão, a paciente foi liberada,
durante 20 min e, logo após, alongamento sendo orientada para continuar com a
digital feito pela paciente, com seus dedos termoterapia e alongamento como lhe foi
indicadores e médios deslizando verticalmente ensinado, e retornar em 15 dias. Também
na região parotídea massetérica bilateral foram recomendadas atividades físicas
estendendo até o ângulo da mandíbula. Na brandas como 30 minutos diários de
semana seguinte, iniciou-se a terapia manual caminhada e alongamentos. Nos retornos
intramuscular mediante palpação dos subsequentes ao consultório, foram realizados
músculos envolvidos na mastigação, a qual exames clínicos de palpação como controle
consiste na localização dos pontos-gatilho nos referidos músculos, incluindo todo o
miofasciais (PGm). Foram localizados três trapézio, aplicada a TENS, termoterapia por
PGm. O da região superior do masseter 45 minutos e passadas orientações cognitivo-
esquerdo referiu dor como pontada dentro do comportamentais para o controle de possíveis
ouvido. Foi realizada a terapia manual hábitos deletérios. Após seis meses de
intramuscular no local onde a pressão digital acompanhamento, uma sessão por mês, a
por parte do examinador gerou dor a distância paciente recebeu alta.
do seu local de origem. A paciente relatou
sentir como uma descarga elétrica na região
onde a agulha era introduzida. O outro PGm
foi encontrado na região inferior do mesmo
músculo referindo dor como pressão em todo
o lado esquerdo da face. Foi realizada a
terapia manual intramuscular e,em seguida,
foi realizada a termoterapia no local por
20 minutos. No PGm do masseter inferior Figura 1- Localização de Ponto-Gatilho.
173
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
V
ários termos são utilizados para articulação e dor. A DTM muscular é a queixa mais
descrever os distúrbios que comum dos pacientes com distúrbios funcionais do
ocorrem no sistema sistema mastigatório. A dor muscular está associada
mastigatório como: Síndrome da Disfunção da com atividades parafuncionais e é diagnosticada
Articulação Temporomandibular, Distúrbios pela palpação ou manipulação dos músculos.
Funcionais da Articulação Temporomandibular. (OKESON, 2000).
Algumas síndromes enfatizam a dor como: a A etiologia dos pontos de gatilho (PG) foi
Síndrome da Dor Disfunção Miofascial e Síndrome explicada por Travell e Simons, os quais citaram o
da Dor Disfunção Temporomandibular. trauma, a hipovitaminose, a fadiga, as infecções
Atualmente, são utilizados termos mais amplos virais, o stress emocional e a dor profunda como
como Desordens Craniomandibulares ou Disfunção fatores prevalentes para o aparecimento desses
Temporomandibular (DTM), que inclui todos os pontos (CARAMES; CARVALHÃO; REAL,
termos associados à função do sistema 2006).
mastigatório. A articulação Temporomandibular A DTM tem sido motivo de muitas
(ATM) é certamente uma das mais complexas pesquisas na área da Odontologia, provavelmente
articulações do corpo e componente do sistema devido à grande prevalência dessas desordens na
estomatognático que está diretamente relacionada população. Acreditava-se até recentemente que a
às funções fisiológicas gerais. É responsável pelos má oclusão fosse o fator etiológico principal da
movimentos mastigatórios e pelas atividades DTM, mas estudos comprovaram que essas
mandibulares, que são classificadas como disfunções são diversas e que apresenta etiologia
funcionais, (falar, mastigar, deglutir), e em multifatorial (MARTINS; JANSON; TORUÑO,
parafuncionais, que incluem todas as atividades 2000).
realizadas sem um objetivo específico e de forma Os desequilíbrios nas dentições decídua e
inconsciente (MATHEUS et al., 2005). É do tipo permanente se constituem em possíveis fatores
sinovial, capaz de realizar movimentos de elevação, etiológicos na disfunção da ATM. Essa falta de
depressão, protrusão, retração e lateralidade da equilíbrio pode ser de origem traumática,
mandíbula. Alterações nessa articulação geram a psicossocial (que incluem fatores individuais,
DTM, caracterizando-se por uma série de sinais e interpessoais e situações variadas que bloqueiam a
sintomas. Sua causa é multifatorial, estando capacidade funcional adaptativa do indivíduo),
relacionado a fatores psicológicos, alterações genética, funcional e, frequentemente, devido a um
posturais, hiperatividade muscular, lesões nivelamento incorreto dos dentes, extrações,
traumáticas ou degenerativas da ATM ou uma inclinações axiais inadequadas, além de mecânica
combinação dos diversos fatores, podendo ocorrer ortodôntica com forças pesadas e contínuas
na população em geral, sendo mais predominante (COUTINHO et al., 2003).
no gênero feminino (BASSI; MORIMOTO; A ação do tratamento ortodôntico sobre o
COSTA, 2011; SILVA, 2007). sistema estomatognático não se apresenta
Os sintomas das DTMs articulares estão totalmente clara e a perspectiva de considerar a má
associados ao movimento condilar e são relatados oclusão como fator etiológico primário das
com sensações de estalido, travamento da disfunções temporomandibulares, faz com que a
176
ortodontia esteja associada à causa dessas realizar suas funções diárias. Após avaliação da
disfunções e, outras vezes, como solução. documentação ortodôntica, foi iniciado o
Dentre as formas terapêuticas tratamento ortodôntico. Após cinco meses de
nãoinvasivas, estão a educação/motivação do tratamento, houve relato de dor na região parotídea-
paciente; o tratamento fisioterapêutico, que provoca massetérica bilateral, de intensidade seis, com
relaxamento da musculatura; termoterapia, com maior frequência à noite. Não relatava fatores
calor úmido ou crioterapia, com a finalidade de precipitantes, mas notou que havia melhora nos dias
reduzir a espasticidade; estimulação elétrica que frequentava academia e percebeu que estava se
nervosa transcutânea (TENS); terapia cognitiva apertando durante o dia. Foi aplicado o RDC/TMD
comportamental (TCC) e dispositivos interoclusais. Eixo I e foi diagnosticada com dor miofascial
Em relação às formas terapêuticas invasivas ou bilateral em masseter com presença de pontos
minimamente invasivas são encontrados os gatilhos e abertura de 44 mm.
fármacos, laserterapia e o agulhamento seco, este Na mesma consulta, a paciente foi
último que elimina pontos-gatilho (FELICE; orientada a fazer o uso da termoterapia por 20
SANTANA, 2009; SOUZA, 2010, TORRES et al., minutos no masseter, três vezes ao dia, exercício
2012). ativo livre com a ponta da língua na papila incisiva,
O objetivo deste capítulo é relatar um caso três séries de dez repetições, três vezes ao dia e
clinico de uma paciente com dor miofascial em re- massagem em deslizamento com 20 movimentos da
gião parotídea massetérica bilateral, utilizando a origem para a inserção do masseter. Além disso, foi
termoterapia, agulhamento seco, fisioterapia e TCC orientada a evitar o apertamento dentário ao longo
como controle dos sintomas. do dia, conscientizar-se da importância da adesão
ao tratamento domiciliar, mudanças em sua mesa de
Durante a anamnese, foi detectada presença de a técnica de agulhamento seco (figura 1). Em
pontos gatilho na região de masseter e estalos nos seguida, foi aplicado o TENS e a termoterapia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
P
or definição, a disfunção aparelhos interoclusais, o mais citado na literatura é
temporomandibular (DTM), a placa de “Michigan” (GUAITA, HOGL, 2016;
constitui “um conjunto de MAYER; HEINZER; LAVIGNE, 2016) que
condições médicas e odontológicas que afetam as proporciona guias de desoclusão durante os
articulações temporomandibulares e/ou os músculos movimentos excursivos da mandíbula, sendo
da mastigação, bem como os componentes teciduais frequentemente usado à noite (ASH; RAMFJORD,
contíguos” (LEEUW, 2010). A força de mordida é 1998). O aparelho interoclusal pode agir
o resultado da coordenação entre os diversos aumentando a estabilidade entre a maxila e a
componentes do sistema mastigatório, ou seja, mandíbula, resultando numa distribuição de carga
músculos, ossos e dentes (CALDERON et al., mais equilibrada sobre o sistema mastigatório,
2006), constituindo-se num indicador do estado diminuindo, assim, os sinais e sintomas da DTM.
funcional, e o nível dos resultados dessa força é a Pode também auxiliar na estabilidade oclusal,
combinação da ação dos músculos elevadores eliminando temporariamente interferências
modificados pela biomecânica da mandíbula e pelos oclusais, o que diminui a atividade dos músculos
mecanismos de reflexo (KOK; DOGAN; BEK, elevadores da mandíbula durante o sono
2010). (CARLSSON; GUIMARÃES; MAGNUSSON,
O bruxismo, muitas vezes, pode 2008).
acompanhar o quadro de DTM. Trata-se de um O objetivo deste trabalho foi avaliar, por
distúrbio de movimento que envolve os músculos meio da terapia aplicada, a eficácia de condutas
mastigatórios, sendo provavelmente tão antigo minimamente invasivas, no controle da dor em
quanto a humanidade, sendo que várias maneiras paciente com DTM muscular e sua relação com a
diferentes têm sido propostas para definir, força de mordida.
diagnosticar e avaliar seu impacto e os potenciais
riscos para a saúde bucal e geral (CASTRILLON et DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
al., 2016). As condutas terapêuticas aplicadas para a
DTM estão cada vez mais sendo direcionadas para
Indivíduo do gênero masculino, L.L.P.B.,
o tratamento conservador, envolvendo a
40 anos de idade, com relato de bruxismo e
combinação de procedimentos como
dentição completa, avaliado segundo os critérios de
aconselhamento, terapias com placas oclusais,
diagnóstico do protocolo “Research Diagnóstic
farmacoterapia e fisioterapia (NEVES; GUIRRO;
Critéria” (RDC/TMD), Eixo I e diagnosticado
GROSSO, 1999). Neste sentido, a termoterapia
como dor miofascial com limitação de abertura, o
vem sendo utilizada por apresentar efeito relaxante
qual apresenta esta condição há pelo menos três
sobre o tônus músculo-esquelético (UMPHRED,
anos. O paciente relatou como queixa principal, dor
2004), pois propicia a vasodilatação e a circulação
na face. Na tomada de história, relatou apresentar
local que modifica as propriedades viscoelásticas
dor na região parotídea massetérica bilateral, do
teciduais, promovendo a redução da rigidez
tipo latejante, intensidade 8, por três anos. Disse
articular. Estes efeitos promovem bem estar e
ainda que realizava apertamento dental diurno e
facilitam a execução da cinesioterapia
noturno. Apresentava dor no músculo temporal
(LEHAMANN; LATEUR, 1989). Já entre os
bilateral, tipo latejante, intensidade 4, tendo como
183
fator precipitante mastigar alimentos muito duros,
além de dores na região cervical e sensibilidade nos
molares inferiores de ambos os lados. Tratamento:
consistiu de terapia cognitiva comportamental (não
apertar os dentes), termoterapia e exercícios de C D
relaxamento /alongamento muscular. Com o
tratamento, a sintomatologia dolorosa foi reduzida, Figura 2 - Placa estabilizadora de “Michigan” (A); Placa
porém o paciente queixava-se ainda de apertamento instalada: vista lateral direita (B), esquerda (C) e frente
Figura 1 - Gnatodinamômetro eletrônico, fabricado por dos sinais e sintomas no decorrer do tratamento,
Kratos Equipamentos Industriais Ltda. Modelo IDDK. sugere-se que a força de mordida aumente
(HELKIMO; CARLSSON; CARMELI, 1975).
Pelos resultados obtidos nos diferentes momentos
do tratamento, observam-se aumentos crescentes do
pico da força de mordida à medida em que ocorre o
controle da DTM, estando de acordo com a
literatura científica pesquisada (CLARK;
B
BEEMSTERBOER; JACOBSON, 1984;
HANSDOTTIR; BAKKE, 2004).
O presente trabalho visa demonstrar, por
184
meio da terapia aplicada, que condutas clínicas R. Textbook of Pain. 2a ed. Edinburgh: Churchill
Livingstone, p. 932-41, 1989.
minimamente invasivas são eficazes para o
aumento da força de mordida e controle da dor dos MAYER, P.; HEINZER, R.; LAVIGNE, L. Sleep
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Capítulo 25
Cefaléia tipo tensional x disfunção
temporomandibular: importância
do diagnóstico diferencial
D
isfunção temporomandibular aperto (não pulsátil), intensidade fraca a moderada,
(DTM), segundo a American podendo inibir mas não impedir as atividades do
Academy of Orofacial Pain indivíduo. O objetivo desse caso clínico é apresentar
(AAOP), é um termo coletivo que abrange vários uma manifestação simultânea de cefaléia tipo
problemas clínicos que envolvem a musculatura da tensional e disfunção temporomandibular ressaltando
mastigação, a articulação temporomandibular (ATM) a importância de uma correta anamnese para
e as estruturas associadas. Os sintomas mais diagnóstico diferencial e condução do tratamento.
frequentemente relatados pelos pacientes são: dores
na face, ATM e/ou músculos mastigatórios, dores na DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
cabeça e na orelha. Outros sintomas relatados pelos
pacientes são as manifestações otológicas como Paciente M.A.A.S., 24 anos, gênero
zumbido, plenitude auricular e vertigem (DE feminino, procurou a Clínica de Reabilitação Oral da
LEEUW, 2010). Universidade Estadual de Montes Claros com queixa
LUPOLI & LOCKEY (2007) relataram que de dor de cabeça e estalido bilateral na articulação
as cefaléias são uma das queixas mais comuns da temporomandibular (ATM) há aproximadamente 4
população em geral e situam-se entre as dez anos. A dor de cabeça possuía localização na região
condições sintomáticas mais comuns apresentadas às frontal da face, sendo caracterizada como tipo
clínicas médicas, principalmente neurologistas. pressão, frequência diária e duração contínua, com
Pacientes com DTM apresentam cefaléias como um intensidade 6 na escala visual analógica de 0 a 10.
dos seus sintomas principais, quando não o único. Como fator de melhora, relatou o uso de fármaco
Diversos estudos mostram similaridades (Dipirona Sódica 500mg – 1 vez ao dia); e piora com
entre estas duas condições no que se refere à intensa movimentação da mandíbula e ao ficar na
sensitização das vias nociceptivas, disfunção dos frente do computador.
sistemas endógenos moduladores de dor, O estalido na ATM, com localização
componentes de contração muscular, além de bilateral, ocorria sempre ao abrir a boca. Presença de
alterações funcionais e posturais (SVENSSON, histórico de travamento de boca aberta há oito anos,
2007). durante um tratamento odontológico. Há sete meses
Franco (2009) avaliou a prevalência de relatou ter apresentado limitação de abertura de boca
cefaléias primárias em adultos com DTM, sendo que por 30 dias, acompanhada de dor. Nessa ocasião, fez
a amostra foi constituída de 158 diagnosticados pelo uso de Miosan 5mg para alívio da sintomatologia.
RDC/TMD e 68 pertencentes ao grupo controle. com Durante tomada de história, a paciente
DTM. A migrânea foi o subtipo mais comum relatou presença de hábito parafuncional como
(53,2%%) dentre as cefaléias nos pacientes com apertamento diurno e noturno; hábito de apoiar o
DTM, seguido da cefaléia tipo tensional (29,1%). mento com as mãos. Relatou ser ansiosa, não fazendo
A Sociedade Internacional de Cefaléia uso de medicamentos ou terapia para esse quadro. Foi
caracteriza a cefaléia tipo tensional como sendo de aplicada a Escala HAD para avaliação do nível de
localização frontal, dor de caráter de pressão ou ansiedade e depressão, obtendo-se para o quesito
187
ansiedade um escore de 8 (possível) e para o quesito
depressão um escore de 3 (improvável).
Ao exame clínico intraoral, não se observou
nenhuma alteração das estruturas e, ao exame
muscular, obteve-se como resultado presença de
fadiga muscular no músculo masseter direito e
esquerdo, sem presença de dor referida.
A hipótese diagnóstica foi de cafaléia tipo
tensional associada à DTM. Paciente foi encaminhada
ao neurologista,tal hipótese foi confirmada e a mesma
submetida ao tratamento. .
Figura 3 - Confecção da placa miorelaxante em ASA.
No âmbito odontológico, foi realizado
tratamento para fadiga muscular (TENS e
termoterapia), Terapia Cognitiva Comportamental
acerca dos hábitos parafuniconais e confecção de
placa de Michigan para proteção durante o sono.
REFERÊNCIAS
A
Disfunção Temporomandibular músculos da mastigação também são
(DTM) é um conjunto de frequentemente envolvidos com PGm. A dor
distúrbios que envolvem os referida normalmente segue um padrão
músculos da mastigação, a articulação característico para cada músculo. PGm em
temporomandibular (ATM) e estruturas associadas. temporal, masseter, esternocleidomastóideo e
Os sintomas mais frequentes são dores na face, trapézio são a maior fonte de dor miofascial
ATM, músculos mastigatórios, dores na cabeça e referida para estruturas craniofaciais (RUBIN,
região pré-auricular; além de sinais como ruídos da 1981). Segundo ROHLING et al. (2003),
ATM, limitação e/ou assimetria dos movimentos analisando pacientes com desordem
mandibulares (CARRARA; CONTI; BARBOSA, temporomandibular, as áreas mais afetadas pela dor
2010). A DTM é a principal causa de dor de origem referida por PGm em masseter,
não dentária na região orofacial (LERESCHE, esternocleidomastóideo e trapézio são a região
1997), sendo que 40% a 75% da população temporal, ATM, e “orelha”.
apresenta, ao menos, um sinal e 33%, ao menos um Dentre as formas terapêuticas estão a
sintoma (DE LEEW, 2009). educação/motivação do paciente; o tratamento
Dworkin & Le Resche (1992) propuseram fisioterapêutico, que provoca relaxamento da
um instrumento (RDC/TMD) que permitisse uma musculatura; termoterapia, com calor úmido ou
mensuração confiável de sinais e sintomas de crioterapia, com a finalidade de reduzir a
desordens temporomandibulares (Eixo I), bem espasticidade; estimulação elétrica nervosa
como fatores psicológicos e psicossociais transcutânea (TENS); terapia cognitiva compor-
associados (Eixo II)., pois até então, não existia um tamental (TCC) e dispositivos interoclusais
critério diagnóstico para DTM que fosse consenso (GUIMARÃES, 2012).
na literatura. O Eixo I do RDC/TMD refere-se às O objetivo desse trabalho é relatar um caso
condições físicas apresentadas na DTM, clinico de uma paciente com DTM muscular em re-
classificando-as em Desordens Musculares, gião de masseter e temporal bilateralmente,
Articulares e Degenerativas. utilizando a termoterapia, agulhamento seco,
As DTMs de origem muscular são fisioterapia e TCC.
caracterizadas pela dor, hipersensibilidade, fadiga e
rigidez muscular. As áreas enrijecidas no tecido DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
muscular são hipersensíveis à palpação e são
conhecidas como pontos de gatilho miofasciais Paciente de 38 anos, gênero feminino,
(PGm) ou trigger-points. O PGm é uma discreta graduada em Educação Física, trabalha como
elevação focal de hiperirritabilidade, com tamanho vendedora externa, compareceu ao Consultório
entre 2 e 5 mm, localizada em uma banda tensa de Odontológico relatando “dor de cabeça do lado
músculo esquelético, ligamentos, tendões, periósteo direito, cansaço no maxilar e irritação na orelha
e pele. Ao ser comprimido manualmente provoca esquerda”. Durante a tomada de história pregressa
dor localizada, além de poder ocasionar dor da moléstia atual (HPMA), dividimos as queixas
referida, muita sensibilidade, sintomas no sistema em 3 para melhor diagnóstico e compreensão:
nervoso autônomo e restrição dos movimentos. Os • Queixa 1: dor na região parotídeo-
191
massetérica, iniciada há cinco anos, do temporal levaram ás queixas principais da paciente.
tipo cansada, inicialmente de intensidade 3 Após a rrealização da anamnese e do
e atualmente 8 na escala numérica de 1 a exame físico completo, chegou-se ao diagnóstico
10, ocorrendo ao menos três vezes por final de dor miofascial nos músculos masseter e
semana, no período da manhã e/ou início temporal bilateral e cervicalgia como condição
da noite, com duração aproximada de três comórbida associada.
horas. Não relatava fator precipitante e
para alívio dos sintomas, realizava
automassagem e medicação (Doricin-
Relaxante Muscular).
• Queixa 2: Dor de cabeça na região
temporal e orbital do lado direito, tipo
pressão e intensidade 9. Frequência
quinzenal e tempo de duração de poucas
horas até o dia inteiro. Não relatava
horários mais frequentes ou fator
Figura 1 - Localização do Ponto Gatilho e Dor Referida
precipitante.
Lado Esquerdo.
• Queixa 3: Dor na região auricular (orelha
esquerda), iniciada há 8 anos, tipo ardente,
intensidade 6, com ocorrência de ao menos
3 vezes no mês e normalmente no período
noturno. Não apresentava fator
precipitante. Realizava fricções com os
dedos para aliviar os sintomas.
Relatou que se submeteu a cirurgia para
correção de desvio de septo há 8 anos, acreditando
estar associada com o início das dores.
Paciente se considerava ansiosa, relatou
hábito de apertamento dentário diurno e noturno
(relato do marido). Durante a HPMA, foi Figura 2- Localização do Ponto Gatilho e Dor Referida
Lado Direito.
observadoo lábio inferior sendo mordido pela
mesma diversas vezes.
A avaliação muscular mostrou uma
palpação dolorida, com PGm nos músculos
(masseter, temporal, cervicais, trapézio e
esternocleidomastóideo), rigidez muscular e
dificuldade de realização de movimentos de
pescoço. As figuras 1, 2 e 3 demonstram os locais
de dor nos músculos palpados e a região de dor
referida (seta). A palpação dos PGm do masseter e
192
REFERÊNCIAS
O
autotransplante consiste na et al., 2015). A continuidade do desenvolvimento
extração de um elemento dentário e radicular e aumento da espessura da parede dentinária é
seu reposicionamento no alvéolo de alcançada com esse protocolo (KIM et al., 2010;
outro dente preferencialmente recém extraído, em um WANG et al., 2010; LIMOEIRO et al., 2015).
mesmo indivíduo. (NATIELLA et al., 1970). Os O objetivo deste relato de caso é demonstrar
primeiros molares permanentes são as unidades que é possível manter um dente em função após o
dentárias comumente indicadas para exodontia por autotransplante. (MENDOZA et al., 2010).
serem acometidas por cáries extensas, complicações
periapicais, fraturas e problemas periodontais. O DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
transplante autógeno é uma opção para casos de perda
prematura de dentes em pacientes jovens, como Paciente gênero feminino, 17 anos de idade,
alternativa a implantes e próteses fixas (TROPE, 2002; compareceu ao consultório com o propósito de realizar
BAE et al., 2010; JANG et al., 2013). No entanto, a exodontia do elemento dentário 46. Ao exame clínico,
revascularização pode fornecer à pacientes jovens um observou-se extensa restauração com margens
funcional serviço por muitos anos, o que é uma opção infiltradas. Radiograficamente, o dente apresentava
muito melhor do que ter uma prótese artificial. Além infiltração coronária da restauração e imagens
disso, os implantes são contraindicados para pacientes sugestivas de lesão periapical (figura 1A). Após
jovens. (LIN; RICUCCI; HUANG, 2013). conversar com a mãe da paciente e explicar as
A taxa de sucesso estimada de transplante de possíveis opções de tratamento, a mesma insistiu na
terceiro molar permanente com rizogênese incompleta extração do dente. Nova tomada radiográfica foi feita
varia de 74 a 100% (WANG et al, 2010). no intuito de avaliar a unidade 48, para possível
Se autotransplantado com sucesso, um dente realização de transplante dental (figura 1B). Após a
natural oferece as seguintes vantagens importantes realização das medidas nas radiografias digitais, foi
sobre um implante: ele irá preservar o ligamento verificado que seria possível o autotransplante.
periodontal, que irá tolerar movimentação ortodôntica,
e vai permitir o desenvolvimento adequado do osso
alveolar (COHEN et al.,1995; NETHANDER, 1995).
A regeneração pulpar é possível acontecer em
dentes permanentes autotransplantados que apresentam
o ápice aberto (BAE et al., 2010). No caso clínico
apresentado, não ocorreu a revascularização biológica,
sendo necessário realizar a revascularização induzida.
Revascularização pulpar pode ser definida
como a invaginação de células indiferenciadas da
região apical de dentes de pacientes jovens com ápice
Figura 1A – Radiografia periapical inicial.
aberto (ZHANG, YELICK, 2010, DUDEJA et al.,
2015, LEI et al., 2015).
A estimulação do coágulo sanguíneo permite
o crescimento tridimensional de um novo tecido (LEI
197
Figura 2A – Imediatamente após autotransplante. Produtos Odontológicos, Belo Horizonte, MG) por 3
min, seguido por 10 mL de solução salina. Depois de
30 dias de medicação intracanal com
ultracal(Ultradent), o dente foi irrigado com hipoclorito
a 2,5%, seco com pontas de papel absorvente
(Dentsply/Maillefer).
Com um instrumento tipo K
198
#20(Dentsply/Maillefer) inserido 3 mm além do manter o dente em função nos casos de perda
comprimento de trabalho, o sangramento foi induzido prematura dos molares permanente, tendo como uma
nos três condutos. Aguardou-se a formação do coágulo das vantagens o baixo custo da técnica.
para então colocar o MTA (Angelus). A unidade foi O sucesso do procedimento está diretamente
restaurada com resina composta (Z350, 3M ESPE, São relacionado com a correta manipulação do dente
Paulo, SP). Todo o procedimento foi realizado com o transplantado, sem danificar o ligamento periodontal,
auxílio do microscópio operatório (Alliance, São com o preparo adequado do alvéolo receptor, além do
Carlos, SP). tempo extra-alveolar da unidade doadora (MENDOZA
A proservação foi realizada 1 ano após o et al., 2010; JANG et al., 2013).
procedimento de revascularização, observando-se que
houve fechamento dos ápices radiculares e que o dente REFERÊNCIAS
mantém-se em função (figura3A e 3B).
E
m 1955, Kuttler afirmou que a apresenta como vantagens a remoção de dentina
anatomia apical tende a ser infectada e o acesso de irrigantes ao terço apical do
imprevisível e não uniforme canal radicular. Por isso que, desde o estudo clássico
(WALTON; TORABINEJAD, 1997). de Ingle, grande ênfase tem sido dada ao limite apical
Anatomicamente, a “zona crítica apical” está situada da instrumentação e obturação, que consiste numa das
no interior dos 3-4 milímetros do ápice radicular e controvérsias da endodontia ainda sem solução.
corresponde ao canal radicular apical, o forame e suas (COHEN; HARGREAVES, 2007).
ramificações próprias (DEUS, 1992). Segundo Durante a modelagem do canal, com
Ricucci e Siqueira Junior (2008), estas ramificações instrumentos manuais ou rotatórios, há extrusão de
apicais têm abrigado células bacterianas, detritos, mesmo mantendo o preparo convencional
frequentemente organizadas em Biofilme. (NAIR et al., 2005). Burklein et al. (2012) sugerem
Com o intuito de melhorar a acesso a esta que os sistemas reciprocantes tendem a empurrar mais
região e facilitar sua limpeza, alguns autores, como detritos, bactérias e irrigantes através do forame do
Silva et al. (2013) e Cruz Júnior et al. (2016), realizam que os sistemas convencionais de instrumentação. Isto
a ampliação foraminal. O alargamento intencional do é pensado devido ao preparo mais rápido, usando
forame pode superar os limites da irrigação e somente um instrumento, além do movimento de vai e
potencializar a desinfecção (FERNERY et al., vem que pode compactar detritos para irregularidades
2010),visto que o tratamento endodôntico visa no canal radicular e empurrá-los para além do forame
controlar a infecção, oferecendo condições para que (DIETRICH et al., 2012), podendo aumentar o risco
ocorra a reparação e que a maioria dos micro- de complicações com flare-ups. Deste modo, o
organismos é oportunista, causando doenças somente controle adequado do comprimento de trabalho (CT)
quando está no interior do canal radicular pode reduzir a extrusão de materiais através do
(HIZATUGU et al., 2002). forame, mas não evitar por completo esta (SELTZER;
No entanto, uma das principais preocupações NAIDORF, 1985).
quando se adota este limite de instrumentação é a Desde 2008, quando Yared descreveu uma
possibilidade de dor pós-operatória. Esta é técnica de preparo de canais radiculares utilizando
considerada uma sensação indesejada ainda, apenas um instrumento F2 (25.08) do sistema Protaper
infelizmente, comuns após intervenções endodônticas em movimento reciprocante (movimento que tem
e tem sido relatada após endodontias em 25% - 40% como ideia base as forças balanceadas de Roanne), m
dos casos, incluindo aqueles com polpa vital e não uitas especulações e pesquisas têm sido feitas na
vital (NEKOOFAR et al., 2003). tentativa de minimizar os riscos envolvidos no preparo
Durante a limpeza e modelagem dos canais radicular com instrumentos rotatórios de níquel-titânio
radiculares, pode ocorrer a extrusão de uma pequena (NiTi), e devido às vantagens dos instrumentos
quantidade de tecido pulpar remanescente e raspas de reciprocantes, como uso de instrumento único e liga
dentina. Frequentemente, esta extrusão resulta em de NiTi denominado M-Wire que confere maior
inflamação adicional e algum desconforto pós- resistência à fadiga cíclica, maior força e resistência
operatório. Além disso, o risco de extrusão de ao desgaste em comparação com os instrumentos
irrigantes e materiais obturadores consiste numa feitos de fios de NiTi super elásticas convencionais
desvantagem do preparo apical amplo. Entretanto, por causa de sua microestrutura martensítica nano-
203
cristalina única (YE; GAO, 2012). Além disso, o
movimento reciprocante diminui o estresse axial sobre
o instrumento e aumentam remoção de detritos
(ÇAPAR; ARSLAN, 2016).
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Capítulo 29
Abscesso periapical crônico: relato
de caso clínico
A
pesar dos avanços no que diz face. A paciente mencionou que estava em tratamento
respeito à prevenção e ao médico há 19 meses. O diagnóstico sugerido pelo
tratamento, as infecções médico foi de abscesso cutâneo. Assim, inicialmente, o
odontogênicas ainda acometem frequentemente a tratamento deu-se com a terapia antibiótica
população. Infecções iniciais como cáries e doenças (Cefalosporina) e drenagem, o qual não obteve sucesso.
periodontais, se não tratadas precocemente, podem Em virtude disso, em um segundo momento, sugeriu-se
evoluir e disseminar-se para as regiões perirradiculares a realização de uma biópsia excisional, da qual se
e para os tecidos profundos da face (FLYNN, 2009). obteve o diagnóstico histopatológico de processo
O abscesso periapical crônico consiste em inflamatório supurativo crônico. O tratamento também
uma lesão inflamatória de origem pulpar cuja não logrou êxito, levando à uma nova tentativa de
característica é a presença de uma infecção de longa intervenção cirúrgica. O resultado obtido, novamente,
duração. Esse tipo de patologia está sempre associado a não foi satisfatório e a paciente foi, então, direcionada
um trajeto que une a área da origem da infecção à área para um cirurgião-dentista, especialista em cirurgia
onde a secreção purulenta é drenada, conhecido como bucomaxilofacial. Fortuitamente, por meio de uma
fístula. Ela é considerada o sinal patognomônico dessa tomografia computadorizada da face, houve a suspeita
condição e sua localização pode ser intra ou extraoral, do envolvimento do elemento 22 como fonte do
enquanto que a drenagem pode ser intermitente ou problema, já que o laudo apontou um pequeno foco de
contínua (SIQUEIRA JUNIOR; RÔÇAS; LOPES, erosão da cortical jugal da maxila localizado nessa
2011). área. Procedeu-se, assim, o encaminhamento para um
A coleção purulenta será drenada pela via de endodontista, que, ao exame clínico, observou a
menor resistência e alguns fatores como grupo dental, presença de fístula extraoral na área superior do sulco
posição da raiz, espessura óssea e ponto de inserção nasogeniano com aproximadamente 1cm em sua maior
dos músculos da face irão influenciar na disseminação. extensão (figura 1). Notou-se, na radiografia periapical,
Nos casos de fístula extraoral, muitas vezes, o que o elemento 22 possuía uma restauração próxima à
diagnóstico torna-se dificultado e necessita de uma câmara pulpar e uma lesão periapical envolvendo o seu
minuciosa investigação (ARAÚJO FILHO; ápice (figura 2).
CABREIRA; CHIESA, 2011).
A comunicação entre profissionais de saúde é
importante para a definição do diagnóstico e para evitar
que ocorram erros nessa etapa, o que levaria a um mau
planejamento e, consequentemente, à condução de um
tratamento errôneo e ineficaz para o paciente (MUSSO;
FREGNANI; MURGEL, 2012).
Foi realizada anestesia infiltrativa com Figura 4 – Odontometria realizada com a utilização de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Gabriel Galvão
Paula Tereza Vardasca de Oliveira Galvão
Hélio Katsuya Onoda
Carlos Eduardo Fontana
Carlos Eduardo da Silveira Bueno
221
endodontia é a especialidade de informações obtidas de radiografias periapicais
A odontológica
diagnóstico,
responsável
tratamento
prevenção de doenças ou injúrias
ao tecido pulpar e periapical. O tratamento endodôntico
pelo
e
capturadas digitalmente ou com filmes convencionais
mostra-se limitada, já que a anatomia tridimensional da
área radiografada se apresenta em
bidimensional. Além disso, também podem existir
imagem
é um meio efetivo, seguro e que possui alta distorções geométricas das estruturas anatômicas
previsibilidade na preservação dos dentes que,de outra (GRÖNDAHL; HUUMONEN, 2004; HUUMONEN et
forma, estariam perdidos (PINTO et al., 2011), porém al., 2006; ROSSI et al., 2014).
o insucesso poderá ocorrer mesmo que o profissional A tomografia computadorizada (TC) é uma
siga todos os protocolos de sanificação, devido à tecnologia que oferece informações de relevância
resistência microbiológica e as nuances da anatomia clinica, que não podem ser colhidas pela radiografia
dental interna, caracterizando assim, como infecções convencional, elucidando informações precisas como
secundárias e persistentes (RICUCCI; SIQUEIRA, espessura óssea, posição correta de feixes vásculo-
2008; OTANI et al., 2011). nervosos e estruturas anatômicas importantes obtidas
A presença do biofilme apical está relacionado no diagnóstico que permitem um melhor planejamento
com a maioria dos casos de infecções supracitadas e as do tratamento cirúrgico e resultados mais previsíveis
bactérias estão localizadas em regiões de difícil acesso (LIMA et al., 2010). A capacidade de avaliar áreas
como dentro de túbulos dentinários ou até fora do canal patológicas e anatômicas em três dimensões mostra-se
radicular, induzindo danos aos tecidos periapicais, vantajosa, pois elimina a sobreposição inerente à
resultando em periodontites apicais (STUART et al., imagem radiográfica convencional. (VELVART et al.,
2006; RICUCCI; SIQUEIRA, 2008). Diante de um 2001; COTTON et al., 2007; MATHERNE et al.,
fracasso endodôntico, a primeira opção recai sobre o 2008).
retratamento, mas quando a tentativa de conter os A técnica da cirurgia parendodôntica mais
micro-organismos na porção apical e periapical não for aceita consiste na exposição e ressecção do ápice
possível ou solucionável por meio do acesso coronário, radicular de aproximadamente 3 mm a fim de eliminar
a cirurgia parendodôntica se torna complemento da os deltas apicais, canais acessórios e canais laterais,
terapia endodôntica convencional (GOMES et al., sendo estas regiões citadas como umas das causas de
2003; OTANI et al., 2011). O principal objetivo da falhas após o tratamento endodôntico, pois não são
cirurgia periapical é remover o foco infeccioso e selar o visíveis nas radiografias e podem estar contaminados
sistema de canais radiculares, permitindo, assim, a ou abrigando material necrótico. (ABED; INGLE,
cura, sendo considerado a última opção de tratamento 1995; LIMA et al., 2010).
antes do extração do elemento dental (OTANI et al., O Agregado de Trióxido Mineral (MTA),
2011). atualmente tem sido empregado como material
Antes de iniciar a cirurgia é importante retrobturador de escolha nos tratamentos cirúrgicos
realizar um correto planejamento, levando em endodônticos por possuir muitas vantagens como:
consideração a extensão precisa da lesão apical, bem selamento apical, menor infiltração bacteriana, pouca
como o posicionamento dental no arco e da anatomia influência do sangue e da umidade, baixa citoxicidade,
radicular. Sendo o RX periapical é essencial para o boa resistência à compressão, adequada radiopacidade,
diagnóstico auxiliando na macro avaliação da extensão efeito antimicrobiano com capacidade osteoindutora, o
patológica e sua localização. No entanto, a quantidade que torna um material extremamente promissor em
222
obturações retrógradas quando comparado aos outros Reintervenção endodôntica
materiais, sendo o longo tempo de presa como a única Iniciou-se esta etapa com aplicação de
desvantagem (ABEDI. et al., 1995; XAVIER et al., anestesia infiltrativa supraperiostal com um tubete de
2001; LIMA et al., 2010). lidocaína 2% com epinefrina 1:100.000 (Nova DFL,
Existem vários fatores que interferem no Rio de Janeiro – Brasil). Após o período de latência do
prognóstico da cirurgia periapical, dentre eles anestésico local, realizou-se abertura coronária com
destacamos: a condição sistêmica do paciente, brocas diamantadas esféricas 1014 HL e, em seguida o
anatomia do dente envolvido, quantidade e localização isolamento absoluto.
de reabsorção óssea, qualidade prévia do tratamento ou A remoção do material obturador do dente 12,
retratamento realizado, grau de microinfiltração oclusal e a modelagem do canal radicular, foram realizados
nas restaurações, materiais cirúrgicos retrobturadores, com as limas Reciproc R40 (VDW, Munique -
técnica envolvida, bem como a habilidade e Alemanha), irrigados com hipoclorito de sódio 2,5%
experiência do cirurgião (RUD et al., 1972; LIMA et (Pharmacêutica, Campo Grande, Brasil) e limas
al., 2010; OTANI et al., 2011). manuais K-File (Maillefer, Ballaigues, Suíça). As
etapas de instrumentação e irrigação foram realizadas
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO com auxílio de um microscópio operatório (Alliance,
São Carlos, Brasil) e ultrassom (Dabi Atlante, Ribeirão
Paciente de 41 anos, gênero feminino, Preto, Brasil) para realização da irrigação ultrassônica
compareceu a uma clínica particular na cidade de passiva com inserto Irrisonic (Helse, Santa Rosa de
Campo Grande (MS), com queixa principal de Viterbo, Brasil).
insatisfação estética anterior e desconforto na região. Ao final da primeira sessão, a dilatação apical
Ao exame clínico, elemento 12 apresentava tratamento ou batente apical foi estabelecida em K-File #50, o
endodôntico insatisfatório, com imagem radiolúcida canal radicular seco e preenchido com medicamento
sugestiva de lesão periapical e o elemento 11 não intracanal à base de hidróxido de cálcio, Calen PMCC
respondeu ao teste térmico. Ao teste percussão vertical (SS White, Rio de Janeiro, Brasil).
e horizontal, ambos responderam positivo. Decidiu-se
com a anuência do paciente, consentimento informado
e assinado pelo mesmo, pela reintervenção endodôntica
nº 12 e tratamento endodôntico 11 como primeira
opção de tratamento.
até que houvesse seu travamento total; em seguida, a bovino inorgânico liofilizado Lumina Bone Porous
porção de guta extravasada foi removida com Large (Criteria, São Paulo - Brasil) (figura 8) e
instrumento aquecido do tipo Touch in Heat protegido por uma membrana de colágeno bovino
(SybronEndo Corporation, West Collins Orange - Lumina-Bone (Criteria, São Paulo - Brasil) para guiar a
EUA), e obteve-se, então, o cone calibrado na medida regeneração dos tecidos, prevenindo a invaginação do
real do tamanho do dente. A etapa de obturação tecido epitelial para interior da cavidade (figura 9).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aplicando o movimento
reciprocante no retratamento
endodôntico de primeiro molar
inferior com presença de canal
mésio medial
O
tratamento endodôntico tem como coronária em resina composta no dente 36 com lesão
objetivo principal a redução de cárie ativa na face distal, ausência de contatos
microbiana do interior do sistema oclusais prematuros, hábitos parafuncionais ou doença
de canais radiculares (BÜRKLEIN et al., 2012) visto periodontal, e sintomatologia dolorosa à percussão
que a etiologia das doenças pulpares e perirradiculares vertical. O elemento dentário havia sido tratado
está diretamente associada à presença de micro- endodonticamente há aproximadamente um ano,
organismos (KAKEHASHI et al., 1965). conforme relato do paciente, e apresentava obturação
O reconhecimento da anatomia dentária torna- endodôntica mal qualificada radiograficamente (figura
se essencial para a adequada limpeza e modelagem dos 1).
canais radiculares durante o tratamento endodôntico. A Planejou-se, então, o retratamento
persistência de patologias periapicais após a terapia endodôntico. Foi executada anestesia de bloqueio
endodôntica se deve principalmente à manutenção da regional com lidocaína 2% + epinefrina 1:100.000
infecção intrarradicular, e esta pode estar relacionada a (Nova DFL, Rio de Janeiro/RJ – Brasil) e isolamento
canais não localizados e/ou não instrumentados e absoluto do dente 36 com dique de borracha e grampo
debridamento e desinfecção insuficientes. 14 (SS White Brasil, Rio de Janeiro/RJ – Brasil).
O primeiro molar inferior comumente
apresenta duas raízes, uma mesial com dois canais
(mésio lingual (ML) e mésio vestibular (MV) e uma
raiz distal, com um ou dois canais. Um terceiro canal
na raiz mesial foi descrito na literatura pela primeira
vez em 1974, por Vertucci e Willians. Esse canal está
localizado em um sulco de desenvolvimento presente
na raiz mesial entre os canais ML e MV, é denominado
de canal mésio medial (MM) e está presente entre 1% a
15% dos molares inferiores (VERTUCCI, 2005; LA et
al., 2010).
Figura 1 – Radiografia inicial.
U
m dos assuntos que gera discussão normalidade dos tecidos periapicais, sua estética e
em Endodontia é o tratamento e função (HIZATUGU et al., 2002).
retratamento endodôntico em Sabe-se que o tratamento endodôntico em
sessão única de dentes com periodontite apical. . Os consulta única é uma opção de conduta biologicamente
fatores que devem ser considerados na escolha do possível, pois apresenta resultados clínicos bastante
tratamento, se em única sessão ou em mais de uma, são satisfatórios, tanto no período pós-operatório, quando
o treinamento e experiência clínica do operador, as é semelhante aos obtidos em múltiplas sessões, quanto
condições do dente (vitalidade pulpar ou não, no índice de sucesso que, em longo prazo, é semelhante
sintomatologia ou não e presença ou não de inchaço), aos tratamentos realizados com o uso de medicação
tempo adequado de tratamento, assim como intra-canal entre as sessões (HIZATUGU et al., 2002).
considerações anatômicas e biológicas do dente A sessão única oferece vantagens como:
(CHAGAS et al., 2000). menor tempo para restabelecer a estética e função do
As vantagens da realização em única sessão dente, economia, prevenção de contaminações entre as
devem ser consideradas: a redução do risco de micro sessões e maior satisfação do paciente (SOARES,
infiltração coronária entre sessões, em casos de 2001).
necessidade estética para a imediata instalação de um
pino, redução dos custos, entre outras. O principal DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
objetivo quando se realiza um tratamento endodôntico
é a obtenção do sucesso em termos de prevenção ou, Paciente do gênero feminino, 50 anos,
quando necessário, auxiliar o organismo na cura de procurou atendimento por razões estéticas, portadora
doenças como a periodontite apical e também da Síndrome de esclerose lateral amiotrófica (ELA).
minimizar o desconforto do paciente (FIGINI et al., Devido à dificuldade de comparecer ao consultório, as
2008). consultas sempre eram estendidas e o tratamento foi
A cada dia existe uma necessidade maior de realizado no menor tempo possível.
agilizar a Endodontia, no sentido de acompanhar o Os exames clínicos e radiográficos indicaram
ritmo da vida moderna, sem, contudo, reduzir a alterações apicais e tratamento endodônticos prévios
qualidade do tratamento. A endodontia de consulta insatisfatórios nos dentes 24, 25, 26 e 27. Após as
única pode ser executada com sucesso, se os explicações das opções terapêuticas para a paciente,
profissionais escolherem seus casos cuidadosamente, e optou-se pelo tratamento dos 24, 25 e 26 que
se basearem nos princípios endodônticos fundamentais. receberiam recobrimento posterior e reabilitação
As evidências atuais indicam não haver aumento na dor protética.
pós-operatória ou diminuição do tempo de recuperação,
quando comparada à endodontia de consultas múltiplas
(SILVA et al., 2013).
O processo científico e tecnológico, aliado aos
atuais conhecimentos biológicos, são fatores
fundamentais que permitem a realização do tratamento
em apenas uma consulta, com o objetivo de oferecer
condições para que o organismo restabeleça além da
234
Após constatação radiográfica, seguiu-se com
a obturação utilizando os cones de guta-percha
Reciproc e o cimento AHPlus, seguido de compressão
hidráulica. Foi realizado selamento coronário com
material temporário, pois, após a consulta, a paciente já
realizaria os preparos e moldagens para EMAX.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Graziella Bittencourt
Flavio Xavier de Almeida
Renata Correia Sotero Dália
João Batista Gagno Intra
Augusto Shoji Kato
Carlos Eduardo da Silveira Bueno
237
A
s fraturas corono-radiculares são O tracionamento dental mediato rápido
traumatismos comuns decorrentes fornece espaço para o epitélio juncional e inserção
de forças horizontais. A ocorrência conjuntiva, pela movimentação axial do dente com
dessas fraturas pode comprometer a estética, função, dispositivos ortodônticos móveis ou fixos. Esta técnica
oclusão e a saúde periodontal pela desorganização das exige maior tempo de tratamento, em função dos
estruturas do espaço biológico. períodos de tração, contenção, e a cooperação do
As distâncias biológicas neste espaço referido paciente para obtenção dos resultados esperados
compreendem desde a margem gengival até a crista (MAGINI, 1997). O reimplante intencional rotacional
óssea, envolvendo sulco gengival biológico, epitélio ou reimplante dental imediato consiste em realizar,
juncional e inserção conjuntiva: as estruturas que cirurgicamente, a extração dental e sua colocação em
compõem o periodonto de proteção. Esta região uma posição mais coronária, permitindo que o
representa o selamento biológico, isto é, a barreira remanescente ganhe mais estrutura, possibilitando um
protetora contra a penetração de micro-organismos e melhor restabelecimento restaurador, recuperando o
seus produtos (toxinas, enzimas e produtos finais do espaço biológico sem prejuízo da relação coroa
metabolismo) no tecido conjuntivo subjacente e demais clínica/raiz no mecanismo de transmissão de forças.
tecidos de suporte, incluindo o periodonto de O reimplante intencional também é uma opção
sustentação (REEVES, 1991). de tratamento em casos de perfurações radiculares em
A desorganização deste espaço biológico é um locais de difícil acesso endodôntico ou cirúrgico.
fator determinante no estabelecimento do processo (BRAMANTE; BERBET, 2000).
inflamatório, por interferir no vedamento, provocando Segundo Bender e Rossman (1993), o
um desequilíbrio na relação bactéria-hospedeiro e levar procedimento deverá ser contraindicado em dentes com
à perda de inserção com migração apical do epitélio doença periodontal com acentuada mobilidade ou que
juncional. apresentem inflamação gengival em ambiente tecidual
Para se restabelecer as distâncias biológicas contaminado. De acordo com Fariniuk et al. (2003), o
invadidas existem procedimentos terapêuticos como a sucesso do tratamento de reimplante intencional está
técnica de osteotomia e osteoplastia com diretamente relacionado à correta seleção dos casos,
posicionamento apical do retalho, o tracionamento baseado em avaliações clínicas e radiográficas.
dental mediato rápido ou o tracionamento imediato. Este capítulo objetiva apresentar um caso
(MAGINI et al., 1997). clínico no qual foi utilizada a técnica do Reimplante
A técnica ressectiva realiza a remoção do Intencional Rotacional, fazendo com que o dente
periodonto de sustentação do elemento dental ocupasse uma posição diferente dentro do alvéolo,
traumatizado e dos dentes adjacentes, para obtenção da permitindo, assim, que o término da fratura ficasse em
arquitetura óssea paralela à junção cemento-esmalte, posição supra gengival.
com subsequente posicionamento apical do retalho.
Entretanto, por razões estéticas, a técnica é
contraindicada para dentes na região anterior,
especialmente em pacientes que apresentam linha de
sorriso com alta exposição da margem gengival.
238
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO A extensão da fratura levou-nos a selecionar a
técnica do Reimplante Intencional com rotação de
O paciente E.A.C. de 21 anos, compareceu à 180º. Inicialmente, realizou-se a remoção de
clínica de Cirurgia Bucomaxilofacial I da UFES fragmentos fraturados da coroa clínica ainda aderidos à
(Universidade Federal do Espirito Santo) com fratura gengiva. Em seguida, foi feita a incisão intrasulcular
corono-radicular e extenso comprometimento do em bisel invertido, com a preservação das papilas. A
espaço biológico na face vestibular dos incisivos exodontia foi realizada com leves movimentos de
centrais superiores (11 e 21) (figuras 1 e 2). rotação para evitar a compressão do ligamento
periodontal contra a parede do alvéolo em decorrência
da luxação vestíbulo – palatina. (figura 3).
Figura 2 – Radiografia inicial dos incisivos centrais Figura 4 - Reimplantes com rotação de 180º revelando a
superiores com fraturas corono-radiculares, destacando o inversão das faces livres dos remanescentes radiculares dos
comprometimento dos espaços pulpares. incisivos centrais superiores posicionados.
239
A contenção dos elementos dentais foi
realizada com fio de aço 0,5 mm e resina composta
(figura 5) pelo período de 20 dias. A contenção
semirrígida é a mais indicada, por permitir pequenos
movimentos que, durante a reparação periodontal,
podem evitar ou minimizar pequenos locais de
anquilose.
teste de mobilidade, profundidade de sondagem, nível primeiramente executado por Tesgsjö et al, em 1978, e
de inserção, ausência de reabsorção radicular e de pode ser indicado em casos de fraturas corono-
perda óssea e integridade da cortical alveolar. Após o radiculares, cáries cervicais, reabsorções cervicais
avaliação dois anos após a realização do tratamento Geralmente há riscos de reabsorção radicular,
estético, na qual foi comprovada o sucesso clínico e inflamatória ou por substituição, e estão associados aos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
erupção dos dentes permanentes formação de uma barreira de tecido calcificado na
ocorre entre os 6 e 12 anos de região apical de dentes que se apresentam despolpados
idade, sendo contínuo o e com rizogênese incompleta (BINNIE; ROWE, 1973;
desenvolvimento radicular por um período de um ano e FELIPPE et al., 2005). O hidróxido de cálcio pode ser
meio a dois anos e meio após a erupção. Assim, associado a várias outras substâncias, com a finalidade
traumatismos na cavidade bucal em pacientes com de potencializar suas propriedades biológicas
idade variando aproximadamente entre 6 e 14 anos, (MARION et al., 2012).
possuem um potencial de interromper, alterar ou deter
a formação completa da raiz (ANDREASEN, 1984). DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Umas das possíveis consequências do trauma em
dentes permanentes jovens é a necrose pulpar pelo Relato do caso
rompimento do feixe vásculo nervoso (MANIGLIA- A menor I.D.V., 07 anos, sexo feminino,
FERREIRA et al., 2004). Em casos de rizogênese caucasiana, compareceu ao consultório particular no
incompleta, a técnica do tratamento endodôntico deve dia 17/12/2007 com indicação de tratamento
ser realizada de maneira a promover o endodôntico no dente 21, com história de trauma
desenvolvimento radicular às expensas da bainha (queda de bicicleta) ocorrido no dia anterior à consulta.
epitelial de Hertwig quando esta possuir células viáveis No exame clínico, observou-se estado eritematoso com
- processo este denominado apicigênese, ou através do edema na região vestíbular e palatina do elemento 21.
emprego de materiais que induzam a formação de uma O mesmo se encontrava com mobilidade e levemente
barreira mecânica por meio da deposição de tecido extruído. O exame radiográfico periapical foi realizado,
duro na região apical – processo este denominado e constatou-se que o dente apresentava rizogênese
apicificação (HEITHERSAY, 1970; HOLLAND et al., incompleta e imagem radiolúcida periapical, sendo
1971; TROPE, 2010). O uso de Hidróxido de Cálcio diagnosticado como luxação extrusiva (figura 1).
(HC) como medicação intracanal, com objetivo de Após conscientizar a paciente e sua
formar barreira mineralizada na região apical, é responsável das dificuldades do tratamento, foi
reportado desde meados da década de 1960 (COOKE; proposto o tratamento endodôntico por meio de
ROWBOTHAM, 1960; SOARES et al., 2008) e apicificação com uso de hidróxido de cálcio.
amplamente divulgado para procedimentos de Concordando com o tratamento proposto, a primeira
apicificação. (LEONARDO et al., 1993; sessão foi realizada no mesmo dia, ou seja, 24 h após o
ANDREASEN; ANDRESSON, 2001; AMERICAN trauma.
ASSOCIATION OF ENDODONTISTS, 2003). O pH
alcalino e a presença física do hidróxido de cálcio 1a Sessão
dentro do canal, conferem ao mesmo um potente efeito Foi realizada anestesia infiltrativa com
antibacteriano, inibindo a atividade osteoclástica e mepivacaína 2%; epinefrina 1:100.000 (DFL, Rio de
prevenindo a entrada de exsudato e tecido de Janeiro, Brasil) e instalação do isolamento absoluto,
granulação. Esta situação propicia a formação de tecido seguido do acesso coronário com broca diamantada
mineralizado junto ao ápice radicular (CVEK, 1974). esférica 1014 HL e broca Endo Z (KG Sorensen, Cotia,
Assim, pastas de hidróxido de cálcio têm sido usadas Brasil) em caneta de alta rotação (Dabi Atlante,
para obter a desinfecção do canal e a indução da Ribeirão Preto, Brasil). Após cateterismo inicial com
245
lima tipo K #10 (Dentsply Maillefer, Ballagiues, A responsável pela paciente foi orientada a
Suíça), o preparo químico/mecânico do canal radicular respeito da importância do controle com retornos
foi realizado com limas endodônticas manuais, periódicos para avaliação clínica e radiográfica
hipoclorito de sódio 2,5% (Limpis industrial LTDA, semestralmente.
Goiânia, Brasil) e soro fisiológico 9% (Equiples A paciente compareceu para o primeiro
Indústria Brasileira- Aparecida de Goiânia, Goiânia, controle clínico e radiográfico no dia 09/01/2011, sete
Brasil). Após a ampliação dos terços cervical e médio meses após conclusão do tratamento endodôntico,
do canal, foi realizada a odontometria para ocasião em que se observou reparo da lesão periapical,
confirmação do comprimento de trabalho. Foi realizada com formação radicular e ausência de reabsorções do
patência foraminal e a matriz apical foi estabelecida elemento 21. Foi possível observar presença de lâmina
com uma lima K #80 a 1 mm aquém do forame apical. dura e do ligamento periodontal reparado (figura7).
Concluído o preparo químico/mecânico, o Em 12/06/2012, foi realizado novo controle
canal radicular foi seco com cones de papel clinico-radiográfico a partir do qual se constatou a
esterilizados (Tamarimam LTDA Manacapuru- preservação de lâmina dura e do ligamento periodontal
Amazônia) e irrigado com EDTA trissódico 17% por (figura 8).
três minutos. Após a remoção do EDTA (Biodinâmica Em 22/05/2013, a paciente retornou
Quim e Farma LTDA Paraná), nova secagem foi novamente e foi observada a manutenção da
realizada e a pasta a base de hidróxido de cálcio P.A e integridade da região periapical do elemento 21 e a
soro fisiológico 0,9% foi inserida em toda a extensão presença de aparelho ortodôntico (figura 9).
do canal com auxílio de uma espiral tipo Lentulo, O último controle do elemento 21 foi
seguida de contenção semirrígida por 11 dias. realizado em 11/04/2016. Mediante radiografia
Após o período estabelecido, foi removida a panorâmica e exame clínico, constatou-se total
contenção e o curativo substituído por hidróxido de integridade da região periapical (figura 10).
cálcio com PMCC paramonoclorofenol canforado, SS
White, Rio de Janeiro, Brasil). Após várias sessões de
troca de hidróxido de cálcio, conforme observado nas
figuras 2, 3, 4, e 5, radiograficamente, foi possível
observar a regressão da lesão periapical, estabilização
das reabsorções e provável formação de barreira
radicular. Dois anos e seis meses após o início do
tratamento endodôntico, foi realizada a obturação
definitiva do canal por meio de cones de Guta-Percha
(Tamarimam LTDA Manacapuru-Amazônia) e
cimento obturador a base de hidróxido de cálcio
Sealapex (SybroEndo, Glendora, USA) com a técnica
de condensação lateral seguida de condensação vertical
e restauração com cimento a base de ionômero de vidro
(White Artigos Dentários LTDA, Rio de Janeiro Figura 1 – Controle – 2 meses.
REFERÊNCIAS
Luca Pasquini
Alexandre Sigrist De Martin
250
A
s infecções endodônticas apical juntamente com preparação da extremidade da
representam um grande desafio à raiz e vedação com material compatível. O cirurgião
especialidade, o sucesso da terapia deve decidir se a apresentação de tecidos periapicais da
depende de fatores diretos sob a qualidade, localização patologia é indicado. Há constatação de que as taxas de
e organização dos micro-organismos envolventes cura podem ser maiores para os casos tratados
(SIQUEIRA, ROÇAS, 2005). Durante a terapia cirurgicamente em comparação com aqueles tratados
endodôntica, todas as etapas operatórias devem ser não cirurgicamente, pelo menos a curto prazo (DEL
realizadas minuciosamente para garantir a desinfecção FABRO et al., 2007).
e obturação do complexo anatômico de forma eficiente, A regeneração óssea guiada (GTR) tem sido
mantendo, assim, a saúde dos tecidos periradiculares. proposta adjunta à cirurgia parendodôntica. Essa
Alguns fatores podem influenciar no insucesso da técnica pode melhorar o resultado da regeneração óssea
terapia, inviabilizando a diminuição suficiente do após tratamentos cirúrgicos de dentes com lesões acima
conteúdo bacteriano como: Cistos (GROSSMAN, de 5 mm (TSESIS et al., 2011). (SANCHEZ-TORRES
1967), anomalias anatômicas do complexo radicular, A; SANCHÉZ-GARCÉS MA; GAY-ESCODA C,
infecções extra-radiculares (RICUCCI et al., 2016), 2014).
apiciênese incompleta, reabsorções externas (AL- O MTA é utilizado na especialidade
NAZHAN et al., 1995), limas fraturadas e degraus não endodôntica devido às suas propriedades de
resolvidos quando acompanhadas de contaminação, estimulação osteoblástica, e na cirurgia
elementos protéticos com pinos intrarradiculares e parendodôntica, representa um dos principais materiais
coroas em dentes com remanescentes fragilizados. obturadores com pH favorável e ação antibacteriana,
Esses achados clínicos são de resolução complexa. A conferindo um bom vedamento. (ESTRELA et al.,
cirurgia parendodontica consiste na eliminação direta 2000).
do terço radicular acometido pela lesão persistente e
selado por um material biocompatível, mantendo DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
condições favoráveis para o reparo periodontal. O
índice de sucesso da cirurgia parendodôntica é Paciente, sexo masculino, 41, saudável,
considerado satisfatório, sendo 97% para os dentes chegou ao consultório com queixa de lesão gengival, a
anteriores e 85% para esse diagnóstico. É necessario qual aparecia e sumia diversas vezes, sem qualquer
acompanhamento radiográfico adjunto ao exame queixa de dor. Durante exame clinico, pode-se notar
clinico (ZUOLO; FERREIRA; GUTMAN, 2000) um presença de fístula na região do elemento 22,
ano após o procedimento, para lesões acima de 5 mm apresentando coloração escurecida com leve dor à
mesmo relatados alguns casos de cura de lesões percussão. Após exame radiográfico, pode-se constatar
menores em alguns meses ((RUBSTEIN; KIM, 1999). tratamento endodôntico pré-existente no elemento 22,
O planejamento pré-operatório representa uma com presença de rarefação óssea na região apical.
importante etapa para determinar o potencial de Paciente relatou que passou por tratamento
sucesso da cirurgia periapical. Exposição adequada da endodôntico há cinco anos em clínica universitária.
região apical da raiz é melhor abordada por meio de Pelas condições clinicas apresentadas, fora planejado
um tipo de incisão sulcular. Os procedimentos cirurgia parendodôntica, por parecer inviável a
cirúrgicos incluem ressecção de 2 a 3 mm da porção completa desobturação e selamento apical adequado no
251
retratamentos convencional. Durante ato cirúrgico, o
operador realizou os procedimentos com auxílio de
lupa de aumento 2,5x acoplado a um fotóforo. Fora
realizada abertura de retalho muco-periostal, observou-
se fenestração óssea presente, completando o acesso
com brocas Zecrya em alta rotação com refrigeração de
soro fisiológico estéril introduzido por seringas
descartáveis. Pode-se notar área de reabsorção
radicular com dentina amolecida e guta-percha
contaminada, removidas após curetagem. O ápice fora
excisado em um total de 5 mm de ápice contaminado, e
após adequação e regularização das paredes dentinárias
com pontas de ultrassom TRI 18 D, fora realizada
Figura 2 - Pós-operatório.
obturação retrógrada com MTA. Após, enxerto com
Bio-Oss sem uso de membrana, fora realizada sutura
com Vicryl 4.0. Receitada antibióticoterapia com
Amoxicilina (protocolo) e analgésicos. Durante a
radiografia pós-operatória pode-se notar um completo
selamento apical, com pouco extravasamento de MTA
sem qualquer transtorno ao pós-operatório. Após o
controle de 12 meses, paciente não relatou novo
surgimento de fístula. Fora realizado teste de
percussão, sem sintomatologia. Pode-se notar
neoformação óssea sugestionando o sucesso da terapia.
REFERÊNCIAS
A
s reabsorções dentárias ocorrem 1984; KUGA; TANOMARU FILHO; BERBERT,
quando as estruturas de proteção 1990; LOPES; SIQUEIRA JUNIOR, 1999;
dos dentes acabam sendo GOLDBER et al., 2010). Em função do exposto, o
eliminadas ou sofrem deslocamento, especialmente os presente capítulo visa apresentar um caso clínico de
odontoblastos e cementolastos (CONSOLARO, 2011). reabsorção dentária interna, relatando a conduta clínica
Este quadro clínico tem sido associado à ação de aplicada e enfatizando a fase de obturação pela técnica
células gigantes multinucleadas (células clásticas) termoplástica híbrida de Tagger modificada.
adjacentes à um tecido de granulação pulpar (TROPE
et al., 2006). DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Clinicamente, a reabsorção radicular interna é
geralmente assintomática e detectada ocasionalmente Paciente C.S.G., sexo feminino, 28 anos,
por meio de radiografias periapicais de rotina. O tecido normosistêmica, procurou atendimento odontológico
de granulação pode clinicamente manifestar-se como queixando-se do surgimento de “uma bolha no pé do
uma “mancha rosa” em casos em que a redução da dente”, no caso, o incisivo lateral superior esquerdo
porção mineral da dentina localiza-se ao nível da (21).
porção coronária (HAAPASALO; ENDAL, 2006). No exame clínico, foi observado que o dente
Entretanto, a mesma é mais comumente encontrada 21 apresentava fístula, sem relato de sintomatologia
nos terços médio e apical das raízes (ÇALISKAN; dolorosa associada. A paciente respondeu
PISKIN, 1993). Normalmente, sua etiologia está negativamente aos testes de percussão horizontal e
relacionada aos traumatismos (TRONSTAD, 1988), o vertical e ao teste de sensibilidade pulpar ao frio com
que pode explicar sua maior frequência em dentes gás refrigerante. O exame radiográfico da região
anteriores (GOULTSCHIN; NITZAN, 1982). anterior superior evidenciou extensa reabsorção interna
O reparo espontâneo do processo é na região apical do dente 21 e 22 (figura 1) e os dentes
extremamente raro (ÇALISKAN; PISKIN, 1997) e por 11 e 22 apresentavam tratamento endodôntico prévio.
isso, o tratamento endodôntico deve ser imediatamente A paciente não se lembrava de ter sofrido um
iniciado. Com a remoção do tecido pulpar vital, não traumatismo dental envolvendo os dentes anteriores
haverá progressão do processo uma vez que a nutrição superiores.
das células clásticas será interrompida, o que torna
favorável o prognóstico (BACKLAND, 1992).
Por apresentar áreas côncavas, com
destruições localizadas nas paredes do canal radicular,
a dificuldade encontrada no momento da remoção do
tecido de granulação que substitui a dentina
reabsorvida pode prejudicar o tratamento, uma vez que
a obturação do canal radicular deve visar o completo
preenchimento da área reabsorvida. Com este intuito,
inúmeras técnicas de obturação foram sugeridas, sendo
geralmente indicado pela maioria dos autores a Figura 1 - Radiografia periapical inicial.
termoplastificação da guta-percha (TAGGER et al.,
255
Definida a necessidade da realização do (Biodinâmica, Ibiporã, PR, Brasil) (figura 3).
tratamento endodôntico, a paciente foi anestesiada
(Lidocaína 2% com epinefrina 1:100.000) pela técnica
infiltrativa supraperiosteal e, após o isolamento
absoluto do campo operatório, realizou-se a abertura
coronária. Em seguida, procedeu-se uma copiosa
irrigação com hipoclorito de sódio 2,5% (Soda
Clorada; Asfer, São Caetano do Sul, SP, Brasil) e a
realização da exploração do canal radicular com lima
manual Flexofile #10 (Dentsply-Maillefer, Ballaigues,
Suíça), seguida de descontaminação progressiva até a
realização da patência. O preparo dos terços cervical e Figura 3 – Medicação Intracanal.
REFERÊNCIAS
A
s fraturas radiculares podem ser Porém, alguns cuidados devem ser tomados, já que
classificadas como alveolares, alguns relatos clínicos e estudos histopatológicos
horizontais ou transversais. Esses mostraram que esse procedimento pode levar à indução
acidentes envolvem polpa, dentina e cemento. Podem de reabsorção radicular externa. Presumidamente, o
ser de difícil identificação via raio x, se o feixe não agente oxidante, peróxido de hidrogênio a 30%, se
estiver paralelo ou próximo de paralelo à linha da colocado na câmara sem a confecção de um tampão na
fratura, por isso, algumas vezes pode ser necessário cervical do dente, poderá difundir-se por meio dos
uma angulação vertical mais excessiva. Clinicamente, túbulos dentinários e alcançar o periodonto através de
dentes com fraturas radiculares podem apresentar defeitos da junção cemento-esmalte. Esse processo
mobilidade, deslocamento ou dor a oclusão, variando pode ser agravado quando na presença de bactéria,
de acordo com o nível radicular da fratura além de lesões traumáticas previas e idade jovem do
(TORABINEJA; WALTON, 2010). paciente (TORABINEJAD; WALTON, 2010).
Ainda, segundo os autores, uma fratura
traumática que aconteça no terço cervical da raiz, no DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
sentido horizontal, pode eventualmente cicatrizar
espontaneamente. Porém, em alguns casos, o Paciente do gênero feminino, branca, com 35
fragmento do terço apical pode ser deslocado e anos, relatou ter sofrido acidente de motocicleta há sete
necrosar, o que, quase que inevitavelmente, leva à anos e dor na região dos incisivos centrais superiores.
necessidade de procedimento cirúrgico para remoção A paciente já havia passado por procedimento de
do mesmo, após a realização de tratamento urgência anteriormente para alívio da sintomatologia
endodôntico. dolorosa, e os exames clínicos e radiográficos,
No caso de uma fratura radicular, havendo realizados no mês de Maio de 2012, indicaram a
uma grande distância entre os fragmentos, e a presença realização de cirurgia de acesso e medicação intra-
de uma lesão no local da fratura, certamente não será canal, além de fístula na região vestibular do dente 21
possível tratar endodonticamente o fragmento apical e escurecimento da coroa dental.
pela impossibilidade de passar pela área da separação
das raízes. Neste caso, está indicado o tratamento
endodôntico dos terços coronário e médio da raiz e
remoção cirúrgica da porção apical (BRAMANTE;
GARCIA; BERBERT, 2004).
Um impacto gerado sobre um dente pode
gerar uma hemorragia intrapulpar, ou seja, a ruptura de
vasos sanguíneos e a lise de eritrócitos. O sulfeto de
ferro presente na desintegração do sangue impregnam
Figura 1 - Foto da paciente na primeira consulta.
os túbulos dentinários e mudam a coloração da dentina
do dente em questão. Essa pigmentação geralmente
Após a realização de anestesia infiltrativa (um
aumenta com o passar dos anos. Uma alternativa para
tubete de mepivacaína 2% com epinefrina 1:100.000),
contornar esse problema é o clareamento endógeno.
foi feita a remoção do curativo. Observou-se drenagem
260
intensa de exudato purulento. O canal foi irrigado com Foi realizado, então, o tratamento endodôntico
solução de hipoclorito de sódio a 1% e preparado do dente – terços cervical e médio, para posterior
inicialmente. Nova medicação intra-canal foi realização da remoção cirúrgica do fragmento apical.
introduzida e o dente foi selado provisoriamente com
cimento de presa rápida e resina composta
fotopolimerizável. Foram prescritos analgésico e anti-
inflamatório em caso de sintomatologia dolorosa.
consulta inicial, após o novo acesso, foi realizada uma fragmento fraturado foi removido e a porção apical do
tomada radiográfica periapical com um lima em remanescente apical foi remodelado com auxílio de
posição. O exame revelou fratura radicular no terço brocas cirúrgicas e mini-limas para osso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 5 - RaioX imediato, após a cirurgia.
REFERÊNCIAS
O
tratamento endodôntico visa potencialização da irrigação (KATO et al, 2016;
possibilitar a manutenção dos LEONI et al., 2016) e as técnicas de obturação que
elementos dentais por meio da possibilitam melhor selamento dos condutos
desinfecção do sistema de canais radiculares radiculares (SAHNI et al., 2008). Este capítulo traz um
contaminados. Desde 1963, quando a Endodontia foi caso em que, utilizando-se técnicas adequadas e
reconhecida como especialidade pela American Dental criteriosas de instrumentação e obturação do canal
Association, até os dias de hoje, a efetividade do radicular em sessão única, obteve-se um resultado
tratamento endodôntico convencional tem sido clínico e radiográfico de excelência.
constatada clinica e cientificamente (COHN, 2005).
Existem, na literatura, distintos critérios para DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
classificação do sucesso em endodontia. Os parâmetros
mais comuns utilizados para essa avaliação são os Paciente de iniciais L.H.S., sexo masculino,
aspectos radiográficos, clínicos e histopatológicos 35 anos, normosistêmico, compareceu ao consultório
(ZITZMANN et al., 2009), além da funcionalidade do do endodontista indicado por cirurgião-dentista clínico
dente envolvido (ESTRELA et al., 2004; PEREIRA et que identificou, em exame radiográfico de rotina, uma
al., 2010), e a presença e qualidade do selamento área radiolúcida extensa na região anterior de
coronário (PEREIRA et al., 2010) que também são mandíbula, sugestiva de lesão periapical de origem
critérios considerados em alguns estudos. endodôntica. Durante a anamnese, o paciente relatou
Quanto aos aspectos radiográficos, avalia-se a ausência de qualquer sintomatologia. Ao exame de
uniformidade da lâmina dura, o espaço periodontal sondagem periodontal, não foram identificadas regiões
normal, a ausência ou redução de rarefação óssea e a de sondagem periodontal aumentada.
ausência ou interrupção de reabsorção radicular
(PEREIRA et al., 2010). A ausência de sinais e
sintomas pós-operatórios como dor e edema, ausência
de drenagem ou de fístula, são os critérios que
caracterizam o sucesso clínico do tratamento.
Para que o tratamento endodôntico seja bem
sucedido é necessário que se alcance a redução da
carga microbiana intracanal a níveis compatíveis com o
reparo tecidual perirradicular, independente da
quantidade de sessões requeridas para tanto
(SATHORN; PARASHOS; MESSER, 2005).
Atualmente, existem vários recursos disponíveis para
otimizar o preparo biomecânico do sistema de canais
radiculares e permitir que se atinjam os resultados
desejados com eficiência clínica e praticidade
(SIQUEIRA; RÔÇAS, 2011), como os sistemas Figura 1 – Radiografia inicial evidenciando restaurações
reciprocantes de lima única (MACHADO et al., 2013; profundas e áreas radiolúcidas associadas aos ápices dos
MARINHO et al., 2015), os dispositivos de elementos 41,31 e 32.
264
Ao exame clínico, observou-se a presença de sessão, por meio da técnica de onda contínua de
restaurações extensas nos elementos 41, 31 e 32 e condensação e utilização de cones de gutta-percha R40
resposta negativa ao teste de sensibilidade pulpar a frio, (VDW, Munique, Alemanha) e cimento AHplus (De
o que nos levou ao diagnóstico de necrose pulpar nos Trey-Dentsply, Konstanz, Germany). Após a limpeza
três elementos e necessidade de tratamento das cavidades, os acessos coronários foram
endodôntico. Após a explicação dos procedimentos ao provisoriamente selados com cimento de ionômero de
paciente e obtenção de seu consentimento, o tratamento vidro (Maxxion R - FGM Produtos Odontológicos,
de todos os elementos foi realizado simultaneamente. Joinville, SC, Brasil) e resina composta (Z100, 3M
Sob anestesia local, realizou-se o acesso coronário aos ESPE, Sumaré, SP, Brasil) e o paciente foi
condutos radiculares através da superfície lingual. encaminhado de volta ao indicador.
Procedeu-se a neutralização do conteúdo necrótico com
hipoclorito de sódio a 2,5% (Siafarma, Campinas, SP,
Brasil), exploração inicial com limas tipo K #10
(Dentsply, Maillerfer, Ballaigues, Suíça) e
determinação eletrônica (Root ZX II – J. Morita Corp.,
Tokyo, Japan) do comprimento de trabalho a 1mm
aquém do forame apical. Os canais foram, então,
biomecanicamente preparados com o instrumento R40
(Reciproc VDW, Munique, Alemanha) segundo
orientação do fabricante, sob movimentação
reciprocante específica para esse sistema, segundo
programação do motor endodôntico X-Smart Plus
(Dentsply, Maillerfer, Ballaigues, Suíça). A irrigação
com hipoclorito de sódio a 2,5% foi realizada a cada Figura 2 – Radiografia final, após obturação e selamento
provisório das cavidades de acesso.
remoção do instrumento do interior dos canais, quando
se procedia também a realização de patência foraminal,
levando um instrumento K #10 a 1 mm além do forame O paciente foi contatado para proservação do
apical. Para conclusão da instrumentação, foi realizado caso após decorrido um ano da realização do
um refinamento apical com instrumento manual tipo tratamento. Os elementos dentais encontravam-se em
K#40. A limpeza final foi realizada com o uso do função mastigatória e estética, ausência de
instrumento Easy Clean (Easy Equipamentos sintomatologia aos testes periapicais ou de mobilidade.
Odontológicos, Belo Horizonte, Brasil) sob Radiograficamente, foi possível identificar área
movimentação reciprocante seguindo um protocolo de radiopaca de neoformação óssea e reparo do ligamento
três ciclos de 20 segundos com os canais preenchidos periodontal, caracterizando sucesso clínico e
por hipoclorito de sódio a 2,5% – ácido radiográfico.
etilenodiaminotetracético a 17% (EDTA - Fórmula &
Ação, São Paulo, SP, Brasil) – hipoclorito de sódio a
2,5%, respectivamente. Como foi possível alcançar um
grau de limpeza e modelagem satisfatórios, procedeu-
se a obturação dos condutos radiculares na mesma
265
debris from the mesial root canal system of mandibular
first molars. International Endodontic Journal, v.18.
[Epub ahead of print], 2016.
MACHADO, M.E. et al., Influence of reciprocating
single-file and rotary instrumentation on bacterial
reduction on infected root canals. International
Endodontic Journal, v.46, n.11, p. 1083-1087, 2013.
MARINHO, A.C. et al. Does the Reciproc file remove
root canal bacteria and endotoxins as effectively as
multifile rotary systems? International Endodontic
Journal, v.48, n. 6, p. 542-548, 2015.
PEREIRA JUNIOR, W. et al. Análise de critérios de
sucesso em endodontia e implantodontia. Revista
Odontológica do Brasil Central, v. 19, n. 49, p. 108-
117, 2010.
SAHNI, P.S. et al. Comparison of Rotary
Figura 3 – Radiografia após um ano da conclusão do instrumentation and continuous wave obturation to
tratamento endodôntico em sessão única. Evidências de reciprocating instrumentation and single cone
obturation with a hydrophilic. Journal of endodontics,
reparo na região periapical.
v. 34, n. 1, 2008.
SAHNI, P.S. et al. Comparison of rotatory
CONSIDERAÇÕES FINAIS instrumentation an continuous wave obturation to
reciprocating instrumentation and single cone
obturation with a hyfrophilic sealer. Journal of
O caso relatado e as publicações levantadas Endodontics. v. 34, n.1, p. 99-101, 2008.
confirmam a efetividade do tratamento endodôntico SATHORN, C.; PARASHOS, P.; MESSER, H.H.
convencional em sessão única e evidenciam que, Effectiveness of single- versus multiple-visit
endodontic treatment of teeth with apical periodontitis:
quando se alcança o objetivo de redução bacteriana, a systematic review and meta-analysis. International
esse tipo de abordagem é capaz de obter resultados Endodontic Journal, v. 38, n.6, p.347-355, 2005.
satisfatórios no que diz respeito à resolução das SIQUEIRA JUNIOR, J.F.; RÔÇAS, I.N. Optimising
single-visit disinfection with supplementary
patologias de origem endodôntica, inclusive com approaches: a quest for predictability. Australian
evidências radiográficas de reparo e restituição dos Endodontic Journal, v. 37, n.3, p 92-98, 2011.
tecidos periapicais para a condição de saúde. ZITZMANN, N.U. et al. Endodontics or implants? A
review of decisive criteria and guidelines for single
tooth restorations and full arch reconstructions.
REFERÊNCIAS International Endodontic Journal, v. 42, p. 757-774,
2009.
al. (2003), esse material favorece o pós-operatório, canal radicular simutâneo à remoção da porção apical e
protege o ápice dentário e favorece uma melhor e mais colocação de um material de escolha no ápice do dente.
rápida remodelagem óssea. Foi utilizado um biomaterial (Bio Oss®) na loja óssea
formada pela lesão apical.
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO Foi realizado, inicialmente, o retratamento
endodôntico do elemento 21, pois o mesmo
Após exames de anamnese, clínico (figura 1) e apresentava-se com tratamento endodôntico
radiográfico (figura 2), optou-se pela cirurgia insatisfatório. Todo o material obturador presente
endodôntica do elemento 21. A modalidade cirúrgica dentro do conduto foi removido com a lima
usada neste caso foi o retratamento endodôntico com a RECIPROC® (VDW-GERMANY) (figura 3), e
obturação retrógrada simutânea a microcirurgia também limas manuais tipo Hedstroem (Maillefer-
endodôntica. Suiça).
Após a desobturação, foi realizado o repreparo
do canal radicular seguido de obturação por meio da
técnica de condensação lateral e vertical, com o
cimento AH Plus® (DENTSPLY-GERMANY).
268
DISCUSSÃO
apical e inserção de um biomaterial na loja óssea, LEAL, J.M.; BAMPA, J.U.; POSINELI NETO, A.
Cirurgias paraendodônticas: indicações, contra-
mostra-se efetivo para a redução dos sinais e sintomas, indicações, modalidades cirúrgicas. In: LEONARDO,
além de um nítido sucesso radiográfico, mostrando-se M.R. Endodontia – tratamento de canais radiculares:
princípios técnicos e biológicos. São Paulo: Artes
assim, uma opção viável neste tipo de tratamento, no Médicas; 2005. p. 1263-1343.
qual pode se preservar o elemento dentário e promover MOISEIWITSCH, J.R.; TROPE. M. Nonsurgical root
uma melhora no processo de reparo com a canal therapy treatment with apparent indications for
rootend surgery. Oral surgery, oral medicine, oral
complementação do biomaterial. pathology, oral radiology, and endodontics, v. 86, n. 3,
Barbosa et al. (2011) e Castro-Silva (2010) p. 335-340, 1998.
também ressaltam que a previsibilidade de resultados RUD, J.; ANDREASEN, J.O.; JENSEN, J.E.
Radiographic criteria for the assessment of healing
clínicos com a utilização de substitutos ósseos after endodontic surgery. International journal of oral
autógenos, alógenos e xenógenos levam a considerar surgery, v.1, n. 4, p. 195-214, 1972.
essas opções como válidas para o processo de reparo SARTORI, S. et al. Ten-year follow-up in a maxillary
sinus augmentation using anorganic bovine bone (Bio-
tecidual. Oss). A case report with histomorphometric evaluation.
Clinical Oral Implants Research, v. 14, n. 3, p. 369-
372, 2003.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SILVA, R.A. et al. Cirurgia parendodôntica associada a
enxerto ósseo com biomaterial (Bio Oss® Collagen) –
Podemos concluir que as técnicas cirúrgicas Relato de Caso. Brazilian Journal of Surgery and
Clinical Research, v. 5, n. 1, p. 34-38, 2014.
endodônticas quando associadas à realização de
TASCHIERI, S. et al. Efficacy of xenogeneic bone
enxertia óssea na loja cirúrgica, permitem o grafting with guided tissue regeneration in the
estabelecimento de condições favoráveis para management of bone defects after surgical endodontics.
Journal of oral and maxillofacial surgery, v. 65, n. 6,
neoformação óssea. Porém, condições de reparo p. 1121-1127, 2007.
também são verificadas sem a utilização de enxerto. XAVIER, C.B.; ZAMBRANO, C.B.B. Avaliação da
Por este motivo, mais estudos devem ser realizados no resseção apical e indicação de materiais retrobturadors
em cirurgias parendodônticas no Brasil – Estudo de
intuito de estabelecer um protocolo para as cirurgias Campo. BCI, Curitiba, v. 8, n. 32, p. 335-42, 2001.
endodônticas.
Capítulo 41
Traumatismo dentário em
múltiplos elementos: conduta
clínica e tratamento
O
traumatismo dentário é uma diagnóstico diferencial do tipo de fratura
injúria irreversível, que tem (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001).
uma alta incidência, afetando, O tratamento proposto baseia-se em
aproximadamente, 20-30% da dentição permanente posicionar os fragmentos e estabilizá-los com uma
(SOARES et al., 2010). É considerada uma situação contenção flexível por quatro semanas. Deve-se
de emergência no consultório, que pode provocar realizar o acompanhamento após quatro semanas
problemas funcionais, estéticos, psicológicos e para verificar a condição do tecido pulpar. Em
sociais (ANDREASEN; ANDREASEN, 2001). casos de exposição pulpar, no momento do trauma,
As principais causas do traumatismo deve-se optar pelo tratamento endodôntico
dentário são, em ordem decrescente, quedas, imediato, pois a presença de contaminação
esportes e colisões com objetos e pessoas bacteriana dificultará a reparação da fratura
(CELENK et al., 2002; SCHUCH et al., 2013). São (DIANGELLIS et al., 2012).
mais prevalentes em pacientes do sexo masculino e A principal sequela a longo prazo do
os incisivos superiores são os dentes mais trauma dental é a reabsorção radicular. Dentes
acometidos (MAJORANA et al., 2002). tratados endodonticamente associados à reabsorção
O trauma pode resultar em danos nas radicular, necessitam de nova intervenção
estruturas de sustentação do dente, acometendo endodôntica, para o retratamento do canal radicular
tecido mole e ligamento periodontal. Além disso, (SILVA; SANTOS; AGUIAR, 2003), já que a guta-
pode atingir estruturas mineralizadas e pulpares, percha e o cimento obturador, utilizados durante o
como trincas em esmalte, calcificação do canal tratamento convencional não são reabsorvidos.
radicular, reabsorção radicular, exposição e necrose Diante disso, foi sugerido um protocolo de
pulpar, fraturas coronárias e/ou radiculares obturação em casos de traumatismo dentário, que
(CORTES; MARCENES; SHEIHAM, 2002; LEE consiste na associação do hidróxido de cálcio,
et al., 2010). clorexidina 2% gel e óxido de zinco, na proporção
As fraturas radiculares horizontais de 2:1:2, utilizada como uma pasta obturadora,
compreendem cerca de 0,5 a 7% do total destas proposta por Souza-Filho & Soares (SOARES,
injúrias (GULINELLI; SAITO; GARCIA JUNIOR, 2007; SOARES et al., 2015). Esta pasta tem baixo
2008; LAM et al., 2008). Caracterizam-se pelo custo, facilidade de manipulação e inserção, alta
rompimento das estruturas duras da raiz, ou seja, radiopacidade e não necessita de substituição
envolvem dentina e cemento, separando o dente em periódica. Além disso, em casos de reabsorção
dois segmentos: um apical, que geralmente não radicular, é capaz de dissolver-se quando entra em
sofre deslocamento, e outro coronário, que na contato com os tecidos periapicais, ao contrário da
maioria das vezes, se desloca. Este tipo de trauma é obturação convencional com guta-percha e cimento
mais frequente em dentes com rizogênese completa endodôntico, como já citado anteriormente.
(YASSEN et al., 2013). (SOARES et al., 2012).
No exame clínico, o dente geralmente está Tendo como base o exposto, o
deslocado, com dor à percussão e sangramento presente relato de caso descreve o tratamento
gengival. Radiograficamente, há a presença de uma endodôntico em múltiplos dentes traumatizados
linha radiolúcida na raiz do dente, responsável pelo obturados utilizando a pasta obturada proposta por
273
Souza-Filho & Soares para casos de traumatismo Foi explicado ao paciente e aos
dentário. responsáveis a necessidade da realização do
tratamento endodôntico nos dentes 12, 11 e 21 e
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO posterior restauração. Os responsáveis assinaram
um termo de consentimento livre e esclarecido
Paciente do gênero masculino, (TCLE), autorizando a realização do tratamento.
adolescente, sofreu um acidente de bicicleta e foi Para iniciar o tratamento, foi utilizada
inicialmente atendido em hospital, no qual o anestesia infiltrativa vestibular e palatina com
Cirurgião Buco-Maxilo-Facial fez a sutura dos lidocaína 2% e adrenalina 1:100.00 (Nova DFL,
tecidos periodontais. Ao exame clínico, constatou- Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil). Após o
se presença de sangramento gengival no dente 12, acesso coronário dos dentes 12, 11 e 21 com ponta
fratura coronária do dente 11 com exposição pulpar, diamantada esférica 1014 (K.G. Sorensen, Barueri,
escurecimento da coroa e fratura na incisal do dente São Paulo, Brasil), o isolamento absoluto foi feito à
21 (figura 1). distância sendo complementado com a utilização de
barreira gengival fotopolimerizável para total
selamento (Figura 3).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Aline Godoy
Carlos Eduardo Fontana
Daniel Guimarães Pedro Rocha
Rina Andréa Pelegrine
Carlos Eduardo da Silveira Bueno
Augusto Shoji Kato
278
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dentista,
E Baumann,
questionou as
um
especialista em microcirurgia de
ouvido e também
razões
médico
cirurgião-
da classe
situações em que o uso da magnificação foi
imprescindível para o sucesso clínico, tanto na
interpretação de complexas anatomias, como em
identificação de artefatos naturais ou artificiais
odontológica não recorrer à tecnologia do intracanais e na câmara pulpar.
microscópico ópico (MO). Por causa do uso
consolidadado na medicina, ele argumentava que, à DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
luz do MO, as estrututas da cavidade oral seriam
vistas com maior clareza (LOPES; SIQUEIRA, Observação do Assoalho da Câmara Pulpar e
2004). Localização de Canais:
Nos últimos cinquenta anos, quando foi Magnificação é um grande auxiliar e
introduzido o MO na odontologia, a performance de permite ao endodontista uma melhor identificação
trabalho endodôntico baseada na “sensibilidade, de marcas anatômicas da câmara pulpar,
destreza tátil e imagem mental” no manejo de remanescentes pulpares, orifícios dos canais e
complexidades anatômicas (muitas vezes nem nódulos pulpares, como nos casos a seguir.
vistas por radiografias) e acidentes operatórios Caso Clínico 1: Em tratamentos
(batentes, perfurações, instrumento fraturados, endodônticos de elementos dentários com grandes
etc),passou a se transformar drasticamente quando cavidades cariosas é comum a presença da
se foi possível ter o aprimoramento visual sob a luz deposição de tecido mineralizado na câmara pulpar
do microscópio de todos esses desafios. Isso se (nódulos pulpares livres e aderentes) e na porção
deve basicamente pelo conjunto: magnificação mais cervical dos canais. Essas interferências
visual, profundidade do campo visual e iluminação escondem o assoalho da câmara pulpar e não
da microárea operatória (CARR; MURGEL, 2010). permitem que esse seja lido e interpretado
Mesmo levando em consideração da adequadamente, isso significa que a sua não
necessidade do conhecimento profissional sobre remoção completa pode induzir a não identificação
morfologia dental e suas complexidade, foi da entrada e não instrumentação de canais, assim
reportando que casos em que foi usado o como também canais extras, podendo até a induzir
microscópio como auxiliar no tratamento iatrogenias (perfurações e desvios). O primeiro
endodôntico tiveram melhores resultados passo é indentificá-las, depois removê-las. Com a
(estatisticamente significantes), em proservações magnificação, a remoção dessas interferências
entre 6 e 18 meses, em relação aos casos tratados cervicais foi realizada com pontas de ultrassom
sem microscopia (MONEA et al., 2015). especiais exatamente na localidade onde se podiam
Numa revisão sistemática, foi encontrado visualizar e diferenciar facilmente o tecido mais
que o uso do microscópio promoveu um claro calcificado da dentina escura do assoalho da
significante aumento do campo operatório na câmara pulpar.
endodontia, oferencendo melhor qualidade de
trabalho e maiores níveis de sucesso endodôntico.
(LINS et al., 2015).
285
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O
sistema de preparo dos canais tratamento, além de paralelamente proporcionarem
radiculares com o intuito de aproveitar um preparo mais centralizado, reduzindo o
de cada um deles suas melhores transporte do canal especialmente do terço apical
características é de fundamental importância. O (LOPES et al., 2010; HARGREAVES; COHEN,
profissional deve ter conhecimento das 2011). As limitações e os cuidados especiais que
características geométricas e o comportamento devemos ter com estas limas, referem-se às fraturas
mecânico dos instrumentos endodônticos. Sabe-se que podem ocorrer sem aviso prévio, uma vez que
que os sistemas rotatório e reciproco-rotatório ao sofrerem distorções no seu corpo, estas são
correspondem à realidade da clínica endodôntica. imperceptíveis a olho nú diferentemente do que
Todavia, existe um grande número de kits e ocorre com as limas de aço inox manuais
diferentes marcas no mercado. Podemos citar o kit (PARASHOS; MESSER, 2006; INAN;
Prodesing S da Easy Equipamentos do sistema GONULOL, 2009; LOPES et al., 2011; HADDAD,
rotatório composto por quatro limas de cores branca 2015).
(30 ⁄.10), amarela (25 ⁄.08), vermelha (25 ⁄.01) e Em função do exposto, das vantagens
azul (20 ⁄.06), enquanto no sistema recipro – apresentadas dos sistemas mecanizados rotatórios e
rotatório podemos ressaltar os kits de limas recipro-rotatório empregados no tratamento
Reciproc e Wave One, que possuem movimento endodôntico do paciente em questão, passaremos a
reciprocante antihorário à esquerda. O Kit das limas descrever o passo a passo utilizado no presente
Reciproc é composto por três limas, todas com caso.
secção transversal em formato de S de cores
vermelha (R25), preta (R40) e amarela (R50), DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
enquanto o kit das limas Wave One é formado
também por três limas: Small, Primary e Large Caso 1
(HADDAD, 2015). Paciente XYZ, gênero masculino,
Os instrumentos que compõem os sistemas normosistêmico, leucoderma, 47 anos de idade,
rotatório e reciprocante são compostos por uma liga com relato de dor à mastigação, compareceu à
de níquel titânio denominada M-Wire que clínica de endodontia do Centro Especializado de
proporciona maior flexibilidade e resistência à Odontologia – CEO Dr. Franco, Fortaleza/CE. A
fadiga cíclica e à corrosão, melhorando e análise clínica indicou ausência de mobilidade ou
facilitando o preparo químico mecânico, reduzindo bolsa periodontal e dor à percursão e à palpação no
diversos problemas (obstruções, degraus, dente 16. A radiografia periapical de diagnóstico
transportes, perfurações e outros) quando (figura. 1) evidenciou espessamento do espaço do
comparadas com as limas de aço inox manuais ligamento periodontal na raiz mesio-vestibular do
(LOPES et al., 2010; HARGREAVES; COHEN, mesmo. Foi sugerido ao paciente o tratamento
2011; DAVUT; TAMER; KURSAT, 2013). As endodôntico do referido dente e, posteriormente,
principais vantagens desses sistemas fazem-se ver sua restauração.
na redução do número de instrumentos que Na primeira sessão, foi realizada a cirurgia
compõem esses sistemas, proporcionando a de acesso com ponta diamanta esférica #1012 (KG
simplificação da técnica, redução do tempo de Sorensen Ind. e Com. Ltda. Barueri, Brasil) e broca
291
Endo Z de alta rotação (Dentsply-Maillefer, primeira consulta, removeu-se o selamento
Ballaigues, Suíça). Procedeu-se, então, o provisório coronário e os canais radiculares foram
isolamento do campo operatório seguido pela irrigados com 1,0 mL de solução de EDTA à 17%.
irrigação da câmara pulpar com clorexidina gel à O mesmo permaneceu nos canais durante
2% (Prophormula, Fortaleza, Brasil) e realizou-se a 3 minutos, empregando-se agitação mecânica com
exploração dos quatro condutos com lima C-pilot pontas Easy Clean (Easy Equipamentos
#10 (VDW GmdH, Munique, Alemanha) para Odontológicos, Belo Horizonte, Brasil); ao final foi
obtenção da patência foraminal. O pré-alargamento realizada irrigação com soro fisiológico e a
dos terços cervical e médio foi realizado com o secagem dos canais como descrito anteriormente. A
instrumento 25.08 do sistema Prodesing S (Easy obturação dos canais foi realizada com cones de
Equipamentos Odontológicos, Belo Horizonte, guta-percha Reciproc (VDW GmdH) associados ao
Brasil) com torque de 2,0 N e velocidade 500 RPM, cimento Endofill (Dentsply Industria e Comercio
por meio de movimentos de pincelamento em todas Ltda, Petrópolis, Brasil), tendo-se como referência
as paredes dos condutos. A cada troca de de parada apical o comprimento de 1,0 mm aquém
instrumento, os canais radiculares eram irrigados do comprimento real do dente (figura. 2)> Após
copiosamente com solução de cloreto de sódio 1 ano de tratamento, foi realizada e avaliada a
(NaCl) à 0,9% (Farmence, Barbalha, Brasil) com radiografia de acompanhamento, verificando e
auxílio de seringa de 3,0 mL e agulha hipodérmica confirmando o sucesso no tratamento endodôntico
20 x 0,55 (BD, Juiz de Fora, Brasil). Em seguida, do caso acima citado (figura 3).
estabeleceu-se o comprimento de trabalho
utilizando localizador eletrônico foraminal Proprex
II (Dentsply-Maillefer). Após a leitura no visor do
localizador ter atingido -1 (menos um), recuou-se a
lima para a leitura 0 (zero), determinava-se, então,
o comprimento de trabalho. Na sequência, utilizou-
se a lima #25.01 com 0,5 N e velocidade 300 RPM,
no comprimento de trabalho.
O preparo apical dos canais radiculares foi Figura 1 – Radiografia de diagnóstico.
realizado com instrumentos R25 e R40 sistema
Reciproc (VDW GmdH), excetuando o conduto
mesiopalatino que foi preparado com a lima
WaveOne 21.06 (Dentsply-Maillefer) em virtude de
sua atresía. Finalizado o preparo apical, os canais
foram irrigados e aspirados, secos com pontas de
papel absorvente (VDW GmdH) e preenchidos com
pasta de hidróxido Ultracal XS (Ultradent Products
– South Jordan, UT. EUA). O selamento coronário
provisório foi realizado com Inômero de vidro
Figura 2 – Radiografia da obturação.
fotopolimerizável.
No segundo encontro, uma semana após a
292
HARGREAVES, K.; COHEN, S. Caminhos da
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Endodontics, v. 32, n. 11, p. 1031-1043, 2006.
REFERÊNCIAS
U
m dos maiores desafios dos restos epiteliais de Mallassez (BANCHS; TROPE,
enfrentados na endodontia é o 2004). A segunda possibilidade sugere que células
tratamento de dentes com mesenquimais indiferenciadas podem ser abundantes
rizogênese incompleta e necrose pulpar (HADDAD em dentes com rizogênese incompleta, as quais podem
FILHO, 2015). O desenvolvimento das paredes do se aderir às paredes radiculares internas e se diferenciar
canal é interrompido e esses dentes apresentam em sua em odontoblastos, que secretariam dentina nesta região
estrutura, paredes de dentina radicular finas e (GRONTHOS et al., 2002). Outra possibilidade
susceptíveis a fraturas, mesmo sob forças fisiológicas, poderia ser atribuída à presença de células
e um ápice amplo e aberto que dificulta tecnicamente o mesenquimais indiferenciadas no ligamento
tratamento (SOUZA-FILHO, 2015). O tratamento periodontal, as quais podem proliferar na porção apical
clássico para estes dentes é a apicificação, promovida e se diferenciar em cementoblastos e depositar tecido
por dois métodos principais: limpeza e preenchimento mineralizado nas paredes dentinárias (LIEBERMAN;
do canal radicular com medicações temporárias à base TROWBRIDGE, 1983). O quarto possível mecanismo
de hidróxido de cálcio, para estimular a formação de refere-se às células mesenquimais indiferenciadas da
um tecido calcificado no ápice ou por meio da inserção papila apical ou do osso medular, as quais quando
e acomodação de biomateriais (principalmente o estimuladas com um instrumento além da extensão do
agregado de trióxido mineral - MTA) para agir como canal radicular, por possuírem alta capacidade
uma barreira, evitando o extravasamento da guta- proliferativa, podem formar tecido mineralizado dentro
percha (MARTIN et al., 2007; HADDAD FILHO, do canal (GRONTHOS et al., 2000).
2015). Uma das formas de realização dessa técnica é
Os procedimentos para revascularização feita por meio de descontaminação passiva, sem
pulpar em dentes com rizogênese incompleta e necrose instrumentação mecânica do canal radicular aliada ou
pulpar se tornaram parte da terapia endodôntica e não à colocação de uma medicação intracanal
representam uma alternativa viável à apicificação (REYNOLDS; JOHNSON; COHENCA, 2009; SHIN;
convencional (GALLER, 2015; DIOGENES et al., ALBERT; MORTMAN, 2009). Existe uma variedade
2016). A revascularização pulpar pode ser definida de protocolos discutidos em vários relatos de caso
como a invaginação de células indiferenciadas da (COTTI; MEREU; RUSSO, 2008; KIM et al., 2010). A
região apical de dentes de pacientes jovens com ápice maioria relata a utilização de soluções irrigadoras,
aberto (ZHANG; YELICK, 2010; DUDEJA et al., como o hipoclorito de sódio em diferentes
2015). Sugere-se que a estimulação de um coágulo concentrações (1 a 6%), gel ou solução de clorexidina a
sanguíneo invaginado permite o crescimento 2%. Quanto ao uso de medicação intracanal, uma das
tridimensional de um novo tecido (NEHA et al., 2011; mais citadas é a pasta tripla antibiótica preconizada por
DIOGENES et al., 2016). Hoshino et al. (1996), composta por 200 mg de
Há na literatura algumas sugestões com Ciprofloxacina, 500 mg de Metronidazol e 100 mg de
relação ao mecanismo de ação da revascularização. Minocilina. No entanto, o uso da Minociclina que é
Segundo os autores, células pulpares vitais podem derivado da Tetraciclina, têm causado escurecimento
sobreviver na porção apical da raiz, se proliferar sobre na coroa dos dentes tratados, levando à necessidade da
a matriz formada dentro do canal radicular e se realização de um tratamento clareador (COTTI;
diferenciar em odontoblastos, sob estímulo das células MEREU; LUSSO, 2008; DING et al., 2009). Relatos
295
de casos recentes obtiveram sucesso na Não havia presença de mobilidade dental, dor, abscesso
revascularização pulpar utilizando o hidróxido de ou fístula. O exame radiográfico mostrou presença de
cálcio associado ao gel de clorexidina como medicação fratura de esmalte e dentina sem envolvimento pulpar,
intracanal (SOARES et al., 2013; NAGATA et al., não havia presença de reabsorção inflamatória ou lesão
2014), o que facilitaria sua aplicação na rotina clínica periapical. Nenhum dos elementos apresentou fraturas
considerando a disponibilidade desta medicação e radiculares ou ósseas associadas. Após a realização da
evitaria o escurecimento da coroa dental. O MTA anamnese e dos exames clínicos e radiográficos, foi
utilizado como agente selador inserido no terço feito o diagnóstico de subluxação no elemento 11 e
cervical também demonstrou ser responsável pelo leve intrusão dentária no elemento 21, ambos com
escurecimento da cora dental em alguns casos, onde formação incompleta da raiz.
não foi usada a pasta tripla antibiótica com a Como os elementos apresentavam-se com
Minociclina como medicação intracanal (NAGATA et vitalidade, o elemento 21 foi restaurado
al., 2014). provisoriamente com resina composta (Z250 Filtek;
Entre as vantagens da revascularização, está a 3M ESPE, Sumaré, São Paulo, Brasil), e o paciente
necessidade de um menor tempo clínico, podendo ser remarcado para controle clínico e radiográfico (figura
concluído em uma ou duas sessões após o controle da 2).
infecção, O custo benefício é favorável, uma vez que No segundo mês após o trauma dental, o
não são necessárias muitas visitas, nem materiais paciente passou a responder negativamente ao teste
adicionais, e por último, a maior vantagem refere-se ao térmico, e continuava com resposta positiva aos testes
estímulo do término da formação radicular com de percussão vertical e horizontal. Ainda havia
espessamento e, consequentemente, o fortalecimento ausência de abscesso ou fístula. O exame radiográfico
das paredes radiculares (SHAH et al., 2008; NAGATA não apresentava lesão periapical ou presença de
et al., 2014). reabsorção inflamatória. Foi realizado teste elétrico,
que apresentou valor indicativo de necrose pulpar (80)
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO e teste de cavidade, que também indicava a presença de
necrose.
Paciente do gênero masculino, 7 anos de Foi explicado ao paciente e aos responsáveis a
idade, foi encaminhado para atendimento no Serviço de necessidade da realização do tratamento endodôntico, e
Traumatismo Dentário da Faculdade de Odontologia de foram apresentadas as opções de tratamento. Após uma
Piracicaba (FOP), Universidade Estadual de Campinas completa explicação sobre os procedimentos propostos,
(UNICAMP), São Paulo – Brasil. O paciente sofreu riscos e benefícios, optou-se pela realização do
uma queda da própria altura um mês antes. O exame tratamento de revascularização pulpar, realizado em
clínico revelou a presença de fratura de esmalte e duas sessões. O dente foi anestesiado e isolado, o
dentina no elemento 21 (figura 1). acesso cavitário foi realizado com brocas diamantadas
Foram realizados testes de vitalidade pulpar (KG Sorensen, Barueri, São Paulo, Brasil). Não foi
(Endo-Frost; Roeko, Langenau, Germany) que observado sangramento após a abertura coronária, a
indicaram resposta positiva dos elementos 11 e 21; o polpa apresentava-se com aspecto isquêmico. A
elemento 11 respondeu negativamente aos testes de descontaminação do canal radicular foi realizada de
percussão vertical e horizontal e, ao teste de palpação, forma passiva, ou seja, sem o uso de instrumentos. A
no entanto, o elemento 21 respondia positivamente. irrigação inicial foi realizada com 20 ml de hipoclorito
296
de sódio a 6%, com a agulha até o terço médio do canal comprimento do dente, realizando-se um leve
radicular para evitar o extravasamento da solução e movimento de rotação para que o sangue preenchesse o
para possível manutenção da viabilidade das células canal radicular. Após cinco minutos, a formação de um
indiferenciadas da papila apical. A segunda irrigação coágulo sanguíneo próximo a junção amelocementária
foi feita com tiossulfato de sódio a 5% para pôde ser observado (figura 5 – A, B e C).
neutralização do hipoclorito de sódio e mais uma Neste momento, foi acomodada acima do
irrigação com 10 ml de solução fisiológica. A próxima coágulo uma membrana de colágeno (CollaCote,
irrigação foi realizada com solução de clorexidina a Zimmer Dental, Carlsbad, California, Estados Unidos)
2%, 10 ml de Tween 80 para neutralização da de acordo com o diâmetro do canal (Figura 6).
substantividade da clorexidina e mais 10 ml de solução A porção cervical foi selada com uma pasta
fisiológica. obturadora (SS), desenvolvida e testada por Soares
Finalizada a etapa de descontaminação, a (2007) em dentes traumatizados submetidos a um
medicação intracanal foi manipulada, hidróxido de protocolo de medicação intracanal, sem trocas
cálcio (Biodinâmica, Ibiporã, Paraná, Brasil) e gel de periódicas. É composta pela mistura de medicamentos
clorexidina a 2% (Endogel - Farmácia de Manipulação bem conhecidos e utilizados na odontologia: hidróxido
Essencial Farma Ltda., Itapetininga, São Paulo, Brasil) de cálcio (pó), óxido de zinco e gel de clorexidina a 2%
na proporção de 1:1 e inserida no canal radicular com (2:2:1) e inserida com condensadores (Konne, Belo
uma lima manual e condensadores apicais (Konne Horizonte, Minas Gerais, Brasil) (Figuras 7 – A, B, C,
Indústria e Comércio de Materiais Odontológicos D e E). Por fim, foi realizado o selamento coronário
Ltda., Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil), até o com coltosol (Coltene Whaledent, Mahwah, NJ) e
terço médio do canal radicular (figura 2 – C). O dente resina composta (Z250 Filtek; 3M ESPE, Sumaré, São
foi selado com coltosol (Coltene Whaledent, Mahwah, Paulo, Brasil) (figura 8 – A, B e C).
NJ) e resina composta (Z250 Filtek; 3M ESPE,
Sumaré, São Paulo, Brasil). A medicação intracanal
permaneceu no canal radicular por 15 dias.
Na segunda consulta, o dente foi novamente
anestesiado e isolado; foi realizada a abertura coronária
e a remoção da medicação foi feita com copiosa
irrigação com solução fisiológica. Após isso, utilizou-
se 3ml de EDTA (Fórmula e Ação, São Paulo, São Figura 1 - Presença de fratura de esmalte e dentina sem
Paulo, Brasil) durante 3 minutos, para o envolvimento pulpar no elemento 21.
A
s injúrias traumáticas podem estágio de desenvolvimento radicular
ocorrer em qualquer idade, (ANDREASEN; ZHIJIE; THOMSEN, 1986).
porém a faixa-etária em que
A obliteração do canal radicular é
mais afetam os dentes permanentes varia de 8 a 12
observada com mais frequência em dentes com
anos, principalmente como resultado de acidentes
ápices abertos (>0,7mm radiograficamente), em
com bicicletas, skates ou acidentes esportivos
injúrias por luxação extrusiva e lateral e em dentes
(ANDREASEN, 1970; ANDREASEN; RAVN,
que tenham sido esplintados rigidamente
1972; BASTONE; FREER; MCNAMARA, 2000;
(ANDREASEN et al., 1987; LOPES; SIQUEIRA,
ANDREASEN; ANDREASEN, 2001; SKAARE;
2015). Nesses casos em que o trauma foi menor e o
JACBSEN, 2003; LOPES; SIQUEIRA, 2015). O
elemento dentário se manteve vital, podem ocorrer
dente mais vulnerável é o incisivo central superior,
alterações pulpares degenerativas que resultam na
que envolve aproximadamente 80% das injúrias
deposição acelerada de novo tecido duro na
dentárias, seguido pelo lateral superior e pelos
cavidade pulpar (ANDREASEN et al., 1987). Essa
incisivos centrais e laterais inferiores (BASTONE;
deposição de tecido mineralizado na câmara pulpar
FREER; MCNAMARA, 2000; ANDREASEN;
e nos canais radiculares de forma patológica é
ANDREASEN, 2001; SKAARE; JACBSEN,
ocasionado por um abalo inesperado do suprimento
2003). Além disso, os meninos costumam ser mais
neurovascular do elemento dental (De CLEEM,
acometidos do que as meninas, na proporção de
2002; ADREASEN; ANDREASEN, 2001), sem
1,5:1 (ANDREASEN, 1970; ANDREASEN;
contudo gerar a necrose pulpar (LOPES;
RAVN, 1972; BASTONE; FREER;
SIQUEIRA, 2015).
MCNAMARA, 2000; ANDREASEN;
A calcificação geralmente pode ser
ANDREASEN, 2001; SKAARE; JACBSEN, 2003;
diagnosticada dentro do primeiro ano após a injúria
LOPES; SIQUEIRA, 2015).
(ANDREASEN et al., 1987), sendo na grande
O impacto na face pode ter tanto
maioria das vezes assintomática (KRASTL et al.,
consequências restritas aos tecidos dentários,
2016). O sinal clínico característico de um dente
gerando as fraturas coronárias, radiculares e coroa-
calcificado é a sua coloração mais densa e menos
raiz com ou sem envolvimento pulpar, como
translúcida, apresentando-se amarelado e
também envolver os tecidos periodontais,
escurecido (CONSOLARO, 2008). Muitos
ocasionando as luxações e a avulsão (LOPES;
pacientes procuram o consultório odontológico
SIQUEIRA, 2015). As luxações são as mais
buscando a melhora da estética do sorriso
comuns de todas as injúrias dentárias, apresentando
(CHONG, 1993) e muitas vezes não se recordam do
incidências de 30% a 44% na literatura (DA SILVA
trauma que sofreram, que provavelmente levou ao
et al., 2004). Geram danos tanto ao aparato de
escurecimento dental.
inserção (ligamento periodontal e camada de
Através de um exame radiográfico é
cemento) (LOPES; SIQUEIRA, 2015), como ao
observada a parcial ou completa obliteração da
suprimento neurovascular do elemento dental
câmara pulpar, com a substituição da área
(DIANGELIS et al., 2012). A gravidade das
radiolúcida referente à cavidade pulpar por uma
sequelas depende da intensidade da injúria e do
radiopacidade semelhante à dentina adjacente
301
(CONSOLARO, 2008). Além das radiografias et al., 2010; ZUOLO et al., 2012, LOPES;
periapicais convencionais tomadas em variadas SIQUEIRA, 2015). Além de técnicas como a
angulações, a utilização da tomografia colocação de hipoclorito de sódio na câmara pulpar
computadorizada de feixe cônico (CONE BEAM) com o objetivo de identificar áreas de borbulhas
fornece uma grande riqueza de detalhes do canal (CONSOLARO, 2008), a visualização do campo
remanescente, uma vez que é possível uma operatório sob magnificação permite identificar
reconstrução tridimensional do elemento dental e diferenças na coloração e textura da dentina
sua análise em três diferentes planos (LUDLOW et original, podendo ser translúcida ou esbranquiçada
al., 2015). (ZUOLO et al., 2010).
Figura 3 - Raio-x inicial dos elementos 11 e 21. Após a odontometria, realizada com
localizador foraminal eletrônico (Bingo 1020,
Forum, Israel) e confirmada radiograficamente
Antes de iniciar o tratamento, a paciente (Fig. 5), o preparo químico-mecânico (PQM) foi
recebeu anestesia pela técnica infiltrativa por realizado com patência e ampliação foraminal com
vestibular e palatina, com aplicação de lidocaína a lima rotatória Easy Prodesign Logic 30/.05 (Easy
2% com 1:100.000 de adrenalina e, então, o Equipamentos Odonotológicos, Belo Horizonte,
elemento 11 recebeu o isolamento absoluto (foto). MG, Brasil). A ampliação foraminal está de acordo
Concluída esta primeira fase, deu-se início ao com a técnica preconizada pela Faculdade de
acesso coronário com brocas diamantadas esféricas Odontologia de Piracicaba - UNICAMP. Além
de pescoço longo em alta rotação (broca 1011) e disso, insertos ultrassônicos lisos foram utilizados
com insertos ultrassônicos diamantados, sendo visando maximizar a limpeza das áreas de
momentaneamente suspensa a irrigação para reabsorção radicular interna.
permitir uma melhor visualização do procedimento.
Ao primeiro sinal de possível identificação do canal
radicular, foi feita a exploração inicial com uma
lima manual C-Pilot #06 (VDW GmbH, Munique,
Alemanha) e realizada uma tomada radiográfica
para confirmação do correto caminho intracanal que
a mesma estava tomando (figura 4). A localização
do canal pode ser confirmada por esse
procedimento.
O
insucesso dos tratamentos utilizado e do manejo dos procedimentos de remoção
endodônticos está relacionado do ápice, retro preparo e retro obturação (SETZER et
principalmente com a inadequação al., 2012).
dos procedimentos e a maior parte é resultado de O material de escolha na retro-obturação do
infecção persistente ou secundária intrarradicular ápice do canal, segundo a literatura, é o MTA por
(SIQUEIRA, 2001). Os principais fatores reportados possuir propriedades favoráveis ao selamento do ápice,
que influenciam no sucesso ou não do tratamento ser bioativo, antibactericida e antifúngico
endodôntico são: planejamento do procedimento, (PARIROKH; TORABINEJAD, 2010). Contudo, há
anatomia do sistema radicular, presença de doença estudos com outros materiais como os biocerâmicos
periapical, a limpeza e modelagem do canal, qualidade apresentando resultados favoráveis, mas ainda não
e extensão da obturação do canal e iatrogenias substitutos do MTA (SHINBORI et al., 2015; CHEN et
(WONG, 2004). al., 2015).
O retratamento endodôntico não cirúrgico é A conjugação de um diagnóstico adequado,
considerado por diversos autores como o procedimento técnicas precisas e avaliação dos riscos e benefícios
de primeira opção (ABOU-RASS, 1982; FRIEDMAN; que a cirurgia paredodôntica proporciona é o passo
STABHOLZ, 1986; HÜLSMANN; BLUHM, 2004). mais relevante na decisão deste tratamento. Todos estes
Entretanto, a persistência de periodontite apical, afeta a fatores devem ser analisados para que a cirurgia
previsibilidade do tratamento podendo resultar em endodôntica realizada tenha a previsibilidade esperada.
infecções recorrentes ou refratárias (SIQUEIRA et al., A seguir, há a descrição de um caso clínico
2008). Os microorganismos, presentes na região de envolvendo um incisivo lateral superior esquerdo com
lesão, conseguem se organizar protegidos por uma histórico de retratamento não cirúrgico e periodontite
camada espessa de polissacarídeos, formando assim um apical persistente. Foi realizada a cirurgia
biofilme no periápice, tornando assim sua eliminação paredodôntica como uma opção favorável em manter o
mais incerta no retratamento não cirúrgico (RICUCCI; dente na cavidade oral.
SIQUEIRA JUNIOR, 2010).
Como opção a persistência do biofilme apical,
há a indicação de cirurgia parendodôntica, a qual DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
apresenta variações no índice de sucesso (SETZER,
2009). Contudo, a previsibilidade da cirurgia está Paciente do gênero feminino, 45 anos de
relacionada ao bom desempenho do ato operatório, a idade, foi encaminhada ao consultório odontológico
localização, acesso, condições do paciente e particular para retratamento endodôntico do dente 22.
determinação do fator etiológico (SIGNORETTI et al, A paciente apresentava dor a palpação e presença de
2013). fístula na região vestibular gengival (Figura 1A). Após
Com o advento de novas tecnologias, a avaliação clínica e radiográfica, foi constatado
cirurgia parendodôntica acompanhada de novas presença de lesão periapical, sub obturação do canal,
técnicas e o uso de magnificação, obteve um aumento presença de pino intrarradicular metálico e coroa
significativo no sucesso. O uso do microscópio protética (Figura 2A). Foi decidido, em acordo com a
operatório proporciona a melhor visualização da paciente, optar pelo retratamento não cirúrgico.
anatomia apical, da região periapical, do material
309
Iniciou-se o retratamento endodôntico com microespelho a retro cavidade seguido de secagem com
aplicação de anestesia infiltrativa (lidocaína 2% com ponta de silicone (Capillary Tips, Ultradent Products
epinefrina 1:100.000). Foi realizado a remoção da Inc, South Jordan, UT, USA). A retro obturação foi
coroa protética e pino intrarradicular utilizando brocas realizada com MTA (Angelus, Londrina, Paraná,
e pontas de ultrassom. A seguir, procedeu-se a Brasil), que foi inserido com o auxílio de calcadores de
colocação do isolamento absoluto para a realização da Bernabé (figura 5B). O excesso foi removido através
desobturação e nova instrumentação. A irrigação foi de irrigação com soro fisiológico, seguido de
efetuada com soro fisiológico e a utilização da acabamento com brocas multilaminadas (KG Sorensen,
clorexidina em gel a 2% (Endogel, Essencial Farma São Paulo, SP, Brasil). A loja óssea foi preenchida com
Ltda., Itapetininga, São Paulo) como substância coágulo sanguíneo e o retalho posicionado para a
química auxiliar. Após a instrumentação, foi inserido sutura (figura 6A) com fio Vicryl 5-0 (Ethicon
uma pasta de hidróxido de cálcio PA (Konne Indústria Johnson&Johnson, São Paulo, Brasil). Após duas
e Comércio de Materiais Odontológicos Ltda., Belo semanas, a sutura foi removida, observando uma
Horizonte, Minas Gerais, Brasil) associado ao gel de cicatrização sem sangramento (figuras 6B, C).
clorexidina a 2% no canal previamente seco e a seguir Foram realizados uma radiografia periapical
foi cimentado uma coroa provisória. logo após a cirurgia (Figura 7A) e dois controles
Após vinte dias, a paciente retornou sem dor a radiográficos, sendo o primeiro após sete meses (figura
palpação e sinais de fístula. Realizou-se a remoção da 7B) e o segundo após um ano e dois meses (figura 7C)
pasta de hidróxido de cálcio e preparo químico com ausência completa da fístula e sintomas de dor
mecânico, procedendo a obturação do canal, instalação (figura 7D).
de pino de fibra de vidro e confecção de uma nova
coroa protética (figura 2A, B).
Passados quatro meses do retratamento
finalizado, houve o reaparecimento de dor e fístula.
Assim, planejou-se, em acordo com a paciente, a
realização de cirurgia parendodôntica deste dente.
Iniciou-se com anestesia troncular e
Figura 1 - A) Presença de fístula vestibular do dente 22; B)
infiltrativa local como complementação (lidocaína 2%
Radiografia inicial dente 22
e epinefrina 1:100.000). Realizou-se um retalho
triangular com preservação das papilas e incisão
vertical na distal do canino (figura 3A) com lâmina
15C (Swann Morton, Sheffield, Inglaterra). Localizou-
se a região da lesão (figura 3B) e a curetagem foi feita
para a remoção da mesma (figura 3C) seguido de
apicectomia utilizando-se broca Zekrya (Dentsply-
Maillefer, Ballaigues, Suíça) com corte do ápice
aproximadamente de 90º em relação ao longo eixo do
dente (figuras 4A, B). O retro preparo apical foi
executado com insertos de ultrassom específicos para
cirurgia parendodôntica (figura 5A). Verificou-se com Figura 2 - A) Retratamento não cirúrgico dente 22; B) Dente
22 reabilitado com pino de fibra e coroa protética
310
Figura 3 - A) Incisão, retalho triangular com preservação de Figura 7 - A) Radiografia periapical logo após a cirurgia
papilas; B) Localização da região da lesão; C) Curetagem da paredodôntica, B) Radiografia proservação após 7 meses, C)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
cirurgia parendodôntica é uma
das alternativas em casos de
insucesso do tratamento
endodôntico (BRAMANTE et al., 2010; KRUSE et
al., 2016; LOPES; SIQUEIRA JUNIOR, 2004).
Nesta, a ostectomia realizada para acessar o ápice
dental pode resultar em um defeito ósseo com
dimensões variáveis que, em casos extremos, pode
indicar o emprego de enxertos com biomateriais
(LOPES; SIQUEIRA JUNIOR, 2004; SILVA et al.,
2014). O presente trabalho relata um caso clínico
no qual, após a realização de um retratamento
Figura 1 – Radiografia inicial.
endodôntico de dente portador de lesão periapical,
persistiram a fístula e a dor pós-operatória,
Realizou-se o retratamento endodôntico
indicando a realização da cirurgia parendodôntica.
em duas sessões empregando-se medicação
No momento da cirurgia, considerando a amplitude
intracanal de hidróxido de cálcio (Ultracal XS;
da cavidade, optou-se pelo preenchimento da
Ultradent, Indaiatuba, São Paulo, Brasil), mantida
cavidade cirúrgica com enxerto ósseo bovino.
por 15 dias; atenção especial foi dada à remoção do
material obturador original e ao debridamento
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
foraminal. A paciente retornou assintomática, sem
dor e sem fístula. Realizou-se, então, a remoção da
Paciente F.A.M.R., 37 anos, sexo
pasta de hidróxido de cálcio, verificação dos
feminino, procurou atendimento odontológico
parâmetros do preparo, obturação do canal e a
relatando dor no dente 41. Radiograficamente foi
restauração com resina composta (figura 2).
observada presença de tratamento endodôntico
insatisfatório associado à área de rarefação
periapical (figura 1); clinicamente foi notada fístula
na região lingual, e presença de dor à percursão e à
palpação.
Figura 4 – Curetagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
displasia óssea é a lesão fibro- realizada troca de restauração destes dentes.
óssea mais comum que acomete Posteriormente ao procedimento, a paciente relata
os maxilares, podendo ser que seu rosto “inchou e surgiu uma bolinha que as
dividida, de acordo com suas características clínicas vezes saía pus e sangue”- sic. Relatou, também,
e radiográficas, em três classificações, sendo elas: que em posterior consulta com um médico, o
focal, periapical e florida, com características mesmo propôs a realização de uma fistulectomia.
histológicas semelhantes (NEVILLE et al., 2009). Durante exame físico, observou-se
São definidas como processos idiopáticos aumento de volume em região de corpo de
localizados próximos à região periapical dos dentes, mandíbula do lado esquerdo, próximo a região dos
caracterizadas pela substituição de tecido ósseo dentes 34 e 35. Observou-se, também, uma fistula
normal por tecido fibroso e osso metaplásico. extra-oral (figura 1) que foi traçada com cone de
(BARNES et al., 2005). Sua etiologia é incerta, mas guta-percha, revelando que sua origem era próxima
acredita-se estar associada a um processo reativo aos ápices dos dentes supracitados. Os dentes foram
nos tecidos periapicais e afeta predominantemente submetidos aos testes de vitalidade, evidenciando
mulheres da raça negra de meia-idade. necrose pulpar.
(BRANNON; FOWLER, 2001; MACDONALD-
JANKOWSKI, 2008).
Será relatado o subtipo focal, que
apresenta-se radiograficamente em seu estágio
inicial como áreas radiolúcidas próximas aos ápices
de dentes vitais, que com o passar do tempo,
maturam-se e passam a apresentar características
mistas e finalmente radiopacas, um halo radiolúcido
Figura 1 – Fístula Extra-oral.
separa a lesão da raiz e do osso ao redor, e são
localizadas em área posterior de mandíbula.
Ao avaliar exame radiográfico panorâmico
Geralmente são achados radiográficos,
(figura 2), observou-se área radiolúcida, com focos
assintomáticos e não necessitam de tratamento,
radiopacos associada ao ápice do dente 34,
salvo em situações de infecção (BARNES et al.,
sugestivo de displasia cemento-óssea.
2005).
Não raramente, imagens radiolúcidas
próximas aos ápices radiculares são erroneamente
associadas a patologias endodônticas, levando a
intervenções desnecessárias. (HUH; SHIN, 2013).
Após um ano, a paciente retornou para HUH, J.; SHIN, S. Misdiagnosis of florid cemento-
osseous dysplasia leading to unnecessary root canal
avaliação e observou-se diminuição considerável da treatment: a case report. Restorative Dentistry &
área radiolúcida apical nos dentes 34 e 35, Endodontic, v. 38, n. 3, p. 160-6, 2013.
apresentando agora uma área radiopaca envolta por MacDonald-Jankowski, D. S. Focal cemento-
halo radiolúcido, evidenciando o estágio final da osseous dysplasia: A systematic review.
Dentomaxillofacial Radiology, v. 37, n.5, p. 350-
displasia (figura 3), assim como ausência de 60, 2008.
sintomas, fístula ou mesmo cicatriz (figura 4). NEVILLE, B. W. et al. patologia oral e
maxilofacial. 3a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
p. 642-646.
Capítulo 50
Estratégias e soluções em casos de
parestesia de nervo alveolar
inferior
O
objetivo precípuo do tratamento como percussão e palpação, positivos do processo
endodôntico é a eliminação de toda a alveolar vestibular. O paciente também poderá
polpa irreversivelmente inflamada ou relatar concomitantemente dormência do lábio
infectada, por meio da instrumentação químico- inferior ou Otalgia, podendo relatar persistência da
mecânica e a obturação tridimensional de todo o anestesia local (PRADO, 2004).
sistema de canais radiculares (SHILDER, 1974; Parestesia é uma condição definida
GREGORIO et al., 2013; SOUZA, 2006). geralmente como uma queimação ou sensação de
Idealmente, esse material obturador deve formigamento, dor, calor ou frio e pode ser causada
estar limitado ao interior do canal radicular, sem se por vários fatores locais e sistêmicos. Exemplos de
estender aos tecidos periradiculares (GIULIANI agressões, como a utilização de anestésicos locais
et.al., 2011), pois a extrusão do mesmo pode (especialmente o bloqueio do nervo alveolar
ocasionar trauma químico-mecânico do canal inferior), traumas, infecções, neoplasias, extrações
mandibular (AKAL et al., 2000). de dentes, e complicações endodônticas, podem ser
O uso de um material obturador que seja dados como causadores da mesma. Alguns fatores
totalmente biocompatível não é disponível, sistêmicos também estão associados, como por
consequentemente, a sua propagação além do exemplo, infecções microbianas e virais, esclerose
forame pode dar origem a manifestações clínicas múltipla, linfoma, ou diabetes mellitus. A literatura
decorrentes do seu potencial tóxico, embora relata uma duração de parestesia variável, que pode
menores extrusões de materiais sejam geralmente ir desde poucos dias, até vários meses, e em alguns
bem toleradas pelos tecidos periradiculares casos, tornar-se permanente. A maioria dos casos
(GIULIANI et al., 2011). relatados envolvem o nervo alveolar inferior e seus
Existe no mercado uma grande variedade ramos (AKAL et al., 2000).
de Materiais de obturação, e estes possuem Na prática odontológica é comum
diferentes estabilidades e componentes químicos encontrar casos de parestesia em pacientes que
AH Plus, AH 26, MTA-Fillapex, Endofill, etc. foram submetidos a exodontias, principalmente de
Alguns deles podem causar sérias complicações terceiros molares inferiores ou cirurgias que
neurotóxicas quando extruídas para o canal envolvam a proximidade de feixes vásculo-
mandibular, algumas complicações indesejáveis, nervosos. Na região mandibular, a mais
tais como: parestesia, hipoestesia, hiperestesia, e frequentemente afetada pelas parestesias, as
disestesia. Porém, complicações e sintomas mais estruturas nobres como o nervo lingual, o nervo
sérios podem ocorrer da extrusão de alguns desses alveolar inferior e o nervo bucal estão presentes. No
materiais para o interior do canal mandibular caso de uma intervenção nessa área, um toque ou
(AKAL et al., 2000). uma manipulação indesejada no feixe nervoso pode
O primeiro sintoma da sobreobturação causar parestesia. O retorno da normalidade
dentro do canal mandibular é uma dor súbita depende da regeneração das fibras nervosas lesadas
informadas pelo paciente durante a obturação do ou da remissão das causas secundárias que estão
canal radicular, que persiste após os efeitos dos gerando a parestesia, como a reabsorção do
anestésicos locais. A sensibilidade dolorosa pode sangramento local, a redução do edema e da
ser acompanhada por sinais locais inflamatórios, inflamação (PRADO, 2004).
322
Antes de iniciar o tratamento, é dever do obteve sucesso, caracterizando a parestesia como
profissional analisar a etiologia da parestesia, pois, uma condição de difícil resolução na maioria das
se estiver diante de uma infecção, provavelmente situações, principalmente naquelas relacionadas
ministrará antibióticos para tratamento inicial. Em com o nervo lingual (FLORIAN; MEIRELLES;
casos de compressão do nervo por edema pós- SOUSA, 2012).
trauma, deverá aguardar para que a sensibilidade O presente estudo descreve o tratamento
volte gradativamente; não tendo êxito, recomenda- de parestesia do nervo alveolar inferior em um caso
se o uso de corticoides ou a descompressão em que, durante um tratamento endodôntico, na
cirúrgica. Uma conduta bastante disseminada é o etapa de obturação, o cimento endodôntico
tratamento medicamentoso com vitamina B1 Endofill tenha supostamente extravasado para o
associada à estricnina na dose de 1 miligrama por canal mandibular, segundo exame de radiografia
ampola, em 12 dias de injeções intramusculares periapical.
(AKAL et al., 2000).
Outra forma de tratamento seria o uso de DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
cortisona, 100 miligramas a cada seis horas durante
os dois ou três primeiros dias, para que, se houver
Paciente do gênero masculino, médico, 63
melhora, haja um espaçamento entre as doses
anos de idade, foi encaminhado a um consultório
iniciais. Não há um tratamento efetivo para a
particular na cidade de Parnaíba (PI), por indicação
parestesia, os sintomas tendem a regredir dentro de
de cirurgião-dentista protesista, para realização de
um a dois meses, embora haja uma melhora com o
tratamento endodôntico do elemento dentário 46,
uso de histamina ou medicamentos vasodilata-
pois seria necessário extenso desgaste dentinário
dores. O uso de um laser de baixa intensidade
para confecção de coroa total. Durante a anamnese,
(GAIAS 820 nm) tem sido utilizado no tratamento
o paciente relatou não haver nenhum
de distúrbios sensitivos de longa duração do nervo
comprometimento sistêmico. Ao exame clínico
alveolar inferior (AHONEN; TJADERHANE,
visual foi constatada ausência de tumefação ou
2011).
alterações de cor na região. O dente apresentou
A acupuntura tem sido utilizada como uma
respostas aos testes de percussão, palpação e
alternativa de tratamento para problemas faciais,
sensibilidade térmica, as quais levaram a concluir
incluindo parestesias nervosas, devido a alterações
que o dente estava com vitalidade. A análise
neuronais como Paralisia facial de Bell e Nevralgia
minuciosa após a radiografia periapical verificou a
do Nervo Trigêmeo, devido aos bons resultados
presença de radiolucidez no terço médio do canal
alcançados principalmente por sua eficácia na
mesial invadindo zona de risco na região de furca,
liberação de neurotransmissores e por atuar de uma
sugestivo de reabsorção radicular interna. O espaço
forma diferenciada no fator “estresse” (FLORIAN;
do ligamento periodontal estava preservado sem
MEIRELLES; SOUSA, 2012).
evidências de radiolucidez periapical (figura 1).
Quando ocorre a secção do nervo, as
Baseado nestes dados, justificou-se a necessidade
técnicas de micro-neurocirurgia poderão ser usadas
de tratamento endodôntico.
a fim de restabelecer a perda sensorial ou função
O bloqueio do nervo alveolar inferior,
motora. Todas essas propostas terapêuticas
lingual e bucal foi realizado com Mepiadre (Nova
possuem um número reduzido de casos em que se
DFL, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil); acesso
323
à câmara pulpar com ponta diamantada esférica (Dentsply-Maillefer-Ballaigues, Swiss) que melhor
1014 (K.G. Sorensen, Barueri, São Paulo, Brasil), se ajustou ao diâmetro final do forame. O diâmetro
forma de contorno e conveniência obtida com ponta final obtido serviu de referência para calibrar os
diamantada tronco cônica de extremidade inativa cones de guta-percha, acessórios que seriam
3082 (K.G. Sorensen, Barueri, São Paulo, Brasil); utilizados, segundo técnica de De Deus, 1992, para
isolamento com dique de borracha, utilizando o obturação final. O calibre dos cones de guta-percha
grampo 205 (S.S White Brasil, Rio de Janeiro, Rio foi determinado em 1 diâmetro acima da LAF e 1
de Janeiro, Brasil). A desinfecção químico- mm a menos que o CRC. Os cones foram
mecânica foi realizada segundo princípios da modelados (submetidos à pressão apical) dentro dos
técnica Crown-Down, com auxílio de microscópio condutos radiculares preenchidos com gel de
operatório (Alliance Microscopia, São Carlos, São clorexidina 2% até que atingissem o comprimento
Paulo, Brasil). A desinfecção química foi realizada estipulado anteriormente.
com clorexidina gel a 2% (Farmaformula, Parnaíba, A dentina radicular foi preparada com
Piauí, Brasil), sendo a mesma inserida no canal com EDTA 17% (Biodinâmica Química e Farmacêutica
seringa hipodérmica de 3 ml e agulha de 20 x 5,5. LTDA, Ibiporã, PR, Brasil) em duas trocas
O soro fisiológico foi utilizado como solução sucessivas e agitada com Easy Clean (Easy,
irrigante com seringa hipodérmica de 20 ml e Jardinópolis, Belo Horizonte, MG). Procedeu-se a
agulha de 20 x 5,5, sob pressão a cada dois irrigação final com soro fisiológico e secagem com
instrumentos utilizados. pontas de papel absorvente (Endopoints®, Paraíba
Os condutos radiculares foram do Sul, Rio de Janeiro, Brasil) calibrados no CRC.
inicialmente explorados com limas C-Pilot O cimento Endofill (Dentsply, Petrópolis,
10 (Dentsply VDW, Munique, Alemanha) a fim de RJ, Brasil) foi utilizado para obturação do canal
detectar quaisquer interferências ou irregularidades radicular (figura 2). O cimento foi inserido duas
ao longo dos condutos. Feito isto, a desinfecção vezes em cada conduto radicular com auxílio dos
mecânica procedeu-se com o sistema de limas próprios cones de guta-percha. Posteriormente, os
rotatórias de Ni-Ti Prodesign S (Easy, Jardinópolis, cones foram submetidos à termoplastificação e
Belo Horizonte, MG), sendo utilizadas as compressão hidráulica vertical (figura 3). Para selar
recomendações do fabricante. O comprimento real a porção cervical, foi utilizado obturador
do canal (CRC) foi determinado após o uso da lima temporário (Villevie, Nova Brasilia, Joinville, SC)
25/.08, com auxílio de localizador eletrônico e o selamento coronário foi realizado com cimento
foraminal Romiapex A-15 (Romidan Ltda, Simcha de ionômero de vidro (Nova DFL, Rio de Janeiro,
Holzberg, Kiryat Ono, Israel) e lima manual C-Pilot Rio de Janeiro, Brasil). Ao término de todo o
10 ajustada no forame, sendo o comprimento de tratamento, a oclusão foi devidamente ajustada por
trabalho determinado em 1 mm além do CRC. Após meio de ajuste oclusal no elemento 46.
o término da sequência proposta pelo fabricante, os Após o tratamento endodôntico, o paciente
forames radiculares foram ampliados com uso de relatou parestesia do lábio inferior direito, com
limas Prodesign S acessórias 30/.04. sensação de “coceira“ na região do mento inervada
A lima anatômica final (LAF) foi pelo nervo mentoniano. Constatou-se com o exame
determinada após o término do preparo e de rx periapical final do caso, a intima relação do
modelagem do canal radicular, com lima k flexofile canal mandibular com o ápice do elemento 46 e o
324
possível contato do cimento obturador extravasado
com o nervo alveolar inferior.
O paciente procurou tratamento com
sessões de aplicação local de TENS e fez uso de
Citoneurin (MERCK S.A. Naucalpan de Juárez,
México) drágeas uma vez por dia durante dois
meses.
Segundo o paciente, a zona de parestesia
foi gradativamente sendo reduzida a uma área cada
vez menor. Após três meses, o paciente relatou ter
retomado totalmente a sensibilidade da região e não
apresentou mais nenhuma queixa. O paciente Figura 3 – Radiografia Final.
REFERÊNCIAS
O
hipoclorito de sódio é a pulpares em condição vital, a concentração de
solução irrigadora mais 5,25% para que haja uma maior dissolução tecidual.
amplamente utilizada
Embora as concentrações de hipoclorito
durante o tratamento
sejam consideradas somente quanto à sua atuação
endodôntico. Utilização
dentro dos condutos radiculares, seus efeitos
justificada pela sua capacidade de dissolução de
citotóxicos também devem ser levados em
matéria orgânica associada ao alto poder
consideração, pois o profissional está sujeito a
antimicrobiano do hipoclorito. É encontrado em
acidentes durante o processo de irrigação e, nestes
diversas concentrações, podendo variar de 0,5%,
casos,quanto maior a concentração da solução,
conhecido como líquido de Dakin, até 5,25% - a
maiores os danos aos tecidos adjacentes. O
Soda Clorada.
extravasamento de hipoclorito para os tecidos
A capacidade de atuação da solução periapicais pode ser um dos mais alarmantes
irrigadora depende diretamente do contato com as acidentes durante a terapia endodôntica, devido às
paredes do conduto radicular, para tanto, o suas manifestações, provocando dor intensa e
comprimento alcançado pela agulha de irrigação, o edema praticamente instantâneo. O tratamento para
volume e a frequência da irrigação devem ser tais intercorrências é sintomatológico e atenuante,
suficientes ao propósito empregado, atingir por devendo-se aguardar a remissão dos sintomas e
completo o conduto radicular e promover sua acompanhar o paciente até a sua completa
limpeza. recuperação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
U
ma correta determinação do uma tomada radiográfica periapical ortoradial com uso
comprimento de trabalho é o de posicionadores radiográficos (figura1).
principal fator que conduz ao
sucesso do tratamento endodôntico (COHEN;
HARGREAVES, 2006). Estudos demonstraram que os
resultados histológicos depois de um tratamento
endodôntico tem sido superior quando a
instrumentação e obturação respeitam o correto
comprimento de trabalho (RICUCCI et al.,1998).
Com o intuito de melhorar a correta
determinação do comprimento de trabalho, em 1918,
Custer começou a investigar o primeiro método
Figura 1 – Radiografia orto radial.
eletrônico de determinação do comprimento de
trabalho. Sua funcionalidade se baseava no fato da Realizamos a anestesia local, isolamento
condutividade da corrente elétrica dos tecidos ao redor absoluto do campo operatório, abertura dos dentes,
do ápice radicular ser maior que a condutividade dentro remoção do tecido pulpar, preparo inicial dos dentes
dos sistemas de canais radiculares. com limas K-Flex 15, 20 e 25 de 25 mm cada (figura
Em 1962, Suzuki revisou a pesquisa de 2).
Custer, fazendo experimentos em dentes de cães.
Sunada, em 1962, utilizou tais princípios e
criou um dispositivo simples que media o comprimento
de trabalho por meio de diferentes correntes elétricas.
Kobayashi, em 1995, identificou as
deficiências apresentadas no dispositivo proposto por
Sunada e as eliminou, sendo criada a primeira geração
de localizadores foraminais que usavam um método de
alternar corrente elétrica com um comprimento de onda
de 150 Hz.
Várias pesquisas continuaram sendo Figura 2 – Sequência de limas K-Flex.
A
s perfurações radiculares opinião. Como era possível observar na radiografia que
iatrogênicas podem ocorrer durante a guta-percha ainda estava presente no canal, foi
o tratamento endodôntico como solicitada uma tomografia computadorizada por feixe
resultado de direção de trepanação incorreta, desgastes cônico do dente e a paciente foi medicada com
dentinários excessivos ou uso incorreto de Clavulin BD 875mg (GSK, Brasil) de 12/12 h por 7
instrumentos manuais ou rotatórios. Também podem dias e Nimesulida 100mg (Medley, Brasil) de 12/12 h
ser resultado de desvios no preparo para retentores enquanto houvesse dor.
intrarradiculares (FUKUNAGA et al., 2007).
Vários materiais já foram propostos para o
reparo destas perfurações. O MTA (Agregado Trióxido
Mineral) é um material desenvolvido por uma equipe
de pesquisadores da Universidade de Loma Linda,
Califórnia (TORABINEJAD; WATSON; PITT FORD,
1993). Este material apresenta potente atividade
osteogênica e cementogênica (MAEDA et al., 2010).
Além disso, o MTA, ao contrário de outros materiais,
necessita de umidade para melhor adaptação sobre as Figura 1 - Edema gengival com drenagem purulenta.
superfícies (SLUYK; MOON; HARTWELL, 1998).
Por estes motivos, atualmente, tem sido largamente
empregado no reparo de perfurações iatrogênicas
(KATSAMAKIS et al., 2013).
osteogênese e cementogênese. O MTA apresenta estas TORABINEJAD, M.; WATSON, T. F.; PITT FORD,
T. R. Sealing Ability of a Mineral Trioxide Aggregate
propriedades e é, atualmente, o material mais indicado When Used as a Root-end Filling Material. Journal of
para o selamento destas comunicações Endodontics, v. 19, p. 591-595, 1993.
A
perda prematura de dentes terapia fotodinâmica pode ser utilizada como
decíduos pode levar à má-oclusão coadjuvante ao tratamento endodôntico convencional
além de problemas funcionais e (PINHEIRO et al., 2012; PINHEIRO et al., 2014).
estéticos. A preservação da vitalidade dos dentes A laserterapia não pretende substituir os
decíduos até a época de esfoliação é fundamental para tratamentos convencionais, mas pode auxiliar o
a manutenção da integridade do arco (PARISAY; organismo a regular seus processos biológicos,
GHODDUSI; FORGHANI, 2015). colaborando com a regeneração e o restabelecimento
A terapia pulpar na dentição decídua inclui do equilíbrio, obtendo a cura de forma mais rápida e
uma variedade de opções de tratamento, dependendo ordenada (VARELLIS, 2013).
do estado da polpa. O tratamento conservador é O uso do laser de baixa intensidade (LBI) tem
realizado quando a polpa permanece vital porque o mostrado grande repercussão no tratamento de tecidos
potencial para a recuperação existe e a irritação foi da cavidade oral. Alguns estudos clínicos e
removida. A pulpectomia é indicada em dentes que histológicos que investigaram a aplicação do LBI aos
mostram evidências de inflamação crônica irreversível tecidos dentais mostraram o seu potencial na redução
ou necrose na polpa radicular (FUKS; GUELMANN; da inflamação pulpar, na preservação da vitalidade e
KUPIETZKY, 2012). melhora na cicatrização (GOLPAYEGANI et al., 2010;
A instrumentação dos canais radiculares de TOOMARIAN et al., 2012; NETO et al., 2013;
molares decíduos pode ser realizada com técnicas de FERNANDES, 2014).
instrumentação manual, híbrida, rotatória e O laser de baixa intensidade tem sido
reciprocante. Avaliando os sistemas manual e rotatório, amplamente usado em odontologia para controle da dor
o rotatório necessitou de menor tempo de em diversas áreas.
instrumentação e produziu menos lama dentinária Em avaliação clínica para verificar
(PINHEIRO et al., 2012). O sistema reciprocante, uma aplicabilidade do LBI para pulpotomia de dentes
lima e o rotatório, sequência de quatro, utilizados em decíduos, observou-se que a LBI pode ser considerada
conjunto com a desinfecção química com 1,0 % de para pulpotomia de dentes decíduos com resultados
hipoclorito de sódio, foram capazes de reduzir a semelhantes à técnica de pulpotomia utilizando o MTA
contagem de Enterococcus faecalis em molares (ULOOPI, 2016).
decíduos (PINHEIRO et al., 2016). O LBI paraceu promissor para reduzir a dor na
Considerando que o tempo de instrumentação ortodontia; em uma revisão sistemática para ensaios
é um fator clínico importante no manejo do paciente clínicos randomizados (ECR) antes de novembro de
odontopediátrico, o uso de instrumentos rotatórios para 2014, utilizando o Cochrane Library (Edição 9, 2014),
pulpectomias em dentes decíduos é recomendado PubMed (1997), EMBASE (1947) and Web of Science
(GEORGE et al., 2016). (1956), foram encontrados 186 estudos, 14 ensaios
A remoção de detritos orgânicos é o principal clínicos randomizados, com um total de 659
objetivo da pulpectomia em dentes decíduos participantes de 11 países. A meta-análise mostrou que
(GEORGE et al., 2016). A instrumentação manual ou a LBI reduziu significativamente a dor na ortodontia
rotatória associada à terapia fotodinâmica (PDT) em 39% em comparação com grupos placebo (REN et
acarretou a redução de Enterococcus faecalis do al., 2015).
sistema de canais radiculares de molares decíduos. A Na hipersensibilidade dentinária, a aplicação
349
do laser com 30 segundos de duração reduziu a dor
completamente depois de uma semana, já com a
duração da exposição de 60 segundos, a dor
desapareceu completamente depois de 15 minutos e
uma semana da aplicação do laser (HASHIM et al.,
2014).
A fotobioestimulação por laser tem sido
empregada após tratamentos endodônticos, lesões
traumáticas, viróticas ou nos pós–operatório,
promovendo aceleração da reparação tecidual com
padrão de qualidade histológica superior (VARELLIS, Figura 1 – Radiografia Periapical inicial.
2013).
O laser de baixa intensidade (LBI) tem Foi realizado o tratamento endodôntico com o
apresentado diversas aplicações na odontologia. Ênfase seguinte protocolo: a) antissepsia do campo operatório
tem sido dada ao seu uso no controle da dor. A com Clorexidina 0,12% (Periogard, Colgate, São
endodontia é associada à dor por grande número de Paulo, Brasil) e anestesia local com Lidocaína 2%
pacientes e quando se trata do paciente infantil, isso é (Alphacaine 100, DFL, Rio de Janeiro, Brasil); b)
exacerbado. A busca por recursos que tornem o isolamento absoluto e cirurgia de acesso (Madeitex,
atendimento odontológico assintomático, na atualidade, São José dos Campos, São Paulo, Brasil); c)
é constante e o LBI está desempenhando uma exploração dos canais com limas manuais Flexofile
importante ação. (Dentsply-Maillefer, Ballaigues, Suíça) tipo K#10 ou
#15 no comprimento do dente (CD), comprimento
idade, foi encaminhada para tratamento odontológico ,Suíça): S1 (300 RPM/torque 3 N), S2 (300
apresentando lesão de cárie em vários dentes. Já havia RPM/torque 3 N); e) odontometria eletrônica com
realizado tratamento odontológico prévio que culminou localizador Propex II ((Dentsply-Maillefer, Ballaigues,
com a exodontia do dente 74. Ao exame clínico, notou- Suíça) e lima manual K#15 no comprimento real de
se presença de necrose pulpar do dente 75 com trabalho (CRT); f) modelagem dos canais com preparo
mostrou área radiolúcida na raiz distal, presença da CRT; g) irrigação passiva com 0,5 ml de Clorexidina
integridade da cripta do sucessor permanente, gel 2% e 1,5 ml de soro fisiológico (Fórmula & Ação,
reabsorção inferior a metade da raiz e dente 35 no São Paulo, Brasil) a cada troca de lima; h) secagem
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 7 – Irradiação na região do ápice por vestibular.
REFERÊNCIAS
A
tomografia computadorizada de utilizadas para melhorar a atividade antibacteriana
feixe cônico (TCFC) produz uma desses agentes contra infecções microbianas, é a
imagem tridimensional das combinação de materiais antibacterianos, a fim de
estruturas do esqueleto maxilofacial, incluindo os alcançar uma maior diminuição do número de
dentes e os tecidos em torno do dente, proporcionando bactérias. Assim, a aplicação de medicamentos
uma visualização mais detalhada da estrutura dental e intracanais entre as consultas pode ser utilizada, sendo
adjacências (COTTON et al., 2007). Dessa forma, a o hidróxido de cálcio um dos medicamentos intracanais
TCFC pode ser uma poderosa ferramenta para o mais populares usados na Endodontia (AFKHAMI et
diagnóstico e planejamento do tratamento endodôntico, al., 2015).
ao mesmo tempo em que oferece, também, algumas Segundo Singh (2013), o hidróxido de cálcio
limitações que devem ser levadas em consideração, altera as paredes celulares bacterianas e desnatura uma
como a dose de radiação necessária para realizá-la, endotoxina potente, um lipopolissacarídeo, tornando-a
além da idade do paciente e condições de saúde menos antigênica. Tem sido sugerido que o hidróxido
(PATEL, 2009). de cálcio possui propriedades preventivas de dor
Muitos estudos avaliam comparativamente a devido à sua ação antimicrobiana, além disso, ele
TCFC, e as radiografias periapicais e panorâmicas, no controla o processo inflamatório e induz o reparo
que diz respeito à fidelidade de resultados em diversos tecidual.
aspectos, como por exemplo: o tamanho de lesões
periapicais (LOFTAHANG-HANSEN et al., 2007, DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
detecção de defeitos ósseos (PATEL et al., 2009). normosistêmico, procurou atendimento odontológico
envolvidos na etiologia das doenças pulpares e Brasil, queixando-se de dor intensa à mastigação na
presentes no interior de um canal radicular infectado é relatou ter feito tratamento endodôntico na região dos
alcançada pela combinação de meios como a limpeza dentes inferiores há um ano, e estava assintomático até
mecânica, irrigação com agentes antimicrobianos e o então. Ao exame clínico, constatou-se discreto
uso de pastas antibacterianas no canal (AMORIM et aumento de volume na região de mento; observou-se
complexo sistema anatômico dos canais radiculares, provisório na face lingual do dente 41. Ao exame
resíduos orgânicos e bactérias encontram-se nos radiográfico periapical (figura 1), constatou-se que os
túbulos dentinários, não podendo ser removidas dentes 31 e 32 já haviam recebido tratamento
somente com a mecânica da instrumentação (GOMES- endodôntico prévio e discreta rarefação óssea
REFERÊNCIAS
proservação, vemos que há indícios de regressão da COTTON, T.P. et al. Endodontic applications of cone-
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Capítulo 57
Protocolo para tratamento e
selamento de perfurações
radiculares com MTA
A
tualmente, a Odontologia visa a ocasionando complicações que poderão comprometer a
manutenção de dentes em integridade do elemento dentário envolvido
condições ótimas de saúde e (BERNABÉ; HOLLAND, 2004; GAVA, 2012; KUGA
função. Mesmo com o advento dos implantes et al., 2000; ZACCARA et al., 2014) e correspondem à
osseointegráveis, a permanência do elemento dental segunda maior causa das falhas em tratamento
mantém-se como questão primordial na prática diária. endodôntico, representando cerca de 10% dos casos de
No entanto, apesar de toda evolução técnica e insucessos (GAVA, 2012; KUGA et al., 2000; RUIZ,
científica, existem situações em que esse propósito não 2003). Perfurações, principalmente na região de
é atingido (LOPES; SIQUEIRA JÚNIOR, 2010). assoalho da câmara pulpar e terço cervical da raiz,
Nesse sentido, a Endodontia assume um papel determinam um evidente efeito deletério sobre o
fundamental, pois intercorrências em nível do sistema prognóstico da terapia endodôntica.
de canais radiculares (SCR) podem inviabilizar a Por décadas, a literatura não apresentava uma
permanência de um elemento dentário na cavidade estratégia eficaz para a recuperação de dentes
bucal. No entanto, é inegável a constante evolução que perfurados. Esta limitação esteve restrita à ineficácia
a Endodontia vem experimentando nos últimos anos, dos materiais e à ausência de um protocolo de
tanto no campo biológico quanto nos procedimentos descontaminação da área afetada (ALHADAINY;
técnicos, aumentando os índices de sucesso nos HIMEL, 1994). Outro fator limitante era a
tratamentos endodônticos, permitindo às estruturas impossibilidade de visualização direta e magnificada
dentárias acometidas manterem-se em harmonia com o do campo de ação, hoje garantida pelo uso do
sistema estomatognático (BRAMANTE et al., 2008; microscópio operatório cirúrgico (MO) (CARR;
KUGA et al., 2000; LEAL; BAMPA; POLISELI MURGEL, 2010; DAOUDI; SAUNDERS, 2002). O
NETO, 2005). MO tem sido descrito como ferramenta importante no
Apesar de toda esta evolução, os tratamentos sucesso do tratamento endodôntico, devido ao auxílio
de canais radiculares, basicamente, são realizados por na iluminação e visualização exata das dimensões da
passos operatórios técnicos. A instrumentação manual, perfuração (CARR; MURGEL, 2010; DAOUDI;
apesar de amplamente utilizada para este fim, apresenta SAUNDERS, 2002; FEIX et al., 2010; GONDIM
limitações no que se refere à limpeza e desinfecção do JÚNIOR et al., 1999).
canal radicular (ARAÚJO FILHO, 2010; Muitas pesquisas são realizadas na área de
BUCHANAN, 2000). Dessa forma, durante a materiais voltados para a Endodontia, com a
realização do tratamento endodôntico, o profissional preocupação de encontrar um material ideal que possa
está sujeito a alguns acidentes decorrentes de sua ficar em íntimo contato com os tecidos periapicais,
própria atuação e/ou de dificuldades impostas pelo e/ou com os tecidos periodontais, como nos casos de
próprio caso, sendo um destes a perfuração radicular perfurações. O material selecionado deve possuir
(ARAÚJO FILHO, 2010; BRAMANTE et al., 2008; capacidade de adesão e adaptação às paredes da
BUCHANAN, 2000; KUGA et al., 2000). dentina, para assim, prevenir a infiltração de
As perfurações das paredes do canal radicular microrganismos e seus produtos, bem como ser
configuram um dos mais desagradáveis acidentes que biocompatível, e ao mesmo tempo, estimular a
podem ocorrer durante o tratamento endodôntico, regeneração dos tecidos perirradiculares, apresentar-se
360
insolúvel nos fluidos teciduais, ter estabilidade na com o cimento age como ativador da reação química,
presença de umidade e ser de fácil manuseio justificando sua utilização cada vez maior no reparo
(BERNABÉ; HOLLAND, 2004; LEAL; BAMPA; das perfurações dentárias (GAVA, 2012).
POLISELI NETO, 2005; TORABINEJAD; WATSON; Apesar de a literatura enfatizar a necessidade
PITT FORD, 1993; TORABINEJAD et al., 1995). de rigor na técnica de limpeza para o tratamento do
Diversos materiais têm sido empregados para SCR antes da obturação, o mesmo não é preconizado
esta finalidade, dentre os quais, têm-se: o amálgama de para o saneamento dos dentes perfurados. Restabelecer
prata, cimentos derivados de óxido de zinco e eugenol a função e a estética de um dente perfurado e mantê-lo
® TM
(OZE) (IRM e SuperEBA ), as resinas compostas no sistema estomatognático sem sintomas clínicos e
fotopolimerizáveis, o ionômero de vidro, os cimentos à radiográficos, constitui um dos maiores desafios da
base de hidróxido de cálcio (Ca[OH] 2 ) e a guta-percha. Endodontia. O procedimento para reparo de um dente
Porém, apresentam algumas desvantagens, como os perfurado consiste na abordagem da perfuração via
® TM
cimentos IRM e o SuperEBA que são sensíveis à coroa-raiz, e/ou cirurgicamente (GAVA, 2012). Em
umidade, são irritantes aos tecidos, apresentam qualquer das condutas adotadas, o fundamental para se
solubilidade e dificuldade de manipulação; já o alcançar sucesso é que se consiga uma boa
amálgama de prata, sofre infiltração inicial, corrosão descontaminação da região afetada e um bom
secundária, contaminação pelo mercúrio, sensibilidade selamento, impedindo o trânsito de bactérias e a troca
à umidade e tem necessidade de um preparo retentivo de fluidos entre o espaço endodôntico e periodontal. A
(TORABINEJAD; WATSON; PITT FORD, 1993). excelência na qualidade da descontaminação e do
Assim, com a intenção de suprir tais selamento pode ser comprometida por fatores inerentes
insuficiências, em 1993, na Universidade Loma Linda, ao operador (habilidade), acesso visual ao campo
Califórnia, EUA, o Dr. Mahmoud Torabinejad e seus operatório (localização e tamanho da perfuração) e
colaboradores desenvolveram um novo cimento conhecimentos das características físico-químicas do
denominado Agregado Trióxido Mineral (MTA), com material reparador (BRAMANTE et al., 2008;
a finalidade de selar as vias de comunicação entre o ESTRELA; BIFFI; DIRCEU, 2004; GAVA, 2012).
SCR e a superfície externa do dente, oferecendo, pela No tratamento das perfurações, se faz
primeira vez, a possibilidade de regeneração do que necessário que a loja óssea, proveniente da perfuração,
somente reparo. Em 1998, depois de aprovado pela seja adequadamente limpa e livre de bactérias, antes
Food and Drug Administration, foi lançado no que se proceda o vedamento dessas comunicações entre
®
mercado, em 1999, com o nome de ProRoot MTA endodonto e periodonto.
pela Dentsply Tulsa Dental, Oklahoma, USA. Sendo assim, torna-se questão relevante
As indicações clínicas para o uso desse desenvolver um protocolo sobre como eliminar sinais e
material podem ser: capeamento pulpar em pulpite sintomas clínicos e radiográficos de um dente
reversível, apicificação, reparo de perfuração radicular perfurado portador de infecção crônica. Frente ao
cirúrgica e não cirúrgica, bem como material exposto, este trabalho sugere, por meio de três casos
retrobturador (TORABINEJAD; CHIVIAN, 1999). clínicos, um protocolo para tratamento das perfurações
Sua composição é principalmente de óxidos minerais e radiculares e seu respectivo selamento com MTA,
consiste de um pó de partículas finas e hidrofílicas que, utilizando-se da proservação longitudinal e
em presença de água, forma uma pasta que se radiográfica.
solidifica. A umidade do tecido circundante em contato
361
DESCRIÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS da limpeza realizada. Com auxílio de uma seringa
descartável, procedeu-se irrigação/aspiração com 5 mL
Protocolo de Tratamento de NaOCl 5,2% neutralizando-o com irrigação final de
Os três pacientes, cujos casos são 5 mL de soro fisiológico.
apresentados, foram tratados seguindo-se uma mesma Visando descongestionar esta região altamente
sequência, resultando em um tratamento composto por hiperêmica, desorganizou-se este tecido de granulação
quatro sessões, descritas a seguir. com a ponta ultrassônica, provocando um sangramento
Ressalta-se que, previamente à primeira abundante. A hemostasia foi alcançada pela suave
sessão, todos os pacientes foram submetidos à compressão de bolinhas de algodão estéreis sobre o
anamnese, exame clínico (inspeção visual, palpação, tecido hiperemiado. Mesmo não havendo uma estase
percussão vertical, percussão horizontal e sondagem sanguínea total, realizou-se a última irrigação com soro
periodontal) e radiográfico (periapical). Utilizando-se fisiológico seguida da colocação da primeira porção do
do exame de sondagem periodontal, as perfurações curativo de Ca(OH) 2 (Figura 2B).
foram classificadas em dois tipos, conforme demonstra Selecionou-se um condensador endodôntico
a figura 1. de diâmetro compatível com o da perfuração para se
proceder a condensação do Ca(OH) 2 P.A. Esse
medicamento foi colocado na câmara pulpar e/ou
entrada do conduto, com o auxílio de um calcador de
substância plástica, e condensado sobre o tecido de
granulação. Forçou-se o Ca(OH) 2 sobre o tecido de
granulação até a obtenção de hemostasia total e a
compressão desse tecido contra o osso alveolar. O
Ca(OH) 2 preencheu parte do conduto ou câmara pulpar
Figura 1 – Classificação da perfuração quanto à sondagem
periodontal. e o espaço restante foi ocupado pela fixação de uma
restauração provisória (Figura 2C).
dentro da raiz/coroa e da loja óssea, adjacente à granulação; colocação e condensação do Ca(OH) 2 P.A. no 1º
curativo; C) curativo de Ca(OH) 2 P.A. aplicado e selamento
perfuração. Com o auxílio do MO, confirmou-se a
provisório hermético.
localização e a dimensão da perfuração, e a qualidade
362
obturação do endodonto (Figura 3E), preencheu-se com
Na segunda sessão, ocorrida após um intervalo Ca(OH) 2 P.A. o espaço do conduto compreendido
mínimo de sete dias, removeu-se o selamento entre a extremidade da obturação de guta-percha e a
provisório do dente, o Ca(OH) 2 P.A. e remanescente cirurgia de acesso, de modo a não comprometer as
do tecido granulomatoso (Figura 3A). Nesta etapa do dimensões mínimas desta cavidade para a colocação do
tratamento, realizou-se a retificação da cirurgia de selamento provisório. Atualmente, faz-se uma
acesso, com brocas diamantadas nº. 4137 ou 4138 e blindagem do terço apical obturado com um dos
esféricas carbide de haste longa nº. 2 ou 3, a fim de que seguintes materiais: ionômero de vidro, cotozol ou
se obtivesse uma perfeita visualização da(s) entrada(s) resina fotopolimerizável.
do(s) conduto(s) radicular(es) e da perfuração. Quando
necessário, a perfuração foi ampliada e os bordos
regularizados com esses mesmos instrumentos,
eliminando-se os nichos que poderiam abrigar bactérias
e restos de tecido de granulação (Figura 3B).
Durante a execução destes dois tempos
Figura 3 – Desenho ilustrando: A) remoção do 1º curativo de
cirúrgicos, a dentina excisada foi constantemente Ca(OH) 2 P.A. e remoção de restos de tecido de granulação;
eliminada por meio de manobras de irrigação com B) retificação da cirurgia de acesso e regularização do
NaOCl e aspiração. Removidas todas as formas de orifício da perfuração; C) colocação e condensação do
inconveniências a uma visualização direta, obteve-se Ca(OH) 2 P.A. no 2º curativo; D) limpeza, modelagem e
uma perfuração bem iluminada e exposta ao controle obturação do terço apical do conduto; E) terço apical do
do operador. Procedeu-se, a seguir, a uma limpeza conduto obturado, 2º curativo de Ca(OH) 2 P.A. aplicado e
selamento provisório hermético.
rigorosa de todo o ambiente, removendo restos de
dentina, de tecido de granulação e do 1º curativo de
Ca(OH) 2 P.A. Para garantir a ação do Ca(OH) 2 P.A Decorridos sete dias (terceira sessão),
sobre bactérias e restos de tecido de granulação, em removeu-se o selamento provisório do dente. O
regiões de difícil acesso da loja óssea, realizou-se a curativo de Ca(OH) 2 P.A. removido apresentou a
aplicação do 2º curativo de Ca(OH) 2 P.A. após ter sido aparência de pó compactado, diferente do 1º curativo
feita uma farta irrigação com NaOCl 5,2%, a qual foi que apresentou aspectos de “pasta de pigmentação
neutralizada pelo soro fisiológico. Com a loja óssea escura” provocada pelo sangramento existente até
ainda umedecida pela última irrigação com o soro então. Este aspecto branco do medicamento comprovou
fisiológico, condensou-se o 2º curativo de Ca(OH) 2 a eficácia da condensação sobre os restos de tecido
P.A. conforme descrito para a primeira sessão (Figura granulomatoso e também do selamento provisório.
3C). Se no planejamento de recuperação definitiva
Com o 2º curativo de Ca(OH) 2 P.A. do dente estiver prevista a modelagem de um retentor
concluído, procedeu-se ao tratamento do endodonto, intrarradicular, com auxílio de uma sonda endodôntica,
começando pela remoção do Ca(OH) 2 P.A recém- remove-se o Ca(OH) 2 P.A. que se encontra no interior
condensado no conduto até expor a extremidade da do conduto, mantendo a perfuração coberta pelo
obturação do canal, que seria substituída. Esta remoção curativo (Figura 4A). O comprimento do molde do
do Ca(OH) 2 P.A. do conduto deve ser delicada e retentor intrarradicular ultrapassou a perfuração em 1-2
realizada com auxílio do MO (Figura 3D). Após a mm, para garantir maior resistência à raiz e evitar a
363
transmissão de forças oclusais diretamente sobre a uma gaze estéril seca ou aspirando-se à distância com
perfuração. O molde do retentor intrarradicular recebeu cânula média. Aguardou-se aproximadamente 5
um alívio na porção correspondente à perfuração, para minutos para que o líquido embebido nas partículas de
que não exercesse esforço sobre a superfície da MTA se acomodasse e deixasse uma camada externa
obturação na ocasião da cimentação definitiva, de aparência fosca.
prevenindo, assim, manipulação e possível Terminada a condensação, removeu-se a
deslocamento da obturação da perfuração durante este bolinha de algodão que protegia a obturação do canal,
processo. deixando-se livre o espaço preparado para o núcleo,
Nos dias atuais, após muitos estudos, com vista à sua futura cimentação. Colocou-se, sobre o
observou-se que o MTA é suscetível à ação de motores MTA, uma barreira de algodão umedecido, que
de alta rotação, sendo, portanto, possível o retoque no otimizou a presa do produto e o protegeu de qualquer
espaço para pino e a sua modelagem realizada na contato com o cimento fixador do provisório (Figura
última sessão. Terminada a modelagem, realizou-se a 4E).
limpeza final da perfuração com ponta ultrassônica e
irrigação/aspiração abundante com solução de NaOCl
5,2%, sendo, posteriormente, neutralizada por irrigação
com soro fisiológico, a fim de se remover todo o
Ca(OH) 2 e possíveis restos de tecido de granulação,
deixando a loja óssea com aspecto limpo (Figuras 4B e Figura 4 – Desenho ilustrando: A) limpeza, modelagem e
4C). Se a loja óssea, pelo contrário, ainda não obturação do terço apical do conduto; B) limpeza final com
apresentasse esse aspecto, repte-se a aplicação do ultrassom; C) neutralização com soro fisiológico; D) bolinha
curativo de Ca(OH) 2 , que deve permanecer por mais de algodão estéril protegendo a obturação do terço do
conduto, colocação e condensação do MTA na perfuração; E)
sete dias.
sistema endodôntico/periodontal/perfuração tratado selado,
Antes da condensação do MTA, uma bolinha
barreira de algodão umedecido no conduto e selamento
de algodão é colocada sobre o terço apical da obturação
provisório hermético.
do SCR, permanecendo a entrada da perfuração livre à
passagem do material para o periodonto (Figura 4D). O
Na quarta sessão, após um período de sete dias
material seco foi levado ao local da perfuração por um
(tempo necessário para observação de possíveis
calcador de substância plástica 6335 nº. 1 (Duflex®) e
manifestações clínicas pós-obturação da perfuração),
condensado com condensadores endodônticos
removeu-se a barreira de algodão, realizou-se o
(Odous®) de tamanho compatível com o campo. O
controle da presa do material e verificou-se o
MTA não foi misturado a líquido antes de sua
selamento da perfuração, por meio de inspeção com
colocação, utilizou-se o próprio fluído presente no
uma sonda exploradora (Figura 5A). Após ter tomado
local para sua umidificação. A consistência esperada
presa, estando resistente à penetração da sonda e sem
do material é a de “cimento de construção”. Se a
frestas, procedeu-se ao selamento definitivo da raiz via
umidade não fosse suficiente acrescentaria soro
cimentação de retentores intrarradiculares com
fisiológico, transferindo, por meio de uma seringa, gota
posterior colocação de uma coroa provisória (Figuras
a gota sobre o material. Se apresentasse uma
5B e 5C).
consistência muito fluida (aspecto brilhante), o excesso
de líquido era removido pressionando-se sobre o local
364
radiográfico, constatou-se a referida perfuração (8 x 10
mm), com ampla destruição do assoalho. O profissional
que havia tratado a paciente anteriormente confundiu o
teto com o assoalho da câmara, removendo este último,
ocasionando extensa lesão osteolítica, além da presença
de tecido inflamatório de granulação. A perfuração
estava localizada no assoalho da câmara, com boas
Figura 5 – Desenho ilustrando: A) verificação da presa do condições de acesso e visibilidade, mesmo assim,
MTA e do selamento da perfuração; B) cimentação do utilizou-se o MO para o tratamento. Após a
retentor intrarradicular com fosfato de zinco; C) sistema desorganização do tecido de granulação, introduziu-se
endodôntico/periodontal/perfuração tratado e selado, retentor Ca(OH) 2 P.A. para neutralização do processo
intrarradicular cimentado e coroa provisória cimentada.
inflamatório. A ausência de exsudato e tecido
inflamatório foi alcançada após duas sessões de troca
O retorno para a proservação ocorreu três do curativo, evidenciando o momento clínico adequado
meses após a última sessão. Foram realizados os para a obturação da perfuração. O MTA foi colocado
exames de: inspeção, palpação, percussões horizontal e em pó e condensado em toda a loja óssea. Após a
vertical e sondagem periodontal, além da avaliação da confirmação da presa do MTA (sete dias), o trajeto dos
presença de edema, mobilidade e/ou fístula. canais palatino e distal foi reconquistado utilizando-se
Foram feitas radiografias de controle, broca diamantada e, cimentados (fosfato de zinco) dois
avaliados os achados e a documentação foi arquivada pinos rosqueáveis e realizado um núcleo de
para comparações futuras. A cada três meses, os preenchimento em resina fotopolimerizável. A
pacientes retornaram e foram submetidos à mesma restauração definitiva foi uma coroa total
bateria de exames. metalocerâmica. As Figuras 6A a 6C demonstram o
acompanhamento radiográfico do caso.
Casuística
O primeiro caso data de 1997, quando a exame clínico, foi constatado um pequeno edema no
vestíbulo e sensibilidade à palpação e percussão.
paciente D.S.M., com 22 anos, foi encaminhada com
Radiograficamente, foi observada uma pequena lesão
suspeita de perfuração de furca no primeiro molar
superior esquerdo (26). Após exame clínico e na furca e imagem compatível a uma perfuração (rasgo
365
na parede mesial do canal distal no terço médio da paciente apresentava, então, uma perfuração de cerca
raiz). Com auxílio do MO (aumento de 16X), de 2 x 2 mm e uma extensa lesão osteolítica, além da
observou-se que a perfuração estava localizada no terço presença de tecido inflamatório de granulação. A
cervical da raiz, com grau médio de dificuldade de perfuração localizava-se no terço apical da raiz, com
acesso e visibilidade. Foi removido aproximadamente 3 alto grau de dificuldade para acesso e visualização.
mm da guta-percha que obturava o canal distal e Após remoção da antiga obturação, procedeu-se
tamponava também a perfuração, de aproximadamente rigorosa limpeza inicial com a ponta ultrassônica e
2 x 2 mm. Após rigorosa limpeza inicial com ponta desorganização/drenagem do tecido inflamatório. Na
ultrassônica ST-21 e desorganização/drenagem do sequência foi aplicado o Ca(OH) 2 P.A. durante duas
tecido granulomatoso adjacente à perfuração de furca, sessões, sendo que, na terceira sessão, foi realizado o
foi aplicado Ca(OH) 2 P.A. durante duas sessões. Na tratamento/obturação do terço apical do canal com
terceira sessão, procedeu-se a remoção do Ca(OH) 2 e guta-percha e cimento, enquanto mantinha-se a
constatou-se a normalidade biológica do ambiente por perfuração provisoriamente selada com o Ca(OH) 2 .
meio de inspeção do MO. Assim, realizou-se a Após a remoção do Ca(OH) 2 da perfuração e do
aplicação do MTA em pó, preenchendo toda a loja periodonto, da constatação da normalidade biológica
óssea, deixando um pequeno excesso no interior do no ambiente, por meio de inspeção via MO com
canal, para melhor estabilização da perfuração e aumento de 16X, foi feita a introdução do MTA pó.
potencializar a capacidade de selamento. Durante a Para garantir o preenchimento de toda a loja óssea, o
aplicação do MTA, teve-se o cuidado de deixar espaço MTA foi condensado até a metade da raiz. Sempre que
para a futura modelagem e cimentação de um retentor necessário, acrescentava-se gotas de soro fisiológico
intrarradicular. Uma vez constatada a presa do MTA para obtenção da consistência ideal. Antes que o MTA
(sete dias), foi cimentado um pino rosqueável na raiz tomasse presa, escarificou-se o mesmo para garantir a
distal e confeccionado um núcleo de preenchimento presa e modelagem de um retentor intrarradicular
com resina. As Figuras 7A a 7C demonstram o metálico fundido. Após a observação da presa do MTA
acompanhamento radiográfico do caso. (sete dias), foi cimentado o retentor intrarradicular
metálico fundido e realizado um provisório. As Figuras
8A a 8C demonstram o acompanhamento radiográfico
do caso.
O MTA mostrou-se eficaz tanto por ter GAVA, A. B. O Agregado de Trióxido Mineral e sua
aplicação em perfurações radiculares. 2012. 31 f.
promovido um selamento adequado da perfuração Monografia (Especialização) – Faculdade Redentor,
como por sua tolerância tecidual, verificados clínica e Departamento de Pós-Graduação em Endodontia, Belo
Horizonte, 2012.
radiograficamente.
GONDIM JÚNIOR, E. et al. Tratamento de perfuração
A ausência de sinais e sintomas dos casos em furca de molar inferior com o uso de microscópio
proservados em 15 anos confirma que o protocolo odontológico: apresentação de um caso clínico. Revista
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515, 2002.
Capítulo 58
Abscesso apical agudo
A
bscesso Apical Agudo é uma outros. (SIQUEIRA JR.; RÔÇAS, 2013).
evolução da doença pulpar e Um abscesso é constituído por uma coleção de
periapical que se inicia com o pus em uma cavidade formada por tecido de
comprometimento da câmara pulpar por diversos liquefação. Os termos abscesso dentário, abscesso
fatores etiológicos dando início ao processo da doença. dento-alveolar, e abscesso odontogênico são muitas
As evoluções das alterações patológicas que vezes usados como sinônimos para descrever abscessos
acometem a câmara pulpar e a região periapical são de formados nos tecidos ao redor do dente. A causa pode
natureza inflamatória e ou infecciosa. Em situações ser uma infecção endodôntica (abscesso apical agudo)
clínicas que ocorrem exposição pulpar à cavidade oral ou uma infecção periodontal (abscesso periodontal e
e essa, por evolução clínica da doença pulpar, se torna pericoronarite).
necrosada, micro-organismos passam a colonizar o Em resposta à agressão, células inflamatórias,
canal radicular mesmo que uma lesão periapical ainda principalmente neutrófilos PMNs e macrófagos, são
não se tenha desenvolvido. A natureza da infecção atraídas para o local, visando à eliminação de bactérias
endodôntica em casos de abscessos é invadindo os tecidos perirradiculares. Se a resposta
predominantemente de micro-organismos anaeróbios inflamatória não consegue eliminar o agente agressor
estritos e gram (-) negativo. Esse conhecimento é ou reduzir intensidade da injúria, há exacerbação
importante para o desenvolvimento de estratégias caracterizada por inflamação purulenta. Isso ocorre
eficientes para o adequado controle da infecção. É de devido à presença de bactérias altamente virulentas
suma importância que o profissional conheça as associadas à infecção. Em associação com enzimas
principais causas e efeitos do processo infeccioso, proteolíticas liberadas por bactérias, enzimas
reconhecendo os principais micro-organismos lisossomiais, bem como radicais oxigenados, são
envolvidos, suas vias de acesso ao sistema de canais descarregados por neutrófilos, os quais promovem
radiculares, o padrão de colonização microbiana no liquefação tecidual, gerando o pus.
sistema e as suas consequências da infecção para o O abscesso apical agudo está então formado.
paciente. O processo agudo geralmente não dura mais do que 72
Os Abscessos Apicais Agudos são geralmente a 96 horas, sendo bastante eficaz em reduzir a agressão
localizados intra-oral, mas, em alguns casos, pode se bacteriana, embora isso possa custar a destruição da
espalhar e resultar em complicações graves ou mesmo arquitetura tecidual. Todavia, a disseminação da
à mortalidade. As razões pelas quais as infecções do infecção para espaços anatômicos da cabeça e do
canal radicular podem tornar-se sintomáticas e evoluir pescoço pode levar a quadros clínicos graves, inclusive
para uma forma grave e, por vezes, se espalhando com com risco de mortalidade. (SIQUEIRA JUNIOR,
risco de vida, são ainda imperceptíveis. Existem muitos LOPES, 2013).
estudos utilizando cultura e métodos de microbiologia
molecular avançadas para identificação microbiana de Tratamento
abscessos apicais agudos e tem-se demonstrado multi- Não há um consenso sobre o tratamento do
espécimes de comunidades visivelmente dominadas abscesso apical agudo como um padrão-ouro
por bactérias anaeróbicas, espécies comumente evidenciado pela grande variedade em protocolos
encontradas nessas infecções pertencentes aos gêneros: endodônticos e cirúrgicos e prescrição de antibiótico
Fusobacterium, Prevotella, Streptococcus, entre (KURIYAMA et al., 2005).
369
Os antibióticos não promovem a cura do presente caso descreve passo a passo o tratamento de
processo infeccioso, mas permitem um controle da urgência e o desafio de solucionar o controle da
infecção até que os mecanismos de defesa do infecção, a diminuição da dor e o desconforto para o
hospedeiro, inicialmente surpreendidos pelos micro- paciente.
organismos patogênicos, consigam efetivamente
controlar a situação e debelar a infecção. Atualmente, RELATO DO CASO
tem havido uma grande mobilização da comunidade
científica no sentido de restringir o uso de antibióticos
Paciente, sexo masculino, 44 anos de idade,
para apenas as situações em que essas drogas são
com anamnese preenchida e não relatando doenças
realmente necessárias e nas quais o benefício supera o
sistêmicas. O paciente queixa-se de dor espontânea,
risco do emprego. Partindo dessa conscientização, o
pulsátil, lancinante e localizada, febre e mal-estar. Ao
profissional deve, antes de pensar em qual antibiótico
exame físico, relatou um grande edema do lado direito
irá receitar, avaliar a real necessidade de seu uso. Em
com dor e tumefação difusa; no exame clínico notou-se
aproximadamente 60% dos casos em infecções em
uma cárie extensa em toda a oclusal do dente 16, ao
humanos, as próprias defesas do hospedeiro são as
teste de percussão horizontal e vertical com dor
responsáveis pela resolução do processo sem a
exacerbada e com pequena mobilidade e sem bolsa
necessidade de utilização de antibióticos. O uso
periodontal à sondagem; ao teste térmico a frio com
indiscriminado de antibióticos é a causa principal do
gás refrigerante a resposta foi negativa.
crescente desenvolvimento de resistência bacteriana, o
Radiograficamente, imagem radiolúcida da coroa
que tem gerado consequências desastrosas para a
sugestiva de cárie e aumento do espaço do ligamento
humanidade (SIQUEIRA JUNIROR, LOPES, 2013).
periodontal apical. A hipótese diagnóstica foi de
Analgésicos e anti-inflamatórios devem ser
necrose pulpar acarretando um abscesso apical agudo
prescritos e o emprego de antibióticos apenas está
(figura 1).
indicado em condições especiais quando: a) O abscesso
apical agudo com tumefação difusa e ou envolvimento
sistêmico, b) Avulsão dentária, c) Sintomatologia e/ou
exsudação persistentes, d) Abscesso apical agudo em
pacientes de risco, e) Uso profilático em pacientes de
risco (SIQUEIRA JUNIROR, LOPES, 2013).
O tratamento imediato consiste em eliminação
do agente agressor ou causal, sendo preferencialmente
em uma consulta de urgência, estabelecendo uma via
de drenagem intra ou extraoral e tratamento de
urgência, conforme descrição abaixo:
O
tratamento endodôntico tem por Perfuração radicular consiste na comunicação
finalidade promover um ambiente do sistema de canais com os tecidos de suporte do
propício para que o organismo elemento dental. Essa comunicação pode ser de origem
possa realizar a reparação dos tecidos periapicais após patológica ou iatrogênica (FUSS, 1996). Fatores que
a intervenção terapêutica, permitindo ao dente o influenciam este prognóstico de dentes perfurados
retorno de suas funções. Para isso, faz-se necessária a incluem o tamanho, o tempo de reparação, presença de
remoção dos agentes irritantes aos tecidos pulpares e inflamação, o nível e posição da perfuração. A
periapical, por meio da limpeza, desinfecção, localização da perfuração é fundamental para o
modelagem e a obturação do sistema de canais prognóstico. Este acidente, quando ocorre no terço
radiculares (COHEN, 2007). médio ou apical, apresenta maior dificuldade de
A possibilidade de insucesso existe quando há tratamento, porém melhores condições de reparo
uma falta de conhecimento correto da anatomia dental biológico. Já nas perfurações cervicais e no assoalho da
interna e de suas variações, dos instrumentos e câmara pulpar, o acesso é favorecido. No entanto, as
materiais utilizados, das técnicas operatórias, ou de um condições são propicias à contaminação, significando a
diagnóstico incorreto. Podem ocorrer acidentes dificuldade de cura do acidente (MAIN et al., 2004).
iatrogênicos que levam ao insucesso do tratamento. O objetivo de tratar perfuração é selar a
(FUKUNAGA et al., 2007). comunicação entre o espaço endodôntico e o tecido
O retratamento endodôntico é um perirradicular para prevenir reabsorção de osso alveolar
procedimento realizado sobre um dente que recebeu e dano ao ligamento periodontal (PACE; GIULIANI;
uma tentativa anterior de tratamento definitivo que PAGAVINO, 2008). Portanto, o material de escolha
resultou em uma condição que requer um novo para reparo deve ser não tóxico, selador, inerte,
tratamento endodôntico adicional para obtenção de um reparador, radiopaco, biocompatível, não absorvível,
resultado bem sucedido. Seu objetivo é tornar um dente bactericida ou bacteriostático, ser de fácil uso e
tratado novamente funcional e confortável, permitindo obtenção, ter boa aderência à dentina, induzir
o reparo completo das estruturas de suporte. (COHEN, osteogênese e cementogênese e ter bom selamento
2007). marginal (FUKUNAGA et al, 2007; AYALA et al.,
Os acidentes mais comuns na endodontia são: 2008; PACE, GIULIANI, PAGAVINO,2008).
perfurações, formação de degraus, fraturas de Diversos materiais têm sido utilizados para
instrumentos e desvios durante o preparo. Esses tratar perfurações radiculares, incluindo amálgama,
acidentes são considerados acontecimentos IRM, resina composta, Cavit, super EBA, ionômero de
imprevistos, que resultam em danos que dificultam ou vidro, Sealer 26, compômeros, óxido de zinco e
impedem o tratamento endodôntico. (LOPES, eugenol, guta-percha, hidróxido de cálcio, fosfato
SIQUEIRA JUNIOR, 2004). tricálcico, hidroxiapatita, cimento Portland, gesso de
Uma das maiores complicações do tratamento Paris, hidróxido de cálcio com iodofórmio e o mais
endodôntico é a perfuração radicular, que ocupa o recente é o MTA. (GONDIM JUNIOR et al., 1999;
segundo lugar nas causas mais comuns de insucessos TANOMARU FILHO, FALEIROS, TANOMARU,
do tratamento e são responsáveis por 9,6% dos casos 2002; FUKUNAGA et al., 2007; AYALA et al., 2008).
de falhas, podendo comprometer o prognóstico do O Agregado de Trióxido Mineral (MTA) tem
tratamento. (AYALA et al, 2008). recebido atenção especial. A biocompatibilidade do
374
MTA, a eficaz capacidade do material para selar O plano de tratamento proposto foi o de
perfurações radiculares, a capacidade de promover a remoção do núcleo metálico fundido e retratamento dos
regeneração perirradicular e as suas propriedades de canais radiculares.
fixação na presença de umidade, como o sangue, são Para remoção do núcleo, foi realizado
características importantes que podem resultar em desgaste do mesmo até a linha de cimento com broca
maiores taxas de sucesso e melhores prognósticos transmetal tronco-cônica, seccionamento do núcleo no
quando usado para o tratamento de perfurações sentido vestíbulo-lingual e posterior vibração ultras-
(ZACCARA, 2014). sônica, empregando-se inserto de endodontia na linha
Cimentos à base de hidróxido de cálcio têm de cimento e em todas as faces, inclusive no transpasse
sido sugeridos como materiais retrobturadoes e como do núcleo, com ligeira pressão em direção oclusal, de
cimentos para selamento de perfurações por sua acordo com o protocolo preconizado pelo EndoGroup e
capacidade de se dissociar em cálcio e íons hidroxila, Zuolo et al. (2009). Em todo momento, era utilizada
resultando num aumento do pH no meio adjacente e abundante irrigação com água destilada.
que induzem a formação de tecido mineralizado Na sessão seguinte, foi realizada anestesia
(TANOMARU FILHO et al., 2006). através do bloqueio do nervo alveolar inferior com
O Sealer 26® vem sendo utilizado como Lidocaina a 2% com epinefrina 1:100.000 e isolamento
material para selamento de perfurações e retrobturador. absoluto com lençol de borracha, grampo nº26 e arco
É um cimento à base de resina epóxica e hidróxido de de ostby. Para o retratamento, foram utilizadas limas
cálcio. Quando utilizado numa consistência mais Reciproc R25 nos canais mesiais e R40 no canal distal
espessa, mais pó incorporado ao líquido, resultando em e irrigação com hipoclorito de sódio a 2,5%. Durante a
uma maior quantidade de hidróxido de cálcio e maior desobstrução do canal mesio vestibular ocorreu um
®
liberação de íons de cálcio, o Sealer 26 tem desvio da trajetória do canal e uma consequente
demonstrado uma boa capacidade de vedação e uma perfuração. Foram feitas tentativas de retomada de
biocompatibilidade satisfatória (TANOMARU FILHO trajetória, mas sem obter sucesso, pois a lima
et al., 2011; TANOMARU FILHO et al., 2009). reciprocante sempre seguia a trajetória da perfuração.
Nos demais condutos, o material obturador foi
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO removido, a odontometria foi realizada com auxílio de
localizador foraminal, os canais foram
Paciente A. C, sexo feminino, 35 anos, reinstrumentados e, ao final da instrumentação, foi
procurou atendimento na clínica de pós-graduação em realizada patência com a lima tipo K #10. Por fim,
Endodontia, para realizar retratamento endodôntico no colocou-se HPG (pasta de hidróxido de cálcio,
elemento 36. Durante a anamnese, não foi relatada paramono e glicerina), como medicação intracanal e
nenhuma sintomatologia dolorosa. Clínica e selamento com coltosol.
radiograficamente foi detectado que o mesmo Na última sessão, foi realizada novamente
apresentava um núcleo metálico e um tratamento anestesia e isolamento. Para remoção da medicação
endodôntico (insatisfatório), com a presença de intracanal foi utilizada solução salina abundantemente,
rarefação óssea na região de furca. Foram realizados e a lima memória foi novamente utilizada para dar o
testes de percussão vertical, horizontal e palpação, refinamento na instrumentação e modelagem do
cujos resultados foram negativos. sistema de canais radiculares, agora irrigados com
clorexidina 0,12%. Para remover a smear layer, foi
375
utilizado EDTA a 17% por 3minutos e posterior
irrigação com clorexidina. Foi realizada conemetria,
por meio dos testes visual, tátil e radiográfico. Os
canais foram secos com cones de papel absorvente
esterilizados. Para se obter uma obturação hermética
tridimensional dos canais distal e mesio-lingual, optou-
se por utilizar a técnica híbrida de Tagger, utilizando
cone R40 pro canal distal e cone R25 pro canal mesio-
lingual, cimento Sealer 26, mcspadden 55, havendo
extravasamento de cimento para a região de furca, área
onde existia lesão. A perfuração foi selada com
Figura 2 - Aspecto clínico inicial.
cimento Sealer 26 na consistência de massa de
vidraceiro, com auxilio do condensador de Paiva e o
dente foi selado provisoriamente com civ.
Uma semana após a conclusão do tratamento,
a paciente retornou, foi reavaliada e não apresentava
nenhuma sintomatologia. Na radiografia de
proservação de um mês observou-se o início de uma
neoformação óssea na área de furca. A radiografia de
proservação de quatro meses mostra a continuação de
uma neoformação óssea. Até o momento o elemento
dentário ainda não foi reabilitado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Figura 7 - Prova do cone dos canais mesio-lingual e distal.
pulpar,
A radiculares é um dos passos mais
críticos no tratamento do canal,
incluindo a remoção do tecido
microrganismos e dentina infectada
aumenta a vida útil do instrumento de NiTi, e a
resistência à fadiga em comparação com a rotação
contínua (YOU et al., 2010; DE DEUS et al., 2010).
Melhorias na metalurgia, tratamento de
(BERGMANS et al., 2001). Uma preparação cuidadosa superfície, design, controle de qualidade e introdução
dos sistemas de canais radiculares pode melhorar a de treinamento prático tem reduzido a fratura da lima
eficiência de irrigantes e medicamentos e otimizar a (GAMBARINI et al., 2010; GUTMANN; GAO, 2012;
modelagem do canal radicular para futura obturação SHEN et al., 2013). O processamento termomecânico é
(BERGMANS et al., 2001; PETERS, 2004). frequentemente utilizado para otimizar o
Atualmente, com os avanços da tecnologia, os comportamento da micro-estrutura e transformação da
instrumentos endodônticos possuem uma variedade de liga de NiTi, que por sua vez, tem uma maior
modelos, cada um com diferentes custos, desempenho influência sobre as propriedades mecânicas das ligas de
e segurança (HULSMANN; PETERS; DUMMER, NiTi (GAMBARINI et al., 2010; BARDSLEY;
2005). A capacidade de uma lima em remover de PETERS; PETERS, 2011; GAO et al., 2012; SHEN et
forma eficiente a dentina é uma complexa inter-relação al., 2012).
em diferentes parâmetros, incluindo o número de Após a introdução de instrumentos ProTaper®
hélices, área de secção transversal, capacidade de corte, em 2001, houve o lançamento do sistema endodôntico
ângulo e inclinação helicoidal, design da ponta, WaveOne® (WO) de lima única em 2011, levando a
propriedades metalúrgicas e tratamento de superfície uma modelagem superior do canal radicular e
dos instrumentos. (FELT; MOSER; HEUER; 1982; segurança ao paciente. No sistema WO, foi introduzida
VINOTHKUMAR; MIGLANI; a tecnologia da liga de NiTi M-Wire, resultando em
LAKSHMINARAYANANAN, 2007; SCHEAFER; limas cada vez mais flexíveis com uma acentuada
OITZINGER, 2008). resistência à fadiga cíclica.
Recentemente, o uso do movimento Com o objetivo de melhorar a eficiência de
reciprocante tem ganhado popularidade e as limas corte e as propriedades mecânicas das limas, foi
reciprocantes têm sido submetidas a diversas introduzida no mercado, a nova lima reciprocante
publicações (ALVES et al., 2106; CARVALHO et al., WaveOne Gold (WOG). Essa lima traz para o
2015; GRANDE et al., 2015; HIGUERA et al. 2015; tratamento endodôntico uma metalurgia avançada. Este
PLOTINO et al., 2015). Este movimento tem sido instrumento é utilizado no conceito de lima única,
usado clinicamente em limas de aço inoxidável desde economizando tempo para a modelagem do sistema de
1958 (HULSMANN; PETERS; DUMMER, 2005). Em canais. (DENTSPLY, 2016).
2008, este conceito foi aplicado em instrumentos de A aparência dourada das limas WOG é o
NiTi em uma série de casos publicados (YARED, resultado de um processo de tratamento térmico único
2008). aplicado após a fabricação. O metal bruto é de níquel-
O movimento reciprocante alivia o estresse titânio que é repetidamente aquecido e resfriado,
sob o instrumento no sentido anti-horário (ação de dando-lhe não só a sua cor de ouro, mas também,
corte, o instrumento avança no canal e corta a dentina) melhoria considerável na sua flexibilidade e resistência
e no sentido horário (liberação do instrumento, o à fadiga cíclica (KARATAS et al., 2016).
380
A secção transversal da WOG foi aumentada, vestibular, distal e mesial, porém a região da gengiva
a partir da forma triangular do seu antecessor, para um livre se apresentava edemaciada. O resultado dos testes
desenho de paralelogramo com uma ou duas arestas de de sensibilidade ao frio e ao calor foram negativos.
corte; de acordo com a localização ao longo do eixo. A radiografia periapical inicial revelou a
Estas arestas são projetadas para minimizar o efeito de presença de canal único e leve espessamento apical do
enroscamento nas paredes do canal, reduzir torque, ligamento periodontal (figura 2).
melhorar a eficiência do corte e permitir uma melhor
remoção de detritos (KARATAS et al., 2016).
Outra diferença entre as limas WOG e WO
Primary é a conicidade nos 3 primeiros milímetros.
Enquanto os instrumentos Primary da WOG tem 0,07
de conicidade, os instrumentos Primary da WO têm
0,08 de conicidade. Além disso, o fabricante afirma
que as limas WOG têm 80% mais flexibilidade do que
as limas WO. Essas diferenças de delineamento
transversal, conicidade e flexibilidade da WOG pode
explicar a menor quantidade de material extruído
apicalmente por esses instrumentos (KARATAS et al.,
Figura 1 – Dente com fratura coronária horizontal.
2016).
O objetivo deste capítulo é demonstrar, por
meio de revisão de literatura e apresentação de caso Assim, de acordo com a história, exame
clínico, o uso de limas, com novo tratamento térmico, clínico e avaliação radiográfica, diagnosticou-se uma
na modelagem do sistema de canais radiculares. necrose pulpar do dente 11.
Baseado nestes dados, estabeleceu-se a
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO necessidade de protocolo terapêutico com a pasta de
hidróxido de cálcio para neutralização do pH e
Um paciente de 12 anos de idade, do gênero descontaminação do local.
masculino, foi encaminhado para tratamento
endodôntico do dente 11 devido a um trauma prévio.
Durante a anamnese, o responsável informou que a
criança não havia nenhum comprometimento
sistêmico. No exame subjetivo, o paciente relatou
ausência de sinais e sintomas clínicos.
Ao exame clínico, observou-se fratura de
esmalte e dentina e subluxação no elemento 11, sem
presença de fístula (figura 1). Observou-se ausência de
dor espontânea, à percussão vertical e horizontal e à
palpação na região apical, tanto por vestibular quanto
por palatino. A sondagem periodontal apresentou nível
normal (entre 2-3 mm) nas superfícies palatina, Figura 2 – Raios-X inicial evidenciando um leve
espessamento apical do ligamento periodontal na unidade
381
dentária 11. radicular e a polpa dental se destacou inteira do interior
infiltrativa com lidocaína 2% + epinefrina 1:100.000 A introdução da lima WaveOne Gold foi
(Nova DFL, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil), realizada em 3 pequenos movimentos de entrada e
abertura coronária com ponta diamantada esférica 1014 saída (leve pressão apical combinada com movimento
(K.G. Sorensen, Barueri, São Paulo, Brasil), de pincelamento contra as paredes do canal). Após
complementada com pontas diamantadas tronco- removida, a lima era limpa com gaze estéril e o canal
cônicas de extremidade inativa 3082 (K.G. Sorensen, era irrigado com 5 mL de hipoclorito de Sódio 2,5%.
A substância química auxiliar utilizada para o até o ponto zero. Para o Comprimento de Trabalho
preparo dos canais radiculares foi o hipoclorito de (CT) foi estabelecida a medida de 1,0 mm aquém do
Paulo, Brasil) inserida nos canais radiculares, com Na sequência, a instrumentação e modelagem
seringa hipodérmica de 3 mL e agulha 20 x 0,55 a cada do terço apical foi feito com a WaveOne Gold Medium
c) irrigação com 5 mL de hipoclorito de Brasil) e o acesso coronário foi restaurado com resina
sódio 2,5% e ativação em 3 ciclos composta fotopolimerizável (Filtek Z350 XT/ 3M).
de 20 segundos.
Com o auxílio de uma cânula de aspiração
®
(Capillary Tips/Ultradent , South Jordan, Utah, EUA)
®
e de pontas de papel absorvente (Dentsply-Maillefer ,
Ballaigues, Suiça), o canal radicular foi seco. O
preenchimento completo do conduto radicular foi
realizado com uma pasta composta pela associação de
hidróxido de Cálcio P.A (Konne Indústria e Comércio
de Materiais Odontológicos Ltda., Belo Horizonte,
Minas Gerais, Brasil) e propilenoglicol (Fórmula e
Ação, São Paulo, São Paulo, Brasil).
Após a colocação da medicação intracanal, o
dente foi selado provisoriamente com Coltosol
® Figura 5 – Raio-x final evidenciando a obturação do canal
(Vigodent , Bonsucesso, Rio de Janeiro, Brasil) e radicular da unidade dentária 11.
resina composta fotopolimerizável (Filtek Z350, 3M
Dental Products, Saint Paul, Minesota, EUA). O
Foi realizado controle clínico e radiográfico
paciente foi reagendado para o retorno em 40 dias.
após três meses, no qual constatou-se ausência de
Na segunda sessão, o dente 11 foi novamente
sinais e sintomas clínicos.
isolado para a remoção do material restaurador
temporário e posterior preenchimento do canal. Antes
da obturação, houve a realização novamente da PUI. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
tratamento endodôntico visa potencialização da irrigação (KATO et al, 2016;
possibilitar a manutenção dos LEONI et al., 2016) e as técnicas de obturação que
elementos dentais por meio da possibilitam melhor selamento dos condutos
desinfecção do sistema de canais radiculares radiculares (SAHNI et al., 2008). Este capítulo traz um
contaminados. Desde 1963, quando a Endodontia foi caso em que, utilizando-se técnicas adequadas e
reconhecida como especialidade pela American Dental criteriosas de instrumentação e obturação do canal
Association, até os dias de hoje, a efetividade do radicular em sessão única, obteve-se um resultado
tratamento endodôntico convencional, tem sido clínico e radiográfico de excelência.
constatada clínica e cientificamente (COHN, 2005).
Existem, na literatura, distintos critérios para DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
classificação do sucesso em endodontia. Os parâmetros
mais comuns utilizados para essa avaliação são os Paciente de iniciais L.H.S., sexo masculino,
aspectos radiográficos, clínicos e histopatológicos 35 anos, normosistêmico, compareceu ao consultório
(ZITZMANN et al., 2009), além da funcionalidade do do endodontista indicado por cirurgião-dentista clínico
dente envolvido (ESTRELA et al., 2004; PEREIRA et que identificou, em exame radiográfico de rotina, uma
al., 2010), e a presença e qualidade do selamento área radiolúcida extensa na região anterior de
coronário (PEREIRA et al., 2010), que também são mandíbula, sugestiva de lesão periapical de origem
critérios considerados em alguns estudos. endodôntica. Durante a anamnese, o paciente relatou
Quanto aos aspectos radiográficos, avalia-se a ausência de qualquer sintomatologia. Ao exame de
uniformidade da lâmina dura, o espaço periodontal sondagem periodontal, não foram identificadas regiões
normal, a ausência ou redução de rarefação óssea e a de sondagem periodontal aumentada.
ausência ou interrupção de reabsorção radicular
(PEREIRA et al., 2010). A ausência de sinais e
sintomas pós-operatórios como dor e edema, ausência
de drenagem ou de fístula são os critérios que
caracterizam o sucesso clínico do tratamento.
Para que o tratamento endodôntico seja bem
sucedido é necessário que se alcance a redução da
carga microbiana intracanal a níveis compatíveis com o
reparo tecidual perirradicular, independente da
quantidade de sessões requeridas para tanto
(SATHORN; PARASHOS; MESSER, 2005).
Atualmente, existem vários recursos disponíveis para
otimizar o preparo biomecânico do sistema de canais
radiculares e permitir que se atinjam os resultados
desejados com eficiência clínica e praticidade Figura 1 – Radiografia inicial evidenciando restaurações
(SIQUEIRA JUNIOR; RÔÇAS, 2011), como os profundas e áreas radiolúcidas associadas aos ápices dos
sistemas reciprocantes de lima única (MACHADO et elementos 41,31 e 32.
al., 2013; MARINHO et al., 2015), os dispositivos de
386
Ao exame clínico, observou-se a presença de sessão, por meio da técnica de onda contínua de
restaurações extensas nos elementos 41, 31 e 32 e condensação e utilização de cones de guta-percha R40
resposta negativa ao teste de sensibilidade pulpar a frio, (VDW, Munique, Alemanha) e cimento AHplus (De
o que nos levou ao diagnóstico de necrose pulpar nos Trey-Dentsply, Konstanz, Germany). Após a limpeza
três elementos e necessidade de tratamento das cavidades, os acessos coronários foram
endodôntico. Após a explicação dos procedimentos ao provisoriamente selados com cimento de ionômero de
paciente e obtenção de seu consentimento, o tratamento vidro (Maxxion R - FGM Produtos Odontológicos,
de todos os elementos foi realizado simultaneamente. Joinville, SC, Brasil) e resina composta (Z100, 3M
Sob anestesia local, realizou-se o acesso coronário aos ESPE, Sumaré, SP, Brasil) e o paciente foi
condutos radiculares através da superfície lingual. encaminhado de volta ao indicador.
Procedeu-se a neutralização do conteúdo necrótico com
hipoclorito de sódio a 2,5% (Siafarma, Campinas, SP,
Brasil), exploração inicial com limas tipo K #10
(Dentsply, Maillerfer, Ballaigues, Suíça) e
determinação eletrônica (Root ZX II – J. Morita Corp.,
Tokyo, Japan) do comprimento de trabalho a 1mm
aquém do forame apical. Os canais foram, então,
biomecanicamente preparados com o instrumento R40
(Reciproc VDW, Munique, Alemanha) segundo
orientação do fabricante, sob movimentação
reciprocante específica para esse sistema segundo
programação do motor endodôntico X-Smart Plus
(Dentsply, Maillerfer, Ballaigues, Suíça). A irrigação
com hipoclorito de sódio a 2,5% foi realizada a cada
remoção do instrumento do interior dos canais, quando Figura 2 – Radiografia final, após obturação e selamento
se procedia, também, a realização de patência provisório das cavidades de acesso.
foraminal levando um instrumento K #10 a 1mm além
do forame apical. Para conclusão da instrumentação,
O paciente foi contatado para proservação do
foi realizado um refinamento apical com instrumento
caso após decorrido um ano da realização do
manual tipo K#40. A limpeza final foi realizada com o
tratamento. Os elementos dentais encontravam-se em
uso do instrumento Easy Clean (Easy Equipamentos
função mastigatória e estética, ausência de
Odontológicos, Belo Horizonte, Brasil) sob
sintomatologia aos testes periapicais ou de mobilidade.
movimentação reciprocante seguindo um protocolo de
Radiograficamente, foi possível identificar área
três ciclos de 20 segundos com os canais preenchidos
radiopaca de neoformação óssea e reparo do ligamento
por hipoclorito de sódio a 2,5% – ácido
periodontal, caracterizando sucesso clínico e
etilenodiaminotetracético a 17% (EDTA - Fórmula &
radiográfico.
Ação, São Paulo, SP, Brasil) – hipoclorito de sódio a
2,5%, respectivamente. Como foi possível alcançar um
grau de limpeza e modelagem satisfatórios, procedeu-
se a obturação dos condutos radiculares na mesma
387
LEONI G. B. et al. Ex vivo evaluation of four final
irrigation protocols on the removal of hard-tissue
debris from the mesial root canal system of mandibular
first molars. International Endodontic Journal, v. 18.
[Epub ahead of print], 2016.
MACHADO, M. E. et al., Influence of reciprocating
single-file and rotary instrumentation on bacterial
reduction on infected root canals. International
Endodontic Journal, v. 46, n. 11, p. 1083-1087, 2013.
MARINHO, A. C. et al. Does the Reciproc file remove
root canal bacteria and endotoxins as effectively as
multifile rotary systems? International Endodontic
Journal, v.48, n. 6, p. 542-548, 2015.
PEREIRA JUNIOR, W. et al. Análise de critérios de
sucesso em endodontia e implantodontia. Revista
Odontológica do Brasil Central, v. 19, n. 49, p. 108-
117, 2010.
Figura 3 – Radiografia após 1 ano da conclusão do
SAHNI P. S., et al. Comparison of Rotary
tratamento endodôntico em sessão única. Evidências de
instrumentation and continuous wave obturation to
reparo na região periapical. reciprocating instrumentation and single cone
obturation with a hydrophilic. Journal of endodontics,
v. 34, n. 1, p. 99-101, 2008.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SATHORN, C; PARASHOS, P; MESSER, HH.
Effectiveness of single- versus multiple-visit
O caso relatado e as publicações levantadas endodontic treatment of teeth with apical periodontitis:
a systematic review and meta-analysis. International
confirmam a efetividade do tratamento endodôntico Endodontic Journal, v. 38, n.6, p.347-355, 2005.
convencional em sessão única e evidenciam que, SIQUEIRA JUNIOR, J. F.; RÔÇAS, I. N. Optimising
quando se alcança o objetivo de redução bacteriana, single-visit disinfection with supplementary
approaches: a quest for predictability. Australian
esse tipo de abordagem é capaz de obter resultados Endodontic Journal, v. 37, n. 3, p. 92-98, 2011.
satisfatórios no que diz respeito à resolução das ZITZMANN, N. U. et al. Endodontics or implants? A
patologias de origem endodôntica, inclusive com review of decisive criteria and guidelines for single
tooth restorations and full arch reconstructions.
evidências radiográficas de reparo e restituição dos International Endodontic Journal, v. 42, p. 757-774,
tecidos periapicais para a condição de saúde. 2009.
REFERÊNCIAS
O
s principais fatores responsáveis biocompatível, caracteriza-se por apresentar
por injúrias à integridade de dentes estabilidade dimensional, insolubilidade aos fluidos
imaturos são a cárie e o tissulares e ter um bom comportamento na presença de
traumatismo. Quando ocorre comprometimento pulpar umidade. Na presença de MTA, a resposta tecidual
irreversível ou necrose, o quadro torna-se complicado, induzida é caracterizada por neoformação de tecido
pois a deposição de dentina radicular apical cessa e a mineralizado (TORABINEJAD et al., 1993).
terapia endodôntica convencional faz-se necessária, no Entretanto, dificuldades das técnicas para aplicação do
intuito de assegurar a permanência do elemento material podem interferir na sua adaptação, bem como
dentário na cavidade oral (LOPES et al., 2004; ALVES no controle de sua extrusão (FOREMAN; BARNES,
et al., 2009). Nos pacientes jovens, o canal radicular é 1990). A utilização do MTA na região apical para
extremamente amplo, com o terço apical ainda não tratamento de apicificação, possibilita a obturação em
completamente formado e o diâmetro foraminal menor número de sessões, permitindo a
bastante largo, fato que dificulta o travamento do cone complementação do tratamento restaurador do dente, o
principal e a retenção adequada para o material que torna o prognóstico mais favorável, a longo prazo
obturador (BATISTA et al., 2007). Muitos materiais e (WITHERSPOON et al., 2008). Esta conduta promove
técnicas têm sido propostos para o tratamento de dentes a redução de tempo e custo do tratamento, melhor
imaturos com necrose pulpar, existindo abordagens cooperação motivacional do paciente e possível
invasivas e conservadoras (NASSER, 2002). A eliminação de problemas que surgem ao longo de
apicificação é um método de induzir o fechamento tratamentos extensos, como a dificuldade na
apical em dentes não vitais com formação radicular manutenção de um selamento provisório adequado e
incompleta, por meio da formação de uma barreira integridade do remanescente dentário (ANDREASEN
mineralizada. A indução desse fechamento é et al., 2002).
usualmente realizada utilizando uma pasta de Ca(OH)2 Esse capítulo tem como objetivo apresentar a
(hidróxido de cálcio) associada à um veículo, sendo conduta endodôntica adotada em um incisivo central
necessárias várias visitas ao consultório para trocas superior direito, com rizogênese incompleta e necrose
sucessivas da medicação (STEINER; CATHEY, 1968). pulpar, de um paciente jovem, que, após
O tratamento endodôntico em dentes com ápices trauma,apresentou fratura coronária.
abertos ou forames amplos exige do profissional,
cuidados especiais, diferenciando-se do tratamento DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
convencional por esta particularidade anatômica. A
necessidade de várias sessões aumenta a possibilidade Paciente F.C.A., 9 anos, compareceu ao
de infiltração de micro-organismos ou mesmo o risco consultório acompanhado de sua mãe queixando-se que
de fratura do dente (ANDREASEN et al., 2002). O a restauração do dente anterior havia soltado. Ao
MTA (Agregado de Trióxido Mineral) foi realizar anamnese, a mãe do paciente relatou que seu
desenvolvido na Universidade de Loma Linda (Estados filho havia batido a boca há, aproximadamente, um
Unidos), sendo preconizado inicialmente para selar ano. Segundo ela, o filho foi ao dentista no período que
vias de comunicação entre o SCR (Sistema de Canais aconteceu a queda e o profissional somente restaurou
Radiculares) e os tecidos circunvizinhos. Além de ser os dentes que tinham fraturado a coroa e pediu
390
controles radiográficos para acompanhamento do controle radiográfico do dente tratado. Porém, não
trauma. Porém, a mãe acabou não fazendo esse compareceu para controles periódicos. Somente após 1
controle, já que seu filho não reclamou de dor. Ao ano, retornou ao consultório, momento em que se
exame radiográfico do dente 11, observou-se área realizou a radiografia de controle (figura 2), na qual
radiolúcida na região periapical (necrose pulpar) e observou-se que houve fechamento apical e reparo do
rizogênese incompleta (figura 1). O tratamento tecido periapical.
proposto foi a apicificação com o uso de medicação
com hidróxido de cálcio e obturação com MTA
(Agregado Trióxido Mineral).
O dente 11 foi isolado com dique de borracha.
Em seguida, realizou-se o acesso coronário com broca
carbide 1557(JET) e refinamento do acesso com broca
diamantada 3203 (KG SORENSEN). Foi feita irrigação
com hipoclorito de sódio (NaoCl) a 2,5%, com bastante
cautela para não atingir os tecidos periapicais. A
odontometria foi realizada com a lima calibrada no
comprimento de trabalho provisório que foi obtido com
base na radiografia inicial. O comprimento de trabalho
foi então estabelecido e determinado em 1mm aquém Figura 1 – Radiografia inicial.
REFERÊNCIAS
A
variação da morfologia da Maggiore et al. (2002) também relataram um
cavidade pulpar, especialmente em primeiro molar superior com seis canais, sendo dois
dentes multirradiculares, é um mesio-vestibulares, três palatinos e apenas um disto-
desafio constante para o diagnóstico e para a realização vestibular.
de um tratamento endodôntico bem sucedido. O A ocorrência de 2 canais nas raízes disto-
conhecimento das características anatômicas e suas vestibulares foi menos frequente no estudo de Pineda e
possíveis variações é fundamental, uma vez que o Kutler (1975); relatada em 3,6% dos molares
sucesso do tratamento depende da identificação de superiores.
todos os canais radiculares (FAVIERI; BARROS; Além de variações quanto ao número de
CAMPOS, 2006). canais radiculares, a literatura também mostra
A morfologia dos primeiros molares variações anatômicas do molar superior quanto ao
superiores permanentes já foi estudada muitas vezes, numero de raízes (BARBIZAM; RIBEIRO;
sendo geralmente descrita como um grupo de dentes TANOMARU FILHO, 2004).
com três raízes, uma palatina e duas vestibulares, cada Gopikrishna et al. (2006) descreveram um
raiz com um canal radicular (BARBIZAM; RIBEIRO; caso de molar superior com apenas 1 raiz, enquanto
TANOMARU- FILHO, 2004). A ocorrência de um Christie et al. (1991) relataram o estudo de molares
segundo canal mésio-vestibular (MV2), quando superiores com quatro raízes, sendo duas palatinas e
existem quatro canais, também é comum (KULILD; duas vestibulares.
PETERS, 1990; BUHRLEY et al., 2002). Barbazim et al. (2004) descrevem um molar
Alguns estudos relataram variações no número superior apresentando cinco raízes, enquanto a
de canais radiculares, como Bueno et al., (2011) e investigação de Adanir (2007) descreveu um caso
Ferguson et al. (2005), que relataram um primeiro clínico de um primeiro molar superior com quatro
molar superior com cinco canais radiculares e Bond et raízes (mesio-vestibular, mesio-palatina, disto-
al., (1988) e Almeida - Gomes et al., (2009), que vestibular e palatina) e seis canais – um mesio-
relataram molares superiores com seis canais vestibular, dois mesio-palatinos, dois disto-vestibulares
radiculares. e um palatino.
Martinez-berna e Ruiz-Badanelli (1983) Este capítulo tem como objetivo descrever um
relataram 3 casos em que os primeiros molares caso clínico de um primeiro molar superior com cinco
superiores apresentaram 6 canais radiculares (três na canais, sendo dois mesio-vestibulares, dois disto-
raiz mesio-vestibular, dois na raiz disto-vestibular, e vestibulares e um palatino, no qual o conhecimento das
um na raiz palatina). Favieri et al. (2006) também variações anatômicas, associado à tecnologia utilizada
mostraram uma ocorrência similar na raiz mesio- pelo profissional para a execução do tratamento, foi
vestibular (3 canais) e relataram a dificuldade de lidar fundamental para o sucesso do caso.
com esses casos.
Almeida-Gomes et al. (2009) e Bond et al. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
(1988) expuseram a situação de um primeiro molar
superior com seis canais radiculares, dos quais dois Paciente J.C.S.S., 32 anos de idade, gênero
encontravam-se na raiz mesio-vestibular, dois masculino, procurou atendimento de urgência em um
distovestibulares e dois palatinos. consultório odontológico privado, tendo como queixa
394
principal dor espontânea no primeiro molar superior Dental Technology, Brasil).
A
fratura radicular vertical da raiz DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
(FRV) é uma patologia difícil de
ser diagnosticada, podendo ser Paciente AMPS, sexo feminino, 48 anos,
confundida com insucesso no tratamento endodôntico apresentou-se ao consultório odontológico com dor
ou até mesmo com uma doença periodontal. persistente e de longa duração no elemento 25,
Caracteriza-se por uma linha longitudinal orientada que submetido a tratamento endodôntico anterior há quatro
se estende do interior do canal até o periodonto, anos.
podendo ser localizada em qualquer porção da raiz.
No exame clínico, foi observada dor à
As linhas de fraturas abrigam em seu interior
palpação e percussão, e ausência de fístula e
bactérias e restos teciduais necrosados, que são
mobilidade. O exame radiográfico indicou realização
responsáveis pelo processo inflamatório dos tecidos de
de tratamento endodôntico com obturação inadequada
suporte do dente. Os fatores etiológicos mais
do conduto e espaçamento do ligamento periodontal
frequentes são tratamento endodôntico com desgaste
apical e lateral em forma de “J” (figura 1).
excessivo de estrutura radicular do dente e manobras
que induzem à concentração de estresse exagerado na
raiz (GHER et al., 1987; SCHWEITZER et al.,1989).
A presença de retentor intrarradicular e a
condensação durante a obturação do canal radicular são
as causas mais prováveis de FRV (TORABINEJAD;
WALTON, 2010).
A FRV pode ocorrer em qualquer
agrupamento dental, porém dentes com achatamento da
raiz no sentido mésio-distal são mais susceptíveis à
fratura, como os pré-molares superiores, seguido da
raiz mesial dos molares inferiores (ZUOLO et al., Figura 1 - Radiografia inicial do elemento 25 com obturação
2010). aquém do ápice e lesão periapical.
Os sinais e sintomas clínicos e radiográficos
mais frequentes são pericementite, dor à mastigação,
O material obturador foi removido com uso de
lesões apicais e laterais, bolsas periodontais, presença
brocas Gates Glidden #4 e #3 (Maillefer, Dentsply) em
de edemas e fístulas (TESTORI et al., 1993; MOULE;
baixa rotação até o comprimento do conteúdo
KAHLER, 1999).
radiopaco visto radiograficamente (terço cervical e
Na análise dos dados demográficos, observou-
médio). Após desobstrução do canal, foi realizada a
se que 60% das fraturas ocorrem em pacientes do sexo
odontometria com uso do localizador eletrônico
feminino, com maior incidência em pacientes com
foraminal e lima K #70, sendo este o instrumento de
faixa-etária entre 41 a 50 anos de idade (COHEN et al.,
diâmetro mais próximo ao diâmetro anatômico do
2006; ZUOLO et al, 2010).
canal (figura 2).
Iniciou-se uma reinstrumentação do conduto
com a lima manual K #70 acionada pelo contra-ângulo
oscilatório Tep-10r (NSK) em movimentos de limagem
399
nas paredes do canal (incluindo os polos de
achatamento do canal) até o CRD e descontaminação
com 5ml de clorexidina gel 2% (Farmácia de
Manipulação Botica, Teresina-PI) removida com
copiosa irrigação de soro fisiológico.
Com intuito de melhorar a limpeza e
modelagem do canal, foi feita uma ampliação do
forame apical com movimentos manuais de
Figura 3- Modelo tridimensional evidenciando perda óssea
alargamento com lima k #80 em 1 mm além do CRD.
perirradicular vertical e localizada com indícios de fratura no
Após aspiração do conduto com cânula
terço cervical da raiz (seta) (A). Corte paracoronal com
endodôntica descartável, a associação de hidróxido de presença de material radiopaco na linha de fratura (B).
cálcio pó e clorexidina gel 2% foram inseridas como
medicação intracanal e sua embocadura vedada com
Diante dos protocolos sem sucesso de
material obturador temporário.
tratamento de dentes com FRV, a exodontia do
elemento foi indicada. A extração procedeu com
fragmentação da coroa e a visualização da linha de
fratura na raiz removida (figura 4).
REFERÊNCIAS
A
tualmente, a principal preocupação e, portanto, não houve selamento na porção apical
na endodontia é a completa (SCHILDER, 1974).Os dentes com patologias
limpeza, sanificação e selamento perirradiculares são aqueles que ainda causam maior
dos sistemas de canais radiculares, objetivando dessa discussão, tanto no que se referem ao modo de
forma, o sucesso na terapêutica endodôntica. A tratamento quanto ao índice de dor pós-operatória e
presença de micro-organismos é o fator primordial para sucesso, e podem ser de natureza aguda exsudativa
a instalação e manutenção das principais patologias vascular ou de natureza crônica proliferativa
pulpares e periapicais. Uma eficaz instrumentação, boa (HIZATUGU et al., 2007).
irrigação, uma obturação tridimensional do sistema de A literatura cita poucos trabalhos clínicos que
canais radiculares, um material obturador não irritante demonstrem o comportamento dos tecidos periapicais
que estimule o processo de reparo periapical é a frente ao extravasamento de material obturador, além
condição fundamental para o sucesso do tratamento do forame. Parece pertinente, por se tratar de um
endodôntico. O objetivo do presente estudo foi avaliar assunto que ainda causa discussão, tanto em relação à
clinicamente a reparação óssea de dentes com lesão abordagem filosófica como técnica, realizar um estudo
periapical após o tratamento endodôntico realizado clínico realizado em humanos para aumentar os
com extravasamento de cimento obturador AH Plus. conhecimentos em relação ao tema.
O objetivo principal da obturação dos sistemas Este trabalho avaliou clinicamente a reparação
de canais radiculares é selar toda a extensão da óssea de dentes com lesão periapical após o tratamento
cavidade endodôntica, desde a sua abertura coronária, e endodôntico realizado com extravasamento de cimento
isso inclui o selamento da câmara pulpar, até o seu obturador AH Plus. A seleção dos pacientes obedeceu
término apical, ou seja, o material obturador deve os seguintes critérios: dentes permanentes com
preencher todo o espaço ocupado anteriormente pela presença de rarefação óssea periapical visível
polpa dental, proporcionando um selamento radiograficamente; dentes que podiam receber
tridimensional. isolamento absoluto; dentes com extravasamento de
De acordo com (LEONARDO, 1998), obturar cimento obturador. Os critérios de exclusão foram:
um canal radicular significa preenchê-lo em toda a sua dentes com ápice incompletamente formado; dentes
extensão com material inerte, antisséptico, que sele sem patência foraminal; dentes com tratamentos
permanentemente, da maneira mais hermética possível, endodônticos já realizados; dentes com trincas ou
estimulando o processo de reparo apical e periapical. fraturas; dentes com bolsas periodontais superiores a 4
Hoje em dia, em decorrência das manobras de mm de sondagem; dentes sem a presença de lesão
patência foraminal e da instrumentação no limite periapical; pacientes com deficiência do sistema
apical, o extravasamento de cimento endodôntico pode imunológico. A seguir, será apresentado um caso
surgir como uma consequência. Com as técnicas atuais, clínico de obturação endodôntica com extravasamento
um dente pode ser sobre-obturado mostrando que seus de AH Plus com radiografia inicial, radiografia logo
sistemas de canais radiculares foram obturados após a endodontia e radiografia de proservação um ano
tridimensionalmente e onde um excesso de material após o tratamento endodôntico realizado. Três
sofreu uma extrusão além do forame apical. Porém, profissionais (um radiologista e dois endodontistas)
quando uma obturação é sobre-estendida (sobre- que não participaram da execução dos tratamentos, ou
extensão), significa que houve extravasamento de cone seja, “cegos” à pesquisa, analisaram as radiografias, e
403
deram os seguintes escores para avaliar a lesão: e) secagem do canal com cones de papel
a) Escore 0 – Regressão Total da Lesão: quando esterilizados e capillary Tips;
não houver vestígio de radioluscência onde f) obturação com cimento à base de resina AH
anteriormente existia uma lesão periapical, Plus) + guta-percha pela técnica híbrida de
podendo estar associada a: espaço periodontal Tagger;
normal com lâmina dura circundando o ápice g) restauração provisória com Cimpat ou resina
e ausência de espaço periodontal e/ou lâmina composta ou ionômero de vidro;
dura; h) radiografia final com posicionador
b) Escore 1 – Regressão Parcial da Lesão: radiográfico.
quando houver diminuição da radioluscência
periapical;
c) Escore 2 – Insucesso: quando a radioluscência
apresentar tamanho semelhante ou maior que
a anterior.
A
solução dos problemas sessão entre a utilização de Fosfato Tricálcico ou
endodônticos de dentes com Hidróxido de cálcio como barreira.
rizogênese incompleta, Weisenseel Junior; Hicks e Pelleu Junior
notadamente nos casos com lesão periapical, continua (1987), em um experimento para analisar a infiltração
sendo ainda um desafio aos endodontistas. O de corantes em canais com ápices abertos e obturados
Hidróxido de cálcio tem sido utilizado há muitos anos com guta-percha e cimento obturador, usando uma
como material para Irrigação, medicação intra-canal, barreira apical de 2 mm de hidróxido de cálcio,
estimulo à formação de dentina apical e reparação dos comparando com canais obturados identicamente, mas
tecidos periapicais. No entanto, apesar dos resultados sem barreira de hidróxido de cálcio, observaram que a
positivos, a utilização do Hidroxido de cálcio apresenta barreira permitiu um melhor acentamento do material
algumas desvantagens como, longo tempo necessário obturador, sem extravasamento de guta-percha ou
para a obturação do canal, a necessidade de cimento, um melhor selamento do canal e um melhor
substituição frequente do curativo, que pode variar de vedamento apical do que quando não foi feito plug
um a três meses, a função do processo infeccioso do apical de hidróxido de cálcio.
periapice, que pode requerer maior tempo para a Em 1993, Leonardo et al. fizeram uma análise
reparação, e consequentemente maior o tempo para a histopatológica da reação do tecido apical, em dentes
obturação final do canal e a diminuição da resistência de cães, com ápices abertos e presença de lesão
da dentina à fratura, devido ao longo tempo de periapical induzida, para comparar o efeito de duas
utilização do Hidroxido de cálcio. pastas de hidróxido de cálcio contendo diferentes
Coviello e Brilliant, (1979), em um estudo veículos quanto à propriedade de induzir a formação
clínico preliminar comparando a utilização do fosfato apical e reparo periapical da região. Em um grupo de
tricálcico e do Hidroxido de cálcio como barreira dentes, não foram feitos curativos e usados como
apical em tratamento de canais de dentes com ápice controle. Em outros dois grupos, os dentes foram
aberto e polpa necrosada, e endodontias realizadas em preparados e preenchidos com as pastas Calem e
sessão única e múltipla sessão, constataram que, nos Calasept, que foram renovados mensalmente por 90
casos tratados em sessão única, com barreira apical dias, e após esse período, blocos da área foram
com fosfato tricálcico ou Hidroxido de cálcio, de 42 dissecados e preparados para análise histopatológica, e
dentes, 35 foram acompanhados durante nove meses e concluíram que ambas as pastas ajudaram a induzir o
estatisticamente avaliados, tendo como resultado, 29 selamento apical e reparo da região, e verificaram que
tratamentos com sucesso, um caso de insucesso e 5 o tecido mineralizado formado era predominantemente
casos de resultados questionáveis; e dos dentes tecido do tipo cementoide, sendo que os resultados
tratados em múltipla sessão, usando hidróxido de foram melhores com a Pasta Calem. No grupo controle,
cálcio em combinação com Paramonoclorofenol sem o curativo com as pastas, não houve reparo apical
canforado como medicação entre sessões, 52 dentes e nem formação apical.
foram avaliados e após nove meses, ocorreram 33 Em 1997, Calişkan e Türkün, em relato de
casos de sucesso radiográfico e clínico, nove casos de caso clínico de um paciente adulto jovem com um
fracassos e dez dentes com resultados duvidosos. No incisivo central superior, com rizogênese incompleta e
entanto, verificaram que não havia diferença extensa lesão cística, devido traumatismo sofrido a 12
significativa entre os dentes obturados em uma única anos, foi proposto um tratamento não cirúrgico; o dente
407
foi tratado com pasta à base de hidróxido de cálcio Mineral (MTA) tem sido indicado como uma opção
como medicação intracanal com trocas diárias durante para a resolução de obturações em dentes com
quatro dias, e a obturação do canal com pasta de risogênese incompleta devido às suas diversas
hidróxido de cálcio. A regressão da lesão e fechamento qualidades; como um material biocompatível, promove
do ápice se deu após 15 meses. Este caso sugere que, regeneração dos tecidos quando em contato com a
mesmo dentes com lesão periapical extensa, (provável polpa dental e tecidos periapicais e previne micro
cisto), pode apresentar resposta favorável a tratamento infiltrações (Torabinejad; Chivian, 1999). Ressaltam,
não cirúrgico. ainda, que o MTA, em comparação com o amalgama
Leonardo et al. (2002) realizaram uma de prata apresenta diferença significativamente melhor
pesquisa para analisar o efeito de curativo de demora à com relação à inflamação, formação de cemento sobre
base de hidróxido de cálcio, em uma avaliação o MTA e regeneração do tecido perirradicular,
histopatológica do reparo apical e periapical em endurecimento rápido e maior resistência a
diferentes períodos de tempo em dentes de cães, com compressão, e tem sido indicado como um obturador
lesão periapical induzida, num total de 61 canais imediato em casos de raízes com ápice aberto.
radiculares de pré-molares superiores e inferiores. Sarris et al. (2008), em um estudo piloto para
Verificaram que, após sete dias, ocorria um aumento na avaliar a eficiência clínica do MTA como material
espessura do ligamento periodontal, intensa usado para pacificação em dentes permanentes
dissociação de fibras colágenas, edema generalizado e imaturos e não vitais, realizaram endodontias em 17
a presença de poucos fibroblastos em contraste com incisivos. Após limpeza e desinfecção dos canais e
análise de trinta dias, quando encontraram densa rede curativo intracanal com hidróxido de cálcio por uma
de fibras colágenas e fibroblastos e neoformação óssea, semana, fizeram uma barreira apical de 3 a 4 mm com
e concluíram que, após 30 dias, havia melhores reparos MTA, e obturação final do conduto com Obtura; após
na região periapical do que há sete dias, quando usado uma semana, observaram sucesso clínico em 94,1 %,
curativo de demora com hidróxido de cálcio. sendo que 76% dos casos foram considerados sucesso
Dentre as medicações intracanais, o hidróxido radiograficamente.
de cálcio (Ca(OH)2 é, atualmente, o mais utilizado Witherspoon et al. (2008), numa análise
com comprovadas qualidades e atividades retrospectiva dos resultados de tratamentos não
antibacterianas contra a maioria das cepas isoladas de cirúrgicos de canais com ápices abertos, tratados entre
infecções do canal radicular (LAW; MESSER, 2004); os anos 1999 e 2006, e acompanhamento realizado em
em contato com um tecido inflamado, o hidróxido de 144 dentes tratados, sendo, em única sessão, 92 dentes,
cálcio pode absorver exsudato inflamatório, reduzindo e em duas sessões, 52 dentes com medicação intrar-
a pressão hidrostática tecidual. Isto ocorre porque o radicular de Hidroxido de cálcio, verificaram que, após
hidróxido de cálcio é hipertônico em relação ao meio, acompanhamento médio de 19,4 meses, em um período
no caso, os fluídos teciduais (SIQUEIRA JUNIOR; máximo de 4,87 anos, 93% dos casos tratados em
LOPES, 1999). Além da atividade antimicrobiana, o sessão única e 90,5% em duas sessões foram
hidróxido de cálcio apresenta propriedades como: ação considerados sucessos.
anti-inflamatória, inibição de reabsorções inflamatórias MOTA et al. (2010) realizaram uma revisão
e a função de barreira física (SIQUEIRA JUNIOR; de literatura, para estudo das propriedades e aspectos
LOPES, 1999). biológicos do agregado trióxido mineral, verificaram
Mais recentemente, o Agregado Trióxido que o MTA possui excelente capacidade de selamento,
408
sendo de grande importância para obturações a remoção da resina, isolamento absoluto; removemos
retrógradas em cirurgias periapicais, possuindo o conteúdo da entrada do canal, o qual não
excelentes propriedades químicas, físicas e biológicas, conseguimos identificar o material encontrado. Foi
sendo biocompativel e potencial de ação feita intensa irrigação com clorexidina 17% líquida,
osteocondutora, osteoindutora e cementocondutora, limpeza mecânica com limas Redstroen, com
promovendo assim, condições para um reparo apical suavidade, para que não ocorresse remoção de dentina
completo após cirurgia apical e obturação retrograda. da parede do canal a fim de evitar uma maior
O MTA tem sido recomendado, fragilidade da raiz, sempre com irrigação abundante.
primariamente como material para obturação Após limpeza do conduto, foi feita irrigação com
retrógrada nas cirurgias periapicais, mas tem sido solução de hidróxido de cálcio pró análise em
usado para capeamento pulpar em casos de exposição, suspensão em soro fisiológico, com intensidade, com
nas pulpotomias, como barreira apical em dentes com extravasamento da solução em toda a lesão, havendo
ápice aberto, selamento de perfurações de raízes e inclusive, saída da solução pela fistula. A irrigação foi
assoalhos de câmaras pulpares e obturação de canal intercalada com introdução de limas, por meio da
radicular (PARIROKH; TORABINEJAD, 2010). abertura foraminal e, após repetição da manobra por
diversas vezes, o conduto foi preenchido com pasta de
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO hidróxido de cálcio como medicação intra-canal e o
dente selado com ionômero de vidro.
Paciente do sexo masculino, 23 anos, indicado Segunda Sessão: Após uma semana,
para endodontia do Incisivo central superior esquerdo, observamos o desaparecimento da lesão da fistula na
se apresentou sem sintomatologia e lesão de fistula mucosa vestibular. Anestesia do dente e isolamento,
vestibular e rizogênese incompleta devido a trauma realizamos o acesso cirúrgico, irrigação abundante com
sofrido aos 9 anos, quando foi feita intervenção clorexidina para remoção do hidróxido de cálcio, foi
emergencial, sem a conclusão do tratamento, determinada a odontometria radiograficamente, com
permanecendo assim, durante 14 anos, segundo relato lima redstroen calibra #80 (figura 2). A seguir, foi feita
do paciente. uma melhor limpeza do conteúdo do canal, com
Radiograficamente, vemos o dente selado com irrigação de solução de hidróxido de cálcio e soro
material radiopaco e imagem também radiopaca no fisiológico até o comprimento total do canal, limitado
início do conduto e o forame totalmente aberto (figura com base na estrutura da raiz visível na radiografia.
1). Ao exame clínico, verificamos o dente restaurado Feito isso, o canal foi seco com ponta de papel de
com resina composta e uma grande lesão de fistula na grosso calibre (pontas de papel de grande calibre e
região vestibular. invertido) e hidróxido de cálcio PA; foi levado ao canal
Tratamento: Foi esclarecido ao paciente a através de porta amalgama e condensado com calcador
conduta a ser executada para o tratamento do canal, de guta-percha, até o comprimento determinado na
com a intenção de conservação do dente e eliminação odontometria, até a percepção da formação de um plug
da fistula e cura da lesão perirradicular, inclusive sobre de hidróxido de cálcio. Então, foi preparado o MTA
a possibilidade de um resultado negativo e consequente (figura 3), que foi levado ao canal, também com porta
perda do elemento e necessidade de implante dental. amalgama, devido ao grande diâmetro do conduto e o
Com o consentimento do mesmo, em uma mesmo condensado apicalmente, sobre o plug de
primeira intervenção, foi feita a cirurgia de acesso com Hidróxido de cálcio, até atingirmos uma espessura de
409
aproximadamente 3 mm. O dente foi mais uma vez o endurecimento total do MTA (figura 4, 10,32).
selado com ionômero de vidro e agendada uma nova Procedimento realizado com obturação termo
consulta. plastificação (Tecnica Hibrida de Tagger) utilizando o
termo plastificador de guta-percha e cimento AHplus e
pela técnica de de McSppaden #55 e selamento final da
câmara pulpar com resina composta (figura 5).
A uma
objetivo
opção
conservador,
a
de
que
tratamento
tem
manutenção
vitalidade pulpar, principalmente em dentes que
por
da
(TORABINEJAD; WALTON, 2010; SOLOMON et
al., 2015).
absoluto do campo operatório e procedeu-se a abertura condensado na câmara pulpar. A opção por este
coronária. O teto da câmara pulpar foi totalmente material foi baseada em suas reconhecidas
removido com broca Endo Z (Dentsply Maillefer, propriedades e à sua disponibilidade no momento do
A porção coronária da polpa foi amputada Sobre essa camada inicial, foi colocado como
utilizando-se cureta de haste longa (S.S. White base, um cimento à base de hidróxido de cálcio
Duflex, Rio de Janeiro, Brasil) bem afiada. Para (Hydro C®, Dentsply, Petrópolis, Brasil), seguido de
controle da hemorragia, foi realizada intensa uma restauração provisória com cimento de ionômero
irrigação/aspiração com soro fisiológico e secagem da de vidro convencional. O isolamento absoluto foi
cavidade com bolinhas de algodão estéreis. O removido e a oclusão checada com papel carbono
remanescente pulpar radicular apresentou coloração (Angelus, Londrina, Brasil). Após uma semana, foi
vermelho vivo, consistência firme, e ausência de realizada a restauração definitiva do dente com resina
sangramento após a remoção da porção coronária
417
composta fotopolimerizável (Filtek Z350 XT - 3M nova avaliação clínica e radiográfica, a partir da qual
ESPE, St. Louis, EUA). se observou recidiva de cárie na face ocusal, ausência
Foi realizado controle radiográfico após 06 de sensibilidade ao teste térmico com frio (Endo Ice® -
meses, observando-se ausência de processo patológico Maquira, Maringá, Brasil) e radiograficamente,
periapical, preservação dos tecidos de suporte fechamento apical, porém, área radiolúcida no
periodontal e ausência de dor e/ou mobilidade do periápice radicular, mais especificamente na raiz
elemento dentário tratado (figura 7). distal, compatível com periodontite apical, sugerindo
um diagnóstico de necrose pulpar (figura 9).
Após 12 meses, a paciente retornou para Neste momento, optou-se pela realização do
controle clínico e radiográfico, a partir do qual tratamento endodôntico convencional.
observou-se discreta sensibilidade ao teste térmico O tratamento endodôntico foi realizado sob
®
com frio (Endo Ice - Maquira, Maringá, Brasil) e isolamento absoluto do elemento dental e irrigação
radiograficamente, fechamento apical, porém constante com NaOCl 2,5%. Após odontometria
descontinuidade de lâmina dura na raiz distal (figura eletrônica com uso do localizador apical Propex II
8). (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suiça), foi realizada a
instrumentação rotatória com o sistema Protaper
Universal, seguindo as recomendações do fabricante.
Em seguida, foi realizada agitação mecânica em cada
canal com lentulo n. 25 a 1mm do CRT, em três ciclos
de 20s com NaOCl 2,5%, três ciclos de 20s com
EDTA 17% e novamente três ciclos de 20s com a
agitação do NaOCl 2,5%. Os canais foram secos com
pontas de papel absorvente estéreis e a obturação foi
realizada com cimento AH Plus e cones de guta-
Figura 8- Radiografia controle 12 meses. percha Protaper, utilizando a técnica Híbrida de
Tagger, que associa a condensação lateral ativa do
Após 18 meses, a paciente retornou para uma terço apical à compactação termomecânica nos demais
418
terços, utilizando compactadores Mc Spadden #60. A AKHLAGHI, A.; KHADEMI, A. Outcomes of vital
pulp therapy in permanent teeth with different
embocadura dos canais foi selada com coltosol, sobre
medicaments based on review of the literature. Dental
o qual foi feita restauração definitiva com resina Research Journal, v.12, n.5, p. 406-417, 2015.
composta (Filtek Z350 XT, 3M ESPE, St. Louis, ALQADERI, H. E.; AL-MUTAWA, S. A.;
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o contato com a polpa radicular. Não obstante, o p. 44–46, 2015.
sucesso envolve toda a modalidade de tratamento e DALTOÉ, M. O. et al. Expression of mineralization
está diretamente relacionado ao correto diagnóstico da markers during pulp response to Biodentine and
Mineral Trioxide Aggregate. Iranian Endodontic
saúde pulpar, ou seja, ao status pré-operatório da Journal, v. 42, n. 4, p. 596-603, 2016.
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Mesmo não ocorrendo o completo reparo HASAN ZARRABI, M. et al. Comparative evaluation
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após a pulpotomia, essa modalidade de tratamento endodontic cement (NEC), mineral trioxide aggregate
possibilita a permanência do dente em função até que (MTA) and Portland. Journal of Orofacial Sciences,v.
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o mesmo tenha seu desenvolvimento radicular
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Capítulo 68
Utilização de limas em movimento
reciprocante para retratamento
endodôntico
F
alhas endodônticas podem ocorrer estudo, foram utilizadas as limas Reciproc 50, limas
mesmo quando se adota o mais alto manuais e brocas de Gates-Glidden e pode-se observar
e meticuloso padrão de resultados superiores para as limas reciprocantes
procedimento. Quando o tratamento convencional quando utilizadas para retratamento.
falha, o retratamento endodôntico é a opção preferida Rios et al. (2014) compararam a remoção de
por ser o método mais conservador de se remover a guta-percha em incisivos maxilares utilizando dois
causa do insucesso, a saber, microrganismos presentes sistemas de limas em movimento reciprocante
no sistema de canais radiculares (FRIEDMAN; (Reciproc R25 e WaveOne Primary) e o sistema de
STABHOLZ, 1986; SIOTIA et al., 2011). limas Protaper Universal Retratamento; concluíram
Muitas técnicas têm sido defendidas para a que nenhum dos sistemas removeu totalmente a guta-
remoção de guta-percha do sistema de canais percha do interior do sistema de canais radiculares e
radiculares incluindo os instrumentos de ultrassom, obtiveram desempenhos semelhantes quando
lasers, limas manuais e limas manuais associadas com utilizados para fins de retratamento.
calor ou solventes. A remoção de guta-percha O primeiro estudo sobre o uso de
utilizando limas manuais pode ser difícil e demorada. instrumentos endodônticos em movimento
Por esta razão, as limas rotatórias de niquel-titânio reciprocante para retratamento em canais curvos foi de
(NiTi) surgiram para facilitar este trabalho, surgindo Fruchi et al. (2014). Foram usados canais mesio-
inúmeros sistemas de limas utilizadas para este vestibulares de molares com curvaturas entre 20 e 40
propósito (INAN, 2012). graus. Neste estudo, foram usados Reciproc 25 e
Algumas limas rotatórias têm sido Waveone Primary e a análise do material
especialmente designadas e indicadas para este remanescente foi feita com microtomografia
propósito, como o Mtwo retratamento (VDW, Munich, computadorizada. Ainda foram usados métodos
Germany), Protaper Universal Retratamento adicionais de limpeza com PUI com xilol. Não houve
(Maillefer/Dentsply, Ballaiges, Switzerland), R-Endo diferença significativa quando comparados os
R3 (Micromega, Beçancon, France), entre outras sistemas e após, quando foi usado PUI com xilol.
(LOPES, 2011; INAN, 2012). Desta forma, ambos os instrumentos removem a guta-
Alguns estudos publicados já descrevem que percha, mas nenhum sistema foi 100% eficaz.
as limas endodônticas de NiTi M-Wire, utilizadas no Zuolo et al. (2016) avaliaram a eficácia da
movimento reciprocante, podem ser usadas em lima TRUShape comparada com as limas Reciproc
retratamentos endodônticos, apresentando resultados para a remoção de material obturador avaliados com
satisfatórios (ZUOLO et al, 2013; FRUCHI et al, microtomografia computadorizada e mostraram que
2014; RIOS et al, 2014, BERNARDES et al., 2015). não há diferença significativa de sua efetividade
Apesar de que os sistemas reciprocantes quando avaliado o material obturador residual.
Reciproc (VDW, Munich, Germany) e WaveOne
(Dentsply Maillefer, Ballaigues, Switzerland) não DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
foram originalmente designados para retratamento
endodôntico, o design especial destes instrumentos Caso clínico 1: Paciente gênero feminino, 28
associados com o movimento reciprocante são anos de idade, leucoderma, sem alterações sistêmicas,
efetivos para a remoção de guta-percha e foram foi encaminhada para retratamento endodôntico do
estudados inicialmente por Zuolo et al (2013). Neste dente 46, apresentando-se com sintomatologia
422
dolorosa .
REFERÊNCIAS
A agentes
bacterianos,
físicos,
sendo
profundas o motivo mais comum.
Uma vez estabelecida a infecção dos condutos
químicos
as
ou
cáries
sintomas, o paciente pode buscar outros profissionais
como: dermatologistas, oncologistas e especialidades
afins, e por vezes, passar por
inadequados como: excisões cirúrgicas, biópsias,
procedimentos
radiculares, as bactérias encontram um ambiente radioterapia, podendo, por vezes, resultar em grave
propício à sua multiplicação (VENGERFELDT et al., comprometimento estético facial. (CHENCA; KARNI;
2014). Estes processos infecciosos da polpa dental, ROTSTEIN, 2003; MITTAL; GUPTA, 2004). Desta
quando não tratados a tempo, tendem a se difundir para forma, fica claro que o médico, ao reconhecer que tal
o espaço do ligamento periodontal gerando uma patologia tem origem dentária, deve orientar o paciente
resposta inflamatória, originando as chamadas lesões para buscar tratamento odontológico.
periapicais (LEONARDO et al., 2002, SOARES et al., O cirurgião-dentista é o profissional habilitado
2006). Sem tratamento adequado, reações orgânicas para realizar o correto diagnóstico e tratamento destas
distintas podem ocorrer, dentre elas os abscessos alterações, sendo essencial, além de um exame clínico
dento-alveolares (CONSOLARO; RIBEIRO, 1998). detalhado (GUIMARÃES, 1989), uma tomada
Este tipo de patologia é caracterizada radiográfica periapical para identificação do(s) dente(s)
microscopicamente por uma coleção purulenta cercada causador(es) do problema; estes geralmente
por um infiltrado inflamatório em uma cavidade apresenta(m)-se com lesão radiolúcida associada aos
formada pela desintegração dos tecidos (COHEN; ápices radiculares (DOMINGUES; ROSA,1989).
BURNS, 2000). A infecção inicialmente confinada aos Por se tratar de uma infecção endodôntica, a
tecidos perirradiculares pode progredir pelos espaços correta modelagem e limpeza, aliada à obturação do
medulares e, dependendo da inserção muscular, se sistema de canais radiculares (SCR), permite, em
exteriorizar intra ou extraoralmente, formando um grande parte dos casos, a reparação tecidual e o
trajeto fistuloso por onde haverá uma intermitente saída desaparecimento do trajeto fistuloso sem a necessidade
de pus (SHARMA; SHARMA; CHAUHAM, 1985). de complementação cirúrgica (CALISKAN; SEM;
Os abscessos periapicais crônicos extraorais, OZINEL, 1995). O uso de medicação intracanal, como
com a presença ou não de fístula (cutânea) podem pastas à base de hidróxido de cálcio, pelo seu poder
dificultar um correto diagnóstico sendo importante antimicrobiano relacionado com alto pH, pode ser um
diferenciá-los de outras patologias como: acne cutânea aliado na descontaminação do SCR (MENEZES et al.,
(MONTAGNER; COSTA, 2010), actinomicose 2004, ALTHANASSIADIS; ABBOT; WALSH, 2007).
cervicofacial (VALOUR et al., 2014), granuloma Finalizado o tratamento, é importante o
piogênico (KAMAL; DAHIYA; PURI, 2012), acompanhamento clínico e radiográfico para avaliação
tuberculose ganglionar associada com linfadenite do processo de cura ou não da lesão pré-existente
regional (LOPES; SIQUEIRA, 1999). Nesta fase, por (ØSTRAVIK, 1996).
não apresentar sintomatologia dolorosa significativa e O presente capítulo tem por objetivo,
tampouco incapacitar o paciente para sua vida diária apresentar um caso clínico de um tratamento
(LEONARDO; LEAL, 1998), pode levá-lo a endodôntico do elemento 37 com necrose pulpar,
automedicação e/ou negligenciar a procura de abscesso periapical crônico e tumefação/fístula
tratamento adequado (INGLE; TAINTOR, 1989). Em extraoral.
428
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Figura 4 - Restauração final com resina composta. Figura 7 - Radiografia após 01 ano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E
mbora a previsibilidade dos têm sido identificados e, quando esses biótipos são
implantes tenha melhorado o cuidadosamente considerados, varias estratégias
aumento no uso dos implantes nas periodontais e cirúrgicas podem ser empregadas para
reabilitações em pacientes total ou parcialmente aperfeiçoarem o resultado do tratamento ou minimizar
edêntulos, inevitavelmente, também aumentaram o a reabsorção alveolar ou melhorar o ambiente tecidual
número e a gravidade das complicações relacionadas para a instalação do implante (GEURS;
aos implantes e suas falhas (FROUM, 2013). VASSILOPOULOS; REDDY, 2010; KAN et al., 2003;
As causas potenciais das complicações com TEUGHELS; MERHEB; QUIRYNEN, 2009).
implantes dentários estão relacionadas a quatro fatores Similarmente ao dente, a topografia dos
que influenciam o resultado dos tratamentos com o uso tecidos moles e a estabilidade da coroa implantos-
de implantes. Estes quatro fatores foram descritos por suportada são importantes para alcançar um ótimo
Buser e Chen (2008) na instalação de implantes logo resultado estético (GEURS; VASSILOPOULOS;
após a extração dos dentes, mas também podem ser REDDY, 2010; TEUGHELS; MERHEB;
considerados para a implantologia em geral. Neste QUIRYNEN, 2009). Como os tecidos moles
contexto, o clínico, realmente, é o protagonista na determinam o resultado estético e têm relativamente
prevenção das complicações relacionadas à instalação dimensões constantes, a dimensão óssea é um dos
dos implantes, já que avalia o paciente antes das fatores chaves na determinação do contorno dos tecidos
7,9
cirurgias, verificando, com critério, todos os moles . Preferencialmente, a aparência dos tecidos
indicadores e índices necessários para o sucesso do peri-implantares deve estar em harmonia com os
tratamento; seleciona apropriadamente os biomateriais, tecidos moles ao redor de dentes e a coroa do implante
incluindo-se a escolha do próprio implante, a deve estar em equilíbrio com a dentição
necessidade ou não de enxerto ósseo, assim como o uso vizinha (GEURS; VASSILOPOULOS; REDDY,
de membranas como barreiras (BUSER et al., 2004; 2010).
BUSER; CHEN, 2008; FROUM, 2013). Quando os Segundo Kan et al. (2003), a dimensão da
procedimentos de aumento de altura do rebordo ósseo mucosa peri-implantar na face vestibular < 3mm está
são necessários, o profissional seleciona o tratamento associada com um biótipo fino, implante
apropriado para o caso, que deve ser compatível com vestibularizado e/ou sobrecontorno do perfil de
um bom resultado futuro, ou seja, bom prognóstico e emergência da coroa do implante. Por outro lado,
baixo risco de complicações; a realização do biótipos espessos estavam associados com mucosa
tratamento e a responsabilidade do profissional junto peri-implantar de 4mm ou mais na face vestibular.
ao paciente, de diagnosticar e tratar as complicações Quando os implantes são instalados imediatamente
que, por acaso, ocorram durante o importante período após a extração dos dentes, a distância vestibular entre
de manutenção (FROUM, 2013). Ao reconhecer os implante e tábua óssea é um parâmetro crítico, e pode
fatores relacionados ao paciente, o clínico responsável ser muito útil guiando o clínico na escolha do
pela prevenção das complicações, em particular, na procedimento de enxertia mais apropriado (CAPELLI
fase de planejamento e tratamento, sabe que a origem et al., 2012).
das complicações pode ocorrer quando decisões As complicações estéticas são muito
clínicas inapropriadas foram tomadas (FROUM, 2013). trabalhosas para o profissional, já que estão geralmente
Recentemente, biótipos gengivais diferentes associadas com fortes respostas emocionais e
435
subjetivas do paciente, que podem ser de difícil complicação estética é, em geral, muito difícil ou
resolução (FROUM, 2013). As complicações estéticas mesmo impossível de ser corrigida. Na maioria dos
podem ser causadas tanto por mau posicionamento de casos, o tratamento mais efetivo é a remoção do
um ou mais implantes, pelo número e tamanho implante e o aumento do local com enxerto ósseo, e a
inadequado dos implantes instalados, pelas infecções colocação de um novo implante na posição mais
peri-implantares progressivas, que podem provocar adequada (FROUM, 2013).
destruição do osso peri-implantar, ou pela deficiência Este trabalho teve como objetivo apresentar
de tecido ósseo e/ou mole na região escolhida para a um caso clínico de implante mal posicionado,
instalação do implante (FROUM, 2013). utilizando, principalmente, enxertos de biomateriais e
O mau posicionamento vestibulopalatino de enxertos de tecido conjuntivo no intuito de apresentar
um implante pode causar a recessão da mucosa uma condição tecidual favorável para a instalação do
vestibular quando o implante é colocado muito mais implante e da coroa, bem como resolver a insatisfação
em direção à região vestibular (FROUM, 2013). Isto estética da paciente.
pode causar complicações estéticas graves, desde que a
harmonia da superfície vestibular fica completamente DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
alterada e, muitas vezes, é necessária a retirada do
implante (FROUM, 2013). Estas complicações têm Paciente G.M.C.B, sexo feminino, 59 anos,
sido, frequentemente, observadas em pacientes que queixava de insatisfação estética relacionada à coroa
colocam implantes imediatos. Este tipo de tratamento sobre o implante instalado na região do dente 22
aumento o risco de recessão da mucosa (CHEN; (figura 1). O implante presente é um hexágono externo
DARBY; REYNOLDS, 2007; EVANS; CHEN, 2008). cilíndrico de plataforma larga, 5x 13mm (Neodent®,
Este risco é aumentado se o implante tiver tamanho Brasil).
excessivo, diâmetro muito grande, com uma plataforma Histórico do dente: A paciente relatou que
muito ampla, pois isto foi recomendado no passado, procurou um cirurgião especialista em Implantodontia
quando os clínicos achavam que, desta forma, para realizar a instalação de implantes e coroas sobre
conseguiriam obliterar melhor o alvéolo do dente implantes na região dos dentes 35 e 36. No dia da
recém-extraído (FROUM, 2013). cirurgia de instalação dos implantes, a paciente chegou
Outra possibilidade de acontecer uma ao consultório do dentista queixando-se de mobilidade
complicação estética ocorre quando o implante é do dente 22, que através de radiografia periapical, foi
inserido com mau direcionamento do seu eixo axial. constatada uma fratura radicular e, consequentemente,
Implantes que são muito inclinados para vestibular são a perda do dente. A cirurgia de instalação dos
frequentemente associados com recessão da mucosa implantes 35 e 36 foi abortada e direcionou-se o
vestibular. Quando o problema da posição do eixo axial atendimento para a remoção do dente 22 e instalação
do implante não á tão acentuada e o ombro do implante imediata de implante de plataforma regular. Uma
fica dentro da zona de conforto, o problema do eixo semana depois, a paciente retornou ao consultório do
axial pode ser corrigido usando-se intermediários implantodontista queixando-se de dor e inchaço na
(pilar) angulados, disponíveis para cada sistema de região. Após exame clínico, o cirurgião-dentista
implantes. Quando o problema do eixo axial do removeu o implante de plataforma regular e instalou o
implante é grave, e se estiver combinado com o mau implante de plataforma larga (5,0 x 13mm) na região
posicionamento vestibular do ombro do implante, a (figura 1 e 2). Passado o período de osseointegração,
436
foi instalada uma coroa em cerâmica. Insatisfeita com o de Zircônia) sobre o implante (figura 10).
resultado estético, dado como finalizado, a paciente
resolveu procurar uma solução para o problema.
Correção do problema estético: Uma das
principais complicações estéticas neste caso clínico foi
a recessão do tecido mole na face vestibular (figuras 1
e 3) ocasionada pela vestibularização do implante
(figura 4 e 5) e pela impossibilidade clara de se corrigir
essa angulação com um componente angulado, uma
vez que o posicionamento tridimensional do implante
extrapolou os limites para esta correção. Foi planejada
a remoção do implante de plataforma larga, e
Figura 1 - Vista frontal dos dentes da paciente - Observar a
regeneração tecidual na área (enxerto ósseo e discrepância do dente 22 em relação aos vizinhos.
gengival). No entanto, respeitando-se a decisão da
paciente de não passar por cirurgia de remoção de
enxerto em bloco ósseo para aumento da tábua óssea
vestibular, optou-se pela enxertia de biomateriais (Bio-
Oss® Collagen + Bio Gide®) no alvéolo onde estava o
implante e enxerto de tecido conjuntivo.
Após seis meses, foi instalado um implante
cônico de 3.5 x 11mm (Neodent®, Brasil) em posição
mais palatina (Figura 6), além de nova enxertia de Bio-
Oss® Collagen + Bio Gide® e tecido conjuntivo. Após
cinco meses, reabriu-se o implante (figura 6),
instalando o abutment e parafusando o provisório no
Figura 2 - Corte tomográfico do implante 22 de plataforma
implante. Nesta sessão, optou-se por mais um enxerto 5.0.
conjuntivo para melhor acomodação tecidual na
margem cervical da restauração provisória (figura 7).
Com a manipulação do tecido gengival por
meio da restauração provisória, obteve-se uma
condição satisfatória (figuras 7 e 8) para a confecção da
coroa definitiva. É importante notar no corte
tomográfico (figura 8), o respeito às dimensões mésio-
distal (4,31 mm da superfície mesial do implante à
superfície radicular distal do dente 21 e, cerca de 1,57
mm da superfície distal do implante à superfície
radicular mesial do dente 23) e, vestíbulo-lingual ( 4,78
mm de tecido ósseo e gengival na face vestibular do
implante). Finalizando a reabilitação do dente 22, foi
Figura 3 - Provisório do dente 22, mostrando a deficiência de
instalada uma coroa de porcelana pura (E-max/Óxido tecido gengival entre a margem cervical do provisório e
437
margem gengival.
O
enxerto ósseo é comumente usado Como saída para este impasse, o cirurgião-
para tratar atrofias de rebordos dentista deve lançar mão de técnicas cirúrgicas para
alveolares tornando possível a devolução do volume antes da instalação dos implantes
fixação de implantes dentários para posterior para posterior reabilitação oral (MARZOLA, 2008;
reabilitação protética. As áreas doadoras de auto- BOWEN, 1989; LINDHE et al., 2005). Dentre estas, a
enxertos são limitadas e frequentemente são associadas enxertia óssea, que pode ser através de enxertos
com morbidade pós-operatória. Como alternativa, os autógenos, homógenos, xenógenos ou aloplásticos.
aloenxertos provenientes de Banco de órgãos e tecidos Os enxertos autógenos são aqueles removidos
são utilizados com frequência. Aloenxertos possuem de áreas doadoras intra ou extra bucal do próprio
uma matriz mineralizada acelular utilizada na paciente. Eles são considerados padrão ouro para
regeneração óssea por osteocondução. Técnicas com reconstrução de defeitos ósseos residuais, pelo
substitutos ósseos como o osso homógeno têm ganhado benefício de se obter osso intramembranoso e células
mais visibilidade científica e espaço na medicina, osteoprogenitoras viáveis. Porém, são necessários dois
mostrando ser uma alternativa viável quanto à procedimentos cirúrgicos, aumentando assim, a
disponibilidade do que o osso autógeno. Os blocos de morbidade do paciente. Podem ser removidos enxertos
osso homógeno (também conhecido como homólogo intrabucais na região retro molar, mentual e tuber
ou alógeno), têm como características a capacidade de maxilar e, extra bucais da calvária, crista ilíaca, platô
osseocondução e osseoindução; as propriedades tibial e arcos costais (MARZOLA, 2008; ZHENG;
osteogênicas desta estrutura não estão presentes devido WANG, 2011; MATHIAS et al., 2003).
ao método de processamento que remove todas as Os enxertos podem possuir características
estruturas celulares (SOUZA et al., 2010). Essa osteogênicas, quando o crescimento ósseo se dá em
alternativa de tratamento despertou bastante interesse função das células viáveis, transferidas dentro do osso
nos cirurgiões por apresentar vantagens, como redução enxertado; osteoindutivas quando possuem a
do tempo cirúrgico, menor morbidade, redução de capacidade de atrair células mesenquimais, que,
lesões vásculo-nervosas e infecções. posteriormente, se diferenciarão em osteoblastos; e
Após a extração dentária, com o passar do osteocondutivo servindo como arcabouço.
tempo, áreas edêntulas sofrem um processo contínuo Para a integração estrutural e funcional, o
de reabsorção. Este processo tem início logo após a aloenxerto tem de se tornar colonizado por células e ser
exodontia, com a qual as paredes do alvéolo perdem vascularizado (Angiogênese) para a formação do novo
tanto em altura quanto em espessura óssea devido à tecido ósseo e da sua vascularização, respectivamente
falta de função pela perda dentária, deixando um (HOLZMANN et al., 2010). Angiogênese é o processo
volume ósseo inadequado para instalação de implantes. de formação de novos vasos sanguíneos a partir de
Nestas áreas, nota-se uma densidade óssea menor, com vasos pré-existentes, regulada por fatores pró e
trabeculados medulares em maior quantidade e com antiangiogênicos, além da capacidade de ser estimulada
frequente pneumatização do seio maxilar em região ou inibida rapidamente. No entanto, a vascularização
posterior de maxila, sendo ainda hoje um desafio, a do enxerto é muitas vezes prejudicada, resultando em
realização de tratamentos com implantes falência funcional do enxerto. No processamento
osseointegráveis nesta região (MISCH, 2008; do osso de banco, o tecido é armazenado a -80°C e,
WHEELER, 2007; MARZOLA, 2008). posteriormente, é submetido a uma limpeza e
441
esterilização, procedimento que serve para prevenir a médica, estes equipamentos não supriam
rejeição ou a transmissão de doenças imunes adequadamente as necessidades odontológicas. No
(SCARBOROUGH et al., 2000). entanto, tomografia computadorizada de feixe cônico
Existem inúmeras abordagens técnicas de (TCFC) ou cone beam representou um grande avanço,
preparo do osso homógeno objetivando a diminuição potencializando o papel da imagem no processo de
de sua antigenicidade e manutenção das características diagnóstico, com novos recursos, até então disponíveis
osteoindutoras (GARBIN JUNIOR, 2008). Dentre as com técnicas convencionais bidimensionais
diferentes técnicas, pode-se dispor de osso homógeno (CHILVARQUER et al., 2014).
fresco, fresco e congelado, liofilizado ou A implantodontia é a especialidade
desmineralizado. odontológica que mais utiliza a TCFC. A
A lei n. 9.434, de 4/02/1997 e a lei implementação de softwares para visualização e
complementar 10.211 de 23/03/2001, dispõe sobre a planejamento virtual de implantes contribuíram para
remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano difundir ainda mais o uso da tomografia no cotidiano
para fins de transplante. A organização da sistemática das clínicas. Por meio de conversor de imagens Dicom,
dos serviços prestados pelos Bancos de Tecidos os softwares de planejamento virtual conseguem
Músculoesqueléticos no Brasil foi redigida pela reconstruir imagens multiplanares nos planos
portaria 1686 de setembro de 2002, da ANVISA, ortogonais (axial, coronal e sagital) e também imagens
baseada nas regras da American Association of Tissue seccionais da maxila e da mandíbula, possibilitando a
Banks e European Association of Tissue Banks, sendo realização de mensurações principalmente de altura e
que, atualmente é permitido ao cirurgião-dentista, após espessura do rebordo ósseo e a simulação virtual da
cadastro no Sistema Nacional de Transplante, fazer uso instalação do implante (JOLY et al., 2015).
deste tipo de tecido quando de indicação clínica O protótipo é um produto fabricado
(GARBIN JUNIOR, 2008). unitariamente, segundo as especificações de um
projeto, com a finalidade de servir de teste antes da
Diagnóstico tomagráfico fabricação em escala industrial. Em outras palavras,
Durante anos, os exames de imagens pode-se dizer que o protótipo é um experimento virtual
bidimensionais foram recursos importantes à clínica ou real que tenta imitar um sistema real, o qual pode
odontológica devido à rápida aquisição, fácil ser obtido de imagens tomográficas em 3D
interpretação e baixo custo. No entanto, por ser uma (MARZOLA, 2008).
representação gráfica (digital ou não) de estruturas A cirurgia guiada nada mais é do que a
tridimensionais, apresentam limitações no que diz confecção de guias prototipados por meio do
respeito à sobreposição de estruturas, ampliação, planejamento de implantes nos softwares específicos
magnificação, distorção e erros de posicionamento de navegação virtual. Estes planejamentos podem ser
(JOLY et al., 2015). enviados via internet a um centro especializado de
Este paradigma odontológico mudou a partir prototipagem para ser gerado o modelo ou guia
do surgimento da técnica de tomografia cirúrgico.
computadorizada de feixe cônico no final da década de Estas prototipagens individuais podem ser
1990. Antes dessa descoberta tecnológica, os utilizadas com objetivos didáticos e no diagnóstico
cirurgiões-dentistas utilizavam imagens provenientes precoce e tratamento de deformidades faciais,
de tomógrafos lineares ou médicos, do tipo multi-slice. facilitando, também, a comunicação entre profissional
Apesar da alta capacidade de diagnóstico na área e paciente, permitindo a mensuração de estruturas, a
442
simulação de osteotomias e de técnicas de ressecção, concavidade do arco alveolar superior em sua parede
além de um completo planejamento dos mais diversos vestibular e dentes com comprometimento periodontal,
tipos de cirurgia reconstrutivas do complexo mostrando severa retração gengival. O quadro de
maxilofacial. O planejamento prévio da cirurgia atrofia maxilar mostrou a impossibilidade de instalação
reduzirá o tempo do procedimento e, de implantes dentários sem prévia reconstrução óssea
consequentemente, o período de anestesia, bem como o alveolar em espessura (figura 1).
risco de infecção, havendo ainda melhora no resultado
e a diminuição no custo global do tratamento (JAMES
et al., 1998; MARZOLA, 2008).
Tendo em vista os benefícios trazidos pela
utilização de enxerto ósseo homógeno, evitando a
segunda área cirúrgica (área doadora), e da
prototipagem, para melhor planejamento e execução, a
associação desses procedimentos apresenta-se uma
alternativa viável para reconstrução maxilar.
Figura 1 - Aspecto inicial mostrando atresia severa da maxila.
Sendo assim, este capítulo tem como objetivo
a exposição de um caso clínico cirúrgico de
Tomografia computadorizada e prototipagem
reconstrução óssea maxilar.
rápida
Foi utilizado planejamento prévio, tendo
Como plano de tratamento cirúrgico, optou-se
auxílio de uma prototipagem, e enxerto ósseo fresco
pela reconstrução da maxila com enxerto ósseo fresco
congelado humano homógeno, de banco de osso,
congelado humano, proveniente Banco de Tecido
associado a Plasma Rico em Plaquetas (PRP). O
Músculo Esquelético da Universidade de Marília
paciente portador de atrofia maxilar foi submetido ao
(UNIOSS, Marília - SP). Com o intuito de facilitar a
procedimento sob anestesia local, obtendo resultado
modelagem do enxerto na área receptora, foi decidido
clínico de excelência, apresentando suporte ósseo
utilizar um protótipo da área a ser operada. As imagens
suficiente para instalação de implantes e carga
tomográficas obtidas no tomógrafo tipo Cone Beam (I-
funcional protética. Conclui-se que a associação do
Cat Equipamento de Tomografia Computadorizada 3D
protótipo, a modelagem do osso fresco congelado
tipo Cone Beam. Kavo do Brasil Ind. Com. Ltda,
humano e o PRP, constitui uma alternativa viável para
Joinvile, Santa Catarina, Brasil) no formato DICOM
a reconstrução maxilar, comparável ao enxerto
(figura 2) foram enviadas para a confecção de um
autógeno, não sendo necessário submeter o paciente a
protótipo da maxila (figuras 3a e 3b).
uma anestesia geral, tampouco a exposição de um
segundo sítio cirúrgico.
DESCRIÇÃO DO CASO
Cirurgia de enxertia
O procedimento cirúrgico foi realizado em
ambiente ambulatorial, sob anestesia local.
Primeiramente, foi realizada a antissepsia intra e
extraoral com solução de polivinilpirrolidona a 10%
(PVPI) e montagem dos campos, seguidos da
infiltração anestésica com articaina 4% 1:100000 e
Figura 2 - Imagens tomográficas enviadas para confecção do
protótipo. incisão sobre a crista de todo rebordo alveolar maxilar
com posterior descolamento mucoperiosteal total
Este protótipo foi utilizado como parâmetro de vestibular e parcial em região palatina.
limites no desgaste do osso fresco pelo banco de osso, Após todo tecido descolado, foi realizada a
Procedimentos cirúrgicos
Preparo do Plasma Rico em Plaquetas (PRP)
Antes do procedimento cirúrgico, o paciente
foi submetido à venóclise no membro superior
esquerdo, para a coleta de 7 ml de sangue periférico.
444
Após 6 meses da enxertia, foi realizada a
instalação dos implantes (NobelReplace®) com
posterior confecção de prótese do tipo protocolo (Fig.
7-9).
Inicialmente, foi realizada a moldagem
funcional, seguida pela moldagem anatômica. Ao
retornar com rolete de cera, esta mesma foi provada e
montada no articulador. Após o retorno da peça com
dentes premium montados, foram realizados os ajustes
e solicitação da acrilização da mesma.
Figura 6 - (A) Exposição óssea pós operatória; (B) Osso Figura 9 - Prótese instalada.
exposto removido.
DISCUSSÃO
O
edentulismo, para a maioria dos dimensão vertical do paciente, restabelecimento oclusal
pacientes, tráz prejuízos diretos, dos elementos dentários, manutenção da estética facial
não apenas para as funções básicas, (tônus muscular), melhoria e permissão de ganho da
como falar e mastigar, mas também na parte estética, propriocepção oral, aumento do sucesso protético,
refletindo diretamente na vida social e na auto estima expressão facial e melhor aceitação do
do mesmo. A fim de solucionar tais problemas, os paciente (BUENO-SAMPER; HERNANDEZ-
cirurgiões-dentistas, juntamente com seus pacientes, ALIAGA; CALVO-GUIRADO, 2010).
recorrem a reabilitações orais modernas, por meio da Uma grande dificuldade na reabilitação dos
instalação de implantes osseointegrados, associados a pacientes desdentados totais é a falta da estrutura óssea,
uma prótese total fixa. Esse tratamento vem a qual vai sendo perdida devido à falta de estímulo
proporcionando a estes indivíduos, conforto e dentário. Diversos autores afirmam que em maxilas
eficiência mastigatória, assim como, segurança e e/ou mandíbulas que não apresentam qualidade e/ou
melhora na fala e na autoestima, além da estabilidade e quantidade óssea suficientes para instalação do
retenção, fornecida por meio da peça implante, torna se ideal a utilização de enxerto ósseo
implantossuportada; fatores esses, até então, não autógeno, uma vez que esse material possui
totalmente restabelecidos com a utilização das próteses simultaneamente, potencial de integração ao sítio
totais removíveis. receptor, com mecanismos da osteogênese,
A Implantodontia é tida como a especialidade osteoindução e osteocondução, sendo assim, a
da Odontologia capaz de restabelecer, da melhor primeira escolha de material de enxertia, mesmo diante
forma, as características do sistema estomatognático, de outros materiais e técnicas menos
que foram perdidas em pacientes com perdas dentárias, invasivas (GUILHERME et al., 2009; FARDIN et al.,
contribuindo para a melhora na função, estética, 2010).
fonética, conforto, saúde oral e sistêmica do paciente, Outro dificultador é a ausência de informações
evitando assim, inclusive distúrbios psicológicos referentes ao volume de suporte labial, relação
relacionados à insegurança e baixa estima, resultando face/lábio/gengiva/dentes, formatos, tamanhos e
em qualidade de vida insatisfatória e exclusão arranjos dentários, tornando um desafio à
social (MIGLIORANÇA et al., 2007; KOMIYAMA et previsibilidade estética dos protocolos implantos-
al., 2011; CALLEGARI et al., 2015). Torna-se, suportados, uma vez que a maioria desses pacientes
portanto, evidente a necessidade de se desenvolver apresentam próteses desgastadas e sem referências
constantemente, novas técnicas cirúrgicas e protéticas, corretas. Assim, é necessário otimizar a comunicação
aliadas a novos materiais, afim do restabelecimento com o máximo de informação entre clinico, paciente e
pleno, da função e da estética do paciente, cada vez laboratório, juntamente com um planejamento
mais próximos dos contornos que dão naturalidade à interdisciplinar, para obtenção da excelência nos
dentição, restituindo, de maneira eficaz, os aspectos de resultados finais (CALLEGARI et al., 2015).
normalidade e naturalidade, tão requeridos nos dias De acordo com as recomendações iniciais,
atuais. propostas pelos primeiros ensaios cirúrgicos realizados
As reabilitações implantossuportadas com implantes osseointegráveis, a confecção das
apresentam como principais vantagens, a manutenção próteses sobre os mesmos, realiza-se apenas após o
da estrutura óssea, a restauração e manutenção da período de 6 meses da realização da cirurgia, evitando
450
assim, a aplicação de cargas durante o período de demonstraram menor resistência significante à fratura
cicatrização inicial (BRANEMARK et al., 1969). da porcelana, quando comparadas às coroas
Entretanto, atualmente, sabe-se que esse período de cimentadas. Assim como Mendes, Rohenkohl e
espera, somente é necessário nos casos em que não se Mendes (2011) afirmaram que a superfície oclusal das
consegue estabilidade primária dos implantes ou em próteses cimentadas oferece uma maior estabilidade
regiões de enxerto ósseo, sendo necessária a espera de funcional, uma vez que nas próteses parafusadas o
períodos que variam de 2 a 6 meses, para o início da orifício de acesso ao parafuso pode ocupar até um terço
reabilitação protética (SILVA; COSTA, 2010; SILVA; da área oclusal.
SILVA, 2011). A consolidação pela escolha da técnica de se
Dentre os principais desafios que cercam a utilizar coroas cerâmicas individualizadas, foi
construção de uma prótese implantossuportada extensa, embasada analisando a literatura na qual autores
figura o comprometimento de todo o trabalho quando afirmam que as cerâmicas preenchem os quesitos
há a necessidade de algum tipo de reparo na mesma, estéticos, biológicos, mecânicos e funcionais exigidos
pois em grande parte dos casos, o reparo poderá de um material restaurador3. Além de possuírem
condenar toda a reconstrução ou, na melhor das vantagens incontestáveis como estabilidade de cor,
hipóteses, seu material de revestimento estético. Assim, biocompatibilidade, resistência ao manchamento e ao
a possibilidade de remoção da prótese, por meio do desgaste (CARVALHO et al., 2012).
desparafusamento de sua infraestrutura, trouxe um A fim de aumentar as vantagens dos
aspecto interessante e favorável às reabilitações protocolos convencionais sobre implantes, este
implantossuportadas. Uma excelente particularidade do trabalho relata um caso clínico de uma paciente com
caso, associada à barra do protocolo parafusado edentulismo total, a qual utilizava 2 próteses totais
convencional, estão as coroas cimentadas removíveis, onde foram realizados enxertos ósseos
individualmente sobre a mesma, permitindo, se autógenos bilaterais nos seios maxilares, com
necessário, reparo ou troca de uma única peça instalação imediata de 8 implantes superiores e 5
cerâmica, sem necessidade de desparafusamento desta implantes inferiores; e, após o período de aguardo de 6
infraestrutura, facilitando ainda mais o acesso ao meses, foram confeccionadas próteses do tipo
conserto e aceitação do paciente, por não necessitar protocolos parafusados, tendo coroas em cerâmica
ficar sem a prótese. pura, confeccionadas em dissilicato de lítio, e
Comumente, observa se como principais cimentadas individualmente sobre a infraestrutura de
falhas atribuídas aos protocolos metalocerâmicos, as suporte de bases também individualizadas, semelhantes
falhas estruturais, uma vez que estes sofrem exagerada aos preparos protéticos convencionais, permitindo
deflexão, podendo acarretar perda de suporte ósseo e assim, a reversibilidade plena do sistema.
até mesmo, a fratura da cerâmica de cobertura da
prótese, sendo então, o uso de protocolos DESCRIÇÃO DO CASO
implantossuportados com coroas cimentadas
individualmente, vantajoso sobre este aspecto, além de Paciente de 63 anos, gênero feminino, sem
apresentar uma melhor estética (MANZANO; MANZI; alterações sistêmicas, e apresentando como queixa
PIMENTEL, 2011). principal, o desejo em realizar reabilitação oral, devido
Segundo ZARONE et al. (2007), as coroas à ausência total dentária, aliada a alterações funcionais
metalocerâmicas implantossuportadas parafusadas e estéticas. Paciente apresentou-se utilizando próteses
451
totais superior e inferior, confeccionadas há cerca de 40 das próteses antigas da paciente com material soft, a
anos, insatisfatórias quanto a estética, dimensão qual foi utilizada por um período de 6 meses, a fim da
vertical de oclusão e suporte de tecidos bucais; assim espera da neoformação óssea da região enxertada.
como rebordos ósseos alveolares atrofiados (figura 1). Em uma nova sessão clinica, foram provados
os planos de orientação em cera, já com os dentes
posicionados, para captação das referências intra-orais,
tais como, altura, corredor bucal e estabelecimento da
dimensão vertical de oclusão. Assim, essa “peça”
serviu de esboço para uma confecção facilitada, da
futura prótese implantossuportada definitiva (figura 2).
REFERÊNCIAS
osseointegráveis, e por meio da reabilitação protética SILVA, W.; SILVA, W. Tratamento interdisciplinar
com sistemas adesivos e implantes dentários. Revista
do paciente, com coroas cimentadas individualmente Dental Press de Periodontia e Implantologia, v. 5, n. 2,
454
p. 36-47, 2011.
SILVA, W.O.; COSTA, V. Tratamento interdisciplinar
auxiliado pela proporção dourada. Revista Dental Press
de Periodontia e Implantologia, v. 4, n. 3, p. 45-53,
2010.
ZARONE, F. et al. Fracture resistance of implant-
supported screw-versus cement-retained porcelain
fused to metal single crowns: SEM fractographic
analysis. Academy of Dental Materials, v. 23, n. 3, p.
296-301, 2007.
Capítulo 73
Restauração dentoalveolar
imediata
Marcelo Piaia
Emerson José Ferreira de Andrade
Daiane Cristina Peruzzo
Julio Cesar Joly
Marcelo Henrique Napimoga
456
A
fratura radicular, a falha no nesta região (ROSA et al., 2008).
tratamento endodôntico e a A técnica RDI se baseia em princípios
doença periodontal, estão biológicos consolidados. A característica trabecular
associados à exodontia e a instalação de implantes da tuberosidade da maxila demonstra que esse
imediatos. O atraso na exodontia, nestes casos, enxerto tem grande capacidade de revascularização,
pode levar à contaminação bacteriana na região da com liberação de fatores de crescimento para o leito
fratura (GOMES et al., 2001), resultando em perda receptor (CICCONETTI et al., 2007). Porém, o
óssea. enxerto deve ser estabilizado rapidamente no leito
A prevalência da fratura radicular vertical, receptor, para prevenir a perda de suas
revisando a literatura, varia de 10 a 12%. A propriedades. Devemos entender que a tuberosidade
presença de núcleos metálicos no canal radicular maxilar apresenta limitada disponibilidade óssea, e
está associada a 60% dos casos de fratura é de difícil acesso cirúrgico (CICCONETTI et al.,
(HASSAN et al., 2010). O prognóstico de dentes 2007).
com fratura extensa é desfavorável na maioria dos Após a instalação imediata do implante em
casos, assim, nestes casos, a exodontia será conjunto com o enxerto ósseo proveniente da
indicada. A fratura radicular é ligada à infecção, tuberosidade maxilar, há formação de um coágulo
comprometendo o alvéolo. Um estudo que preenche os espaços remanescentes entre o
retrospectivo, com 75 pacientes, revelou que 30% implante e o enxerto. Buser e Martin (2004)
das exodontias apresentavam paredes ósseas descrevem que, se a largura entre o implante e a
intactas e, 70% dos casos apresentavam pelo menos parede óssea vestibular for maior que 2mm, haverá
uma parede comprometida (ZITZMANN et al., reabsorção óssea horizontal, e um enxerto será
1999). A parede vestibular é a mais afetada, devido necessário para a sua regeneração. Com base nesse
à menor espessura e vascularização. princípio, no uso da RDI, todos os espaços
A instalação imediata de implantes é remanescentes entre o implante e o enxerto, devem
contraindicada em casos de infecção e defeitos ser preenchidos com osso particulado, também
ósseos, principalmente quando a vestibular está proveniente da tuberosidade maxilar (ROSA et al.,
ausente, o que é observado quando ocorre fratura 2008).
radicular (LAZZARA et al., 1989). A técnica de Com base nesses princípios biológicos,
Restauração Dentoalveolar Imediata (RDI) foi será apresentado um caso clínico, obedecendo
desenvolvida com a intenção de aperfeiçoar a criteriosamente o protocolo da técnica RDI.
eficiência clínica nesses casos, aumentando a
indicação para a temporização em implante DESCRIÇÃO DO CASO
imediato, diminuindo o tempo de tratamento.
O objetivo da RDI é reabilitar, no mesmo
Paciente V.S., de 34 anos, gênero
tempo cirúrgico da instalação dos implantes, a
feminino, compareceu à clínica do Curso de
parede óssea vestibular, mantendo assim, a estética
Especialização em Implantodontia, das Faculdades
dos tecidos moles. A parede vestibular é restaurada
Metropolitanas Unidas, São Paulo, com
com enxerto ósseo cortiço-medular, removido da
sintomatologia dolorosa na região de incisivo
tuberosidade da maxila, entretanto, uma limitação
central superior. Ao exame clínico, (figura 1) foram
da técnica é a ausência de disponibilidade óssea
observadas as seguintes características: linha do
457
sorriso ligeiramente alta, defeito ósseo vestibular procedimento, 4 mg ao dia por mais dois dias, e
apresentando 15 mm de profundidade à sondagem paracetamol 750 mg, tomando um comprimido uma
na região do incisivo central superior esquerdo e hora antes do procedimento e a cada quatro horas
presença de fístula cicatrizada. O biótipo gengival enquanto houvesse dor.
era delgado, apresentando estreita faixa de mucosa Foi realizada anestesia infiltrativa de
queratinizada. O exame tomográfico do dente mepivacaína a 2%, com norepinefrina, no fundo do
comprometido (figura 2) revelou as seguintes vestíbulo e na região palatina do dente envolvido.
características: endodontia, núcleo metálico Com o uso de uma lâmina 15C, foi feita uma
fundido, coroa metalocerâmica, destruição da incisão sulcular em torno do dente comprometido.
lâmina dura e rarefação óssea periapical. Presença Em seguida, com um perióstomo, por meio de
de altura óssea acima do ápice radicular em torno movimento pendular no sentido mesiodistal, foi
de 6 mm e área doadora da tuberosidade da maxila realizada uma exodontia (figura 3) cuidadosa,
com boa disponibilidade óssea. O tratamento visando a integridade das paredes ósseas
proposto foi a exodontia do dente envolvido e a remanescentes. O alvéolo foi criteriosamente
restauração dentoalveolar em um único curetado para a remoção do tecido de granulação
procedimento. (figura 4).
amoxicilina 500 mg, tomando uma cápsula a cada X 13 mm, e posteriormente, uma conexão protética
oito horas, iniciando 16 horas antes do tipo munhão reto 3,5 X 1,5 X 6 mm plataforma
procedimento, por sete dias, dexametasona, switching. O implante teve um travamento apical de
implante, por meio de uma sondagem, foi avaliada ósseo foi manipulado para reproduzir a forma do
a forma do defeito vestibular (figura 6) para defeito alveolar. Após, a lâmina óssea foi inserida
um pilar de titânio foi instalado. implante, com a cortical voltada para vestibular,
buscando a estabilização primária do enxerto. Em
seguida, foi feita a compactação de osso medular,
coletado da região doadora, entre a porção interna
da lâmina óssea e a superfície vestibular do
implante, estabilizando o enxerto.
Após o procedimento de enxertia, foi
realizada a sutura na região doadora, por meio de
pontos simples e fio 5-0 nylon, e posteriormente, a
coroa provisória parafusada foi instalada sobre o
Figura 6 - Medição do defeito. implante com torque de 20 Ncm. A coroa
provisória foi instalada temporariamente para
Na confecção do provisório, foi avaliação radiográfica e realização do alívio
estabelecido o perfil de emergência ideal, sem oclusal. Em seguida, a coroa provisória foi
compressão dos tecidos moles e com espaço livre removida para acabamento e polimento e para a
suficiente para permitir sua acomodação, realização da etapa de reconstrução do defeito
promovendo uma margem de tecido gengival mais ósseo alveolar (figura 8).
estável.
Para a região doadora, foi realizada
anestesia infiltrativa com mepivacaína a 2%, com
noraepinefrina, no fundo do vestíbulo e na porção
palatina da tuberosidade da maxila. Foi realizada
uma incisão do centro do rebordo da tuberosidade
maxilar até a face distal do último molar. Após o
descolamento do tecido mole, um cinzel reto foi
utilizado para a remoção da lâmina óssea (figura 7). Figura 8 - Provisório imediato.
459
A paciente foi orientada a ter uma dieta modelado com o formato do defeito da parede
macia, não utilizar os dentes anteriores durante o alveolar, associado ao osso medular particulado,
período de osseointegração e fazer aplicação tópica ambos provenientes da tuberosidade da maxila,
de clorexidina 0,12% três vezes ao dia, durante dez promoveu a restauração de alvéolos frescos
dias. Foi monitorada clinicamente a cada sete dias, comprometidos, possibilitando, a restauração
nas seis primeiras semanas, e a cada trinta dias, nos imediata do implante, poupando a paciente da
primeiros meses. Após um período de quatro meses necessidade de diversos procedimentos cirúrgicos e
de osseointegração, foi realizada uma tomografia prevenindo os riscos estéticos relacionados a esses
para avaliação da parede óssea vestibular (figura 9). procedimentos. A RDI, portanto, representa uma
alternativa de tratamento, desde que seu protocolo
seja seguido.
REFERÊNCIAS
A
preservação alveolar é um Este trabalho foi desenvolvido no sentido
objetivo buscado por todos os de utilizar uma tecnologia de terapia celular,
profissionais que procuram baseada nos produtos do sangue periférico, que
devolver função e estética aos seus pacientes, oferece uma consistência de arcabouço, protege o
principalmente em regiões anteriores superiores, sitio cirúrgico e acelera o processo de cicatrização.
visto que, nestas regiões, os alvéolos podem sofrer Choukroun et al. (2006) desenvolveram o
uma reabsorção significativa já nos primeiros seis protocolo de obtenção do Plasma Rico em Fibrina
meses pós exodontia (PELEGRINE et al., 2010). (PRF), que pertencente à segunda geração de
Logo após a exodontia, ocorre uma acentuada concentrados plaquetários, com um processamento
alteração dimensional durante as primeiras oito simplificado e sem manipulação bioquímica de
semanas. Neste período, ocorre uma grande sangue, sendo assim, eliminando as complicações
atividade osteoclástica, resultando na reabsorção da legais. Ao contrário dos outros concentrados de
crista alveolar tanto na face vestibular como na plaquetas usados até então, trata-se de uma técnica
lingual, sendo que a redução da altura é seguida por em que é necessária somente a centrifugação de
uma perda de massa óssea horizontal (ARAÚJO; sangue do paciente, sem outros aditivos. Esta
LINDHE, 2005). pretende mimetizar o processo natural de
Estudo realizado por van der Weijden, coagulação, e produz-se uma membrana bioativa
Dell’Acqua e Slot (2009) verificou uma redução simples e econômica que funciona como uma rede
média da largura da crista alveolar de 3,87mm e de fibrina que leva tanto à migração e à proliferação
uma perda de altura em média de 1,67mm após celulares, de forma mais eficiente.
exodontia. Como a sobrevivência dos implantes e A matriz de fibrina é primordial no
sua capacidade de fornecer função e estética processo de cicatrização e a utilização de aditivos
perdidas estão estritamente correlacionadas com o cirúrgicos à base de fibrina, na maior parte, colas de
seu correto posicionamento no osso alveolar, fibrina, tem uma longa história de utilização com
necessita-se de osso e gengiva em quantidades sucesso na cirurgia oral e maxilofacial. O PRF tem
adequadas (PERRI DE CARVALHO; PONZONI; capacidade de regular a inflamação e de estimular o
BASSI, 2005), o que pode ser alcançado com a processo imunitário da quimiotaxia e, sendo um
utilização de técnicas de preservação alveolar. material autólogo, elimina qualquer risco de
Vários biomateriais (xenógenos, alógenos transmissão de doenças (DOHAN et al., 2006).
e aloplásticos) já foram testados em alvéolos Este material natural parece acelerar a
frescos para minimizar a perda de espessura cicatrização, além de que, quando em associação
alveolar ou para obter, se possível, a preservação do com enxertos ósseos, tende acelerar a formação de
osso alveolar sem níveis elevados de morbidade novo osso. Ao mesmo tempo, tem uma função de
relacionada à utilização desses enxertos, porém, proteção dos locais cirúrgicos e de biomateriais
esses biomateriais, quando utilizados, resultam na eventualmente implantados. Estruturalmente, o PRF
presença de remanescentes de tecido mineralizado permite a obtenção de uma matriz firme de fibrina,
desvitalizado, que pode interferir na estabilidade com uma arquitetura tridimensional complexa, onde
primária e osseointegração do implante estão concentradas a maioria das plaquetas e
(JAMBHEKAR; KERNEN; BIDRA, 2015). leucócitos do sangue colhido (DOHAN et al., 2006;
462
CHOUKROUN et al., 2006) e quando utilizado na o intuito de se instalar o implante osseointegrável
preservação alveolar não apresenta resíduos que de titânio. Foi realizada a fresagem para instalação
possa interferir na instalação do implante. dos implantes de acordo com a sequência de brocas
sugerida pelo fabricante referente ao implante
DESCRIÇÃO DO CASO selecionado e, por fim, a sutura foi realizada (figura
13, 14, 15 e 16).
Paciente C. S. O. S., do sexo masculino, 57 Após quatro meses de cicatrização e
anos, selecionado no centro de triagem da osseointegração do implante, o mesmo foi reaberto
Faculdade São Leopoldo Mandic, com queixa para que os procedimentos de moldagem e
principal de comprometimento estético devido à instalação da prótese fosse realizado (figura 17 e
fratura do dente 21. 18).
Após avaliação radiográfica, constatou a Por fim, a utilização do PRF para
necessidade de exodontia da raiz residual do preservação alveolar revelou resultados bastante
elemento dentário (figura 1). satisfatórios, demonstrados pela preservação tanto
Imediatamente antes da cirurgia de em espessura quanto em altura alveolar, assim
exodontia, foi coletado sangue periférico do como pela manutenção da estética gengival.
paciente, esse sangue foi acomodado em tubos
estéreis para centrifugação a fim de se obter o PRF
(figura 2, 3, 4 e 5).
Inicialmente, procedeu a exodontia do
dente 21 com o auxílio do extrator (Exodent)
(figura 6), visando reduzir o trauma cirúrgico aos
tecidos adjacentes e preservar a integridade da
crista óssea alveolar e da parede óssea vestibular, Figura 1 - Radiografia.
uma vez que sua luxação e remoção é feita ao longo
eixo do dente (figura 7, 8 e 9).
Após a exodontia, foi realizada a
curetagem de todo o alvéolo (figura 10). O paciente
teve, então, o alvéolo totalmente preenchido com
PRF (figura 11). Após esse procedimento, foi
realizada uma incisão relaxante no fundo de
vestíbulo para total coaptação dos bordos, a fim de
proceder a sutura. Figura 2 - Coleta de sangue para obtenção do PRF.
A sutura foi realizada com fio mononylon
5-0 (Ethicon - Johnson & Johnson, São José dos
Campos, SP, Brasil), para iniciar a cicatrização em
primeira intenção da ferida, sendo removida 10 dias
após o procedimento cirúrgico (figura 12).
Após o período de cicatrização de seis
meses, um novo acesso cirúrgico foi realizado com
463
Figura 3 - Centrifugação. Figura 8 - Exodontia.
Figura 5 - PRF.
A
qualidade do osso ser aplicado em diferentes tempos. O Smartpeg
alveolar é considerada é estimulado por impulsos magnéticos e a
como um fator de grande frequência de ressonância é expressa
influência na instalação eletromagneticamente como um quociente de
de implantes osseointegráveis e constitui, assim, estabilidade do implante (ISQ), com unidades
um dos principais determinantes para o sucesso que variam de 1 a 100. O sistema de análise de
do tratamento (JAFFIN et al., 1991; DEGIDI et frequência de ressonância (Osstell AB,
al., 2011). Em particular, a espessura do osso Göteborg, Suécia) tem sido usado com
cortical, a resistência do osso esponjoso, assim frequência para avaliar a estabilidade do
como a proporção entre ambos parecem ser os implante. No momento da cirurgia, a
fatores mais importantes (ITO et al., 2008; estabilidade do implante parece estar
HSU et al., 2013). relacionada com a geometria do implante, a
A osseointegração foi definida como a anatomia do osso e a técnica cirúrgica
conexão estrutural e funcional direta entre o (MEREDITH et al., 1997; MOLLY et al., 2006;
osso vital e a superfície de um implante que ROWAN et al., 2015).
esteja recebendo carga funcional, sem a Levando-se em consideração que
interposição de tecidos moles frequentemente nos deparamos com pacientes
(ALBREKTSSON et al., 1983). A estabilidade portadores de rebordos alveolares deficientes,
primária do implante é considerada como fazendo-se necessária a reconstrução destes por
critério essencial para o sucesso do mesmo em meio de enxertos ósseos, o uso de osso autógeno
longo prazo e posterior ocorrência da para as reconstruções ósseas continua sendo
osseointegração. No entanto, em osso de baixa considerado o padrão ouro biológico devido à
densidade, a qualidade do tecido influencia na sua capacidade osteoindutora, osteocondutora e
estabilidade inicial. A falta de estabilidade osteogênica, além de ausência de resposta
inicial em osso tipo IV resulta em taxas de imunogênica (MISH, MISCH, 1995; Acocella et
sucesso inferiores que variam de 50% a 94% al., 2010). No entanto, este tipo de enxerto
(LEKHOLM, ZARB, 1985; TRUHLAR et al. apresenta alguns inconvenientes importantes,
1997). como a necessidade de um segundo sítio
Com o intuito de avaliar a estabilidade cirúrgico, resultando em um aumento do tempo
primária dos implantes, a análise de frequência cirúrgico total e, consequentemente, da
de ressonância surgiu como uma técnica não morbidade, disponibilidade limitada e o fato de
invasiva, que torna possível essa avaliação no sua obtenção poder incorrer em complicações,
momento da colocação dos mesmos, bem como tais como, parestesias, hemorragias, alopecia,
a estabilidade secundária depois do período de dificuldades de locomoção e fraturas (NKENKE
cicatrização óssea (MEREDITH et al., 1997). et al., 2002, 2004; SCHEERLINCK et al.,
Um dispositivo de metal (Smartpeg) é ligado ao 2013).
implante por meio de uma conexão de parafuso Neste contexto, a busca por substitutos
ou ainda conectado ao pilar protético, podendo ao osso autógeno se coloca em grande
468
relevância para a implantodontia. Contudo, contra indicasse o procedimento.
alguns estudos têm demonstrado que a O procedimento cirúrgico foi realizado
qualidade do osso regenerado a partir de no bloco cirúrgico da Faculdade São Leopoldo
substitutos ósseos é baixa, podendo interferir na Mandic com o paciente sob anestesia local.
estabilidade inicial dos implantes e, Após aplicação de anestésico local com
consequentemente, na osseointegração (CHAN vasoconstrictor, foi realizada incisão sobre o
et al., 2013). Entre as alternativas está o osso rebordo alveolar seguida de descolamento
bovino liofilizado, uma vez que este tipo de muco-periosteal do tecido tanto por vestibular
biomaterial tem praticamente disponibilidade quanto por palatino. Na sequência, o leito
ilimitada e grande similaridade física e química receptor foi descorticalizado para que houvesse
com osso humano (GALIA et al., 2009), porém uma melhor nutrição sanguínea da região.
não existem estudos consistentes que avaliam a Dando prosseguimento, houve a modelação e
estabilidade dos implantes em regiões instalação do bloco de matrix mineral bovina
previamente enxertadas com tais biomateriais. (OrthoGen-Baumer, SP, Brasil) na região do
incisivo central com intuito de restaurar a
espessura óssea, possibilitando, assim, a
DESCRIÇÃO DO CASO reabilitação com implante dentário. O bloco de
osso xenógeno foi fixado com parafuso de
Paciente do sexo masculino, 42 anos,
1,5mm e, sobre ele, foi colocada uma
foi encaminhado à clínica de implantodontia da
membrana reabsorvível de colágeno ( GenDerm
Faculdade São Leopoldo Mandic com indicação
– Baumer, SP, Brasil).
de reabilitação com instalação de implante
Seis meses após a fixação do enxerto,
osseointegrável na região anterior da maxila. Ao
foram solicitados novos exames tomográficos
exame clínico, foi observado que o mesmo
para que fosse verificada a integração do bloco
apresentava-se edêntulo na região do dente 11 e
ósseo ao leito receptor, tendo sido obtida uma
havia reabsorção óssea horizontal na região a
adequada integração. Foi realizado um novo
ser reabilitada. No exame tomográfico, foi
procedimento cirúrgico para instalação do
confirmada a diminuição da espessura da
implante nesse momento. Novamente, o
cortical óssea, o que impossibilitaria a
procedimento cirúrgico ocorreu no bloco
instalação do implante em uma posição
cirúrgico da Faculdade São Leopoldo Mandic
protética favorável. Tendo em vista a
sob anestesia local. Após a realização de
recuperação funcional e estética do paciente,
anestesia infiltrativa, foi realizada uma nova
optou-se pelo tratamento reabilitador com
incisão no rebordo alveolar, descolamento
prótese sobre implante osseointegrável
muco-periosteal e remoção do parafuso de
associado a enxerto xenógeno em bloco
fixação da região, onde foi observada completa
(OrthoGen Baumer, SP, Brasil). Após a
osseointegração do bloco ósseo instalado. Na
anamnese, foram solicitados exames
sequência, foi feita a perfuração para instalação
complementares de hemograma, coagulograma
do implante hexágono externo cilíndrico de
e taxa de glicemia. Não foi observada qualquer
dimensões 3,75 mm de largura e 11 mm altura
alteração nos exames complementares que
(Neodent, Curitiba, Brasil). Após a instalação
469
do implante, foi realizada a análise da
frequência de ressonância por meio do Osstell®
ISQ (Integration Diagnostics Ltd. Company)
com intuito de aferir a estabilidade primária do
implante sobre a região enxertada. O smatpeg é
fixado ao implante e o mesmo é excitado
através de um impulso magnético da sonda de
medição, assim, a frequência de ressonância é
calculada a partir do sinal de resposta. Foram Figura 3 - Descorticalização da região a ser
enxertada.
feitas duas aferições: a primeira, no sentido
mésio-distal, tendo como valor do Coeficiente
de Estabilidade de 53 e outra, no sentido
vestíbulo-palatino, obtendo o valor de 59,
tendo sido obtido um valor compatível com uma
boa estabilidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
B
Figura 5 A) Desenho esquemático; B) Provisório
imediato sobre implante mostrando, ainda, o ganho de
B volume tecidual vestibular com o enxerto pediculado.
C
Figura 4 - A) e B) - Desenhos esquemáticos; C) - Retalho
de espessura total levantado somente até a crista óssea
vestibular, a partir daí, um retalho de espessura parcial no
Figura 6 - Notar a manutenção do volume tecidual.
sentido vestibular.
são imprescindíveis para resultados mais YOHINO, S. et al. Effects of Connective Tissue
Grafting on the Facial Gingival Level Following
previsíveis. Single Immediate Implant Placement and
Outros fatores, os clínico-dependentes, Provisionalization in the Esthetic Zone: A 1-Year
Randomized Controlled Prospective Study.
como o correto posicionamento tridimensional do Internatonal Journal of Oral Maxillofacial
implante, cuidados com a manipulação dos tecidos Implants, v. 29, p. 432-440, 2014.
peri-implantares e a correta confecção das ZUCCHELLI, G. et al. Esthetic Treatment of Peri-
restaurações provisórias e definitivas, também Implant Soft Tissue Defects; A Case Report of a
Modified Surgical_prosthetic Approach.
contribuem para a excelência do trabalho. International Journal of Periodontics Restorative
Para os autores desse capítulo, o Dentistry, v. 33, n. 327-335, 2013.
REFERÊNCIAS
implante, podendo estar relacionados com fatores de resto radicular do elemento 12 com extensa
locais, como histórico de higiene oral e doença destruição corono-radicular devido à doença cárie
periodontal, qualidade e quantidade óssea (figura 1). O mesmo foi encaminhado para
sistêmicos relacionadas aos acidentes e elemento 12. Optou-se, juntamente com o paciente,
complicacões dos implantes dentais são: gênero e de exodontia atraumática do elemento sem
metabólicas como Diabetes, Osteoporose, óssea (figura 2). Após noventa dias, o paciente
(LAMAS et al., 2008; SANTOS et al., 2012). instalação do implante. Foi observada,
por essas complicacões são conhecidos, mas alguns espaço mésio-distal (figura 3). Radiograficamente,
fatores como o exame clínico minuncioso, correto observou-se extensa perda óssea horizontal. Devido
antibióticos nos períodos pré e pós-operatório têm óssea com enxerto autógeno em bloco de ramo
intercorrências cirúrgicas (SOUZA, et al. 2012; Após 180 dias, o paciente retornou para
primária, trauma cirúrgico e infecção periodontal saída de secreção próxima ao ápice da raiz do
existente, podem desempenhar um papel importante elemento 11. Inspecionou-se mais criteriosamente a
em torno dos implantes e podem, posteriormente, granulação, o qual foi removido com curetagem
484
(figura 3). Após a remoção do tecido de granulação,
ficou evidenciada a extensa perda óssea no
elemento 11 e uma coloração enegrecida ao longo
de toda extensão radicular. Optou-se, então, pela
exodontia do elemento 11, reconstrução da região
utilizando a regeneração óssea guiada com (Bio-
®-
Oss Geistlich) + membrana de colágeno (Bio-
Gide® Geistlish), e instalação de implante CM
3,5x9 na região do 12 (figura 4).
Após 210 dias, foi realizada a instalação de Figura 1 - Destruição coronária do elemento 12.
Figura 5 - Intrusão acidental em direção superior para o seguinte ao acidente, não sendo observada imagem
interior da cavidade nasal do implante instalado na região radiopaca sugestiva de implante no trato respiratório.
do elemento 11.
Daiane Peruzzo
Gilmar Rocha da Silva
Júlio Cesar Joly
488
A
reabsorção óssea dos extra-oral, os riscos de complicações e o maior
rebordos alveolares após a tempo para finalização do tratamento, têm sido
perda dos dentes é um fato motivos para um número cada vez menor de
bastante conhecido e alvo de adeptos à esta conduta (SAMMARTINO et al.,
muitos estudos na literatura da Odontologia 2005; TOUZET et al., 2011).
contemporânea, uma vez que a atrofia do osso Nesse contexto, a separação das paredes do
alveolar pode ser um fator limitante na realização rebordo alveolar seguida de um alargamento ósseo
de tratamentos com implantes dentários. e simultânea instalação dos implantes dentários,
A lei de Wolff estabelece que o tecido tem se mostrado uma técnica bastante viável como
ósseo vai se remodelando em função das forças que alternativa ao enxerto em bloco e à regeneração
atuam sobre o mesmo. Dessa forma, há a óssea guiada (ROG). Conhecida como Split Crest,
necessidade de estímulos constantes para a esta técnica consiste em uma osteotomia
manutenção de sua forma e densidade e são os longitudinal na crista óssea, associada a outras duas
elementos dentários que exercem essa estimulação osteotomias verticais, seguidas de um afastamento
de compressão e tração sobre o processo ósseo progressivo e cuidadoso das paredes vestibular e
alveolar (SILVA; OLIVEIRA, 2000). palatina ou lingual, por meio de expansores
Alterações ao redor dos alvéolos cirúrgicos de modo que o osso adquira uma
decorrentes de extrações dentárias modificam espessura suficiente para instalação dos implantes e
significativamente a espessura e a altura do o restante do espaço, então, é preenchido com
rebordo, especialmente quando a perda do dente é enxerto ósseo particulado (SIMION; BALDONI;
resultante de trauma dentário, envolvimento ZAFFE, 1992; SCIPIONI; BRUSCHI; CALESINI,
periodontal, ou ainda, quando a parede vestibular 1994; ROSA et al., 2015).
do rebordo é perdida durante a extração Chiapasco et al. (2006), com o objetivo de
(FERRIGNO; LAURETI, 2005). avaliar o índice de sucesso da técnica de Split Crest,
Após o advento dos implantes submeteu 45 pacientes com edentulismo parcial e
osseointegrados, o processo de reabsorção do osso apresentando rebordo atrófico, à expansão óssea e
alveolar tem sido uma fonte de preocupação. um total de 110 implantes foram imediatamente
Diversas técnicas são encontradas na literatura instalados. Obtiveram uma taxa de sucesso de
como solução para esse problema. Certamente, uma 97,8% na osseointegração e, após a instalação das
das mais executadas pelos cirurgiões-dentistas e próteses, depois de aproximadamente 20 meses de
considerada como Padrão Ouro pelos acompanhamento, a taxa de sucesso final ficou em
pesquisadores, é o enxerto em bloco com osso 95,4%. Dessa forma, os autores concluíram que se
autógeno. Sua capacidade osteoindutora, trata de uma técnica confiável e relativamente
osteogênica e a inexistência de respostas simples, oferecendo uma menor morbidade e tempo
imunológicas, corroboram bastante para o sucesso mais reduzido de tratamento quando comparado
(MISCH; WANG, 2008; ACOCELLA et al., 2010). com o enxerto em bloco e ROG.
Entretanto, as dificuldades inerentes à técnica, Apesar da possibilidade de se usar vários
como o aumento da morbidade para o paciente, por instrumentos diferentes para a osteotomia no Split
conta da necessidade de uma área doadora intra ou Crest, o piezo cirúrgico tem se mostrado a forma
489
mais precisa, segura e menos traumática para os implantes osseointegráveis. Ao exame clínico,
desgastes ósseos, comparado aos sistemas rotatórios observou-se que além das ausências dentárias, a
ou cinzéis. Esta tecnologia consiste em uma lâmina mesma apresentava uma atresia no rebordo
de corte com movimentos vibratórios gerados por edêntulo, que se configurava num padrão
um processo ultrassônico com frequências classificado como “lâmina de faca”. Essa
superiores a 20 KHz, o que permite uma ação nomenclatura é utilizada habitualmente para
mecânica sobre órgãos mineralizados como o osso denominar um rebordo ósseo que apresenta uma
ou estruturas dentais, sem agredir tecidos moles, altura remanescente satisfatória, entretanto, mostra
tais como nervos, vasos sanguíneos ou mucosas considerável reabsorção no sentido transversal,
(VERCELLOTTI; DE PAOLI; NEVINS, 2001). portanto não tendo espessura suficiente para
Com relação ao processo de afastamento instalação de implantes dentários na técnica
das paredes ósseas, necessário para realização da convencional. Tal característica pôde ser constatada
técnica descrita acima, a utilização dos expansores nos cortes axiais de uma tomografia
rosqueáveis têm se mostrado a escolha mais computadorizada Cone Beam e clinicamente
adequada. Apesar dos osteótomos de Summers (figuras 1, 2 e 3).
serem instrumentos já consagrados na literatura Após a conclusão da fase de avaliações
para esta finalidade, o fato de precisarem de clínicas prévias, complementada pela solicitação de
pequenas marteladas para que os cilindros penetrem alguns exames laboratoriais (hemograma completo,
no osso, podem acarretar em uma experiência glicemia em jejum, coagulograma), indispensáveis
bastante traumática para o paciente (SILVA; para averiguação das condições de homeostase da
OLIVEIRA, 2000; PASSADORE et al., 2003; EL- paciente, a mesma foi classificada como ASA I.
DIBANY; EL-DIDI, 2009). Já os sistemas Dessa forma, deu-se prosseguimento ao tratamento
rosqueáveis realizam o mesmo trabalho de forma mediante o planejamento para execução da técnica
mais segura, controlada e menos traumática, uma de Split Crest, pois se tratava de uma situação
vez que se trata de uma sequência de fresas que são bastante favorável para tal, optando-se por iniciar
rosqueadas até a profundidade e espessura desejada, pelo lado esquerdo para instalar 02 implantes e,
podendo ser utilizadas com uma catraca ou contra- num segundo momento, o lado direito, que iria
ângulo de implante em uma rotação de receber apenas 01 unidade.
aproximadamente 20 RPM (FERRER; DIAGO; O momento do ato operatório foi
CARBÓ, 2006). precedido por uma aferição da pressão arterial que
se apresentava de 110X70 mmHg, ressaltando que
REFERÊNCIAS
de boa previsibilidade, sendo, portanto, uma opção SCIPIONI, A.; BRUSCHI, G. B.; CALESINI, G.
The edentulous ridge expansion technique: a five-
493
year study. Internatinal Journal of Periodontics
Restorative Dentistry, v. 5, n. 14, p. 451-459, 1994.
SILVA, A. R.; OLIVEIRA, D. G. Técnica da
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Summers. Revista Gaúcha de Odontologia, v. 48, n.
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VERCELLOTTI, T, DE PAOLI, S, NEVINS, M.
The piezoelectric bony window osteotomy and
sinus membrane elevation: introduction of a new
technique for simplification of the sinus
augmentation procedure. International Journal
Periodontics Restorative Dentistry, v. 21, n. 561-
567, 2001.
Capítulo 79
Reabilitação de mandíbula por
meio de exodontias e implantes
com função imediata
Carlos Eduardo Franscischone
Carlos Eduardo Franscischone Junior
Guilherme Granato
495
Figura 5 – Prótese Fixa, vista oclusal. Figura 8 - Confecção de uma Prótese Total Removível
superior para distribuição da carga mastigatória como
antagonista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
U
ma cirurgia para instalação de implante Além deste sistema da Mangran
dentário pode resultar em complicações Internacional, o 360º Rizax também pode ser
devido a questões biológicas ou utilizado sobre outros sistemas de implantes
anatômicas, ou por uso de técnicas inadequadas. brasileiros, como a Neodent, em termos de torque,
Para solucionar o mau posicionamento de destorque e adaptação. O sistema 360º Rizax
implantes, pode ser necessária a remoção do mesmo apresenta as mesmas características que o sistema
e instalação de novo implante em outro sítio Mangran Internacional 20º. O 360º Rizax tem uma
cirúrgico. Em alguns casos, as opções protéticas chave bola e uma broca do parafuso que é
alternativas podem ser uma solução. compatível apenas com essa chave. Ele também é
Quando existe a necessidade de corrigir formado por uma base de CoC e cilindro calcinável,
angulações inadequadas resultantes da instalação parafuso protético e parafuso clínico, assim como
incorreta de implantes, diferentes recursos podem seu precursor.
ser utilizados. O mais comum é o uso de mini- Mais recentemente, o sistema CAD/CAM
pilares intermediários com ângulos pré-definidos de (computer-aided design, computer-aided
0°, 15°, 17° e 30°, que variam de acordo com os manufacturing) tem sido utilizado nestas soluções
fabricantes. Estas variações de angulação pré- protéticas, permitindo a extensão dinâmica da
estabelecidas podem não atender às necessidades chave e do parafuso para a angulação de 30º. O
clínicas individuais. Com o objetivo de desenvolver novo sistema CAD/CAM 30º é vantajoso por
uma solução para este problema, um técnico em apresentar capacidade de angulação mais ampla do
prótese dentária, Esteban Xam, criou, em 2004, o que os sistemas anteriores e, portanto, ter a
pilar dinâmico que revolucionou as estruturas capacidade de proporcionar resultados ainda
protéticas. Trata-se de um pilar calcinável, com melhores.
base que também pode ser calcinável ou O objetivo do presente estudo é relatar o
confecionada em liga metálica à base de Cobalto uso de pilares dinâmicos para solução protética de
Cromo (CoCr), concebido como uma semi-esfera implante mal posicionado.
em que um cilindro de neutralização adaptado
move-se dinamicamente dentro das limitações da DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
base. Este pilar permite movimentação entre 0° e
30° a partir do eixo horizontal em relação à base, e Paciente do sexo masculino, 50 anos,
de 360° em torno do seu próprio eixo e procurou atendimento em clínica particular para
multidirecionalmente. reabilitação protética de implantes Neodent
O desenho da base do pilar se assemelha a realizados nas regiões de 14 e 15. Os implantes
uma esfera que, associada ao parafuso, permite que foram instalados por outro profissional, com
seja atingida a angulação desejada dentro do limite posicionamento tridimensional acompanhando as
do desenho. Todo o conjunto foi construído por inclinações axiais dos dentes adjacentes (figura 1),
meio da dinâmica da mecânica de biomateriais e dificultando a reabilitação protética.
visa solucionar casos em que a angulação dos O exame radiográfico periapical destacou
implantes não pode ser solucionada com as falta de paralelismo e pouco espaço entre os
angulações pré-estabelecidas pelos fabricantes. implantes, especialmente na porção cervical, o que
500
resultaria em uma área de difícil higienização com
potencial de insucesso em médio/longo prazo.
Figura 10 – Caso finalizado, vista vestibular. a reabilitação preencheu com sucesso os requisitos
de função e estética. O uso dos pilares dinâmicos
permitiu uma solução correta com a utilização com
A reabilitação foi acompanhada por dois
próteses parafusadas. Além disso, o paciente
anos e resultou em sucesso clínico e satisfação do
apresentou plena satisfação com a solução protética
paciente.
que evitou a necessidade de remoção dos implantes
e instalação de novos parafusos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Durante o planejamento deste caso clínico,
diversos pontos foram observados, além da
correção da angulação dos implantes. O sucesso de CARVALHO, N. B. et al. Planejamento em
um tratamento reabilitador está associado ao implantodontia: uma visão contemporânea. Revista
de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial,
cuidado de vários fatores. O fenótipo gengival do v. 6, n. 4, p. 17- 22, 2006.
paciente deve ter espessura suficiente para que as CASTILHO, A. A. et al. Estudo comparativo entre
próteses confeccionadas sejam suficientemente dois métodos de aplicação de torque aos pilares
protéticos em implantes de conexão externa.
estéticas. O paciente deve ser capaz de manter o Revista Gaúcha de Odontologia, v. 14, n. 2, p. 143-
adequado controle de biofilme, principalmente ao 148, 2009.
considerar casos em que a proximidade e angulação NIGRO, F.; et al. Removal torque of zircônia
abutment screws under dry and wet conditions.
dos implantes podem dificultar a higienização. No
Dental Journal, v. 21, p. 225-228, 2010.
caso de próteses parafusadas, a distância
PEREIRA, F. A. et al. Análise da interface
interoclusal do paciente deve permitir essa opção pilar/implante em implantes cone-morse após
protética. Desgastes ou movimentações dentárias ciclagem mecânica. Implant News, v. 9, n. 1, p. 59-
66, 2012.
podem ser necessários para solucionar casos
ROCHA, E. A. et al. Análise de destorque HE x Hi
complexos. e formação de Gap entre coroas metálicas e
Assim, observa-se a fundamental metalocerâmicas após ciclagem mecânica. Implant
News, v. 4, n. 17, p. 18-23, 2011.
importância de um correto e detalhado
planejamento do plano de tratamento. Neste caso SELLA, G. C. et al. Prótese parafusada por lingual:
uma alternativa protética para implantes
clínico, foi verificado que o periodonto possuía vestibularizados: relato de caso clínico. Revista
quantidade suficiente de tecido mole para uma Dental Press Periodontia e Implantologia, v. 3, n.
4, p. 82-90, 2009.
estética perfeita, proporcionando um perfil de
URZEDO, T. M. et al. Força máxima no limite de
emergência adequado. A oclusão não é um fator escoamento do sistema implante/pilar em função da
503
geometria do parafuso de pilar. Horizonte
Científico, v. 4, n. 2, 2010.
WLEHMANN, R. B; ELIAS, C. N. Tensões em
implantes cônicos com hexágono externo e com
hexágono interno. Revista Dental Press
Periodontia e Implantologia, v. 2, n. 2. p. 91-99,
2008.
Capítulo 81
Explantação de implante do
incisivo lateral superior por
limitações estéticas
Igor Moreira
Regis Sartori
Sandro Fernandes Guimarães
Júlio Cesar Joly
Daiane Cristina Peruzzo
505
biológicas
As complicações também podem ser
classificadas como biológicas ou estéticas. As
são mais desafiadoras. Estão
infecção nos tecidos moles peri-implantares. relacionadas à contaminação bacteriana e ao difícil
(ALBREKTSSON et al., 1986). Desde então, os processo de descontaminação. Estas podem deixar
novos parâmetros foram introduzidos para avaliar o graves sequelas teciduais. As complicações
sucesso na realização de restaurações de implantes estéticas são as mais questionadas pelos pacientes e
realistas. Estes incluem o estado de saúde e a são decorrentes da falta de um planejamento
aparência natural dos tecidos moles peri- reverso, incapacitando uma visualização previa da
implantares, bem como parâmetros de reabilitação fase protética. Normalmente os erros estão
protética, estética e satisfação do paciente associados aos três pilares da implantodontia
(FÜRHAUSER et al., 2005). estética: posição tridimensional dos implantes,
Embora a previsibilidade dos implantes deficiência tecidual (óssea e/ou tecido mole) não
tenha melhorado, uma das consequências da corrigida e ao manejo protético incorreto. Dentre os
popularização do uso de implantes é o aumento do três pilares, o mais importante é sem dúvida, o
número e da gravidade das complicações, posicionamento tridimensional do implante. Além
principalmente pela não observação dos seguintes de exercer uma forte influência nos demais, é um
critérios: a estabilidade primária, o correto fator decisivo para definir a opção do tratamento
posicionamento tridimensional, a quantidade óssea (JOLY et al., 2015).
disponível na região, e ainda, não menos Quando um implante está mal posicionado,
importante, o biótipo tecidual e a técnica cirúrgica pode ser muito difícil ou mesmo impossível de
utilizada somados à inexperiência do cirurgião alcançar estética satisfatória e resultados protéticos
dentista. funcionais. Nestes casos, na maioria das vezes, é
As complicações podem ser classificadas necessária a remoção do mesmo (CHEN; BUSER,
como iatrogênicas ou anatômicas. As iatrogênicas 2009). Se estiver vestibularizado, por exemplo, o
incluem: a seleção inadequada de implantes, o mal risco de recessão gengival triplica (EVANS;
posicionamento tridimensional, abordagens CHEN, 2008).
cirúrgicas que ultrapassem a capacidade de Dentre as alternativas para tratamento das
cicatrização da taba óssea vestibular, uso indevido complicações temos: Prótese dentogengivais,
ou nãouso de restaurações provisórias para moldar reconstrução tecidual, sepultamento definitivo ou
os tecidos moles peri-implantares, uso inadequado temporário, reposicionamento cirúrgico e, por fim,
de componentes protéticos ou materiais para a a explantação dos implantes (JOLY et al., 2015).
fabricação de restaurações. As causas anatômicas A instalação de implantes em uma posição
incluem: deficiências ósseas horizontais ou tridimensionalmente ideal pode minimizar a
verticais no local do implante, deficiências ósseas necessidade de cirurgias mucogengivais, porém,
verticais nas superfícies radiculares adjacentes, não eliminá-las por completo, uma vez que as
locais de implantes com vários dentes em falta que características anatômicas na região peri-implantar
506
estejam comprometidas. Antes da instalação de retração gengival adjacente ao elemento em
implantes, alguns fatores devem ser analisados a questão, o que em partes justificaria a queixa
fim de otimizar os resultados estéticos: linha do principal da paciente (figuras 1 e 2).
sorriso, fenótipo periodontal adjacente, topografia
óssea do rebordo edêntulo, além da antecipação da
forma, posição e tipo de restauração protética e
procedimentos cirúrgicos necessários (MELLO
DIAS et al., 2016).
Um fator de risco que pode causar a perda
óssea e consequentemente recessão gengival é o
biótipo gengival fino, e não pode ser negligenciado
pelo implantodontista (LINKEVICIUS et al., 2009).
Figura 1 – Sorriso com discrepância estética.
As razões para a extração dental (falha
endodôntica, doença periodontal avançada, trauma,
fratura radicular) são frequentemente associados
com severa reabsorção do osso alveolar e perda de
tecido mole. Assim, o objetivo do tratamento com
implantes deve englobar também a reconstrução
dessas estruturas perdidas (PIERI et al., 2013).
A terapia para tecido mucoso previamente
ou concomitantemente à instalação de implantes
emprega várias técnicas para aumentar a quantidade
do tecido gengival. Enxerto gengival livre, enxerto Figura 2 – Vista aproximada do elemento 12.
de tecido conjuntivo ou uma combinação de ambos
também podem e devem ser utilizados nesta fase
Após exame radiográfico, verificou que se
para melhorar os resultados estético final (MELLO
tratava de um implante HE 3,75 x 11,5 mm.
DIAS et al., 2016)
Constatou-se também, pequena saucerização peri-
implantar, a nível cervical. O mesmo apresenta-se
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO com aspecto osseointegrado e com ampla
quantidade óssea na região apical. Após a
Paciente do sexo feminino, 28 anos de abordagem inicial e ampla discussão com a
idade, em perfeitas condições sistêmicas de saúde, paciente, foi realizada a remoção da prótese para
procurou o curso de especialização em confirmação do tipo de conexão e, principalmente,
Implantodontia da Faculdade Especializada na área das condições clínicas necessárias para solução do
da saúde do Rio Grande do Sul (FASURGS), com caso. Dessa forma, ficou claro o mal posicionado
queixa principal relacionada à estética do elemento tridimensional do implante e o biótipo gengival fino
12. Ao exame clínico, a paciente apresentava uma da região (figura 3).
prótese implantossuportada dentogengival instalada
há 2 anos, com sobrecontorno na região vestibular.
Também foi possível observar perda de volume e
507
S
colocação de implantes com função radiográfico, verificou-se que este elemento
imediata após extração dentária é uma apresentava uma lesão cariosa, comprometendo sua
técnica atual que reduz o tempo de estrutura coronária, e reabsorção da crista óssea
tratamento, previne a reabsorção da crista alveolar (figura 2).
óssea alveolar e evita uma nova abordagem
cirúrgica para exposição dos implantes. Entretanto
ainda é controverso este procedimento em função
da ósseointegração ainda não ter ocorrido.
A função imediata do implante após
exodontia apresenta-se mais favorável em dentes
unitários, uma vez que existem os demais dentes
estabilizados no arco que irão contribuir para uma
melhor distribuição das forças mastigatórias. Além
disso, desde a introdução dos implantes cônicos, a
estabilidade tornou-se bem menos crítica, uma vez
que este tipo de implante promove uma melhor
Figura 2 - Aspecto radiográfico do elemento 12.
estabilidade primária.
Paciente do gênero feminino, 25 anos, bom reabilitado com prótese fixa unitária convencional,
uma vez que, um aumento de coroa clínica deixaria
estado geral de saúde, compareceu à nossa clínica,
queixando-se da estética do elemento 12 com o nível da gengiva marginal muito elevado em
prévio tratamento endodôntico (figura 1). relação aos dentes adjacentes, e um tracionamento
radicular para exposição da margem cervical
dentária, deixaria a raiz com comprimento
insuficiente para a instalação de um pino intrar-
radicular, optando-se, então, pela exodontia do
dente.
Após anestesia infiltrativa (Cloridrato de
Lidocaína a 2% com Adrenalia 1:100.000 - DFL®),
realizou-se a incisão crestal com preservação das
papilas interproximais com lâmina de bisturi n° 15
(Solidor ® ) e procedeu-se a elevação do retalho
Figura 1- Elemento 12 anterior a extração. mucoperiostal com extração atraumática do
12, com a utilização de periótomo anterior (Hu-
Friedy®) (figura 3).
512
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É
normal nos deparamos com mais é do que a tentativa do organismo em
pacientes que necessitam de recuperar as distâncias biológicas que foram
exodontia. Para podermos adotar invadidas. O raciocínio é o mesmo de quando
a decisão apropriada, devemos saber a expectativa realizamos um preparo extremamente subgengival
estética do paciente e exames complementares em dentes naturais (BIANCHINI, 2015).
devem ser utilizados para que possam nos dar todas
Com o aumento da aplicabilidade dos
as informações das estruturas anatômicas
implantes orais para restaurações unitárias, as
envolvidas no caso (JOLY; CARVALHO; SILVA,
conexões passaram a desenvolver outro papel, o de
2015).
impedir a rotação da prótese. Isso estimulou os
O sucesso da terapia com implantes exige fabricantes a desenvolverem maiores valores de
um equilíbrio dinâmico entre os fatores biológicos e torque sobre o parafuso, alterações no tipo de
mecânicos. A falência destes procedimentos material do parafuso, maior precisão no encaixe do
reabilitadores tem sido associada à instabilidade da hexágono e criação de novos desenhos de interface
junta parafusada e ao desajuste entre pilar e pilar/implante. Junções internas seriam conexões
Implantes Branemark com desenho hexagonal mais estáveis que os do hexágono externo
externo (HE); esses apresentam uma perda óssea (ARVIDSON et al., 1998).
aceitável ao redor da conexão de aproximadamente
Casos de perdas de implantes por
1,0 mm no primeiro ano em função, e menos de
sobrecargas na prótese devido a resultantes de
0,2mm após este. A conexão entre HE está
forcas não axiais foram publicados em por Piatelli
diretamente relacionada com a ocorrência de
(1988), e companheiros. Observaram, também, a
infiltrado bacteriológico e presença de células
necessidade do uso de implantes com dimensões
inflamatórias que podem resultar em perda óssea ao
maiores dependendo do local a ser restaurado
redor da micro fenda existente nesta região
(FERNANDES NETO et al., 2002). A adaptação
(NEVES et al., 2010).
passiva das próteses fixas sobre dentes ou sobre
A maioria esmagadora dos implantes implantes é um pré-requisito fundamental para o
colocados no Brasil e, provavelmente no mundo, é sucesso longitudinal nos trabalhos de reabilitação
do tipo hexágono externo. Essas conexões são oral. Quando conseguimos um assentamento
consagradas e possuem uma taxa de sucesso estável, as forças oclusais verticais que ocorrem
bastante elevada, o que confere segurança e sobre a parte protética do implante produziram uma
credibilidade ao seu uso. Entretanto, essa parte carga vertical e não exercerão força sobre o
hexagonal da cabeça do implante, a qual chamaram parafuso nem causarão seu afrouxamento
de hexágono externo, foi desenvolvida para ficar (DINATO, 001).
posicionada acima da crista óssea. Como existem
Estudos sucessivos mostraram que estes
muitas situações nas quais esse posicionamento
implantes apresentaram limitações em sua conexão,
supracrestal pode comprometer a estética, muitos
a taxa de afrouxamento de parafusos ou fratura do
clínicos acabam posicionando esse hexágono para
parafuso é elevada, variando-se até 50%. Além
dentro do tecido ósseo. Essa posição do implante
disso, comprovou-se um grau de desajuste entre
pode gerar uma perda óssea compensatória do
plataformas de assentamento do pilar com o
organismo, conhecida como sauserização, que nada
516
implante. Neste contexto, a década de 80 marcou
uma série de consensos que determinaram a medida
mínima e máxima de perda óssea aceitável ao redor
dos implantes osseointegráveis de hexágono
externo. Estabeleceu-se uma perda óssea mínima
de 1 a 2 mm no primeiro ano em função e, 0.2 mm Figura 1 - Aspecto clínico inicial do paciente ao chegar
nos anos seguintes. Além disso, uma taxa de na clínica.
sucesso mínima de 85% (5 anos) seria o aceitável.
A literatura indica que diferentes fatores Paciente possuía boa relação maxilo
biomecânicos podem influenciar na distribuição de mandibular, bom fenótipo gengival, sistemicamente
tensões na região peri-implantar e que, saudável, não fumante, apresentava boa
biomecanicamente, a eficiência de um sistema de higienização.
implante é dependente da forma que as tensões são
transmitidas para o tecido ósseo. Neste aspecto, não
existe um consenso sobre a melhor opção de
conexão de implantes, uma vez que os implantes de
hexágono externo apresentam uma adequada
reversibilidade para as próteses
implantossuportadas e estudos longitudinais de
vários anos indicam elevadas taxas de
sobrevivência; todavia índices de perda óssea Figura 2 - Aspecto radiográfico inicial.
superior a 1,5 mm ao longo de anos, quando
comparados a implantes do tipo cone-
Foram analisadas as radiografias,
Morse,implantes conceito plataforma switching
fotografias e os modelos de estudo para o
foram relatados.
planejamento do caso.
Medicações pré-operatórias
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO antimicrobiana, analgésica e anti-inflamatória
foram prescritas. A antibioticoterapia (Amoxicilina
500 mg, 4 cápsulas 1 hora antes da cirurgia ) e anti-
Paciente J.A,S, idade 43 anos, no ano de
inflamatório (Nimesulida 100 mg, 1 comprimido 1
2007 compareceu à clínica odontológica particular
hora antes do procedimento cirúrgico), decadron
com necessidades de reabilitações com implante.
4mg, (1 comprimido uma hora antes), prescrição
Sua queixa principal era parar de usar próteses
esta que foi mantida no pós-cirúrgico da seguinte
removíveis e voltar a dentes individuais.
forma (amoxicilina 500g por 07 dias,de 8\8 horas,
Após minuciosa anamnese, avaliação Nimesulida 100mg por 3 dias, de 12\12 horas,
clínica e exames laboratoriais pré-operatórios, o decadron 4mg por 1 dia, de 12\12 horas ).
paciente foi classificada como ASA I. Previamente à cirurgia, foram analisados
Ao exame clínico e radiográfico, pode-se os exames de sangue do paciente (glicose em jejum,
constatar ausência de vários elementos dentários coagulograma, hemograma que estavam dentro da
superiores e inferiores (figura 1 e 2). normalidade), foram mensurados os níveis
517
pressóricos do paciente, estando em 120 x 80
mm/Hg e, no transoperatório, mantido o mesmo
nível.
O paciente realizou bochecho com solução
de digluconato de clorexidina a 0,12%, durante 1
minuto. Foi feita assepsia facial com iodo
polvidine.
Foi feita a anestesia utilizando o anestésico Figura 4 - Imagem intrabucal antes da reabertura dos
articaina a 2%. implantes maxilares.
O trabalho foi planejado e executado por
etapas.
1 etapa - exodontia em todos os elementos
da maxila e mandíbula (excerto 38/48); implantes
foram instalados de pré a pré, superior e todos os
inferiores; adaptação de uma prótese total com soft
superior e PPR inferior.
2 etapa - levantamento de seio maxilar
bilateral com hidroxiapatita (osteogen) e membrana
Figura 5 - Imagem clínica da cirurgia de reabertura com
genderme.
deslizamento de tecido queratinizado para a área
vestibular dos implantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
unitárias ou múltiplas levam guiada foi elaborada com base no princípio da
à reabsorção óssea alveolar, regeneração tecidual guiada, onde certos tecidos
vertical e horizontalmente, se regeneram quando células com esta
alcançando cerca de 23% capacidade povoam o defeito durante o reparo,
nos seis primeiros meses, sendo assim, a exclusão mecânica do tecido
resultando, também, na mole permite que células osteogênicas
diminuição do volume de tecido mole estimulem a formação de tecido ósseo
circunjacente (Wang et al 2004). Por esta razão, (BOYNE, 1966).
a manutenção dos rebordos alveolares tem sido O coágulo sanguíneo é um rico
objeto de estudo, dada sua importância à suprimento de plaquetas e fatores de
preservação óssea e à reabilitação por meio de crescimento que propicia a regeneração óssea
implantes osseointegrados (BUSER; DAHLIN; alveolar; além disso, a rede de fibrina que se
SCHENK, 1996; SANDOR et al., 2003; forma proporciona resistência ao coágulo e é
Irinakis, 2006; IRINAKIS; TABESH, 2007). fundamental para o processo de reparação óssea
A taxa de reabsorção do rebordo (AMLER, 1969; TROMBELLI et al., 2008).
alveolar residual mostra-se maior na mandíbula, Por meio da técnica da Regeneração Óssea
0.4mm/ano, quando comparada à maxila, Guiada (RGO), é possível manter as dimensões
0.1mm/ano (WANG et al., 2004). No entanto, ósseas, ou reduzir a gravidade dos defeitos após
deve-se ressaltar que as variações individuais exodontias, graças ao uso de membranas, que
são muito importantes (ZARB et al., 2006). atuam como verdadeiras barreiras (BUSER;
Para prevenir tal condição clínica, DAHLIN; SCHENK, 1996).
muitos autores têm descrito procedimentos A possibilidade de influenciar
cirúrgicos que variam desde as técnicas seletivamente a formação óssea, controlando a
regenerativas para preservação do rebordo qualidade e a quantidade, tornou-se uma
alveolar até a colocação imediata do implante realidade a partir do desenvolvimento
após a exodontia (LEKOVIC et al., 1997). As tecnológico dos biomateriais e importante
técnicas de regeneração óssea guiadas (ROG) evolução dos métodos e conhecimentos da
têm sido amplamente estudadas e incluem o uso biologia celular e molecular presentes nesses
de diversas abordagens cirúrgicas e materiais: eventos (CARBONARI et al., 2010).
enxerto ósseo (autógeno, homógeno, xenógeno Recentemente, a barreira de
e alógeno), membranas reabsorvíveis e não- polipropileno exposta ao meio bucal
absorvíveis (associadas ou não aos enxertos demonstrou viabilidade (SALOMÃO;
ósseos, (BARTEE, 2001; ORGEAS et al., SIQUIERA, 2009, 2010). Sua utilização tem
2013), e proteínas morfogenéticas ósseas como objetivo manter o coágulo no interior do
(ANDRADE-ACEVEDO; TRENTIN; alvéolo durante a primeira semana da
MARCANTONIO JUNIOR, 2004). cicatrização, quando ele será substituído por
tecido de granulação, reduzindo a infiltração do
522
tecido epitelial. Estudos com barreiras expostas inserção da membrana, sobre as corticais ósseas
ao meio bucal ainda são escassos (BARBER et preservadas e sob a gengiva inserida que foi
al., 2006; FERREIRA et al., 2010), mas são descolada para sua melhor adaptação.
promissores pelos benefícios da técnica Sequencialmente, realizou-se a sutura para
(SALOMÃO; SIQUEIRA, 2010), uma vez que, permanência da membrana de polietileno em
além de não sofrerem colonização bacteriana posição.
(não porosa e impermeável), não exigem Dez dias após a exodontia, a membrana
segundo acesso cirúrgico para sua remoção e de polietileno e os pontos foram removidos,
pode ser mantida por até 14 dias. expondo o tecido neoformado. Um novo
procedimento cirúrgico foi realizado após três
meses para instalação do implante. Novamente
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO o procedimento cirúrgico ocorreu no bloco
cirúrgico da Faculdade São Leopoldo Mandic
Paciente do sexo feminino, 25 anos, foi sob anestesia local, seguindo os mesmos passos
encaminhada à clínica de implantodontia da já descritos no procedimento cirúrgico anterior.
Faculdade São Leopoldo Mandic com indicação Após a abertura do retalho, foi possível observar
de exodontia do elemento 25, que apresentava ganho em volume ósseo (alveolar) e a
fratura coronária subgengival sem a preservação das corticais. Optou-se por
possibildade de tratamento endodôntico e implante de dimensões 3,75 mm de largura e
protético. Ao exame radiográfico pré- 11 mm altura (Neodent, Curitiba, Brasil), com
operatório, confirmou-se o diagnóstico clínico. estabilidade primária e torque final de 40N.
Visando a preservação do rebordo ósseo Utilizou-se, também, o Ostell (Ostell AB -
alveolar, foi proposta à paciente exodontia Göteborg, Suécia), aparelho que afere por meio
atraumática e uso de membrana de de frequência de ressonância, a estabilidade
polipropileno (Bone Heal®) . Após a anamnese, primária do implante, gerando valor em
foram solicitados exames complementares de quociente de estabilidade do implante (ISQ),
hemograma, coagulograma e taxa de glicemia. tendo encontrado ISQ de 56, compatível com
Não foi observada qualquer alteração nos estabilidade primária.
exames complementares que contraindicasse o
procedimento.
O procedimento cirúrgico foi realizado
no bloco cirúrgico da Faculdade São Leopoldo
Mandic com a paciente sob anestesia local.
Após aplicação de anestésico local com
vasoconstritor, foi realizada incisão sobre o
rebordo alveolar seguida de descolamento Figura 1 - Vista do alvéolo após a exodontia do 25
muco-periosteal do tecido, tanto por vestibular com a preservação da tábua óssea vestibular.
quanto por palatino. O dente 25 foi então
extraído com auxílio de periótomo e, após
curetagem e irrigação do alvéolo, fez-se a
523
Figura 5 - Imagem tomográfica após 3 meses do
procedimento cirúrgico.
A
necessidade de correção de pequenos Os enxertos autógenos apresentam como
ou de grandes defeitos ósseos para a possíveis áreas doadoras as regiões intra ou extra
instalação de implantes e posterior bucais, mas a sua escolha irá depender
reabilitação protética tornou-se um procedimento principalmente do volume e do tipo do defeito
de rotina na prática da Implantodontia ósseo da área a ser reabilitada. Para pequenas e
(KUABARA; WONHRATH; CARVALHO, 2014). médias perdas ósseas, as áreas doadoras intra-
As perdas dentárias provocadas por bucais são o mento, o tuber e a região retro-molar.
processos cariosos, patológicos, traumáticos ou Para os grandes defeitos ósseos, pode-se utilizar
mesmo infecciosos podem levar a uma maior ou como área doadora a tíbia, a calota craniana, a
menor remodelação do tecido ósseo dependendo do costela ou a crista ilíaca (KUABARA;
local acometido. Na região anterior da maxila, o WONHRATH; CARVALHO, 2014). No entanto, a
osso alveolar é rapidamente reanatomizado com calota craniana, por apresentar uma arquitetura
perda de 25% do seu volume durante o primeiro peculiar, baixa incidência de complicações
ano e de 40% a 60% de redução na largura nos cirúrgicas, ausência de dor pós-operatória além de
primeiros 3 anos após a perda do dente pouco defeito cosmético na região da cicatriz, tem
(CARLSON; THILANDER; HEDEGARD, 1967); se mostrado como uma alternativa para a
já na região posterior, a perda óssea pode chegar a reconstrução de grandes áreas dos rebordos
50%, porém, seu volume inicial é o dobro da região maxilares atróficos (CARVALHO et al., 2006;
anterior. Para os rebordos atróficos, os substitutos QUILES et al., 2015).
ósseos se fazem necessários, não somente para Será relatado um caso clínico no qual se
permitir um posicionamento adequado dos utilizou a técnica de obtenção do enxerto autógeno
implantes mas também para garantir uma maior proveniente da calota craniana para a reabilitação
distribuição das cargas mastigatórias, uma de uma maxila atrófica.
estabilidade inicial compatível como o processo de
osseointegração, além de permitir uma estética DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
cada vez mais almejada pelos pacientes (Mich,
2011). Paciente do gênero feminino, 65 anos de
As propriedades biológicas como a idade, com ausência de todos os dentes superiores e
osteoindução, a osteocondução e a osteogênese são com queixa de dificuldade mastigatória devido a
encontradas nos materiais utilizados para a pouca estabilidade da prótese superior, compareceu
reposição do osso perdido (CARVALHO e ao Núcleo de Educação Continuada em
PELLIZZER, 2016), entretanto, apenas os Odontologia da cidade de Araçatuba do Estado de
substitutos ósseos de origem autógena apresentam São Paulo (NEC). Após análise do caso, foi
simultaneamente todas essas propriedades sendo, indicada a reconstrução óssea da maxila com
por isso, ainda considerado o material padrão ouro enxerto de origem autógena para futura instalação
para a substituição do tecido ósseo perdido de múltiplos implantes e posterior confecção de
(NYSTROM et al., 2004; DIMITRIUO et al., 2011; uma prótese protocolo de Branemark.
CARVALHO, 2011). Após análise clínica e radiográfica, foi
observado que a paciente apresentava grandes
528
perdas de volume ósseo tanto no sentido horizontal promovendo hemostasia e isolamento do campo
como vertical. Desta forma, o planejamento foi cirúrgico.
realizado levando em consideração: fotos intra e Para permitir uma correta delimitação da
extra bucais (figura 2, 3, 4), radiografia panorâmica camada diplóica e colaborar com a preservação da
(figura 1), tomografia da maxila e exames cortical interna do crânio, foi utilizado o trépano
complementares médicos (hemograma, cirúrgico (figura 7 e 8) antes da osteotomia,
coagulograma e glicemia) para avaliação do estado fazendo duas perfurações nas regiões anterior e
sistêmico da paciente. posterior do osso parietal. Em seguida, foi realizada
Para a reconstrução óssea, foi utilizado a osteotomia com os desenhos de blocos com
enxerto autógeno oriundo da calota craniana devido brocas 702 montada em caneta reta de baixa
a necessidade de grande volume ósseo. rotação. Brocas com formato de disco em conjunto
A cirurgia foi realizada em ambiente com cinzeis reto e curvo também foram utilizados
hospitalar com anestesia geral e intubação (figura 9) para facilitar a remoção dos blocos
nasotraqueal, sendo a equipe composta por ósseos.
neurocirurgião, anestesista e cirurgião-dentista com O procedimento foi finalizado com o uso
especialidade em Cirurgia e Traumatologia de cinzel goivo nos bordos da osteotomia para
Bucomaxilofaciais. minimizar a sensação de degrau, que poderá ser
O preparo da paciente iniciou com a sentida pela paciente, e com a hemostasia do leito
lavagem do couro cabeludo com solução cirúrgico com cera. Em seguida, realizou-se a
degermante de Clorexidina durante 5 minutos. Em sutura intra-dérmica com fio de Nylon 3-0 e
seguida, com a paciente com a posição neutra da complementada por suturas interrompidas simples
cabeça, o cabelo foi repartido na região parietal com fio 2-0 para o completo fechamento da ferida.
direita, considerando a apófise orbitária (figura 5) e Para o acesso intrabucal, o tubo naso-
em uma linha imaginária paralela à sutura sagital. traqueal foi girado para cima. Em seguida, iniciou-
Para o correto posicionamento da cabeça da se o procedimento da instalação e fixação dos
paciente, foi utilizada uma rodilha confeccionada enxertos (figura 10) e os blocos ósseos que estavam
com ataduras. Em seguida, aplicou-se solução irregulares foram triturados para serem utilizados
aquosa de Clorexidina para a antissepsia e iniciou- no preenchimento bilateral dos seios maxilares e
se o preparo do campo cirúrgico com compressas, dos gaps existentes na área enxertada.
deixando exposta apenas a região a ser operada. Antes da fixação dos blocos, foram
Utilizou-se como anestésico local a lidocaína a 2% instalados 2 implantes temporários (figura 10) para
com vasoconstritor com o objetivo de diminuir o que a paciente pudesse utilizar uma prótese
sangramento transcirúrgico. Em seguida, realizou- “abotoada” durante o período de reparação óssea.
se a incisão com uma distância de 2 cm atrás da Decorrido o intervalo de 6 meses, ao fazer
linha de implantação capilar, seguindo a divisão do a incisão sobre a crista do rebordo alveolar,
cabelo preparada anteriormente. Com o auxilio de observou-se o enxerto incorporado ao leito
uma rugina, afastou-se os bordos da ferida expondo receptor (figura 11) e foram instalados sete
assim, a superfície do osso parietal. Em seguida, implantes na maxila (figura 12). Após o período de
foram instalados clipes de Raney (figura 6) fixando quatro meses, realizou-se um exame radiográfico de
o campo cirúrgico sobre os bordos da ferida controle (figura 13), tendo início a fase de
529
exposição dos implantes quando foi constatada
clinicamente, a imobilidade e assintomatologia dos
mesmos, dois fatores que indicam que os implantes
estão osseointegrados. Na continuidade, foram
realizados os procedimentos protéticos para
confecção e instalação da prótese do tipo protocolo
de Branemark sobre os implantes (figura 14).
REFERÊNCIAS
Restauração dentoalveolar
imediata
__________________________________________________________________________
A imediata
manutenção
do implante,
da
óssea e gengival e da redução
do tempo de tratamento são os fatores que
da
arquitetura
sem
Paciente N.S.S., 40 anos, sexo masculino,
alterações sistêmicas, negou uso de
medicamentos, alergias e problemas relacionados a
preconizam a técnica da carga imediata pós-
procedimentos cirúrgicos anteriores. Após exame
exodontia (GOMEZ-ROMAN et al., 2001;
clínico e avaliação de exames complementares, foi
SCHROPP et al., 2005; DE KOK et al., 2006;
constatada perfuração endodôntica vestibular no
CANULLO; RASPERINI, 2007).
elemento 11. O exame tomográfico evidenciou a
Um implante instalado em alvéolo fresco
ausência da tábua óssea vestibular. Além disso,
geralmente apresenta defeitos peri-implantares no
clinicamente, pôde-se observar uma leve recessão
tempo da cirurgia. Estes defeitos têm formas e
gengival. Baseando-se nestas informações, foi
dimensões variadas. Tem sido sugerida a aplicação
proposta uma Restauração Dentoalveolar Imediata
de métodos de reconstrução óssea (regeneração
envolvendo a reconstrução do tecido ósseo
tecidual guiada e materiais de enxertia) juntamente
vestibular por meio do uso de uma placa óssea
com a instalação do implante para assegurar a
proveniente do túber da maxila direito. Para se
formação óssea em pequenos defeitos peri-
restabelecer o tecido mole que foi perdido devido à
implantares (LAZZARA, 1989).
recessão, foi utilizado um enxerto de tecido
Todavia, nos alvéolos comprometidos, a conjuntivo subeptelial proveniente, também, da
possibilidade de reconstrução alveolar através de região do túber direito do paciente. O procedimento
enxertia e restauração imediata, num único tempo foi realizado sob anestesia local, sendo feita
cirúrgico, pouparia o paciente da necessidade de inicialmente uma exodontia atraumática com o uso
diversos procedimentos como enxerto ósseo e/ou do periótomo e de um extrator dentário.
gengival, cirurgia do componente protético ou
abutment e etapas de condicionamento do tecido
mole peri-implantar, podendo, algumas vezes,
minimizar o risco estético durante a realização
destes procedimentos (ROSA et al., 2008).
Após curetagem do alvéolo e irrigação enxerto ósseo e conjuntivo na região do túber direito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Danilo Pelegrino
Júlio Cesar Joly
537
A
reabsorção óssea pós-exodontia é interior da ferida. Para conseguirmos preservar este
um fenômeno fisiológico que coágulo, um dos melhores materiais são as barreiras
acarreta alterações na arquitetura (TROMBELLI et al., 2008).
alveolar (SALOMÃO; SIQUEIRA, 2010). A perda
Vários materiais aloplásticos consideráveis
óssea horizontal e vertical é mais significativa nos
biocompatíveis são utilizados em diferentes tipos de
primeiros seis meses de cicatrização, no entanto, essa
cirurgia para conter os tecidos, como as telas de
perda pode ser mais acentuada em situações que
polipropileno para cirurgias abdominais ou para
envolvem a presença de defeitos da parede vestibular.
regeneração óssea pós-exodontias (SALOMÃO et al.,
(AMLER; JOHNSON; SALMON et al., 1960;
2010).
ATWOOD, 1971; TALLGREN, 1977; O’BRIEN;
Para um material de barreira funcionar,
HINRICHS; SCHAFFER et al., 1994; SEIBERT,
precisa respeitar certos critérios essenciais: ser
1983).
biocompatível, agir como uma barreira (para impedir
Uma das grandes dificuldades no momento da
que tipos de células indesejáveis entrem no espaço
instalação de implantes são os defeitos ósseos
protegido), integrar com o tecido (evitando a
dentoalveolares decorrentes da extração (SANDOR;
encapsulação do material), criar e manter um espaço
CLOKIE; LENDHALM, 2003). A grande preocupação
(não ser extremamente rígido provocando perfurações
é a possibilidade da preservação alveolar após a
no tecido que o recobre ou flexível demais, podendo
exodontia (VANDER DER WEIJDEN;
desadaptar-se) e ser provido de configuração de fácil
DELL’ACQUA, SLOT, 2009).
manejo clínico (MUNIR; SIQUEIRA, 2010).
Segundo Araujo e Lindhe (2005), com o
A membrana funciona como uma barreira
objetivo de reduzir esta reabsorção, cirurgiões
física que protege o coágulo sanguíneo de ser movido
procuram realizar a exodontia minimamente invasiva, a
devido ao stress mecânico que age no retalho na fase
fim de exercer o menor dano ao tecido ósseo.
inicial do reparo da ferida. A micro-movimentação do
As células que estão presentes na ferida retalho pode provocar a modificação da diferenciação
cirúrgica caracterizarão a cicatrização. Estas células das células mesenquimais indiferenciadas de
são de origem epitelial, conjuntiva, óssea e do odontoblastos para fibroblastos que colonizam a área
ligamento periodontal (MELCHER, 1976). Para que mais rapidamente quando comparados aos
ocorra uma formação óssea, é necessária uma odontoblastos, impedindo assim, a formação óssea
repopulação seletiva das células com potencial (MACEDO et al., 2003). Hardwick et al. (1996)
osteogênico, a qual caracteriza a Regeneração Óssea reforçaram a função da membrana como forma de criar
Guiada (ROG) (DAHLIN, 1988). um meio favorável para melhorar a regeneração.
mm de cinta transmucosa (figura 6b). Na mesma pal era a falta de retenção da prótese total inferior, cefa-
Figura 4 -
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Figura 5 - Abordagem palatina e preenchimento dos provisório com adequado perfil de emergência,
espaços livres do alvéolo com biomaterial. também conseguimos o selamento do alvéolo, não
havendo à necessidade de sutura ao final da cirurgia
Como o paciente apresentou um biótipo (NAM; ARANYARACHKUL, 2015) (figura 7).
tecidual avaliado como espesso, optou-se em não Importante notar que a provisionalização só foi
realizar nenhuma técnica de enxertia de conversão decidida no trans-operatório após a inserção dos
de biótipo, pois já estava a contento (JOSEPH et al., implantes, para avaliarmos o torque de inserção dos
2003). mesmos, e mensurarmos a estabilidade primária
Nos alvéolos que não receberam implante, adquirida, viabilizando ou não o “carregamento”
foi realizado o preenchimento de todo o alvéolo imediato dos implantes.
com o biomaterial, a fim de realizar a preservação
alveolar e impedir a perda de volume ao longo dos
próximos meses e comprometer os contornos do
rebordo e relação estética com os pônticos
(ARAÚJO et al., 2015).
Após a inserção dos enxertos em cada
alvéolo, todos receberam uma membrana de
colágeno em forma de “cachecol” a fim de limitar
Figura 7 - Provisionalização imediata.
as partículas dentro do alvéolo, na tentativa de
bloquear a dispersão de algum grão para o espaço
O perfil de emergência foi confeccionado
do sulco (figura 6).
de tal forma que, além de oferecer suporte aos
tecidos moles peri-implantares e selar o alvéolo,
permitiu um espaço para acomodar uma boa
espessura de tecido mole (NAM;
ARANYARACHKUL, 2015) . O sub-contorno na
zona subcrítica foi realizado para criar esse espaço
maior para o tecido. Na zona crítica, o sub-contorno
realizado, com parcimônia, objetivou não perder as
duas funções de selamento e suporte da gengiva
marginal (figura 8a).
Figura 6 - Preenchimento dos alvéolos à esq. e inserção
Em um primeiro momento, o sub-contorno
de membrana de colágeno “cachecol”.
na zona crítica pode posicionar a gengiva marginal
552
mais coronal, criando um “excesso” de tecido que
facilmente poderá ser reposicionado com o
condicionamento feito por alterações no perfil
(figura 8b), deslocando a margem gengival de
acordo com o volume acrescido que a pressiona, Figura 9 - A) arquitetura gengival com arcos e papilas
mas este condicionamento deve ser feito após a (observe a presença prévia de um implante no 12,
maturação do tecido mole, e por conta disto, que anterior a este tratamento); B) boa espessura de tecido
apesar do período de osseointegração dos implantes mole observada na vestibular ( com exceção do 12).
A
longevidade de implantes quando ocorre o carregamento oclusal (MAEDA et al.,
dentários depende da integração 2007).
entre os componentes do implante
Adicionalmente, a instalação imediata de
e os tecidos de suporte (OH et al., 2002), no entanto,
implantes tem sido sugerida com o objetivo de
reabsorções ósseas tem sido frequentemente relatadas
preservar a arquitetura do rebordo alveolar residual
após 1 ano de função do implante (ADELL, et al.,
(BALSHI; WOLFINGER; BALSHI, 2005). Como
1981; TARNOW et al., 2003). Os fatores mais comuns
vantagens da implantação imediata pode-se considerar:
para a perda óssea são sobrecarga oclusal (ADELL et
eliminação do período de espera para regeneração do
al., 1981; OKUMURA et al., 2010), contaminação no
tecido periodontal, manutenção da dimensão do
espaço entre o pilar e o implante (BERGLUNDH et al.,
alvéolo, eliminação da segunda cirurgia para
1991; JUNG et al., 2008), formação de inserção
implantação e, especialmente, a diminuição no tempo
biológica (ERICSSON et al.; 1992; ABRAHAMSSON
de tratamento, fato este que diminui custo e aumenta a
et al., 1998), design do colo do implante (JUNG et al.,
aceitabilidade por parte do paciente (BARZILAY,
2008), trauma cirúrgico, peri-implantite (OH et al.,
1993).
2002), e biótipo gengival (ADELL et al., 1981).
A instalação de implantes imediatos em locais
Vários estudos têm demonstrado uma média
cronicamente infectados ainda é controverso, porém
de perda óssea marginal, em torno dos implantes
não é contraindicada, desde que procedimentos clínicos
dentários, de 1,5 a 2 mm no primeiro ano após o
pré e pós-operatório sejam cuidadosamente realizados,
implante em função (ADELL et al., 1981; HERMANN
como administração de antibiótico, limpeza meticulosa
et al., 2000). Algumas observações clínicas têm
e debridamento alveolar antes da instalação do
demonstrado que a reabsorção óssea é menor ao redor
implante (NAYAMAN et al., 1990). A associação
do colo dos implantes quando é possível instalar um
entre o correto diagnóstico clínico/radiográfico e
pilar protético de diâmetro menor que a plataforma do
procedimentos cuidadosos, cirúrgicos e protéticos, é
implante, sendo então denominada de plataforma
primordial para o sucesso em casos em que a opção
switching (GARDNER, 2005). De acordo com o estudo
pela implantação imediata em locais cronicamente
realizado por Lazzara e Porter (2006), por meio desta
infectados seja o plano de tratamento eleito (THOMÉ
técnica é possível distanciar a junção
et al., 2007).
implante/abutment (GAP) da crista óssea, em direção
ao centro do implante, deslocando o infiltrado
bacteriano existente neste tipo de conexão mais DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
distante da crista óssea para o centro do implante. Isto
reduziria o fenômeno biológico conhecido como
saucerização e favoreceria a estética por meio da Paciente R.F.V, 40 anos, gênero feminino,
manutenção dos tecidos peri-implantares. Estudos compareceu à clínica particular relatando desconforto
recentes mostraram, também, que quando utilizado o na região do dente 46. Após detalhada anamnese,
modelo de plataforma switching, existe uma mudança verificou-se que a paciente não apresentava nenhum
implante e no osso ao redor do colo do implante, radiográfico, pode-se verificar lesão cariosa extensa
557
com perfuração no assoalho da câmara pulpar, implante (5x13mm, hexágono externo, torque interno,
comprometimento da região de furca, discrepância de Bionnovation®), na região do septo intrarradicular,
altura entre as cristas ósseas mesial e distal, além de utilizando as fresas do próprio fabricante do implante.
rarefação óssea periapical das raízes mesial e distal Foi tomado como referência, a crista óssea distal do
(figuras 1 e 2). alvéolo, sendo obtida estabilidade primária de 45
N/cm. Após a instalação do implante, utilizou-se o
parafuso de cobertura do implante como proteção da
entrada das roscas internas, sendo realizado, em
seguida, o preenchimento do espaço (gap) entre o
implante e as tábuas ósseas vestibular e lingual e as
cristas ósseas remanescentes com biomaterial orgânico
(GenOx Org, Baumer AS) (figura 3). Finalizando, o
retalho foi deslocado coronalmente, sendo realizada a
coaptação dos bordos do leito cirúrgico através de
suturas.
Figura 2 - Notar discrepância de altura entre as cristas ósseas mesmo foi instalado tomando como referência a altura da
plano de tratamento proposto, realizou-se incisão intra- hora antes da cirurgia, como medicação preventiva
sulcular ao redor do dente 46, seguida de incisão pós-operatória, em virtude da infecção local pré-
relaxante distal e exodontia do mesmo. A lesão existente. Após a cirurgia, foi prescrito amoxicilina
periapical foi totalmente removida em conjunto com o (500mg), por sete dias, três vezes ao dia, e analgésico a
dente extraído e o alvéolo foi criteriosamente curetado base de Ibuprofeno (600mg), em caso de dor e
e irrigado com soro fisiológico. Em seguida, foram bochecho leve com a solução de clorexidina a 0,12%,
bem como se pode observar a manutenção da altura das instalação da coroa metalocerâmica parafusada sobre o
implante.
cristas ósseas mesial e distal (figura 5).
559
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(figura 2). Além do mais, o fato do implante instalado BILHAN, H. et al. Influence of platformswitching on
marginal bone levels for implants with mandibular
possibilitar o uso de uma conexão tipo plataforma overdentures: a retrospective clinical study. Implant
switching, favoreceu a manutenção das cristas ósseas Dentistry, v. 19, n. 3, p. 250-8, 2010.
ao seu redor, sendo este fato sustentado por um CASAP, N. et al. Immediate placement of dental
implants into debrided infected dentoalveolar sockets.
trabalho no qual o aumento da discrepância entre Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 65, n. 3,
implante e componente protético levou a uma p. 384-392, 2007.
diminuição da perda óssea subsequente (COCCHETTO COCCHETTO, R. et al. Evaluation of hard tissue
response around wider platform-switched implants.
et al., 2010), sendo que esta diminuição da reabsorção The International Journal of Periodontics and
óssea da crista peri-implantar parece ser a maior Restorative Dentistry, v. 30, n. 2, p. 163-171, 2010.
ERICSSON, I. et al. Longstanding plaque and
561
gingivitis at Implants and teeth in the dog. Clinical OKUMURA, N. et al. Influence of maxillary cortical
Oral Implants Research, v. 3, p. 99-103, 1992. bone thickness, implant design and implant diameter
on stress around implants: a three-dimensional finite
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322-333, 2002.
Capítulo 91
Dispositivo alternativo de
levantamento do assoalho do seio
maxilar
Fábio Rosa
Paulo Sérgio Perri de Carvalho
563
A
tualmente, a substituição de procedimento menos invasivo do que a técnica
elemento dentário por uma prótese convencional com abertura de janela lateral. O tempo
implantossuportada tem sido de operação é reduzido e o pós-operatório melhor para
considerada uma alternativa, cuja casuística e o paciente (DAVARPANAH et al., 2001). A realização
previsibilidade encontram-se bem documentadas na desta técnica demanda treinamento especial e a
literatura (TODESCAN, 2005). Porém, o uso de utilização de instrumentais específicos, os osteótomos
implantes em áreas posteriores da maxila exige de Summers, capazes de comprimir o osso da região a
algumas peculiaridades anatômicas e requisitos ser implantada apical e lateralmente, possibilitando
funcionais dessas regiões. A instalação de implantes ampliar a estabilidade primária de implantes
nesse setor é um desafio devido à qualidade e à altura (Summers, 1994a,b). Mesmo assim, um estudo
óssea disponível, sendo estes fatores limitantes realizado por Sforza et al. (2008) com
(EMMERICH et al., 2005). Com a perda dos dentes, acompanhamento variando de 5 a 74 meses,
além de haver perda em altura da crista óssea, o demonstrou que a taxa de sucesso dos implantes
periósteo do seio maxilar também intensifica sua associados à osteotomia de Summers, quando
atividade osteoclástica, reduzindo o volume ósseo respeitados alguns fatores, como dimensão óssea
disponível para a reabilitação com implantes vertical inicial e altura do implante, se mantém entre 88
ósseointegrados (CHECCHI et al., 2010). Em e 100%. Apesar de ser uma técnica menos
decorrência destas restrições, diversos métodos, tais desconfortável para o paciente, a osteotomia de
como implantes inclinados ou curtos e a adição de osso Summers tem sido modificada por vários autores
em cavidades sinusais proporcionando aumentos (TOFFLER, 2004; FERRIGNO et al., 2006; RIBEIRO
ósseos verticais, têm sido descritos na literatura et al., 2010). Isso devido ao risco constatado de ruptura
(EMMERICH et al., 2005). da membrana sinusal com a pressão feita pelo
osteótomo, reportadas nos estudos de Toffler (2004) e
Boyne e James (1980) publicaram, pela
Ferrigno et al. (2006), com porcentagens de 4,7% e
primeira vez, a mais conhecida técnica de
2,2%, respectivamente. Com o objetivo de evitar
levantamento de seio maxilar. Nesta técnica é realizada
enxertos sinusais indicados em seios maxilares
a inserção do enxerto ósseo entre a membrana sinusal e
pneumatizados, foi idealizado um dispositivo metálico
a parede inferior do seio maxilar para se obter largura e
de titânio, que possibilita neoformação óssea e
altura óssea adequadas, e o enxerto é mantido intacto
estabilização da altura do seio maxilar conseguida pela
por seis meses antes da instalação dos implantes. Esta
técnica de Summers para posterior instalação de
técnica, cujos resultados são muito bem consolidados
implante.
na literatura, realiza o acesso ao seio maxilar através de
uma janela lateral, aberta na maxila, o que é muito
traumático para o paciente, além de demandar muita
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
destreza do profissional (FERMERGARD;
ASTRAND, 2008).
Valor médio
Variável medida Extensão (mm)
(mm)
O o bem estar
indivíduos. E
psicossocial
no mundo
globalizado e altamente exigente, é
extremamente necessário que o cirurgião-dentista tenha
dos tratamento mais rápidos e eficientes, promovendo aos
pacientes conforto e satisfação para desdentados totais
e parciais (SCHNITMAN et al., 1997; KAWAI;
TAYLOR, 2007).
conhecimentos e saiba oferecer um sorriso agradável
Recentemente, vivenciamos uma nova era no
para satisfazer os padrões atuais. Devolver ao paciente
planejamento cirúrgico-protético: as chamadas
uma estética favorável, permite que crie uma
cirurgias virtuais guiadas e o estrondoso
autoimagem positiva, controlando a expectativa do
desenvolvimento da imaginologia, mostrando ser
paciente durante ao tratamento, pois trata-se de
possível materializar na escala de 1:1 as estruturas
aparência dental e facial, que tem alta importância em
anatômicas, assim como as imagens volumétricas, cujo
nossa sociedade.
nome genérico foi denominado “prototipagem rápida
A ausência total de dentes é uma condição que biomédica” (CHILVALQUER; OLESKOVICZ;
afeta o convívio social, fatores psicológicos e físicos. A VEDOVATO, 2007).
reabilitação devolverá função e a reinserção do
A realização da tomografia computadorizada
indivíduo no ambiente social. Porém, o sucesso da
(TC) associada à conversão de imagens, aplicadas em
reabilitação não depende apenas do emprego da técnica
softwares específicos, possibilita um planejamento
correta, mas também da adaptação do indivíduo às
virtual do ato cirúrgico, tornando possível visualizar
próteses. O profissional tem como responsabilidade
em modelo tridimensional, a relação dos implantes
empregar conhecimentos e habilidades que possam
com a anatomia do paciente (NASCIMENTO et al.,
permitir o desenvolvimento satisfatório das atividades
1997).
como fonação e mastigação, assim como, conforto e
estética aceitável (COSTA et al., 2013). Além da segurança no procedimento e na
previsibilidade do caso, a cirurgia guiada sem retalho é
Atualmente, todo tratamento reabilitador
uma técnica pouco invasiva, sendo o guia cirúrgico
busca integrar as necessidades estéticas, funcionais e
posicionado diretamente na mucosa, e somente o tecido
emocionais em um design do sorriso. E para orientar
por onde passam os implantes é removido. Dessa
todo o planejamento, a utilização do Digital Smile
forma, sintomas pós-operatórios, como dor, edema e
Design (DSD) facilita o entendimento e visualização
inflamação são bastante reduzidos, fazendo com que o
dos problemas estéticos (COACHMAN; CALAMITA,
paciente tenha um pós-operatório mais confortável,
2012).
possibilitando o retorno a suas atividades profissionais
O tratamento reabilitador por meio de
e sociais em um menor intervalo de tempo (DINATO;
implantes osseointegráveis objetiva preservar a
NUNES, 2006).
integridade das estruturas nobres intrabucais,
O objetivo deste trabalho foi realizar um
recuperando a estética e a funcionalidade do sistema
planejamento estético em uma prótese total superior de
estomatognático e fonético, possibilitando uma melhor
acordo com o conceito Digital Smile Design (DSD) e
qualidade de vida aos pacientes (CARVALHO et al.,
uma prótese do tipo protocolo inferior, por meio da
2006)
cirurgia virtual guiada.
A evolução nos índices de sucesso da carga
imediata verificada após inúmeros estudos e
569
dos implantes na mandíbula. Para isso, foi obtido um O guia prototipado foi executado pela
guia tomográfico, feito em resina acrílica numa Bioparts, Brasília – Brasil. Anteriormente à cirurgia,
duplicação da prova dos dentes já provado foi feita a prova do guia prototipado, observando uma
anteriormente, e aprovado pelo paciente, foram feitas 5 boa adaptação e estabilidade na boca. Foram utilizadas
demarcações na flange da prótese, com guta-percha. como medicações pré-cirúrgica, betametasona 4mg,
Confeccionou-se um rodete oclusal com silicone de diazepam 5mg e amoxixilina 500mg. O procedimento
condensação para posicionar entre o arco superior e cirúrgico deu-se início com a assepsia extra-oral, com
inferior, deixando aproximadamente 3 a 5 mm de clorexidina a 2%, e intra-oral com bochecho a 0,2%,
espessura para que o paciente não ocluísse totalmente para a anestesia infiltrativa local, foi utilizado
no momento da obtenção da imagem, com o objetivo anestésico Lidocaína 2%. Foi feita com auxílio de um
de não sobreporem imagens da arcada inferior (figura retriver a remoção do implante da região do 35. Após a
4). estabilização do guia, deram-se início às perfurações
para a fixação do guia. Com o guia fixado, iniciaram-se
as perfurações com a broca cilíndrica 2.0, finalizando a
sequência de brocas com a broca piloto do diâmetro
dos implantes eleitos. Foram utilizados implantes cone
morse cilíndricos Titamax CM 3,75 x 13. Ao final de
cada instalação, foram colocados os estabilizadores
sobre os implantes, para uma melhor adaptação do
guia. Todos os implantes obtiveram uma estabilidade
Figura 4 - Guias tomográficos. primária superior a 45N/cm (figura 6).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
S
egundo WOLF, os ossos remodelam- coroa metalocerâmica, aguardou-se o período de 6
se de acordo com as forças que atuam meses.
sobre os mesmos. Quando se perde
um dente, perde-se também a
estimulação intraóssea, e o processo alveolar entra em
degeneração (ALDECOA, 1996). Primeiro se produz
uma diminuição da largura óssea e depois, uma
diminuição de altura (ALBERTSON, 1980). A maxila
posterior edêntula, usualmente apresenta limitações
anatômicas para instalação de implantes. A técnica de
elevação da membrana sinusal, desenvolvida por
Summers, representa uma boa opção de tratamento na
reabilitação de regiões com remanescente ósseo em
altura maior ou igual a 5mm. Por meio de osteótomos
de diferentes diâmetros, o osso remanescente é
compactado e a membrana sinusal é elevada,
possibilitando, dessa forma, a instalação do implante CONSIDERAÇÕES FINAIS
sem a perfuração da membrana (SUMMERS, 1995).
N
o principio da associados aos implantes, detectaram que a idade
implantodontia, o sucesso dos avançada foi considerada como fator de risco
implantes dentários era sua importante como também fumantes, diabéticos,
simples osseointegração e estabilidade. Uma vez irradiados de cabeça e pescoço e pacientes
que o implante instalado era inerte ao organismo, já submetidos a terapias a base de estrógeno pós-
se considerava um sucesso. Nos dias de hoje, não menopausa. Contudo, verificaram que nesse grupo
se pode mais aceitar que somente esse fator possa de pacientes, a falha de implantes foi baixa, não
ser considerado um sucesso. Entretanto, com a havendo uma contraindicação absoluta para a
popularização dos implantes dentários, aumentaram colocação de implantes. No entanto, deverá ser
os casos em que os implantes estão osseointegrados informado ao paciente, no plano de tratamento, o
mas sua posição tri-dimensional está deficiente e a fator de risco existente para o devido
qualidade de gengiva peri-implantar não é consentimento. Deste modo, pacientes portadores
suficiente e de qualidade, além de outros aspectos, de enfermidades como osteoporose, diabetes,
acarretando sérios problemas protéticos e discrasias sanguuíneas e idade avançada não são
periodontais. Portanto, os fatores que determinam o contraindicações absolutas, e sim, relativas, pois
sucesso de um implante na atualidade vão além da todas elas, no que diz respeito ao estado de saúde
sua osseointegração. O planejamento de uma geral, são passíveis de melhora. O fator idade hoje é
reabilitação oral, em que se procura devolver a visto no seu aspecto biológico e não mais, como
função mastigatória e estética, deve ser embasado outrora, no seu aspecto cronológico. Isto quer dizer
em princípios periodontais e protéticos. Esse relato que, em um indivíduo, gozando de uma boa
de caso clínico demonstra o passo a passo do condição física, embora com idade cronológica
planejamento até sua execução e proservação avançada, é perfeitamente viável a colocação de
dentro dos princípios fundamentais de uma implantes. Já os fatores de ordem locais, que serão
reabilitação oral. observados no exame intra e extra-oral, associados
Brugnami e Caleffi (2005) relataram que à análise de modelos diagnósticos e exames
as expectativas do paciente quanto aos seus anseios radiográficos, proporcionarão ao profissional
e reais necessidades devem ser dimensionadas pelo definir o plano de tratamento ideal para o caso.
profissional, informando as alternativas de
tratamento que poderão ser realizadas e a DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
importância da sua proservação. Dentro deste
contexto, não seria descabido afirmar que, embora a Paciente do sexo feminino, com idade de
implantodontia seja estabelecida como a “terceira 59 anos, com queixas constantes de dores de cabeça
dentição”, os pacientes que são submetidos e articulação, dificuldade de mastigar e triturar os
atualmente a este tipo de tratamento ainda alimentos e com estética comprometida. Com
necessitam da conscientização quanto à sua dentes extremamente desgastados, falta de oclusão
preservação, que envolve os cuidados diários de balanceada sem protrusiva, guias de lateralidade,
higiene oral e visitas periódicas ao profissional. oclusão posterior deficiente sem engrenamento e
Moy et al. (2005), avaliando pacientes com perda de dimensão vertical de oclusão e
tratados com implantes de janeiro de 1982 a janeiro demais fatores como próteses mal adaptadas
de 2003, no que concerne aos fatores de risco cervicalmente, dois implantes já existentes na
577
região do 35 e 36 bem inclinados e com próteses são executadas em uma só etapa e com sedação
sobre a cabeça do implante acumulando alimento. consciente, assistida por médico anestesista.
Foi proposta à paciente uma reabilitação Após a cicatrização de mais ou menos 4 a
oral, para devolver a função mastigatória e estética. 5 meses, são instalados os provisórios sob os
Ao se iniciar o planejamento, é realizada implantes após uma pequena cirurgia de reabertura,
uma documentação bem detalhada com fotografias e é aguardad a maturação das gengivas peri-
intra e extra-bucais, exames complementares como implantares.
radiografias periapicais e panorâmicas, modelos de Neste momento em que a estabilidade
estudo, exames laboratoriais pré-operatórios e por oclusal posterior foi obtida com sucesso, é feito um
fim, uma avaliação de risco cirúrgico emitido pelo aumento de coroa clínico estética anterior para que
cardiologista antes de cirurgias consideradas os provisórios anteriores sejam instalados
complexas. imediatamente após a rápida cicatrização dos
É feita uma moldagem com silicone de tecidos periodontais operados, com próteses
adição para obtenção de três ou mais modelos de chamadas de periodontais de extrema adaptação e
trabalho, e a montagem no articulador semi- se atentando para o preparo protético dos dentes
ajustável para o estudo detalhado da oclusão e esteja sempre supra gengival.
estética. No momento em que todos os provisórios
O enceramento de diagnóstico no modelo planejados estiverem instalados e não houver mais
articulado é que possibilitará a futura nenhuma necessidade de re-preparo dos dentes,
provisionalização. Definido o que será feito em afastamento dental com ligas de borracha para
cada dente, é estabelecida a ordem de tratamento, melhorar pontos de contato e papilas inter-
planejamento de execução e financeiro detalhados, proximais, é hora de fazer a moldagem total e
esclarecendo à paciente que possíveis variações são confecção do trabalho em porcelana.
previsíveis no planejamento proposto. É feita uma única moldagem total dos
Início com um tratamento periodontal com dentes e implantes, com a técnica do duplo fio de
instrução de higiene oral, raspagem supra e sub- afastamento gengival para tal moldagem é
gengival, quando necessário, de todos os sextantes, suficiente, assim como os respectivos transferêntes
fazendo criteriosamente um controle de placa de cada implante. Enquanto se remove o último fio
bacteriana. de afastamento, no momento da moldagem, é
Remoção das próteses metálicas antigas e manipulado no Pentamix 3M espe., o Express Putty
instalação imediata dos provisórios sobre essas e diretamente inserido na moldeira de estoque. Ao
regiões e tratamento endodôntico com instalação de mesmo tempo, é inserido ao redor de todos os
pinos intra-canais onde há necessidade. dentes e implantes, com a seringa de ponta
Cirurgias de adequação do meio como automisturadora, o material fluído e, em passo
exodontias de terceiros molares, aumento de coroa único com silicone de adição, é realizada a
clínica nos 45 e 46, enxertos ósseos de aumento de moldagem. O registro inter-maxilar para articulação
seio maxilar do 16 com remoção de área doadora dos modelos de trabalho no laboratório de prótese é
óssea do ramo da mandíbula e instalação dos feito de maneira que se tenha uma estabilidade dos
implantes Nobel Biocare na região do 16, 24 e 25 mesmos.
578
Após o retorno do trabalho do laboratório,
que foi devidamente orientado com fotografias,
filmagens, radiografias, modelos de estudo,
planejamentos digitais pela técnica do DSD,
tomada de cor de todas as peças são provadas e
assentadas corretamente para uma análise ainda
mais acurada do engrenamento oclusal e, também, a
prova estética.
Estando todas as peças em conformidade
Figura 2 - Condição inicial prévia ao inicio do tratamento
com o que foi proposto, seguido de fotografias intra
reabilitador.
e extra-bucais para aprovação tanto do cirurgião-
dentista quanto do paciente, é feita a cimentação
com cimento resinoso, de acordo com as
especificações do fabricante.
Após a cimentação, um fino ajuste oclusal
é feito durante os primeiros 3 meses. Check-ups
radiográficos periapicais e interproximais são
solicitados a fim de verificar a adaptação das peças
e excesso de cimento em suas margens cervicais.
E por fim, proservações são programadas
imediatamente com uma semana, 30 dias, 90 dias e
até dois anos e meio, de 6 em 6 meses, e depois de Figura 3 - Provisórios instalados após todas as cirurgias.
REFERÊNCIAS
A
Implantodontia moderna apresenta como vantagens: não ter a necessidade de
possibilita a substituição de realização de enxertia óssea, como por exemplo, a
elementos dentais perdidos, de cirurgia de levantamento de assoalho de seio
maneira altamente previsível, em casos de pacientes maxilar; diminuição de custos, uma vez que são
totalmente edêntulos. colocados apenas quatro implantes, ao invés de um
A evolução das técnicas permite, em número maior; instalação imediata de uma prótese
muitas situações, reabilitações totais com colocação fixa (provisória ou definitiva), não debilitando o
imediata da prótese permitindo conforto funcional e paciente como em uma enxertia óssea, que tornaria
estético. necessária a não utilização de próteses por um
Entretanto, a perda severa de osso em determinado período; mais facilidade para
maxilas atróficas pode impedir ou dificultar o higienização, pela presença de menor número de
tratamento imediato e a colocação de implantes, implantes.
pois a mesma exige espessura e altura óssea A reabilitação protética sobre implantes
adequadas para estabilização primária como inclinados é um desafio tanto para o dentista quanto
preconizado nos primórdios da Implantodontia. para o técnico de prótese. Depois de instalados, o
A técnica de implante-prótese introduzida ângulo dos implantes inclinados podem ser
por MALO, em 2003, é uma das mais modernas facilmente compensados usando pilares angulados.
inovações dos últimos anos na reabilitação de A reabilitação protética pode ser entregue
maxilas e mandíbulas atróficas, com elevadas taxas utilizando uma abordagem de carga retardada ou
de sucesso observadas em follow-up até a presente abordagem de carga imediata.
data. Para minimizar complicações
A técnica prevê a colocação de apenas biomecânicas é sempre recomendável reforçar a
quatro implantes entre os forames mentuais na prótese com uma subestrutura de metal.
madíbula e na pré-maxila, suportando uma prótese
fixa aparafusada sob carga imediata. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Em ambos os casos, são instalados 2
implantes ortogonais ao osso, nas porções Paciente N. A. O, 64 anos, gênero
anteriores, e 2 implantes inclinados em 30 graus em masculino-ausência dos elementos
relação ao osso (MALO, 2003). 11,12,14,15,16,17,21 e com perda acentuada de
inserção óssea nos elementos 13,22,23,24,25,26,27,
Esta técnica, apesar do ainda curto período devido a comprometimento endodôntico e
de acompanhamento, tem sido bastante disseminada periodontal.(figura.1).
devido a simplicidade do protocolo cirúrgico, a O mesmo relatou intensa mobilidade, dor
mínima invasividade e a possibilidade da aplicação nos elementos dentários presentes na maxila (figura
dos implantes em carga imediata, reduzindo custos 2.).
econômicos e resultados estéticos e funcionais O paciente relatou acidentes com trauma
satisfatórios. dental devido à prática de mergulho submarino na
O conceito All-on-4 tem como objetivo a juventude e total insatisfação com a função
satisfação e o conforto dos pacientes, sendo que mastigatória e a estética dental.
583
Foi proposta e aceita pelo paciente a
exodontia dos elementos comprometidos e Após anestesia por bloqueio regional e
planejamento virtual da instalação de quatro terminais infiltrativas, foram realizadas as
implantes (Neodent Alvin TI), sendo os dois exodontias dos dentes comprometidos com
anteriores de 4.3 x 13mm e os dois posteriores de curetagem copiosa de todas as lesões periodontais
4.3 x 16mm, todos de plataforma regular (4.1) de endodônticas, objetivando manter as tábuas ósseas
hexágono externo. Utilizando–se da técnica “all on (figura 4).
four®” (figura 3). Incisão trapezoidal com relaxantes nas
Esse planejamento minimizaria a extremidades para visualização de todo o rebordo
morbidade do paciente, possibilitando uma ósseo e confecção do platô ósseo (figura 5) para a
reparação óssea e uma reabilitação protética mais instalação dos 4 implantes osseointegráveis.
rápida para o completo restabelecimento estético e Apesar das extensas lesões existentes no
funcional do mesmo. rebordo maxilar, foi conseguida uma estabilidade
primária inicial superior a 55 N/cm, nos quatro
implantes instalados..
Porém, optou-se por executar a prótese em
dois estágios, para um menor tempo de exposicão
do paciente ao tratamento.
Foi confeccionada uma prótese total
imediata para que o mesmo utilizasse após as
extrações, e instalação dos implantes por um
Figura 1 - período de seis meses..
Após a instalação do quatro implantes
osseointegraveis de acordo com a técnica ”All on
four®”, realizamos a enxertia dos alvéolos
comprometidos anteriormente pelas lesões peri-
implantares com biomaterial Geistlich Bio-Oss®
de granulação grande, para que se fosse possível
ocupar o máximo as extensas lesões existentes nas
paredes ósseas maxilares (figura 6).
Não foram utilizadas barreiras
Figura 2 - Aspecto clínico inicial. regenerativas devido ao perfil gengival espesso e a
um descolamento de periósteo sem rasgos,
mantendo, dessa forma, a nutrição e proteção do
biomaterial.
Posteriormente, foi realizada sutura com
ponto simples com fio de nylon 6-0, sem tensão do
retalho, com intuito de perfeita coaptação dos
retalhos cirúrgicos (figura 7).
A
odontológicas é notória uma retenção dos alimentos, diminuição do controle
procura mais frequente por motor da língua e da função sensorial e,
procedimentos que visem não consequente instabilidade das mesmas
só a funcionalidade, mas principalmente a estética. (BABBUSH; KUTSKO; BROKLOFF, 2010).
O anseio por um sorriso estético e harmônico eleva Diante disso, a reabilitação com próteses
o nível de exigência e de expectativa do paciente totais sobre implantes osseointegrados tem sido
devido ao indivíduo estar inserido numa sociedade proposta como uma alternativa, com a vantagem de
na qual a aparência tem grande relevância na sua driblar as limitações apresentadas pelas
aceitação e autoestima. Dentro desse contexto, reabilitações convencionais com próteses totais ou
muitos parâmetros são analisados para o parciais removíveis (AGLIARDI et al., 2010;
planejamento de uma reabilitação. PAREL; PHILLIPS, 2011).
A ausência total ou parcial de dentes é uma Nas reabilitações totais que envolvem
condição que deve ser analisada implantes osseointegrados existem dois protocolos
multidisciplinarmente e com cautela, uma vez que de eleição: 1- o protocolo preconizado por
se apresenta como uma circunstância de impacto BRANEMARK, em 1977, com a colocação de seis
negativo sobre a qualidade de vida do paciente implantes verticais por arcada e com um período de
(BABBUSH et al., 2010; DE VICO et al., 2011). reparo ósseo de três meses para a mandíbula e seis
Além da estética, as perdas dentárias podem afetar meses para a maxila; 2- protocolos mais recentes
a capacidade mastigatória, desequilíbrios com implantes em carga imediata, que consiste na
musculares (CAVALCANTI; OLIVEIRA; instalação das próteses implantossuportadas
BATISTA, 2015), o consumo de diversos alimentos imediatamente ou logo após a colocação dos
e a fonação, podendo também causar impactos implantes.
psicológicos indesejáveis (SANTOS, 2009). De acordo com alguns autores, o protocolo
O planejamento da reabilitação oral deve de carga imediata permite melhores condições de
envolver o julgamento profissional, as preferências reabilitação, provendo maior estabilidade das
do paciente, as evidências científicas disponíveis, as próteses, menor tempo de reabilitação, menor
necessidades de tratamento odontológico, as morbidade (DE VICO et al., 2011), longevidade do
limitações biológicas, a higiene oral, a mudança na tratamento, maior taxa de sobrevida dos implantes e
qualidade de vida, os custos, e as competências próteses (PUIG, 2010) em longo prazo (KUTSKO;
técnicas do profissional (CAVALCANTI; BROKLOFF, 2011), satisfação do paciente e
OLIVEIRA; BATISTA, 2015). Baseado em outros minimização de etapas cirúrgicas (ex. enxertos
fatores, como preferência pessoal, experiência do ósseos ou levantamento de seio maxilar), que torna
profissional, custo, necessidade de cirurgias o tratamento vantajoso para reabilitações funcionais
adicionais, entre outros, o profissional juntamente e estéticas imediatas (BABBUSH; KUTSKO;
com o paciente, pode optar por diferentes técnicas. BROKLOFF, 2011), com menor tempo e custo de
Em reabilitações totais, as próteses totais tratamento (AGLIARDI et al., 2010; DE VICO et
removíveis são comumente usadas, contudo, al., 2010; GRAVES et al., 2011; MALO et al.,
apresentam as limitações da perda de volume ósseo 2011; DE VICO et al., 2011; ATA-ALI et al., 2012;
589
CRESPI et al., 2012; DUELLO et al., 2012; (CAPELLI et al., 2007, AGLIARDI et al., 2010), o
GILLOT et al., 2012; MALO et al., 2012). que permite a diminuição da extensão distal das
O pós-cirúrgico também é mais próteses, e consequentemente, o menor risco de
confortável para os pacientes, uma vez que eles falhas no protocolo (MALO et al., 2011). Segundo
estarão utilizando suas próteses provisórias fixas DE VICO et al. (2011), extensões distais longas
logo após os implantes (CRESPI et al., 2012), aumentam o risco de falha dos implantes e de
trazendo, também, maior qualidade de vida (DE fraturas nas próteses implantossuportadas. E,
VICO et al., 2011). quando menores, permitem uma melhor
Contudo, existem situações consideradas distribuição de forças oclusais mastigatórias nas
desfavoráveis para este protocolo de reabilitação próteses (DE VICO et al., 2011).
imediata, como: baixa densidade óssea, reabsorções É importante considerar, porém, que a
ósseas, presença de seios maxilares pneumatizados técnica all-on-four, apesar de todas as vantagens
(PUIG, 2010; GRAVES et al., 2011), regiões de apresentadas, quando comparada ao protocolo de
deiscências e fenestrações, locais periodontalmente Branemark, pode apresentar maior dificuldade na
comprometidos, alvéolos frescos (MALO et al., reabilitação posterior, pois exige um ângulo de
2011; GILLOT et al., 2012; MALO et al., 2012), correção de pilares (abutments) nesta região dos
pacientes com doenças sistêmicas (MALO et al., implantes inclinados (GRAVES et al., 2011).
2011; PENARROCHA-OLTRA et al., 2011), com Além disso, alguns fatores considerados de
densidade óssea comprometida (PUIG, 2010; risco podem ser considerados associados aos
GRAVES et al., 2011), e parafunção (PAREL; tratamentos all-on-four: dentição antagonista
PHILLIPS, 2012). natural, gênero masculino, baixa densidade óssea,
Atualmente, existe um conceito de localização do implante distal (PAREL; PHILLIPS,
reabilitação com carga imediata, conhecido como 2011). Na ausência destes fatores, tanto o protocolo
all-on-four, que consiste na colocação de quatro de Branemark, quanto o all-on-four podem ser
implantes por arco, sendo dois anteriores paralelos utilizados com boa previsibilidade, apresentando
e dois posteriores colocados com inclinação (PUIG, desempenho semelhantes. Em relação ao
2010; PAREL; PHILLIPS, 2011), entre 30◦ e 45◦ reestabelecimento da função muscular do paciente
(AGLIARDI et al., 2010). edêntulo, a alta atividade muscular dos músculos
Este protocolo foi idealizado tanto para masseter e temporais em pacientes assim
atender demandas de reabilitações de maxilas reabilitados é muito próxima à atividade de
atróficas, que apresentam grandes limitações, pacientes com dentição natural do que as próteses
quanto para reabilitações imediatas em condições removíveis, o que indica que estes protocolos são
desfavoráveis, permitindo a colocação de implantes vantajosos também para este objetivo (DE ROSSI,
posteriores longos e inclinados em regiões distais 2014).
dos maxilares (SILVA et al., 2010), desviando de Para que uma reabilitação oral esteja
estruturas nobres da face e eliminando etapas completa, algumas exigências funcionais e estéticas
cirúrgicas prévias à colocação dos implantes. são almejadas para que se assemelhem ao máximo
Este protocolo também visa aumentar a nestes quesitos à uma dentição natural. Dentre as
área de sustentação das próteses, com o aumento da exigências funcionais, busca-se a desoclusão em
distância entre os implantes anteriores e posteriores grupo nos movimentos de lateralidade e protrusão
590
como guias oclusivas mais desejadas, levando a
uma oclusão mutuamente protegida.
(CAVALCANTI; OLIVEIRA; BATISTA, 2015).
próteses instaladas.
Após etapa cirúrgica, o posicionamento
dos implantes e adaptação do protocolo provisório
foram avaliados através de novo exame
radiográfico (figura 7). A paciente foi informada
quanto à possibilidade do surgimento de pequenas
alterações funcionais durante essa fase de
adaptação, tais como: aumento da salivação,
Figura 7 - Radiografia panorâmica com a prótese
dificuldades fonéticas ou da mastigação. Foi
provisória instalada.
também orientada quanto à forma de higienização
das próteses, ao tempo de uso, necessidades de
retornos periódicos, até o momento de iniciar o Após 6 meses da realização da cirurgia, foi
tratamento final com a prótese definitiva. avaliado junto à paciente, a estética e função na
prótese provisória para realização da prótese final.
Não ocorrendo nenhum quesito para alteração,
tanto nos dentes quanto em oclusão, foi definida a
confecção de um protocolo com uma infraestrutura
feita em zircônia pelo sistema CAD/CAN
Zirkonzahn (figura 8), com coroas unitárias
confeccionadas em IPS e.max Press (Ivoclar
592
Vivadent) e aplicação de gengiva artificial em CONSIDERAÇÕES FINAIS
cerâmica IPS e.max Ceram (Ivoclar Vivadent).
Quando, na anamnese, o paciente não
Com a instalação, foi finalizado o
apresenta doenças sistêmicas ou parafunções, as
protocolo de tratamento de reabilitação com o
reabilitações com o protocolo all-on-four imediato
sistema all-on-four, atendendo às exigências
ou com seis implantes em mais de uma etapa
funcionais e estéticas (figura 9).
cirúrgica apresentam resultados semelhantes
Ao final do tratamento, uma radiografia
(CAPELLI et al., 2007; AGLIARDI et al., 2010;
panorâmica foi realizada com o protocolo cerâmico
POMARES, 2010; BABBUSH; KUTSKO;
fixo em posição mostrando a boa adaptação da
BROKLOFF, 2011; GRAVES et al., 2011; ATA-
infraestrutura da prótese (figura 10).
ALI et al., 2012; CRESPI, 2012; DUELLO, 2012;
MENINI et al., 2012; AGNINI et al., 2012;
FRANCETTI et al., 2015). Desta forma, em
pacientes sem a presença de fatores de risco, os dois
protocolos podem ser utilizados com boa
previsibilidade. Caberá ao profissional optar por um
dos protocolos de reabilitação baseado em fatores
como preferência pessoal, custo, necessidade de
cirurgias adicionais, necessidade do paciente, entre
outros.
Figura 8 - Protocolo cerâmico antes e após a cimentação Contudo, na presença de fatores de risco
das coroas. de impacto mecânico, como a parafunção por
exemplo, segundo PAREL & PHILLIPS (2011), o
tratamento com seis implantes pode fornecer uma
melhor distribuição das tensões sobre os implantes
e sobre a prótese, devendo ser usado sempre que
possível para diminuir o risco de perda óssea.
No caso clinico exposto, a paciente não
apresentava fatores de risco e, se não fossem
menor tempo possível, com um menor custo e DE VICO, G. et al. Rationale for tilted implants:
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Capítulo 97
Remoção de implante mal
posicionado e instalação imediata
de implante com enxerto xenógeno
e tecido conjuntivo
Larissa Ledo Pereira Sant´Ana
Maria Tereza Henrique
Matheus Jacobina
Júlio César Joly
Daiane Cristina Peruzzo
596
C
om o advento da implantodontia construir belas coroas cerâmicas sobre implantes
na década de setenta, novas (FRANCISCHONE; CARVALHO;
soluções foram propostas para a FRANCISCHONE JUNIOR, 2013).
reposição de dentes perdidos. Nesta época, os O posicionamento do término do preparo é
critérios de sucesso para implantes dentários eram de grande importância na transição entre a estética
ausência de dor, osseointegração e possibilidade branca e a rosa. (LOE 1963). Na região anterior da
dos mesmos de aumentar a retenção de próteses maxila, o posicionamento do implante será
totais (BRANEMARK et al., 1977). determinado pela necessidade de maximizar tanto a
Estudos de décadas como os de estética quanto a função. Alguns fatores devem ser
ALBREKTSSON et al. (1986) consolidaram a estudados no pré-operatório, como: linha do sorriso,
osseointegração. Porém, com o avanço de novas suporte labial, simetria facial, quantidade e
tecnologias, como: diferentes desenhos de qualidade de tecidos moles, perfil de emergência,
implantes, novos biomateriais, a reconstrução óssea tipo de componentes protéticos a serem usados e
guiada e técnicas de remoção de tecido mole, contorno futuro da restauração final (ASKARY,
estudadas por BUSER et al. 91991), BUSER 2004)
(19970, LEKHOLM (2001) entre outras, os Um planejamento reverso, capaz de
parâmetros de sucesso dos implantes dentários visualizar a finalização protética da reabilitação,
evoluíram. O conceito de sucesso foi revisto e a torna-se um instrumento fundamental para o
implantodontia de excelência é hoje uma exigência. sucesso dessas reabilitações. Como consequência
Inúmeros casos envolvendo complicações da falta desse planejamento, poderão surgir
estéticas, funcionais e biológicas têm trazido sequelas associadas aos erros de posicionamento
preocupações relacionadas às reabilitações tridimensional dos implantes, à presença de
implantossuportadas (FROUM et al., 2011) deficiências teciduais (ósseas e/ou tecidos moles) e
Diante disto, o retratamento de implantes ao manejo protético inadequado (JOLY;
dentários vem se tornando rotina na prática clínica. CARVALHO; DA SILVA, 2015).
Isso ocorre porque os critérios de sucesso deste A maioria dos problemas estéticos nas
tratamento não mais se resumem somente à reabilitações implantossuportadas situam-se na
osseointegração e ausência de dor. Para um região cervical das coroas protéticas. Esses defeitos
implante dentário ser considerado como sucesso estão associados à deficiência de tecido marginal e
clínico, o mesmo tem que apresentar alterações de cor. Para correção de defeito estético,
osseointegração aliada à função e estética. Um em casos de recessão marginal, uma alternativa é
sorriso estético considerado ideal deve estar optar, na primeira etapa, apenas pela colocação de
relacionado à harmonia entre a forma e contorno, um parafuso de cobertura para melhorar o
tanto das estruturas dentais quanto das periodontais posicionamento da margem. Essa manobra simples
Grande importância tem sido dada aos é utilizada com o objetivo de reduzir a recessão ou
tecidos vizinhos à reabilitação. É fundamental a até mesmo promover o fechamento espontâneo dos
compreensão pelo profissional de que a excelência tecidos na região coronal do implante (JOLY;
do tratamento se baseia no conjunto implante- CARVALHO; DA SILVA, 2015)
coroa-tecido gengival, e não apenas no ato de se O uso de biomateriais associado a enxerto
597
de tecido conjuntivo é de grande valia para a
obtenção de volume vestibular e mudança do
fenótipo gengival. O Bio-Oss® é uma hidroxiapatita
bovina mineral, e devido às suas propriedades
osteocondutoras, atua como um arcabouço,
permitindo a neoformação de capilares, de tecido
perivascular e migração de células oriundas do leito
receptor (SU-GWAN; HAK-KYUN; SUNG-
CHUL, 2001). O uso de enxerto de tecido
conjuntivo subepitelial no momento da instalação Figura 1 - Aspecto inicial da coroa sobre implante do 12.
do implante imediato na zona estética é uma opção
de tratamento efetivo para compensar a esperada
perda de volume vestibular e manter um bom
resultado estético ao longo do tempo (GRUNDER,
2011)
O profissional que executa uma
reabilitação com implantes, principalmente em área
estética, deve estar consciente de que a
previsibilidade do resultado estético é mais
dependente das características teciduais do paciente
do que da habilidade do cirurgião em realizar
procedimentos clínicos complexos (KOIS, 2001). Figura 2 - Constatação da intensa vestibularização do
implante.
relação aos dentes adjacentes, bem como (ASA), procedeu-se o planejamento integrado
implante, causando grande recessão marginal e Na análise da tomografia (figura 3), foi
desarmonia estética (figuras 1 e 2) verificada a presença do osso residual suficiente
para que o implante fosse colocado na posição
protética ideal, determinada no enceramento
diagnóstico.
598
gramas de amoxicilina, 1 hora antes. Como
medidas de assepsia extra-oral, foi utilizado o
digluconato de clorexinia a 2%, e intraoral, foi
solicitado ao paciente bochechar por 1 minuto
clorexidina a 0,12%. O anestésico utilizado foi a
mepivacaína 2% com epinefrina 1:1000.000UI.
Como alternativa para o tratamento do
implante mal posicionado foi escolhida a
explantação, realizada com o dispositivo próprio
(Retrieval , NOBEL®).
Essa abordagem, realizada com mínima
destruição óssea (figura 5), permitiu a colocação de
Figura 3 - Imagem tomográfica inicial.
outro implante e reconstrução tecidual simultânea.
Um novo implante foi instalado na posição
Seguidamente, foram solicitados exames 3D ideal (neodent® 3,5 x 13 mm) , com torque de
laboratoriais de rotina, para descartar doenças 32N.
sistêmicas, em que o paciente foi classificado O recobrimento das espiras expostas do
como ASA I. novo implante foi realizado com BioOss colagen®,
Quarenta e cinco dias antes da cirurgia, a além da colocação de um enxerto de tecido
coroa sobre o implante foi removida, com o conjuntivo removido do palato, com a finalidade de
objetivo de promover um fechamento espontâneo ganho tecidual na região vestibular do novo
dos tecidos ao redor do mesmo, e um coroa implante (figuras 06 e 07).
provisória foi instalada sobre um aparelho
ortodôntico inativo. Após este período, houve
grande crescimento de tecido gengival ao redor do
implante (figura 4).
Figura 6 - Implante instalado e espiras expostas Figura 8 - Rx periapical 6 meses após a instalação do
recobertas com bioss colagen®. implante.
Figura 8 – Reabertura.
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Capítulo 98
Conceito all-on-4 em carga
imediata: relato de caso clínico
Larissa Castro
Carlos Eduardo Francischone
Bruno Salles Sotto Maior
602
A
reabilitação oral em pacientes edêntulos cantiléver horizontal extenso de 20mm. Como
é um desafio que a odontologia atual consequência, tanto os implantes distais, quanto o
vem tentando superar por meio de tecido ósseo ao redor deles, eram submetidos a alto
implantes osseointegrados. índice de carga, o que poderia resultar em
Segundo o protocolo proposto por reabsorção óssea e consequente perda do implante.
Branemark et al., para alcançar a osseointegração, (DEL FABBRO et al., 2012).
os implantes devem permanecer por um periodo de No que diz respeito às mandíbulas
três meses na mandíbula e de seis meses na maxila, atróficas, uma dificuldade recorrente consiste na
sem receber cargas oclusais (ADELL et al., 1981). superficialização do nervo alveolar inferior. Nesses
Esse período de espera muitas vezes obriga os casos, a utilização dos implantes curtos na região
pacientes ao uso de próteses removíveis, que na posterior da mandíbula pode ser contraindicado
maioria das situações, são desprovidas de com o risco de violação do nervo. O mesmo
estabilidade e retenção, gerando desconforto e acontece nas maxilas reabsorvidas. A
eventuais problemas psicológicos e de convívio pneumatização do seio maxilar impede a instalação
social. Em decorrência disso, e muitas vezes devido de implantes posteriores sem que o paciente seja
ao grande apelo estético por parte dos pacientes, os submetido a um procedimento de enxertia óssea,
cirurgiões-dentistas estão submetendo os implantes aumentando a morbidade cirúrgica do caso (MALO
osseointegrados à carga imediata (SOTTO- et al., 2005).
MAIOR et al., 2008). Por conta disso, tem sido cada vez mais
A carga imediata pode ser definida como comum, a utilização dos implantes inclinados nas
sendo a instalação de um elemento protético sobre reabilitações das maxilas e mandíbulas edêntulas,
um implante, sem que tenha ocorrido ainda a sua sendo que no caso específico da mandíbula, a
osseointegração. A alteração do protocolo inicial inclinação dos implantes distais irá prevenir danos
proposto por Branemark começou nos anos 90 e foi no nervo alveolar inferior. Além disso, com a
baseada no perfil e anseios do paciente, evolução minimização do cantiléver, uma melhor distribuição
das técnicas cirúrgica e protética, assim como da de forças oclusais pode ser alcançada (DEL
macro e microestrutura do implante, relacionada ao FABBRO et al., 2012).
tratamento de superfície. Com a obtenção desses Em 2003, Maló e colaboradores
novos recursos tornou-se possível a ativação oclusal desenvolveram um protocolo cirúrgico permitindo a
imediata do implante, ao que hoje chamamos de instalação de 4 implantes instalados na região
carga imediata (PADOVAN, 2008). interforames, estando os implantes distais
Esse protocolo tem mostrado altas taxas de inclinados para distal, para alcançar uma melhor
sucesso em implantes que são submetidos ao biomecânica na prótese implantossuportada. A esse
carregamento logo após a sua fixação, protocolo foi dado o nome de All-on-4, e permite a
principalmente no que diz respeito ao edentulismo instalação de uma prótese provisória sobre os
total mandibular (PADOVAN, 2008). implantes até 2 horas depois do procedimento
Para a reabilitação das mandíbulas e cirúrgico (MALO et al., 2012).
maxilas edêntulas em carga imediata, inicialmente
eram instalados 5 a 6 seis implantes paralelos entre
si, o que na maioria das vezes resultava num
603
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Inicialmente, foi realizado exame clínico prótese total mucossuportada, para posterior
31, estando estas indicadas para extração devido ao O tratamento foi iniciado com a realização
grande comprometimento das mesmas (figura 3). de um planejamento protético prévio envolvendo a
604
obtenção dos modelos de gesso, montagem em
ASA, confecção de base de prova e plano de cera e
prova dos dentes em cera, para posterior confecção
de um guia multifuncional que serviu como guia
cirúrgico, orientando na correta posição dos
implantes, e como moldeira e registro para a
realização da carga imediata.
Ao final do preparo protético prévio, a Figura 6 - Implantes instalados utilizando o conceito All-
on-4.
paciente foi submetida ao procedimento cirúrgico.
Foram realizadas as extrações das unidades
Os implantes anteriores foram instalados
dentárias comprometidas, seguida de incisão
obedecendo o paralelismo entre eles e mais ou
mucoperiosteal na crista do rebordo remanescente e
menos na região dos incisivos laterais, enquanto
descolamento do retalho total, que permitiu a
que os implantes distais foram inclinados para
identificação dos nervos mentonianos. A
distal, com o objetivo de otimizar o polígono de
localização dos nervos mentonianos se faz
Roy e minimizar o cantiléver, uma vez que a
importante já que os implantes distais devem ser
distalização dos implantes permite a cavidade de
posicionados no mínimo 3 mm para anterior do
acesso ao mesmo, saindo na mesa oclusal do
nervo. Foram removidas inserções fibrosas
primeiro molar. A sequência cirúrgica das
presentes na superfície óssea e realizada
perfurações seguiu o protocolo convencional de
regularização do rebordo alveolar, com o objetivo
diâmetros progressivos, atentando-se para os
de formar um platô que proporcionará espessura
cuidados com a irrigação abundante e utilização de
adequada à região das perfurações e instalação dos
brocas novas, para minimizar necrose óssea. Por se
implantes (figura 5).
tratar de uma prótese tipo protocolo, optou-se pela
utilização de 4 implantes cilíndricos, com conexão
hexagonal externa, tendo sido o travamento dos
mesmos com torque acima de 32 N/cm,
apresentando estabilidade primária suficiente para a
utilização da filosofia da carga imediata. Após a
instalação dos implantes, procedeu-se a colocação e
torque dos mini-pilares. A seleção da altura da cinta
Figura 5 - Aspecto pós-exodontia e realização do platô. dos intermediários foi realizada nesse momento,
respeitando a quantidade de tecido mole presente.
Com a orientação do guia multifuncional Nesse caso, foram instalados mini-pilares com
personalizado, foram realizadas as perfurações e altura de 2 mm, recebendo cada um deles, torque de
perímetro do arco, optou-se pela realização do cirúrgica, enfim, foi finalizada com sutura simples
conceito All-On-4, sendo os quatro implantes com fio reabsorvível Vicryl 4.0 (figura 7).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
anatômicas nobres vizinhas. Além disso, a SOTTO MAIOR, B. S. et al. Carga Imediata: relato
de caso clínico. Estação Científica, p. 1-6, 2008.
inclinação dos implantes distais permite uma
minimização do cantiléver e uma melhor
distribuição de forças oclusais pode ser alcançada.
O conceito All-on-4 em carga imediata
abriu novos horizontes para a reabilitação oral,
representando mais uma alternativa terapêutica de
devolução das condições mastigatória funcional e
estética aos pacientes.
REFERÊNCIAS
D
esde muito tempo os mais os riscos e aumentar sempre o poder funcional e
Procedimentos pré–cirúrgicos
Paciente do gênero feminino, com
Foi prescrita como medicação antibiótica
ausência do 2o pré-molar superior esquerdo (dente
pré e pós operatória, a associação de amoxicilina e
15), apresentava boa condição de saúde e ausência
clavulanato. A paciente também foi orientada a
de enfermidades que pudessem contraindicar o
realizar bochecho com solução de digluconato de
procedimento cirúrgico. Após exame clínico, foi
clorexidina 0,12%.
solicitado um exame radiográfico da região (figura
1).
Procedimento cirúrgico
Após a anestesia da região vestibular e
palatina, foi realizado um retalho do tipo total, com
uma incisão no centro da crista. Com o auxílio de
um guia cirúrgico, a posição ideal do implante foi
delimitada e a abertura do rebordo foi realizada
com uma broca esférica. O leito do implante foi
Figura 1 - Aspecto radiográfico da região. preparado a uma distância de aproximadamente
616
2 mm abaixo do assoalho sinusal, com uma broca
piloto de diâmetro reduzido. Em seguida, iniciou-se
o uso do osteótomo de menor diâmetro (figura 3).
manobra de Valsalva: se o ar escapar pelo leito do Foi recomendado à paciente manter o uso
implante, a membrana sinusal está perfurada e do antibiótico por dez dias. Além disso, foram
Neste caso descrito, a membrana estava íntegra e o analgésica, bem como a utilização de solução de
preparo foi preenchido com material de enxerto, bochecho de clorexidina 0,12%, por duas semanas.
como preconizado por PJETURSSON (2009). Após um período de seis meses, o tratamento
repetido quatro vezes, sempre testando a resistência foram realizados para avaliar a estabilidade da
REFERÊNCIAS
A paciente iniciou o tratamento com (CANTO et al, 2010). Faz-se necessário, também,
(0,05%) duas vezes ao dia. Após 15 dias, a mesma outros sítios anatômicos, por exemplo, a mucosa
retornou ao consultório, com melhora significativa vulvo-vaginal, uma vez que há relatos importantes
do quadro clínico (figura 3). de uma variante mais agressiva do líquen plano
descamativo da gengiva, que causa cicatrizes
severas e perda de função, conhecido como
síndrome Vulvo Vagino Gengival (VVG)
(SETTERFIELD et al., 2006). A pele, o couro
cabeludo e as unhas também devem ser avaliados,
uma vez que se trata de uma condição mucocutânea
podendo se manifestar em qualquer local da pele,
unhas ou das mucosas (GOROUHI et al., 2014);
A destruição da camada de células basais
do epitélio dos pacientes acometidos com esta
condição pode ser explicada pela presença de
Figura 3 – Quadro clínico do paciente após 15 (quinze) antígenos reconhecidos erroneamente como alheios
dias. ao organismo pelos linfócitos T do hospedeiro, que
podem, então, se tornar células citotóxicas para as
células epiteliais (Eisenberg; Krutchkoff, 1992).
A paciente foi orientada e encontra-se em
Embora bastante tênue, há evidência de que este
acompanhamento anual.
processo inflamatório crônico do LPO esteja
associado a um risco aumentado de transformação
DISCUSSÃO
maligna a longo prazo, quando comparado à
mucosa clinicamente normal (van der Waal I,
O diagnóstico do LPO consiste em um
2014). Assim, recomenda-se acompanhamento
esforço multidisciplinar que envolve a necessidade
criterioso destes pacientes (CRUZ, 2009).
de dados clínicos minuciosos combinados a um
625
O tratamento do LPO tem como objetivo ia considerar tratamento alternativo ao invés de
aliviar os sintomas e minimizar o impacto funcional prolongá-lo.
da doença. Devido à falta de consenso na
etiopatogenia da doença, as modalidades
CONSIDERAÇÕES FINAIS
terapêuticas também são variadas, de forma que não
há uma abordagem única que resolva todos, ou pelo
Gengivite descamativa é uma manifestação
menos, a maioria dos casos de LPO. São
relativamente rara do líquen plano oral. Devido à
importantes os cuidados de higiene oral (Stone et
sua associação com a síndrome VVG, o
al., 2013), principalmente os periodontais (Salgado
encaminhamento ao ginecologista deveria ser
et al., 2013) quando houver lesões gengivais, já que
considerado. Preparados tópicos de
o acúmulo de biofilme e cálculo, a despeito de não
corticosteroides, especialmente propionato de
serem a causa do problema, podem agravar a
clobetasol, podem auxiliar o manejo das
inflamação local e exacerbar a atividade da doença
manifestações e sintomas gengivais, embora estes
(Nico et al., 2011). O tratamento medicamentoso
devam ser combinados com um regime rigoroso de
mais frequentemente utilizado é o uso tópico de
controle de biofilme.
corticosteroides, sejam na forma de enxaguatórios,
pomada ou géis orabase, embora as lesões
gengivais descamativas responderem melhor a REFERÊNCIAS
medicamentos sistêmicos (SETTERFIELD et al.,
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corticosteroides, é necessária cautela para que o
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tratamento não se prolongue demais, prevenindo Sistêmicas de Origem Auto Imune/Dermatológicas-
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Capítulo 103
P
ASQUALI; FREITAS, 2016, no caso observando assim, um índice de 97,86% de taxa de
clínico presente, foram utilizados os sobrevivência depois de 36 meses em que foram todos
principais conceitos de prótese, os pacientes reabilitados protéticamente, por prótese
periodontia, implantodontia, e estética facial. A tipo protocolo. Ainda no ano de 2012, os mesmos
integração entre as áreas odontológicas é de extrema autores, novamente, via revisão sistemática, também
necessidade para se obter os melhores resultados avaliaram dos anos de 1995 a 2010, em estudos
clínicos. Com o crescimento da demanda em publicados, num total de 45, em que estava se
solucionar casos clínicos cada vez mais complexos, o observando a estética sobre implante, e concluiu-se que
profissional busca a interdisciplinaridade do seu os resultados das próteses sobre implantes são
conhecimento para em uma conduta isolada, resolver e definidos por uma abordagem multidisciplinar, desde o
equilibrar casos clínicos nos quais muitos pacientes planejamento até a inserção da prótese final.
ficam sem saber qual o melhor caminho para atingir Diante de tantas possibilidades na
seu anseio estético facial. implantodontia, é importante salientar que nas
Com o advento nos anos 60 da reabilitações de pacientes em que está em jogo a
implantodontia, e seu total reconhecimento nos anos região estética anterior, temos que evidenciar a
80, desde então, a implantodontia evoluiu muito, e importância também da área da periodontia, que faz
passou a ser utilizada como uma técnica com um sua parte com o intuito de equilibrar a parte de tecidos
prognóstico extremamente previsível. Isto tudo, moles, chamada de estética vermelha, fortalecendo,
somado aos materiais e técnicas novas desenvolvidas ainda, a prótese com seus alicerces de ajustes e
pela prótese dentária, tem se chegado a resultados equilíbrio, dando a sustentação para a durabilidade da
finais que há algumas décadas atrás nem se imaginava reabilitação de cada caso a ser transformado, levando
atingir. seus novos conceitos a resultados estéticos animadores.
Por meio de uma revisão sistemática Sendo assim, podemos concluir que a prótese carrega
(SORNÍ et al., 2005), concluíram que a reabilitação por consigo quase todas as especialidades para, juntos,
meio de implante convencional de maxilas poderem atingir uma melhor harmonização facial.
desdentadas tem mostrado grande previsibilidade
quando tiver quantidade suficiente de osso DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
remanescente, conseguindo, com isso, atingir taxas de
sucesso de 84-92%. Também realizaram instalação de Paciente do sexo feminino, com idade de
implantes em áreas enxertadas e não enxertadas, e 52 anos, em busca do seu maior sonho, ter seus dentes
concluíram que, na segunda forma, os implantes se individualizados novamente. Após anamnese criteriosa,
osseointegram de melhor forma e obtém uma exame clínico, e informações da intenção da paciente,
estabilidade primária melhor, conseguindo assim, as percebi que estava diante de uma paciente com pouco
reabilitações com maior segurança, inclusive em entendimento técnico, mas com um maravilhoso
regiões pterigoideas. compromisso consigo mesma, de buscar e resgatar suas
Em estudo realizado por meio de uma revisão relações faciais, funcionais e estéticas perdidas (fig.1).
sistemática com implantes zigomáticos (GOIATO Diante de tal desafio, foi requisitada a realização de
PELLIZZER; MORENO, 2014), avaliaram 751 casos, exames complementares laboratoriais, tomográficos
nos quais, após a filtragem, restaram 25 deles, (figura 2) e a realização de modelos para estudo.
629
Após análise dos exames complementares, 11 próteses sobre implante individualizadas e
observou-se ser um caso extremamente crítico e parafusadas do sistema E.max (figura 6), o que fez com
desafiador, mas estimulante devido à complexidade. que a paciente tivesse um conforto em sua
Foi proposta à paciente reabilitação total, em busca da higienização, uma confiança em seu efeito funcional, e
devolução de planos oclusais para restabelecer seu por fim, a realização do seu grande sonho, dentes
reequilíbrio facial. individuais com estética e funcionalidade.
A paciente apresentava o seguinte quadro Após nove meses do início do tratamento, foi
clínico: portadora de prótese parcial removível possível a conclusão e realização do ¨sonho da
superior, com remanescentes dentários em razoável paciente¨, ocasião em que foram feitos os acessos aos
estado de implantação óssea, sendo os elementos 16, implantes via remoção gengival (figuras 7,8,9).
13, 12, 11, 21, 22, 24 e 27, com um desnível de
contorno gengival extremamente fora dos padrões
estéticos (figura 3). A paciente relatava que “não sorria
mais, porque somente mostrava os dentes do lado
direito”.
Foi realizado no mesmo ato cirúrgico:
exodontia dos elementos 11, 12, 21, 22, 22, e realizada
a instalação dos implantes dentários nos alvéolos dos
mesmos dentes onde foi feita a exodontia, e
Figura 1 – Foto frontal.
aindarealizado o enxerto ósseo na região dos elementos
22, 23, 24, bem como o levantamento bilateral de
assoalho seio maxilar (figura 4).
Previamente, foi confeccionada uma prótese
removível provisória, para que a paciente pudesse ter
relacionamento social e ter uma estabilidade funcional
provisória.
Passado seis meses, a paciente retornou para a Figura 2 – Tomografia inicial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
S
em seu consultório, vem sendo cada vez correta instalação dos implantes dentários. A clínica
mais requisitado a trabalhar em conjunto ortodôntica, cada vez mais, vem sendo requisitada
com outros colegas especialistas devido às para trabalhar em conjunto com outras
imensas possibilidades de melhoria no especialidades devido às imensas possibilidades de
prognóstico de tratamentos integrados. Cabe a cada melhoria no prognóstico de tratamentos integrados
especialista interagir, cada vez mais, com todas as que a movimentação dentária proporciona. A perda
outras especialidades, de modo a procurar traçar o precoce de primeiros molares permanentes em
melhor plano de tratamento para os pacientes, bem pacientes adultos é comumente observada em
como lhe oferecer opções de tratamento que melhor consultórios odontológicos, podendo causar
se adeque a cada caso. inclinação e migração de segundos e/ou terceiros
Planejamento é um conjunto de molares para o espaço protético, prejudicando todo
procedimentos que o profissional realiza para obter sistema estomatognático, além de dificultar o
sucesso nas fases do tratamento. Migrações e tratamento da maloclusão (JANSON; ANSON;
extrusões podem ser observadas e corrigidas por FERREIRA, 2001). Uma série de problemas pode
meio de um tratamento interdisciplinar, envolvendo vir a se instalar a partir do posicionamento incorreto
endodontia, ortodontia e as próprias reabilitações de um elemento dental. No caso das mesio-
protéticas (FRANCISCHONE; MENUCI, 2009). inclinações de molares, podemos abordar várias
Um planejamento reabilitador, dificilmente poderá destas consequências. A presença e
ser realizado sem uma interação de especialidades, desenvolvimento de uma oclusão traumática é
inclusive considerando, em alguns casos, correções praticamente inevitável e é muito citada na
por meio de cirurgia ortognática, equilibrando a literatura, relacionada, por vezes, a contatos
estrutura esquelética e funcional do paciente. prematuros em Relação Cêntrica e, por outras, as
Objetivamos nesse artigo, relacionar principalmente interferências oclusais em movimentos excêntricos
a importância de um planejamento integrado entre a ou de látero-protrusão. Quando a ausência ocorre na
ortodontia e a implantodontia, e porque não dizer região dos primeiros molares superiores,
com a prótese dentária, interação essa tão comumente ocorre a pneumatização do seio
necessária, para uma correta reabilitação oral. maxilar, necessitando, também, previamente à
Muitas opções passam a ser vislumbradas a partir instalação do implante, a realização de enxerto
do momento em que um especialista conhece um ósseo em seio maxilar. Uma alternativa aos
pouco mais as possibilidade ou limitações enxertos Autógenos, e que está sendo utilizada
pertinentes a outra especialidade. ultimamente, são os Alógenos que são os enxertos
Um dos problemas encontrados pelos de Osso de Banco, ou de Banco de Ossos, também
implantodontistas no momento de planejar uma denominado Osso Fresco Congelado (FFB), os
reabilitação protética é a falta de um espaço quais são oriundos de seres humanos doadores de
protético adequado, o qual fica a cargo de um órgãos. O FFB tem a vantagem de não promover
reposicionamento dentário por meio da ortodontia, morbidade, de se poder obter osso em grande
de forma a criar uma condição oclusal adequada e quantidade a custo reduzido. O congelamento em
um bom posicionamento radicular dos dentes 12 a 24 horas do osso doado mantém as
634
propriedades osteoindutivas e osteocondutivas,
assim como também mantém inalteradas as BMPs.
(CHIAPASCO et al., 2013). Este relato de caso
clínico demonstra a importância de um
planejamento integrado entre as especialidades
odontológicas para uma correta reabilitação oral do
paciente.
seio maxilar é um procedimento utilizado para Preparou-se o osso de banco, o qual foi
enxerto quando não há osso na parte posterior do misturado com o sangue coletado da paciente da
maxilar superior, e o objetivo é aumentar a própria região operada, e a mistura foi levada,
quantidade óssea em altura para permitir uma então, para dentro da cavidade antral, agregando a
reabilitação com implante dentário. Optou-se, neste camada de encontro à parede anterior e posterior da
caso, pelo uso de Osso de Banco triturado, também parede maxilar, com compressão por gaze
denominado Osso Fresco Congelado (FFB), os levemente umedecida com soro fisiológico.
órgãos. O FFB tem a vantagem de não promover se novamente o tecido mole no devido local. A
morbidade, de se poder obter osso em grande sutura foi realizada com fio não reabsorvível de
Procedimento cirúrgico
Antibiótico sistêmico foi administrado
(amoxicilina 500 mg) 1 hora antes do procedimento
e continuou por sete dias. A assepsia da face foi
realizada com solução de clorexidina a 2%.
Anestesia infraorbitária, subperióstica
infiltrativa em região de pré-molares e molares.
Anestesia do palatino maior e infiltrativa palatina. Figura 6 – Preenchimento com tecido ósseo de banco
REFERÊNCIAS
D científicas
implantes,
procedimentos
nas
a
cirurgias
busca
cirúrgicos
menor morbidade, mas que possuam uma capacidade
para
por
com
se mostra um procedimento desafiador, devido à
frequência com que as brocas resvalam e se desviam
durante a perfuração do septo, levando a uma alteração
do posicionamento ideal do implante, comprometendo
de criar condições satisfatórias para a reabilitação com assim, os resultados protéticos e biológicos da
implantes, é uma necessidade (LANG et al, 2012). reabilitação. Na técnica apresentada, a manutenção das
Várias técnicas para a preservação do osso alveolar raízes dos dentes promovem uma estabilização das
após exodontias têm sido indicadas com o objetivo de brocas durante a fresagem do septo, proporcionando
manter o arcabouço peri-implantar e viabilizar a um maior controle durante a perfuração.
colocação de implantes de maneira previsível
(BECKER, GOLDSTEIN 2008). DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Paciente 2
Paciente do sexo masculino, 33 anos de idade,
com boa condição sistêmica, foi encaminhado para
exodontia do dente 16, devido a uma extensa Figura 1 - Perfuração do assoalho da câmara pulpar.
destruição coronária em decorrência de lesão cariosa,
sendo indicada a implantação imediata.
Foi realizada anestesia local, e a remoção do
cimento de óxido de zinco e eugenol, que preenchia a
câmara pulpar, com baixa rotação. A perfuração
através do assoalho da câmara pulpar foi iniciada com
uma broca zekrya e continuada com a sequência de
brocas preconizada pelo fabricante do implante (Figura
4). A exodontia foi realizada através de odontosecção
das raízes, com a utilização do periótomo para tornar o
procedimento minimamente traumático (figura 5). Em
seguida, foi colocado um implante de corpo cilíndrico
com interface Cone Morse (TitamaxCM® EX – Figura 2 - Prevervação do septo inter-radicular.
Neodent) de 3,75mm x 11mm.
O implante atingiu torque de 40N; logo após
foi colocado o parafuso de cobertura (figura 6). O
alvéolo foi selado com um plug de L-PRF e
estabilizado com uma sutura em “X” (figura 7).
As técnicas de tratamento imediato têm uso do L-PRF após sua compressão permite sua
ganhado uma maior aceitação e destaque entre os utilização como membrana no defeito ósseo desejado
profissionais e pacientes, devido sua previsibilidade e a (TOFFLER, 2014). Este concentrado apresenta todos
643
os constituintes do sangue favoráveis à cicatrização e DOHAN, D.M. et al. Platelet-rich fibrin (PRF): a
second-generation platelet concentrate. Part I:
imunidade (CHOUKROUN et al., 2006). Sua
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A fresagem inter-radicular é uma técnica success rates of implants placed immediately into fresh
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radiculares condenados. Quando indicada
MALCHIODI, L. et al. Evaluation of the esthetic
corretamente, permite a instalação de implantes results of 64 nonfunctional immediately loaded
postextraction implants in the maxilla: correlation
imediatos, reduzindo o número de intervenções
between interproximal alveolar crest and soft tissues at
cirúrgicas. Desta forma, esta técnica propicia uma 3 years of follow-up. Clinical Implant Dentistry and
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Capítulo 106
L-PRF para proteção de área
enxertada com osso autógeno e
otimização da cicatrização dos
tecidos moles previamente à
instalação de implante
osseointegrado
ao sistema
proliferação
imunológico
GHANAATI et al., 2014).
e
(FROUM
diferenciação
deposição de matriz extra-celular, angiogênese e suporte
et al.,
celular,
2002;
REFERÊNCIAS
O
s implantes dentários falhas tardias são devido a eventos patológicos que
osseointegrados tornaram-se uma envolvem implantes previamente osseointegrados, mas,
importante modalidade terapêutica mal posicionados. Um exemplo de falha tardia é a
nas últimas décadas, oferecendo aos pacientes uma fratura de implante que, embora rara, pode causar
solução estética e funcional com índices de sucesso problemas significativos tanto para os profissionais,
entre 90 e 95% (ADELL et al., 1990; LEKHOLM et quanto para os pacientes. O tratamento desta situação
al., 1990), mas este sucesso é dependente de um bom normalmente passa pela remoção do implante (ZANI et
planejamento cirúrgico para obter o bom al., 2009) que é feita com trefina ou osteotomia ao
posicionamento do implante (MARTINI, 2010). No redor do mesmo o que aumenta o defeito ósseo,
entanto, infelizmente, está ocorrendo um aumento do necessitando de cirurgias reconstrutivas e
número de pacientes insatisfeitos com a estética do proporcionando uma maior morbidade para o paciente.
trabalho protético e, normalmente, relaciona-se ao mal FROUM, 2008; MARCANTONIO; DELLA
posicionamento do implante COLETA, 2008 relataram dois casos clínicos bem-
Segundo (MARCANTONIO; DELLA COLETA, sucedidos a partir da ação de distrator alveolar.
2008), a má posição dos implantes e o alongamento da Considerando que a remoção do implante mal
coroa estética têm íntima relação com estas queixas e posicionado provoca defeito ósseo importante no
situações clínicas de atrofia óssea e ausência de guia processo alveolar, e que os distratores alveolares
cirúrgico, contribuem para implantes mal posicionados requerem fixação no osso para sua ação efetiva, foi
(ROCCHIELTA, 2008). desenvolvido um dispositivo reposicionador que é
CHEE (2007) classifica o insucesso dos fixado diretamente no implante e independe de fixação
implantes em quatro categorias: falta de no osso adjacente, mas que se baseia nos conceitos da
osseointegração, fracasso no posicionamento, defeito técnica da Distração Osteogênica, primeiramente
no tecido mole e fracasso biomecânico. Entre fracassos descrita por CODIVILA, 1905, quando reportou o
devido ao mau posicionamento, os implantes que ficam aumento de um fêmur e, posteriormente por
vestibularizados requerem o uso de componentes ILIZAROV, 1989, e que consiste na reconstrução do
angulados para ter um longo eixo de inserção da esqueleto e aumento ósseo, sem a necessidade de
prótese mais favorável, o que ocasiona aumento de enxerto.
volume na mucosa vestibular que pode provocar Assim, o objetivo deste relato clínico foi
retração de mucosa peri-implantar, exposição da cinta apresentar um dispositivo reposicionador de implante
metálica do componente e/ou coroa alongada. Outra osseointegrado como alternativa para os casos da
situação de fracasso no posicionamento está Implantodontia que não tenham solução protética
relacionado à profundidade do implante que necessita favorável.
de componentes protéticos com cinta transmucosa
maior que 5 mm, o que provoca, na maioria das vezes, DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
reação inflamatória peri-implantar e incômodo ao
paciente. AM, feminino, 54 anos, procurou atendimento
(PIATTELLI et al., 1998) relataram que as por queixa estética em prótese individual
falhas precoces, antes da instalação do pilar protético, confeccionada sobre implante na região do incisivo
são ocasionadas por problemas durante a cirurgia. Já as superior direito. Após a avaliação clínica e radiográfica
653
(figura 1), foi proposto o reposicionamento do implante
por meio do Dispositivo Reposicionador de Implante
(DRI) (figura 2). As próteses dos dentes 11 e 21 foram
removidas (figura 3) sendo confeccionadas próteses
provisórias ferulizadas com o cilindro do DRI no seu
interior. Após realizar a anestesia terminal infiltrativa,
incisão trapezoidal e descolamento do retalho (figura
Figura 3 – Remoção das Próteses.
4), procedeu-se a corticotomia (figura 5) com motor
Piezoelétrico. Na sequência, o DRI foi instalado no
implante, o que possibilitou observar se o bloco ósseo
que continha o implante estava com movimento livre
sendo que o retalho palatino permaneceu intacto. Na
região vestibular, foi usado um biomaterial inorgânico
com o objetivo de melhorar o contorno do processo
alveolar (figura 6) e, posteriormente, foi realizada a Figura 4- Deslocamento retalho.
Os implantes osseointegrados têm sido usados entanto, seu uso necessita de um planejamento
É consenso entre muitos autores, no que diz CODIVILA, A. On the means of lengthening in the
lower limbs the muscles and tissues which are
respeito ao esgotamento de todas as possibilidades de shortened through deformity. The American Journal of
tratamentos alternativos, antes da indicação da técnica Orthopedic Surgery, v. 54, p. 45-53, 1905.
da osteotomia segmentar. Entretanto, existem casos em FROUM, S. J. et al. Distraction osteogenesis for ridge
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que “abutments” angulados, sobre contorno em coroas complications: thirty case reports. The International
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Capítulo 108
Utilização de cicatrizadores
personalizados em implantes
imediatos
Raphael Amorim Cangussu
Diogo Nunes Miguel de Oliveira
Bruno Salles Sotto Maior
Paulo Sérgio Perri de Carvalho
657
A
implantodontia vestibular, processo biológico que ocorre após a
moderna sofreu grandes extração dentária (ARAÚJO; LINDHE, 2005;
mudanças nos últimos anos no ARAÚJO et al., 2008; FICKL et al., 2008). O que a
que diz respeito aos materiais e literatura mostra dos materiais disponíveis no
conceitos. A obtenção de função e reabilitação mercado para enxerto ósseo é que o preenchimento
estética, similares à dentição natural, é cada vez de osso autógeno resulta em uma contração de 25%
mais almejada, e que seja estável ao longo do de volume, enquanto que a matriz mineral bovina
tempo. O protocolo de tratamento com implantes em apenas 3% (ARAÚJO et al., 2015).
imediatos têm possibilitado uma manutenção dos Toda essa remodelação óssea alveolar é
tecidos peri-implantares ao invés das sequelas de mais pronunciada na parede vestibular, por
atrofia do rebordo pós-exodontia. apresentar uma espessura em média menor que 1
O conhecimento da fisiologia e biologia do mm e ser nutrida pelo ligamento periodontal.
osso alveolar é de fundamental importância para a (JANUÁRIO et al., 2011). Em virtude de toda essa
decisão do momento ideal para instalação do problemática, é indicada a colocação de uma matriz
implante dentário. Existem algumas classificações mineral bovina de lenta reabsorção nos espaços
na literatura, sendo a mais utilizada a de Hämmerle vazios do alvéolo dentário, conhecido como ”gap”,
et al., que é dividida em 4 momentos – tipo 1: diminuindo assim, essa perda de volume tecidual,
implantação imediata (no mesmo momento da evitando um futuro defeito estético (ARAÚJO;
extração); tipo 2: implantação precoce com LINDHE, 2005; RÖE, 2012).
reparação de tecido mole (entre 4 e 8 semanas após Sempre que possível, a temporização
a exodontia); tipo 3: implantação precoce com imediata é a melhor opção, visto que o fator
reparação óssea parcial (entre 12 e 16 semanas); e primordial é a estabilidade primária do implante ser
tipo 4: implantação tardia (6 meses ou mais após a superior a 32N.cm, bem como aspectos oclusais.
exodontia) (HÄMMERLE; CHEN; WILSON, Caso esta estabilidade não seja alcançada, outras
2004) abordagens podem ser indicadas, como prótese
Alguns fatores se tornam críticos quando a adesiva com o provisório em forma de pôntico
modalidade de tratamento de implante imediato é inserido apicalmente 2 a 3 mm dentro do alvéolo.
selecionada, sendo eles: quantidade de osso Outra alternativa muito interessante é o cicatrizador
remanescente apicalmente à raiz dentária e na personalizado.
região palatina, grau de infecção alveolar, qualidade O cicatrizador personalizado é
dos tecidos moles peri-implantares, quantidade do confeccionado a partir do componente provisório de
ósseo vestibular (BUSER et al., 2008; JOLY; titânio utilizando resina fluida. O espaço vazio entre
CARVALHO; DA SILVA, 2015). o componente e a margem gengival é preenchido de
Como principais vantagens, têm-se a maneira a não comprimir os tecidos peri-
redução do tempo total de tratamento, número de implantares, e o cicatrizador é devidamente polido
intervenções cirúrgicas diminuídas e preservação da para uma melhor acomodação destes tecidos, visto
arquitetura tecidual quando a provisionalização que os fibroblastos são células que se aderem à
imediata puder ser associada. No entanto, nenhum superfície lisa, favorecendo assim, um forte
procedimento até hoje descrito na literatura foi selamento e manutenção do arcabouço tecidual
capaz de interromper a reabsorção da tábua óssea (JOLY; CARVALHO; DA SILVA, 2015).
658
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Figura 8 - Odontosecção do 26 com fresagem para Figura 10 - Levantamento do assoalho do seio maxilar
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reconstrução de pré-maxila
atrófica por meio de regeneração
óssea guiada de implantes e prótese
fixa implantossuportada
______________________________
Rafael Lacerda Zandoná
Sérgio Candido Dias
664
O
edentulismo, sendo ele total ou proporcionem neoformação óssea (CORDARO;
parcial, implica na maioria dos AMADÉ; CORDARO, 2002). Os diferentes tipos
casos, em diminuição das de materiais empregados em membranas ou
funções fonéticas e mastigatórias, além de muitas enxertos possuem características clínicas distintas
vezes, alterando aspectos de formação psicológica e que podem interferir na promoção óssea. Além
social do paciente (BALAJI, 1970; BRÅNEMARK, disso, o grau de reabsorção óssea apresentado por
1975; LEKHOLM; ZARB, 1985). determinado sítio, na maioria das vezes, define qual
A implantodontia surgiu da necessidade de técnica deve ser aplicada como definem (AYUB et
substituir ou recolocar dentes naturais perdidos, na al., 2011).
tentativa de atender razões estéticas e funcionais Telas de titânio para contenção de enxertos
que as próteses convencionais não resolviam ósseos particulados, tem sido usadas desde 1970,
satisfatoriamente (BRANEMARK; ZARB; quando foram primeiramente descritas por Boyne
ALBREKTSON, 2001). Avanços na compreensão (BOYNE, 1970). Este autor popularizou o uso de
da osseointegração e no desenvolvimento de telas de titânio associadas a tecido ósseo
técnicas de colocação que asseguram uma taxa de particulado proveniente do ilíaco e destacou que,
alto sucesso têm resultado em mais aplicações para principalmente a facilidade de colocação das telas
os implantes (ATWOOD, 1971). se mostrou como um ponto vantajoso para a técnica
Um dos fatores locais que mais (RAKHMATIA et al., 2013).
influenciam na decisão da possibilidade, de como A associação das técnicas de ROG e
será a cirurgia e, principalmente, qual será o implantes em um único ato cirúrgico acelera o
prognóstico, é a quantidade e qualidade do tecido processo de reabilitação do paciente, pois permite
ósseo presente (MISCH, 2004). O sítio do implante que a prótese possa ser instalada em um menor
deve ter boa vascularização, além de uma tempo, o que oferece inúmeros benefícios ao
quantidade adequada tanto de tecido ósseo cortical paciente reabilitado.
como de tecido ósseo trabecular. A classificação da
qualidade óssea mais usada é a proposta por DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Lekholm e Zarb (LEKHOLM; ZARB, 1985).
Segundo Jensen, Sindet-Pedersen e A paciente ASS, idade 36 anos, do gênero
Enemark (1998), na maxila, ocorre uma associação feminino, apresentava ausência dos elementos 11,
de atrofia severa com uma tendência dos pacientes 21, 12 e 22 (figura 1) e, no local, utilizava uma
debilitarem severamente a pré-maxila, pois prótese removível que não supria suas necessidades
adquirem o habito de mastigar com os dentes funcionais e estéticas.
anteriores inferiores.
O conceito de Regeneração Óssea Guiada
(ROG) propõe que a regeneração de defeitos ósseos
seja obtida de forma previsível com a utilização
barreiras. As células não-osteogênicas do tecido
mole são excluídas mecanicamente, permitindo que
células ósseas oriundas das paredes do defeito
665
Figura 1 - Aspecto inicial da paciente. Figura 3 - Sítio de remoção do tecido ósseo para enxertia.
Figura 2 - Atrofia óssea observada durante cirurgia. dos implantes e devolver o volume ósseo ao local,
foi no mesmo ato cirúrgico, realizada Regeneração
Este quadro, além de impedir a instalação Óssea Guiada com membranas de titânio e o tecido
de implantes, comprometia a estética pela falta de ósseo já particulado (figuras 5, 6 e 7).
suporte labial. Assim, foi proposta a realização de
procedimento de enxertia óssea com utilização de
tecido ósseo autógeno. Como área doadora foi
escolhida a região ramo mandibular.
Com a utilização de brocas (701 e
Linderman) foi removido um bloco ósseo do ramo
mandibular (figura 3). Posteriormente, o tecido
ósseo foi particulado para ser utilizado no
procedimento de ROG (figura 4).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste caso clínico, fica demonstrado que a
realização de instalação de implantes
simultaneamente à realização de enxertia óssea por
meio de Regeneração Óssea Guiada, diminui o
tempo de espera para a instalação da prótese fixa, o
que traz inúmeros benefícios ao paciente
Figura 7 - Membranas de titânio sobre o tecido ósseo
reabilitado.
enxertado.
H
á uma tendência muito alta dos A cerâmica de zircônia é obtida pela
tratamentos odontológicos, compactação do óxido metálico de zircônio (ZrO 2 ) sob
protéticos, de cada vez mais serem altas temperaturas, próximas ao seu ponto de fusão.
livres de metal pela busca de melhores resultados Processo esse denominado por sinterização, que produz
estéticos. A zircônia é um excelente substituto de peças uma estrutura livre de sílica, existente nas porcelanas
metálicas e também é uma das cerâmicas mais convencionais (feldspáticas). Estrutura essa que se
promissoras que vemos na odontologia, por suas torna ácido resistente, visto que com o ataque de ácido
propriedades biomecânicas e de biocompatibilidade fluorídrico em estruturas com sílica tornam-se rugosas
(KELLY; BENETTI, 2011). e formam-se micro retenções que irão melhorar a união
Houve uma resistência do mercado perante a com os materiais cimentantes. A ausência de sílica
zircônia, pois se entendia pouco de suas características compromete ainda mais pelo processo de silanização,
e comportamentos biomecânicos, e por causa disso, seu pois o agente silano, componente com afinidade
insucesso no mal emprego clínico. O maior exemplo química por sílica, não encontra meios de estabelecer
disso são as fraturas de pilares de Zr sem links qualquer ligação molecular (Vagkopoulou et al., 2009).
metálicos em implantes de conexões internas, que A zircônia está muito presente quando
ocorriam pela propagação das micro trincas, que falamos em prótese dentária, e sua aplicação em
ocorrem no envelhecimento natural da Zircônia, nas diversas formas de tratamento, seja sobre implante ou
regiões internas de conexão implante-abutment. Porém, dente, pontes convencionais ou coroas unitárias fixas,
a alta resistência flexural dessa cerâmica odontológica mas o que impulsionou a sua utilização foi a inserção
ainda lhe confere uma confiança clínica muito alta da tecnologia CADCAM nos consultórios e
(THUNINGER et al., 2011). laboratórios dentais. Com a facilidade nos dias de hoje
Na odontologia, ela é habitualmente utilizada na reprodução de estruturas dentais conjugada com
em infraestruturas para próteses fixas múltiplas ou todas as vantagens da Cerâmica de Zr, a tendência é se
unitárias, sobre dente ou implante, em inlays e onlays, difundir cada vez mais a sua utilização em tratamentos
e, inclusive, coroas puras de zircônia. Essa cerâmica reabilitadores (KELLY; BENETTI, 2011).
possui policristais tetragonais estabilizados com ítrio, A cerâmica Y-TZP pode ser colorida para
isto é, sua matriz é densa e ausente da uma fase vítrea, simular as estruturas e detalhes do dente, no entanto,
e por isso, opaca e pouco translucidada. O ítrio exerce ela é altamente opaca, e a sua opacidade pode limitar o
uma importante função, embora esteja presente em resultado estético quando em comparação às cerâmicas
pequena quantidade (quase 0,3 mol %). Em dentárias convencionais. Radiopacidade é outra
temperatura ambiente, a zircônia apresenta uma característica da zircônia que pode ser muito útil para
estrutura de cristal estável monoclínica, mas a adição monitorar a sua adaptação marginal por meio de
de uma pequena quantidade de ítrio resulta na análise radiográfica, especialmente quando há dúvidas
formação de uma estrutura cristalina tetragonal de adaptação intra-sulcular e ou proximal
metaestável, que fornece alta resistência flexural (MANICONE et al., 2007).
(superior a 1000 Mpa) e uma propriedade de As estruturas metálicas para prótese sobre
resistência à trinca conhecida como transformação da implantes, tradicionalmente obtidas por meio das
tenacidade. (KOMINE F; BLATZ MB; técnicas de fundição, implicam o risco de induzir
MATSUMURA H, 2010). tensões e/ou pressões inadequadas sobre os implantes,
670
afetando o assentamento passivo das próteses. A DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
solução encontrada foi um pequeno intermediário de
titânio que chamamos de links ou bases de titânio (cada Paciente, gênero feminino, 38, com ausência
marca leva um nome comercial diferente para esse tipo dos segundos pré-molares superiores, procurou a
de solução protética), transformando, assim, aquela reposição dos órgãos perdidos. Dois implantes foram
conexão interna do implante, seja cone-morse ou não, instalados, um em cada região (reg. 15 e 25), do tipo
em uma conexão externa, livrando a zircônia do cone-morse da marca Neodent. No momento das
estresse na porção interna do abutment que entrava em próteses, optou-se pelo uso de coroas livre de metal,
direto contato com o implante (LAURITO et al., 2010). pois seriam mais estéticas. Foi, então, eleita a cerâmica
Links de titânio são, hoje, uma excelente zircônia como a melhor opção. A solução protética
solução protética sobre implantes, pois proporciona-se sobre links de titânio (Ti-base – Neodent) escaneados
a confecção de um perfil gengival personalizado em sobre modelo para manufatura das coroas em
zircônia do contorno ideal da gengiva condicionada CADCAM.
pela coroa provisória e ou cicatrizador (TONIOLLO;
PALHARES, 2014).
REFERÊNCIAS
Figura 6 – Bloco ósseo homólogo previamente ao enxerto Figura 9 – Série de suturas até a total coaptação dos
seccionado ao meio. bordos com fio de nylon 4-0.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 12 – Coleta do material para exame microscópico.
. implantes.
REFERÊNCIAS
A técnica de elevação do seio maxilar foi Nessa técnica, ocorre o íntimo contato
introduzida por Tatum (1976), mas foram Boyne & entre o corpo do implante e a cortical do assoalho
James (1980) que apresentaram a primeira do seio, já que a parede inferior do seio é fresada e
publicação, relatando a experiência de quatro anos não fraturada (KIM; CHO; YUN, 2013).
utilizando osso autógeno colhido de crista ilíaca
O relato de caso a seguir foi realizado com
como material de preenchimento. Desde então,
a técnica SCA, utilizando-se o SCA Kit da empresa
várias técnicas cirúrgicas foram sugeridas para este
Neobiotech (Seul, Coréia do Sul).
procedimento (MARX; GARK, 2002; WINTER et
al., 2002). Esta cirurgia permite aumento de altura
óssea na zona posterior da maxila atrófica, através DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
de enxertia de biomateriais no interior da cavidade
sinusal pneumatizada (TATUM, 1986; CHOI et al., A paciente J.C.S.L., 47 anos, gênero
2006). feminino, apresentava a perda do elemento 26 há
mais de um ano e queixava-se da dificuldade de
A perfuração realizada para a instalação do
mastigação do lado esquerdo e do problema
implante dentário pode também ser utilizada para
estético, uma vez que a falha aparecia durante os
elevar o assoalho do seio com um osteótomo
sorrisos mais abertos (figura 1). Na radiografia
apropriado. Summers (1994) apresentou uma
panorâmica inicial, verifica-se ligeira
técnica de elevação com osteótomos e martelo,
pneumatização na região, estimando-se uma altura
através da crista alveolar, que se mostrou simples e
óssea residual em aproximadamente 6,48 mm
menos invasiva. É possível se conseguir aumento
(figura 2).
ósseo por meio desta abordagem, associada ou não
com vários materiais aloplásticos ou enxertos
ósseos (FERRIGNO; LAURETI; FANALI, 2006).
As desvantagens deste método são o grande
desconforto aos pacientes operados, devido à ação
percussiva na cabeça, a espessura mínima de osso
necessária para a estabilidade primária do implante
683
Em seguida, realizou-se a marcação do
ponto de eleição para fresagem e rompimento da
cortical com a fresa lança (initial drill) (figura 4).
Feito o rompimento da cortical e levando-
se em conta o cálculo aproximado da altura óssea
residual (AOR) de 6,48 mm, selecionou-se um
“stop” de fresas de 5 mm, adaptado a uma fresa
helicoidal 2.0. O ideal é que essa fresa chegue a 1
mm aquém da cortical óssea sinusal. A
Figura 1 - Imagem pré-operatória.
recomendação do fabricante do sistema é que se
utilize uma margem de segurança mínima de 1 mm,
prevenindo a penetração excessiva devido a uma
possível distorção radiográfica.
parece promissor após terem sido obtidos bons Faculdade São Leopoldo Mandic com indicação
dez vezes menor quando comparado à obtenção exame clínico, foi observado que o mesmo
devido à aspiração, elas são claramente menos na região a ser reabilitada. No exame
coleta de enxerto autógeno tradicional espessura da cortical óssea, menor que 3mm
falando sobre a reconstrução anterior de maxila uma posição tridimensional favorável. Tendo
utilizando enxerto ósseo particulado, o que torna em vista a recuperação funcional e estética do
mais difícil a decisão de que tipo de enxerto o paciente, optou-se pelo tratamento reabilitador
cirurgião deve utilizar. Xenoenxertos, que estão com prótese fixa implantossuportada associada
689
a enxerto xenógeno particulado (Bio gen, Bio implantes nesse momento. Novamente, o
Teck, Vicenza, Itália). Após a anamnese, foram procedimento cirúrgico ocorreu no bloco
solicitados exames complementares de cirúrgico da Faculdade São Leopoldo Mandic
hemograma, coagulograma e taxa de glicemia. sob anestesia local. Após a realização de
Não foi observada qualquer alteração nos anestesia infiltrativa, foi realizada uma nova
exames complementares que contraindicasse o incisão no rebordo alveolar, descolamento
procedimento. muco-periosteal. Na sequência, foi feita a
O procedimento cirúrgico foi realizado perfuração para instalação dos implantes ósseo-
no bloco cirúrgico da Faculdade São Leopoldo integráveis nas regiões dos elementos
Mandic com o paciente sobre anestesia local. 11,12,21,22 (figura 9). Após a instalação dos
Antes do procedimento cirúrgico, foi realizada a implantes, foi aguardado um período de quatro
coleta da medula óssea (figura 1) através do meses para a reabilitação com prótese fixa,
protocolo preconizado pelo fabricante do devolvendo as capacidades estética e funcional
®
sistema BMAC (Hearvest,Playmouth,MA ao paciente.
USA) (figuras 2 e 3) e obtido o concentrado
aspirado da medula óssea autógeno. Após isso,
foi realizada aplicação de anestésico local com
vasoconstrictor e feita incisão sobre o rebordo
alveolar com relaxantes bi- laterais em distal de
caninos superiores, seguida de descolamento
muco-periosteal do tecido, tanto por vestibular
quanto por palatino. Na sequência, o leito
receptor foi decorticalizado (figura 4) para que
Figura 1 - Medula sendo coletada.
houvesse uma melhor nutrição sanguínea da
região. Foi misturado ao enxerto granulado de
matriz óssea equina (Bio gen, Bio Teck,
Vicenza, Itália) o concentrado de medula óssea
(figura 5) e levado para ser acomodado sobre o
leito receptor (figura 6) e, posteriormente,
coberto com membrana de colágeno de origem
equina (Bio Collagen Bio Teck, Vicenza, Itália)
com intuito de restaurar a espessura óssea,
possibilitando, assim, a reabilitação com
implante dentário.
Quatro meses após a enxertia, foram
solicitados novos exames tomográficos para que
Figura 2 - Aspecto da medula óssea após
fosse verificada a integração do enxerto ósseo
centrifugação.
ao leito receptor, tendo sido obtida uma
adequada neoformação óssea. Foi realizado um
novo procedimento cirúrgico para instalação de
690
REFERÊNCIAS
A
perda precoce da dentição e interposicional, podendo ser utilizado enxerto em
muitas vezes leva a uma atrofia bloco ou particulado.
óssea, sendo um desafio para o Quando há altura óssea suficiente, porém
cirurgião-dentista, CHAUSHU et al. (2010). O com deficiência na espessura do rebordo, a
aumento do rebordo alveolar é pré-requisito para expansão da crista pode ser a técnica indicada.
melhorar o posicionamento dos implantes Vários trabalhos foram realizados com expansão da
endósseos para a reabilitação protética, crista alveolar e imediata instalação de implantes,
WAASDORP & REYNOLDS (2010). Os avanços SETHI; KAUS (2000), BASA; VAROL; TURKER
dos materiais de enxerto e as técnicas cirúrgicas (2004); CHIAPASCO et al. (2006). Com o objetivo
desenvolvidas contribuíram no aumento da de reduzir potenciais complicações, a modificação
aplicação dos implantes dentários em pacientes da técnica em dois estágios, ENISLIDIS;
parcialmente ou totalmente desdentados WITTWER; EWERS (2006); ANITUA; BEGOÑA;
(MCALLISTER; HAGHIGHAT, 2007). ORIVE (2011); MAGDO FILHO (2013),
Os materiais utilizados nas técnicas de YAMAN, CEBE; SUER, (2014), e até em três
enxertia podem ser classificados em autógenos, estágios cirúrgicos, Kheur et al. (2014), vem sendo
homógenos, heterógenos e aloplásticos. O enxerto proposta, além da utilização de mecanismos de
autógeno é amplamente considerado o padrão ouro fixação da cortical óssea expandida, com
para a correção de deformidades localizadas no microplaca, Engelke et.al. (1997), parafuso ósseo
rebordo alveolar, MCALLISTER; HAGHIGHAT cortical BASA; VAROL; TURKER, (2004), ou fio
(2007), por ser o único material que apresenta os e aço, CONTESSI (2013), com a finalidade de
três mecanismos para geração de novo osso: melhorar a estabilidade da tábua óssea expandida e
osteocondução, osteoindução e osteogênese enxertos interposicionais para o preenchimento do
(MAZZONETTO, 2012). “gap” entre as placas com algum substituto ósseo,
Principalmente em reconstruções ósseas BASA; VAROL; TURKER, (2004), ENISLIDIS,
mais extensas, os enxertos autógenos apresentam WITTWER; EWERS, (2006), ANITUA et al.
como desvantagens um aumento do tempo (2011), CONTESSI (2013), ELLA et. al. (2014). A
operatório, morbidade da área doadora, deficiências realização da técnica de expansão da crista em dois
de quantidade óssea e maior potencial de estágios proporciona maior previsibilidade, além de
complicações pós-operatórias. A utilização dos conseguir triplicar a largura da crista, enquanto que,
substitutos ósseos pode minimizar esses problemas na técnica convencional, é difícil duplicar
(CHAUSHU et al., 2010). (ANITUA et al., 2011).
Vários procedimentos cirúrgicos para O presente caso clínico propõe demonstrar,
reconstrução do rebordo alveolar foram por meio de tomografia computadorizada, a
demonstrados, no entanto, a escolha da técnica expansão da crista alveolar em dois estágios com
depende de alguns fatores, podendo destacar: o tipo fixação da cortical expandida com parafuso de
de defeito ósseo, a localização do defeito, a enxerto e preenchimento do “gap” formado entre as
morbidade, a previsibilidade, a aceitação do tábuas ósseas expandidas com osso alógeno,
paciente e a própria preferência do cirurgião. As objetivando melhorar o posicionamento
mais utilizadas são: os enxertos ósseos onlay, inlay
702
tridimensional dos implantes e diminuir a sete dias, iniciando um dia antes do procedimento
implantes dentários, apresentando ausência dos relaxante na distal do dente adjacente, deslocamento do
retalho muco periostal. Após a exposição do tecido ósseo,
dentes 14,15 e 16. Foi solicitada tomografia
a técnica de expansão foi realizada com o kit de expansão
computadorizada e constatada atrofia do rebordo
óssea (Bone Creaster, Neobiotec Co. Ltd, Seul. Coréia).
alveolar, impossibilitando a instalação de implantes
Foi realizada osteotomia no sentido
sem previa reconstrução óssea (figura 1).
longitudinal sobre a crista e vertical na mesial e distal do
defeito na parte cortical do osso, com disco fornecido
pelo kit, utilização de cinzel para tornar a osteotomia
suficientemente profunda para instalação dos expansores
(Bone Creaster, Neobiotec Co. Ltd., Seul, Coréia) em
número suficiente com o tamanho longitudinal do defeito.
Após a expansão, o espaço criado entre as tábuas ósseas
foi preenchido de maneira interposicional com bloco de
osso medular alógeno de crista ilíaca (banco de tecidos da
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo,
Brasil) (figura 3).
inicial.
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Capítulo 116
Cirurgia guiada: relato de caso
com acompanhamento de 12 meses
(esteriolitografia). Esta técnica é um recurso de implantes podemser realizados somente com uma
tratamento e na aplicação cirúrgica. Dentre outras sobre um modelo de gesso e com visão direta
visualização mais aproximada do resultado final, visualização tridimensional das áreas a serem
planejamento como também a comunicação com procedimento a ser realizado, pode contribuir em
técnico de laboratório e possibilita a muito para resultados mais precisos com pouca
partir de meados do ano 2000. GATEANO et al. assim como a profundidade de sondagem e
diferença entre as guias confeccionadas pelo sondagem da crista marginal à crista óssea teve
método de esteriolitografia e pelo método uma média de 3,3 mm, a média de tempo
superiores nas guias com esteriolitografia do que tratamento/diagnóstico, a cirurgia sem retalho é
as guias em resina acrílica (0,24 mm2). Com isso, um procedimento previsível, trazendo alguns
as guias prototipadas tiveram melhor precisão. benefícios, tais como: menor tempo cirúrgico,
sondagem adjacente ao implante e menor tempo um dos fatores para a longevidade dos implantes é
57 pacientes com a técnica sem retalho, na qual visão tridimensional da posição durante o
sondagem, inflamação e alterações da crista óssea. al. (2006); VAN STEENBERGHE et al. (2005),
Após dois anos, o índice de sucesso foi de 98,7%, SARMENT; SUCOVIK; CLINTHORNE (2003)
709
compararam a diferença da precisão entre um guia 70 implantes instalados em 13 pacientes, sendo 34
cirúrgico convencional e um guia cirúrgico instalados com cirurgia guiada com retalho e
esteriolitografado. Cinco implantes foram 36 com cirurgia guiada sem retalho, todas com
instalados em uma mandíbula sintética, onde de carga imediata. Entretanto, quando comparados os
um lado, com o guia convencional e, do outro valores de perda óssea marginal nos diferentes
lado, com o guia prototipado. A diferença da períodos de avaliação (0, 45 dias, 90 dias,
posição no guia convencional foi de 1,5 mm na 180 dias, 360 dias e 540 dias), os valores
porção cervical e de 2,1 mm na porção apical, apresentaram diferenças (p < 0,05) nos dois
enquanto que no guia prototipado, a diferença foi grupos. Os valores médios de perda óssea
significativamente reduzida para 0,9 e 1,0 mm marginal foram de 1,95 mm ± 0,70 e 1,93 mm ±
respectivamente. BARROS et al. (2010) 0,42 para os grupos com retalho e sem retalho,
Dental Slice (Bioparts) para o posicionamento dos precisão de 21 implantes colocados sem retalho
implantes. Após a cirurgia, nova tomografia foi em oito pacientes desdentados parciais por meio
realizada e inserida no software. Os cinco de uma guia prototipada. A variação média foi de
pacientes operados tiveram um total de 24 2,7° e concluíram que, mesmo com este baixo
implantes instalados e que serviram de amostra número de amostra, a instalação de implantes sem
total para a avaliação da precisão do sistema. O retalho, poderá ser um procedimento usual na
estudo relatou que o desvio angular médio foi de instalação de implantes dentais. Na pesquisa de
plataforma foi de 1,082+ 0,907 mm, no 1/3 médio relação às réplicas de mandíbulas encontradas no
1,599+1,220mm e, no 1/3 apical, foi de 2,54 + estudo foram de 0,24 mm menores quando
um caso clínico em foram instalados seis 1,01 mm. Neste estudo, houve a instalação das
Neste caso, foi avaliada a acurácia da cirurgia trinta meses. Foram avaliados tanto a sobrevida
guiada que, na região coronal, variou de 0,64+ dos implantes, quanto a das próteses. Os
para os implantes foi de 3,36% de um total de 506 A paciente M.I.S., sexo feminino, 65
implantes instalados após um período de 12 meses anos, foi selecionada no ambulatório do Curso de
12 meses, e uma taxa de 4,6% de intercorrências exames de imagens panorâmicas (figuras 1 e 10) e
et al. (2012) avaliaram o desvio angular e linear Computadorizada Cone-Beam) pré e pós-
No desvio linear, foram levadas em consideração, Radiologia da Faculdade São Leopoldo Mandic –
711
Campinas. Foi utilizado o tomógrafo i- CAT (5i- O planejamento virtual foi precedido por
CAT® Cone Beam 3-D Imaging System, Imaging reabilitação provisória (próteses totais, superior e
prototipada.
10).
covers.
E
m decorrência de perdas osso humano fresco congelado, apesar de ser
dentárias precoces na região seguro do ponto de vista de transmissão de
anterior de maxila são comuns doenças, apresenta como desvantagem a
os casos de rebordos alveolares atróficos, o que, dificuldade de sua obtenção, por existir uma
em muitas situações, inviabiliza uma reabilitação quantidade restrita de doadores (HOLTZCLAW et
com implantes de forma satisfatória, tanto do ponto al., 2008; FINKEMEIR, 2002; GÁLIA et al.,
de vista funcional quanto do ponto de vista 2008).
estético. Partindo dessa premissa, torna-se Sendo assim, e diante das considerações
necessária a reconstrução de tais rebordos feitas, uma das alternativas mais palpáveis ao
alveolares através de enxertos ósseos, de forma a enxerto autógeno é o uso de osso bovino
devolver quantidade e qualidade óssea, pois só liofilizado, uma vez que este tipo de biomaterial
assim poderemos atingir objetivos estéticos e tem praticamente disponibilidade ilimitada e
funcionais ideais (MISCH; MISCH, 1995; grande similaridade física e química com osso
LAURENCIN; KHAN; EL-AMIN 2006; humano (GALIA et al., 2008). Outro fator que
ISHIKAWA et al., 2010; BIDRA; CHAPOKAS, corrobora com essa afirmativa, são pesquisas feitas
2011). para saber a preferência dos pacientes, que, em
Dentre os procedimentos para enxertos geral, optam pelo uso do xenoenxerto, devido à
ósseos, podemos destacar técnicas que usam redução do desconforto pós-operatório com uma
enxertos ósseos alógenos, xenógenos e autógenos, segunda área cirúrgica (FELICE et al., 2008).
sendo que o último é considerado o “padrão ouro” O objetivo deste trabalho foi avaliar, após
nas reconstruções alveolares por ter um seis meses, clinicamente, histologicamente e
desempenho e resultado final superior aos demais, tomograficamente, a viabilidade do osso
em decorrência de sua capacidade osteoindutora e neoformado pelo enxerto, quanto à formação
osteogênica (ACOCELLA et al., 2010). Como celular, perda de volume e densidade óssea, com
fator desabonador para o enxerto autógeno, pode- vista à viabilidade para reabilitação através de
se citar a inconveniência da necessidade de mais implantes.
um sítio cirúrgico, o que acarreta aumento no
tempo operatório e maior chance de complicações DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
do procedimento, com possibilidade de maiores
desconfortos para o paciente (NKENKE et al.,
O presente estudo apresenta um caso
2002; TOUZET et al., 2011; SCHEERLINCK et
clínico de um paciente que necessitava de enxerto
al., 2013).
anterior superior (figura 1), tendo sido feito no
Diante dessas considerações, não se tem
mesmo, um bloco de enxertos xenógenos de
envidado esforços no sentido de substituir, com
origem bovina (OrthoGen®, Baumer, SP- Brasil),
qualidade, os enxertos autógenos. Muitos trabalhos
que descreve o produto como um substituto ósseo
apontam para o uso de osso humano fresco
integral composto de origem bovina com
congelado e de matriz óssea bovina liofilizada em
apresentação em bloco, que passa por um processo
bloco com resultados bastante satisfatórios, porém,
de produção que preserva a composição orgânica e
ainda aquém da enxertia autógena, sendo que o
inorgânica do tecido ósseo, oferecendo-lhe
718
características físico-químicas que possibilitaram a fixados com a utilização de parafusos de fixação
sua fixação ao leito ósseo receptor por meio de (Neodent, Curitiba, Brasil) com diâmetro de
parafusos de fixação. 1,5mm e comprimentos de 10 ou 12 mm (figura 5),
de acordo com as necessidades locais de cada caso.
Foi feito o seguinte protocolo
Posteriormente, esse bloco foi recoberto por
farmacológico no paciente: 4 Gramas de
membrana de colágeno bovino reabsorvível
Amoxicilina 1 hora antes do procedimento
(GenDerm, Baumer, SP, Brasil), conforme
cirúrgico, continuando com 500 mg de 8/8 horas,
recomendação do fabricante. Foi realizada a
por mais 6 dias, totalizando 21 comprimidos; 8 mg
liberação do retalho por meio de incisão no
de Decadron 1 hora antes do procedimento e 4 mg
periósteo, a fim de permitir o fechamento passivo
24 horas após a dose inicial; Ibuprofeno 600 mg de
da ferida cirúrgica com fio de sutura de Nylon 5.0
12/12 horas, por 3 dias, iniciando-se
(Ethicon Inc., Somerville, NJ, USA) (figura 6). O
imediatamente antes do procedimento cirúrgico;
paciente seguiu com o protocolo farmacológico já
Lisador de 6/6 horas em caso de dor no pós-
descrito anteriormente. A sutura foi removida após
operatório e bochecho com clorexidina 0,12%, 2
sete dias. Após a remoção da sutura, o paciente foi
vezes ao dia, por dez dias.
encaminhado para realização de um segundo
Antes do procedimento cirúrgico
exame tomográfico (T1) da região, antes que o
propriamente dito, o paciente fez bochecho com
pós-operatório ultrapasse os 14 dias, de forma a
clorexidina 0,12% e teve sua pressão arterial
avaliar o enxerto jovem recém-posicionado para
aferida. Em seguida, foi realizada anestesia local
posterior análise comparativa
infiltrativa com lidocaína 2%, com epinefrina a
Depois de decorridos seis meses do ato
1:100.000 (DFL, Rio de Janeiro, Brasil).
operatório inicial, foi realizado o terceiro e último
Os procedimentos cirúrgicos foram
exame tomográfico (T2) da região, onde se
realizados mediante o seguinte protocolo: Uma
observou a quantidade e qualidade do osso
incisão sobre o rebordo alveolar levemente para a
remanescente enxertado e neoformado. Também
palatina se estendendo intrasulcularmente até a
foi realizada nova cirurgia, obedecendo ao mesmo
distal, bilateralmente aos elementos dentários
protocolo cirúrgico e farmacológico descrito
vizinhos ao defeito, de onde foram realizadas
anteriormente, com exceção de que nesse tempo
incisões relaxantes inclinadas distalmente (figura
cirúrgico houve a coleta de uma amostra de tecido
2), de forma que foi rebatido um retalho de
ósseo para análise histomorfométrica. Nesse
espessura total (figura 3), realizando-se, então,
segundo tempo cirúrgico, também foi realizada a
micro-perfurações no leito receptor até a medular
instalação dos implantes osseointegráveis (figura
óssea, com brocas 701, a fim de prover maior
7) e, depois de decorridos mais quatro meses,
vascularização e facilitar o acesso de células
procedemos com o início da reabilitação do caso
progenitoras e fatores de crescimento ao enxerto,
(figura 9).
permitindo o aumento e a aceleração da formação
óssea (SEOL et al., 2009). Os blocos de enxerto
(figura 4) foram preparados com fresas tipo Análise histomorfométrica
maxicut sob irrigação salina profusa para otimizar
A análise histomorfométrica foi realizada
a adaptação ao leito; posteriormente foram então
por dois avaliadores, a fim de se calcular em cada
719
lâmina (figura 8) as médias percentuais de tecido
mineralizado vital (osso neoformado), tecido
mineralizado não vital (remanescentes do enxerto) e
tecido não mineralizado (tecido conjuntivo, tecido
ósseo neoformado, ainda não mineralizado, e
infiltrado inflamatório). As medidas foram
realizadas considerando como 100% o material
Figura 1- Paciente com provisório inicial adesivo.
visível nas imagens histológicas dos blocos com
aumento de quarenta vezes, sendo avaliadas pelo
programa Tool Image versão 5.02 para Microsoft
Windows™. Para mensuração da densidade da
matriz óssea, foi utilizada objetiva 20 X 0,45
(APLAN, Carl Zeiss) e ocular 10x (W-PI, Carl
Zeiss) de um microscópio de luz (Nikon E200,
Japan). As imagens dos campos histológicos foram
captadas por uma câmera digital (AxioCam MRc5,
Carl Zeiss, Alemanha). Figura 2 – Incisões iniciais.
Análise Tomográfica
Figura 6 – Sutura com Nylon 5-0. Figura 10 – Cálculo tomográfico do volume e densidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 1 - Tomografia inicial. com rhBMP-2. O bloco foi fixado sem pressão à
área receptora com parafuso de 1.5 mm de diâmetro
com cabeção expandida (figura 3). Adicionalmente,
Dessa forma, um procedimento de aumento
partículas de OBD misturadas com pequenos peda-
ósseo com rhBMP-2 (Infuse Medtronic Sofamor Danek,
ços de esponja de colágeno absorvível carregadas
Memphis, TN, USA) e um bloco + partículas de OBED
foi incluído no plano de tratamento, como será descrito com rhBMP-2 foram associadas ao bloco com o
abaixo. objetivo de prover continuidade e uniformidade
A paciente foi medicada com Amoxicilina 2 g entre o biomaterial e a área receptora, preenchendo
antes do procedimento cirúrgico. Após bochecho com quaisquer gaps entre o bloco e o osso nativo. Em
clorexidina 0,12%, a área a ser operada foi anestesiada sequência, todo enxerto foi coberto com uma es-
com anestésico local (Articaina 4% com epinefrina
ponja de colágeno absorvível carregada com
1:100.000, DFL-Brazil).
rhBMP-2 adaptada a área do defeito (figura 4).
Uma incisão crestal foi realizada para elevação
de retalho de espessura total. Adicionalmente, incisões
relaxantes oblíquas foram realizadas para permitir um
retalho com base ampla o suficiente para se ter acesso
integral ao defeito ósseo (figura 2). O osso foi examinado
e remanescentes de tecido mole presentes na crista óssea
foram removidos com o auxílio de uma cureta cirúrgica.
A
Tualmente, na implantodontia osteotomia é feita usando um disco para criar um sulco
moderna, existe uma grande horizontal ao longo da borda inferior. A osteotomia
preocupação em desenvolver superior é feita a partir da região do segundo molar, e
técnicas para obter a regeneração óssea dos defeitos continua posteriormente e verticalmente ao longo do
decorrentes da perda dental, principalmente para ramo ascendente. O corte é aproximadamente 5 mm
possibilitar a reabilitação por meio de implantes medial à crista oblíqua externa e estende-se para o
osseintegrados. As técnicas de enxerto ósseo e de tamanho do defeito ou cerca de 3 cm. Em seguida,
reconstrução parcial ou total da maxila e da mandíbula cortes verticais anterior e posterior de 12 a 15 mm de
e das áreas doadoras são avaliadas, basicamente, de comprimento são feitos na direção súpero-inferior. Por
acordo com o grau de perda óssea, do planejamento último, o sulco inferior é feito com um disco. O local
cirúrgico-protético e das condições gerais do paciente de colheita é, então, cuidadosamente separado comum
(KUABARA et al., 2000;TANAKA et al., 2008). pequeno cinzel. O sangramento excessivo pode ser
A necessidade de correção de pequenos ou de grandes controlado com a pressão e agentes hemostáticos.
defeitos ósseos para colocação de implantes e posterior (DYN et al., 2012).
reabilitação, tornou-se rotineira na prática da A cirurgia pré-implante favorece estética,
Implantodontia. O enxerto ósseo surgiu como uma função, estabilidade e sucesso da reabilitação em
solução de excelência para preencher uma lacuna no defeitos ósseos dos tecidos moles e duros decorrentes
processo reabilitador. Para a reabilitação bucal com as de trauma, infecção ou processos patológicos
próteses implantossuportadas é necessária a realização recuperando altura e espessura do rebordo alveolar.
de procedimentos para criar o volume ósseo suficiente (BLACKBURN et al., 2008; GUTTA, WAITE, 2009;
para a instalação dos implantes. Tem sido cada vez SITTITAVORNWONG, GUTTA, 2010).
maior a utilização de enxertos em bloco para A Implantodontia evoluiu rapidamente nas
reconstrução de estruturas ósseas perdidas. Com isso, últimas décadas, apresentando elevada previsibilidade
os enxertos ósseos provenientes de áreas doadoras e taxas de sucesso. Entretanto, existem desafios
intrabucais ou extrabucais, representam uma biológicos, mecânicos que precisam ser controlados.
possibilidade bastante favorável, sendo os principais Neste contexto, as limitações ósseas representam
sítios doadores: crista ilíaca, sínfise, ramo mandibular e desafios para a reabilitação com implantes dentários.
calota craniana. Quando um volume limitado de tecido Um dos fatores está relacionado à deficiência de tecido
ósseo é necessário para reconstruir defeitos localizados, ósseo vestíbulo-lingual (ROCHA, 2010).
tem-se empregado os sítios intraorais, sendo a
mandíbula o local mais comum (CARVALHO et al., DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
2006; MISH., 2006; SOBREIRA et. al., 2011).
Para enxerto em bloco cortical, o ramo lateral
Caso 1
pode fornecer 1,5x 3 cm 2. A incisão para esta colheita
Indivíduo, gênero feminino, 50 anos, ASA 1 ,
é feita ligeiramente distal e lateral ao dente mais
procurou a Faculdade São Leopoldo Mandic, Fortaleza
posterior, e continua ao longo da linha crista oblíqua
/Ce, com queixa de infecção no dente. Na análise
externa. Três osteotomias completas e uma parcial são
facial, observou-se um padrão Classe III de Angle,
feitas com uma total superior e duas verticais
altura facial anterior diminuída e dentes anteriores em
completas, através do osso cortical. A última
731
topo com o incisivo central superior de topo e em para arredondar os bordos; sutura com fio nylon 4.
infraoclusão. O exame clínico detectou presença de
Na área receptora do 11, o bloco foi adaptado
fístula vestibular na região de elemento 11 (figura 1)
ao defeito com parafuso de fixação (1,5mmx13mm).
que, ao exame radiográfico (figura 2), apresentou lesão
(figura 6 – (A)). O retalho mucoperiósteo foi dividido e
periapical difusa no elemento tratado proteticamente
suturado (figura 6 - (B)).
com núcleo metálico fundido e coroa provisória. Foi
Após seis meses, foi solicitado novo exame
realizada sondagem periodontal na qual observou-se
tomográfico da região do enxerto ósseo. (figura 7 – (A)
profundidade de bolsa vestibular de 12mm e a
e (B))
comprovação de fratura radicular vertical, com
ausência de tábua óssea vestibular, através da O planejamento restaurador pós-cirúrgico
tomografia computadorizada (figuras 3- (A) e (B) e 4). consistiu na colocação do implante na região do
incisivo superior direito e prótese fixa unitária
No protocolo medicamentoso, utilizou-se
provisória em acrílico termo plastificado (Figuras 8 e
amoxicilina 500mg – 21 cápsulas 1g uma hora antes da
9).
cirurgia e de 8 em 8 horas, durante 7 dias.
Dexametasona 4mg – 2 comprimidos uma hora antes
da cirurgia e Lisador gotas – 40 gotas de 6 em 6 horas,
em caso de dor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Figura 7 – (A) e (B) Tomografias 6 meses pós-enxerto.
Daniel Lyra
Rafael Carneiro
Bruno Salles Sotto Maior
Carlos Eduardo Francischone
735
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
S
empre a estética representou valores dente e colocação de implante imediato, foi
sociais elevados, sendo o sorriso um influenciada pela colocação de um enxerto xenógeno
importante fator neste aspecto. Desta no gap entre o implante e as paredes do alveolo pós-
forma, os pacientes ao sofrerem a perda de um dente, extração. Constataram, também, que a tabua óssea
desejam rapidamente sua pronta e rápida restauração bucal, nos sítios enxertados, era comparativamente
com segurança. mais espessa e localizada perto do início da superfície
O conceito de osseointegração idealizado por tratada do implante. Já na área onde não ocorreu a
(BRÄNEMARK et al.,1969) estabeleceu um protocolo colocação do enxerto (controle), era mais fina e
de dois estágios cirúrgicos importantes para o sucesso localizada a uma distância que variava abaixo da
da reabilitação por implantes. superficie tratada do implante. Wang & Lang (2012)
A carga imediata é uma técnica recente, constataram que implantes colocados em alvéolos pós-
utilizada quando se quer reduzir as etapas de colocação extração não impediram a reabsorção do osso alveolar
de implantes. Chiapasco e colaboradores (2001), e isso era independente do desenho do implante, mas a
comparando as duas técnicas com e sem carga colocação de biomateriais no gap foram efetivos na
imediata, não verificaram diferenças nos índices de preservação da tábua ossea vestibular.
sucesso, mas uma redução significativa do tempo de NISAPAKULTORN e colaboradores (2010)
tratamento, com elevada satisfação dos pacientes. verificaram que o nível de papila ao redor de implantes
A partir deste ponto, novos protocolos foram de um único dente, na maxila anterior, era
surgindo baseados no princípio da carga imediata, influenciado, principalmente, pelo nível da crista óssea
buscando alternativas para o preenchimento do gap interproximal do dente adjacente. Já o nível da gengiva
existente entre implante e tabua óssea vestibular do marginal, por outro lado, foi afetada por vários fatores,
alvéolo. Busca-se, também, alternativas para casos de incluindo o biótipo gengival, o nível da crista óssea
dentes com lesões endodônticas ou infectados. bucal, o ângulo de colocação do implante, o nível de
Villa e Rangert (2007) avaliaram a taxa de crista óssea interproximal, a profundidade da
sobrevivência de implantes imediatos e carregados plataforma do implante e o aumento da distância entre
precocemente colocados após a extração de dentes com o ponto de contato para a crista óssea.
lesões endodônticas e periodontais ou fratura de raiz CARVALHO; CARVALHO; CONSANI
na maxilla. Os autores encontraram, nesses casos, uma (2013) avaliaram num estudo prospectivo de 15 anos a
taxa de sobrevivência de 97,4 %. importância do protocolo de colocação sem retalho
Martinez e colaboradores (2010) avaliaram a (flapless) imediato do implante com colocação do pilar
controvérsia sobre se é recomendável colocar enxerto e uma coroa provisória imediata para substituir um
em gaps de 1 e 2 mm, entre o implante e o osso único dente perdido, mostrando uma taxa de sucesso de
vestibular, e recomendaram o seguinte protocolo: implantes favorável.
extração do dente com a menor injúria sob tecidos Um pré-requisito, segundo BARONE;
moles e duros possível, uso de implantes cônicos, RISPOLLI; VOZZA (2006), para as coroas acriíicas
restauração provisória para suporte de papilas e temporárias, sobre implantes imediatos, é ser projetada
gengiva marginal, preenchimento do gap com com uma oclusão não funcional e ausência de contato
biomaterial e nenhum contato oclusal. Estudo realizado em cêntrica, protusão e lateralidade. Estes princípios
por Araujo e colaboradores (2011) demonstrou que o também foram defendidos por KARAMIS et al. (2008)
processo de remodelagem óssea, após a extração do e VILLA; RANGERT, (2007), os quais também
740
utilizavam o protocolo sem retalho (Flapless) e foi feita de maneira criteriosa, sem deslocamento de
constataram uma tendência para uma menor perda retalho, com avaliação da integridade desta através de
óssea com este protocolo. TAVAREZ e colaboradores uma sonda periodontal (figura 6). Em seguida, foi
(2013) concluíram que, com um planejamento realizada a sequência cirúrgica das perfurações,
cirúrgico-protético adequado associado à uma seleção seguindo o protocolo convencional de diâmetros
precisa do caso, observa-se que a extração atraumática progressivos.
associada com a instalação de implantes imediatos Atentou-se para o posicionamento mesiodistal
apresentam resultados clínicos que permitem a e vestibulolingual do implante, que deveria ficar em
manutenção da harmonia e estética da margem torno de 1 a 2 mm para palatina, em relação vestibular
gengival. dos dentes vizinhos e 3mm da margem gengival (figura
Numa metanálise, LIN et al. (2014) revelaram 7). A osteotomia foi iniciada com a broca lança na
que as taxas de sobrevivência dos implantes e a perda posição ideal, seguida da perfuração na parede palatina
óssea marginal radiográfica das intervenções sem do alvéolo, culminando com a colocação do implante
retalho eram comparáveis com a abordagem cirúrgica com carga imediata Alvim 3,5x13 mm (Neodent®).
com retalho. Este procedimento proporcionou, de forma
intencional, um gap entre implante e tábua óssea
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO vestibular e preenchimento deste gap e da lesão com
Bio-Oss® (figura 8). Reabilitação protética com coroa
Paciente L.S.P., 36 anos, sexo feminino, provisória para manutenção de papilas e suporte da
caucasiana. Apresentava, na região do dente 21, queixa gengiva marginal (figura 9) e, após seis meses,
de coroa acrílica que deslocava-se frequentemente e confecção de coroa metalocerâmica definitiva (figura
discreta sintomatologia. Na radiografia preliminar, 11).
(figura 1) era possível visualizar lesão no nível de terço Foi realizado controle radiográfico,
médio, sendo solicitada tomografia localizada da periodontal e oclusal para manutenção da saúde peri-
região do 21 (figura 2). Na interpretação radiográfica, implantar e reavaliação por tomografia
apresentava pino intra-canal no incisivo 21 desviado do computadorizada após 1 ano para verificação da
conduto radicular com imagem compatível com manutenção da tábua óssea vestibular (figura 10).
perfuração da raiz na face distal e lesão hipodensa
difusa na região. À sondagem, a crista óssea
interproximal apresentava-se normal e a tábua óssea
não apresentava perda da integridade, havia ausência
de fístula e manutenção do nível ósseo periodontal,
com bom controle de placa bacteriana (figura 3).
Queixa do paciente: estética deficitária; coroa
acrílica que se deslocava frequentemente e discreta
sintomatologia, stress emocional devido a perspectiva
da perda dentária. O tratamento proposto foi a extração
atraumática do dente (figura 4) por meio de um extrator Figura 1 – RX inicial corte panorâmico.
de raízes (Neodent®) de forma a preservar a tabua
óssea vestibular (figura 5). Desta forma, a exodontia
741
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 1 - Rx inicial.
Figura 8 - Moldagem de transferência dos intermediários e da mucosa vestibular e diminui a recessão da mucosa
moldagem dos dentes com técnica de duplo fio; prova dos ao redor dos implantes. A modificação do tecido mole
copings em E-max e seleção de cor com escala Vita. através de uma prótese provisória pode ajudar no
restabelecimento da arquitetura gengival adequada,
devolver um contorno gengival natural e concorrer para
a estabilização do perfil de emergência da coroa
protética. Os procedimentos de enxerto de tecido
conjuntivo associados à inserção do implante podem
eliminar procedimentos cirúrgicos adicionais,
reduzindo o custo e o tempo de tratamento. Estes
procedimentos resultam em satisfação estética e
melhoria da qualidade de vida do paciente.
REFERÊNCIA
Figura 9 - Caso finalizado: Coroas individualizadas em E-
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Capítulo 123
Instalação de implante utilizando
um novo sistema
simplificado para cirurgia virtual
guiada
A
osseointegração tem demonstrado cirúrgico (FORTIN et al., 2002).
grande previsibilidade de Uma forma de transferência do planejamento
resultados satisfatórios a longo virtual para o campo cirúrgico, é o guia restritivo. Esta
prazo nas reabilitações de pacientes edêntulos parciais técnica é fundamentada em construções manuais feitas
ou totais, desde que se utilize a técnica cirúrgica em consultórios pelo próprio profissional ou técnico de
adequada (ADELL et al., 1981). laboratório de forma simples, rápida e com menor
O sucesso do tratamento com implantes custo (FORTIN et al., 2003).
osseointegrados envolve fatores como a Em estudo realizado com o objetivo de
osseointegração dos implantes instalados e verificar a precisão da transferência do planejamento
posicionamento tridimensional ideal dos mesmos para virtual para os guias restritivos (técnica em que a
a obtenção do equilíbrio na distribuição biomecânica confecção do guia cirúrgico é realizada em
de forças que interagem em todo sistema laboratório), dezoito implantes e suas anilhas foram
estomatognático da futura prótese (ÇEHRELI, SAHIN, planejados em imagens tomográficas obtidas em um
2000). aparelho cone-beam e testados em seis mandíbulas
Neste sentido, a incorporação de modernas secas humanas. O posicionamento das anilhas para o
tecnologias para a interpretação de exames por imagem guia cirúrgico foi realizado por meio de um dispositivo
nos planejamentos cirúrgicos, dos mais simples aos específico (DPT). Foi realizada uma segunda
avançados, têm contribuído de maneira singular para o tomografia de cada guia cirúrgica para verificar o
desenvolvimento de técnicas cirúrgicas (D’HAESE et posicionamento final de cada anilha. Foi possível
al., 2012), e tal processo evolutivo foi decisivo para concluir que este novo sistema permite a instalação de
que, nos dias atuais, o profissional disponha de várias anilhas em guias cirúrgicos de forma precisa
ferramentas para a otimização dos resultados em (SANTOS, 2011).
reabilitações orais, utilizando próteses implantos- No entanto, numa revisão sistemática, na qual
suportadas (SCHNEIDER et al., 2009). os critérios de inclusão eram trabalhos que possuíssem
O desenvolvimento de métodos de aquisição no mínimo 5 pacientes e acompanhamento de, no
de imagens tomográficas computadorizadas e de mínimo, 12 meses após a instalação da prótese,
softwares para manipulação destas imagens permitiu somente um estudo que utilizava guias fabricados em
realizar a reconstrução óssea tridimensional dos laboratório foi incluído (SCHNEIDER et al., 2009),
maxilares, áreas adjacentes e o planejamento virtual da demostrando a falta de trabalhos bem documentados
instalação dos implantes osseointegráveis (MALÓ et desse tipo de técnica, o que justifica o relato deste caso
al., 2007; SCHNEIDER et al., 2009). clínico.
Os guias cirúrgicos convencionais, geralmente
multifuncionais, de maneira geral, desempenham o DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
papel de promover uma conexão da fase pré, trans-
cirúrgica e protética, com planejamento virtual dos Dente 25 indicado para exodontia devido a
implantes e o planejamento reverso protético da futura insucesso endodôntico (foi realizada endodontia,
prótese (NAITOH et al., 2000), e, apesar de ser o mais posteriormente apicectomia e a fístula persistiu). Após
difundido no mundo, não garante a transferência o exame por tomografia computadorizada por feixe
precisa do planejamento pré-operatório para o campo cônico, foi confeccionado no modelo de trabalho um
752
guia de poliuretano e acoplado a um suporte
tomográfico com três referências metálicas; em
seguida, foi certificada a estabilidade deste guia
tomográfico (GT) na arcada da paciente. Por meio do
GT, as imagens tomográficas foram captadas em
ambiente tridimensional virtual computadorizado.
O planejamento foi realizado no programa
KEA-Tech, que gerou um relatório de coordenadas do
implante planejado na posição tridimensional correta.
Os dados do planejamento foram transferidos para o
DPT, possibilitando a montagem de um tubo ou anilha Figura 2 - Aspecto radiográfico pré-operatório.
REFERÊNCIAS
O instalação de
com saúde peri-implantar adequada e foi iniciado o superfície e desenvolvimento das técnicas
processo de confecção da prótese definitiva, sendo cirúrgicas têm levado a este tipo de terapia a obter
moldagem do antagonista para confecção de prótese Lazarra (1989) afirmou que a colocação
REFERÊNCIAS
A
reabilitação bucal com próteses reabilitação anterior. No exame clínico, foi constatado
implantossuportadas necessita de que o paciente estava reabilitado com uma prótese fixa
uma quantidade satisfatória de anterior do tipo Veneer que envolvia do elemento 14 ao
volume ósseo para instalação dos implantes (FAVERO 25. O tratamento, segundo o paciente, foi realizado há
et al., 2014). mais de 15 anos e já apresentava desgastes e fratura de
A reabsorção horizontal, em ambos os arcos, material estético.
inicia-se na superfície vestibular e progride em direção Ao avaliar a tomografia computadorizada
à lingual e palatal. Durante o processo de reabsorção é Cone-Beam, diagnosticou-se um defeito ósseo
comum verificar quantidade óssea insuficiente horizontal que inviabilizaria a instalação de implantes
(espessura e/ou altura) para a instalação de implantes anteriores em uma posição favorável estipulada no
osseointegrados na região anterior da maxila planejamento reverso para a reabilitação protética sem
(MAGINI, 2006). antes realizar uma reconstrução óssea.
Muitos estudos tem sido realizados a fim de
minimizar essas limitações por meio de cirurgias cada
vez mais simples e menos traumáticas. A Regeneração
Óssea Guiada (ROG), com o uso de membranas
reabsorvíveis de colágeno associada à matriz mineral
bovina, é uma forma de tratamento previsível e com
menor morbidade para os defeitos horizontais
(URBAN et al., 2013).
A manutenção do espaço e estabilidade do
coágulo são essenciais para o sucesso da ROG
(WANG; BOYAPATI, 2006). O espaço da ROG Figura 1 - Vista oclusal evidenciando o defeito ósseo
depende dos pontos anatômicos de referência, que no horizontal.
caso dos defeitos horizontais são as bossas vestibulares
dos dentes adjacentes (ELIAN et al., 2007). Para
melhorar a estabilidade do enxerto ósseo particulado,
reduzir a tensão do retalho e evitar o colabamento da
membrana, respeitando, assim, esse espaço para a
formação do novo osso, parafusos tipo tenda são
fixados no osso vestibular (CHASIOTI; CHIANG;
DREW, 2013).
REFERÊNCIAS
H
á anos, a odontologia vem podem ser submetidos a uma carga imediata.
buscando alternativa protética (BIANCHINI, 2013).
tanto parcial quanto totais Os princípios básicos da carga imediata
para reabilitar os pacientes giram em torno da estabilidade inicial dos
que sofrem com perdas dentárias. No que diz implantes. Se essa carga for colocada em implantes
respeito aos edentados totais, por melhor que fosse com pouco travamento inicial, poderá haver uma
a técnica e o material, o resultado era parcialmente micro-movimentação do implante, com a
satisfatório, tanto no aspecto funcional, quanto no consequente formação de um tecido fibroso na
aspecto protético. Com o aparecimento dos interface osso-implante, ocasionando a perda da
implantes osseointegrados e das próteses sobre os fixação. Nos casos em que não se tem uma
mesmos, na década de 60, tornou-se possível a estabilidade inicial adequada, o protocolo de espera
reabilitação dos pacientes totalmente edentados de entre três a seis meses, deve ser realizado
modo que a estabilidade, a fonação, mastigação e (BIANCHINI, 2013).
estética, passaram a ser uma alternativa segura e de Schnitmann; Wohrle; Rubenstein (1990)
grande aceitabilidade. Com o intuito de encurtar o publicaram o primeiro trabalho sobre carga
tempo de tratamento, foi desenvolvida a técnica de imediata em implantes. Eles demonstraram que
instalação dos implantes com carregamento quando respeitadas determinadas condições, a carga
imediato, que permite a diminuição do tempo de imediata pode constituir uma alternativa de boa
instalação da prótese definitiva, possibilitando a previsibilidade em relação ao protocolo tradicional
colocação dos implantes sob função, em até 48h de dois estágios cirúrgicos. Dentre essas condições,
após a cirurgia. segundo SOBALLE et al. (1993), se destacaram a
Carga imediata em implantodontia pode colocação de implantes em osso que permita a
ser definida como sendo a instalação de uma estabilidade inicial; componentes cirúrgico-
prótese fixa parafusada ou cimentada sobre um protéticos confiáveis do ponto de vista
implante, sem que tenha ocorrido sua biomecânico; próteses bem ajustadas; conexão
osseointegração, ou seja, antes que ocorram rígida entre os implantes, através de infraestrutura
modificações biológicas no osso, em torno de sete metálica; seleção do paciente com condições
dias, segundo Laércio W. Vasconcelos. Entretanto, sistêmicas satisfatória e bom padrão de
é necessária a observância dos princípios básicos da higienização; técnicas cirúrgicas e protéticas
osseointegração, para que os altos índices de precisas, segundo os protocolos pré-estabelecidos;
sucesso sejam mantidos. O aparecimento de novas não remover a prótese fixa ou a esplintagem dos
técnicas geralmente fica restrito a situações clínicas implantes antes de quatro meses. Em 2001,
específicas, o que impede o seu uso em uma gama SKALAK relatou que a carga imediata promove
maior de pacientes. Em se tratando de carga uma estimulação precoce, acelerando a
imediata, o raciocínio é o mesmo, pois existe a neoformação e a remodelação óssea, mas não inibe
possibilidade de se lançar mão dessa técnica a reabsorção do osso injuriado pelo trauma
perfeitamente, desde que os casos sejam favoráveis cirúrgico. O protocolo de dois estágios, segundo
a ela. Assim, como nem todos os casos podem ser BERGKVIST et al. (2005) pode expor os implantes
reabilitados com implantes, nem todos os implantes através do atrito na mucosa, devido a utilização de
próteses removíveis após o primeiro estágio
768
cirúrgico, criando crateras de defeitos ósseos
marginais. CHRCANARVC; ALBREKTSSON;
WENNERBERG (2014) apresentaram um estudo
de revisão de literatura, no qual concluíram que as
diferenças na carga oclusal imediata e não imediata
não afetam a sobrevivência dos implantes dentários
Figura 1 - Aspecto inicial do caso.
e que não existe qualquer efeito significativo
aparente sobre a perda de osso marginal, resultado
Exames clínicos, radiográficos e
chegado por PENARROCHA et al. (20150.
tomográficos avaliaram a relação maxilo-
O presente trabalho tem a finalidade de
mandibular, oclusão e a condição inicial da paciente
apresentar a confecção de um protocolo com carga
com suas próteses. Nos exames de imagem, foi
imediata na mandíbula sobre 5 implantes, com uma
possível evidenciar a grande reabsorção óssea
prótese total convencional na maxila, desde seu
posterior às emergências mentonianas. Em
planejamento até sua instalação, com
compensação, a região intermentoniana apresentava
acompanhamento de 1 ano. Durante os
quantidade suficiente para instalação dos implantes.
procedimentos de instalação dos implantes
Também foram pedidos exames laboratoriais para
submetidos à carga imediata, a utilização de um
constatação de boa condição sistêmica da paciente.
artefato chamado de guia multifuncional tanto na
Após o plano de tratamento estabelecido em
fase cirúrgica, para orientar a localização e
comum acordo com a paciente, optou-se por tratá-la
posicionamento dos implantes, como na fase
com uma carga imediata em mandíbula com
protética, assegurando a correta dimensão vertical,
exodontia simultânea dos dentes remanescentes.
servindo como moldeira individual e facilitando a
O próximo passo dado foi a realização da
finalização da confecção da prótese, uma vez que o
moldagem na mesma para confecção de um modelo
mesmo diminui o tempo clinico, simplifica a
de trabalho montado em articulador semi-ajustável,
técnica e propicia mais segurança aos resultados
no qual foi confeccionado plano de cera e
(CAMPOS et al., 2006).
montagem de dentes determinando uma dimensão
vertical de oclusão correta. Após a prova funcional
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
e estética da prótese total superior, a prótese total
inferior, ainda em cera, foi duplicada em resina
Paciente pardo, do gênero feminino, 58
acrílica transparente, transformando-se em um guia
anos, portadora de prótese total superior e prótese
multifuncional. Um cuidado especial para
parcial removível inferior, classe IV de Kennedy,
manutenção da dimensão vertical de oclusão foi
com características estéticas e mecânicas
dado ao guia multifuncional, uma vez que este será
desfavoráveis, compareceu ao curso de implante da
usado durante o transoperatório para orientação dos
faculdade São Leopoldo Mandic - Unidade Rio de
implantes na moldagem de transferência dos
Janeiro,, para tratamento dentário. A paciente
implantes e na montagem do modelo inferior no
relatou estar insatisfeita com a estética e a função,
articulador.
devido às condições dos dentes remanescentes e da
prótese parcial inferior desconfortável.
769
A fase cirúrgica iniciou-se com a Figura 3 - a) Prova do guia multifuncional. b) Prova dos
exodontia dos dentes remanescentes inferiores, e pinos guias. c) Instalação dos implantes.
em seguida, a osteotomia para o nivelamento do
rebordo com broca cirúrgica tipo maxicut e pinça Em seguida, são instalados componentes
goiva biarticulada, além da localização dos forames minipilares, os quais receberam torque de 20 N,
mentonianos bilateralmente. Desta maneira, a como preconiza o fabricante, e a sutura da mucosa
superfície de ancoragem da prótese terá a maior alveolar. Nesse momento, são fixados os
área possível, evitando extenso cantileveres. transferentes de moldagens sobre os mini-pilares e
os mesmos são unidos entre si e ao guia
multifuncional com resina auto-polimerizavel tipo
Patern-Resin.
dos parafusos apertados também alcançou a marca SKALAK, R. Um breve relato sobre a filosofia do
procedimento de etapa única versus o de duas
de 100% no período de acompanhamento que foi de etapas para prótese dentária suportada por implante
1 ano. Amparada na revisão da literatura e nos osseointegrado.
A
reabilitação de áreas necessidade de novas técnicas de reconstrução
posteriores atróficas da óssea, já que a reabilitação com implantes só é
maxila tem sido possível na presença de bases ósseas adequadas
considerada como um procedimento complexo para suportar as cargas mastigatórias
devido à reabsorção óssea e ao aumento da (SOBREIRA et al, 2010)
pneumatização do seio maxilar (JOHANSSON A estética ideal é conseguida quando o
et al., 2010; LAMBERT et al., 2010). contorno do rebordo alveolar e a correta posição
Para MARTINS et al (2011), a do implante permitem a forma, a cor e o perfil
reabsorção óssea do processo alveolar da maxila de emergência da restauração a unirem-se,
na região posterior pode limitar a colocação de imperceptivelmente, com o tecido gengival
implantes com comprimentos adequados com o adjacente (MANSO E LANG 1997).
intuito de obter estabilidade sob forças de cargas O osso cortical do ramo da mandíbula
mastigatórias. A densidade óssea da região é, dentre todas as áreas doadoras intraorais,
posterior da maxila reduz com a idade. A perda aquele que tem a maior concentração de
dos dentes provoca o estreitamento de largura proteína óssea morfogenética. Osteogênese
da crista óssea alveolar, diminuição da altura e refere-se aos materiais que são capazes de
redução do osso trabecular. Desta forma, os formarem osso mesmo na ausência local de
estímulos que mantêm a morfologia do osso células mesenquimais indiferenciadas. O osso
alveolar são perdidos com a ausência dos autógeno consiste em matriz inorgânica, que é
dentes. primariamente hidroxiapatita, mas também
A cirurgia de levantamento do seio contém osteócitos, osteoblastos, osteoclasto e
maxilar com comprovada eficácia e proteínas osteogênicas. O mecanismo de
previsibilidade é realizada associada a crescimento ósseo com osso autógeno inclui
biomateriais para restaurar uma quantidade osteocondução, osteoindução e osteogênese
suficiente de osso alveolar (MARTINS et al, (BOYNE, 1980)
2011).
A técnica Caldwell Luc consiste na
DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO
formação de uma janela por osteotomia da
parede lateral do seio maxilar, dando acesso à
Paciente C.A.P., 50 anos,
membrana Schneideriana, a qual é deslocada
normossitêmico, foi atendido na clínica do
delicadamente, sem que haja a perfuração da
Mestrado em Implantodontia da Faculdade São
mesma. Em seguida, a área receptora deve ser
Leopoldo Mandic - Unidade Fortaleza,
preenchida com material de enxerto, o qual, de
queixando-se do uso de próteses removíveis e
acordo com a sua origem, pode ser classificado
reclamava, também, de falta de estética pela
como: autógeno, homógeno, xenógeno e
perda dos dentes 14, 12, 11, 21, 22, 25 e 26.
aloplástico (TREVIZANE, 2011)
Ao exame clínico, o paciente
Para a região anterior da maxila, graças
apresentava prótese parcial removível e boa
à enxertia óssea, tem-se ampliado o estudo
higiene dental.
sobre o uso de implantes osseointegrados na
substituição de dentes perdidos, gerando a
774
epinefrina a 1:100.000(Alphacaine, Nova DFL,
Rio de Janeiro-RJ) e Bupivacaína 0,5% e
epinefrina a 1:200.000 (Neocaína, Cristália,
Itapira-SP).
A primeira cirurgia a ser realizada foi
de enxerto de bloco ósseo autógeno na área
Figura 1 - Radiografia panorâmica inicial. correspondente aos dentes 12, 11, 21 e 22, com
osso removido da linha oblíqua externa do lado
Ao exame radiográfico constatou-se direito da mandíbula. A área receptora na
deficiência do rebordo anterior em espessura e maxila foi acessada para dimensionar
perda óssea na região correspondente aos dentes aproximadamente o tamanho do bloco ósseo. O
25 e 26 com aproximadamente 4 mm entre a acesso cirúrgico ao ramo mandibular foi
crista e o assoalho do seio maxilar. Essa determinado após palpação cuidadosa da região,
dimensão permite o acesso por meio da técnica para identificar a linha oblíqua. Após distensão
da abordagem lateral do seio maxilar para da mucosa, a incisão foi realizada da distal do
enxerto ósseo, com instalação do implante em segundo pré-molar e se estendeu até o trígono
um segundo momento cirúrgico. retromolar. A incisão foi feita ao longo da linha
A cirurgia de reconstrução óssea foi mucogengival, para minimizar a formação de
realizada em dois tempos cirúrgicos. Na tecido cicatricial e facilitar a sutura. Uma vez
primeira cirurgia, foi removido o enxerto ósseo feita a incisão, o descolamento mucoperiosteal
autógeno da área doadora da mandíbula (linha do corpo mandibular foi realizado, expondo a
oblíqua externa) e o bloco ósseo adaptado na face lateral do ramo/corpo. A osteotomia
área receptora correspondente à região anterior horizontal se estendeu anteriormente até a distal
na maxila. do primeiro molar (46) e os cortes anteriores e
posteriores foram perpendiculares no final da
linha de osteotomia horizontal de
aproximadamente 10 mm de comprimento; a
osteotomia inferior, que conecta os dois cortes
verticais foi feita por meio de um pequeno disco
montado em peça reta. Como o acesso e a
visibilidade são limitados na região posterior da
mandíbula, apenas um corte raso com metade
do diâmetro do disco foi realizado no osso
Figura 2 - Área receptora da maxila.
cortical, para criar uma linha de fratura. Com o
auxílio de um cinzel, verificou-se a completa
Após a assepsia extra e intra-bucal, o
mobilidade do osso cortical. Após a remoção, o
paciente foi anestesiado na área doadora com
bloco foi mantido em solução de NaCl 0,9%
bloqueio do nervo alveolar inferior direito e, na
enquanto era realizada a sutura com fio de
área receptora, foi realizada anestesia infiltrativa
Nylon 5.0.
vestibular, anestesia infraórbitária e bloqueio do
nervo naso-palatino com Lidocaína 2% e
775
Após três meses, foi realizada a
cirurgia de levantamento de seio maxilar
esquerdo. Após a assepsia extra e intra-bucal, o
paciente foi anestesiado na área doadora com
bloqueio do nervo alveolar inferior esquerdo e
na área receptora com bloqueio do nervo
alveolar superior posterior esquerdo e terminal
infiltrativa com Lidocaína 2% e epinefrina a
1:100.000(Alphacaine, Nova DFL, Rio de
Janeiro-RJ) e Bupivacaína 0,5% e epinefrina a
1:200.000 (Neocaína, Cristália, Itapira-SP).
Inicialmente, foi realizada incisão no
rebordo ósseo da área correspondente aos dentes
Figura 3 - Osteotomia da linha oblíqua externa. 25 e 26 e incisão relaxante ascendente na distal
do dente 24.
A área receptora foi preparada com
várias perfurações realizadas com broca esférica
para expor o osso medular (figura 4).
A
ancoragem na ortodontia pode ortodônticos em situações que exigem ancoragem
ser definida como uma fixação absoluta. Contudo, eles ainda estão sendo pesquisados
segura resistindo ao movimento para a finalidade de melhorar o seu prognóstico e
dentário indesejado, e é uma diminuindo a sua alta taxa de falhas (AIRBATA
das maiores preocupações do ortodontista durante o et al., 2016).
planejamento e execução do tratamento ortodôntico. Os mini-implantes foram introduzidos na
Pode ser prestado por outros dentes, pelo palato, ortodontia com o objetivo de substituição a outros
cabeça e pescoço. mecanismos de ancoragem absoluta. Como, por
Sempre que aplicamos uma força contra um exemplo, os implantes e onplantes. (KANOMI, 1997;
dente ou a grupo de dentes, outra força de mesma ELIAS et al., 2005). São confeccionados em sua
intensidade em direção oposta é produzida sobre a maioria com a liga Ti-6Al-4V, diferentemente dos
área de apoio e esta área de apoio é chamada de implantes dentários osteointegráveis, que são
unidade de ancoragem. Quando existe a necessidade geralmente fabricados com titânio comercialmente
de ancoragem intrabucal apoiada em dentes, temos puro. Isto se dá, basicamente, pelos seguintes motivos:
uma grande limitação, já que os mesmos sofrem os mini-implantes são menores em diâmetro que os
movimentação m resposta à reação da força aplicada. implantes convencionais, sendo assim, faz-se
Na ancoragem extra-bucal, dependemos da necessária a utilização de material de maior resistência
colaboração do paciente. Para estes casos, a mecânica que o titânio dos implantes osseointegráveis.
ancoragem óssea é um método auxiliar durante o Esta liga possui características inferiores ao titânio
tratamento ortodôntico. comercialmente puro, em relação à bioatividade, o que
Na literatura, já foram descritos vários faz com que a qualidade de osseointegração seja
métodos de ancoragem óssea, dentre eles os implantes menor e a facilidade de remoção maior. Além disso,
osseointegráveis. A utilização de implantes os sistemas de mini-implantes baseiam-se na
osteointegráveis como mecanismo de ancoragem foi estabilidade mecânica primária, e não na estabilidade
indicada para casos que exigiam mais complexidade secundária advinda da osteointegração. Variam quanto
para diminuição do tempo de tratamento, e foi à forma, design e medidas, de acordo com a marca
chamada de ancoragem absoluta (COSTA; RAFFANI; comercial. Possuem três porções distintas: cabeça-
MELSEM, 1998) tendo a grande vantagem de não área para instalação de dispositivos ortodônticos;
depender da colaboração do paciente, assim como a porção transmucosa ou pescoço- região existente entre
estabilidade durante todo o período do tratamento. A a porção rosqueável e a cabeça do implante
osseointegração é análoga à situação de um dente (geralmente lisa, acomoda os tecidos peri-implantares)
anquilosado, que pode ser submetido a forças e porção rosqueável - parte ativa do mini-implante
ortodônticas sem sofrer movimentação, ou seja, pode (SQUEFF et al., 2008).
servir como unidade de ancoragem estável. A maior vantagem está no melhor controle da
Desde 1997, a incorporação dos MI na direção e da intensidade das forças (LEE et al., 2001),
ortodontia tem melhorado os resultados tratamentos as quais podem ser aplicadas com
quase que imediatamente após a cirurgia. Entre outras procedimento cirúrgico simples, possibilitando ao
vantagens, podemos incluir: o tamanho reduzido, ortodontista fazê-lo, fácil remoção e baixo custo
possibilitando a colocação em diversos locais da (KANOMI, 1997; PARK et al., 2001).
cavidade dentária; diversas aplicações clínicas;
781
Bezzerra et al. (2004) relataram que dentre as estabilidade primária é priorizada em vez da
várias formas de se obter a ancoragem absoluta osseointegração. Para conseguir uma retenção
indicadas na literatura, a que tem demonstrado maior mecânica adequada, diversos fatores são considerados
aplicabilidade clínica é a técnica utilizando mini- como design do parafuso, incluindo comprimento,
parafusos ortodônticos comparados com outros diâmetro, podendo ser autoperfurantes ou auto-
sistemas de ancoragem absoluta, como os implantes rosqueantes e ainda forma cônica ou cilíndrica.
osseointegráveis ou as mini-placas. Por terem tamanho A eficácia clínica dos mini-implantes é
reduzido, podem ser inseridos em diversos locais do dependente da estabilidade primária dos mesmos e
osso alveolar e basal. O MI tem se apresentado como está diretamente relacionada a algumas vantagens de
um importante método de ancoragem em ortodontia, seu uso, como a fixação rígida, a facilidade de
eliminando, em grande parte, a necessidade de colocação e remoção, os fios e os elásticos
cooperação dos pacientes. Mas o seu sucesso depende intermaxilares que podem ser amarrados logo após a
da estabilidade mecânica inicial, da qualidade óssea e inserção e a facilidade de higienização comparada a
quantidade de carga. A ancoragem oferecida pelo MI outros métodos convencionais.
pode ser utilizada logo após a sua instalação ou até 15 Os mini-implantes apresentam-se como uma
dias após, segundo afirmaram Consolaro et al. (2008), técnica simples e pouco invasiva, sem necessidade da
sendo que a força inicial deve ser entre 150 a 200g, utilização de terapia medicamentosa antes ou após sua
podendo aumentar gradualmente, relevando-se sempre inserção, sendo confortáveis para o paciente. Tal
a quantidade e a qualidade do osso, como a espessura alternativa de ancoragem é bastante recomendada para
da cortical e a densidade óssea. Segundo os autores, o resolver problemas complexos em Ortodontia, como
seu mecanismo de ação se baseia no embricamento intrusões, extrusões, retração, protração, distalização,
mecânico e não no conceito da osseointegração. E a verticalização, mesialização e quando o paciente
osseointegração, quando ocorre, dificulta a sua apresenta-se com número insuficiente de dentes para a
remoção, aumentando o risco de fratura do mesmo. aplicação de recursos convencionais (cujas forças
Kanomi (1997) introduziu os mini-parafusos empregadas podem gerar efeitos reativos adversos),
ortodônticos e propôs o emprego desses dipositivos sendo necessária a movimentação dentária assimétrica
devido à sua praticidade de aplicação. Os mini- em todos os planos de espaço, e algumas vezes, como
implantes possuem poucas limitações quanto ao local alternativa à cirurgia ortognática (SQUELÉFF et al.,
de inserção devido ao seu tamanho reduzido, o que 2008).
facilita a aplicação em praticamente qualquer lugar da Devido à grande importância da ancoragem
mandíbula e maxila, inclusive entre as raízes dos esquelética e ao aumento da utilização dos mini-
dentes. Além de ser um recurso eficaz, são de fácil implantes nos tratamentos ortodônticos, existe a
instalação e remoção. Desta forma, para minimizar a necessidade de avaliar a perda da estabilidade destes
perda de ancoragem dentária, a utilização de mini- dispositivos após a aplicação de carga.
implantes é uma alternativa viável como ancoragem
absoluta em ortodontia, facilitando o tratamento Indicações dos mini-implantes
ortodôntico e reduzindo a necessidade de colaboração Araújo et al. (2008) sumarizaram e
do paciente (ROBERTS-HARRY; SANDY, 2004). exemplificaram diversas possibilidades de utilização
Uma vez que, na maioria dos casos, estes dos mini-implantes com vistas à intrusão dentária,
dispositivos são utilizados por tempo limitado, a
782
destacando-se, em algumas situações, cuidados que Intrusão de caninos
devem ser adotados para se obter os efeitos desejados. Para intrusão dos caninos, mantendo-se a
inclinação axial, sugere-se a utilização de dois mini-
Intrusão de incisivos implantes, um por mesial e outro pela distal, para não
A intrusão de dentes anteriores, indicada em gerar além da força intrusiva, um componente de força
alguns casos de sobremordida exagerada, tem sido para mesial e outra para distal. Para controlar o efeito
realizada, tradicionalmente, por meio de arcos de indesejado de inclinação vestibular, confeccionamos
intrusão com degraus, com curva acentuada ou curva um arco de aço tangenciado a face vestibular do
reversa no arco inferior. Porém, tem efeitos colaterais canino logo abaixo do braquete. Pode-se colocar,
como a extrusão ou a inclinação das unidades de também, um mini-implante pela vestibular na mesial e
ancoragem. outro pela palatina em sua face distal do dente, ou
A posição ideal para a instalação dos mini- vice-versa. Utiliza-se um elástico que une um
implantes com a finalidade para intrusão dos incisivos implante ao outro, passando pelo centro da coroa deste
superiores depende da inclinação destes. Quando estão dente.
verticalizados ou retroinclinados como na classe II
segunda divisão de Angle, utiliza-se um único Intrusão de dentes posteriores
implante na linha média, o mais alto possível, próximo É geralmente necessária, quando há perda do
à espinha nasal anterior. Para intrusão dos incisivos antagonista, e quando existe excesso vertical,
inferiores retroinclinados ou verticalizados, colocamos causando mordida aberta anterior. É o movimento
o mini-implante entre os incisivos, o mais baixo mais difícil de ser obtido, devido ao volume radicular
possível. Nesta posição, a linha de força passará à de molares e pré-molares. Para a intrusão de um molar
frente do centro de resistência do conjunto, gerando superior, utilizamos dois mini-implantes, um pela
um efeito de intrusão associado à inclinação vestibular vestibular e outro pela palatina, para que não ocorra
destas unidades. Para que a linha de força passe o movimentos indesejáveis.
mais próximo possível pelo centro de resistência dos Para a intrusão de um grupo de dentes, estes
incisivos e só haja movimento de intrusão, ARAÚJO devem estar unidos em bloco. Pode-se instalar
et al. (2008) sugere dois mini-implantes posicionados braquetes nas superfícies vestibular e palatina dos
entre os incisivos laterais e os caninos. mesmos e uni-los a arcos segmentados, ou um único
Quando da retração de dentes anteriores, em fio passando pela oclusal, sem causar interferência.
casos anteriores tratados com exodontias de pré- Dois implantes, em geral, são necessários.
molares, pode ocorrer um aumento da sobremordida e Araújo et al. (2008) utilizaram dois mini-
alteração da inclinação axial dos incisivos, durante o implantes para a intrusão de dois pré-molares até que
movimento para posterior. Indica-se a colocação de os dentes do hemiarco fossem nivelados. Depois, os
um mini-implante na linha média. dentes foram unidos com um fio na oclusal e o sistema
É importante checar se a forma do arco, o voltou a ser ativado com elástico, para a intrusão em
plano oclusal, que podem sofrer modificações caso a bloco.
intrusão não ocorra simetricamente. O torque também Os mini-implantes utilizados com o objetivo
deve ser monitorado quando a intrusão é realizada de ancorar o movimento de intrusão devem ser
com arcos leves. posicionados o mais apicalmente possível,
respeitando-se, em geral, os limites da mucosa
783
ceratinizada. A mucosa alveolar deve ser evitada, Correção do plano oclusal
devido ao risco de inflamação que pode comprometer Bezzerra et al. (2008) afirmaram que os MI
a estabilidade do mini-implante. Os autores afirmaram podem ser empregados com sucesso nos diversos tipos
que, quanto o mais apicalmente o mini-implante for de assimetrias dentárias como: inclinação do plano
colocado, deve ser posicionado perpendicularmente a oclusal, desvio de linha média, relação molar
cortical óssea para evitar a perfuração do seio maxilar. assimétrica e mordida cruzada posterior unilateral.
Cada mini-implante suporta uma força de até Uma das vantagens da utilização dos MI em relação
450g e que a força ótima para a intrusão de um molar aos elásticos cruzados é atuar em apenas um arco
é de 150g. isoladamente, evitando efeitos deletéricos no arco
O movimento de intrusão é mais lento que os oposto, como por exemplo, forças extrusivas. Em
outros movimentos. Tem um período de inércia de até casos de inclinação do plano oclusal, tanto na região
três meses, e uma vez rompida esta inércia, a intrusão anterior quanto na região posterior, a utilização de
ocorre a uma taxa de 0,3mm ao mês. mini-implantes em lugares estratégicos permite a
Ao intruir um dente, devemos fazer o aplicação de força de diferente magnitude em um dos
controle radiográfico. Quando o nível do osso alveolar lados, promovendo a correção deste desvio. Isto se
acompanha o mesmo desnível observado nas cristas aplica tanto ao arco superior quanto ao arco inferior.
marginais dos dentes envolvidos, o nivelamento das ARAÚJO et al. (2008) utilizaram 1mini-implante
cristas se dará através da intrusão. Entretanto, se o entre o canino e o primeiro pré-molar, com ativação
nível ósseo for plano, a mecânica de intrusão levará a diretamente no arco contínuo da aparatologia
um defeito ósseo vertical na face proximal do dente ortodôntica. Pacientes portadores de assimetrias
adjacente, e neste caso, seria melhor o nivelamento faciais ou disfunções musculares graves e em algumas
por meio da redução do comprimento da coroa. Após patologias localizadas, com a utilização de mini-
a intrusão, devemos fazer a manutenção destes por um implantes, torna a mecânica de intrusão bem mais
período de três meses com um fio de amarrilho. simples.
Figura 3 - Oclusão lateral esquerda. implante foi colocado. Foram necessárias apenas 3
gotas de anestésico aproximadamente de acordo com a
Após a montagem da aparelhagem técnica para a colocação para cada um dos
ortodôntica fixa, e de acordo com o planejado, dispositivos de ancoragem. A agulha foi inserida
fizemos a sequência de nivelamento com os arcos 0,12 adjacente ao local, diferentemente da anestesia
nitinol, arcos 16 x 22 termo, arcos nitinol 17 x25 e infiltrativa no fundo do vestíbulo.
786
Comprovada a estabilidade primária dos mesmo tempo, uma ligeira vestibularização
mini-implantes, o paciente foi orientado a fazer a possibilitando, assim, o fechamento do espaço
higienização do local com bochechos com gluconato remanescente (figura 6).
de clorexidina a 0,12%, duas vezes ao dia, durante
quinze dias. Logo após a cirurgia, foi administrado via
oral, Paracetamol 750mg para conforto do paciente.
Também foi prescrito para o paciente a administração,
via oral, de analgésico Paracetamol 750mg, em caso
de dor.
Também foi orientado a fazer utilização de
escova dental extra-macia para a limpeza do mesmo.
Durante o tratamento ortodôntico, foram realizadas
outras cirurgias para colocação de mini-implantes para
outros movimentos, e as orientações e procedimentos
foram os mesmos.
Após quinze dias da cirurgia, começou a Figura 6 - Mini-implante na linha média.
retração dos caninos 13 e 23. E para controle de
ancoragem utilizamos a ancoragem indireta nos mini- Somente depois da intrusão dos incisivos
implantes. superiores é que foi possível fechar o espaço
A altura dos mini-implantes deve ser igual no remanescente entre os laterais e o canino.
lado direito e no lado esquerdo, para não modificar a Na arcada inferior, um mini-implante foi
inclinação do plano oclusal (figura 5). posicionado entre o 43 e 45 para servir de ancoragem
direta para a mesialização do 46. Durante a
mesialização do mesmo, houve uma ligeira intrusão de
toda a hemi arcada inferior direita e,
consequentemente, uma inclinação do plano oclusal
inferior. Assim, foi decidida a colocação de um mini-
implante entre o elemento 33 e 35, para que, através
de um sistema de forças adequado, fosse possível a
Figura 5 - Mini-implantes posicionados na mesma
correção do mesmo (figuras 7 e 8).
altura lado direito e esquerdo.
N
o processo de osseointegração osseointegração, favorecendo a evolução da
dos implantes de titânio, as implantodontia (DAVIES, 2003; LEE et al., 2005;
características biológicas do OSHIDA, 2010).
material, a forma e, principalmente a O avanço do processo de reabilitação com
microtopografia da superfície do implante, implantes odontológicos foi também marcado pelo
influenciam diretamente no comportamento das reconhecimento da necessidade de aprimoramentos
células, no que diz respeito à proliferação, adesão, de alguns aspectos, como as técnicas cirúrgicas,
alterações morfológicas, alterações funcionais e macrogeometria dos implantes, e microgeometria
diferenciação celular (LEE et al., 2005). Isto levou através de tratamento de superfícies, entre outros
à necessidade de se implementar novas (GILBERT et al., 2009). Enquanto este marco na
características às superfícies dos implantes para implantodontia atual trouxe uma possibilidade
otimizar o processo da osseointegração, adicional de reabilitação bucal completa, parcial e
viabilizando as atuais tendências de aplicação unitária e com altos índices de sucesso, a
clínica dos implantes osseointegráveis, resultando necessidade de se obedecer a um protocolo
numa osseointegração de melhor qualidade em temporal cirúrgico-reabilitador foi imposta como
menor tempo (AALAM; NOWZARI, 2005). Uma fator decisivo no sucesso (ALBREKTSSON et al.,
das estratégias para que isto ocorra é a modificação 1981). Um período de espera de até 6 meses de
das propriedades da superfície do implante de osseointegração era imposta para se iniciar os
titânio, pois as características fisicoquímicas da procedimentos de reabilitação funcional e estético
superfície do titânio podem aumentar sua hidrofilia, (ALBREKTSSON et al., 1986). Contudo, a
estimulando e melhorando a integração óssea, demanda por tratamentos com tempos mais curtos
histologicamente. Além disso, é bem estabelecido se tornou fator importante, especialmente sob a
que a alterações das propriedades físicas dos perspectiva dos pacientes que desejavam ser
biomateriais interferem positivamente na reabilitados no menor tempo possível
diferenciação fenotípica e na função celular (ALBREKTSSON; WENNERBERG, 2004). Desta
(ALFARSI; HAMLET; IVANOVSKY, 2014). forma, a busca da indústria para produzir implantes
Materiais que apresentam superfícies com maior que atendessem a esta demanda se tornou a força
nível de energia possibilitam uma maior integração motriz no desenvolvimento dos mesmos (COELHO
do tecido ósseo (OSHIDA, 2010). et al., 2015).
O contínuo sucesso da implantodontia Norteado na necessidade de desenvolver
depende do refinamento no design do implante e um implante que associasse otimização da técnica
sua superfície, que leva à otimização das respostas cirúrgica e do tempo de reabilitação, a
®
biológicas de cicatrização após a instalação dos S.I.N. (Sistema de Implantes) buscou produzir um
implantes. Observação esta que levou ao implante cujo sistema de fresagem, geometria e
desenvolvimento de sistemas de implantes com tratamento de superfície nanoativada, com o
potencial de influenciar as taxas de sucesso. Diante objetivo único de estimular resposta óssea
disso, pesquisas de novos tratamentos de superfície acelerada. Como beneficiário final, o paciente
são fundamentais para compreender quais poderia ser reabilitado em tempos menores ou até
características alteram positivamente a mesmo imediatamente após a instalação do
790
implante, com maior segurança e previsibilidade.
Sendo assim, este capítulo tem como
objetivo a exposição de um caso clínico cirúrgico
de instalação de um implante UNITITE fabricado
pela S.I.N. ® (Sistema de Implantes). Foi utilizado
planejamento prévio, tendo auxílio de tomografia
computadorizada por feixe cônico.
vertical, que consiste em uma técnica para o processo depende da sua composição e do tempo
aumento na altura óssea. As técnicas de aumento necessário para que a membrana mantenha a área a
ósseo podem ser realizadas tanto antes quanto no ser regenerada isolada (PINEDA et al., 1996).
momento da instalação dos implantes. Nesses As membranas não reabsorvíveis são
procedimentos de dois ou um único estágio, vários formadas por outros componentes como, por
tipos de técnicas e materiais podem ser utilizados exemplo, a celulose e o politetrafluoretileno que
(ESPOSITO et al., 2009). lhes confere rigidez e estabilidade. Contudo, o fato
Nos casos de deficiências ósseas no leito de não serem degradáveis resulta na necessidade de
receptor dos implantes existe a possibilidade do um segundo momento cirúrgico para sua remoção,
preenchimento do defeito com enxertos ósseos ou o que implica em maior morbidade (PINEDA et al.,
com a utilização de membranas que podem ser 1996).
reabsorvíveis ou não. A decisão de qual estratégia Dentro das vantagens das membranas não
usar para correção de defeitos ósseos está baseada reabsorvíveis, podem ser citadas: 1) evidência
em suas características, tais como: localização, cientifica; 2) biocompatibilidade; 3) manutenção da
vascularização, extensão, quantidade de paredes integridade estrutural durante sua instalação e em
ósseas remanescentes, entre outras (NETTO et al., seu período de atuação; 4) maior capacidade de
2013). manter os espaços quando comparadas às
Os enxertos ósseos contribuem para reabsorvíveis. No que se referem às suas
neoformação óssea em alguns defeitos, podendo ser desvantagens, pode-se relatar: 1) necessidade de um
utilizados tanto o osso autógeno quanto substitutos segundo momento cirúrgico para remoção; 2) risco
ósseos, e a sinergia destes com as membranas de exposição da membrana com possibilidade de
biológicas tem demonstrado bons resultados infecção e comprometimento da regeneração; 3)
(SCHWARZ et al., 2007). reações citotóxicas que o PTFE pode provocar
A regeneração óssea guiada (ROG) é um (BOTTINO et al., 2012; DIMITRIOU et al., 2012).
procedimento regenerativo baseado na regeneração Um estudo comparando a regeneração
tecidual guiada (RTG), que envolve a colocação de óssea ao redor de implantes osseointegrados em
uma membrana para proteger o coágulo de sangue e humanos, utilizando membrana de e-PTFE e
criar um espaço isolado ao redor do defeito ósseo, membrana de ácido polilático / poliglicólico,
viabilizando a regeneração óssea sem a competição concluiu que as membranas não reabsorvíveis
de outros tipos de tecidos (ARTZI; TAL; proporcionaram maior formação óssea que as
CHWEIDAN, 1998). reabsorvíveis (SIMION et al., 1996).
Diversos tipos de membranas e materiais A utilização de membranas de
enxertantes têm sido usados com sucesso em politetrafluoretileno expandido (e-PTFE) e osso
diferentes estudos em modelos animais e humanos particulado é uma técnica considerada efetiva e
com o objetivo de regenerar defeitos ósseos previsível para ROG, objetivando o aumento ósseo
796
horizontal e vertical. Um fator importante a ser quando havia a possibilidade de instalar um
destacado é que estas membranas devem sempre ser implante na área regenerada em posição adequada
estabilizadas com tachinhas ou parafusos para para uma boa estética e função. A taxa de sucesso
proporcionar sua imobilidade. Os resultados total foi de 85,2%. Houve exposição da membrana
histológicos dessa técnica têm demonstrado em 4 casos (14,8%), mas em nenhum deles , a
claramente que o osso regenerado segue um padrão membrana foi removida antecipadamente por causa
normal de neoformação óssea. A efetividade desse da exposição; os pacientes foram orientados a
procedimento cirúrgico de aumento ósseo pode ser escovar a membrana exposta com gel de
observada tanto previamente quanto no momento clorexidina durante o período de cicatrização. Em
da instalação do implante (URBAN; JOVANOVIC; nenhum caso houve perda do enxerto e, em todos os
LOZADA, 2009; MERLI; LOMBARDINI; casos de exposição da membrana, foi possível
ESPOSITO, 2010). instalar o implante na posição planejada, sendo
FONTANA et al. (2015) observaram que considerados sucessos.
o procedimento de ROG com a utilização de Neste relato de caso de um defeito ósseo
membranas de e-PTFE com reforço de titânio levou resultante de iatrogenia durante tratamento
à um completo preenchimento ósseo nos espaços ortodôntico, com caraterística de deficiência em
sob a membrana, na maioria dos sítios observados, altura e espessura, foi realizado um procedimento
com exceção daqueles em que houve a necessidade de ROG utilizando-se de membrana de
da remoção prematura das membranas, em virtude politetrafluoretileno com reforço de titânio
de complicações. Como consequência, houve uma associado a enxerto ósseo particulado xenógeno.
diminuição no ganho ósseo e uma significativa Houve exposição precoce da membrana, a qual
reabsorção óssea a partir do momento da remoção recebeu tratamento com clorexidina 0,12% durante
das membranas. Esse fato indicou que a presença o período em que a manutenção da membrana
física da membrana e sua habilidade de manutenção ainda se fazia necessária. Após o período
do espaço, além da rigidez conferida pelo reforço regenerativo, mesmo com a exposição da
de titânio, podem ser essenciais nos procedimentos membrana, não houve perda óssea significativa,
para aumento ósseo vertical com ROG. possibilitando a instalação do implante em uma
Uma das principais complicações posição tridimensionalmente ideal e posterior
observadas nos procedimentos de ROG com a reabilitação protética.
utilização de membranas não reabsorvíveis é a
exposição precoce da membrana, que pode levar à DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
contaminação do sítio cirúrgico e à perda total ou
parcial da regeneração. A exposição pode ser Paciente de 23 anos, gênero feminino, sem
relacionada à rigidez da membrana que provoca a alterações sistêmicas, apresentando como queixa
deiscência dos tecidos moles (JUNG et al., 2012; principal a perda do elemento 25, procurou
DIMITRIOU et al., 2012). atendimento no curso de especialização de
LINDFORS et al. (2010) publicaram um implantodontia na ABO de Palmas - TO. Foi
estudo sobre a ROG utilizando membrana de e- relatado pela paciente que, durante o tratamento
PTFE com reforço de titânio e osso autógeno ortodôntico, uma borracha de afastamento ficou
particulado. O tratamento foi considerado sucesso presa no sulco gengival do elemento 25,
797
acidentalmente, o que gerou um processo futura instalação de implante numa posição
infeccioso com perda óssea e perda dental tridimensional ideal, foi planejada uma abordagem
subsequente. em três tempos cirúrgicos: 1) ROG com membrana
Nos exames clínico (figura 1A e 1B) e não reabsorvível e osso xenógeno; 2) instalação do
tomográfico (figuras 2A e 2B), foi observado um implante dentário; 3) reabertura para subsequente
grande defeito ósseo tanto em altura quanto reabilitação protética.
espessura. A medicação antibiótica (amoxicilina 875
mg) foi prescrita durante sete dias, iniciando 24hs
antes do procedimento.
Uma dose única de anti-inflamatório
(dexametasona 4 mg) foi administrada no dia da
cirurgia. Analgésico (dipirona) foi prescrito para ser
utilizado em caso de dor e o controle do biofilme
foi feito com a utilização de bochecho de
clorexidina 0,12% ,duas vezes ao dia, durante dez
dias, iniciando-se dois dias previamente à cirurgia.
Após o procedimento de antissepsia e
anestesia local, foi realizada incisão intrasulcular na
vestibular do 26, supracrestal na região do 25,
intrasulcular na vestibular do 24 e relaxante vertical
na distal do 23 (figura 3A). No lado palatino, foi
Figura 1 - A) Vista lateral do defeito ósseo e B) Vista
realizada incisão intrasulcular no 24 e 26. Um
oclusal do defeito ósseo.
descolamento de espessura total foi executado além
dos limites do defeito ósseo a fim de uma completa
exposição do mesmo (figura 3 B).
Figura 4 - A e B) Membrana; C) Membrana sendo região (figuras 6A, 6B e 6C). Nesse exame, foi
testada no defeito ósseo. possível observar um ganho ósseo significativo em
altura e espessura, sendo possível planejar a
Inicialmente, a membrana foi fixada na instalação do implante.
tábua óssea vestibular apicalmente ao defeito, com
dois parafusos de fixação de 1,5 X 6 (Neodent,
Curitiba – PR, Brasil). O substituto ósseo (Bio-
Oss® - Geistlich, Wolhusen - Switzerland) foi
acomodado na região do defeito, na tentativa de
restabelecer a arquitetura óssea que existia
previamente ao defeito (figura 5A). Na sequência, a
membrana foi fixada na tábua óssea palatina
cobrindo todo o material de enxerto (figura 5B).
REFERÊNCIAS
O
s implantes dentários são uma têm afirmado que na extração, os locais devem ser
opção de tratamento bem livres de infecção para colocação imediata de implantes
estabelecido para restaurar a função (BECKER; BECKER, 1990; SCHWARTZ-ARAD;
em pacientes desdentados e parcialmente desdentados. CHAUSHU, 1997).
O procedimento original para implantes cilíndricos, tal Em um estudo com 30 pacientes parcialmente
como descrito por Branemark e colaboradores, desdentados, 61 implantes foram colocados
implantes eram colocados em osso cicatrizado e a imediatamente em locais com lesões periapicais
submersão desses implantes era estendida no período crônicas. Destes implantes, apenas 1 falhou, para uma
de cura, sem ser carregados (BRANEMARK et al., taxa de sucesso de 98,4% (DEL FABBRO;
1981). BOGGIAN; TASCHIERI, 2009). Os autores
Com o tempo, a cirurgia evoluiu e, concluíram que a colocação do implante imediato na
atualmente, a colocação do implante em locais de presença de infecção periapical poderia ser considerada
extração de alvéolos frescos em estágio único se uma opção segura, eficaz e de tratamento previsível.
provou uma cirurgia viável (SCHAWARTZ-ARAD et Em outro estudo, 15 pacientes com lesões
al., 1997; COLLAERT; DE-BRUYN, 1998). periapicais se submeteram instalação de implantes
Existem algumas vantagens óbvias para a imediatos. Por outro lado, 15 pacientes com extrações
colocação de implantes no momento da extração, de dentes individuais e nenhuma patologia periapical
incluindo diminuição do número de intervenções serviu como controle. Os parâmetros clínicos, tais
cirúrgicas, diminuiu tempo de cicatrização e como profundidade de sondagem, índice de placa
manutenção melhorada de arquitetura alveolar modificado, índice de sangramento modificado, nível
(PAOLANTONIO et al., 2001). de gengiva marginal, mucosa queratinizada, e os níveis
Foi afirmado que os implantes imediatos de osso marginal foram avaliados no início e aos 12 e
deveriam ter de 3 a 4 de paredes, mínima reabsorção 24 meses após a colocação dos implantes. Ambos os
óssea periodontal, osso suficiente para estabilizar o grupos de estudo tiveram uma taxa de sobrevivência de
implante, e o mínimo de defeitos circunferenciais. 100% (CRESPI; CAPPARÈ; GHERLONE, 2010).
(DOUGLAS et al., 2002). Enquanto esses pré- Vários outros estudos têm sido realizados com
requisitos foram cumpridos, colocação imediata resultados semelhantes (PATAGLION et al., 2009;
poderia ser considerada um procedimento seguro e SIEGENTHALER et al., 2007). Essa alternativa de
viável. tratamento despertou bastante interesse nos cirurgiões
Estudo retrospectivo realizado por Schwartz- por apresentar vantagens, como redução do tempo
Arad e Chaushu (1997), implantes imediatos foram cirúrgico e menor morbidade.
instalados e foram estudados ao longo de um período
de 5 anos, que tem uma taxa de sucesso de cerca de Diagnóstico tomagráfico
95%. Concluiu que, na sequência de protocolos Durante anos, os exames de imagens
específicos; colocação de implantes imediatos era uma bidimensionais foram recursos importantes à clínica
opção viável. odontológica devido à rápida aquisição, fácil
Demonstrou-se que os implantes podem ser interpretação e baixo custo. No entanto, por ser uma
colocados com sucesso em locais de extração frescos. representação gráfica (digital ou não) de estruturas
No entanto, pode-se instalar implantes de forma segura, tridimensionais, apresentam limitações no que diz
em alvéolos cronicamente infectados? Vários autores respeito à sobreposição de estruturas, ampliação,
804
magnificação, distorção e erros de posicionamento
(JOLY; CARVALHO; SILVA, 2015).
Este paradigma odontológico mudou a partir
do surgimento da técnica de tomografia
computadorizada de feixe cônico no final da década de
1990. Antes dessa descoberta, tecnológica, os
cirurgiões-dentistas utilizavam imagens provenientes
Figura 2 - Aspecto inicial radiográfico e tomográfico.
de tomógrafos lineares ou médicos, do tipo multi-slice.
Apesar da alta capacidade de diagnóstico na área
Planejamento
médica, estes equipamentos não supriam
Mediante a exames clínicos e de imagem,
adequadamente as necessidades odontológicas. No
planejou-se a extração do dente 14, com instalação
entanto, tomografia computadorizada de feixe cônico
imediata de um implante, concomitantemente à
(TCFC) ou cone beam representou um grande avanço,
reconstrução óssea e de tecido conjuntivo na região.
potencializando o papel da imagem no processo de
diagnóstico, com novos recursos até então disponíveis
Procedimentos cirúrgicos
com técnicas convencionais bidimensionais
(CHILVARQUER, 2014).
Extração
Optou-se por um retalho total com duas
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
incisões relaxantes (figura 3).
Após a extração, conforme previamente
Paciente A.J.M, 51 anos, do gênero
detectado nos exames de imagem, observou-se uma
masculino, compareceu ao atendimento queixando de
cavidade extensa e defeito vestibular (figura 4).
“inchaço na gengiva, em cima dos dentes posteriores”.
Após os exames clínicos intrabucais, notou-se um
edema gengival na parte vestibular do 14 (figura 1).
Instalação de implantes
Após a extração, foi instalado um implante
Cone Morse 4.5 x 14 mm (Straumann, Suiça). Durante
a perfuração, as brocas foram anguladas para a mesial
procurando uma maior quantidade de osso, a fim de
conseguir uma melhor ancoragem, observado
previamente no RX inicial (figura 5).
Figura 7 - Sutura e recobrimeto com enxerto gengival livre.
Prótese provisória
Após finalizada a cirurgia, uma prótese
provisória adesiva foi instalada, mantendo os contornos
gengivais (figura 8).
contato com o implante em todas as amostras foi alto, COLLAERT, B.; DE-BRUYN, H. Comparison of
Branemark fixture integrationand short-term survival
entre 62 e 71%, e não houve diferenças entre o grupo- using one or two stage surgery in completely and
controle e o grupo teste ( HORWITZ et al., 2007). partially edentulous mandibles. Clinical Oral Implants
Research, v. 9, p. 131, 1998.
Os autores demonstram que o tecido duro
CRESPI, R.; CAPPARÈ, P.; GHERLONE, E. Fresh-
pode preencher e ocupar os defeitos marginais ao redor socket implants in periapical infected sites in humans.
do implante, em locais de extração, durante a Journal of Periodontology, v. 81, p. 378, 2010.
cicatrização e, ainda, que as porções vestibular e DEL FABBRO, M.; BOGGIAN, C.; TASCHIERI, S.
Immediate implant placement into fresh extraction sites
palatina da crista óssea, após remoção dentária, sofrem with chronic periapical pathologic features combined
mais perda de tecido horizontal e menos perda de with plasma rich in growth factors: preliminary results
of single-cohort study. Journal of Oral and
tecido vertical (SAAD et al., 2007). Maxillofacial Surgery, v. 67, p. 2476, 2009.
HORWITZ, J. et al. Immediate and delayed restoration
CONSIDERAÇÕES FINAIS of dental implants in periodontally susceptible patients:
1-year results. Journal of Oral and Maxillofacial
Surgery, v. 22, n. 3, p. 423-429, 2007.
De acordo com o revisto na literatura e o JOLY, J. C.; CARVALHO, P. F. M.; SILVA, R.C.
presente caso exposto, podemos concluir que: Perio-implantodontia estética. In: ITIKAWA, G. N.;
LIPIEC, M. (Org) Importância do diagnóstico
• instalação de implantes em locais de tomográfico integrado à excelência clínica. São Paulo:
extração de alvéolos frescos em estágio único se Quintessence; 2015. p. 49-73.
Tomio Obara
Alexandre Barboza de Lemos
Paulo Henrique Jorge de Oliveira
810
O
planejamento reverso (PR) é envolvidas na execução de um caso. Variáveis estas
um recurso essencial de que podem ser mais bem controladas por meio do
extrema importância na planejamento reverso (PR).
otimização do resultado O PR em reabilitação oral com implantes
morfofuncional e estético nas reabilitações orais consiste em um conjunto de procedimentos clínico-
com implantes, e a prototipagem, por sua vez, se laboratoriais que tem por objetivo, por meio do
faz como uma relevante ferramenta no enceramento diagnóstico, antever o resultado
planejamento cirúrgico de enxertos e implantes nas protético final e determinar as fases e detalhes do
reabilitações orais extensas. Os profissionais tratamento reabilitador, inclusive na necessidade de
envolvidos possuem atualmente uma grande cirurgias reconstrutivas ósseas e de tecidos moles.
variabilidade de técnicas clínicas, cirúrgicas e Inicia-se com os modelos articulados do paciente,
laboratoriais, além das várias opções de materiais onde são avaliadas em conjunto com exames
que podem ser utilizados. complementares, todas as necessidades, tentando
Nos primórdios da osseointegração, com suprir as expectativas profissionais e do paciente.
os trabalhos de Branemark, a utilização dos A ideia de se melhorar o posicionamento
implantes limitava-se aos pacientes edentados dos implantes, já no inicio dos anos 90, deu espaço
totais. Logo, com a evidenciação da utilização dos para as guias cirúrgicas (COWAN, 1990) que, até
implantes dentários, a diversidade de sistemas hoje, por mais simples que sejam, tornam-se
criados diante a ideia de se criar artifícios que ferramentas importantes na instalação dos
pudessem auxiliar no tratamento de desdentados implantes.
totais e parciais estava crescente e aleatoriamente A introdução das guias, com conhecimento
disseminada até que critérios de sucesso fossem adquirido e a associação de técnicas, potencializou
sugeridos e ainda hoje citados (ALBREKTSSON et o seu uso, evoluindo para as guias tomográficas,
al., 1986). O advento em massa do já consagrado multifuncionais e as guias para cirurgia guiada
implante de titânio, começou a demonstrar uma (planejamento 3D).
natural evolução em relação ao melhor A visível vantagem proporcionada pelo PR
posicionamento, estética e estabilidade gengival na hora de se planejar os implantes em relação à
relacionada aos implantes. Então, surgem conceitos prótese dental, nos faz perceber que a “mentalidade
e classificações para favorecer o entendimento e reversa” pode ser empregada, inclusive, para as
previsibilidade nos tratamentos como, por exemplo, reconstruções ósseas, pois como no caso clinico a
a escolha do posicionamento tridimensional do ser exposto, grandes benefícios puderam ser
implante para uma melhor estética gengival usufruídos, contribuindo para o sucesso restaurador.
(SAADOUN; LEGALL; TOUATI, 1999) e a
classificação dos defeitos ósseos pós-exodontia Prototipagem e planejamento reverso
(CAPLANIS et al., 2005). A prototipagem ou estereolitografia
Nas reabilitações orais, o planejamento consiste basicamente na obtenção de modelos
multidisciplinar, por meio do diagnóstico, se torna tridimensionais de epóxi ou resina acrílica através
extremamente importante, visto que, inúmeras de dados obtidos na tomografia computadorizada,
variáveis cirúrgico-protéticas estão diretamente
811
ressonância magnética ou escaneamento a laser
(ERICKSON et al., 1999; FREITAS et al, 2005). Paciente M.L., 60 anos de idade, sexo
A tomografia computadorizada, concebida feminino, sem alterações sistêmicas relevantes,
na década de 1970 (HOUNSFIELD; CORMACK, candidata a tratamento odontológico com
prêmio Nobel de Medicina, 1979), trata-se de um implantes. Após anamnese, executou-se o exame
método de diagnóstico por imagem que utiliza a clínico associado à interpretação dos exames
radiação x e permite obter a reprodução de uma radiográficos e moldagem para a obtenção dos
secção do corpo humano em quaisquer uns dos três modelos de estudo com subsequente montagem em
planos do espaço (frontal, sagital e transversal), articulador semi-ajustável.
evidenciando as relações estruturais em Nos modelos de estudo articulados, foi
profundidade. A evolução trouxe para a realizado o enceramento diagnóstico e, com isso,
odontologia a tomografia computadorizada de feixe criaram-se parâmetros para confecção das próteses
cônico (CBCT cone-beam computed tomography) provisórias e da guia tomográfica. O paciente
que, comparativamente à tomografia submeteu-se à tomografia computadorizada de
computadorizada convencional, proporciona maior feixe cônico (cone-beam computed tomography
acurácia, exige uma dose de radiação muito menor, CBCT) com a guia tomográfica que pôde nos
equipamento relativamente pequeno, gerando fornecer informações da relação entre osso
menores custos (GARIB et al., 2007). remanescente e posicionamento dentário desejado.
Em saúde, podemos denominar os A perda precoce dos dentes, sobretudo os
modelos estereolitográficos ou protótipos como superiores, em conjunto com o forte processo de
biomodelos. Os biomodelos, quando precisamente reabsorção e remodelação óssea, somadas ao uso de
indicados, tornam-se muito importantes para a próteses parciais fixas, evidenciou uma maxila
realização de tratamentos cirúrgicos, trazem como atrófica inviabilizando, em primeira instância, a
benefícios o melhor estudo e entendimento das instalação imediata de implantes, dando lugar ao
características anatômicas individuais do paciente, planejamento para reconstrução óssea prévia.
viabilizando simulações cirúrgicas e Através exames tomográficos, foram
proporcionando uma maior conscientização da possíveis reproduzir protótipos estereolitográficos
equipe envolvida, melhor comunicação dos dos arcos maxilar e mandibular (ARTIS®) (figura
profissionais com os pacientes, diminuindo os 1). Diante da pouca disponibilidade óssea maxilar
riscos e tempo de cirurgia, gerando para o paciente executaram-se as simulações das cirurgias nos
um tratamento com custo global reduzido e biomodelos onde se viabilizou um sítio doador
resultados mais eficientes (ERICKSON et al, 1999; intraoral e definiu-se com mais precisão as etapas
CHOI et al., 2002). do planejamento cirúrgico (figuras 2 e 3).
O planejamento cirúrgico reverso com o
uso da prototipagem determina melhor a
quantidade, posicionamento e dimensões dos
enxertos ósseos de forma que viabilizem o
tratamento implanto/protético adequado.
T
decídua são bastante frequentes, optando-se pela realização das exodontias em
principalmente os deslocamentos ambiente clínico. Os elementos 52 e 62
dentários envolvendo os reerupcionaram em posição satisfatória e com
incisivos superiores. O pico de ausência de sinais e sintomas clínicos de alterações
incidência ocorre entre o periapicais, sendo assim, mantidos no arco.
primeiro e o terceiro ano de vida
e as quedas parecem ser o principal fator etiológico
(MASSARA; RÉDUA, 2010). A intrusão consiste
no deslocamento apical do dente para o interior do
osso alveolar, havendo compressão do ligamento
periodontal e até fratura do processo alveolar. O
dente decíduo intruído tem uma capacidade de
reerupção muito grande, desde que o traumatismo
não tenha afetado a integridade da região
Figura 1 – Dois dias após o trauma (1ª consulta).
(GUEDES-PINTO; ISSAO, 2012). O dente deve
reerupcionar em um período de 2 a 6meses. Após
essa espera, se o dente não estiver em posição, a
exodontia é indicada (ANDREASSEN et al., 2001).
Também está indicada a remoção do elemento
dentário quando o ápice estiver deslocado para
dentro do germe do permanente (ALEXANDRE;
CAMPOS; OLIVEIRA, 2000).
Figura 2 - Nove dias após o trauma.
REFERÊNCIAS
A
cárie dentária se conceitua, resinas compostas é crítica, sendo bastante sensível
desde a década de 60, como à umidade e necessidade de colocação em pequenas
uma doença multifatorial, porções de, no máximo, 2 milímetros do material,
sendo que, atualmente, sabe-se da fundamental demandando mais tempo para atendimento. Em
importância dos fatores determinantes e lesões que envolvem faces proximais, fica
confundidores para sua progressão (MANJI; indispensável o uso de matriz e cunhas para
FEJERSKOV, 1990). A manifestação da lesão de restabelecer o contato proximal, além da adaptação
cárie resulta em uma desmineralização de tecidos marginal, devolvendo forma e função ao dente
dentários desde uma pequena alteração de refração (NEVES et al., 2002).
da luz até a destruição total dos dentes Diversos tipos de matrizes foram
(NEWBRUM, 1988; GOMES; DA-ROS, 2008; desenvolvidas para melhorar os contatos proximais,
ABUCHAIM et al., 2011). como: pré-cunhamento, utilização de matrizes
Em crianças, a progressão da lesão de cárie ultrafinas e alguns dispositivos especiais que
é relativamente mais rápida, visto que os dentes ajudam na polimerização e na pressão do material
decíduos apresentam algumas particularidades que restaurador contra a matriz (KEOGH;
os tornam mais suscetíveis ao processo BERTOLOTTI, 2001). NEVES et al. (2002)
(MAGNUSSON; SUNDELL, 1977), entre elas, a avaliaram tipos de matrizes e constataram que elas
menor espessura de esmalte e dentina, são imprescindíveis para confecção de restaurações
proporcionando uma câmara pulpar mais ampla e ocluso-proximais e que em dentes com grandes
cornos pulpares mais proeminentes. Possuem, destruições coronárias, especialmente os que
também, uma estrutura mineral diferente do dente necessitam receber grampo de isolamento, as mais
permanente, onde o esmalte é rico em carbonato de indicadas são as matrizes individuais, dentre elas, a
cálcio, um cristal mais solúvel, e que, circunferencial total (matriz soldada, rebitada ou
consequentemente, aumenta o risco de automatrix), entretanto, em casos de grandes
envolvimento pulpar pela lesão de cárie, restaurações e ausência de dentes contíguos, o
justificando, assim, a demanda dos procedimentos procedimento torna-se mais difícil, visto que a
de pulpectomia (GUEDES-PINTO; MELLO- adaptação da matriz fica prejudicada, sendo
MOURA, 2016). necessário o emprego de outras técnicas
Um estudo que avaliou a longevidade e restauradoras (RANK et al., 2013).
sucesso de tratamento de lesões de cárie de diversos As restaurações indiretas poderiam ser
tamanhos com resinas compostas em dentes indicadas neste estudo, no entanto, além do alto
decíduos mostrou-se favorável quando relacionado custo, exigem um desgaste grande do elemento
à resistência, integridade das margens e dental e possível agressão à região cervical,
durabilidade, sugerindo a ampla utilização destas, podendo ocasionar problemas periodontais (RANK;
pois além de preservarem a estrutura dental MORAES; IMPARATO, 2005). Outra opção para
remanescente, apresentam estética mais favorável e restauração, neste caso, seria a técnica restauradora
desgaste semelhante ao desgaste fisiológico do semidireta extra-bucal em resina composta, todavia
dente decíduo (PIVA; RIBEIRO; SOUZA, 2014). necessitaria de preparo do elemento dental,
Em contrapartida, a técnica restauradora para as moldagem, confecção de uma incrustação e a
823
cimentação desta (RANK; MORAES; Devido a face distal do molar decíduo
IMPARATO,, 2003), o que levaria a um maior estar bastante comprometida, havia ausência do
tempo de trabalho e custo. Devido a essa lacuna, de primeiro molar permanente inferior direito (46), e
praticidade no atendimento infantil, esse relato de dificuldade de isolamento absoluto com
caso visou demonstrar a utilização de uma banda impossibilidade de adaptação de matrizes
ortodôntica como matriz para restauração convencionais. Devido a isso, optou-se pela
eliminando o tempo de confecção de matriz utilização de uma banda ortodôntica número 28 de
personalizada para restaurações extensas, acordo com o tamanho do dente (figura 2), para
procurando devolver o contorno proximal como facilitar a reconstrução da face distal.
guia de erupção do permanente e otimizar o tempo
de atendimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
Mucosite Oral (MO) é um O tratamento com antifúngico é a
dos efeitos colaterais mais primeira escolha e é altamente recomendável
comuns e auto-limitantes do (LALLA; PATTON; DONGARI-BAGTZOGLOU,
tratamento antineoplásico. Relativamente 2013). No entanto, já é possível haver
frequente, a incidência quando decorrente de resistência aos antifúngicos comuns, o que
quimioterapia é bastante variável de acordo representa uma dificuldade no tratamento
com tipo de tumor e esquema de tratamento desses pacientes.
(AL-ANSARI et al., 2015), podendo chegar a Assim, a busca de estratégias
90% em crianças menores de 12 anos terapêuticas alternativas é altamente
(TRAVAGLINI, 2003). Em crianças com encorajada. A terapia com laser tem sido
Leucemia linfobástica aguda (LLA), sua relatada por se mostrar eficaz na prevenção
incidência é em torno de 46% (FIGLIORA et da MO, redução da severidade, dor e
al., 2008). O esquema de quimioterapia, o tipo duração de úlceras (GOBBO et al., 2014;
de câncer, a idade, a contagem de neutrófilos MAVER-BISCANIN; MRAVAK-STIPETIC;
e a condição oral são fatores importantes que JEROLIMOV, 2005). A terapia fotodinâmica
influenciam no desenvolvimento de MO em (PDT, do inglês, (Photodynamic Therapy)) é
pacientes oncológicos (CHENG et al., 2001; descrita na literatura como a interação entre
CHENG; CHANG; YUEN, 2004). uma fonte de luz de um comprimento de onda
eritemas, úlceras e dor intensa que podem presença de oxigênio (DOUGHERTY, 2002).
limitando ou até mesmo sendo necessária a metileno, em associação a uma fonte de luz
potencialmente letal. As lesões podem ser e liberação de radicais livres oxigênio reativas
frequentemente complicadas por infecções por em função da absorção de luz pelo corante.
PETERSON, 2014), uma vez que as lesões dos micro-organismos são lesadas através de
ótimo nicho para o crescimento de micro- celular (KVAAL; WARLOE, 2007; PENG,
organismos patogênicos, incluindo fungos 2006; TEICHERT et al., 2006). Essa terapia
Figura 2c – PDT
829
• O tratamento foi bem aceito pelo
paciente, não relatando dor ou
desconforto.
• O tratamento teve resultado
satisfatório, acelerando o processo de
reparação tecidual da lesão, cuja
Figura 3 – Lesão após três dias. resolução do caso ocorreu em 10 dias,
sem que fosse utilizado antifúngico
associado.
REFERÊNCIAS
O
bruxismo, segundo a associação entre o bruxismo do sono e distúrbios
AROUSALS... (1992) e psicológicos (CHEIFETZ et al., 2005).
AMERICAN... (1998) é um Do ponto de vista de aspectos ambientais
distúrbio de movimento estereotipado, tem-se reportado que a duração do sono inferior a
caracterizada por ranger e/ou cerrar os dentes, oito horas por noite, a luminosidade e a existência
durante a vigília ou o sono. Enquanto a primeira de ruído elevam o risco de bruxismo do sono na
forma de bruxismo se relaciona a movimentos infância em, aproximadamente, duas vezes
semi-involuntários, causados essencialmente por (SERRA-NEGRA et al., 2014). Por fim, a
condições neurológicas, o bruxismo do sono é evidência de que problemas respiratórios, como
involuntário (KATO et al., 2001). alergia, asma e infecção de vias aéreas superiores,
Múltiplas causas têm sido reportadas como representam fatores de risco ao bruxismo do sono,
fatores de risco para a ocorrência do bruxismo do advêm de estudos prospectivos (DIFRANCESCO
sono. Tem-se associado essa parassonia a aspectos et al., 2004) e transversal (MOTTA et al., 2014).
genéticos (HUBLIN et al., 1998; CHEIFETZ et al., Embora a taxa de prevalência do bruxismo
2005), psicossociais (LOBBEZOO; NAEJJE, 2001; seja variável entre os estudos já conduzidos,
MONACO et al., 2002; CHEIFETZ et al., 2005; especialmente pelos distintos critérios diagnósticos
SERRA NEGRA et al., 2009, 2012; TÜRKOĞLU adotados, por meio de uma revisão sistemática,
et al., 2014), problemas respiratórios estima-se que acometa de 5,9 a 49,6% das crianças
(DIFRANCESCO et al., 2004; MOTTA et al., (MACHADO et al., 2014), independentemente do
2014; ANTUNES et al., 2016), ambientais sexo (BADER; LAVIGNE, 2000; SERRA-NEGRA
(BADER; LAVIGNE, 2000; SERRA-NEGRA et et al., 2009). Como consequência, indivíduos
al., 2014,) e oclusais (SARI; SONMEZ, 2001). acometidos por bruxismo do sono podem apresentar
Se por um lado existem poucas evidências desgaste dentário (HACHMANN et al., 1999;
de que o bruxismo do sono se relaciona a BADER; LAVIGNE, 2000; CARLSSON;
problemas oclusais (DEMIR et al., 2004; EGERMARK; MAGNUSSON, 2003; ANTUNES
LAVIGNE et al., 2008), fatores genéticos têm se et al., 2016), cefaléia (CARRA; BRUNI; HUYNH,
mostrado substancialmente associados (HUBLIN et 2012, GUIDETTI; DOSI; BRUNI, 2014) e
al., 1998), à medida que se um dos pais apresenta desconfortos musculares e articulares (AHMAD,
bruxismo, seus descendentes possuem risco 1,8 1986). Em adição, também pode acelerar a rizólise
vezes maior de também desenvolverem a condição de dentes decíduos e provocar alterações na
(CHEIFETZ et al., 2005). Porém, são aspectos cronologia de erupção dos elementos dentais
psicossociais os mais frequentemente associados ao permanentes (AHMAD, 1986). Além dos danos
bruxismo do sono. De fato, estudos caso-controle causados ao sistema estomatognático (DE LA
têm mostrado associação entre bruxismo do sono e HOZ-AIZPURUA et al., 2011), o bruxismo do sono
a elevada ansiedade (MONACO et al., 2002; em crianças está associado a menor bem-estar
TÜRKOĞLU et al., 2014), e o alto nível de social e a limitações funcionais, como problemas na
responsabilidade (SERRA-NEGRA et al., 2009, mastigação, pronunciação, dores musculares,
2012). Em estudo transversal, também se verificou sensibilidade dentinária, vergonha ao falar ou sorrir
e intimidação por meio de outros colegas, causando
832
um impacto negativo na qualidade de vida doenças sistêmicas e uso de medicamentos de
(CARVALHO et al., 2015). Tendo em vista esses forma contínua. Ao exame extra-oral, não foram
aspectos, é importante que o diagnóstico seja notadas alterações musculares nem articulares. Ao
precoce. Porém, este é desafiador, uma vez que se exame clínico intraoral, observou-se
fundamenta basicamente no relato dos pais e em desalinhamento dentário, ausência do dente 54, a
características clínicas que possam sinalizar a presença de duas restaurações em amálgama
hipótese de sua ocorrência. (dentes 64 e 84), lesões paralisadas de cárie nos
Uma vez estabelecido o diagnóstico, ainda dentes 26 e 36, selante no elemento 16 e a
que não existam evidências científicas para existência de acentuado desgaste em múltiplas
sustentar a instituição de terapias para o bruxismo superfícies incisais de caninos e oclusais de molares
do sono (RESTREPO, GÓMEZ; MANRIQUE, decíduos, com exposição de tecido dentinário
2009; FONSECA et al., 2011), as opções de (figuras 1 e 2).
tratamento são muitas vezes paliativas (DE LA Ao ser inquerida, a mãe reportou que a
HOZ-AIZPURUA et al., 2011). Podem ser criança não fazia a emissão de ruídos dentários,
adotadas abordagens odontológicas, por meio da nem realizava movimentos mandibulares durante o
utilização de placas de mordida (HACHMANN et sono. Pelo diário de dieta, pelo relato da mãe
al., 1999; GIANNASI et al., 2013), e expansores quanto ao ranger dos dentes e pelo fato das lesões
(BELLERIVE et al., 2015); médicas, para estarem confinadas nas superfícies incisal e oclusal,
resolução de problemas respiratórios descartou-se a possibilidade de ser a erosão um
(DIFRANCESCO et al., 2004) ou instituição de fator desencadeante primordial do desgaste
terapia medicamentosa (GHANIZADEH; ZARE, dentário. Assim, estabeleceu-se como diagnóstico
2013), e psicológicas (RESTREPO et al., 2001). bruxismo do sono.
É necessário, portanto, que haja maior
compreensão dos aspectos clínicos e etiológicos
associados ao bruxismo do sono na infância, para
que possa ser estabelecido o diagnóstico precoce,
assim como a adoção de estratégias para o
tratamento. Assim, este relato de casos clínicos tem
como objetivo expor os aspectos clínicos e
etiológicos associados ao bruxismo infantil em dois
pacientes, assim como discutir medidas Figura 1 - Aspecto da arcada dentária superior do
profissionais no seu manejo. paciente identificado como caso 1.
CASO 1
Paciente de 8 anos de idade, sexo
masculino, compareceu à clínica odontológica com
a mãe, que relatou ter procurado atendimento para
prevenção. Na anamnese não houve relato de
833
Em ambos os casos foram implementadas
instruções de educação em saúde, a fim de
esclarecer os fatores causais do desgaste dentário e
de se minimizar o consumo de alimentos ácidos que
poderiam agravar a perda estrutural do esmalte e da
dentina.
Também foram realizadas moldagens para
obtenção de modelos de estudo. Tendo em vista que
Figura 2 - Aspecto da arcada dentária inferior do paciente
a dentição era mista em ambos os casos e que se
identificado como caso 1.
discutindo com um Ortodontista não existiam
indicações de se implementar o uso de placa de
CASO 2
mordida, a estratégia adotada foi de se realizar o
Paciente com 8 anos de idade, sexo
acompanhamento periódico das crianças. As mães
feminino, compareceu ao consultório acompanhada
foram instruídas a estarem atentas ao bruxismo
da mãe, para consulta de rotina. Assim como no
noturno, observando se há emissão de ruídos
relato de caso 1, não foi reportada a existência de
dentários e movimentações mandibulares.
doenças sistêmicas e uso de medicamentos de
forma contínua. Extraoralmente, também não se
CONSIDERAÇÕES FINAIS
verificou alteração em tônus muscular ou em nível
articular. Ao exame clínico intraoral, foi verificada
O bruxismo do sono representa uma
a existência de acentuado desgaste nas superfícies
condição em que o atrito estabelecido entre as
oclusais, expondo a dentina de todos os molares,
superfícies dentárias em movimento relativo
com grau mais expressivo em dentes decíduos
ocasiona um processo de abrasão com dois corpos
(figura 3). Ao ser inquerida, a mãe relatou ter
(MAIR; PADIPATVUTHIKUL, 2010). Sendo um
observado em raras ocasiões a filha realizar
evento noturno, período em que o fluxo salivar
movimentos mandibulares durante o sono. A
encontra-se extremamente reduzido, a abrasão
hipótese diagnóstica estabelecida foi de bruxismo
torna-se mais severa, haja vista a limitação das
do sono.
funções lubrificantes da saliva (THIE et al., 2002).
Além disso, durante o bruxismo do sono, a força
pode exceder a força de mordida voluntária máxima
durante a vigília (NISHIGAWA; BANDO,
NAKANO, 2001). Sendo assim, como notado nos
casos relatados neste trabalho, formam-se
acentuadas facetas de desgaste.
Em ambos os pacientes, outro fato
observado foi que com o desgaste abrasivo
Figura 3 - Aspecto da arcada dentária inferior da paciente
progressivo houve exposição da dentina. Ressalta-
identificada como caso 2.
se, contudo, que além da abrasão, processos de
CONDUTAS ADOTADAS erosão por ácidos de origem intrínseca e extrínseca
e de abrasão com três corpos (escovação e
834
mastigação) podem ter contribuído para o panorama quanto à ocorrência e gravidade do bruxismo do
observado de desgaste. sono, muito embora possam não estar em
Ainda que o desgaste tenha causado a proximidade com a criança para detectarem a
exposição de dentina, não houve queixa ou presença de bruxismo do sono (QUINTERO et al.,
constatação de hipersensibilidade dentinária. 2009; RESTREPO; MEDINA; PATIÑO, 2011).
Porém, clinicamente e pela observação dos modelos Ainda que a placa de mordida represente o
de estudo, identificou-se discreta perda de tratamento mais difundido, nos casos apresentados,
dimensão vertical, mas sem implicações musculares tendo em vista a existência de dentição mista, a
e articulares. Sendo assim, considerando a decisão foi por não indicá-la. Também foi
possibilidade de que o desgaste pode desencadear, considerada nessa decisão, o fato de que há
por exemplo, hipersensibilidade dentinária controvérsia quanto a eficácia de placas de
(HACHMANN et al., 1999) e alterações mordida. Se por um lado o controle do bruxismo
musculares e articulares (AHMAD, 1986; em crianças tenha sido obtido com uso de placas de
CARVALHO et al., 2015) é importante que o mordida no estudo de GIANNASI et al. (2013);
bruxismo do sono seja diagnosticado precocemente. contrariamente, há trabalhos que não mostram
Apesar do próprio diagnóstico do efeito da placa de mordida no controle do bruxismo
bruxismo do sono em crianças ser desafiador, o do sono em crianças (RESTREPO; MEDINA;
relato dos responsáveis de que há apertamento e/ou PATIÑO, 2011).
ranger de dentes tem sido considerado um sinal É preciso ressaltar ainda que, diante da
patognomônico (SHINKAI et al., 1998; SAULUE detecção de condições que demandem atendimento
et al., 2015). Constatando-se a existência do multiprofissional, portadores de bruxismo do sono
bruxismo do sono, é imperante para que sejam devem ser referidos a médicos e/ou psicólogos, de
estabelecidas estratégias para seu monitoramento, forma que o atendimento seja integrado, com foco
controle e, se necessário, tratamento. Isto se torna na condição de base. Seja sob a perspectiva
especialmente importante se considerado o fato de odontológica, médica e/ou psicológica, o
que o bruxismo na infância pode persistir na idade diagnóstico e manejo do bruxismo do sono tem
adulta (HUBLIN et al., 1998). como finalidade primordial eliminar ou minimizar
Nos casos relatados, optou-se pelo os danos causados ao sistema estomatognático e
monitoramento das lesões e de outros sinais e prejuízos à qualidade de vida das crianças.
sintomas que possam advir, em consonância com o Por meio desse relato de casos clínicos,
que sugerem SAULUE et al. (2015). Atenção deve conclui-se que o cirurgião-dentista deve conhecer
ser dada ao aumento da severidade das lesões de os aspectos etiofisiopatológicos do bruxismo do
desgaste, sobretudo nos dentes permanentes. Assim, sono em crianças para que esta condição possa ser
é importante investigar a existência de dificuldade diagnosticada precocemente. Consequentemente,
de abertura de boca e de estalos e deslocamentos viabiliza-se o monitoramento e/ou implementação
articulares. Sintomas como hipersensibilidade de formas de manejo visando eliminar ou
dentinária, dores musculares e articulares e o relato minimizar os impactos do bruxismo do sono ao
de sono não reparador devem ser investigados. Um sistema estomatognático e à qualidade de vida.
aspecto de relevância é a observação realizada
pelos responsáveis, que pode guiar o profissional REFERÊNCIAS
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Capítulo 137
Repercussões orais da Síndrome
Freeman-Shelman
A
síndrome de FEEMANR e ShELDON (TORANTO et al., 2014; STEVENSON et al.,
(1938) é uma síndrome rara, descrita 2006; ROBINSON, 1997). Muitos dependem de
inicialmente em 1938 pelos autores de suplementação alimentar, quando ainda lactantes,
quem levam o nome (FREEMAN; SHELDON, por meio de sondas nasogástricas e, após 1 ano de
1938). Até 2001, apenas 50 casos no mundo eram vida, em algumas situações, são recomendadas
conhecidos (SARMIENTO; BARRETO; cirurgias plásticas de reconstrução da comissura
ESPINOSA, 2001). Esta síndrome, classificada labial para aumentar a abertura da boca
como uma contratura congênita múltipla, tem (STEVENSON et al., 2006; NEUMANN;
características peculiares e impressionantes por COETZEE, 2009). Alguns indivíduos, já adultos,
sinais expressivos na face e extremidades dos relatam, ainda, dificuldade em deglutir e de realizar
membros superiores e/ou inferiores (SARMIENTO; higiene bucal diária. (VANEK et al., 1986;
BARRETO; ESPINOSA, 2001; STEVENSON et STEVENSON et al., 2006)
al., 2006;). Pacientes acometidos apresentam O cirurgião-dentista tem papel crucial nas
deformidades nas mãos e nos pés, escoliose, demandas terapêuticas destes indivíduos para
espinha bífida, pouca massa muscular, melhorar sua qualidade de vida. Tratamentos
deslocamento do quadril, pescoço curto e pouca ortopédicos e ortodônticos, orientação de técnicas
estatura. Estas características atribuem limitações alternativas para melhor higienização da cavidade
ao movimento de marcha e de supinação e pronação oral, podem, além de melhorar a mastigação,
dos braços, além de dificuldades na vida diária pela deglutição e respiração, também diminuir o risco de
anatomia das mãos e imobilizações; cirurgias doença cárie e periodontal (GUVEN TEKIN;
ortopédicas e fisioterapia são comumente indicadas HATIPOGLU, 2010; BIJUMON, 2013). Dada a
(FITZSIMMONS; ZALDUA; CHRISPIN, 1984; complexidade encontrada na avaliação clínica,
KAISSI; KLAUSHOFER; GRILL, 2011). médica e odontológica, em pacientes acometidos
Dentre as características faciais, podemos pela síndrome Freeman-Sheldon, a divulgação de
citar: testa alta, hipoplasia do terço médio da face, trabalhos investigando o tema torna-se
estrabismo convergente, fendas pálpebras fundamental.
inclinadas para baixo, dobras nasolabiais Assim, o objetivo do presente trabalho foi
proeminentes, asa do nariz hipoplásicas e apresentar um caso clínico de uma criança
ondulações em forma de H no queixo. Na avaliação portadora da Síndrome de Freeman-Sheldon,
orofacial encontramos lábios pinçados, atresia discutindo as características gerais e orofaciais que
maxilar, palato ogival, mandíbula, língua e boca podem nortear os cuidados a serem dispensados no
extremamente pequenos, dando a impressão de o acompanhamento e terapêutica dos pacientes.
indivíduo estar “assobiando”, o que leva à síndrome
a ser conhecida como “síndrome da face de DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
assobio” (CARAKUSHANSKY et al., 2001;
SARMIENTO; BARRETO; ESPINOSA, 2001;
Paciente com 9 anos e 10 meses, procurou
CORRIGAN; DUNCAN; GREGG, 2006). A
o consultório odontológico para tratamento
principal consequência destas características se
ortodôntico com queixa dos “dentes estarem
referem à alimentação e respiração dos pacientes
839
nascendo no céu da boca”. A mãe, consciente da
síndrome de FREEMAN & SHELDON desde 2008
por relatório de um geneticista, relatou nunca ter
tido êxito em tratamentos odontológicos pela
dificuldade de abertura da boca.
Ao questionário anamnésico, a mãe relatou
que não há relatos de casos da síndrome na família,
nem consanguinidade dos pais. Nasceu de parto
normal e sem nada digno de nota quanto ao
transcorrer da gestação. Foi amamentado até os 8
meses, precisando apenas de suplementação com Figura 1 – Face frontal e lateral.
melhoria das funções e qualidade de vida dos STEVENSON, D. A. et al. Clinical caracteristics
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Capítulo 138
Índice de placa em
Odontopediatria: uma ferramenta
para motivação do paciente no
controle do biofilme
A
doença, incluindo os fatores de risco e de proteção à A eficácia da escovação e uso de fio
saúde bucal, assim como, possibilitar o indivíduo a dental, em se tratando de crianças, é diminuída
mudar seus hábitos e apoia-se na conquista de devido às limitações psicomotoras próprias da
autonomia e empoderamento, como uma importante idade, que dificultam o aprendizado e a realização
ferramenta para a prevenção de doenças bucais. adequada das técnicas (LIMA, 1992).
Para que esta mudança seja alcançada, é Souza; Gomes; Pessoa (2014)
fundamental a motivação continuada do paciente evidenciaram em seu estudo que a motivação em
(NIGHTINGALE et al., 2014). programas educativos preventivos tem grande
A assistência odontológica inserida no importância na redução e controle do biofilme
paradigma de promoção de saúde deve desenvolver dental, sendo muito mais efetiva se acompanhada.
ações educativas e preventivas sem limitar-se às A utilização de índices de placa baseados
atividades curativas (Silveira; Oliveira; Padilha, na inspeção visual podem melhorar a sensibilidade
2002). e especificidade de método diagnóstico, além de
A primeira infância constitui-se em um apresentar um excelente-custo benefício (REYS,
momento de descoberta. Nesta fase, começam a ser 2002).
estabelecidas algumas prioridades e atitudes que Os índices de placa normalmente medem a
podem perdurar por toda a vida do indivíduo. quantidade de placa pela área do dente coberta ou
Assim, a aquisição de hábitos na infância é um pela espessura de placa, podendo ser melhor
requisito para o desenvolvimento de hábitos de visualizada através de evidenciadores de placa
adultos saudáveis (CORRÊA, 2010). (SILNESS; LOE, 1964).
A placa dentária é conhecida como o fator Em 1972, O’Leary; Drake RB; Naylor,
etiológico para a doença cárie e periodontal. O desenvolveram um Registro de controle de placa,
conhecimento sobre placa dentária passou a ser expresso em porcentagem, baseado na presença de
reconhecido, não só como um conglomerado placa nas superfícies dentárias mesial, distal,
bacteriano simples aderente à superfície do dente, vestibular e lingual. O cálculo de índice é feito
mas também definido como biofilme dental dividindo o número de superfícies contendo placa
organizado (HASS et al., 2012). pelo número de superfícies examinadas.
O controle mecânico da placa dentária, por O Índice de placa é utilizado em
parte do paciente, é considerado o maior Odontopediatria para quantificar o biofilme
responsável por eliminar o principal fator local dentário evidenciado por corantes, o que facilita ao
etiológico da doença cárie e periodontal indivíduo visualizar suas deficiências de escovação.
(VERNINO, 1998). O objetivo do presente trabalho é relatar
A escovação é a ferramenta mais um caso clínico de redução de placa visível, em
socialmente usada e amplamente aceita de higiene paciente infantil, após consultas de retorno,
bucal. No entanto, para tornar-se eficaz no combate, abordando a eficácia da motivação quando o
a placa ela deve ser orientada e supervisionada pelo paciente consegue visualizar as áreas, por meio do
844
índice de placa dentária, onde necessita aprimorar corrente até que toda a tinta azul fosse eliminada
sua higiene. (figura 1), permitindo visualizar a placa.
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O resultado se deu por meio do método Research, v. 22, n. 3, p. 40-46, 2012.
comparativo entre o índice de placa entre a primeira LIMA, J. E. O. Um plano de prevenção para
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observando uma redução satisfatória de índice de Hygiene, v. 12, n. 4, p. 251-256, 2014.
N
funções:
está constituída por vinte dentes com
características similares
sucessores permanentes, tendo como
manter espaço para
aos
erupção
seus
dos
Incisivo Central
Incisivo Lateral
Canino
1º Pré-molar
2º Pré-molar
1º Molar
7 ¼ anos
8 ¼ anos
11 ½ anos
10 ¼ anos
11 anos
6 ¼ anos
6 ¼ anos
7 ½ anos
10 ½ anos
10 ½ anos
11 ¼ anos
6 anos
permanentes, auxiliar no desenvolvimento dos 2º Molar 12 ½ anos 12 anos
3º Molar 20 anos 20 anos
ossos e músculos faciais e proporcionar aos dentes Quadro 1 - Cronologia de erupção dos dentes
permanentes, uma oclusão satisfatória (VANTINE; permanentes.
CARVALHO; CANDELÁRIA, 2007).
Erupção dentária é o processo que envolve Segundo TEIXEIRA et al. (2015), fatores
todos os movimentos dos germes dentários, desde de origem local, ambiental ou genética, podem
as etapas iniciais do seu desenvolvimento, até a influenciar o processo de erupção dos dentes
exteriorização dos dentes na cavidade bucal, bem permanentes. Perda precoce, erupção tardia ou
como os movimentos posteriores para compensação ausência do sucessor permanente, más formações
de desgastes oclusais e de mesialização (MARKS; em geral, dentes supranumerários, traumas,
SCHROEDER, 1996; CIAMPONI; SUGA; tumores, lesões de cárie, inflamações apicais e o
NASSIF, 2009). Trata-se, portanto, da translocação estado nutricional do indivíduo podem alterar o
do dente em desenvolvimento através do osso, por curso normal da cronologia de erupção (VANTINE;
um metabolismo ósseo coordenado: reabsorção na CARVALHO; CANDELÁRIA, 2007). Nestes
direção da erupção e formação na direção oposta casos, um dente decíduo pode ser mantido além do
(GINANI; VASCONCELOS; BARBOZA, 2011). tempo normal de sua esfoliação, resultando em uma
A oclusão dentária será, então, tanto do ponto de maior vida útil para esse dente. Esta condição,
vista do tempo, quanto da posição de cada dente no conhecida como "persistência" (AKTAN et al.,
arco, o reflexo de um todo (forma e função) 2012), tem como causa mais comum a ausência de
sincronizado e interrelacionado, que quando desenvolvimento do sucessor permanente
adequadamente desenvolvido, repercutirá em uma (ROBINSON; CHAN, 2009). Porém, estudos
face harmoniosa e saudável (CIAMPONI; SUGA; sugerem que, em casos de impactação ou migração
NASSIF, 2009; TEIXEIRA et al., 2015). A intraóssea do dente sucessor (JOSHI, 2001;
cronologia de irrupção dos dentes na cavidade SHAPIRA; KUFTINEC, 2003; AKTAN et al.,
bucal (quadro 1) é relativamente variável, sendo 2008), embora ele esteja presente, não consegue
considerada normal uma antecipação ou atraso de entrar em erupção, deixando o dente decíduo in situ
até 6 meses em relação à média, geralmente (ROBINSON; CHAN, 2009). Assim, um dente
preservando-se a sequência (CIAMPONI; SUGA; retido, com coroa, raízes e osso alveolar em bom
NASSIF, 2009). estado, pode oferecer a um paciente adulto muitos
anos de funcionalidade. Porém, esta persistência
também pode levar a alguns problemas clínicos,
como periodontite, lesões de cárie profundas e
anquilose (AKTAN et al., 2012), além da
849
possibilidade de causar danos à oclusão do paciente congênitas. No exame clínico, constatou-se um
(TEIXEIRA et al., 2015). quadro de erupção dentária compatível com a idade
É essencial que todos os pacientes com cronológica, entretanto, o segundo molar decíduo
dentes decíduos retidos sejam encaminhados para superior estava presente (figura 1).
uma minuciosa avaliação com uma equipe
multidisciplinar, incluindo pediatra, ortodontista e
especialista em estética. Após a análise de questões
gerais, tais como saúde bucal e geral do paciente,
sua motivação e expectativas em relação ao caso
em questão, uma avaliação local deve ser feita.
Clinicamente, deve-se basear na forma coronal, cor A
e integridade estrutural dos dentes decíduos; nível
gengival do dente e sua relação com o plano oclusal
dos dentes permanentes; tamanho do espaço
interoclusal, que pode ser reduzido se o dente
decíduo permitiu extrusão do antagonista
(ROBINSON; CHAN, 2009).
Muitos dos problemas podem ser
superados com a intervenção ortodôntica e/ou
B
cirúrgica (ROBINSON, CHAN, 2009). Em outros
Figura 1 - Exame clínico, vista vestibular (A) e vista
casos, especialmente para segundos-molares
oclusal (B).
decíduos, quando não é possível fechar o espaço,
torna-se necessário deixa-lo in situ e acompanhar o
Radiograficamente (radiografia periapical)
paciente (BJERKLIN et al., 2008). Entretanto, há
(figura 2), foi observada a presença do sucessor
poucos estudos que acompanharam, a longo prazo,
permanente (dente 15) e constatada a necessidade
até sua idade adulta, um grande número de
de exodontia do elemento 55, que se encontrava
pacientes com retenção prolongada de dentes
retido.
decíduos, bem como aqueles que explicam as
condições necessárias para que ela ocorra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A B
Figura 4 - Anestesia infiltrativa por vestibular (A) e O momento em que os dentes irrompem e
interdental (B). esfoliam pode sofrer aceleração ou atraso em
decorrência de distúrbios orgânicos ou até mesmo a
Com o auxílio de um sindesmótomo, o fatores pessoais e/ou ambientais, que apesar de não
tecido gengival foi descolado (figura 5) e o influírem no equilíbrio fisiológico, podem acarretar
elemento dentário removido (figura 6). variações na cronologia eruptiva. É de extrema
importância que o cirurgião-dentista acompanhe o
seu paciente, clínica e radiograficamente, para
definir o melhor momento de uma intervenção.
REFERÊNCIAS
O
s traumatismos na dentição independem da colaboração dos pacientes para sua
decídua ocorrem, geralmente, utilização. Sendo assim, no caso de áreas edêntulas
em crianças de um a três anos na região anterior de crianças com menos de quatro
de idade e podem afetar um ou mais dentes, sendo anos de idade, indica-se a instalação de uma prótese
os incisivos centrais superiores os dentes mais parcial fixa modificada, com um conector não
atingidos. Ambos os sexos são igualmente rígido, não interferindo assim com os processos de
acometidos, podendo ser observada uma crescimento e desenvolvimento maxilar,
prevalência ligeiramente maior no sexo masculino. restabelecendo a estética, evitando posicionamento
Os lados direito e esquerdo podem ser igualmente inadequado da língua e permitindo uma boa
afetados e pode haver recorrência de trauma sobre higienização, além de dispensar trocas periódicas
um mesmo dente com certa frequência (ASSED, (Silva; Stuani; Queiroz, 2007).
2005). A prótese parcial anterior modificada pode
No caso de perdas precoces de dentes ser confeccionada toda em acrílico, ou em aço com
decíduos, é papel de suma importância do faceta em acrílico. A peça é constituída de duas
Odontopediatra, adequar as funções mastigatória, partes: uma contém uma barra anexada ao dente
estética, fonética, realizando planejamento de forma suporte, e na outra parte é confeccionado um
dinâmica, considerando o crescimento e o orifício do mesmo diâmetro do fio, no meio da face
desenvolvimento craniofacial e acompanhando, proximal do elemento suspenso, que está unido à
periodicamente, as diversas modificações que jaqueta do outro dente suporte. Essa prótese deve
ocorrem na cavidade bucal (Guedes-Pinto, 2006). permanecer na boca até a fase de esfoliação dos
A opção de tratamento para perda precoce dentes de suporte, quando será possível observar
de dentes decíduos anteriores, deve respeitar as uma abertura do sistema tubo-barra, indicando
indicações precisas e a idade adequada, devolver ao crescimento maxilar (DENARI; CORRÊA, 1995).
paciente não apenas um sorriso agradável, A prótese fixa modificada com o sistema
influenciando de maneira positiva no tubo-barra representa uma alternativa rápida, de
comportamento da criança, como também prevenir baixo custo e minimamente invasiva, promovendo
o aparecimento de alterações funcionais, como a reabilitação protética da perda precoce de dentes
deglutição atípica, interposição lingual e distúrbios decíduos anteriores, sobretudo na primeira infância.
fonoarticulatórios, representando uma alternativa Deve-se chamar atenção para a necessidade de
viável e econômica na clínica infantil (PEREIRA; acompanhamento periódico em função de permitir
MIASATO, 2010). um crescimento natural da pré-maxila, além da
Por motivos estéticos, funcionais e observação dos estágios de desenvolvimento dos
psicológicos, são indicadas as reposições de dentes dentes permanentes sucessores (SOUSA et al.,
decíduos anteriores perdidos precocemente. Dentre 2012).
as indicações de tratamento, estão as próteses Próteses fixas adesivas constituem uma
removíveis ou próteses parciais fixas. Normalmente solução prática para os casos de perda precoce de
a primeira opção é mais utilizada, porém, em dentes decíduos anteriores por preencherem os
pacientes com muito pouca idade, próteses fixas requisitos estéticos e funcionais da criança e por
podem ser mais seguras e confortáveis, e serem de fácil execução e baixo custo. Porém, não
854
se trata de substituir as próteses removíveis fixas (manipulado), sem nenhuma instrumentação, na
convencionais ou com encaixe, mas lançar mão de tentativa de paralisar as reabsorções radiculares.
uma alternativa que pode facilitar e viabilizar Foram trocadas essas medicações por duas vezes,
reabilitações de dentes perdidos precocemente em 02/09/2015 e 22/09/2015.
(GONÇALVES et al., 2013).
Este caso clínico teve como objetivo a
confecção de uma prótese parcial fixa modificada
em uma criança de três anos de idade, que sofreu
perda precoce dos incisivos centrais decíduos em
consequência de um trauma.
trauma ocorrido há cerca de um mês, que afetou os dolorosa, grande mobilidade e evolução das
incisivos centrais superiores, os quais apresentavam reabsorções, como mostra a imagem radiográfica da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
H
oje, consideramos inquestionável atendimento apresentando lesões cariosas com grande
que o aleitamento materno é de perda de estrutura dentária.
grande importância para o bebê Após avaliação da história dentária da
nos primeiros meses de vida, mas ao longo do paciente e exame clínico rigoroso, determinou-se um
crescimento da criança, devemos acompanhar e plano de tratamento. O fator que chamou a atenção da
orientar os pais, garantindo uma alimentação adequada, equipe foi o motivo principal da consulta. A queixa
pois esta também pode levar ao comprometimento da principal era a falta de um belo sorriso. A mãe explicou
estrutura da dentição decídua, por lesões cariosas. que criança sempre teve um comportamento retraído,
(IMPARATO et al., 2010). sorrindo sempre com a mão na boca, por vergonha dos
O S. mutans, é o principal microrganismo seus dentes.
causador da doença cárie, os mesmos são transmitidos Optou-se pelo uso das coroas após várias
por contato da saliva de forma direta e indireta. Mas a tentativas de restauração convencional sem sucesso,
principal transmissão é o da mãe para a criança, ou pois é uma criança vaidosa e com extrema necessidade
seja, a transmissão vertical (IMPARATO et al., 2010). de reabilitação, e que a mesma seja satisfatória.
Portanto, a importância da saúde bucal das
mães e a orientação prestada pelo profissional durante
a gestação poderia inibir os problemas ocasionados
pela “carie de mamadeira”.
Os autores Guedes-Pinto, Bonecker,
Rodrigues em 2009, relataram que para grandes
destruições coronárias está indicada a técnica semi-
direta, realizada em uma única sessão, devolvendo a
forma anatômica, estética, além de ter uma redução no
tempo de trabalho.
Figura 1 – Lesão de cárie no elemento 52.
Segundo (IMPARATO et al., 2010), existem
vários trabalhos, baseados em evidências científicas
Realizamos a mínima intervenção na remoção
comprovando que a remoção de dentina deve ser
do tecido cariado, com cureta.
parcial, pois a remoção total poderá levar a exposição
Segue o processo normal de uma restauração
pulpar.
em resina. Foi utilizado ácido fosfórico 37% (Atack
Tec – Caithec, Brasil), Adesivo (3M ESPE, adapter
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
single Bond, Rio Preto –SP, Brasil), e a resina foi a
(Resina Filtek Z250 XT, cor A2 – 3M do Brasil).
Paciente A. B. C., 5 anos de idade, sexo
feminino, cliente do SUS na cidade de Boa Vista –
Roraima. Após anmnese, a mãe relatou que não tinha
conhecimento de que o aleitamento materno poderia
causar danos à saúde bucal de sua filha, e que a criança
sempre foi muito resistente ao tratamento
odontológico. Por isso, chegou ao posto de
859
Figura 2 - Aplicação do ácido e adesivo, conforme a bula. fotopolimerização, conforme o fabricante.
Fizemos a escolha do tamanho da coroa TDV Figura 6 – Realizar o encaixe da coroa e remover o excesso
de resina.
(TDV dental Ltda – Pomerode- SC) e realizamos o
preenchimento com a resina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
D
entes conoides são considerados dos espaços interdentais e melhora da oclusão.
uma microdontia isolada, visto Primeiramente, solicitamos exames complementares do
que, em sua maioria, o incisivo paciente, no qual foi realizado o correto planejamento
lateral superior é mais frequentemente afetado, sendo do caso.
caracterizado pela apresentação da coroa sob a forma
de cone e a raiz comumente com seu comprimento
normal (KWANG et al., 2015). Devido ao seu tamanho
reduzido, essa patologia pode representar uma das
causas do surgimento de diastemas anteriores e a
correção do problema muitas vezes requer a
reanatomização do elemento dentário. Os incisivos
conóides acometem cerca de 2% (PECK; PECK;
Figura 1 - Aspecto clínico inicial frontal.
KATAJA, 1996) da população, incidem
indistintamente em ambos os lados da arcada dentária
(AL-JABAA; ALDREES, 2013), normalmente são
unilaterais e mais comuns no gênero feminino
(BACCETTI, 1998). O incisivo lateral superior mostra-
se o dente mais freqüentemente afetado por essa
alteração (GARIB et al., 2010), e devido a sua
anomalia de forma, comprometem a harmonia estética
do sorriso e o grau de satisfação do paciente
(ROSSINI et al., 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
s aparelhos distalizadores intra- O presente capítulo de livro tem como
bucais fixos foram desenvolvidos objetivo descrever um caso clínico apresentando a má
para tentar minimizar a cooperação oclusão de Classe II dentoalveolar, por meio de uma
dos pacientes que apresentam má oclusão inicial de abordagem multidisciplinar direcionada para eliminar a
Classe II de Angle, dentoalveolar ou esquelética queixa da paciente. No caso clínico exposto, a paciente
suave/moderada. Grande parte destes aparelhos VLAS, adulta, apresentava necessidade de tratamento
distalizadores apoia-se em dentes anteriores como odontológico envolvendo várias especialidades,
ancoragem e depois de aplicada a força de distalização incluindo a Ortodontia. Coletados os dados do
nos molares produzem uma força de reação sobre os paciente, apresentaram-se duas opções de tratamento: o
dentes anteriores, com subsequente mesialização e primeiro consistia em tratamento ortodôntico com
perda de ancoragem destes dentes (FORTINI et al., extração dos primeiros pré-molares superiores para a
2004, KINZINGER et al., 2004, 2005; correção da Classe II, 3/4 bilateral, divisão 2; a
NATONARAKIS; KILIARIDIS, 2008). O principal segunda opção de tratamento foi determinada pela
objetivo do tratamento por meio de distalização dos distalização dos molares superiores com o auxílio de
molares superiores é obter o movimento de corpo miniimplantes e elásticos intermaxilares.
destes dentes e inibir o efeito colateral anterior Considera-se que a maloclusão de Classe II de
indesejável. Para tanto, fez-se necessário inserir o uso Angle pode ser corrigida movimentando-se o arco
de ancoragem esquelética A princípio foram superior para distal, o arco inferior para anterior ou
idealizados vários aparelhos suportados por diferentes combinação de ambos (PARK; KWON; SUNG, 2004;
tipos de implantes para alcançar a ancoragem óssea, no JANSON et al., 2013). A utilização de elásticos
entanto, a inserção destes implantes demandava intermaxilares é um recurso para correção de Classe II
procedimentos cirúrgicos mais complexos e um dentoalveolar, contudo, seus efeitos acarretam
período de espera maior para permitir a integração movimentos mesial dos dentes inferiores com
óssea do implante antes da aplicação de uma força. vestibularizações dos incisivos inferiores (JANSON et
(KELES; ERVERDI; SEZEN, 2003; ONÇAG et al., al., 2013; VILLELA et al., 2015), por isso, procurou-se
2007; OBERTI et al. 2009). A aplicação de aplicar forças suaves e intermitentes à movimentação
minimplantes temporários em ortodontia como dentária, fazendo uso do aparelho Straight-wire e
ancoragem esquelética, para distalizar molares trouxe biomecânica por meio da distalização com
inúmeras vantagens, como a possibilidade de carga miniimplantes e elásticos intermaxilares somente após
imediata, protocolo cirúrgico simplificado e menor a obtenção do alinhamento e nivelamento dos dentes.
custo (KIRCELLI; PEKTAS; KIRCELLI, 2006; Com esses cuidados, foi possível a obtenção de uma
ESCOBAR et al., 2007; POLAT-OZSOY et al., 2008; movimentação ortodôntica eficiente, com um real
FUDALEJ; ANTOSZEWSKA, 2011; MIRESMAEILI, ganho funcional e estético para o paciente. Dessa
2015) e atualmente, os miniimplantes são utilizados forma, ao final do tratamento, esperava-se obter guias
como ancoragem para distalizar os molares na correção corretas em caninos, com trespasse vertical e horizontal
incisivos superiores estarem malposicionados, ausência divisão 2 de Angle com incompetência labial, recessões
gengivais, maxila relativamente atrésica, incisivos centrais
do dente 36 e a falta de selamento labial. Iniciou-se
superiores lingualizados, incisivos laterais vestibularizados,
com o PI (procedimentos iniciais): as extrações dos
ausência do dente 36 e presença dos terceiros molares.
terceiros molares (dentes 18, 38 e 48); enxertos
gengivais conjuntivos e frenectomia nas regiões de
recessões gengivais dos dentes 14 e 24; restaurações Quando a paciente compreendeu que a sua
nos dentes cariados e coroa provisória no dente 37. estética facial apresentava-se harmônica e agradável,
optou-se pela distalização do molar superior direito,
com o objetivo de corrigir a relação ântero-posterior e
propiciar um selamento labial adequado. A distalização
do molar do lado direito foi realizada por meio de mini
parafuso e mola de níquel titânio, que não depende da
cooperação do paciente. A cirurgia do implante na
região de dente 36 foi realizada durante a fase ativa,
próximos dos quatro meses de se retirar a aparatologia
fixa. Elásticos intermaxilares Classe II e perda de
ancoragem do arco inferior foram utilizados para
eliminar os resquícios deixados pela retração anterior
(figura 2).
869
REFERÊNCIAS
adultos com maloclusões Classe II, divisão 2. KINZINGER, G. S. M.; WEHRBEIN, H.; DIEDRICH,
P. R. Molar distalization with a modified pendulum
• No presente caso, a abordagem appliance—in vitro analysis of the force systems and in
multidisciplinar incluindo as áreas de vivo study in children and adolescents. The Angle
Orthodontics, v. 75, p. 558-567, 2005.
Cirurgia, Ortodontia, Implante, Dentística e
KIRCELLI, B. H.; PEKTAS, Z. O.; KIRCELLI, C.
Prótese possibilitaram a reabilitação bucal Maxillary molar distalization with a bone-anchored
com harmonia oclusal, funcional, estética e pendulum appliance. The Angle Orthodontist, v. 76, p.
650-659, 2006.
satisfação do paciente.
MIRESMAEILI, A. Three-dimensional analysis of the
• Após cinco anos de tratamento ortodôntico, distal movement of maxillary 1st molars in patients
observou-se que o paciente mantém a fitted with mini-implant-aided trans-palatal arches.
Korean Journal Of Orthodontics, v. 45, n. 5, p. 236-
estabilidade oclusal e estética; houve uma leve 244, 2015.
vestibularização dos dentes 12 e 22; a relação ONÇAG, G. et al. Osseointegrated implants with
canino do lado direito continua em Classe I e pendulum springs for maxillary molar distalization: a
cephalometric study. American Journal of
871
Orthodontics and Dentofacial Orthopedics v. 131, p.
16-26, 2007.
PARK, H. S.; KWON, T. G.; SUNG, J. H.
Nonextraction treatment with microscrews implants.
The Angle Orthodontics, v. 74, p. 539-549, 2004.
POLAT-OZSOY, O. et al. Pendulum appliances with 2
anchorage designs: Conventional anchorage vs bone
Anchorage. American Journal of Orthodontics and
Dentofacial Orthopedics v. 133, p. 339, 2008.
TEKALE, P. D. et al. Distalization of maxillary arch
and correction of Class II with mini-implants: A report
of two cases. Contemporary Clinical Dentistry, v. 6, n.
2, p. 226-232, 2015.
VILLELA, H. M. et al. Utilização de elásticos
intermaxilares e distalização de molares com
miniparafusos nas correções das más oclusões de
Classe II com aparelhos autoligáveis: relato de casos.
Revista Clinica de Ortodontia Dental Press, v. 13, p.
41-58, 2015.
Capítulo 144
Ortodontia pré-protética
Airton Curi Júnior
Josielli Rosado Duarte Curi
Mário Vedovello Filho
873
A
s necessidades de tratamento em Foi desenvolvida uma maneira sistemática,
pacientes adultos são desafiadores se lógica e interdisciplinar de avaliar a estética dento-
comparado aos pacientes ortodônticos facial. Usualmente, a sequência do plano de
em fase de crescimento. O paciente adulto já tratamento odontológico é: aspectos biológicos,
apresenta maloclusão em decorrência de perdas estruturais, funcionais e estéticos. Com esta
dentais e diferentes níveis de comprometimento sequência, a estética pode ficar comprometida ao
periodontal. Estes pacientes necessitam de várias final do tratamento. Por isso, os autores preferem
modalidades de tratamento como dentística, terapia planejar com uma perspectiva diferente, levando
periodontal, prótese, implantes, cirurgias. A em consideração, inicialmente, os aspectos estéticos
interação entre estas áreas permite guiar os e depois os funcionais, estruturais e finalmente
resultados e melhorar o prognóstico. É de extrema biológicos. Ainda, segundo os autores, o
importância o planejamento e tratamento planejamento interdisciplinar atual deve ter
multidisciplinar em pacientes adultos (SHROFF et objetivos estéticos bem definidos desde o princípio,
al., 1996). para que se possa entregar a cada paciente o mais
A abordagem interdisciplinar também foi alto nível de cuidado odontológico (SPEAR;
o foco de um estudo de 2003. Neste trabalho, eles KOKICH; MATHEWS, 2006).
afirmaram que a abordagem multidisciplinar, Muitos casos de reabilitações podem ser
principalmente se for combinada [Ortodontia, tratados com resultados estéticos e funcionais
Periodontia e Prótese], agrega muitos benefícios satisfatórios, combinando abordagens de várias
estéticos, principalmente na região antero superior especialidades da Odontologia. A ausência de
(CLAMAN; ALFARO; MERCADO, 2003) . dentes posteriores, especialmente os molares, é uma
Atualmente, o tratamento ortodôntico em situação comum nos tratamentos ortodônticos.
pacientes adultos vem se tornando uma rotina no Pacientes com falta de molares são frequentemente
consultório. Associado à falta de crescimento, categorizados como indivíduos com arco dental
muitos pacientes têm outras problemas, como reduzido. A distalização do dente mais posterior
doença periodontal e perdas dentárias. Revisando para confecção de prótese fixa pode ser vantajosa,
um relato de caso clínico de uma paciente adulta pois se pode distalizar pré-molares em mandíbulas
que apresentava perdas dentárias e doença edêntulas com atrofia óssea vertical e horizontal, e
periodontal generalizada e que foi tratada assim eliminar a necessidade de cirurgia para
conjuntamente por Periodontista, Ortodontista e enxerto ósseo, já que a movimentação dentária lenta
Protesista, foi notada que foi devolvida a saúde estimula a formação óssea na região (ARSLAN;
periodontal, oclusal e funcional para a paciente. TACIR; KAMA, 2006) .
Concluíram que para usar esta abordagem no As indicações de Ortodontia pré-protética
paciente adulto, três itens são importantes: são: a) evitar prótese por meio do fechamento do
motivação, pois o tratamento pode ser demorado, espaço de um único dente que está faltando
acompanhamento de um Periodontista, para congenitalmente ou que foi extraído; b) corrigir a
manutenção da saúde periodontal e controle das posição de um dente mal posicionado que pode
forças ortodônticas para evitar maior debilidade do provocar problemas periodontal e estético ou ponto
periodonto (PITHON; BERNARDES, 2005). de contato incorreto; c) corrigir alinhamento entre
874
os dentes de apoio, para que as forças sejam facilitou a correção da linha média superior de uma
dirigidas axialmente; d) eliminar excessiva forma mais rápida e precisa.
angulação lingual ou vestibular, que causaria danos
estéticos e funcionais; e) redistribuir o espaço DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
edêntulo, quando necessário, permitindo melhores
resultados estéticos ou divisão mais favorável dos O presente caso clínico foi tratado na
dentes remanescentes para receber as cargas clínica de Mestrado em Ortodontia da faculdade
mastigatórias (como será visto neste caso clínico a São Leopoldo Mandic – Campinas pelos alunos
seguir); f) aperfeiçoar o plano oclusal por meio do Liliane Ednéia Pellegrine, que iniciou o tratamento,
alinhamento e nivelamento do arco; 16 g) restituir e pelo aluno Airton Curi Júnior, que finalizou o
dimensão vertical causada por perda dos dentes tratamento ortodôntico.
posteriores, já que o colapso da mesma, muitas O tratamento descrito foi da paciente
vezes, impossibilita a reabilitação protética de alta L.N.C, com idade de 35 anos, brasileira. As queixas
qualidade e; h) melhorar o prognóstico em casos principais foram sorriso gengivoso e principalmente
com doença periodontal, graças aos efeitos o encaminhamento pela disciplina de
histológicos osteogênicos provocados pela Implantodontia para realização da recuperação de
movimentação ortodôntica (CATINO; POMATTO; espaços protéticos para futura instalação de
PRETI, 2008). implantes dentários.
Neste capítulo de livro é relatado o caso A paciente L.N.C apresentava
clínico de paciente tratada na clínica do Mestrado característica facial mesolínea, respiração nasal,
em Ortodontia da Faculdade São Leopoldo Mandic dicção normal, boa higiene oral, sem cáries,
– Campinas. Neste caso clínico, o tratamento deglutição com pressionamento lingual atípico, e
finalizado mostrou um tratamento para recuperação ausências dentárias dos dentes 25, 35, 36, 37, 45 e
de espaço protético em paciente adulta, que veio 47.
encaminhada para a clínica de Ortodontia pela O plano de tratamento proposto para a
disciplina de Implantodontia com a indicação de paciente foi:
recuperação de espaço na região edêntula para − Exodontia do dente 18;
posterior instalação de implantes dentários. − Montagem do aparelho fixo superior e
Atualmente, a procura por tratamentos inferior até segundos molares;
ortodônticos em pacientes adultos está cada vez − Mini-parafuso ortodôntico na mesial do
maior, e consequentemente, a indicação de 16;
recuperação de espaço protético para posterior − Distalização dos elementos 16 e 17;
reabilitação do paciente acompanha este − Ancoragem dos elementos 16 e 17 no
crescimento. mpo e distalização dos demais
O objetivo deste caso clínico é mostrar um elementos superiores do lado direito,
caso ortodôntico tratado usando a técnica Roth, até centralização da linha média.
com instalação de acessórios que facilitaram a No planejamento, as etapas do tratamento
correção ortodôntica, como foi o caso da realização foram definidas na sequência a seguir:
de um mini-implante ortodôntico, que nesse caso, − Alinhamento e nivelamento superior e
inferior, resgatando espaços para
875
futuros implantes dos elementos
ausentes: 25, 35, 36, 45.
− Intercuspidação
− Remoção
− Contenção removível superior e
inferior (Hawley).
Podemos observar a presença de diastemas
na região anteroinferior e a presença de um desvio
de linha média superior para a esquerda em direção Figura 3 - Foto Inicial Lateral Esquerda
ao dente 24 ausente (figuras 1 e 5). Observa-se
também a extrusão do dente 17 que deverá ser
corrigida para não comprometer a reabilitação na
região do dente 47 (figura 2). Na região superior
esquerda, podemos observar que ocorreu a
migração do dente 24 para a região do dente 25,
com uma giroversão do 24 e do dente 26 (figuras 3
e 4).
Figura 15 - Fotografia Lateral Direita Final. Figura 18 - Fotografia Oclusal Inferior Final com
contenção removível para manter espaços protéticos
inferiores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como considerações finais, podemos
salientar que o principal fator para o sucesso do
tratamento proposto se refere ao bom planejamento
clínico, correto diagnóstico e consequente condução
Figura 16 - Fotografia Lateral Esquerda Final. do planejamento proposto, executando com atenção
e comprometimento o passo a passo que foi descrito
no plano de tratamento. Aliado a estes fatores, o
tratamento multidisciplinar e a cooperação do
paciente são fatores que se juntam para que o
tratamento possa ser finalizado com sucesso.
Neste caso, especificamente, o tratamento
obteve o resultado esperado recuperando de uma
forma correta os espaços protéticos da paciente,
mostrando que um bom planejamento antes da
realização de tratamentos reabilitadores em
pacientes adultos é fundamental para uma correta
Figura 17 - Fotografia Oclusal Superior Final com
execução deste tipo de tratamento.
contenção removível para manter espaço protético.
REFERÊNCIAS
S
egundo CAPELOZZA FILHO composto por uma mola telescópica, que revelou
(2004), os indivíduos Padrão II ser eficaz na correção da classe II, sobretudo a nível
são aqueles que apresentam dentoalveolar (CACCIATORE et al., 2014).
degrau positivo maxilo-mandibular causado por
Mais recentemente, foi introduzido no
protrusão maxilar, retrusão mandibular ou
mercado o PMW (Propulsor Mandibular Westerich
associação das duas. Segundo MCNAMARA
Versátil), criado pelo Dr. Valdemir A. Westerich. O
JUNIOR (1981), a mais comumente encontrada é a
PMW é um aparelho de ação contínua, fixo, que
retrusão mandibular. A identificação do
promove a protrusão da mandíbula e posição
componente envolvido no erro morfológico é
temporária anterior do côndilo mandibular com a
fundamental para definir o plano de tratamento e as
finalidade de correção da classe II (WESTERICH
metas terapêuticas.
et al., 2013). O PMW é instalado de forma simples
Existe uma diversidade de aparelhos no tubo duplo cervical para extrabucal, de distal
propulsores mandibulares, aqueles que dependem para mesial e fixado por um sistema de chaveta de
da cooperação do paciente por serem removíveis rápida e fácil instalação. Não necessita de fase
(Ativador, Bionator de Balters, aparelho de laboratorial e é de baixo custo.
Fränkel) e aqueles fixos intraorais (ARAUJO et al.,
2011). Dentre os propulsores fixos pode-se citar o
Herbst, idealizado em 1905 por Emil Herbst, DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
ficando esquecido durante décadas e reintroduzido
por Pancherz no final da década de 70 (COSTA; Paciente J.T.S, 12 anos, gênero masculino,
SUGUINO, 2006). compareceu ao consultório odontológico para
tratamento ortodôntico. Durante análise das fotos
Devido à dificuldade de importação,
extrabucais (figura 1) foi classificado como Padrão
inexistência de laboratórios especializados, ao alto
II, com perfil facial convexo, associado à retrusão
custo e dificuldade de instalação desses aparelhos,
mandibular.
Dr. Carlos Martins Coelho Filho desenvolveu o
Aparelho de Protração Mandibular (APM), como
alternativa ao Herbst (ARAUJO et al., 2011). Tal
dispositivo permite gerar uma postura mesial
temporária da mandíbula durante o tratamento dos
casos de maloclusão da Classe II (COELHO
FILHO, 1998), tendo como vantagens, fabricação
fácil, podendo ser confeccionado pelo próprio A B
dentista, baixo custo, instalação rápida e pode ser Figura 1 - Fotos extrabucais frontal (A) e perfil (B), no
utilizado concomitante a qualquer mecânica início do tratamento.
(COELHO FILHO, 2002; FURQUIM et al., 2013).
O APM foi sendo aperfeiçoado ao longo do tempo,
melhorando sua adaptação e otimizando seu uso No exame clínico intrabucal (figuras 2),
(COELHO FILHO, 2002). Existe, ainda, o constatou-se que o paciente estava em fase de
aparelho Forsus, um propulsor fixo flexível dentição permanente e apresentava relação dentária
882
de classe II, divisão 1, e ausência de problemas inferior foi feito um looping na distal dos caninos
transversais e pequenos apinhamentos no arco para o encaixe da haste mandibular do PMW
superior e inferior. (figura 4). Em seguida, foi posicionada a haste
maxilar do PMW, sendo solicitado ao paciente para
simular a protrusão mandibular levando os incisivos
até a uma posição de topo de modo que a linha
média superior e inferior estivesse coincidindo. Na
protrusão não pode ocorrer cruzamento da mordida,
caso ocorra, a expansão prévia estaria indicada. Foi
Figura 2 - Fotos intrabucal lateral direita (A) e lateral marcado, assim, onde a haste maxilar encostou no
esquerda (B), no início do tratamento. looping (tamanho da haste maxilar). Determinado o
tamanho da haste maxilar, foi definido o tamanho
No exame cefalomérico inicial (tabela 1), da haste mandibular (mesmo tamanho) e removidos
constatou-se as seguintes medidas: os excessos com disco de carborundum. Com o
aparelho ajustado para o paciente, foi iniciada sua
SNA 79º fixação. Nas fotos laterais pode ser observado uma
SNB 74º
total desoclusão da mordida posterior no momento
ANB 5º
da ativação (figura 4).
1.NA 20º
1-NA 5mm
1.ΝΒ 30º
1−ΝΒ 7
1.1 123º
IMPA 96º
Inicial Final
Figura 5 - Fotos lateral direita (A) e lateral esquerda (B)
SNA 79,48º 78,68º
após remoção do PMW, e uso dos elásticos.
SNB 74,43º 75,45º
ANB 5,05º 3,23º
1.NA 20,55º 27,25º
O tempo total de tratamento foi de 24
1-NA 5,27mm 6,99mm
meses, no qual foi observada correção completa da
1.ΝΒ 30,78º 41,68º
classe II (figura 6), bem como houve melhora no 1−ΝΒ 7 9,92
perfil facial do paciente, provocada principalmente 1.1 123,62º 107,84º
pela melhora do ângulo mento-labial (resultado da IMPA 96,53º 104,53º
compensação dos incisivos inferiores) (figura 7). Tabela 2 - Comparação da cefalometria inicial e final.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
apinhamento representa a característica relatava a desarmonia de tamanho dentário e sua
mais frequente de todas as más oclusões, relação para a análise e tratamento das más-
portanto, um dos problemas mais usuais oclusões (Cuoghi et al., 2007).
a serem corrigidos no tratamento ortodôntico. O Em um outro artigo clássico de 1980,
apinhamento dentário pode ser definido como uma Tuverson inferiu que a redução de esmalte de
discrepância existente entre o tamanho dos dentes e 0,3 mm para os incisivos inferiores e 0,4 mm para
dos maxilares e pode ocorrer em três situações: os os caninos inferiores pode ser realizada sem
dentes apresentam-se excessivamente largos, ou a prejudicar a vitalidade dentária. Ele provou que,
mandíbula e/ou a maxila com tamanhos reduzidos, radiograficamente, existe esmalte suficiente para
ou uma combinação de ambos os fatores. A permitir o desgaste dentário sem comprometimento
correção pode ser efetuada por diversos da face proximal e ainda enfatizou que a opção pelo
procedimentos clínicos, como extrações dentárias, desgaste interproximal seria a alternativa mais
desgastes interproximais ou por meio de expansão indicada para os casos limítrofes de extração. O
dos arcos e protrusão dentaria (SALVATORE, desgaste pode ser realizado em até metade da
2014; ALMEIDA et al., 2015). espessura do esmalte interproximal, o que
O apinhamento dentário, a depender do corresponde a aproximadamente 0,8 mm em cada
seu grau de severidade, pode ser tratado de face dos dentes posteriores e 0,5 mm dos dentes
diferentes formas, como, por exemplo, com a anteriores de ambos os arcos, permitindo um ganho
distalização de molares, as extrações, as expansões de até 8,9mm de espaço se o desgaste for realizado
dos arcos dentários e os desgastes interproximais a partir da mesial dos primeiros molares (CUOGHI
(Cuoghi et al., 2007; VALARELLI et al., 2013). et al., 2007; ALMEIDA et al., 2015).
Um dos planos de tratamento mais Outra alternativa bastante utilizada
conservadores seria com desgastes interproximais, atualmente para correção de apinhamento dentário é
A opção por este método está diretamente associada a utilização do sistema de aparelhos autoligados.
à severidade da maloclusão e à quantidade de Desde o início do século 20 que os braquetes
apinhamento. É válido salientar que o correto autoligáveis já não são novidade na Ortodontia.
planejamento dos casos clínicos proporcionará ao Esses braquetes apresentam níveis muito baixos de
ortodontista a previsibilidade da estabilidade pós- atrito, e esse fato faz com que haja uma
contenção (MARTINS et al., 2007). concordância na literatura sobre o fato dos
Os desgastes dentários referem-se à autoligáveis produzirem menor atrito durante a
diminuição das dimensões dentárias mesiodistais movimentação ortodôntica, quando comparados
cujo objetivo é corrigir apinhamentos suaves ou com os braquetes convencionais. Outras vantagens
moderados, bem como eliminar a desproporção atribuídas aos aparelhos autoligáveis são a
natural de tamanho dentário entre os arcos. diminuição do acúmulo de placa bacteriana, menor
Tradicionalmente, o desgaste de esmalte nas tempo de tratamento, menor tempo de cadeira, a
regiões interproximais foi idealizado para o possibilidade de intervalos maiores entre as
tratamento de casos com discrepâncias entre as consultas, menor desconforto ao paciente e menor
larguras dos dentes. Esta filosofia foi descrita por injúria aos tecidos bucais (VILELLA et al., 2015;
Bolton em seu clássico artigo de 1958, em que (BARBOSA, 2014).
887
Durante a compensação, as alterações satisfatória, tecidos bucais com aspectos de
ocorridas durante o tratamento são puramente de normalidade (figura 2).
natureza dentária, com a mudança da inclinação dos
dentes e uma certa expansão dos arcos, o que
proporciona um ganho de espaço muitas vezes
suficiente para corrigir alguns casos de
apinhamento dentário. Caso a opção de tratamento
seja pela compensação dentária, uma opção é a
utilização do sistema autoligável. Os braquetes
autoligados, por apresentarem menor atrito durante
a mecânica ortodôntica, podem proporcionar um
tempo de tratamento um pouco mais curto (SATO
et al., 2013)
O presente relato de caso clínico tem como
Figura 2- Fotografias oclusais intrabucais.
objetivo descrever uma opção de correção de
apinhamento dentário de pequena magnitude
utilizando desgastes dentários interproximais Por meio da análise cefalométrica,
masculino, compareceu à clínica e relatou como excesso de massa dentária na região antero-inferior.
Sequência clínica C
O tratamento iniciou-se com a instalação
do aparelho fixo autoligado passivo da marca
ORMCO e prosseguiu-se, então, com a mecânica
D
ortodôntica para alinhamento e nivelamento,
utilizando-se os fios termoativados (De Cobre-
Níquel-Titânio) da mesma marca.
Os fios utilizados apresentaram os
E
seguintes calibres nessa ordem: 0,14”, 0,14” x
0,25”, 0,18” x 0,25” (liga de Cobre-Níquel-
Titânio), 0,19” x 0,25” ( TMA), 0,19” x 0,25” (aço)
e 0,19” x 0,25” ( Braided). F
Após a colagem dos braquetes, foram Figura 4 - A,B,C (fotografias iniciais) D,E,F (fotografias
feitos desgastes interproximais desde a distal da finais).
D
e acordo com (SILVA FILHO; relacionando os efeitos esqueléticos, dentários e
AIELLO; FONTES, 2005), a tegumentares. Os pacientes possuíam uma
maloclusão de classe II maloclusão Classe II mandibular e foram tratados
mandibular pode ser tratada de diversas formas por com aparelho Herbst e Aparelho de Protração
meio de forças ortopédicas sagitais. O aparelho Mandibular (APM). Os pacientes foram divididos
Herbst desempenha essa função quando fixo. O em três grupos: Grupo I, composto por 12 jovens
fato de o aparelho Herbst ser fixo torna o com idade média de 12 anos e 4 meses, tratados
mecanismo livre da colaboração do paciente, com aparelho Herbst durante um tempo médio de
conservando a mandíbula constantemente projetada 8,7 anos: grupo II, composto por 15 jovens com
durante todas as suas funcionalidades e em repouso. idade média de 13 anos e 2 meses, tratados com
O uso deste aparelho pode ter como resultado o aparelho de Protração Mandibular por um tempo
efeito ortopédico, remodelação na ATM e um grau médio de 8,3 meses, e o grupo III, composto por 16
variado de compensação dentoalveolar devido à jovens com idade média de 10 anos e 4 meses que
limitação de movimentos de lateralidade e pressão não foram submetidos a nenhum tipo de tratamento
contínua. Após o fim do tratamento com o aparelho e acompanhados durante 10 meses. Foi concluído
Herbst, as estruturas alteradas na região do côndilo que ambos estimularam um aumento do
e fossa são restabelecidas. Há dois protocolos comprimento mandibular, sendo que obteve maior
seguidos: o protocolo com tratamento precoce que sucesso no grupo tratado com APM. Ambos
se inicia na dentição mista, e o segundo protocolo provocaram inclinação vestibular dos incisivos
tardio já na dentição permanente, onde a inferiores e retrusão do lábio superior. Não
movimentação ortodôntica segue-se no mesmo ocorreram diferenças com relação às alterações
instante ao de remodelação ortopédica. dentárias e tegumentares entre os dois grupos.
Segundo KNÖSEL & JUNG (2011), o Hayes (2014), por meio de relato de dois
conceito de oclusão "ideal" em harmonia com as casos clínicos, concluiu que os aparelhos de
estruturas craniofaciais é frequentemente proposto correção da Classe ll podem ser utilizados por mais
como um objetivo final do tratamento ortodôntico. que simplesmente o que seu nome lhes dá crédito,
Os tratamentos ortodônticos são muitas vezes funcionando como um dente movendo um motor
formulados com base em conceitos de oclusão para substituição em pacientes Classe I. O autor
"ideal", incluindo uma oclusão de Classe I de realizou um estudo com dois pacientes utilizando
Angle, guia canina adequada, e um relacionamento como ferramenta de tratamento, o aparelho Power
interincisivo considerado bom, ou seja, adequado Scope. O primeiro paciente possuía idade média de
suporte, sem desvio da linha média, boa estética e 13 anos, com saúde geral boa e queixa de que
função adequada. Em termos de inclinação dos “meus dentes são tortos”. Possuia Classe I de Angle
incisivos, há pequenas diferenças entre sujeitos com e apinhamento mandibular. Através de uma
oclusão "ideal" e aqueles que se desviam radiografia panorâmica, observou-se que o paciente
ligeiramente a partir deste "ideal" com uma oclusão possuía dentes caninos superiores impactados e os
leve Angle Classe II. caninos inferiores haviam transmigrados. Foi
AlveS et al. (2006) realizaram um estudo planejada exodontia dos caninos inferiores que
cefalométrico em norma lateral com 43 jovens, haviam transmigrados e realizar a substituição da
892
perda dos caninos com os primeiros pré-molares Onde não há colaboração dos pacientes em
inferiores, sendo essa a opção menos invasiva e utilizar os elásticos ou ainda aparelho extrabucal
com melhor custo-efetivo. A segunda paciente para correção de uma classe II, são utilizados
possuía idade média de 11 anos, com saúde geral propulsores mandibulares. No entanto, as
boa e queixa de que “meu dentista sugeriu que era indicações para utilizar esses propulsores
hora de fazer uma avaliação com um ortodontista”. aumentaram significativamente além da mecânica
A paciente era Classe II de Angle, havia desvio à para classe II, dentre eles, ancoragem em casos de
esquerda da mandíbula. Através da radiografia exodontias, classe II com protrusão maxilar, em
panorâmica foram observados dentes caninos pacientes adultos como tratamento compensatório
inferiores transmigrados e impactados da deficiência mandibular, após distalização dos
bilateralmente. Foi realizada exodontia dos dentes molares superiores como ancoragem, entre outros.
impactados com o intuito de evitar qualquer tipo de O Power Scope é contraindicado para pacientes que
tratamento protético futuro. possuem algum tipo de alergia ao níquel. Vale
Tem sido sugerida que a projeção ressaltar que Power Scope tem um efeito apenas
ortodôntica dos incisivos inferiores poderia resultar dentoalveolar, ou seja, ele não estimula o
em efeitos nocivos para o osso de suporte de crescimento da mandíbula (MORO; PEREZ, 2015).
tecidos dos dentes e induzir recessão gengival. A
vestibularização dos incisivos inferiores é um efeito
secundário frequente e indesejado da terapia de DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Herbst e é difícil de controlar independentemente
do sistema de ancoragem usado. Pancherz & Paciente B.V.S, 18 anos, gênero feminino,
Bjerklin (2014) avaliaram quatorze pacientes compareceu ao consultório odontológico para
submetidos a tratamento com o aparelho de Herbst. tratamento ortodôntico. Durante análise das fotos
Os resultados foram comparados por meio de extrabucais (figura 1A,B), foi classificada como
estudos realizados antes de se iniciar o tratamento, Padrão Face Curta, birretrusa, com perfil pouco
consecutivamente após finalizar o tratamento, aos 6 convexo e dimensão vertical diminuída.
anos pós-tratamento e 32 pós-tratamento. Recessões
gengivais vestibulares menores foram vistas depois
do tratamento em alguns pacientes, porém alguns
fatores podem estar associados como o Biótipo,
pacientes que possuem gengiva fina, gengivite e
trauma mecânico durante a escovação. Foi
concluído que a instabilidade dos incisivos
inferiores foi observada a longo prazo após a
finalização do tratamento, porém, foi referido a
alterações fisiológicas dentoesqueléticas que
acontece durante a vida adulta e que a persistência Figura 1 - Fotos extrabucais frontal (A) e perfil (B) no
dos hábitos e o não uso da contenção de forma início do tratamento.
satisfatória, favorecem recidivas.
893
No exame clínico intrabucal (figuras 2 e progressivo superior e inferior (até arco 0,019x
3), constatou-se que a paciente estava em fase de 0,025”) e a utilização de propulsor mandibular fixo
dentição permanente e apresentava relação dentária do tipo Power Scope (figura 4).
de classe II, sub-divisão esquerda, pequenos
apinhamentos no arco inferior e dente 23 em
vestibuloversão.
esquerda (E) no início do tratamento. meses, o aparelho inferior foi montado e ambos os
arcos superior e inferior foram progredidos até o
arco 0,019 x 0,025 de aço. Em seguida, foi
instalado o aparelho Power Scope, sendo solicitado
à paciente para simular a protrusão mandibular
levando os incisivos até a uma posição de topo, de
modo que a linha média superior e inferior
Figura 3 - Radiografia panorâmica inicial (A) e estivessem coincidindo.
Telerradiografia inicial (B). Na protrusão não pode ocorrer cruzamento
da mordida, caso ocorra, a expansão prévia estaria
No exame cefalométrico inicial (Tabela 1), indicada. Este aparelho encaixa diretamente no
constatou-se as seguintes medidas: arco. Nas fotos laterais, pode ser observada uma
total desoclusão da mordida posterior no momento
SNA 76,82° da ativação (figura 5).
SNB 73,86°
ANB 2,96°
1.NA 20,78°
1-NA 4,47mm
1.NB 23,03°
1-NB 2,75mm
Figura 5 - Fotos frontal (A), lateral direita (B) e lateral
1.1 133,24°
esquerda (C) com o propulsor instalado e ativado.
IMPA 98,95°
FMA 16,92°
O tratamento com o Power Scope instalado
Tabela 1 - Cefamometria inicial.
durou um período de qautro meses. O aparelho
deve ser mantido até o máximo de intercuspidação
Com o diagnóstico de birretrusão e classe
dos dentes posteriores. Após a remoção do Power
II, foi proposto o alinhamento e nivelamento
894
Scope, um elástico de classe II e de intercuspidação A melhora da birretrusão dentária foi
foi utilizado durante três meses para melhorar o claramente evidenciada tanto nas medidas
encaixe posterior e estabilizar o resultado (Figura cefalométricas, pelo fechamento do ângulo
6). interincisal (tabela 2), como na comparação das
telerradiografias iniciais e finais (figuras 9 e 10).
Inicial Final
SNA 76,82° 76,70°
SNB 73,86° 75,26°
ANB 2,96° 1,44°
1.NA 20,78° 25,28°
Figura 6 - Fotos lateral direita (A) e lateral esquerda 1-NA 4,47mm 2,95mm
(B) após remoção do Power Scope, com o uso de `1.NB 23,03° 28,86°
`1-NB 2,75mm 2,75mm
Elástico de classe II.
`1.1 133,24° 124,42°
IMPA 98,95° 103,49°
O tempo total de tratamento foi de 18 FMA 16,92° 19,49°
meses, no qual foi observada correção completa da
Tabela 2 - Comparação da cefalometria inicial e final.
classe II (figuras 7 e 8), bem como houve melhora
da birretrusão dentária do paciente provocada pelo
alinhamento e nivelamento pleno e o uso do Power
Scope.
REFERÊNCIAS
O
uso do aparelho ortopédico de elásticos extrabucais ½ ( leve e médio), de 6 a 8 horas
Thurow causa várias mudanças na ao dia, durante 6 meses. O tratamento finalizou com o
face devido ao efeito de intrusão e uso de aparelho ortodôntico fixo por 18 meses.
distalização da arcada superior, e seu uso esta indicado
nos casos de classe II de molar bilateral (PHITON et
al., 2015). O tratamento ortodôntico interceptivo de
pacientes portadores do Padrão Face Longa pode
minimizar a discrepância esquelética imposta pelo
padrão de crescimento craniofacial e corrigir as
relações oclusais, para que a oclusão desenvolva-se o
mais próximo possível da normalidade e seja passível
de correção ortodôntica compensatória na dentadura
permanente, em faces esteticamente aceitáveis (REIS;
MAGALHAES; REIS, 2015).
10/06/2011
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Paciente do sexo feminino, com 9 (nove )
anos, procurou tratamento com o objetivo de melhorar
O presente trabalho demonstrou que o
a aparência de “dentes da Mônica” e também grande
tratamento ortodôntico interceptivo com o uso de
dificuldade de fechar os lábios. Com a documentação
aparelho Thurow, máscara extraoral e elásticos pode
ortodôntica em mãos, foi realizado exame clínico e
melhorar a relação oclusal de classe II molar para a
radiográfico, nos quais constatou-se a falta de
relação classe I molar, intruir maxilar superior e
selamento labial e exposição exagerada de tecido
diminuir o sorriso gengival.
gengival na arcada superior, e na radiografia, o
excesso vertical do osso maxilar através de análise
REFERÊNCIAS
cefalométrica de USP e Macnamara.
O planejamento ortodôntico foi realizado com
o uso de aparelho ortopédico de Thurow, com uso de PITHON, M. M. et al. Esthetic perception of facial
profile after treatment with the Thurow
bandas e tubos triplos em 1° molares superiores, assim appliance. Brazilian Oral Research, v. 29, n.1 p. 1-7,
como apoios colados com resina na superfície palatina 2015.
dos dentes decíduos. Após confecção do aparelho em Reis, J. B.; Magalhães, F. P. L.; Reis, S. A. B.
Tratamento da Classe II, divisão 1a de Angle, em
laboratório e cimentação do mesmo em boca, iniciou- paciente Padrão Face Longa com o aparelho
se o tratamento com duas ativações ao dia, durante sete de Thurow modificado. Revista Clínica de Ortodontia
Dental Press, v. 14, n. 5, p. 64-72, 2015.
dias. O paciente retornou para avaliação e constatou-se
abertura da sutura palatina através de diastema entre
incisivos superiores e exame radiográfico oclusal. Foi
feito travamento do aparelho de Thurow e inciou-se o
uso de máscara extrabucal com apoio occipital e
Capítulo 149
Tratamento ortopédico de paciente
padrão III esquelético em
crescimento com ancoragem em
mini-implantes
Ana Caroline Lopes Aragão Abreu
Paula Santos Ferraz
Selly Sayuri Suzuki
Hideo Suzuki
Aguinaldo Silva Garcez Segundo
899
A
Classe III esquelética é originada pela um anel de retenção para os dois implantes que foram
protrusão mandibular, retrusão ou inseridos entre as raízes do primeiro e segundo pré-
hipoplasia maxilar, ou ainda pela molares, bilateralmente. O referido trabalho teve como
combinação de alteração nas duas bases ósseas, sendo a objetivo transferir a ancoragem de elementos passíveis
hereditariedade o principal fator na etiologia desta de movimentação, como os dentes, para elementos
maloclusão (OTERO et al., 2014). absolutamente rígidos e imutáveis posicionalmente.
Quando o indivíduo se encontra em fase de Dessa maneira, toda a força liberada pela abertura do
crescimento, a Expansão Rápida da Maxila (ERM) parafuso expansor, reverteria em esforços para
associada à Máscara Facial (MF) é o procedimento promover a separação da sutura intermaxilar,
mais utilizado para corrigir ou minimizar as resultando em maior eficiência ortopédica e aumento
discrepâncias transversal e sagital. A mecânica visa transverso da base óssea maxilar, comprovando que a
reter o crescimento da mandíbula e estimular o técnica é operacionalmente viável (GARIB et al.,
crescimento da maxila (OLTRAMARI et al., 2005). 2007). No mesmo ano, foi publicado um estudo piloto,
Em pacientes com certa maturação óssea e adultos, avaliando tridimensionalmente a ERMAI após
dispõe-se a opção de tratamento ortodôntico osteotomia cirúrgica modificada de Glassman, sem
compensatório; e quando este não oferece uma solução separação da sutura palatina. O aparelho foi instalado
satisfatória, a cirurgia ortognática era normalmente o em 10 pacientes com média de idade de 25,3 anos e
tratamento de eleição (KATIYAR et al., 2010). consistia em um parafuso expansor com dois implantes
Vários estudos relatam a existência de efeitos palatinos acoplados aos braços do parafuso, sem
adversos ao uso da ERM. Weissheimer (2008) avaliou adaptação aos molares. Como resultado, houve sucesso
seus efeitos imediatos no sentido transversal e pôde na movimentação óssea basal de 93% na região dos
afirmar após análise de tomografias computadorizadas pré-molares e 89% na região dos molares, significante
Cone Beam (TCCB), que o ganho esquelético era de 30 aumento transversal da espinha nasal de 3,91 (+/- 2,49
a 50% da quantidade de ativação do parafuso expansor, mm) e redução de inclinação bucal de 6º a 9º, quando
sendo que o restante à correção da mordida cruzada foi comparado ao ERM cnvencional. Chegaram à
feita por expansão dentária. A respeito do tipo de conclusão de que a aplicação da força diretamente para
aparelho, o Hyrax (3,14mm) produziu maior separação a base óssea resultou em efetiva movimentação
que o Haas (2,62mm), aproximadamente 50% da esquelética e consequente proteção dos dentes, sendo
movimentação dental era transmitida à região dento- um aparelho indicado para pacientes com periodonto
alveolar com importante inclinação vestibular e reduzido ou maxilares desdentados (TAUSCHE et al.,
aumento da dimensão vertical evidenciada pela 2007).
diminuição da sobremordida pré-existente em alguns Seguindo o mesmo raciocínio, IIDA et al.
pacientes e pela suave mordida aberta anterior em (2008) publicaram um caso clínico de expansão rápida
outros (WEISSHEIMER, 2008). da maxila ancorada por mini-implantes (ERMAM)
A fim de resolver os efeitos indesejáveis da com osteotomia padrão (laterais da maxila, parede
ERM, foi desenvolvido um trabalho que propôs a lateral do nariz, sutura pterigóidea e palatina, entre
expansão rápida da maxila ancorada em implantes septo e espinha nasal) substituindo os dois implantes
(ERMAI) em crânio seco humano. O expansor era palatinos utilizados por Tausche et al. (2007) por
soldado posteriormente às bandas dos primeiros quatro mini-implantes. Obtendo resultados satisfatórios
molares superiores, os dois braços anteriores formavam na abertura da sutura palatina mediana em pacientes
900
com diferentes formas de palato e além de oferecer Analisando a situação intrabucal é possível
mais conforto ao paciente, eliminando a necessidade de observar maloclusão Classe III de Angle, mordida
dois momentos cirúrgicos: instalação e remoção do cruzada anterior, apinhamento dental, falta de espaço
aparelho (IIDA et al., 2008). O desafio seguinte para caninos superiores e presença dos elementos 74 e
consistia em tratar pacientes jovens adultos com 75 (figura 2). Sobre a análise de espaços, foi obtida a
ERMAM sem osteotomia. O aparelho é formado por discrepância de -8,3mm no arco superior e -4,5mm no
um parafuso tipo Hyrax, adaptado às bandas dos inferior.
primeiros pré-molares e primeiros molares e quatro
anéis ligados ao parafuso para inserção e retenção dos
mini-implantes. Pôde-se constatar a efetividade do
movimento ortopédico do dispositivo, com abertura da
sutura palatina e minimização dos efeitos deletérios da
ERM, sendo um método seguro e estável para correção A B C
de discrepâncias transversais (LEE et al., 2010).
Com respeito aos resultados esqueléticos da
Figura 1A - Foto frontal, 1B - perfil e 1C frontal sorrindo.
ERMAM, foi possível demonstrar por uma análise com
o método de elementos finitos, que a tensão foi dirigida
aos três contrafortes superiores: zigomático-maxilar,
nasomaxilar e pterigomaxilar, com menor ocorrência A
de rotação e inclinação do processo maxilar. Inferindo
que o disjuntor ancorado em mini-implantes é indicado
para pacientes adultos e dolicofaciais (MACGINNIS et
al., 2014).
O presente caso clínico mostrou o B C
Paciente do sexo masculino, melanoderma, Figura 2 - Fotos intraorais: A - anterior, B - lateral direita, C -
lateral esquerda, D - oclusal superior e E oclusal inferior.
com 13 anos, relatou como queixa principal: “dente pra
dentro”, não foi submetido a tratamento ortodôntico ou
Segundo análise radiográfica periapical: as
ortopédico anteriormente.
raízes dos incisivos superiores apresentam
Pela análise facial frontal, avaliou-se como
conformação romboidal e as inferiores, triangulares
tipo dolicofacial, presença de selamento labial,
(Figura 3A e 3B); ao analisar a radiografia panorâmica
ausência de simetria, maxila atrésica e sorriso
nota-se a presença dos germes dos terceiros molares
desarmônico. O prognatismo mandibular está
com aumento do espaço pericementário, caninos
acompanhado de crescimento vertical e consequente
superiores impactados, elementos 74 e 75 em processo
rotação horária da mandíbula (figura 1).
de esfoliação, mandíbula com formato estreito e longo
901
(Figura 3C); analisando a telerradiografia em norma Germany), apoiado nas bandas dos primeiros molares,
lateral (TNL) verifica-se a vestibularização dos duas presilhas laterais (Peclab, Belo Horizonte, Basil)
incisivos dentro de suas bases ósseas, sínfise adaptáveis aos braços anteriores do parafuso, onde
morfologicamente normal e análise vertebral em CS2, foram inseridos os dois mini-implantes com dimensões
com 1 ano antes do pico de crescimento mandibular de 1,8mm x 7mm x 4mm (HS Marpe, Peclab, Belo
(Figura 3D). Horizonte, Brasil) e dois ganchos soldados na
vestibular das bandas para posterior tracionamento
(Figura 4A).
Os mini-implantes foram instalados na região
A
paramediana da sutura palatina, na linha dos primeiros
B pré-molares e a ativação se iniciou no mês seguinte. A
ativação seguiu o mesmo protocolo usado para uma
ERM convencional, com 4 1/4 de volta no primeiro dia
D e nos nove dias consecutivos, 1/4 de volta de manhã e
outro a noite (figura 4). Após a disjunção desejada, o
aparelho foi travado.
A B
C
E
Tabela 1 - Principais medidas da análise cefalométrica de
Björk Jarabak antes e depois do tratamento com ERMAM e
MF.
• paciente hiperdivergente;
A
maioria dos estudos considera
como adulto, o paciente acima vantagens desse tratamento;
de 18 anos de idade, quando o − aumento da exigência estética entre os
crescimento está completo (OYAMADA; adultos, com uma vida social, afetiva e profissional
FURQUIM, 2012). cada vez mais longa e ativa (CAPELOZZA FILHO
Além da ausência de crescimento, o et al., 2012).
paciente adulto apresenta considerações especiais, Diante dessa realidade, o ortodontista deve
quando comparado a crianças e adolescentes, buscar alternativas de tratamento para essa
quanto à: população, pois as limitações são inúmeras, dentre
− características psicossomáticas: o as quais, as doenças periodontais e a diminuição da
adulto busca o tratamento ortodôntico quando se dimensão vertical, pelas diversas perdas dentárias.
convence de que pode ser beneficiado, enquanto as Esse fato o conduz a um aprofundamento dos
crianças são levadas pela percepção dos pais; conhecimentos para além da Ortodontia, tornando-o
− características periodontais: a aposição responsável pela organização e gerenciamento de
óssea é reduzida no adulto, diminuindo a uma ação cooperativa entre as diversas
capacidade regenerativa do periodonto; especialidades da Odontologia (OYAMADA;
− trauma oclusal: a perda de dentes FURQUIM, 2012).
propicia interferências oclusais que podem resultar Quanto à Ortodontia: o movimento do
no agravamento do problema periodontal; dente só é possível porque os tecidos periodontais
− alterações no sistema articular reagem às forças aplicadas indiretamente, ou seja,
têmporo-mandibular (CAPELOZZA FILHO et al., nos dentes. O osso alveolar é remodelado por
2001). osteoclastos, que induzem reabsorção óssea em
A incidência de tratamento ortodôntico em áreas de pressão, e por osteoblastos, que formam
adultos passou de 20% do total de casos iniciados osso em área de tensão. Quando uma força é
em 2000 para 55% em 2010. Observa-se, nesse aplicada ao dente, leva a uma alteração no fluxo
período, uma inversão do perfil de pacientes, antes sanguíneo do ligamento periodontal, que diminui
composto por crianças e adolescentes e, atualmente, nas áreas de pressão e é mantido ou aumentado nas
com predomínio dos adultos (OYAMADA; áreas de tensão, criando alterações no nível de
FURQUIM, 2012). oxigênio dessas regiões. Se a força aplicada for
Esse fenômeno pode ser explicado por grande o suficiente para causar a total obstrução dos
associação dos seguintes fatores: vasos sanguíneos do lado de pressão e interromper
− mudança no conceito de normal, o suprimento sanguíneo da área, inicia-se uma
permitindo a opção por metas terapêuticas mais necrose asséptica (zona acelular), denominada de
conservadoras, simples e consistentes, a fim de hialinização, podendo provocar reabsorção
eliminar a queixa do paciente; radicular (JANSON, 2008).
melhora no manejo ortodôntico, tornando-o mais pressão/reabsorção não são um conceito absoluto.
C D
A B
Figura 6 – Mecânica realizada desde os fios 0,18” nit. até
o fio 0,20” aço. A) Observar um resultado satisfatório
com fios 0,18” nit. B) Confecção das bite ramp
anteriores. C) Na arcada superior: fio 0,20” aço, remoção C D
controle periodontal e para verificação da região ântero- dentes necessários, além da correção da
superior, para mais desgastes interproximais. sobremordida acentuada, obtida com aumento da
dimensão vertical, estabilizada pela PPR inferior e
912
pelas bite ramp anteriores, fechamento do diastema
e dos espaçamentos criados pelos desgastes
interproximais; da forma dos incisivos e dos
A C
triângulos negros (figura 9A). Houve a redução da
sobressaliência e, consequentemente, da protrusão
dos incisivos (figura 9B). A Cl II bilateral
B D
permaneceu, mas o colapso oclusal foi corrigido
(figura 9C e 9D). Figura 10 – Fotografias oclusais. A) e B) Inicial: superior
Foi colada contenção fixa permanente, e inferior. C) e D) Final: superior e inferior.
desde a palatina do dente 13 até o dente 24 (figura
10C) e reduziu-se o comprimento sagital das bite
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ramp (figura 9B).
A paciente foi encaminhada para plástica
O tratamento ortodôntico em pacientes
gengival, clareamento dentário, facetas ântero-
adultos, com periodonto comprometido e colapso
superiores e no futuro, provavelmente, protocolo
oclusal, requer a interrelação com outras áreas da
inferior. Se isso ocorrer, aí poderemos obter a
odontologia.
classe I dentária.
Previamente ao tratamento ortodôntico,
é imprescindível que a adequação do meio bucal
seja obtida, com todas as restaurações e exodontias
necessárias executadas e, principalmente, com a
periodontite controlada. Considerando-se o aspecto
A B
ortodôntico do tratamento, buscar ser o mais
conservador possível, sugerindo um tratamento
realístico e localizado, solucionando a queixa do
C D paciente. Cuidar para que as forças aplicadas sejam
Figura 9 – Fotografias finais intra-bucais, após a remoção suaves, permitindo, dessa forma, um bom controle
do aparelho superior. A) Notar o controle periodontal, as do movimento.
restaurações adequadas e as correções: da sobremordida, Com esses cuidados, o tempo de
do diastema, da forma dos incisivos e dos triângulos tratamento fica reduzido, eliminando uma das
negros. B) Redução da sobressaliência e da protrusão dos principais razões de desconforto dos adultos com
incisivos. C) e D) Cl II bilateral e o colapso oclusal relação à ortodontia; os movimentos dentários são
corrigido.
menores, reduzindo os danos aos dentes e ao
periodonto; aumenta a estabilidade pós-tratamento;
o custo financeiro é menor e a satisfação do
paciente é maior.
REFERÊNCIAS
A
associada ou não a maloclusão palato, liberando somente as regiões das papilas
Classe III, raramente se gengivais e rugosidades palatinas. Uma vez
autocorrige. Diversos autores instalado, o aparelho Haas é apoiado na mucosa
são unânimes em afirmar que a sua correção deve palatina e em dentes decíduos, quando na dentadura
iniciar logo que for diagnosticado e quando o decídua e mista (VIANNA et al., 2003).
paciente puder entender o problema e, assim,
colaborar com o tratamento (Capelloza et al., 1990). DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
HAAS (1970) relatou que quando se
realizava a abertura da sutura palatina mediana, os Paciente HCT, sexo feminino, 6 anos e 7
processos alveolares deslocavam-se lateralmente meses, com tecidos dentários, gengivais e
enquanto que os processos palatinos deslocavam-se periodontais saudáveis e com boas condições de
inferiormente. Esse procedimento, juntamente com saúde geral, procurou tratamento ortodôntico na
a compressão do ligamento periodontal, resulta em clínica da Faculdade São Leopoldo Mandic.
alterações consideráveis na inclinação axial dos No exame clinico extra-bucal, observou-se
dentes posteriores, que são controlados no Padrão facial III por retrusão maxilar, corredor
tratamento, por meio da colocação de uma placa de bucal escuro, projeção nasal e zigomático
acrílico, logo após a remoção do aparelho expansor. diminuído (figura 1).
Ainda, salientou a importância da necessidade de No exame intra-bucal, a paciente encontra-
ancoragem das unidades dentárias, tendo como se na fase de dentição mista, com sobremordida de -
principal objetivo da expansão, uma boa 1 mm, maloclusao CL I de Angle, mordida cruzada
coordenação das bases ósseas e boa relação entre a posterior, overjet negativo, atresia maxilar, palato
dentição superior e inferior. oval e leve apinhamento (figura 2). É importante
O tratamento da maloclusao Classe III ressaltar que a paciente não havia sido submetida a
representa um dos maiores desafios para correção tratamento ortodôntico anterior.
durante o tratamento ortodôntico, principalmente no Radiograficamente, todos os dentes
que se refere ao momento mais oportuno para a permanentes estavam presentes, exceto os terceiros
interceptação ou para a correção desta maloclusão e molares. De uma maneira geral, as imagens ósseas
a estabilidade dos reultados alcançados. O aparelho e dentárias eram compatíveis com o padrão de
expansor fixo tipo Haas de ancoragem normalidade. As radiografias complementares
dentomucossuportada representa um instrumento periapicais de incisivos superiores e inferiores
competente para romper as suturas maxilares de apresentaram raízes com ápices abertos e crista
forma muito previsível, principalmente em idades óssea normal. A radiografia de mão e punho não foi
precoces, quando a resistência do esqueleto facial é solicitada, uma vez que a idade da paciente sugeria
reduzida. No seu desenho, a estrutura metálica une que a mesma ainda não havia entrado no surto de
os dentes posteriores do mesmo lado por intermédio crescimento pré-puberal e ainda não havia passado
de uma barra de conexão, construída com fio de aço pelo período de menarca (figuras 3 e 4).
inoxidável de 1,2 mm de diâmetro. Os dois botões Na avaliação cefalométrica de Ricketts,
palatinos de resina acrílica que envolvem as barras apresentou Padrão facial Braqui Severo, Classe III
916
esquelética por protrusão mandibular, Classe I de e, depois de imobilizar o parafuso, foi instalada a
Angle, incisivos superiores retruídos e máscara facial, com elástico que liberava 500g de
verticalizados, incisivos inferiores bem força de cada lado. A paciente e responsável foram
posicionados e lábio inferior protruído. orientadas a fazer uso da máscara facial por, no
Por meio da avaliação cefalométrica de mínimo, 10 horas por dia (figura 5).
Björk-Jarabak, concluiu-se que o corpo da A tração maxilar foi mantida durante 6
mandíbula está aumentado, a base anterior do meses após a imobilização do parafuso. Foi
crânio diminuído, a altura do ramo aumentada em observado um overjet de 4 mm após a fase de seis
relação à base posterior do crânio, angulo Sela meses de uso da máscara facial. Após este período,
normal (mandíbula bem posicionada), Ângulo foi removida a máscara e o disjuntor, dando uma
Articular aumentado (rotação horária da pausa de trinta dias para moldar o aparelho
mandíbula), % Jarabak – 64% apresentando, assim, expansor superior. O aparelho de expansão lenta
um crescimento facial do tipo anti-horário, Ângulo ficou durante seis meses como contenção, sendo
Goniaco superior diminuído, tendo assim, ativado uma vez por semana. Após este período,
incremento remanescente de crescimento vertical. uma nova documentação foi solicitada para
acompanhar o crescimento e troca dentária,
Tratamento acompanhando, assim, a estabilidade do caso
Partindo da avaliação esquelética, dental e (figura 6).
dos tecidos moles, optou-se pela interceptação da
maloclusão por expansão rápida da maxila com
tração da maxila. Após esse tratamento de primeira
fase, iremos acompanhar o crescimento e a troca
dentaria (figuras 1 e 2).
Inicialmente, foi realizada a disjunção
maxilar, a fim de corrigir a mordida cruzada
posterior e desarticular as suturas do complexo
nasomaxilar, para a realização da tração maxilar. O
aparelho utilizado foi um disjuntor do tipo Haas
modificado, com anéis nos segundos molares
Figura 1- Análise Facial inicial para diagnóstico.
decíduos e colados nos caninos decíduos. Um braço
externo, confeccionado com fio de 0,9 mm e
soldado na face vestibular do anel dos segundos
molares decíduos, estendia-se até a região dos
caninos decíduos, terminando em forma de gancho,
para o posterior apoio de elásticos empregados na
tração maxilar (figura 5).
O parafuso do disjuntor foi ativado 2/4 de
volta ao dia, com intervalo mínimo de 10 horas de
uma ativação para outra, durante 28 dias, até que a
mordida cruzada fosse corrigida, chegando a Brodie
917
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
mordida cruzada anterior, limites da normalidade, não demonstra selamento
durante o segundo período labial, com os incisivos superiores expostos,
transitório da dentição mista, gengiva excessivamente exposta durante o
exige intervenção imediata pelos ortodontistas e sorrisocausado pelo aumento vertical do terço
merece atenção especial por parte das outras inferior da face. O Padrão Face Curta apresenta
especialidades da Odontologia, especialmente a uma diminuição exagerada do terço inferior da face
Odontopediatria. com lábios comprimidos, sobremordida acentuada e
A morfologia facial pode ser definida em forte componente muscular.
fase precoce do ser humano, sendo observada a Por meio de estudo epidemiológico na
tendência para um padrão facial entre os 3 e 6 anos cidade de Bauru-SP, SILVA FILHO et al. (2008)
de idade, conforme relataram SILVA FILHO et al. demonstraram que 63% desta população apresentou
(2008). Ainda segundo os autores, a Ortodontia e a um Padrão I, 33% apresentou um Padrão II, e
face possuem uma integração vantajosa, pois Angle próximo de 4 % apresentou um Padrão III.
para demonstrar seus conceitos, definiu a face de A mordida cruzada anterior apresenta um
Apolo de Belvedere como parâmetro para as comprometimento estético e funcional muito
medidas a serem obtidas durante o tratamento marcante, segundo ALMEIDA et al. (2011), e
ortodôntico. encontra-se presente em 7 a 8 % dos indivíduos na
Capelozza Filho (2004) sistematizou o dentadura mista; a deformidade não se autocorrige,
diagnóstico ortodôntico em Padrões, sendo eles: sendo assim, deve ser diagnosticada e tratada o
Padrão I, Padrão II, Padrão III, Padrão Face Longa mais precoce possível, buscando, desta forma, o
e Padrão Face Curta. Sendo que no Padrão I há um não comprometimento esquelético, e o
equilíbrio da face, presença de selamento labial, desenvolvimento normal da maxila deve ser
equilíbrio entre os terços superiores, médios e objetivado com uso de uma mecânica ortodôntica
inferiores da face, linha queixo-pescoço adequada e simples e efetiva.
ângulo queixo-pescoço definido durante a análise O objetivo da disjunção maxilar é
lateral da face. O padrão II apresenta protrusão reposicionar a maxila sobre a mandíbula, durante a
maxilar ou retrusão mandibular ou ainda as duas fase de crescimento. Segundo DRUMMOND
características em conjunto em uma mesma (2008), o disjuntor Haas tipo “Borboleta” é um
face;esta manifestação esquelética demonstra um aparelho dento-muco-suportado com um parafuso
perfil facial marcantemente convexo. Em sentido especial, o que permite um melhor controle da
oposto, o Padrão III revela uma face côncava com região a ser expandida, podendo-se limitar à pré-
deficiência do zigomático, degrau sagital negativo maxila, quando necessário.
entre maxila e mandíbula, apresentando O aparelho utilizado nesta paciente simula
prognatismo mandibular ou retroganatismo maxilar, os resultados do disjuntor de dobradiça dupla
podendo ainda apresentar o retrognatismo maxilar preconizado por LIOU (2009), possuindo indicação
em associação ao prognatismo mandibular, e em para maxilas hipoplásicas de indivíduos em
geral, apresentam mordida cruzada anteiror e/ou crescimento, sendo eficaz para abertura não apenas
posterior. A análise da face no sentido vertical da maxila, mas, também, das suturas circum-
demonstra que o Padrão Face Longa ultrapassa os maxilares, permitindo assim, uma maior liberdade
921
de movimento durante a protração maxilar com seu
deslocamento para anterior> Desta maneira,
segundo o autor, os expansores com dobradiças
duplas são superiores aos outros tipos de
expansores, quando se faz necessário o tratamento
de maxilas hipoplásicas em pacientes classe III.
A descrição de caso clínico de mordida
cruzada anterior e oclusão III de Angle, em
paciente de 11 anos, por BEZERRA et al. (2014)
demonstrou o tratamento com disjunção maxilar e
tração reversa de maxila, conseguindo um resultado
favorável, melhorando a face da paciente e sua
autoestima, pois, os pacientes portadores desta
síndrome demonstram problemas psicossociais que
afetam significantemente sua vida. C
B C
A B
D E
Figura 2 – A) Frente; B) Lateral esquerda; C) Lateral
direita; D) Oclusal superior; E) Oclusal inferior.
922
Na análise cefalométrica de Ricketts, realizada a moldagem de transferência. Os modelos
traçada sobre a telerradiografia (figura 3) foi obtido foram encaminhados para o laboratório de prótese
um valor de - 6 mm de Convexidade do Ponto A, com as devidas orientações para confecção de
revelando, assim, uma má oclusão de classe III aparelho tipo Haas, modificado com dois
esquelética por deficiência maxilar, o que pode ser disjuntores palatinos de 10 mm tipo “borboleta”
confirmado com o ângulo de 84 graus para (figura 4A, B).
Profundidade Maxilar. O Índice Vert, que elucida
alteração vertical foi de + 1,87, demonstrando que a
paciente apresenta uma tendência de crescimento
braquifacial severo. Os incisivos superiores
apresentam-se palatinizados e retruídos com 1-APo
de – 5 mm e o 1.APo de 34 graus, sendo a norma de
1 mm e 22 graus, respectivamente, o que leva a
paciente a um deslize funcional mandibular,
agravando ainda mais a deformidade facial , pois o
desenvolvimento esquelético mandibular no sentido
anti-horário recebe um estímulo do esforço para
conseguir conforto oclusal que encontra-se Figura 4 – A) Instalação das bandas para transferência;
B) Haas modificado composto de dois expansores tipo
prejudicado com os contatos dos incisivos
“borboleta” instalado.
anteriores.
A
B
B C
Figura 6 – Tomografia após a disjunção palatina. A)
Imagem em 3D Frontal; B) em 2D oclusal; C) em 3D
oclusal. Observar a abertura da sutura desde a espinha
nasal anterior até à espinha nasal posterior, região
constituída pelos processos pterigoides do osso esfenoide,
C estrutura resistente à disjunção palatina.
Figura 5 – A) Tomografia em 3D Frontal ; B) em 2D
oclusal; C) em 3D oclusal. Imagens anteriores ao início
da ativação do Haas com dois disjuntores tipo
“borboleta”.
C
Figura 7 – Diastema observado clinicamente após a
disjunção palatina. A) Frente; B) Lateral direita; C)
Lateral esquerda.
924
Após o período de 15 dias do início da A telerradiografia (figura 10) demonstra o
ativação dos parafusos expansores, a próxima etapa avanço da maxila obtido após o término do
do tratamento foi a tração reversa da maxila, com tratamento de primeira fase, resultado este que se
instalação da máscara facial de Petit (figuras 8A,B, fez conseguir,a princípio, pela liberação das suturas
C) e os parafusos expansores fixados com resina circum-maxilares, com ativação dos disjuntores.
acrílica, conforme mostra a figura 9. A princípio, a
paciente foi orientada a utilizar elásticos ½ médio,
adaptados aos ganchos soldados ao aparelho Haas,
e foi orientada a trocá-los a cada três dias, além de
utilizar a máscara, durante período de 12 horas por
dia. Decorridos três meses de uso da máscara de
Petit, os elásticos foram substituídos por dois
elásticos 5/16 médios de cada lado do gancho
soldado ao Haas, sendo a paciente orientada a
trocá-los diariamente. Figura 10 - Telerradiografia após o tratamento de
primeira fase.
A
A
B
B
C
C
Figura 7 - Fotos extraorais finais. Figura 10 - (A) Radiografia Cefalométrica de perfil final;
(B) Traçado Cefalométrico final; (C) Radiografia
panorâmica final.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Figura 9 - Modelos finais.
A
crescente necessidade estética tem estéticas, deve ser realizada com cuidado, já que a
levado a implantodontia a trilhar parede óssea vestibular pode ser delgada e passível de
caminhos imediatistas em fratura e qualquer perda óssea pode torna-se
tratamentos reabilitadores parciais ou totais. A comprometedora, uma vez que o osso crevicular sofre
crescente demanda, no entanto, necessita de condições rápida reabsorção com perda da tábua óssea vestibular.
ósseas e sistêmicas, assim como protocolos que As indicações para extração e instalação de
garantam o sucesso do tratamento. implantes são: dentes com falhas irreversíveis no
No início da utilização de implantes, tratamento endodôntico, fraturas radiculares, assim
BRANEMARK et al., 1977, propuseram um protocolo como cáries avançadas, abaixo da margem gengival.
no qual os implantes deveriam ficar submersos por um (ZENI et al., 2011). Atualmente, o uso de implantes
período variável, conforme a qualidade óssea, sem com carga imediata em áreas estéticas tem sido
carga mastigatória (BRANEMARK et al., 1999), pois comum, já que as intercorrências na arcada bucal
se acreditava que os micro-movimentos iriam interferir podem acontecer sem aviso prévio (como durante a
no processo de perda do implante. Com o passar do prática de esporte, iatrogenias, traumas e fraturas de
tempo, os estudos foram mostrando que, sob próteses antigas), sendo indicado para evitar que a
determinadas condições, como estabilidade primária, reabsorção alveolar prejudique à estética e seja
seria possível aplicar com sucesso carga-imediata ao necessária enxertia óssea, previamente à reabilitação.
implante recém-instalado, desde que a mesma fosse Portanto, a reabilitação oral adequada, muitas vezes
inicialmente leve e obedecida a regra de que os vetores imediata, deve ser fornecida para restaurar não só a
de força não pudessem ser ativados imediatamente, estética, mas também para manter o equilíbrio da
limitando-se apenas a micro-movimentos e, aos oclusão (GOMES; VOLKART; MAYER, 2012).
poucos, sendo-lhe acrescentadas cargas, até que fosse Estudos clínicos têm demonstrado a
liberado o carregamento normal (ADELL et al., 1981; possibilidade de osseointegração seguida de um único
CHIAPASCO et al., 1997; BISCHOF et al., 2004; estágio cirúrgico e colocação de carga-imediata sobre
TURKYILMAZ; UTKU; MCGLUMPHY, 2008). implantes de titânio em maxilares edêntulos, desde que
A implantação imediata pós-exodontia é uma o torque final de instalação do implante exceda
realidade para elementos unitários desde 1994, quando 32N/cm2(PEREIRA, 2011). Vantagens propostas e
BECKER; BECKER; CAFFESSE, 1994, afirmaram percebidas na instalação de implantação imediata são:
que, sempre que possível, o implante deve substituir a redução na duração total do tratamento; manutenção do
raiz dentária no mesmo procedimento em que ela é perfil dos tecidos moles; prevenção da perda óssea,
removida, evitando perdas ósseas adicionais que tanto vertical e direções horizontal; redução do número
podem ocorrer no sentido horizontal e vertical, desde de cirurgias, reduzindo assim o custos e morbidade
que não houvesse presença de quadro inflamatório global; um período significativamente reduzido de uso
agudo ou crônico e ou quadro infeccioso. de uma prótese intercalar que é removível e geralmente
Segundo ATuallah et al. (2008), a chave para desagradável para muitos pacientes que esperam
o sucesso da instalação imediata é a avaliação do receber uma restauração implantossuportada fixa; e
prognóstico dos tecidos moles adjacentes, cujo o êxito possível perda traumática de dentes anteriores. Em tais
depende da extração atraumática e da ausência de casos, a colocação do implante imediato e provisório
danos do aparelho de inserção. A exodontia, em áreas
935
pode ser uma boa opção de tratamento. (BHOLA et al., magnitude do remodelamento ósseo que acontecerá
2008). após o procedimento cirúrgico, o que pode levar a um
A seleção do implante também é importante. resultado estético insatisfatório; formação de gaps
Opta-se por formatos cônicos ou cilíndrico-cônicos devido à diferença de diâmetro e à geometria entre a
(híbridos) porque apresentam maior superfície de raiz do dente perdido e o implante (esses “gaps” podem
contato com o osso em relação ao leito receptor. Outro ser maiores que 1 mm, sendo necessário, o
fator que deve ser considerado para o sucesso da preenchimento com enxerto ósseo e/ou biomateriais);
osseointegração é a estabilidade primária, que é posicionamento inadequado do implante; técnica mais
alcançada quando o implante é instalado em um sítio complexa e sensível, o que requer um cirurgião mais
ósseo e ocorre uma adaptação mecânica direta entre o qualificado (ATUALLAH et al., 2008; FARIAS;
osso e a superfície do implante. O sucesso dessa CAPPATO, 2015)
adaptação, no entanto, depende de vários fatores,
incluindo a qualidade e quantidade óssea local, a DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
geometria do implante (comprimento, diâmetro e
formato, ou seja, sua macroestrutura), assim como a Este estudo descreve um caso clínico de
microestrutura da superfície implantar e os mais fratura radicular do incisivo central superior direito
variados tratamentos de superfície, que dão ao mesmo (dente 11) devido a trauma dental ocorrido por um
uma condição hidrofílica e, assim, uma maior interação acidente de carro. O exame radiográfico periapical
com os tecidos periodontais circunjacentes e um menor revelou fratura radicular sem indícios de processo
tempo de osteointegração. Outro aspecto extremamente inflamatório periapical com boa quantidade óssea
importante é a técnica de preparo cirúrgico do leito do (figura 2).
implante de maneira minimamente invasiva. Este Depois que o dente foi extraído, um implante
estudo descreve um caso clínico de fratura radicular. A imediato e uma prótese provisória foram
instalação imediata do implante apresenta vantagens imediatamente colocados.
para a cicatrização dos tecidos (ATUALLAH et al.,
2008).
Algumas desvantagens relacionadas aos
implantes imediatos também devem ser consideradas:
A discrepância entre a forma de um implante dentário e
a forma da cavidade de extração residual é obrigado a
levar a uma situação em que há espaços vazios entre o
implante e as tabuas ósseas remanescentes. A falta de
adaptação entre o leito receptor e o implante pode gerar Figura 1 – Imagem inicial.
Figura 2 – Radiografia a.
E ortodônticos, um
planejamento da ancoragem é
fundamental para o sucesso da
adequado
REFERÊNCIAS
A
ortodontia é a especialidade
que corrige alterações de
posicionamento dentário e
relação maxilomandibular, tendo como objetivo
reestabelecer a função do sistema estomatognático,
estética dentária e facial (ESPER, 2010; CAMPOS
et al., 2013).
Na maioria dos casos, os fatores
motivadores para o tratamento ortodôntico são a
Figura 2 – Sorriso Inicial.
estética dental e facial e, consequentemente,
minimizar problemas psicológicos e social
(SCHMIDT et al., 2013).
Dessa forma, a procura pelo tratamento
ortodôntico é cada vez mais frequente entre os
pacientes, independentemente da idade e do sexo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
pode ocorrer por uma falha na custo e tempo para obtenção do resultado,
proliferação e/ou diferenciação proporcionando uma excelente visualização das
da lâmina dentária. Além desta patologias aqui estudadas.
teoria, existem outras que procuram esclarecer a Além da estética que tanto preocupa os
ocorrência destes fenômenos. Para alguns pacientes, a ausência de um ou mais elementos
estudiosos como MONTES et al. (2015), além do estão associados a outros problemas ortodônticos,
fator evolutivo, outros fatores causadores destas como, por exemplo, apinhamento (falta de espaço,
anomalias têm sido sugeridos como, por exemplo: a neste caso, apresentada nas arcadas superior e
radiação, associação com síndromes, fatores inferior), diastemas, giro-versões, reabsorções
hereditários, fatores ambientais e fatores genéticos. radiculares, impactação dentária, formações císticas
Sua prevalência e o grupo de dentes mais e desenvolvimento de maloclusão (RODRIGUEZ et
afetados são: os terceiros molares, seguido dos pré- al., 2014).
molares e incisivos laterais superiores. Neste caso Nos casos de agenesia, as opções de
clínico, em que ocorre a agenesia de segundos pré- tratamento incluem: manter os segundos molares
molares bilateralmente, tanto os superiores quanto decíduos, que é indicado quando há deficiência de
os inferiores, pesquisamos na literatura, e espaço, ou seja, onde o fechamento de espaço é
detectamos que a prevalência varia de 2 a 5 %, desfavorável, com a presença de overbite
sendo mais comum sua ocorrência na mandíbula, exagerado, espaços generalizados entre os dentes
além disso, não foi verificada nenhuma diferença ou quando o ângulo do plano mandibular está
em relação ao gênero masculino e feminino quanto diminuído; ou extrair os molares temporários e
ao número de pré-molares ausentes, lados afetados permitir o fechamento espontâneo, implantes com
ou simetrias das agenesias. substituição protética e fechamento de espaços via
Dentre os tipos de anomalias dentárias, tratamento ortodôntico.
existem as de tamanho, forma, estrutura, irrupção e A extração dos molares temporários e
número de dentes (RODRIGUEZ et al., 2014). posterior encaminhamento para reabilitação via
Cotidianamente, na clínica ortodôntica, observamos implante e prótese é ilustrada neste relato de caso.
a presença frequente de anomalias de número, seja Desta forma, o profissional terá de adotar uma
ela com alterações, que levam à ausência de dentes criteriosa conduta no tocante ao planejamento e
(agenesia), ou a um número excedente de dentes procedimentos a serem adotados, objetivando um
(supranumerários),tornando o tratamento desempenho favorável para a estética e a função do
ortodôntico bastante desafiador para os sistema estomatognático do paciente.
profissionais da área. Estes tipos de anomalias de O objetivo deste trabalho será mostrar um
número podem passar despercebidas, tanto para o relato de caso clínico com ausência (agenesia)
paciente quanto pelos seus responsáveis cuidadores, bilateral de segundos pré-molares superiores e
bem como pelo próprio profissional, até o momento inferiores e, somando a isto, a deficiência de espaço
da realização de exames complementares como é o (apinhamento) em ambas as arcadas.
caso da radiografia panorâmica, que é o exame
radiográfico mais utilizado por ser, nestes casos, DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
948
Paciente CCS, gênero feminino, com 21 Durante a avaliação clínica, observamos as
anos, perfil harmonioso, apresentando maloclusão presenças de quatro segundos molares decíduos
Cl II, segunda divisão, subdivisão lado direito e (55, 65, 75 e 85). O diagnóstico clínico foi
relação molar em Cl I, lado esquerdo, tanto a confirmado após a observação da radiografia
relação molar quanto canino estão em Cl I (figura panorâmica, conforme figura 3.
1), agenesia de segundos pré-molares superiores e
inferiores (figuras 2 e 3), apresentou-se para
tratamento ortodôntico, tendo como queixa
principal, “dentes tortos”, prejudicando a estética.
REFERÊNCIAS
A os primórdios da civilização.
Egípcios e gregos
expressavam esses conceitos
em esculturas e pinturas (PECK; PECK, 1970).
já
vedamento labial.
Após exame clínico, foi
documentação ortodôntica, dotada de modelos de
solicitada
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
D
entre as várias formas de em Ortodontia abolindo, assim, a necessidade de
movimentação dentária, com cooperação dos pacientes, além de servir de apoio
certeza, a mais difícil de obter para movimentos ortodônticos complexos
sucesso é a intrusão (PARK, 2003 ). (MARASSI; LEAL; HERDY, 2005).
Intrusão dentária refere-se ao movimento Antes do advento dos mini-implantes, a
apical do centro geométrico da raiz, em relação ao principal alternativa para a reabilitação de um
plano oclusal ou um plano baseado no longo eixo paciente que apresentava um grupo de dentes
do dente, sendo um dos movimentos mais difíceis extruídos na região posterior era, na maioria dos
de conseguir durante o tratamento ortodôntico casos, desgastes na superfície oclusal, seguido de
(BURSTONE; GOLDBERG, 1980). tratamento Endodôntico.
A intrusão dentária, seja para a correção da Com os mini-implantes como ancoragem,
sobremordida exagerada ou da mordida aberta pode-se conseguir intrusão real dos elementos
anterior, seja para a correção de dentes extruídos dentários extruídos, uma vez que possuem inúmeras
pela falta dos antagonistas, representa grande vantagens, por exemplo: ancoragem rígida, ativação
desafio mecânico, pela dificuldade de controle de imediata, possibilidade de instalação do mini-
movimentos indesejáveis nas unidades de implante em diversas posições, mecânica do
ancoragem. Obviamente, ao longo dos anos, a tratamento simplificada, técnica simples de
literatura tem apontado resultados satisfatórios com inserção, período do tratamento ortodôntico
a utilização de aparelhos auxiliares extra e diminuído, desconforto minimizado durante o
intrabucais. Porém, nem sempre é fácil conseguir tratamento, e melhor resultado final.
do paciente a colaboração necessária, pelo Com o surgimento dos mini-implantes,
desconforto físico e/ou estético que esses aparelhos uma nova fase no que se refere à ancoragem se
podem causar (ARAUJO et al., 2008). iniciou na Ortodontia, e eles estão sendo muito
A localização de instalação dos mini- usados pela eficácia demonstrada ao longo da
implantes para a intrusão dentária vai depender recente história da ancoragem esquelética
muito do número de dentes envolvidos e a posição temporária. Os mini-implantes tornam os
das raízes dos mesmos e a instalação sempre em tratamentos ortodônticos mais previsíveis e
gengiva ceratinizada, pois na região de mucosa, a apresentam vantagens em relação ao sistema de
inflamação ocorre mais facilmente. ancoragem convencional, tais como: não dependem
Alguns métodos de ancoragem descritos da colaboração do paciente; possuem tamanho
na literatura como o arco lingual, a barra reduzido, permitindo sua instalação em vários
transpalatina, o botão de Nance, os elásticos locais na maxila e mandíbula; fácil instalação e
intermaxilares e o aparelho extra-bucal, apesar de remoção; baixo custo; são mais confortáveis que os
eficientes, em muitas situações permitem certa dispositivos convencionais; não requer tempo de
movimentação da unidade de ancoragem ou cicatrização e osseointegração, além de
dependem da colaboração do paciente quanto ao minimizarem os efeitos indesejáveis nos dentes de
uso para a sua efetividade (ARAÚJO et al., 2006). ancoragem (SHIMIZU et al., 2010).
Contudo, os mini-implantes têm sua A técnica dos mini-implantes em
utilidade como um admirável método de ancoragem Ortodontia surge como opção para os casos em que
957
a ancoragem se tornaria como um ponto crítico para bem-elaborado para determinar a melhor posição
obter sucesso na terapia ortodôntica. Com isso, os para inserção do implante (LEE et al., 2009). Os
mini-implantes demonstram alta habilidade de autores também afirmaram que a indicação de
aplicação clínica e surgem como uma boa forma de localização é crítica e requer cuidadosa
tratar casos com prognóstico indesejado. Isto consideração dos tecidos moles e duros, da
representa para a Ortodontia uma opção duradoura acessibilidade, do conforto ao paciente e da
para o alcance da máxima resposta de necessidade biomecânica. De acordo com eles,
movimentação dentária sem perda de ancoragem inserção do implante, hoje em dia, é considerada
como efeito colateral da mecânica empregada atraumática, indolor e requer pouca quantidade de
(LUDWIG et al., 2010). anestesia.
As indicações de mini-implantes são para A estabilidade inicial do mini-implante é
pessoas com necessidade de movimentações importante, pois a maioria das falhas ocorrem nos
dentárias complexas como a perda dos molares, a estágios iniciais, logo após a instalação deste
criação de espaço entre os dentes, dificultando a (MIYAWAKI et al., 2003). Segundo os resultados
aplicação de forças e a manutenção da ancoragem. obtidos por PARK; KWON; SUNG (2006), foi
No entanto, também estão indicados para o demonstrada que a inflamação gengival ao redor do
processo de ancoragem máxima, como nos casos pescoço do mini-implante pode causar prejuízos ao
com extração de pré-molares e indicação de osso na mesma região. O autor recomenda que, para
retração anterior, e para pacientes não se assegurar o sucesso, é importante prevenir a
colaboradores, que não aceitam os aparelhos extra- inflamação ao redor dos mini-implantes. Segundo
bucais e/ou elásticos intermaxilares (LEE et al., CHEN (2012), resultados bem sucedidos com mini-
2009). implantes precisam apresentar uma resposta
Já para NASCIMENTO; ARAÚJO; inflamatória reduzida.
BEZERRA (2006), o microparafuso ortodôntico
têm sua utilização como recurso de ancoragem
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
esquelética em Ortodontia porque demonstra alta
versatilidade de aplicação clínica devido às suas
Paciente, 49 anos, gênero feminino,
dimensões reduzidas, baixo custo, simplicidade de
apresentou-se no curso de Mestrado da Faculdade
instalação e remoção. Estão indicados, sobretudo,
São Leopoldo Mandic com a indicação de Intrusão
para casos clínicos em que há presença de
dos molares posteriores para posterior reabilitação
estabelecimento de uma ancoragem esquelética
dentária.
firme, poupando movimentos que se realizam,
Durante a anamnese, a paciente não
sendo indesejáveis durante o tratamento ortodôntico
relatou qualquer alteração sistêmica nem utilização
corretivo.
de medicamentos. O exame físico intrabucal
No entanto, durante o preparo para a
demonstrou ausência dos primeiros e segundos
colocação do implante, é necessária boa
molares inferiores direto e esquerdo, o que
documentação ortodôntica (radiografias
possibilitou a extrusão dos antagonistas que
panorâmica, periacal e cefalométrica, modelos de
invadiram o espaço protético inferior e não
gesso, etc) associando a tudo isso, a anamnese
permitiriam a reabilitação oral do paciente.
clínica e a um plano de tratamento ortodôntico
958
Após feita a primeira avaliação e intrusão dos elementos 16,17 e 26, 27 (figuras 3 e
considerando as vantagens e desvantagens das 4).
possibilidades de tratamentos, foi definida a
intrusão dos dentes 16, 17, 26 e 27 com ancoragem
absoluta com mini-implantes.
As radiografias panorâmica e periapicais
demonstraram a possibilidade de instalação dos
mini-implantes na região vestibular, entre os 15 e
16, 25 e 26, e por palatino, entre 16 e 17 e 26 e 27
(figuras 1 e 2).
REFERÊNCIAS
A
maloclusão de Classe III ou mandíbula, inclinação lingual dos incisivos inferiores,
mesioclusão foi inicialmente aumento do terço inferior, deslocamento do nariz para
decrita por Angle em 1899, por frente, aumento da convexidade do perfil e inibição do
meio de seu sistema de más oclusões (FUZIY; crescimento mandibular (CAPELOZZA;
GHERSEL; BIGARELLA, 2004; MIGUEL et al., TANIGUCHI; SILVA FILHO, 1990).
2008; SOUSA; GONÇALVES; PINHEIRO, 2010). O diagnóstico ideal deve ser precoce, se
A maloclusão de Classe III é especialmente possível, ainda na dentadura decídua (DILLIO et
destacada na Ortodontia devido ao forte al.,2014). Quanto mais cedo, a interceptação suscita
comprometimento estético e prognóstico de tratamento maiores efeitos ortopédicos, em detrimento dos
desfavorável principalmente quando existe componente inevitáveis efeitos ortodônticos. Além disso, devolver a
hereditário (DE ALMEIDA; DE ALMEIDA; CHANG, estética à criança precocemente implica contribuir para
2016). Sugere-se que a maioria dos casos de sua autoestima, levando-se em consideração o fator
maloclusão de Classe III possui retrusão maxilar, psicológico. A maloclusão agrava-se ao longo do
podendo estar ou não associada a prognatismo crescimento, principalmente a partir da adolescência.
mandibular (MAJOR, ELBADRAWY, 1993). A Deste modo, na criança, esta maloclusão não se
etiologia multifatorial e a dificuldade de prever o apresenta totalmente definida, e as características
padrão de crescimento do complexo craniofacial faciais e oclusais ainda sutis podem dificultar o
contribuem para que o tratamento da Classe III seja diagnóstico. A identificação precoce desta discrepância
desafiador (GALLÃO et al., 2013). esquelética depende da observação minuciosa de uma
O tratamento da maloclusão de Classe III em série de características faciais, oclusais, e
pacientes com crescimento padrão III é um dos maiores cefalométricas, que revelam forte tendência à Classe III
desafios da Ortodontia. A imprevisibilidade e a (OLTRAMARI et al., 2005).
natureza potencialmente desfavorável deste padrão de A dentição mista é a época ideal para alterar a
crescimento torna o prognóstico a médio e longo prazo relação oclusal por meio da modificação do
nebuloso, complicando, sob esta perspectiva, o crescimento (SAADIA; TORRES, 2000; JANSON
tratamento adotado para estes pacientes (CAPELOZZA etal., 2004).
FILHA et al., 2002). As suturas maxilares formam-se pela
Existem inúmeras formas de tratamento da ossificação intramembranosa; são mais susceptíveis a
maloclusão de Classe III, variando desde aparelhos influências ambientais quando comparadas à
ortopédicos, passando pelas máscaras faciais e, em mandíbula, que possui crescimento essencialmente
casos mais severos, pelo do tratamento combinado endocondral, sendo mais propenso a determinações
Ortodontia-Cirurgia (ROMANO et al., 2003). genéticas (LIMA FILHO; LIMA; BOLOBNESE,
A maloclusão de Classe III, em muitos casos, 2004).
é tratada precocemente por meio da tração reversa da Várias são as possibilidades de tratamento
maxila, que é um procedimento mecânico ortodôntico e para a Classe III. Todavia, a maioria dos autores é
ortopédico, cujo principal objetivo é a correção do unânime em considerar a protração maxilar associada
problema dentário e/ou esquelético (PERRONE; ou não à expansão palatina rápida como a melhor
MUCHA, 2009). Promove um deslocamento anterior terapia para os pacientes em fase de crescimento
da maxila e dentes superiores, rotação horária da (ROMANO et al., 2003). Diferentes tipos de
962
dispositivos utilizados como ancoragem extra-bucal
para protração maxilar já foram descritos na literatura,
como: máscara facial tipo Delaire, máscara facial tipo
Petit, máscara facial de Turley e Sky Hook, entre
outros (VEDOVELLO et al., 2012).
Após o término do tratamento ortodôntico
precoce, o controle e monitoramento do indivíduo são
essenciais, pois a estabilidade será ameaçada devido à
influência do padrão genético durante a fase de
crescimento (ZUPO et al., 2011).
PLANEJAMENTO
Com base no exame clínico e radiográfico,
seguiu-se o planejamento:
FASE 1:
O primeiro procedimento terapêutico consistiu
na expansão rápida da maxila, utilizando-se o aparelho
de MacNamara, com a finalidade de descruzamento da
região posterior e como parte da protração maxilar. O Figura 3 - Fotografia intrabucal frontal e oclusal pós-
aparelho foi ativado 2/4 de volta ao dia durante 14 dias, expansão rápida da maxila.
FASE 2:
Foi utilizada a máscara de Turley ou máscara
individualizada (figura 4), instalada no dia da última
ativação do parafuso expansor. Os elásticos foram
colocados partindo do gancho situado no aparelho
expansor, próximo aos caninos superiores, até os
ganchos da máscara, promovendo tração para baixo e
para frente, formando um ângulo de 30° a 45° em
Figura 4 - Fotografia extra-bucal frontal durante a instalação
relação ao plano oclusal. A força promovida por eles
da máscara facial.
foi de 500 g de cada lado. Os elásticos eram trocados a
cada três dias.
964
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
maloclusão de classe III de Angle de topo (figura 1).
é a menos frequente de todas, em No exame clínico intrabucal, com dentição
torno de 5% na população latina, permanente, apresentava classe III dentária (avaliada
no entanto, quando chega até o consultório do nos caninos permanentes), mordida de topo anterior e
ortodontista, normalmente representa um tratamento posterior bilateral. Observou-se uma atresia maxilar
desafiador (BRUNETTO; BRUNETTO, 2013). transversa. Além disso, os elementos 16 e 47 estavam
A análise esquelética das bases ósseas realiza- ausentes na arcada (figura 2).
se por medidas cefalométricas selecionadas pelo
ortodontista, apresentando-se como um método
complementar de grande importância no correto
diagnóstico do tipo de maloclusão de Classe III,
presente no paciente selecionado para tratamento o
ortodôntico (FABER, 2010).
O tratamento orto-cirúrgico para correção de
deformidades dentofaciais abrange uma fase de
ortodontia pré-cirúrgica. A cirurgia ortognática
Figura 1 – (A, B e C) Fotografias faciais. Nota-se o lábio
propriamente dita e uma fase de finalização ortodôntica inferior à frente do superior.
(HENRIQUES; SANT’ANA; GURGEL, 1997) e sua
relevância encontra-se não só na correção da oclusão,
mas também da estética facial (NICODEMO;
PEREIRA; FERREIRA, 2007). Assim sendo, o
propósito deste trabalho é demonstrar o protocolo
utilizado por meio de um relato de caso clínico.
Histórico
A paciente faioderma F. C., sexo feminino,
apresentou-se para tratamento ortodôntico na fase
adulta. Como queixa principal, relatava “queixo muito
grande” e “mordida invertida”. Figura 2 - (A, B, C e D) Fotografias intrabucais. Dentes
posteriores em topo.
Diagnóstico
No exame clínico, era visível o perfil facial Na radiografia panorâmica, observou-se a
côncavo, provavelmente devido a uma deficiência do presença dos terceiros molares superiores e inferiores
terço médio da face. Em vista frontal, apresentava (figura 3). Com a radiografia e traçado cefalométrico,
terços faciais não proporcionais, selamento labial confirmou-se a deficiência anteroposterior de maxila
passivo e face assimétrica (sem desvio mandibular). (SNA=79,55⁰), a protrusão mandibular (81,82⁰), a
Quando sorria, notavam-se vários elementos dentários presença de uma classe III esquelética (- 2,27⁰) e a
968
inclinação lingual dos incisivos inferiores primeiro momento, foi usado o arco superior de aço
(IMPA=77,55⁰) (figura 4). inoxidável .016” e elástico em cadeia com força de
50gf para a mecânica de deslize, e no arco inferior foi
adaptado um arco braided (.017” x .025”) com ômegas
justos e amarrados (figura 5).
Objetivos do tratamento
Os principais objetivos do tratamento foram:
a) Correção da atresia maxilar;
b) Correção da protrusão mandibular;
c) Harmonização do perfil facial;
d) Alinhamento e nivelamento dos elementos
dentários. Figura 6 – (A e B) Alça de retração.
Plano de tratamento
Terminada a retração dos incisivos superiores,
Para iniciar o tratamento, instalou-se o
arcos de aço (.017” x .025”) com ômegas justos foram
aparelho fixo (Técnica Alexander) superior e inferior e
adaptados na arcada superior e logo após, foram
o Botão de Nance para ancoragem, visto que foi
instalados ganchos nas proximais dos dentes e a
solicitada a exodontia dos primeiros pré-molares
paciente foi encaminhada à cirurgia (figura 7).
superiores para a realização da mecânica de deslize e
retração dos incisivos superiores a fim de reposicionar
os elementos dentários com a base da maxila. No
969
REFERÊNCIAS
A
terapia de laser de baixa
intensidade tem sido grandemente ao longo da sutura palatina e 30 segundos de cada lado
empregada em diferentes da sutura. Um total de sete aplicações foram feitas nos
especialidade odontológicas, com várias indicações em dias um, sete, quatorze, vinte e oito, quarenta e dois,
Ortodontia, como: analgesia após a manutenção cinquenta e seis e setenta dias na fase de contenção da
ortodôntica, na cura de feridas causadas pelo aparelho expansão rápida da maxila. Uma tomografia
ortodôntico, para otimizar o movimento dental, na computadorizada cone beam foi realizada no primeiro
bioestimulação da reparação óssea, além de outras dia de tratamento a laser (fase T1), após instalação do
(ANGELETTI et al., 2010; ABI-RAMIA et al., 2010). disjuntor e após setenta e cinco dias uma segunda
O laser de baixa intensidade é uma terapia de tomografia computadorizada foi realizada (fase T2).
luz fria que estimula os fotorreceptores na cadeia Dois pacientes foram excluídos por não realizarem a
respiratória mitocondrial, produzindo um aumento de tomografia na fase T2, totalizando a amostra com 37
ATP (adenosina trifosfato) e subsequente efeito em pacientes. Após setenta e cinco dias a sutura nos
cascata intracelular do osso causando a redução da pacientes irradiados (grupo tratado), apresentaram um
inflamação e o aumento da atividade osteoblástica e grande percentual e regeneração na região anterior e
osteoclástica (SUN; TUNÉR, 2004; Kathuria; Dhillon; posterior da sutura em comparação ao grupo não
Kalra, 2015) Na literatura mais recente tem sido irradiado (GARCIA et al., 2016).
observado (NASCIMENTO, 2013; Cepera 2012, Objetivando avaliar o efeito da terapia a laser
FERREIRA et al., 2016; GARCIA et al, 2016) de baixa intensidade na regeneração óssea da sutura
diferentes métodos para remodelação óssea, como a palatina mediana por meio da usando tomografia
aplicação do ultrasson (Andrade Gomes do computadorizada cone beam, FERREIRA et al. (2016),
NASCIMENTO, 2013) e a bioestimulação óssea com o avaliou 14 pacientes com idade de 8 a 14 anos com
laser de baixa intensidade, pois não afeta deficiência transversal maxilar, submetidos a expansão
negativamente a vida da célula e promove certas rápida da maxila, expansor tipo hyrax ativado uma
reações celulares sem induzir efeitos térmicos como a volta completa após a instalação e duas meia voltas até
estimulação da proliferação e diferenciação em forma a sobrecorreção. Os pacientes foram divididos de
de nódulos celulares (CEPERA, 2012). forma randomizada em dois grupos, sendo um grupo
Para avaliar a efetividade da terapia a laser de composto por quatro pacientes, onde foi realizada
baixa intensidade na reparação da sutura palatina somente a expansão rápida da maxila e um outro grupo
mediana após a expansão rápida da maxila, um experimental composto por dez pacientes, o qual foi
avaliador calibrado com o uso de laser de baixa realizada a expansão rápida da maxila seguido de 12
intensidade, fez um estudo controlado, placebo, cego, sessões de terapia a laser de baixa intensidade
em 39 crianças de idade entre 6 e 12 anos que (GaAlAs,p = 70 mW, ʎ=78 0nm, Ø=0,04 cm2). Duas
completaram a expansão rápida da maxila e receberam imagens tomográficas foram obtidas, sendo uma após a
terapia a laser de baixa intensidade. A amostra foi disjunção (T1) e outra após quatro meses (T2). A
dividida em dois grupos: controle, composto por regeneração óssea foi avaliada usando um densímetro
vintepacientes e tratado com 19 pacientes. A dose e óptico na imagem radiográfica usando um software in
parâmetros do laser foram 660 nm, 100 mW, CW, Vivo dental 5.0. Os dados foram analisados por um
InGaAlp laser, em uma área iluminada de 0,26 cm , 2
teste t de Student pareado (α = 0,05%). Foram
972
observados diferenças estatisticamente significante acelerou o processo de regeneração óssea. A terapia a
entre T0 e T1 no grupo tratado a laser, mais essa laser de baixa intensidade associada a expansão rápida
diferença não foi significante no grupo tratado somente da maxila promove uma abertura eficiente da sutura
com a ERM. Os autores concluíram que, a terapia a palatina mediana e influencia no processo de
laser de baixa intensidade teve uma influência positiva regeneração da sutura acelerando a reparação óssea
na regeneração óssea da sutura palatina mediana (CEPERA et al., 2012).
acelerando o processo de reparação (FERREIRA, et al., A terapia a laser na regeneração da sutura
2016). palatina mediana após a expansão rápida da maxila
A terapia a laser de baixa intensidade na assistida cirurgicamente foi investigada por
formação óssea da maxila também foi investigada por ANGELLETI et al. (2010), em 13 pacientes com idade
CEPERA et al (2012), em 27 crianças, com idade de 8 entre 18 e 33 anos e discrepância transversa da maxila
a 12 anos (idade média de 10.2 anos). A amostra foi (≥ a 7mm). Todos os pacientes foram submetidos a
dividida em dois grupos: o grupo laser (n = 14) foi osteotomia Lefort 1, com separação da sutura
tratado com expansão rápida da maxila e uso de laser e pterigomaxilar, com uso de expansor Hyrax, e foram
o grupo não laser (n = 13), somente com expansão divididos em dois grupos: grupo controle (n=6) e grupo
rápida da maxila. O protocolo de ativação do parafuso laser (n=7). Um laser GaAlAs (p=100mW, ʎ=830nm,
de expansão foi uma volta completa no primeiro dia e Ø=0,06cm2) foi usado. O laser foi aplicado em oito
meia volta diariamente até conseguir sobrecorreção. O sessões de tratamento com o intervalo de 48 horas.
tipo de laser usado foi um laser diodo (Twin laser; Cada sessão de tratamento consistia na aplicação de
MMOoptics, São Carlos/Brasil), de acordo com o laser em três pontos da sutura palatina mediana com
seguinte protocolo: 780 nm de comprimento de onda, dose total de E=25,2J, ED=420J/cm2. Radiografias
40mW de potência e densidade de 10J/1cm2 em dez digitais foram tomadas antes do procedimento
pontos localizados ao redor da sutura palatina mediana. cirúrgico e após 1, 2, 3, 4 e 7 meses seguintes. A
Os estágios de aplicação foram: 1- do primeiro ao análise de densidade óptica da regeneração óssea foi
quinto dia de ativação, 2- no travamento do parafuso realizada usando software adobe Photoshop 8.0. A
em três dias consecutivos, 3-4-5 (7, 14 e 21 dias após o regeneração óssea associada com o uso do laser e a
estágio dois). Radiografias oclusais da maxila foram expansão rápida assistida apresenta diferença
tomadas com ajuda de uma escala de alumínio como estatisticamente significante. Uma alta quantidade de
referência de densitometria em diferentes tempos: T1 mineralização foi encontrada no grupo laser (23,3% a
(inicial), T2 (dia do travamento), T3 (de três-cinco dias mais que o grupo controle). A irradiação com laser de
após T2), T4 (30 dias após T3) e T5 (60 dias após T4). baixa intensidade acelera a regeneração da sutura
As radiografias foram digitalizadas e submetidas a um palatina mediana após a expansão rápida da maxila
software de imagem (Image Tool; UTHSCSA, San assistida cirurgicamente. (ANGELLETI et al., 2010)
Antônio, TX). Para medir áreas previamente
selecionadas de densidade óptica testes estatísticos e CONSIDERAÇÕES FINAIS
análise de covariância foram utilizados com tempo para
Esta revisão considerou apenas os estudos
avaliar os estágios de covariância. Em todos os testes o
clínicos prospectivos, em humanos, com amostras
nível de significância foi 5% (p < 0.05). Na avaliação
acima de dez pacientes e presença de um grupo
da densidade óssea os resultados mostraram que o laser
controle, até o mês de julho de 2016. Evidencia-se a
aumentou a abertura da sutura palatina mediana e
escassez de estudos relacionados a este tema e em
973
amostras humanas. Dos trabalhos selecionados, foi baixa intensidade e tempo de intervalo entre os exames
unânime a eficácia do efeito do laser de baixa radiográficos tridimensionais.
intensidade após expansão rápida da maxila
convencional (ERM) e expansão rápida da maxila REFERÊNCIAS
assistida cirurgicamente (ERMAC), na aceleração da
ossificação da sutura palatina mediana, evidenciado por
ABI-RAMIA, L. B. P. et al. Effects of low-level laser
meio do aumento da densidade mineral óssea ao therapy and orthodontic tooth movement on dental
comparar o grupo irradiado e não irradiado. O expansor pulps in rats. The Angle Orthodontist, v. 80, n. 1, p.
116-122, 2010.
de Hyrax é mais usual quando se faz uso da terapia de
ANDRADE, G. N, et al. Laser versus ultrasound on
laser de baixa intensidade juntamente ao protocolo de bone density recuperation after distraction
ERM e ERMAC porque ele não tem uma placa acrílica osteogenesis—a cone-beam computer tomographic
analysis. Journal Of Oral Maxillofacial Surgery, v. 71,
sobre a mucosa do palato, o que poderia interferir com n. 5, p. 921-928, 2013.
a aplicação do laser ao longo da sutura palatina ANGELETTI, P. et al. Effect of low-level laser therapy
mediana. (GaAlAs) on bone regeneration in midpalatal anterior
suture after surgically assisted rapid maxillary
O protocolo de uso do laser de baixa expansion. Oral Surgery Oral Med Oral Patho Oral
intensidade apresenta divergência entre os autores em Pathol Oral Radiola Oral Pathol, v. 109, n. 3, p. 35-
46, 2010.
relação a dose de radiação, o número de sessões
CEPERA, F. et al. Effect of a low-level laser on bone
requeridas para alcançar resultados positivos ainda regeneration after rapid maxillary expansion. American
carecem de validação e época de uso, durante a fase Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics,
141, n. 4, p. 444-450, 2012.
ativa da expansão ou somente na fase de contenção.
FERREIRA, F. N. et al. Effects of low-level laser
Uma vez que o efeito do laser de baixa intensidade é therapy on bone regeneration of the midpalatal suture
dependente da dose, mais estudos clínicos são after rapid maxillary expansion. Lasers in Medical
Science, v. 31, n. 5, p. 907-913, 2016.
necessários para uma definição do referido protocolo.
Garcia, V. J. et al, Effect of low-level laser therapy
A sutura palatina mediana apresenta diferentes níveis after rapid maxillary expansion: a clinical
de reorganização dependendo da área avaliada e do investigation. Lasers in Medical Science, v. 31, n. 6, p.
1185-194, 2016.
tempo de contenção. Até a presente data o período de
KATHURIA, V.; DHILLON, J. K.; KALRA, G. Low
espera com o uso de contenção do disjuntor para que Level Laser Therapy: A Panacea for oral maladies
ocorra a neoformação óssea não se encontra claramente Laser Therapy, v. 24, n. 3, p. 215-223, 2015.
estabelecido entre os estudos, variando entre três a seis ROSA, C. B. et al. Effect of the laser and light-emitting
diode (LED) phototherapy on midpalatal suture bone
meses pós término de ativação do parafuso expansor formation after rapid maxilla expansion: a Raman
em expansões convencionais (ERM), e em amostra spectroscopy analysis. Lasers in Medical Science, v.
29, n. 3, p. 859-867,2014.
cirúrgica (ERMAC) observou-se um reparo ósseo
SUN, G.; TUNÉR, J. Low-level laser therapy in
incompleto após sete meses. dentistry. Dental Clinics North America, v. 48, n. 4, p.
Os protocolos de imagens bidimensionais e 1061-1076, 2004.
tridimensionais para avaliar o reparo ósseo é curto
entre as fases estudadas, preocupando assim, o uso
indiscriminado de imagens tridimensionais, devido a
radiação ionizante em pequenos intervalos de tempo.
Mais pesquisas são necessárias para avaliar o tempo de
contenção do disjuntor, protocolos de uso do laser de
Patologia Bucal
Capítulo 163
Osteoma
Fernanda Trentin Brum
Suéllen Trentin Brum
Zarlutti Tomás Litaiff
Rubens Gonçalves Teixeira
Cláudio Roberto Pacheco Jodas
Andresa Borges Soares
976
Osteoma é um tumor fixa por uma base ou pediculada ao córtex do osso
O
osteogênico benigno caracterizado pela (SAYAN et al., 2002. NILESH et al., 2016).
proliferação de osso esponjoso e osso Histologicamente sua diferenciação é feita
compacto. Apresenta-se em três formas: por meio de duas classificações: 1. Osteoma
Osteoma Central, Osteoma Periférico ou compacto, composto de osso lamelar maduro; 2.
Osteoma extra-esqueletal (SAYAN et al., Osteoma esponjoso, composto por osso esponjoso
2002. RAGUPHATY et al., 2015). O trabecular com presença de medula fibrogordurosa
primeiro é proveniente do periósteo e apresenta-se (DELL’AVERSANA et al., 2015).
como uma massa periférica aderida à cortical. O O diagnóstico diferencial do osteoma deve
segundo provém da porção central do osso, levar em consideração outras patologias
desenvolvendo-se pelo endósteo. E o último é visto como:Fibroma Ossificante, Osteíte Condensante,
normalmente junto a músculos (LONGO et al., Cementoblastoma e Odontoma (SONI et al., 2014).
2001). O tratamento de escolha está relacionado
A etiopatogênese do osteoma ainda não é ao tamanho e localização da lesão. Quando de
totalmente esclarecida. Acredita-se que a tamanhos maiores pode ser indicada a excisão
combinação de trauma e fisiologia muscular pode cirúrgica. Osteomas de pequenas proporções e
iniciar uma reação osteogênica assintomáticos podem ser tratados apenas por
(DELL’AVERSANA et al., 2015). O osteoma pode acompanhamento periódico. Casos de recorrência
também estar associado à Síndrome de Gardner são extremamente raros (DELL'AVERSANA et al.,
(MANJUNATHA et al., 2013), uma doença 2015. NILESH et al., 2016).
autossômica dominante causada pela mutação no O propósito deste artigo tem como
gene supressor de tumor APC (Adenomatous finalidade relatar um caso de Osteoma Compacto,
Polyposis Coli), quadro em que o paciente mostrando seus aspectos clínicos, radiográficos,
apresenta múltiplos osteomas no complexo maxilo- histológicos e seu tratamento.
mandibular junto a múltiplos adenomas pré-
malignos colorretais (SONI et al., 2014). DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO
A maioria dos casos de osteoma ocorre nos
ossos da região craniofacial, mais frequentemente Paciente do sexo feminino, 19 anos, raça
nos seios paranasais, maxila e na região de branca, compareceu ao serviço de Cirurgia e
mandíbula posterior (SONI et al., 2014). Ocorrem Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF) do
geralmente como lesões solitárias, em pacientes Hospital de Ouro Verde –SP, no ano de 2012,
adultos jovens e sem prevalência por sexo queixando-se de desconforto no lado equerdo da
(BODNER et al., 1998). Clinicamente, a maioria face, onde apresentava uma lesão nodular em base
das lesões são assintomáticas, podendo, em alguns de mandíbula. A paciente relatava, também, sentir
casos, causar assimetrias faciais, dor, trismo e medo de que a lesão crescesse prejudicando sua
movimentos limitados da mandíbula (KAPLAN et estética.
al., 2008). Clinicamente, o nódulo apresentava
Radiograficamente, a lesão apresenta-se tamanho aproximado de 3 cm de diâmetro,
como uma massa radiopaca oval, bem circunscrita, assintomático, com dois anos de evolução. Foi
977
solicitada à paciente radiografia panorâmica (figura Pesquisas São Leopoldo Mandic.
1). Macroscopicamente, foram observados dois
fragmentos de tecido duro, o maior medindo
30 mm x 13 mm x 11 mm e o menor 20 mm x11
mm x 11 mm, de formatos e superfícies irregulares,
coloração esbranquiçada e consistência pétrea.
Na análise microscópica, pode ser
observado fragmento de tecido ósseo maduro,
lamelar, bem delimitado, com presença de
Figura 1 - Exame raiográfico panorâmico, mostrando osteoblastos e osteócitos (figura 3), confirmando o
lesão bem delimitada radiopaca na região de base de diagnóstico de Osteoma.
mandíbula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O
tumor de células granulares é tumor de células granulares malignos reportados
uma neoplasia de tecido mole, são raros, ocorrendo em apenas 1 ou 2% dos casos
primeiro descrita em 1926 por (SONOBE et al., 1998; NEVILLE et al., 2009).
Abrikossof. Originalmente, a lesão recebeu o nome
de mioblastoma de células granulares, pois DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
acreditava-se que ela tivesse origem na musculatura
esquelética. No entanto, a imunopositividade forte e Paciente A.M.S., 52 anos, sexo feminino,
consistente para a proteína S-100 suporta estudos compareceu para atendimento odontológico no
mais recentes que demonstram a origem a partir das Centro de Especialidades Médico-Odontológicas da
células de Schwann ou das células neuroendócrinas Prefeitura Municipal de Louveira, apresentando um
(VAN DE LOO et al., 2015; SERPA et al., 2016). nódulo séssil, assintomático, de coloração
Clinicamente, o tumor de células esbranquiçada, localizado no limite entre o ventre e
granulares apresenta-se como um nódulo séssil, borda lateral da língua, medindo aproximadamente
assintomático, de coloração rosada ou amarelada. 5 mm (figura 1).
Pode acometer qualquer parte do corpo (Kim, Lee,
2015), mas há uma predileção pela mucosa bucal,
sendo a língua a localização mais comum, seguida
pela mucosa jugal. O tumor ocorre entre a quarta e
sexta década de vida, principalmente em mulheres
(2:1) (COLE et al., 2012).
Histopatologicamente, observam-se
grandes células poligonais com abundante
citoplasma eosinofílico pálido e granular, e
Figura 1 - Aspecto clínico da lesão no limite entre a
pequeno núcleo vesiculado. A lesão não é bem
borda e ventre da língua, lado esquerdo. Nota-se
definida e, algumas vezes, parece infiltrar o tecido
coloração esbranquiçada.
conjuntivo adjacente. A presença de hiperplasia
pseudoepiteliomatosa do epitélio sobrejacente é um Foi realizada biópsia excisional da
achado frequente, podendo resultar em um lesão e a amostra foi fixada em formol 10%.
diagnóstico errôneo de carcinoma epidermoide. No As hipóteses diagnósticas clínicas foram: (1)
entanto, pleomorfismo celular e nuclear estão
cisto epidermoide e (2) tumor de células
ausentes e atividade mitótica é raramente observada
granulares. A amostra foi enviada ao
(NEVILLE et al., 2009; VAN DE LOO et al.,
Laboratório de Patologia Bucal da Faculdade
2015).
O tratamento de escolha para o tumor de
São Leopoldo Mandic para exame
A
síndrome de Freeman e referem à alimentação e respiração dos pacientes
Sheldon é uma síndrome rara, (TORANTO et al., 2014; STEVENSON et al.,
descrita inicialmente em 1938 2006; ROBINSON, 1997). Muitos dependem de
pelos autores de quem levam o nome (FREEMAN; suplementação alimentar, quando ainda lactantes,
SHELDON, 1938). Até 2001, apenas cinquenta por meio de sondas nasogástricas e, após 1 ano de
casos no mundo eram conhecidos (SARMIENTO; vida, em algumas situações, são recomendadas
BARRETO; ESPINOSA, 2001). Esta síndrome, cirurgias plásticas de reconstrução da comissura
classificada como uma contratura congênita labial para aumentar a abertura da boca
múltipla, tem características peculiares e (STEVENSON et al., 2006; NEUMANN;
impressionantes por sinais expressivos na face e COETZEE, 2009). Alguns indivíduos, já adultos,
extremidades dos membros superiores e/ou relatam, ainda, dificuldade em deglutir e de realizar
inferiores (STEVENSON et al., 2006; higiene bucal diária. (VANEK et al., 1986;
SARMIENTO; BARRETO; ESPINOSA, 2001). STEVENSON et al., 2006).
Pacientes acometidos apresentam deformidades nas O cirurgião-dentista tem papel crucial nas
mãos e nos pés, escoliose, espinha bífida, pouca demandas terapêuticas destes indivíduos para
massa muscular, deslocamento do quadril, pescoço melhorar sua qualidade de vida. Tratamentos
curto e pouca estatura. Estas características ortopédicos e ortodônticos, orientação de técnicas
atribuem limitações ao movimento de marcha e de alternativas para melhor higienização da cavidade
supinação e pronação dos braços, além de oral, podem, além de melhorar a mastigação,
dificuldades na vida diária pela anatomia das mãos deglutição e respiração, também diminuir o risco
e imobilizações; cirurgias ortopédicas e fisioterapia das doenças cárie e periodontal (BIJUMON, 2013;
são comumente indicadas (KAISSI; GUVEM TEKIN; HATIPOGLU, 2010). Dada a
KLAUSHOFER; GRILL, 2011; FITZSIMMONS; complexidade encontrada na avaliação clínica,
ZALDUA; CHRISPIN, 1984). médica e odontológica, em pacientes acometidos
Dentre as características faciais, podemos pela síndrome Freeman-Sheldon, a divulgação de
citar: testa alta, hipoplasia do terço médio da face, trabalhos investigando o tema torna-se
estrabismo convergente, fendas pálpebras fundamental.
inclinadas para baixo, dobras nasolabiais Assim, o objetivo do presente trabalho foi
proeminentes, asa do nariz hipoplásica e apresentar um caso clínico de uma criança
ondulações em forma de H no queixo. Na avaliação portadora da Síndrome de Freeman-Sheldon,
orofacial, encontramos lábios pinçados, atresia abordando a remoção cirúrgica dos segundos
maxilar, palato ogival, mandíbula, língua e boca molares inferiores, a qual consistiu em apenas uma
extremamente pequenos, dando a impressão de o das etapas do complexo tratamento a ser realizado.
indivíduo estar “assobiando”, o que leva a síndrome
a ser conhecida como “síndrome da face de DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
assobio” (CARAKUSHANSKY et al., 2001;
CORRIGAN; DUNCAN; GREGG, 2006; Paciente com 9 anos e 10 meses, procurou
SARMIENTO; BARRETO; ESPINOSA, 2001). A o consultório odontológico para tratamento
principal consequência destas características se ortodôntico com queixa dos “dentes estarem
986
nascendo no céu da boca”. A mãe, consciente da
síndrome de Freeman-Sheldon desde 2008, por
relatório de um geneticista, relatou nunca ter tido
êxito em tratamentos odontológicos pela
dificuldade de abertura da boca.
Ao questionário anamnésico, a mãe relatou
que não há relatos de casos da síndrome na família,
nem consanguinidade dos pais. Nasceu de parto
normal e sem nada digno de nota quanto ao
transcorrer da gestação. Foi amamentado até os 8
Figura 1 – Face frontal e lateral.
meses, precisando apenas de suplementação com
leite artificial, sem a necessidade de sonda naso-
Ao exame intraoral, foi observada dentição
gástrica, porém, a criança relata dificuldade de
mista, com severo apinhamento anterior devido à
deglutir líquidos. Seu desenvolvimento infantil,
atresia maxilar, palato ogival, mordida aberta
descrito pela mãe, foi normal. Aos 8 anos, foi
anterior, mandíbula e língua pequenas, ausência de
submetido à cirurgia no fêmur, para corrigir a
elementos posteriores e lesões de cáries oclusais).
diferença de tamanho entres os membros inferiores.
Ao exame radiográfico panorâmico, pode-
Apresenta dificuldade na marcha, ao sentar e
se identificar impactação dos elementos 36 e 46
levantar, pouca massa muscular, pescoço curto,
pelos elementos 37 e 47 ainda em formação, atraso
pouca estatura e limitação nos movimentos de
de erupção dos elementos 16 e 26, distalização dos
estiramento dos antebraços. Apresenta catarata
elementos 35 e 45, além de confirmar a atresia
congênita e subluxação do cristalino, o que diminui
maxilar com apinhamento severo do arco superior.
muito sua acuidade visual, corrigida parcialmente
pelo uso de óculos. Contudo, tem uma vida social
normal, frequentando a escola e desenvolvendo
atividades diárias com completa autonomia.
Ao exame clínico extra-oral, pôde-se
perceber características clássicas da síndrome da
face de assobio como a testa alta, hipoplasia do
terço médio da face, fendas pálpebras inclinadas
para baixo, dobras nasolabiais proeminentes, asas
do nariz hipoplásicas, lábios contraídos e boca Figura 3 – Foto oclusal inferior.
extremamente pequena.
987
A
estética bucal visa um sorriso a retração não atinge a linha mucogengival e não há
harmônico, dentes com perda tecidual interproximal; na classe II, a retração
formato, tamanho, cor atinge ou ultrapassa a linha mucogengival, mas não
agradáveis e um periodonto saudável. Em relação há perda tecidual interproximal; na classe III, a
ao periodonto, a recessão gengival, deslocamento retração atinge ou ultrapassa a linha mucogengival,
da margem gengival apical à junção há perda tecidual interproximal apical à junção
amelocementária com exposição da superfície cemento-esmalte, mas coronal à altura de retração;
radicular, é um defeito antiestético bastante na classe IV, a retração atinge ou ultrapassa a linha
prevalente. Essas alterações no tecido mole podem mucogengival e há perda tecidual interproximal
acometer 100% da população na quinta década de apical ou na altura da retração (CASTRO PINTO,
vida, com ou sem bons hábitos de higiene oral. 2014).
Além dos problemas estéticos, outros efeitos Baseado nesta classificação, a classe I e II
negativos podem ocorrer, tais como: alterações na de Miller, por não ter perda de suporte periodontal à
homeostase biológica na área do defeito, previsibilidade de recobrimento radicular é de 80%-
hipersensibilidade dentinária, dificuldade de 100%, isso se deve à presença do tecido ósseo para
controle do biofilme, pré-disposição à formação de fixação do retalho e do tecido mole para a
lesões cervicais não cariosas (CASTRO PINTO, revascularização do enxerto (NOGUEIRA FILHO;
2014; SILVA NEVES, 2014). ANDRADE; BARBOSA,, 2014; CASTRO PINTO,
A etiologia da recessão gengival é 2014). Há diversas técnicas cirúrgicas com o
multifatorial e pode ser causada por inflamação do objetivo de recobrimento radicular, para ganho de
tecido periodontal, trauma mecânico à escovação, e nível clínico de inserção, diminuição da
são considerados fatores de risco mau profundidade clínica de sondagem e aumento da
posicionamento dentário, inserção alta de freios e faixa de gengiva inserida (CASTRO PINTO, 2014),
bridas, fatores iatrogênicos de procedimentos tais como: enxertos livres, deslocamento coronal do
protéticos, restauradores, periodontais e retalho, retalhos pediculados, enxertos com matriz
ortodônticos, mas a espessura do tecido gengival e dérmica acelular e regeneração tecidual guiada
a presença de deiscência óssea são de fundamental (FLAMENGUI FILHO, 2013; SABA-CHUJFI,
importância para sua evolução (CASTRO PINTO, 2007).
2014). O enxerto de tecido conjuntivo subepitelial
Não há evidência científica da necessidade aumenta 89% a previsibilidade dos recobrimentos
de uma espessura mínima de gengiva inserida para radiculares em recessões do tipo I e II de Miller.
assegurar a saúde dos tecidos periodontais, mas a Em relação a recobrimento em recessões múltiplas,
ausência de tecido gengival dificulta o controle do a técnica de túnel de SABA-CHUJFI (2007) é uma
biofilme dental, devido a isso a inflamação leva à técnica cirúrgica cujo objetivo é embutir o enxerto
perda de inserção ainda maior (NOGUEIRA de tecido conjuntivo entre as raízes expostas sob
FILHO; ANDRADE; BARBOSA, 2014). um retalho vestibular dividido. Como característica
MILLER (1985) propôs a classificação da técnica, temos: opção por incisões relaxantes ou
para recessão gengival baseada na altura do osso e não, manutenção das papilas interproximais na
tecido mole nas faces proximais, na qual a classe I, posição, com uma boa manutenção dos tecidos a
991
longo prazo. Essa técnica tem vantagem estética, plano, seguindo a convexidade radicular sem
por apresentar melhor aporte nutricional obtido pela trespassar o retalho nem deslocar a papila.
manutenção do potencial vascular, menor A vantagem de associar o enxerto de
morbidade, manutenção da papila sem ser incisada, tecido conjuntivo subepitelial com a técnica de
risco mínimo de necrose tecidual pós-operatória e túnel é que, a longo prazo, observa-se redução das
adequada acomodação do enxerto (SABA-CHUJFI, recessões, aumento do volume de tecido mole,
2007). ganho de mucosa queratinzada e satisfação estética
O enxerto de tecido conjuntivo subepitelial (FLAMENGUI FILHO,2013).
possui as seguintes indicações: aumento de tecido O crescimento gengival pós-cirúrgico é
queratinizado; recobrimento radicular; correção das denominado creeping attachment, ou seja, a
cristas edêntulas, correção peri-implantar; curativo migração do tecido gengival queratinizado em
biológico, auxílio à cirurgia maxilofacial; direção coronária é influenciado pela: largura da
associação aos retalhos deslocados, técnica do recessão, posição do enxerto, reabsorção óssea
envelope. Com contraindicação: má qualidade do interproximal, posição dental, padrão de higiene
tecido doador; recessões classe III ou IV de Miller; oral e técnica utilizada. Mas, o fenômeno ocorre em
diâmetro mesio-distal da raiz superior, até as qualquer situação, até mesmo em procedimentos
dimensões horizontais dos tecidos interproximais não cirúrgicos (Lima Damda et al 2015). A média
(BORGHETTI; MONNET-CORTI, 2002). de aumento da gengiva inserida é 2,3mm (Castro
Na área doadora do enxerto de tecido Pinto, 2014). No estudo de (Rotenberg e Tatakis
conjuntivo, a incisão é linear, a extensão da incisão 2014), a média de crescimento foi de 1.55mm, na
depende do procedimento, mas é limitada da região qual houve uma variação desse crescimento entre 3
de canino a primeiro molar. A espessura do retalho a 21 dias, atingindo o dobro da dimensão no pós-
é de, aproximadamente, 1 mm para evitar a necrose operatório imediato e, após a maturação tecidual,
do tecido epitelial; em comprimento, deve ser o ocorre um decréscimo da dimensão mas com a
dobro da largura da área a ser recoberta. A remoção manutenção de uma melhora no fenótipo gengival.
do enxerto pode incluir ou não o periósteo. O Na técnica de tunelização, o crescimento gengival é
enxerto, após ser removido da área doadora, é obtido com 1 mês, comparando a outras técnicas de
preparado removendo a camada epitelial e o tecido conjuntivo submerso de três meses. Isso se dá pela
conjuntivo é colocado na área receptora e se utiliza revascularização mais rápida do enxerto graças ao
sutura para estabilizar o enxerto (JOLY; meio mais favorável. A diminuição do trauma
CARVALHO; SILVA, 2010). cirúrgico e o ganho de irrigação colateral,
A técnica de tunelização (SABA-CHUJFI, aumentando em direção coronária pelas papilas
2007) é utilizada para recessões múltiplas, e interdentárias, favorecem a cicatrização primária do
consiste da dissecção em espessura parcial enxerto submerso. Quanto mais largas as papilas
circundando as recessões e seguindo lateralmente, interdentárias, melhor resultado de recobrimento
envolvendo todas as recessões entre si, sem por maior facilidade de manutenção do enxerto.
comprometer a inserção das papilas gengivais
interdentárias. A dificuldade da técnica é DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
estabelecer um túnel supraperiosteal num mesmo
992
Paciente, L.M, 35 anos, gênero feminino, dia, por 15 dias. As suturas foram removidas após 7
sem alterações sistêmicas, tendo como queixa dias. Paciente foi avaliada com 30 dias (figura 9) e
principal: sensibilidade dentária e desconforto os elementos 11, 12 e 13 com recobrimento
estético. Após anamnese, exame clínico periodontal radicular completo. A paciente relatou não sentir
e radiográfico, observou-se: recessões gengivais sensibilidade dentinária e ficou satisfeita com a
múltiplas classes I e II de Miller na arcada superior estética final.
(figura 1). Foi realizado tratamento periodontal não
cirúrgico na região do 11,12 e 13 (figura 2).
Anestesia por bloqueio do nervo infraorbitário e
nasopalatino (articaína 4%). As raízes foram
raspadas e alisadas com curetas de Gracey (micro
mini) e brocas Perioset (figura 3). Com lâmina de
bisturi 15C, iniciou-se a incisão intra sulcular em
espessura parcial ao redor, envolvendo as recessões
entre si (figura 4) e ultrapassando a linha
mucogengival sem comprometer a inserção papilar
e criando um espaço sob as papilas interproximais Figura 1 - Recessões gengivais Classe I e II de Miller.
(Figura 5), desta forma, o retalho torna-se móvel e
pode ser tracionado para coronal e utilizou-se mini
dissecadores para a dissecção do retalho.
A área doadora foi o palato. A remoção do
enxerto de tecido conjuntivo foi feita por meio de
uma incisão linear a 2 mm da margem gengival
(figura 6). O retalho foi dividido e o epitélio
separado do tecido conjuntivo. O palato foi
suturado deixando os bordos coaptados para
manutenção do coágulo sanguíneo. O enxerto foi
embutido no leito receptor em contato com as raízes
Figura 2 - Vista do sítio cirúrgico após tratamento não-
desnudas com cuidado de não deixar o enxerto mais
cirúrgico.
de 25% sem cobertura do retalho vestibular (figura
7) e foi fixado no túnel com sutura no periósteo
(vicryl n.6). Suturas suspensórias foram utilizadas
para manter o retalho coronalmente e passando uma
sutura mantedora tipo clipe acima da crista óssea
interproximal para impedir o retorno do tecido mole
para a posição inicial (figura 8) (SABA-CHUJFI,
2007). Foi feita proteção da ferida cirúrgica com
cimento cirúrgico e a medicação utilizada no pós-
operatório foi analgésico, anti-inflamatório e
bochechos com clorexidina 0,12%, duas vezes por
993
Figura 3- Raspagem e alisamento radicular.
REFERÊNCIAS
A
definição dessa técnica seria -Espessamento de áreas desdentadas para
um translado de tecido melhorar a estética;
subepitelial da região doadora -Espessamento gengival ao redor de 1
(em geral nas áreas desdentadas ou retalho palatino) dente (LINDHE; NYMAN, 1980).
até a região receptora, tendo como objetivo, Limitações:
aumento de gengiva queratinizada e recobrimento -Palato com forma e espessura inadequada
radicular, aproveitando a capacidade de de tecido;
vascularização das duas faces do enxerto -Dificuldade de fixação do Enxerto;
(LINDHE, 1980). -Traumatismo do Enxerto durante a
O Enxerto de tecido conjuntivo cicatrização;
subepitelial foi introduzido originalmente por - Falta de osso alveolar interradicular para
LANGER & CALANA (1980), sendo sua principal servir de leito vascular para cobrir a raiz (LINDHE;
indicação o aumento de tecido queratinizado, NYMAN, 1980).
mesmo antes da classificação de MILLER (1988), Em todos os Enxertos gengivais, existe
como um procedimento para corrigir rebordos. uma previsibilidade de acordo com a classificação
Mais tarde, LANGER & LANGER (1985) de Miller, nas áreas de recessões gengivais:
apresentaram como uma técnica para cobrimento CLASSE I: A recessão do tecido marginal
radicular, que oferece vantagens em relação ao não vai além da junção mucogengival, não há perda
enxerto gengival livre: de tecido ósseo na região interproximal e a
- É fácil estabilizar e manter um cobertura radicular pode ser alcançada em 100%.
suprimento sanguíneo para o tecido enxertado; CLASSE II: A recessão do tecido marginal
- A área doadora é menos invasiva, com vai além da junção mucogengival, não há perda de
menor tendência de hemorragia, cicatriza mais tecido ósseo nas regiões interproximais, e a
rapidamente, e tem maior conforto para o paciente, cobertura radicular pode ser alcançada em 100%.
uma vez que não fica exposta a ferida cirúrgica; CLASSE III: A recessão do tecido
- A cor dos tecidos é geralmente melhor marginal vai além da junção mucogengival. Há
quando comparada ao enxerto gengival livre, e perda do tecido ósseo e gengiva na região
reproduz uma cor muito próxima aos tecidos interproximal, e a cobertura radicular parcial pode
vizinhos. ser alcançada.
Uma vez que o tecido conjuntivo é CLASSE IV: A recessão do tecido
colocado sob o retalho, recebe um suprimento marginal vai além da junção mucogengival. A
sanguíneo maior nas duas superfícies, tanto do perda da altura óssea e tecido mole na região e o
retalho, como do periósteo subjacente, (RAETZE, posicionamento dentário inadequado é tão grave
1985). que a cobertura radicular não pode ser alcançada
As principais indicações: (MILLER,1985).
-Revestimento da raiz em recessão
gengival única ou múltipla; DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
-Aumento da gengiva inserida em dentes
cuja largura é menor ou igual a 2 mm;
997
A paciente N. C., 33 anos, apresentou-se
com uma área de recessão gengival na vestibular
dos elementos 41 e 42, sem gengiva queratinizada e
com 12 mm de raiz exposta, de acordo com a
medida da sonda milimetrada, mas com altura de
crista óssea interproximal. Foi feito o controle de
placa e raspagem superior e inferior para melhor
controle do biofilme dental.
Figura 2 - Sondagem- exposição radicular quase o
A técnica foi a de Enxerto de tecido
comprimento da sonda.
conjuntivo subepitelial, uma vez que as condições
da espessura da região doadora era bem favoráveis,
e também para não diferenciar na coloração do
tecido por ser uma área estética. Foi feita incisão
para retalho de espessura total e posterior
divididapara manter o periósteo das áreas vizinhas.
Após o descolamento do retalho, deixando tudo
raspado, foi feita a desinfecção das raízes com
tetraciclina. A área doadora de escolha foi o palato
(entre os prés-molares e molares), colocado na Figura 3 - Incisão com retalho total.
região receptora, suturado, e verificada a
estabilidade do enxerto.
Este caso tem acompanhamento de 1 ano
após a cicatrização, com resultado bastante
favorável e dando condições de manutenção dos
elementos e com bom controle de placa.
REFERÊNCIAS
Luciane Manenti
Samara Martins Budeus Aguiar
Valéria Nunes Nunes
Silvio Antonio dos Santos Pereira
Eduardo Saba-Chujfi
1000
conceito de beleza e dentes, gengivas, lábios e a face em movimento
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Capítulo 170
Instalação de implante imediato
com utilização de dose única de
antimicrobiano sistêmico
A
técnica de instalação de dos tecidos moles e menor previsibilidade na
implantes dentários de titânio estabilidade primária dos implantes, principalmente
em áreas edêntulas já é pelo fato da estabilidade inicial depender da
consagrada, sendo um tratamento previsível, com ancoragem óssea apical.
taxa de sucesso acima de 95% (PJETURSSON et Apesar desta alternativa de tratamento ter
al., 2004; JUNG et al., 2008). Porém, a tentativa de surgido também com o objetivo de ajudar na
reduzir o tempo de tratamento após as extrações manutenção do tecido ósseo remanescente alveolar
dentárias e assim minimizar a perda dos tecidos que circundava o dente, estudos em animais
duros e moles ao redor do futuro implante, segue (ARAUJO et al., 2005; ARAUJO et al., 2006), e
sendo um desafio. humanos (COVANI et al., 2004) demonstram que a
Estima-se que a tábua óssea alveolar pode instalação imediata de implantes não impede a
ter uma perda horizontal de até 50% em até um ano modelação e remodelação que conduz à redução
após a exodontia (SCHROPP et al., 2003). Com o vertical e horizontal nas paredes ósseas alveolares,
objetivo de minimizar esta perda óssea após as mais visivelmente na face vestibular. Tais
extrações, a instalação imediata de implantes em mudanças biológicas aumentam o risco de recessão
alvéolos pós-extração, também chamada de da mucosa marginal após a colocação de implantes
abordagem tipo I pela Terceira Conferência de imediatos e, assim, pode resultar em restaurações
Consenso do ITI (International Team for não estéticas, especialmente quando o biótipo dos
Implantology) (HÄMMERLE; CHEN; WILSON, tecidos é fino (DE ROUCK; COLLYS; COSYN,
2004), surgiu como uma alternativa viável em casos 2008; FU; LEE; WANG, 2011). Por isso, se faz
selecionados, reduzindo o número de consultas e necessário o tratamento regenerador da região com
cirurgias e, consequentemente, o tempo de a utilização de substitutos ósseos no espaço entre o
tratamento. implante e a crista óssea vestibular para preservar o
Este conceito foi introduzido por Schulte nível ósseo (ARAÚJO et al., 2011) e, em pacientes
& Heimke (1976), tendo sua primeira publicação com biótipo gengival fino, o enxerto de tecido
em um estudo em modelo animal (ANNEROTH et conjuntivo sub-epitelial com o objetivo de aumentar
al., 1985). Em 1989, foi realizado o primeiro relato a espessura da mucosa (KAN et al., 2009; KAN et
de instalação imediata de implante em alvéolo pós- al., 2011; SUÁREZ-LÓPEZ DEL AMO et al.,
extração em humanos (LAZZARA, 1989). Alguns 2016) preservando, assim, a posição das estruturas
estudos de revisão sistemática da literatura mais peri-implantares.
atuais demonstraram não haver diferença Alguns estudos sobre implantes imediatos
significativa na sobrevivência dos implantes sugerem que este procedimento deve ser evitado na
imediatos, assim como a estética, complicações e presença de patologias periapicais ou periodontiais
satisfação dos pacientes, comparados à instalação (BECKER; BECKER, 1990; WERBITT;
tardia de implantes após extração (ESPOSITO et GOLDBERG, 1992; BARZILAY, 1993), e relatos
al., 2010; LANG et al., 2012; CHRCANOVIC; clínicos sugerem que o histórico de doença
MARTINS; WENNERBERG, 2015). No entanto, periodontal ou endodôntica é um marcador
há algumas desvantagens para esta modalidade de preditivo para infecção e falha do implante
tratamento, tais como, a dificuldade de fechamento (POLIZZI et al., 2000; AYANGCO; SHERIDAN,
1012
2001). Alsaadi et al. (2007), em uma série de casos precoces de implantes dentários, sem evidências de
consecutivos, encontraram uma maior tendência de efeitos adversos e reduzindo o risco de resistência
perda de implantes em locais com lesões apicais. A bacteriana a estes medicamentos por uso
presença de doença periodontal crônica também prolongado.
tem sido associada ao maior risco de perda de Alguns estudos clínicos prospectivos
implantes (ROSENQUIST; GRENTHE, 1996; compararam a utilização de uma única dose pré-
EVIAN et al., 2004; WAGENBERG; FROUM, operatória de antibiótico com a utilização de doses
2006; HORWITZ; ZUABI; MACHTEI, 2008; pós-operatórias, entre 3 e 7 dias (BINAHMED;
DENG
et al., 2010). Esta experiência clínica tem STOYKEWYCH; PETERSON, 2005; EL-
feito com que profissionais evitem a instalação KHOLEY, 2014). Entretanto, não foi encontrada
imediata de implantes em sítios infectados. nenhuma diferença significativa quanto às perdas
Apesar da escassez de estudos sobre o precoces de implantes e complicações pós-
assunto, comparando instalação imediata versus cirúrgicas, não havendo nenhum benefício do uso
instalação tardia, ou mesmo instalação imediata prolongado dos antibióticos no período pós-
após extração de dentes com lesão versus dentes operatório.
sem lesão, a literatura tem demonstrado que há a Contudo, há uma certa dúvida na melhor
possibilidade de instalação imediata de implantes forma de utilização de antimicrobianos em casos de
em sítios infectados, seja por lesão apical ou doença instalação imediata de implantes, seja com sítios
periodontal (CHRCANOVIC; MARTINS; infectados ou não. Na maioria dos estudos a
WENNERBERG, 2015). Para isto, existem respeito de implantes imediatos, foram utilizados
algumas recomendações como a limpeza antimicrobianos sistêmicos (WAASDORP;
meticulosa e debridamento do alvéolo, irrigação EVIAN; MANDRACCHIA, 2010). Embora esses
com soro fisiológico, bochechos com clorexidina estudos tenham demonstrado resultados bem
0,12% e a administração de antimicrobianos sucedidos, ainda há controvérsias em relação ao uso
sistêmicos. de antimicrobianos para instalação imediata de
A administração de antimicrobianos na implantes (GOLDBERG, 2008; CASAP, 2008),
implantodontia ainda gera muitas discussões e não havendo consenso de qual o seu real benefício
controvérsias. Isto ocorre não só na decisão da sua (MAZZOCCHI; PASSI; MORETTI, 2007;
utilização, mas também em quando iniciar sua ESPOSITO et al., 2008). Dent et al. (1997),
administração e por quanto tempo manter a terapia. avaliando 2.641 implantes instalados em sítios de
Para cirurgias de implantes em que não há infecção extração, relataram um benefício da utilização de
local e não é realizado nenhum procedimento de antibióticos em dose única, reduzindo perda de
enxerto simultâneo, a literatura tem demonstrado implantes. Entretanto, as cirurgias de implantes
melhores resultados na utilização de imediatos ainda geram dúvidas em relação à
antimicrobianos em dose única pré-operatória, não necessidade do uso de antibióticos no período pós-
demonstrando necessidade de administração pós- operatório (LANG et al., 2012).
operatória. Esposito, Grusovin e Worthington Dentro deste contexto, o objetivo deste
(2013), em uma revisão sistemática, relataram que capítulo é apresentar um caso clínico de instalação
a administração de 2g de amoxicilina 1 hora antes de implante imediato com a utilização de uma dose
da cirurgia reduz significativamente as falhas única pré-operatória de amoxicilina.
1013
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
no alvéolo imediatamente após a extração dentária, havia nenhum sinal de infecção no local, tampouco
conforme planejamento tomográfico (figura 3). sintomas relatados pelo paciente. Foi constatada a
presença de osso apical e palatino para
estabilização do implante, além da manutenção do
nível ósseo e gengival na região cervical.
Na consulta anterior ao procedimento, o
paciente foi orientado sobre todos os cuidados pré e
pós-cirúrgicos, assim como foram prescritos todos
os medicamentos necessários para o procedimento.
Previamente à cirurgia, o paciente iniciou os
bochechos com clorexidina 0,12% (Periogard®,
Colgate) um dia antes do procedimento, com
Figura 1 – Aspecto inicial. frequência de 3x ao dia, sendo dado para o paciente
bochechar por um minuto, no consultório,
imediatamente antes da cirurgia. Foi administrada
amoxicilina 2 g (Amoxil®, GlaxoSmithKline) e
dexametasona (Decadron®, Aché) 4 mg, uma hora
antes do procedimento. A antissepsia no rosto foi
realizada com gel de clorexidina 2%.
A exodontia foi realizada da forma menos
traumática possível, com a utilização de periótomo
para romper o ligamento periodontal e remover a
raiz sem deslocamento das papilas, mantendo a
integridade do contorno gengival (figura 4a). O
alvéolo foi debridado com curetas específicas e foi
realizada irrigação com soro fisiológico. Não havia
Figura 2 – Exames de imagem. presença de lesão de origem endodôntica ou
periodontal no sítio. Foram realizadas perfurações
com as brocas do kit cirúrgico (Straumann®)
1014
buscando a parede palatina do alvéolo para As suturas foram realizadas com fio mononylon 5-0
estabilização do implante, conforme planejamento (Ethicon, Johnson & Johnson).
digital, seguindo da colocação de guias de posição
para conferência do posicionamento final. Foi
instalado um implante cônico (Straumann SLA TE
RN 4,1 x 14 mm) com boa estabilidade (figura 4b)
e depois foi colocado um pilar de cicatrização ao
nível da mucosa.
REFERÊNCIAS
Figura 9 – Reavaliação para acompanhamento da prótese
(nove meses).
1016
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Capítulo 171
Avaliação da influência da
magnificação, com o uso de lupa e
LED, na eficácia clínica da
despigmentação gengival, por meio
da dermoabrasão
Simone M. M. S. A. Borges
Júlio César Joly
Daiane Cristina Peruzzo
Marcelo Sperandio
1019
N
a Odontologia moderna, a noz regional e substâncias para limpeza de dentes e
estética tem sido um dos lábios) e por vários fatores como deficiências
grandes motivos pelo qual os hormonais, síndromes, lesões vasculares e tumores
pacientes buscam os consultórios. Tanto a estética (Ficarra et al., 1990; Langford et al., 1989)..
branca (dentes) quanto a rosa (tecidos gengivais) são Muitas técnicas para o tratamento têm sido
levadas em consideração para atingir um sorriso mais descritas para a remoção das pigmentações, como o uso
harmonioso. de substâncias químicas (ex.: fenol 90% + álcool 95%),
A pigmentação melânica gengival fisiológica gengivectomia em bisel externo, abrasão epitelial com
é definida como alteração da coloração do tecido brocas diamantadas ou com lâminas de bisturi,
gengival por acúmulo de melanina, oriunda dos enxertos gengivais ou de tecido conjuntivo,
melanócitos, que pode acometer principalmente a despigmentação pelo uso de laser ou criocirurgia
gengiva inserida, mas também a gengiva livre, podendo (Carranza, 1986; Lindhe, 1999; Lopes et al., 2000; Tal
resultar em uma estética desfavorável (Bolden, 1960; et al., 2003).
Dummett, 1960). A pigmentação melânica gengival é o A repigmentação melânica, ou seja, o
resultado de uma deposição em excesso de melanina, reaparecimento clínico da pigmentação depois de um
na camada basal do epitélio, durante o período determinado período deve ser considerada no
embrionário de desenvolvimento. Esta pigmentação, planejamento para que haja uma remoção completa dos
apesar de ser mais prevalente na raça negra, pode melanócitos presentes (Dummet, 1960; Bergamaschi,
acometer indivíduos de outras raças. Esta condição 1979; Hirschfeld et al., 1951; Perlmutter et al., 1986;
pode aparecer sob a forma de máculas isoladas ou Sharon et al., 2000).
faixas contínuas, envolvendo apenas a papila gengival Atualmente, devido à busca da excelência e
ou abrangendo todo o tecido gengival (Dummett, 1946; melhores resultados, o uso de magnificação na prática
Manfred et al., 2002; Page et al., 1977; Trelles et al., odontológica tem se tornado cada vez mais frequente.
1993). Existem variações de intensidade e distribuição Apesar da visualização normal ser quase sempre
da pigmentação, o que determinou uma classificação, suficiente para um exame clínico, avaliação e execução
variando de uma coloração gengival como leve dos procedimentos odontológicos, a magnificação
(marrom claro), moderada (marrom escuro) à severa amplia a imagem do campo operatório, proporcionando
(roxo - azulado e/ou preto) (Dummett, 1946). visualização de detalhes não detectáveis a olho nu, o
Dentre as possíveis causas envolvidas na que permite melhorar o diagnóstico e execução dos
pigmentação melânica, estão: o acúmulo de melanina, procedimentos, além do refinamento das técnicas
trauma, doença autoimune, melanose do fumante, executadas (Strassler et al., 1998; Mamoun, 2009).
exposição crônica a altos níveis de bifenil-policlorato, Existem muitas opções de sistemas de
sinais decorrentes de fenômenos de corrosão (tatuagem magnificação, dentre elas, a utilização da lupa
por amálgama) e discromias radiculares que proporciona ao clínico determinar qual o grau de
transparecem por meio dos tecidos gengivais. Além ampliação desejado, distância de trabalho, visualização
disso, o uso de vários tipos de medicamentos e profundidade do campo. Além dos benefícios visuais,
(cloroquina, quinina, minociclina, tranquilizantes, a utilização de magnificação permite uma postura mais
drogas utilizadas no tratamento do HIV, estrógeno, adequada ao profissional, proporcionando-lhe conforto
etc.), hábitos (tabaco, alguns alimentos regionais como e prevenção de lesões por esforços repetitivos
1020
(Strassler et al., 1998; Syme et al., 1997; Sunell & foram iniciados e tratados com ou sem magnificação.
Rucker, 2004). Para auxílio visual com magnificação, foi utilizada
Dentre as técnicas citadas para a remoção da lupa telescópica Surgitel com aumento de 2,5 vezes
pigmentação melânica, podemos destacar a abrasão (referência EVC 250N), armação Oakley e luz auxiliar
epitelial com instrumentos rotatórios diamantados, a (LED) modelo PeriOptix de 3W, modelo LED2-BP,
qual foi selecionada para este estudo, devido a acoplada à mesma. As brocas foram posicionadas com
acessibilidade, baixo custo operacional, facilidade de uma angulação de aproximadamente 45o com o tecido
execução, rapidez e bons resultados, utilizando, ainda, gengival, e a profundidade de penetração foi definida
a magnificação com lupa e LED a nível comparativo de pela visualização de um sangramento homogêneo e
resultados. intenso, sugerindo a remoção completa do epitélio e
consequente exposição do tecido conjuntivo. Uma
irrigação intensa com água da própria turbina da caneta
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO de alta rotação foi utilizada durante todo o
procedimento cirúrgico; sugador de alta potência
A paciente M.S., 25 anos, foi selecionada em (bomba a vácuo) e gaze estéril auxiliaram na secagem e
clínica particular em São Paulo, em 2009, e após melhor visualização do local operado. Não foi utilizado
exame clínico, foi diagnosticada com saúde dos tecidos cimento cirúrgico.
periodontais e portadora de pigmentação melânica
gengival na maxila e mandíbula de coloração marrom No pós-cirúrgico, foi prescrito o analgésico
escuro (moderada) (Figura 1). A paciente manifestou o paracetamol 750mg (Tylenol 750mg – Johnson &
desejo de remover a pigmentação por razões estéticas. Johnson – Estados Unidos) a cada 6 horas, caso a
Foi realizado o controle do biofilme por meio paciente apresentasse dor. Durante 2 semanas, a
da remoção de cálculos com instrumentação paciente realizou bochecho de solução de clorexidina
ultrassônica e curetas, remoção de áreas de retenção de 0,12% (Periogard sem álcool da Colgate) por 1 minuto,
biofilme, seguido de polimento dental, além de duas vezes ao dia.
instruções de higiene oral. Foram realizadas avaliações dos períodos pós-
Previamente ao procedimento cirúrgico, foi operatórios e fotografias digitais padronizadas com 07,
realizada documentação fotográfica intraoral com a 30, 60, 180 e 360 dias (Figuras 01 a 12). Todas as
máquina Nikon D70, Flash Twin Nikon SW-11 imagens fotográficas foram realizadas pelo mesmo
Wireless Remote Speedlight SB-R200 e lente AF operador, com a mesma máquina descrita
Micro Nikkor 105mm – 1:2.8 D. Abertura (F) 22 , anteriormente, bem como seus ajustes iguais aos das
Espectro de cor RGB. fotos iniciais.
Para analgesia e controle do edema pós- Para análise da remoção completa da
cirúrgico, a paciente tomou uma única dose de 4mg de pigmentação melânica ou repigmentação, as fotografias
betametasona, 1 hora antes da cirurgia (Celestone, iniciais, obtidas previamente ao procedimento
Schering Plough Indústria Químicos e Farmacêuticos, cirúrgico, foram comparadas mediante padronização de
Rio de Janeiro, RJ, Brasil). cores e extensão da área com recidiva, com as imagens
O procedimento cirúrgico foi realizado pós-operatórias de 07, 30, 60, 180 e 360 dias.
seguindo o desenho experimental de boca dividida,
considerando aleatoriamente a escolha dos lados que
1021
REFERÊNCIAS
A atuação do profissional
Odontologia requer uma visão ampla da
na
uma integração harmoniosa do sorriso com toda face. Um sorriso harmonioso visa um contorno
(MORLEY; EUBANCK, 2001; TALARICO; gengival que acompanha o colo dos dentes e do tecido
MORGANTE, 2006; FREITAS; COSTA; PINHO, ósseo subjacente, preenchendo as ameias cervicais e o
2007; CARRILHO; PAULA, 2007). Isso requer a zênite, porção mais apical da margem gengival na
compreensão da personalidade do paciente, bateria anterior, que deve se encontrar levemente mais
estabelecendo um sorriso que se harmonize com sua para a distal em relação ao eixo axial. (FOWLER,
governada pela simetria e proporcionalidade dos dentes estéticos podem modificar a aparência devido à
e pela localização da linha média. Dentes assimétricos remoção cirúrgica e reanatomização dos tecidos moles
ou dentes que estão fora de proporção com os dentes e/ou do osso (PASWUINELLI, 2005). A
adjacentes rompem o equilíbrio e harmonia, que é gengivectomia está bem indicada para remoção de
essencial para a composição dentária e seus reflexos hiperplasias gengivais (inflamatórias, medicamentosas
devem estar em adequada proporção entre si para dos casos, a gengivoplastia também é realizada
alcançarem o equilíbrio horizontal e vertical e máxima (podendo ser associada ou não à gengivectomia), na
estética. A proporção estética dos dentes é definida remodelação do tecido gengival, porém não com o
como a divisão da sua largura pelo seu comprimento. A intuito de se eliminar bolsas periodontais, mas para
relação largura e comprimento da coroa tem sido restabelecer a forma anatômica e um contorno
descrita como ideal quando a largura do Incisivo fisiológico adequado, visando a estética. Estas técnicas
Central Superior (ICS) representa 70-80% da sua cirúrgicas são procedimentos simples, que devolvem
altura. A ausência desta relação altura/largura prejudica rapidamente a estética dento-gengival que o paciente
o ritmo e contraste entre os dentes e provoca sorrisos almeja (ROSETTI; SAMPAIO; ZUZA, 2006;
Segundo a literatura, a linha do sorriso do apresentar um caso clínico em que o resultado estético
paciente pode ser classificada como: a) baixa (expõe foi obtido por meio da análise e execução de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A notável e crescente busca por uma aparência
agradável do sorriso tem levado cada vez mais pessoas
aos consultórios odontológicos, interessados na
estética. Um sorriso considerado satisfatório tem
harmonia de dentes, gengiva e lábios.
As técnicas de cirurgia periodontal estética
vêm sendo empregadas cada vez mais, comprovando o
Figura 6- Remoção do tecido gengival com auxilio de uma
cureta McCall 13/14. seu sucesso quando há obtenção de um nível gengival
mais apical sem que haja exposição radicular, além do
resultado harmonioso na relação dentogengival.
1027
REFERÊNCIAS
A
recessão gengival é definida obtenção da cobertura radicular de todos os defeitos
como o deslocamento apical da tratados; emprego de tecido gengival existente próximo
margem gengival em relação à ao defeito da recessão; manter e, se possível, aumentar
sua posição fisiológica, que é de o tecido queratinizado marginal; não prejudicar a
1 a 2 mm coronal à junção cemento-esmalte (JCE), estética com cicatrizes; garantir coloração e espessura
com exposição patológica da superfície radicular compatíveis entre a área tratada e os tecidos adjacentes;
(ZUCCHELLI, 2012). Entre suas implicações clínicas ser minimamente invasiva e não causar inconveniência
podemos observar estética desfavorável, sensibilidade e desconforto pós operatórios excessivos. Atingindo
dentinária, surgimento de cáries radiculares, erosões tais requisitos, optou-se pela técnica de Zucchelli & De
radiculares e dificuldade para higienização Sanctis (2000) de correção cirúrgica de recobrimento
(TROMBELLI et al., 1998). radicular, indicada para áreas de múltiplas recessões
A etiologia da recessão gengival é considerada gengivais.
multifatorial, com a combinação de variáveis externas
e anatômicas locais. Entre as variáveis externas, DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
destacam-se a presença de biofilme bacteriano, o
trauma proveniente da escovação e a inserção alterada Paciente do gênero feminino, 42 anos de
do freio labial. As características anatômicas, que idade, procurou consultório particular queixando-se de
podem estar associadas ao posicionamento dentário, hipersensibilidade dentinária devido à exposição
são constituídas pelas dimensões ósseas e radicular.
mucogengivais locais, sendo de extrema importância a Ao exame clínico e radiográfico, foi possível
espessura da gengiva marginal (YARED; ZENOBIO; observar recessões gengivais do dentes 35 ao 46 (figura
PACHECO, 2006). 1 a, b e c), que variavam de 1 a 4mm, sem perda de
O tratamento da recessão gengival é uma crista óssea proximal (Classe I de Miller). A paciente
prática comum na rotina clínica, seja ela por razões não apresentava nenhum comprometimento sistêmico,
estéticas ou por hipersensibilidade dentinária, e tem nem era fumante.
como objetivo principal promover a saúde periodontal, Foi realizada a cirurgia para correção bilateral
além de melhorar a aparência estética do paciente. dos defeitos no arco inferior associando-se enxerto de
Existem diferentes procedimentos cirúrgicos tecido conjuntivo (ETC) de palato (figura 5). O
para o tratamento de recessões isoladas ou mútiplas e procedimento cirúrgico ocorreu sob anestesia local,
sua escolha depende de fatores relacionados ao defeito utilizando-se Lidocaína 2% com Epinefrina 1:100.000
e ao paciente, tais como: a dimensão do defeito, (DFL, RJ, Brasil), através da técnica de bloqueio
espessura da gengiva, presença ou ausência de crista bilateral dos nervos alveolar inferior e lingual e
óssea proximal, a presença ou ausência de tecido complementação com anestesia infiltrativa vestibular.
queratinizado adjacente ao defeito, (CHATTERJEE et A utilização de incisões oblíquas e intra-sulculares
al., 2015) e inserções musculares (JOLY; DA SILVA; (figura 2a e b), voltadas para os defeitos de recessão e
DE CARVALHO, 2015). A técnica escolhida deve sem incisões relaxantes objetivam desenhar as papilas
cumprir as seguintes condições: permitir o tratamento cirúrgicas para que posteriormente o retalho possa ser
de recessões em dentes adjacentes em um único deslocado coronalmente e adaptado sobre as papilas
procedimento cirúrgico; ser efetivo e previsível na anatômicas. Se o número de dentes envolvidos é ímpar,
1030
inicia-se o retalho na mesial e distal do dente mais
central do grupo e quando for par, inicia-se pelo dente
com maior recessão entre os dois mais centrais. A
incisão se estende de um ponto próximo à junção
cemento-esmalte (JCE) do dente mais central à
margem gengival apical do dente adjacente. A
definição deste ponto próximo à JCE se dá pela soma
da medida da recessão acrescida de um milímetro. O
resultado é transferido da ponta da papila anatômica à
margem gengival em direção apical e o ponto é obtido.
As incisões oblíquas subsequentes são sempre do ponto Figura 1b - Aspecto inicial, lado direito.
na lateral para a margem apical do dente mais afastado
(ZUCCHELLI; DE SANCTIS, 2000).
Os dentes 33 e 43 foram eleitos para o início
das incisões. O retalho de espessura total (Figura 3 e 4)
foi realizado por descolamento do periósteo sob a
gengiva inserida, passando a retalho dividido, ou seja,
de espessura parcial, sob a parte de mucosa livre, o
suficiente para se ganhar mobilidade e permitir o
reposicionamento do retalho sem tensão. Foi feita a
desepitelização das papilas anatômicas com
microtesouras, que também pode ser feita com lâmina
de bisturi, como alternativa. O retalho foi estabilizado
Figura 1c - Aspecto inicial, lado esquerdo.
sobrepondo-se as papilas cirúrgicas sobre as
anatômicas, dessa forma não havendo sobra de tecido.
A sutura foi do tipo suspensório (figura 7), além de se
realizar sutura para estabilizar o enxerto (figura 6).
Figura 2b - Incisões oblíquas, lado esquerdo. Figura 5 - Enxerto de tecido conjuntivo posicionado.
Figura 9c – Pós- operatório de 30 dias, lado esquerdo. Figura 10c - Controle de 6 meses, lado esquerdo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 10b - Controle de 6 meses, lado direito. A técnica foi efetiva na correção da recessão
gengival e seus resultados se apresentaram estáveis ao
longo de 6 meses. Obteve-se a alteração do biótipo
gengival da paciente de delgado para intermediário e
eliminação da hipersensibilidade dentinária.
REFERÊNCIAS
N
ão há um padrão estético ideal aplica aos incisivos laterais superiores. Nesses
para um sorriso belo e dentes, o limite gengival pode estar centrado no
atraente, no entanto, um longo eixo. Como os zênites dos caninos
sorriso desarmônico ocasionado por um excesso superiores estão, na maioria das vezes, mais altos
gengival, compromete a estética do sorriso e a do que os incisivos laterais, e mais ou menos na
autoestima do paciente. Por isso, a harmonia e mesma altura dos incisivos centrais, a linha
simetria dos elementos que o compõe (faciais, cervical fica com um aspecto convexo em relação
labiais, gengivais e dentais) precisam ser ao plano oclusal (CÂMARA, 2010).
consideradas. Diversos fatores devem ser Várias são as técnicas para corrigir as
avaliados no planejamento estético para a discrepâncias do tecido gengival, porém, a mais
otimização do sorriso, dentre eles, podemos comum é a gengivoplastia. A abordagem
destacar alguns aspectos periodontais relacionadas periodontal deve adequar a arquitetura da forma,
à coloração, contorno, simetria e ao zênite posição e contorno do tecido gengival para estar
(TREVISANI; VON MEUSEL, 2014). em harmonia (ZAVANELI et al., 2015).
Zênites são os pontos mais apicais do
contorno gengival. À união dos zênites dos DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
caninos, incisivos laterais e incisivos
centrais,damos o nome de linha cervical ou Paciente do sexo feminino, 30 anos, não
gengival (CÂMARA, 2010; BERTOLINI et al., relatou nenhuma alteração sistêmica durante a
2011). anamnese, foi encaminhada ao periodontista para
O contorno das margens gengivais dos plástica periodontal de correção dos zênites
seis dentes anteriores da maxila desempenha um gengivais para posteriormente serem instaladas as
papel importante na estética do sorriso e é próteses fixas em porcelana nos elementos 12 e 2.
determinada pelas seguintes características: Em
primeiro lugar, as margens gengivais dos incisivos
centrais devem estar no mesmo nível, além disso,
eles devem posicionar-se mais apical às margens
dos incisivos laterais e permanecerem no mesmo
nível das margens dos caninos. A aparência do
contorno gengival segue a arquitetura óssea
subjacente e é influenciada principalmente por
fatores como a posição dos dentes, tipo de
periodonto, forma dos dentes, e design da união
cemento-esmalte (SEIXAS; COSTA-PINTO; DE
ARAÚJO, 2012). Figura 1 - Imagem inicial mostrando contorno gengival
Sendo o ponto mais apical do contorno assimétrico.
gengival, o zênite, nos dentes superiores, está Fonte: Dr. Douglas Romitti.
REFERÊNCIAS
O
seio maxilar, situado principalmente se existir uma lesão periapical
anatomicamente em uma associada ou raízes muito divergentes (DYM;
posição intermediária entre as WOLF, 2012). A CBS pode decorrer também de
cavidades nasal e oral, está vulnerável à invasão por múltiplos fatores, como enucleação de tumores e
microrganismos patogênicos através do óstio nasal cistos, cirurgias ortognáticas, trauma, outras
e cavidade oral (MEHRA; MURAD, 2004). patologias sinusais (AMARATUNGA, 1986) ou
Em um indivíduo totalmente dentado, a instalação de implantes dentários (DYM; WOLF,
expansão continuada do seio maxilar faz com que 2012).
seu assoalho fique posicionado inferiormente, na Em pacientes com seios maxilares
direção das raízes dos molares superiores. Essas saudáveis, uma CBS de até 5mm após uma
raízes podem projetar-se para a cavidade sinusal, extração, pode resolver-se espontaneamente com a
sendo essa expansão tão extensa que, entre o ápice formação do coágulo no alvéolo (VON WOWERN,
dessas raízes e o seio, haja apenas a membrana 1973). O fechamento imediato da CBS,
sinusal (MEHRA; MURAD, 2004). preferivelmente entre 24 e 48 horas, é recomendado
Após a extração de um molar ou pré-molar para minimizar o risco de sinusite e
superior, o seio frequentemente pneumatiza-se na desenvolvimento de fístula. (VON WOWERN,
direção da perda, projetando-se entre os dentes 1970). Em um estudo retrospectivo, os autores
remanescentes. Em um paciente completamente encontraram uma recorrência de CBS em 18 de 245
desdentado, o seio pode se expandir, ainda mais, pacientes (7,3%) submetidos à tentativa de
em direção ao processo alveolar, deixando apenas fechamento da comunicação com menos de 24h
uma fina camada de osso alveolar entre o seio e a (VISSCHER et al., 2011).
cavidade oral. Devido à pneumatização extensa, O tratamento da CBS deve levar em
muitos pacientes candidatos à reabilitação com consideração o tamanho da comunicação, o
implantes dentários, necessitam de cirurgias de momento do diagnóstico e a presença de infecção
enxerto ósseo, como o levantamento de seio (ABUABARA; CORTEZ; PASSERI, 2006). Além
maxilar, para viabilizar a instalação dos implantes disso, a seleção da estratégia de tratamento é
(MEHRA; MURAD, 2004). influenciada pela condição e quantidade de tecido
Uma comunicação bucosinusal (CBS) é disponível para o reparo (AWANG, 1988), assim
uma conexão criada entre o seio maxilar e a como a possibilidade de instalação de implantes no
cavidade oral, que, se não tratada, pode progredir futuro (VISSCHER; VAN MINNEN, 2010).
para uma fístula e, possivelmente, uma doença Exames de imagem, como tomografia
sinusal crônica (ABUABARA; CORTEZ; computadorizada ou cone beam devem ser
PASSERI, 2006). utilizados como auxiliares na tomada de decisão.
Quando existe uma CBS, o paciente pode A técnica cirúrgica mais comum é o
queixar-se no pós-operatório de passagem de retalho vestibular de Rehrmann (REHRMANN,
fluidos para a cavidade nasal quando consome 1936), em que um retalho mucoperiostal
alimentos ou líquidos, de congestão ou trapezoidal é suturado sobre o defeito. Sua base
sangramento nasal (DYM; WOLF, 2012). extensa assegura um suprimento sanguíneo
A causa mais comum da CBS é a adequado, garantindo uma alta taxa de sucesso.
exodontia de um dente superior posterior, Entretanto, a principal desvantagem é o risco de
1043
diminuição da profundidade do vestíbulo do elemento 15 (figura 1). Segundo relatou, foi
(VISSCHER; VAN MINNEN; BOS, 2010). realizada exodontia do elemento 15
O retalho palatino possui uma maior aproximadamente 2 meses antes. O paciente
espessura, sendo menos vulnerável que o retalho queixava-se de passagem de líquidos para cavidade
vestibular, além de manter o fundo de vestíbulo nasal ao se alimentar e secreção purulenta drenando
intacto. Um ótimo suprimento sanguíneo é pela fístula e nariz. Foi solicitada tomografia cone
garantido pela artéria palatina maior. A grande beam, que mostrou velamento no seio maxilar
desvantagem desta técnica é a cicatrização por direito, além do rompimento do tecido ósseo (figura
segunda intenção do palato, que gera maior 2).
desconforto para o paciente (VISSCHER; VAN
MINNEN; BOS, 2010).
O corpo adiposo da bochecha é uma massa
localizada dentro dos espaços mastigatórios, e
também pode ser utilizado para o fechamento de
CBS. Sua localização próxima à área receptora é
uma grande vantagem. Entretanto, requer técnica
cirúrgica cuidadosa, sob o risco de necrose do
enxerto, especialmente em defeitos extensos
(VISSCHER; VAN MINNEN; BOS, 2010). Figura 1 - Visão intrabucal da comunicação bucosinusal
Outras técnicas incluem retalhos distantes, após exodontia do elemento 15.
Figura 3 - Enxerto gengival livre foi executado na Figura 5 - Cirurgia para fechamento da fístula. Foi
vestibular da comunicação bucosinusal a fim de melhorar desenhado um retalho trapezoidal, com incisão sobre o
a qualidade do tecido mole para posterior deslize do rebordo numa posição mais palatina que a fístula; um
soro fisiológico através da fístula, 2 vezes ao dia. foi observada reincidência da fístula ou secreção,
realizado 45 dias após enxerto livre (técnica de normal. O regime medicamentoso consistiu em 14
após cicatrização total do enxerto livre (figura 4). Clavulânico – 12/12h), iniciando 05 dias antes do
DFL®), o retalho foi desenhado em formato (Nimesulida 100mg – 12/12h), por 05 dias.
trapezoidal, com duas relaxantes vestibulares, Tomografia cone beam foi realizada em
mesial e distal; e incisão linear sobre o rebordo, em 05/04/2016, e confirmou ausência de infecção e
uma posição mais palatina que a fístula. O retalho velamento do seio maxilar (figura 6), estando o
total foi elevado, e um enxerto de tecido conjuntivo paciente apto a dar prosseguimento ao tratamento.
foi suturado sob a fístula. O retalho foi então A cirurgia de levantamento de seio maxilar foi
posicionado e suturado, livre de tensão (figura 5). planejada para posterior instalação de implante
dentário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
N
o consultório, diariamente rico em plaquetas (PRP) (MARX, 1998; GRIFFIN;
confrontamos com pacientes que CHEUNG, 2004).
apresentam recessões gengivais, as
Em 2001, um novo biomaterial foi
quais os levam a queixarem-se pelo aspecto
desenvolvido tanto para cirurgias ósseas reconstrutivas
antiestético, hipersensibilidade radicular, medo de
como para recobrimentos radiculares. Trata-se da
perder o dente e sensibilidade marginal à escovação ou
fibrina rica em plaquetas e leucócitos (L-PRF)
mastigação (BORGHETTI; MONNET-CORTI, 2002).
(TOFFLER et al., 2009). Esta é considerada a segunda
Considerando estas situações clínicas, houve a
geração de concentrados de plaquetas e definido como
necessidade de se desenvolver técnicas, as quais
um biomaterial autólogo, rico em fibrinas, plaquetas,
permitissem recobrir estas recessões, visando
leucócitos, citocinas, células-tronco circulantes
solucionar tais queixas além de prevenir cáries
incorporadas em suas fibras (CHOUKROUN et al.,
radiculares, abrasões cervicais, facilitar a higiene oral e
2006b) e fatores de crescimento, que dispensa a
melhorar resultados restauradores.
utilização de anticoagulantes e ativação pela trombina
Dentre as técnicas cirúrgicas disponíveis (CHOUKROUN et al., 2001). É constituído
descritas na literatura para o recobrimento radicular, basicamente por plasma, leucócitos, plaquetas e uma
podem ser citados: o retalho deslocado lateralmente, vasta gama de proteínas-chave dentro de uma matriz
retalho de dupla papila (LASCALA; MOUSSALLI, densa de fibrina.
1999), retalho deslocado coronalmente, retalho
O L-PRF é uma malha de fibrina autóloga
semilunar, enxerto gengival livre, enxerto de tecido
obtida pela centrifugação controlada do plasma,
conjuntivo subepitelial, regeneração tecidual guiada,
coletando-se as fases de plaqueta e leucócitos e
entre outros. Todas as técnicas acima citadas, quando
contendo frações de fibrina. Trata-se de material de
bem indicadas e executadas, reduzem estatisticamente
enxerto autólogo sem trombina que libera fatores de
e de forma significativa, as recessões gengivais, além
crescimento durante um período prolongado de tempo
de contribuir com um ganho concomitante de inserção
(CHOUKROUN et al., 2001).
clínica. Entretanto, a literatura apresenta um consenso
A polimerização do L-PRF é lenta e
de que o enxerto de tecido conjuntivo subepitelial
progressiva, devido ao processo de centrifugação
associado ao retalho deslocado coronalmente é a
específico e a concentração de trombina agindo de
técnica que oferece o maior grau de previsibilidade e
modo fisiológico, influenciando as propriedades
manutenção em longo prazo, sendo considerado
biológicas da matriz de fibrina final (MOSSESSON et
padrão-ouro (AGARWAL et al., 2013; BRUNO, 1994;
al., 2001). Esse aspecto é crucial para a organização
CHAMBRONE et al., 2008). Entretanto, esta técnica
tridimensional da matriz de fibrina, pois a maioria dos
apresenta algumas desvantagens, tais como: maior
protocolos conduz a um gel de fibrina de baixa
tempo cirúrgico e risco de morbidade, desconforto e
densidade, mas necessita-se de uma matriz de suporte
dor pós-operatória (devido ao segundo leito cirúrgico),
verdadeiro (DOHAN et al., 2009).
e quantidade limitada de tecido para o enxerto (EREN;
ATILLA, 2014). Para solucionar tais problemas, Essa polimerização da fibrina lenta e
diversos biomateriais têm surgido como alternativas fisiológica produz uma porcentagem mais elevada de
aos enxertos de tecido conjuntivo subepitelial, tais junções equilaterais, que permite uma rede de fibrina
como: matriz derivada do esmalte, matriz dérmica fina e flexível que leva ao aumento da incorporação das
acelular (CAIRO; NIERI; PAGLIARO, 2014) e plasma citocinas nas malhas de fibrina. As citocinas presentes
1049
na malha são mantidas in situ por mais tempo até que conjuntivo subepitelial, considerando que a área de
as células comecem o processo de remodelação rompimento epitelial (solução de continuidade) é muito
cicatricial, ou seja, quando tem de ser estimuladas a maior no sítio doador do enxerto do que na perfuração
iniciar o processo de reconstrução do local lesado realizada para a coleta, aumentando a chance de
(DOHAN et al., 2006b) e esta organização fornecerá infecção e o tempo de cicatrização, quando
também, elasticidade para a matriz de fibrina comparados.
comparável a de um biomaterial sólido, sendo passível
Assim, com base nos aspectos abordados
de ser suturada ao leito cirúrgico (DOHAN et al.,
acima, o objetivo do presente trabalho foi relatar, por
2006a).
meio de um caso clínico, a reabilitação cirúrgica
O L-PRF parece ser um biomaterial promissor periodontal de um paciente com recessão gengival por
no tratamento de recessões gengivais, por ter meio da utilização de fibrina rica em plaquetas e
apresentado resultados satisfatórios de recobrimento leucócitos (L-PRF) associada a retalho de dupla papila.
radicular, semelhantes aos encontrados com o enxerto
de tecido conjuntivo subepitelial. Também possui a
vantagem de evitar o segundo leito cirúrgico, razão das DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
2009) devido a liberação de fatores de crescimento que recebeu orientações sobre a correta forma de higiene
otimizam a regeneração, promovendo a angiogênese. O oral e todos os fatores relacionados à etiologia desta
uso do L-PRF facilita o acesso dos fatores de recessão foram avaliados e, constatou-se que tal
crescimento ao local lesionado (CHOUKROUN et al., problema era decorrente do biotipo periodontal e
2006a) por intermédio do uso da membrana que posicionamento dental. Como o dente apresentava
estabiliza e protege materiais de enxerto ósseo ou de correto posicionamento e exercia função (guia canina)
tecido mole (CHOUKROUN, 2006a), promovendo adequada, não foi necessário fazer alguma correção.
uma proteção significativa do local operado, A superfície radicular foi submetida a preparo
acelerando, assim, sua cicatrização, integrando e mecânico (ZUCCHELI; DE SANCTIS, 2000) com
remodelando o material enxertado (DOHAN et al., brocas de acabamento e curetas Gracey (figuras 2 e 3)
2006a). Outra justificativa seria relacionada à com o objetivo de modificar a superfície radicular
morbidade incutida no procedimento de coleta (aplainamento), eliminando convexidades e
sanguínea, que parece ser menor do que a do segundo irregularidades (LANGER; LANGER, 1985). Em
sítio cirúrgico na técnica do enxerto de tecido seguida, foi realizado o preparo químico (DE SOUZA
1050
et al., 2010), objetivando minimizar a toxicidade do (hemácias), no meio do frasco contém fibrina, e na
cemento afetado e descontaminar toda a área radicular porção superior, plasma acelular, o qual é retirado dos
a ser recoberta (figura 4). tubos de ensaio (DOHAN et al., 2006a).
Procedeu-se, então, com uma incisão intra- O L-PRF, juntamente com uma pequena
sulcular de espessura parcial; duas incisões horizontais porção de glóbulos vermelhos, foi facilmente retirado
preservando as papilas proximais; duas incisões do tubo com o auxílio de uma tesoura estéril. A
verticais oblíquas e concêntricas até a linha permanência desta pequena quantidade de células
mucogengival e acentuando a constrição apicalmente; vermelhas na matriz de fibrina é fundamental para o
duas incisões concêntricas e apicais à recessão, sucesso da técnica, pois nesse local há grande
formando uma pirâmide. O descolamento do retalho foi quantidade de leucócitos e plaquetas. Em seguida, foi
em espessura parcial, fazendo com que o tecido em utilizado o L-PRF box, o qual consiste numa caixa de
forma de pirâmide, formado pelas duas últimas metal com uma grelha e tampa, onde o L-PRF foi
incisões, fosse removido e descartado, e o restante do colocado e comprimido suavemente por
retalho formasse dois pedículos que foram unidos por aproximadamente um minuto com objetivo de produzir
sutura, formando um único pedículo (figura 5). a membrana de L-PRF de espessura constante, a qual
permanece hidratada por muitas horas. Cabe ressaltar
O processo de obtenção do L-PRF adotado
que, de acordo com Ehrenfest et al. (2010), esta
neste caso clínico seguiu o protocolo descrito por JAIN
compressão não apresenta diferença significante quanto
et al. (2012), o qual consistiu na coleta inicial de 10
a sua intensidade (se forçado ou leve). Os mesmos
mililitros de sangue venoso através de uma agulha em
pesquisadores também observaram não haver diferença
forma de borboleta, de 24 polegadas.. Em seguida, o
significante quanto à composição do tubo de ensaio (se
material foi distribuído em porções iguais
de plástico ou de vidro). A utilização do L-PRF box
(aproximadamente 5 ml) entre dois tubos de ensaio,
para conformar a membrana pode ser substituída pela
sem adição de anticoagulante, usando uma centrifuga.
compressão do coágulo entre duas gazes (SUNITHA;
Os tubos, contendo o material coletado, foram
MUNIRATHNAM, 2008).
colocados na centrifuga específica (PC-02 Process Ltd.
Nice, França) e submetidos ao processo a 2700 Então, o L-PRF foi colocado sob o retalho de
rotações por minutos (RPM), aproximadamente 300 G dupla papila e procedeu-se com a sutura em
de força por 12 minutos, tomando-se cuidado para se suspensório para elevar o retalho coronalmente (figura
colocar os tubos sempre em quantidades iguais do 9).
material coletado em pares e lados opostos da
A cicatrização dos tecidos moles foi rápida e,
centrífuga (DOHAN et al., 2006a) (figuras 6 e 7).
após 120 dias, verificou-se a completa cobertura da
A ausência de anticoagulantes implica na área cirúrgica, com excelente cor, textura e aspecto
ativação das plaquetas da amostra de sangue em clínico (figura 10).
contato com as paredes do tubo que desencadeia a
cascata de coagulação. Inicialmente, o fibrinogênio é
concentrado no topo do tubo, até que a trombina
circulante o transforme numa rede de fibrina. O
resultado é um coágulo de fibrina obtido no meio do
tubo com fração inferior contendo células vermelhas
1051
CONSIDERAÇÕES FINAIS
C
om a perda dos dentes, o rebordo do tratamento entre seis a oito meses (FRIBERG;
alveolar passa por um processo IVANOFF; LEKHOLM, 1992).
ininterrupto e irreversível de A região posterior da mandíbula apresenta
reabsorção óssea, em altura e espessura. Desta forma, a uma qualidade óssea inferior quando comparada à
reabsorção óssea, principalmente do sextante posterior região anterior. A técnica de LNAI proporciona um
da mandíbula, normalmente leva a um rebordo resultado biomecânico favorável frente às cargas
reduzido e, por consequência, a instalação de implantes mastigatórias presentes na região posterior da
nessas regiões se torna um desafio (FRIBERG; mandíbula e uma boa proporção entre o implante e a
IVANOFF; LEKHOLM, 1992). prótese (JENSEN; NOCK, 1987), quando comparada
Diversas técnicas cirúrgicas foram com a utilização de implantes curtos que, visando
desenvolvidas para a reabilitação de mandíbulas preservar o canal mandibular, apresenta menor
atróficas com a instalação de implantes estabilidade inicial e biomecânica prejudicada por ter
osseointegrados (SHIROTA et al., 1995), tais como o ancoragem unicortical (BLAHOUT et al., 2007).
uso de dispositivos para distração osteogênica (POLO A técnica de LNAI é indicada quando o
et al., 2005), enxertos ósseos (PROUSSAEFS, 2005; substrato ósseo é inferior a 7,0 mm entre a margem da
ESPOSITO et al., 2009), regeneração óssea guiada crista óssea até a cortical superior do canal mandibular
(BOVI, 2005), implantes curtos (RENOUARD; (ROSENQUIST, 1994).
ARNOUX; SARMENT, 1999), instalação de implantes Jensen e Nock (1987) foram os primeiros a
lateralmente ao nervo (STELLA, 2002) e a relatar a reabilitação da mandíbula posterior atrófica,
lateralização do nervo alveolar inferior (LNAI) utilizando implantes dentários em conjunção com a
(FRIBERG; IVANOFF; LEKHOLM, 1992; PELEG et transposição do nervo alveolar inferior. A técnica foi
al., 2002; CHRCANOVIC; CUSTÓDIO, 2009). uma modificação do método utilizado por (ALLING,
A técnica de lateralização do nervo alveolar 1977) que realizava a cirurgia de lateralização do nervo
inferior (LNAI) permite a instalação dos implantes com alveolar inferior para abrandar a situação de
um posicionamento correto ou o mais próximo do desconforto dos pacientes portadores de prótese total
ideal, pela possibilidade da visão direta no ato da em mandíbula extremamente reabsorvida, onde a
cirurgia (MORRISON, CHIAROT; KIRBY, 2002) e, pressão exercida pela prótese sobre o feixe
utilizando das corticais superior e basal do corpo da neurovascular causava dor, dificultando a alimentação
mandíbula, o implante fica envolto por um osso de dos pacientes.
melhor qualidade, ao contrário dos implantes instalados Dao & Mellor (1998) observaram em uma
em regiões de reconstrução com enxertos (DARIO; crítica revisão de literatura, a grande variação nas
ENGLISH JUNIOR, 1994). Em comparação aos alterações neurossensoriais (0 a 100%) em pacientes
métodos de reconstrução com enxertos, a lateralização submetidos à técnica de LNAI. Todos os pacientes
é um procedimento relativamente simples, sem apresentaram distúrbios de sensibilidade transitória do
necessidade de áreas doadoras, diminuindo a nervo alveolar inferior, sendo que 16% dos indivíduos
morbidade do paciente, custo menor, instalação tiveram alterações sensoriais de longo prazo. A
imediata de implantes longos porque utiliza todo osso principal desvantagem desta técnica é o risco de perda
remanescente da mandíbula e possibilidade de término definitiva da sensibilidade do lábio e região mentual,
no caso da secção do nervo. Esta opção terapêutica de
1056
alto risco não deve ser considerada como uma solução Cloridrato de mepivacaína + epinefrina
de rotina. (Mepiadre 100 ® DFL), 1 tubete para bloqueio
O objetivo deste estudo foi relatar, por meio troncular do NAI e ½ tubete infiltrado na região de
de um caso clínico, a técnica de lateralização do nervo forame mentual, 2,0 tubetes de cloridrato de articaína +
alveolar inferior. epinefrina (Articaína 100 ® DFL), infiltrados por
vestibular e lingual.
Técnica de Lateralização Nervo Alveolar No lado direito, foi realizada uma incisão
Paciente do gênero masculino, 55 anos de retromolar até o colo cervical do dente 44, seguindo-se
idade, foi encaminhado para o atendimento com uma incisão intra-sulcular no mesmo dente e
odontológico na especialidade de Implantodontia, com incisão horizontal entre os dentes 44 e 43, preservando
ausência dentária na região posterior da mandíbula a papila entre eles e terminando com uma incisão
avaliação clínica bucal, o paciente realizou os exames da incisão crestal por vestibular. No lado esquerdo, foi
laboratoriais para avaliação pré-operatória realizada uma incisão crestal (lâmina de bisturi 15C) na
(Hemograma completo, glicemia em jejum, região do trígono retromolar, com alívio na vestibular ,
coagulograma, índices de cálcio e fósforo e fosfatase intra-sulcular no dente 38 até o colo cervical do dente
alcalina). Após o planejamento realizado, utilizando 34, seguindo-se com uma incisão intra-sulcular no
tomografia computadorizada (cone bean), optou-se mesmo dente e incisão horizontal entre os dentes 34 e
pelo tratamento com implantes osseointegrados com a 33, preservando a papila entre eles e terminando com
técnica de LNAI na região mandibular esquerda e uma incisão relaxante na distal do dente 33 . O retalho
direita. Foi documentada sua aprovação pelo foi descolado em espessura total, com cuidado na
tratamento, após esclarecimento dos riscos de região de forame mentual direito e esquerdo, área onde
relacionados ao insucesso do tratamento com inferior ao forame mentual, estendendo-se até a base da
implantes. mandíbula.
comprimido a cada 8 horas, durante 7 dias; 1 hora antes do lado direita da mandíbula, observa-se na região do
da cirurgia, 1 comprimido de Dexametasona (Decadron dente 45, volume ósseo remanescente de 5,77 mm de
4 mg ® Aché), e como sedativo, 1 comprimido de altura e 2,75 mm de espessura; na região do dente 46,
maleato de Midazolam (Dormonid 7,5 mg ® Roche). 3,76 mm de altura e 4,51 mm de espessura, e na região
Aferida a pressão arterial do paciente, foi iniciada a do 47, 4,0 mm de altura e 5,51 mm de espessura,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A técnica LNAI pode ser uma excelente
alternativa para mandíbulas atróficas posteriores.
Atribui-se à possibilidade da instalação de implantes
longos, com ancoragem bi-cortical, favorecendo a
estabilidade primária e a biomecânica, com danos
sensoriais previsíveis. O mais importante é a satisfação
da paciente com uma prótese fixa para restaurar as
Fase Protética funções mastigatórias e estéticas, preservando os
A fase protética foi iniciada após seis meses. dentes anteriores.
Inicialmente, foram confeccionadas próteses fixas em resina
provisórias parafusadas indiretas. Após três meses,
REFERÊNCIAS
executaram-se as próteses fixas metalocerâmicas parafusadas
indiretas ferulizadas.
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Prótese Dentária
Capítulo 178
Prótese fixa dentogengival com
infraestrutura de zircônia
Marcelo Pasini
Aldo Pessoa de Figueiredo
Gibson da Silva Litaiff
Milton Edson Miranda
1064
C
alcançar ou exceder as expectativas estéticas desses
que os defeitos gengivais classe pacientes.
III são deficiências vertical e Tuna et al. (2012) relataram que lesões
horizontal no rebordo traumáticas podem causar deficiências anatômicas em
desdentado. Há casos em que a cirurgia reconstrutiva tecidos moles e duros. O tratamento adequado para
não consegue resultados satisfatórios estéticos. Para se deficiêcias ósseas e gengivais exige uma abordagem
ter um bom resultado, o autor relata que devemos multiciplinar odontológica e médica. As próteses
seguir alguns critérios como: domínio do laboratório substituem dentes, osso e tecido mole gengival.
sobre restaurações dentogengivais e planejamento. Segundo Barzilay e Tamblyn (2003), próteses
Compreensão biológica das limitações do processo de de substituição gengivais historicamente foram usadas
cura do tecido duro e mole, múltiplos implantes para substituir tecido perdido, quando outros métodos
adjacentes na zona estética são limitações que podem (por exemplo, cirurgia ou procedimentos
frequentemente exigir a utilização de materiais regenerativos) foram considerados imprevisíveis ou
restauradores cor de gengiva. E planejamento impossíveis. Com este método, volumes grandes de
preventivo tridimensional é importante para conseguir tecido são facilmente substituídos. Próteses gengivais
a estética desejável. O presente relatório apresenta uma têm várias formas, e vários autores descreveram seu
justificativa para a consideração de gengiva artificial ao uso. Próteses gengivais para substituição de tecido
planejar a prótese dentária. Gengiva de cerâmica pode podem ser usadas como alternativas de procedimentos
superar as limitações de enxertia e deve ser uma cirúrgicos para reconstituição gengival. A restauração
consideração no plano de tratamento inicial destas áreas pode ser realizada com próteses fixas ou
Segundo Hannon; Colvin; Zurek (1994), antes removíveis. Os materiais utilizados para próteses
do tratamento protético de alguns casos com gengivais incluem acrílicos e porcelanas, resinas
reabsorção alveolar e defeitos ósseos e gengivais, compostas e acrílicos termoplásticos, assim como a
cirurgias periodontais podem ser indicadas para o base de silicone macia.
aumento de volume e correção de tecidos moles. Tem Haj-Ali e Walker (2002) relataram a
casos em que a cirurgia pode ser contraindicada ou importância dos provisórios nos tratamentos
indesejável. Um resultado funcional e estético, muitas reabilitadores com próteses fixas, porém, as
vezes, pode ser conseguido através de material irregularidades entre dentes pilares e espaço protético
cerâmico rosa em prótese fixa. causam dificuldades na estética do trabalho, podendo
Para Priest e Lindk (1998), a Implantodontia lançar mão de técnicas cirúrgicas para se conseguir
requer excelência estética e longevidade funcional. A equilíbrio entre dentes remanescentes e espaço
estética ideal necessita de intervenções cirúrgicas dos desdentado.
tecidos moles e duros. Os resultados dos Para Fonseca et al. (2002), o tratamento
procedimentos gengivais nem sempre são ideais e cirúrgico nem sempre é o escolhido com primeira
alguns pacientes não estão dispostos a submeter-se a opção para reconstrução de tecidos duro e mole
tratamento cirúrgico. O uso de porcelana rosa é uma perdidos por reabsorção. A cirurgia pode ser
opção não cirúrgica de substituição de tecido duro e contraindicada por fatores como: problemas sistêmicos,
mole que fornece suporte labial, restaura arquitetura custo, tempo e saúde geral e emocional do paciente,
gengival, simetria e papilas. As próteses podem também podendo ser imprevisível, causando
1065
descontentamento. colocados imediatamente após extração. A restauração
Para Bonachela et al. (1992), processos temporária foi colocada 3 meses após o implante e a
alveolares reabsorvidos devido à reabsorção fisiológica restauração final foi colocada 4 meses a partir da
do osso alveolar por uso de prótese removível ou cirurgia. Os pacientes foram avaliados clinicamente e
perdas dentais extensas, são os principais fatores radiologicamente 2, 4, 18, e 24 meses após a inserção.
limitantes na construção de prótese parcial fixa. Em 24 meses, apenas 3 implantes foram perdidos (2
Conclui que a cerâmica rosa tem fácil aplicabilidade e em pacientes do sexo masculino; 1 em paciente do sexo
resultados satisfatórios para reabilitar reabsorções feminino). Todos estes implantes perdidos não
alveolares. atingiram a osseointegração. A taxa geral de sucesso
Critérios para terapia com implantes em único foi de 96,6%, com uma taxa de falha de 3,4%, todos
dente na região anterior da maxila têm crescido antes da prótese. Os autores concluem que a inserção
recentemente (GRUTTER; BELSER, 2009; SAILER et de implantes imediatos em maxila após a extração sem
al., 2009; COOPER et al., 2014) e incluir parâmetros incisões e retalhos é uma cirurgia que pode garantir a
mais subjetivos, como estética restauração coronária e preservação gengival e óssea peri-implantar para um
peri-implante estética das mucosas (BELSER et al., resultado estético previsível, e o aspecto mais
2009; KAN et al., 2011; SHI et al., 2014). Apesar do importante parece ser a altura e espessura da parede
aumento da demanda e expectativas dos pacientes e óssea vestibular, que permanece após a colocação do
profissionais por uma estética agradável, para suprir implante.
esta deficiência, vários investigadores possuem Para Wang et al. (2013), o objetivo deste
métricas propostas, pelas quais, para medir parâmetros estudo é avaliar os efeitos ópticos da cor da gengiva
que podem positivamente contribuir para a estética do artificial cerâmica na coroa na área cervical. Trinta e
implante dentário, avaliaram em um periodo de um ano uma coroas de cerâmica de tons diferentes foram
a mucosa peri-implantar com três diferentes pilares de utilizadas neste estudo, com seis diferentes cores
implante com estética das mucosas. Foram colocados gengivais artificiais. Usando um espectrofotómetro
implantes aleatoriamente nas maxilas, com (Crystaleye1 Olympus, Japão), medimos a sombra das
provisionalização com munhões de titânio e munhões coroas em áreas cervicais com cada um dos seis
definitivos de zircônia fabricados com sistema diferentes tipos de gengiva artificiais. Foram
CAD/CAM. comparadas a correlação da cor artificial gengival com
Segundo Sammartino et al. (2007), o objetivo a cor da coroa. Foi concluido que diferentes cores de
deste estudo foi identificar uma técnica de instalação gengiva artificial geraram diferenças clinicamente
de implantes endósseos preservando mucosa (tecido detectáveis de sombra na região cervical de coroas
peri-implantar), dando previsibilidade estética para as cerâmicas.
próteses. Tiveram como desafio, melhorar a Geary e Kinirons (1999) comentaram que a
regeneração e melhorar a cicatrização, tendo como harmoniosa combinação de cores de uma restauração
opção a instalação de implantes imediatos sem incisão ou prótese à dentição remanescente, particularmente na
e retalhos. Pacientes não fumantes e bão broxomanos região anterior, é de primordial importância para
foram selecionados, apresentado a estabilidade dos muitos pacientes. Esta procura de excelência estética
tecidos moles, uma oclusão aceitável e ausência de levou à substancial pesquisa e desenvolvimento de
patologias que contraindicassem neoformação óssea. materiais da cor do dente natural, que não só desafiam
Foram usados implantes Straumann e Friadent, a detecção na boca inicialmente, mas permanecem
1066
discretos por muitos anos.
O objetivo deste estudo foi comparar discos de DESCRIÇÃO DO CASO
cerâmicas confeccionadas pelo técnico em prótese com
uma escala de cor VITA. O autor chegou à conclusão, Paciente de 34 anos, gênero masculino,
depois de comparação entre os disco e a escala, de que procurou o consultório Odontológico Marcelo Pasini
dos 32 discos confeccionados, 14 tiveram coincidência com a queixa principal: reabilitar dentes ausentes da
entre os tons da escala e os discos, e os restantes região dos elementos 11 e 12, e o paciente trouxe a
tiveram diferenças. Conclui-se que depende do técnico sugestão de tratamento de implantes dentários. O
para que encontre o tom ideal. paciente foi orientado em seu planejamento, a passar
Tuna et al. (2012) afirmaram que as lesões por cirurgias de reconstrução óssea e gengival para
traumáticas podem causar deficiências anatômicas em possível confecção de implantes nesta região com
tecidos moles e duros. Esses defeitos resultam, muitas tecido ósseo atrófico. O paciente se negou a fazer os
vezes, na perda de mucosa aderida e processos procedimentos cirúrgicos, alegando demora e custo. A
alveolares. As próteses devem substituir não só os segunda opção, aceita, foi prótese fixa dentogengival.
dentes perdidos, mas também tecidos moles e osso. Foi confeccionada uma prótese fixa temporária com
Para Garber (1995), da mesma forma que no resina acrílica (mock-up), tendo como gabarito
início dos anos 1990, a Implantodontia evoluiu de uma (muralha) o molde em silicone com reação de presa por
abordagem exclusivamente cirúrgica para uma condensação (PERFIL) do enceramento. Os dentes
abordagem direcionada à restauração dental, nosso hígidos foram preparados e mantidos com vitalidade.
paradigma restaurador está convergindo em direção a A infraestrutura foi confeccionada em zircônia
uma terapia direcionada à restauração previsível do através do sistema CAD/CAM (zirco-zan) e cobertura
complexo dentogengival, intitulada como “deixe a somente na face vestibular com cerâmica feldspática
restauração dentogengival ser a guia”. para cobertura de zircônia.
Segundo Coachman et al. (2008), se a opção
pela restauração protética dentogengival for
considerada e adotada desde o início, principalmente
naqueles com significativa perda óssea vertical ou
deficiência de papila, os resultados estéticos e
funcionais tendem a ser significativamente melhores do
que quando esta opção é utilizada como último recurso.
Para Salama et al. (1998), procedimentos Figura 1 - Região de dentes ausêntes, elementos 11 e 12.
REFERÊNCIAS
A
reabilitação oral com prótese total em outras situações.
tem por função restaurar a O objetivo deste capítulo é demonstrar o uso
mastigação, a fonética, a aparência de resina composta fotopolimerizável em prótese total
e, acima de tudo, o valor próprio e a dignidade do para o reparo de pequenas falhas corrigíveis de um
paciente. Além de restaurar a autoestima, a prótese molde funcional, concorrendo para um perfeito
total tem por objetivo preservar os rebordos alveolares selamento periférico e para a obtenção do selamento
e integrar o paciente psicoemocionalmente na posterior na região de post-damming.
sociedade (BARBOSA et al., 2006).
Diversos procedimentos clínicos e
laboratoriais são necessários durante a reabilitação com DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
próteses totais e uma série de cuidados devem ser
observados, desde a anamnese do paciente até a Paciente do gênero feminino, A. P. D., 83
instalação e controle das próteses. anos, aposentada, apresentou-se à Clínica de Mestrado
Considerando que em torno de 11% da em Odontologia em Prótese Dentária da Faculdade São
população brasileira já perdeu todos os dentes e que Leopoldo Mandic, Campinas-SP, queixando-se de
isto acontece com mais frequência entre as classes insatisfação com sua condição bucal, especialmente
menos favorecidas economicamente, (BRASIL-IBGE, pela falta de retenção e adaptação de suas próteses, e
2013), a reabilitação oral com próteses totais coloca-se principalmente a superior, e também do aspecto e a da
como uma alternativa viável do ponto de vista aparência que as mesmas lhe proporcionavam.
funcional e financeiro. Ao exame clínico, constatou-se que a paciente
Dentre as fases de confecção de uma prótese era desdentada total superior e parcial inferior. Esta
total, a moldagem funcional é uma das etapas clássica condição, conhecida como Síndrome da
essenciais do tratamento protético em edentulismo total Combinação, lhe impunha a necessidade de uma
e/ou parcial. Para tanto, é necessária a análise e o prótese total superior e uma prótese parcial removível
registro correto das estruturas de suporte, visando a inferior, classe I de Kennedy. Além disso, foram
determinação da extensão da prótese. Essa fase inclui indicados retentores intrarradiculares metálicos
duas etapas, o selamento periférico e a moldagem fundidos e coroas metalocerâmicas fresadas nos 33 e
funcional propriamente dita, e tem o objetivo de 43, que serviriam de pilares para os retentores extra-
registrar fielmente a área basal (GOIATO et al., 2013). coronários da PPR inferior. Neste capítulo, nos
O selamento, fecho ou vedamento periférico ateremos apenas ao uso de resina composta
tem, por finalidade, proporcionar uma relação íntima fotopolimerizável no reparo de pequenas falhas
da borda da moldeira com o fundo de vestíbulo, corrigíveis no selamento periférico e a necessidade de
impedindo a passagem de ar entre a base da prótese e a selamento posterior no molde funcional.
mucosa (PETRIE et al., 2005). Após a moldagem funcional da arcada
A resina composta fotopolimerizável é um desdentada superior, verificou-se uma pequena falha na
material amplamente utilizado na odontologia, porém, relação do molde com o fundo do sulco vestibular
em prótese total, seu uso restringia-se a pequenos direito, passível de ser reparado com resina composta.
reparos em dentes artificiais. Experiências clínicas têm A área do post-damming também precisava ser selada
demonstrado que esta resina também pode ser indicada e, para isso, as duas áreas do molde funcional
1072
receberam incrementos de resina composta.
Posteriormente, a moldeira foi reposicionada na boca
da paciente que, novamente, teve a musculatura
perioral tracionada e foi orientada a realizar
movimentos funcionais. Em seguida, a moldeira foi
retirada da boca e a resina composta foi
fotopolimerizada.
Esse molde reparado foi encaixotado com cera
para ser vazado com gesso especial para obtenção do Figura 3 - Molde funcional com falhas na região de
modelo de trabalho. selamento periférico e necessidade de selamento do post-
damming (selamento posterior). Ver setas.
Figura 2 - Moldagem funcional. (A) Posicionamento da Figura 5 - Obtenção do molde funcional com falhas
moldeira individual com tracionamento da musculatura corrigidas e selamento posterior. (A) Incremento de resina
perioral; (B) Movimentos funcionais. composta após reembasamento em boca; (B) e (C)
Fotopolimerização da resina composta; (D) Molde final
corrigido, encaixotado e pronto para ser vazado e ser obtido o
modelo de trabalho.
1073
BARBOSA, D. B. et al. Instalação de prótese total:
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próteses instaladas; (C) Face de satisfação da paciente ao the current materials and methods for final impressions
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
reabilitação com implantes osteocondutoras, apesar de gerar maior morbidade. A
osseointegrados tornou-se um maior parte dos biomateriais utilizados atualmente é
tratamento rotineiro, confiável e osseocondutor, e por esse motivo, a ciência
com altos índices de sucesso. Todavia, a atrofia do odontológica busca materiais que possam promover
rebordo alveolar causada pela perda dos elementos diferenciação celular no próprio local do enxerto, sem
dentais por cárie, doença periodontal ou traumatismos necessidade de acessar uma segunda região
leva a uma perda de volume ósseo que pode (MOGHADAN et al., 2001; CARVALHO et al.,
impossibilitar a instalação de implantes, além de alterar 2010).
as relações intermaxilares (CHIAPASCO; A rhBMP-2 (recombinant human Bone
CASENTINI; ZANIBONI, 2009). A reabsorção Morphogenetic Protein-2, ”proteína morfogenética
centrípeta da maxila e centrífuga da mandíbula óssea humana obtida através de técnica de DNA
frequentemente resulta na limitação do espaço recombinante”) é um fator de crescimento que se
necessário à instalação de implantes mostrou capaz de induzir, em laboratório, a formação
(PIETROKOVSKI, 2013). de novo osso em ratos entre 7 e 14 dias, ou em até 5
É necessário que existam quantidades dias, de acordo com a dose utilizada (WANG et al,
mínimas de tecido ósseo em altura e espessura para 1990).
possibilitar a instalação de implantes em áreas Em 1965, Urist, utilizou diversas preparações
edêntulas, e um número significativo de pacientes de matriz óssea descalcificada para isolar e identificar
necessita de aumento ósseo para atingir estes o mecanismo de ação da proteína morfogenética. A
requisitos. Segundo Chiapasco; Casentini e Zaniboni formação óssea ectópica foi induzida em vários
(2009) e Zétola e Pereira (2010), existem cinco modelos animais e para a reparação de defeitos críticos
metodologias básicas para reconstruções ósseas: (1) em animais e humanos.
osseoindução, por meio do uso de fatores de Estudos subsequentes identificaram mais de
crescimento apropriados, (2) osseocondução, quando 20 tipos de proteína morfogenética, sendo que as
um biomaterial serve de arcabouço para neoformação consideradas osseoindutoras são a BMP-2, BMP-4,
óssea, (3) distração osteogênica, quando uma fratura BMP-6 e BMP-7. As BMPs são moléculas secretadas
cirúrgica é induzida e os dois fragmentos são fisiologicamente por células da medula óssea,
lentamente afastados, para que haja regeneração plaquetas, células musculares e osteoblastos. Com
espontânea entre os fragmentos, (4) regeneração óssea exceção da BMP-1, todas são membros da superfamília
guiada, quando uma barreira é utilizada para criar um TGFβ (Transforming Growth Fator, fator
espaço que será preenchido por tecido ósseo, e (5) transformador de crescimento). Até o momento, as
enxerto ósseo vascularizado, quando um segmento BMPs são as únicas moléculas conhecidas que tem
ósseo é transportado para o local a ser preenchido com habilidade de transformar células do tecido conjuntivo
seu pedículo vascular, o que permite a sobrevivência em células osteoprogenitoras. Nenhum dos outros
do osso, sem processo de remodelação. fatores de crescimento conhecidos possuem essa
Por muito tempo, o enxerto ósseo autógeno habilidade (RENGACHARY, 2002).
tem sido considerado o padrão ouro por suas Bruder (1999) e Carvalho et al. (2010),
características osteoindutoras, osteogênicas e discorrendo sobre engenharia tecidual, relataram que a
1076
regeneração tecidual envolve, basicamente, três O volume da reconstrução foi simulado,
elementos: células, fatores de diferenciação e utilizando cera sobre o defeito sobreposta por uma
crescimento, e arcabouços extracelulares. Os camada de resina acrílica para permitir a dobra da
biomateriais mais utilizados como arcabouço são os malha de titânio (Fig. 2).
metais como o titânio, materiais sintéticos orgânicos
como polímeros e copolímeros, materiais sintéticos
inorgânicos como hidroxiapatatita e compósitos de
fosfato de cálcio, materiais naturais orgânicos como
colágeno e ácido hialurônico, e materiais inorgânicos
naturais como hidroxiapatita de corais. As BMPs que
estão aprovadas para uso clínico apresentam grande
potencial para regeneração óssea.
Figura 3 – Incisão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
polimetilmetacrilato é o material Em muitas situações, as fraturas ocorrem na
mais utilizado para base de linha média da base da prótese, e a localização da
próteses totais e parciais, devido às fratura ocorre mais frequentemente em próteses totais
suas propriedades estéticas favoráveis, fácil superiores do que em próteses inferiores. A fratura da
manipulação e baixo custo. Apesar de sua popularidade resina acrílica em prótese total superior, em geral,
e exigências estéticas satisfatórias, ainda está longe do ocorre entre os dois dentes centrais (YOSHIDA;
ideal no cumprimento das exigências mecânicas de TAKAHASHI; SHIMIZU, 2011).
uma prótese. A fratura das próteses pode ser devido às A dentadura completa com base em acrílico
propriedades mecânicas da resina acrílica ou pode ser pode ser um tratamento de sucesso para muitos casos
devido a uma multiplicidade de fatores que conduzem de desdentados totais, porém as forças exercidas pela
a falha do material de base da prótese (JAGGER; dentição natural podem causar fraturas frequentes das
HARRISON; JANDT, 1999). Suas propriedades bases de prótese (RATHOD et al. 2015). Pacientes que
mecânicas, como resistência à fadiga e ao impacto, usam prótese superior contra dentes inferiores naturais
não são satisfatórias, e isto é refletido no grande enfrentam maior quantidade de fratura da linha média
número de reparos em próteses realizados anualmente nas suas dentaduras em acrílico. (DHIMAN;
(FONSECA et al., 2011). A fadiga flexural acontece CHOWDHURY, 2009). Base de prótese metálica em
quando cargas dinâmicas são aplicadas repetidamente comparação ao material polimetacrilato de metila pode
na estrutura do acrílico, formando pequenas falhas em suportar as forças mastigatórias da dentição natural de
áreas de concentração de estresse que, por fim, se uma forma muito melhor, aumentando a longevidade
fusionam e resultam numa linha de fratura, e a fratura da prótese (RATHOD et al. 2015).
por impacto é aquela que ocorre quando o acrílico sofre Com o intuito de melhorar as propriedades,
um golpe súbito ao cair acidentalmente em alguma diferentes materiais têm sido testados para reforço do
superfiície dura (JAGGER; HARRISON; JANDT, polimetilmetacrilato, tais como fibras de carbono,
1999). aramida, polietileno e de vidro e fios metálicos
A baixa resistência à fratura e à abrasão, bem (FONSECA et al., 2011). As próteses totais reforçadas
como mudanças no volume e forma durante a com bases de metal são ocasionalmente utilizadas na
fabricação e uso, podem ser considerados reabilitação de pacientes desdentados, especialmente
desvantagens. Assim, fraturas de bases confeccionadas nos casos em que exista um risco de fratura causada
em resina acrílica são consideradas um problema por oposição à dentição natural, bem como em
persistente, principalmente em prótese dentária total pacientes com doenças neuromusculares (POŠTIĆ,
(DUYMUŞ; AKYIL, 2006 ). 2013).
Muitos fatores clínicos podem ser A resistência à flexão de resina acrílica
predisponentes para fraturas de dentadura, como, por termopolimerizada foi aumentada consideravelmente,
exemplo, as forças oclusais, que geram um efeito de utilizando fios de metal ou fibras de vidro como
deformação durante o funcionamento, e qualquer reforços (VOJDANI; KHALEDI, 2006). Em pesquisas
elemento que aumenta a deformação da base e altera a usando fio de aço inoxidável como um sistema de
distribuição de tensões pode causar a ruptura da reforço para resina autopolimerizavel, maior resistência
dentadura (GURBUZ et al, 2010). à flexão foi obtida com a utilização de fios de maior
1082
dimensão (CARROLL; VON FRAUNHOFER, 1984). anamnese e exame intraoral, verificou-se a ausência
Metais como o cobalto - cromo - molibdênio ou liga de total de dentes na arcada superior, e, na arcada inferior,
cromo cobalto têm propriedades físicas superiores e a presença dos dentes anteriores (33, 32, 31, 41, 42,
geralmente ocupam menos espaço na boca do que 43). A paciente relatava o uso de prótese total superior
próteses de acrílico. Eles possuem maior resistência à e prótese parcial removível inferior há vinte anos. O
fadiga e são menos propensos à fratura sob condições exame da prótese indicou fratura de linha média e
normais (EL GHAZALI et al., 1989). Estudos soltura dos dentes da prótese superior, com reparo já
realizados indicam que o uso de metais para reforço da realizado anteriormente, e de acordo com o relato da
base, com secção transversal semicircular e diâmetro paciente, o fato já havia ocorrido repetidas vezes. Para
1,25 x 2,5mm, aumentam a resistência da prótese total diagnóstico do problema apresentado, realizamos
(VALLITTU; LACILLA, 1992). inspeção visual da prótese, avaliação da dimensão
Estudos sobre o efeito do reforço metálico vertical de oclusão e ouvimos o relato da paciente
concluíram que a localização do reforço metálico afeta quanto ao uso e manutenção da prótese.
a resistência à fratura da resina acrílica de uma prótese Para planejamento e execução das etapas de
total maxilar; que as próteses reforçadas na região confecção de uma prótese total, foi realizada
anterior, bem como nas regiões posterior e anterior, moldagem anatômica para confecção de moldeira
tinham uma maior resistência à flexão do que as individual. A moldagem funcional foi realizada com
próteses sem reforço; e que as próteses reforçadas nas poliéter (Impregun regular, 3M) em moldeira
regiões anteriores e posteriores mostraram individual e o modelo resultante (figura 2)
significativamente menor deflexão em relação aos encaminhado ao laboratório para confecção de base de
demais (YOSHIDA; TAKAHASHI; SHIMIZU, 2011). prova.
O desenho de uma estrutura em cobalto-cromo, com Para que fosse realizada a estrutura metálica
cobertura de palato, foi testada em pesquisa que correspondente a uma barra dupla com contra-placas
avaliou a resistência à fratura e, como resultado, nos dentes anteriores, foram realizados os registros do
ocorreu uma aumento significativo da resistência à arco facial, registro da relação maxilo-mandibular,
fratura. (SHIMIZU et al., 2005) linha média e linha do sorriso. Para obtenção da
Vários autores descreveram técnicas para uso relação maxilo-mandibular, realizamos testes fonético,
de estruturas metálicas suspensas reforçadas dentro de métrico e estético. Ocorre que a D.V.O estabelecida e
bases de prótese antes de processar o material de testada evidenciou o pouco espaço interoclusal entre as
revestimento. Esta técnica permitiu a manutenção de arcadas, podendo ser esse um dos fatores que levava
uma quantidade de espaço para a resina entre o modelo aos episódios de fratura e soltura de dentes. Os
e o metal, aumentando a força resultante da prótese modelos, já montados em A.S.A (Bio-art, Ribeiraão
(BALCH et al., 2013). Preto-Brasil), foram encaminhados a laboratório para
confecção de estrutura metálica em cobalto-cromo,
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO tomando por referência a oclusão da paciente, sem
alterar a dimensão vertical.
Paciente K. S. L, gênero feminino, 60 anos, O planejamento do caso indicou a confecção
com histórico de fratura na base da prótese total de uma estrutura semelhante à barra dupla palatina,
superior, solicitou atendimento para avaliação e parte suspensa no interior da resina e outra parte
confecção de nova prótese total (figura 1). Após aparente para manter os contatos oclusais com os
1083
dentes naturais antagonistas. Para a prova da estrutura,
o laboratório confeccionou uma nova base de prova em
resina e cera, com a estrutura posicionada
internamente, permanecendo livres apenas as
contraplacas para contato oclusal na região anterior
(figuras 3, 4, 5, 6). Foi realizada a prova da estrutura e,
posteriormente, a prova dos dentes (Trilux, Vipi
Produtos Odontológicos), e em ambas as fases foi Figura 2 – Modelo de trabalho.
solicitado à paciente a realização de movimentos de
desoclusão para verificação do posicionamento das
partes metálicas (contra-placas) e dentes artificiais
(figuras 7 e 8). A manutenção da dimensão vertical de
oclusão foi mantida e monitorada durantes a fase de
provas para que não ocorresse alteração.
Para a etapa de instalação (figura 9 e 10),
foram realizados ajustes na extensão dos bordos e
recorte para liberação do freio labial. Quanto à oclusão, Figura 3 – Modelo de trabalho com base de prova com
estrutura metálica posicionada.
novos testes foram realizados com marcadores de
carbono e poucos ajustes foram necessários (figuras 8 e
9). As orientações de manutenção e higienização foram
passadas à paciente e os retornos regulares indicados.
Após 6 anos de acompanhamento periódico, não
ocorreram mais relatos de fratura ou soltura de dentes
da base da prótese total.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
D
e acordo com a definição formal, O grande número de cáries e de doenças
paciente especial é todo o periodontais encontradas nessa população pode ser
indivíduo que não pode receber explicado por sua incapacidade para a realização da
tratamento dentário usual em decorrência de alguma higiene oral correta. Respiração bucal, anormalidades
doença ou deficiência física, mental, sensorial, de de oclusão, dieta alimentar cariogênica e efeitos de
algum distúrbio emocional ou da combinação destes. medicamentos são também fatores que contribuem para
(JACOB, et al. 2004). o aparecimento dos problemas (WOLF, 2002).
A presença de um paciente com necessidades
especiais no consultório dentário, para devido DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
tratamento, pode causar desconforto e/ou insegurança,
se o profissional não estiver habituado e preparado para Paciente de 59 anos, Leucoderma, com queixa
atendê-lo. principal de “não consigo comer” e “dentes feios”, com
A ineficiência da assistência odontológica aos deficiência mental, ou melhor, quadro de Hipóxia-SIC,
pacientes com necessidades especiais pode ser ao nascer.
atribuída a diversos fatores, tais como: a falta de O apelo deste caso não foi o planejamento, e
conhecimento e de preparo dos profissionais para o sim, a execução, uma vez que, sendo a paciente
atendimento a estes pacientes, as informações portadora de necessidades especiais, o desafio foi
inadequadas quanto às condições de saúde bucal e as realizar todos os procedimentos necessários para a
necessidades odontológicas, e o descrédito da reabilitação oral.
importância da saúde bucal pelos cuidadores e ou
responsáveis. (CASTRO et al. 2010).
Do ponto de vista puramente intelectual, a
deficiência mental é tradicionalmente classificada em
níveis, de acordo com as manifestações que são
medidas pelos testes de inteligência (WOLF, 2002).
O uso do termo paciente especial acaba sendo
uma forma de generalização que não traduz a realidade
dos pacientes atendidos pelos cirurgiões-dentistas.
(MARCHIONI, 1998). Na maioria das vezes, o
paciente declarado como especial, permite que o
tratamento seja realizado desde que o profissional,
consiga estabelecer com ele uma relação de confiança
(WOLF, 2002).
Esses pacientes normalmente necessitam Figura 1- Fotos do caso inicial.
muito dos profissionais da área de saúde, e por
apresentarem em muitos casos um alto índice de cáries Na primeira sessão, foi realizada a acolhida da
e problemas periodontais, necessitam muito dos paciente e da cuidadora, a fim de integrar as mesmas ao
cirurgiões-dentistas e dos protesistas por necessitarem ambiente clínico e aos profissionais que realizariam o
muitas vezes ser reabilitados pelo uso de próteses. atendimento. No âmbito profissional, trabalhar com
1088
pacientes com necessidades especiais traz desafios e o Parcial Removível Inferior.
trabalho junto a esse grupo deve, necessariamente,
superar a simples capacitação técnico-científica,
abrangendo também as competências
organizacionais/metódicas e as sociais. (SANTOS et
al., 2009).
Esse primeiro contato foi importante para
analisar o que a paciente esperava, e mais ainda, a sua
cuidadora, que por ser da família (irmã), tinha outras
expectativas com relação ao tratamento. Essa, por sua
vez, queria um tratamento rápido e o menos invasivo
possível.
Os exames complementares, Rx panorâmico e
periapicais, evidenciaram cáries e problema
periodontal que indicavam a necessidade de
exodontias. Os passos seguintes foram: encaminhá-la
para o médico responsável, a fim de avaliar a saúde e a
Figura 2 - Exodontia total superior e Prótese Total
possibilidade de realizar determinados procedimentos.
Temporária.
Segundo estudo, 62% dos pacientes com
necessidades especiais avaliados, fazem uso constante
de medicamentos, sendo anticonvulsivantes,
antipsicóticos, ansiolíticos, antiepilépticos e
antidepressivos; note-se que grande número deles
(47,0%) usa dois ou mais tipos de medicamentos
(DOMINGUES, et al. 2015). Portanto, o
encaminhamento para outros profissionais, no caso um
médico, torna-se necessário para o melhor
conhecimento do caso, e divisão de responsabilidades,
frente às dificuldades no tratamento destes pacientes
(FONSECA, et al., 2010).
Foram obtidos modelos de estudo que foram
montados em Articulador Semi-Ajustável foram
realizadas. Especialmente durante o procedimento de
moldagem, era necessário que a paciente estivesse
muito ciente do procedimento e estivesse calma,
evitando náusea e engasgamento. O plano de
tratamento foi determinado e aprovado junto à
cuidadora: Exodontia total superior e instalação de
Figura 3- Prova dos dentes.
Prótese Total Superior Temporária, Exodontia dos
elementos 32,31 e 47, Confecção Prótese Total, Prótese
1089
nas mãos de um especialista competente e interessado
no seu bem estar, sendo, no entanto, impossível
recomendar uma conduta rotineira, padronizada ou
única. (SANTOS et al., 2009). Dessa forma, todos os
procedimentos necessários foram realizados com
colaboração da paciente, já que se supõe que o método
utilizado atendeu as expectativas da cuidadora e
permitiu um interação saudável com a paciente.
REFERÊNCIAS
N
o dia a dia clínico, todo resultados excelentes do ponto de vista biológico
profissional se depara com uma (ARAÚJO et al., 2010).
grande reabsorção e remodelação O objetivo desse trabalho foi avaliar a
óssea após qualquer tipo de exodontia. A situação capacidade de aumento em espessura óssea utilizando
ainda pode se agravar caso o elemento em questão um biomaterial xenógeno particulado bastante
apresente processo infeccioso local e/ou algum tipo de consagrado na literatura internacional.
reabsorção óssea envolvida. Observamos tal colapso
dos tecidos envolvidos, principalmente na área da DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
crista marginal e vestibular, devido à fina camada
óssea ali presente. Ocorre o rompimento do Paciente do sexo masculino, 40 anos de
suprimento sanguíneo dos ligamentos periodontais e idade, apresentava fratura radicular do elemento 11,
assim se inicia este processo fisiológico, o qual com fístula na região vestibular, recessão gengival e
dificulta o tratamento com implantes, pondo em risco com o desconforto do dente estar sempre soltando. Na
o resultado estético final (ARAÚJO; LINDHE, 2005; anamnese, relatou também ter feito, no passado, uma
MISAWA et al., 2015). cirurgia de apicectomia neste dente.
Durante um período acreditou-se que a Após o exame clínico, fotográfico e
colocação de um implante imediatamente após a tomográfico, verificou-se grande reabsorção óssea na
exodontia, inibiria o processo de reabsorção dos parede vestibular.
tecidos. Estudos mais recentes provaram que o
processo de colapso tecidual é exatamente o mesmo
(ARAÚJO; LINDHE, 2006).
Com o objetivo de devolver o volume ósseo
do alvéolo ou preservá-lo em situações favoráveis,
estudos comprovam que a melhor forma é a enxertia
com biomaterial de lenta reabsorção, o qual minimiza
a reabsorção dos tecidos após a exodontia (ARAÚJO
Figura 1 – Imagem inicial do dente 11.
et al. 2009). O padrão ouro para a técnica de enxertia é
o osso autógeno, devido às suas propriedades
osteogênica e osteoindutora (MISCH; MISCH, 1995 ).
Mas pelo fato de necessitar de uma outra área doadora
e, consequentemente, uma maior morbidade para o
paciente (CHIAPASCO, 2009), a indústria vem
desenvolvendo materiais que consigam recuperar o
volume ósseo perdido com uma eficiência semelhante
ao osso autógeno. Figura 2 – Tomografia Computadorizada do dente
O osso bovino liofilizado, por apresentar fraturado.
propriedades físico/química semelhantes ao osso
humano (GALIA et al, 2008), vem sendo muito O planejamento de todo o tratamento foi
utilizado na substituição do osso autógeno com
feito, informado e aceito pelo paciente, e consistia
1092
inicialmente da exodontia do dente 11, curetagem de
toda a lesão, enxertia com o osso bovino liofilizado
particulado e utilizando a técnica de ROG com
membrana de lenta absorção. Após 6 meses, foi
instalado o implante e 6 semanas depois, a coroa
provisória foi feita e, em seguida, foi realizada uma
coroa em zircônia- E-max.
No pré-operatório imediato, 1 hora antes da
Figura 4 – Colocação do enxerto ósseo.
cirurgia, foi feita uma medicação profilática de 2,0 g
de Amoxicilina e 4mg de Dexametasona. O bochecho
Por se tratar de uma área infectada na qual foi
de 1 minuto com Periogard (Colgate – S.B.Campo,
instalado o enxerto, optou-se por uma medicação pós-
SP, Brasil) foi feito e aplicou-se o anestésico
operatória de Amoxicilina 875 mg de 12/12 hs, por 07
Lidocaína 2% (DFL – Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Na
dias, e Lisador 500 mg, de 8/8 hs, nas primeiras 24
sequência, foi feita a exodontia do dente 11 e uma
hs.
incisão relaxante na distal do mesmo e o rebatimento
Nos pós-operatório de 15 e 30 dias,
de todo o retalho para melhor visualização do defeito
observou-se excelente resposta inflamatória e
causado pelo processo infeccioso.
reparadora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O dentários
conceito em
renovou
reabilitação
oral, devido ao alto índice
de sucesso apresentado. A proposta inicial do
o ósseo (SKALAK, 1988). Algumas
complicações mais relatadas são o desaperto e
as fraturas dos parafusos dos intermediários e
das próteses (ADELL et al., 1981; BINON,
das
professor P-I Branemark e equipe era reabilitar 2000; BRUNSKI et al., 2000; CIBIRKA et
pacientes totalmente desdentados mandibulares, al.,2001; KHRAISAT et al.,2002).
substituindo, assim, as próteses totais Existem duas regiões principais de
convencionais por uma estrutura fixa totalmente concentração de tensão nos parafusos, onde
implantossuportada, sobre quatro a seis provavelmente se inicia a fadiga e,
implantes instalados na região interforaminal, consequentemente, a falha. A primeira está
prótese conhecida como Protocolo de entre a haste e a cabeça do parafuso, e a segunda
Branemark (BRANEMARK et al., 1977). está na região da primeira rosca do parafuso.
O Sistema All-on-four, descrito por Por essa razão, Paterson e Jhons (1992)
Maló et al. (2006), consiste em um desenvolveram estudos que evidenciam ser a
aperfeiçoamento da técnica reabilitadora em deformação plástica e a fadiga do metal, as
pacientes totalmente edêntulos. Representa uma principais responsáveis. A fadiga é o fenômeno
metodologia rápida e de menor custo que que ocorre com a alteração na estrutura do
permite a fixação de uma prótese fixa sobre material, devido a esforços cíclicos. Essa
apenas quatro implantes para reabilitar alteração é permanente, localizada e
completamente a arcada. Esta técnica visa à progressiva, que pode levar à fratura dos
instalação de apenas quatro implantes, sendo os parafusos, após determinado número de ciclos.
dois mais posteriores instalados na posição de O material de escolha dos parafusos é o
pré-molares inclinados em até 45 graus, com a titânio, que possui características mecânicas
plataforma protética emergindo na posição do similares aos implantes. No entanto, seu módulo
segundo pré-molar ou do primeiro molar, e os de elasticidade é alto em se tratando de material
dois anteriores instalados verticalmente na metálico (ERNEKLINT et al., 2006).
posição de incisivos centrais, laterais ou
caninos. As plataformas protéticas das fixações DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
posteriores, saindo em posição mais distal,
permitem a diminuição ou eliminação de braços Paciente do gênero masculino, 56 anos,
de alavanca ao cantilevers. Os resultados saudável e não fumante, apresentou-se com
clínicos iniciais têm validado a modalidade, no queixa de mobilidade na prótese protocolo
entanto, estudos biomecânicos desse tipo de inferior. Relatou que há aproximadamente cinco
reabilitação são encontrados em menor número anos faz uso das próteses protocolo superior e
na literatura. inferior. Confirmou a semestralidade do
A biomecânica é determinante no controle e manutenção das mesmas, e que nunca
sucesso dos tratamentos, bem como da ocorreu problema semelhante.
compreensão do mecanismo de transferência de
1097
Quando da remoção das próteses, foi análogo do implante portador do mini-abutment
identificada a utilização do sistema All-on-four trocado foi feito um isolamento com silicona
nas duas arcadas, com a constatação de fratura pesada (Zetaplus- Zhermack Clinical- Italy).
do parafuso de mini-abutment do implante mais
posterior do lado direito. Foi, portanto, proposta
a troca do mini-abutment com o parafuso
fraturado. Ocorre que no sistema All-on-four, os
implantes mais posteriores são instalados com
angulação de 45 graus e para correção desta
angulação, para confecção das próteses, é
indicado um mini-abutment angulado em 30
graus. Esse mini-abutment tem o sistema
rotacional, o que prejudica a reutilização da
barra fundida, pela impossibilidade de
adaptação desta ao novo mini-abutment
instalado.
Próteses instaladas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
s crescentes demandas da DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
sociedade atual têm levado os
pacientes a procurarem cada vez Paciente M.C., sexo feminino, 54 anos,
mais soluções em restaurações estéticas. A utilização procurou a clínica do curso de Mestrado em Prótese
de restaurações indiretas em dentes com grandes falhas Dentária da São Leopoldo Mandic – Unidade
de esmalte e dentina tem sido uma área da reabilitação Campinas, para reabilitar os dentes anteriores da
dentária que tem recebido inovações constantes, quer maxila (figura 1).
nos materiais, quer nas técnicas (KUNZELMAN et al.,
2007). O uso tradicional de coroas metalocerâmicas
tem dado lugar a coroas metal-free com propriedades
vantajosas, como o potencial de reproduzir a textura, a
profundidade de cor e a translucidez dos dentes
naturais (ANUSAVICE, 2003). O uso de cerâmicas
metal-free em dentes anteriores tem sido preconizado
como procedimento de escolha, principalmente em
pacientes com linha de sorriso alta. Dos diferentes
materiais cerâmicos disponíveis, a zircônia tem
ocupado um lugar de destaque pelas suas propriedades
superiores às cerâmicas feldspáticas tradicionais
(LLUSAR et al., 2002). A zircônia possui excelente
adaptação marginal, biocompatibilidade e uma estética
Figura 1 - Fotografia Inicial.
satisfatória, além de apresentar uma elevada
resistência. A confecção da peça é feita pelo processo
CAD/CAM, o qual permite transportar a imagem do A paciente já possuía tratamento endodôntico
preparo para uma tela de computador, desenhar a peça e pinos metálicos intrarradiculares nos dentes 11, 21 e
através de softwares específicos e imprimir em uma 24, pino de fibra de vidro no 22 e implante no 23
unidade especial de fresagem. Após avaliação (figura 2).
criteriosa do caso clínico, observou-se que a estrutura
de suporte e o remanescente existente eram propícios
para a reabilitação. O planejamento desta reabilitação
consistiu em confeccionar coroas de Lava (3M/Espe)
para o restabelecimento estético, funcional do paciente.
O clareamento com gel e moldeira foi previamente
executado para potencialização do resultado estético.
Este caso cínico relata uma reabilitação de dentes
anteriores da maxila com um Sistema de cerâmica
fresada Lava All-Ceramic System, tanto sobre dentes Figura 2 – Remanescentes dentais, núcleos e munhão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Cristiano Moreira
Eduardo Veloso Silva
Vinicius da Rocha Moraes
Milton Edson Miranda
1106
A
valorização da estética pela Paciente A. R.S, sexo masculino, 47 anos,
sociedade estimulou o procurou a clínica do curso de Mestrado em Prótese
desenvolvimento de materiais que Dentária da São Leopoldo Mandic – Unidade
atendessem essa demanda. Até meados da década de Campinas, para melhorar a estética dos dentes 12, 11,
1980, as únicas opções restauradoras indiretas estéticas 21 e 22. O paciente já possuía tratamento endodôntico
em dentes anteriores eram as coroas metalocerâmicas e pino intrarradicular no dente 12. Os dentes 11, 21 e
ou metaloplásticas (RAIGRODSKI, 2001). 22 estavam vitais.
A cerâmica é o material que melhor imita o O aspecto inicial do paciente apresentava
dente natural, principalmente no aspecto cor e dentes com coloração escurecida e diversas
transmissão de luz (GIORDANO, 1996). As limitações restaurações nos dentes anteriores superiores (Figura
das restaurações metalocerâmicas em relação ao 1). Após anamnese e inspeção clínica, foi proposto um
sombreamento na área gengival e a crescente demanda clareamento caseiro e posterior confecção de coroas
por estética na odontologia, tem impulsionado o livres de metal em dissilicato de lítio (IPS e.max Press,
desenvolvimento de cerâmicas que possuam Ivoclar Vivadent) nos dentes 12, 11, 21 e 22.
capacidade de otimizar a estética, biocompatibilidade,
estabilidade de cor, resistência ao desgaste e baixa
condutibilidade térmica (STUART, 2007; ODEN et al.,
1998).
O sistema IPS e.max Press (Ivoclar Vivadent)
se destaca como opção metal free, devido à
possibilidade de reproduzir a naturalidade da estrutura
dentária, estabelecendo cor, forma e tamanho no
sorriso do paciente, assim como mantendo boas
propriedades mecânicas (MIRANDA, RAMOS
Figura 1 - Aspecto inicial
JUNIOR, 2011).
O sucesso de um tratamento estético depende
Na primeira sessão, foi realizada moldagem
da comunicação entre paciente, dentista e protético,
das arcadas superior e inferior do paciente para que
cujo objetivo é identificar e confrontar as expectativas
fossem confeccionados modelos de estudo nos quais
e o que realmente é possível ser realizado. O
seriam realizadas as moldeiras de clareamento caseiro e
planejamento e investigação do caso são fundamentais
posterior e montagem em articulador semi- ajustável.
a fim de que o sucesso seja alcançado. Fotografias do
Na segunda sessão, foram adaptadas as
paciente devem ser feitas, bem como modelos de
moldeiras de clareamento, o paciente foi orientado
estudo, enceramento diagnóstico e mock-up, para que
sobre as instruções do clareamento dental e.
juntos, paciente, dentista e protético, atinjam o
posteriormente. foram entregues as moldeiras de
resultado almejado (ROSSATO et al., 2010).
clareamento com duas seringas de agente clareador
peróxido de carbamida 10% (Whiteness - FGM).
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Na terceira sessão, avaliou-se o clareamento e
1107
optou-se por entrega de mais duas seringas do agente
clareador. Foi solicitado ao laboratório que realizasse o
enceramento diagnóstico dos elementos 11, 12, 21 e 22
(figura 2).
Figura 4 – Mock-up.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
C
om a demanda pela estética exigida tomográficos, análise da linha do sorriso e do tipo
pela sociedade nos últimos anos, cosmético devem ser realizados antes da intervenção
ocasionou a busca dos pacientes cirúrgica, com o intuito de antecipar a resolução
pela harmonia do sorriso. Nestas condições, os protética. Por meio do planejamento reverso é possível
implantes dentários concomitantemente têm alcançado visualizar a necessidade de cirurgias reconstrutivas
lugar na escolha do tratamento reabilitador oral prévias, bem como oportunizar a confecção de prótese
(BISPO, 2010), visto que as próteses convencionais, com resultados estéticos e funcionais previsíveis
principalmente nos casos em que a perda de elementos (VOLPATO et al, 2012).
dentais é maior, não são adequadas quanto a alguns O suporte labial e da musculatura orbicular
aspectos, como retenção e estabilidade. Fato este que dos lábios é determinado pela posição fisiológica e
diminui a capacidade mastigatória do paciente, estética dos dentes superiores e pelo processo alveolar
influenciando, também, o seu convívio social. do osso maxilar. As perdas dentárias e ósseas exercem
A reabilitação oral em pacientes edêntulos é uma maior influência na harmonia estética do perfil do
um desafio que a odontologia atual vem tentando paciente (PADOVAN et al, 2011).
superar com implantes osseointregrados. O tratamento Não há um protocolo único a ser seguido para
de Branemark é caracterizado em duas etapas - todos os pacientes, necessitando de planejamentos
cirúrgica e protética -, com intervalos de quatro a seis específicos para cada caso clínico. Levando em
meses para mandíbula e maxila. Mas, atualmente, com consideração fatores como quantidade e qualidade
os avanços alcançados pela odontologia, é possível óssea, necessidade de suporte de lábio, coordenação
realizar a implantação em 72 horas. Primeiramente, são motora, expectativa do paciente, habilidade
instalados de quatro a seis implantes, que ficam em profissional, aspecto financeiro estão envolvidos neste
repouso durante quatro meses e, a partir daí, servem tipo de reabilitação (MYASHITA; PELLIZZER;
como sustentação para uma prótese fixa. Sobre esses KIMPARA, 2014).
implantes, os pilares são aparafusados e, em cima O sucesso de uma reabilitação oral depende de
deles, a prótese, que é feita a partir de uma barra um bom planejamento, além de uma moldagem
metálica onde os dentes acrílicos são fixados acurada, de forma que os modelos de trabalho
(BRANEMARK et al, 1969). resultantes dupliquem precisamente a condição clínica.
A prótese sobre implante é uma modalidade Na moldagem em próteses
de tratamento cirúrgico-protético que visa reabilitar implantossuportadas, o objetivo principal é registrar
simultaneamente as perdas dental e tecidual por meio com precisão a posição dos implantes e dos tecidos
de implantes (responsáveis por suporte, retenção e moles, utilizando componentes específicos para a
estabilidade) e próteses (responsáveis por distribuição transferência e análogos metálicos dos intermediários
de forças, função e estética) segundo Volpato et al ou dos implantes (TELLES; HOLLWEG;
(2012). CASTELLUCCI, 2005).
A interação entre a fase cirúrgica e protética é A partir das considerações anteriores, será
imprescindível, pois é a prótese que guia o relatado um caso de protocolo parcial superior de
posicionamento cirúrgico dos implantes. maxila.
Procedimentos como enceramento diagnóstico,
confecção de guias protéticos, exames radiográficos e
1112
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
crescente gama de informações e a eficaz e duradouro (LACERDA et al., 2011; TERENZI
valorização dos conceitos de et al., 2016).
prevenção em saúde bucal, aliadas A etiologia de desgaste deve ser determinada
à evolução nos tratamentos odontológicos, estão antes de qualquer intervenção (BARTLETT; SHAH,
possibilitando uma maior longevidade na manutenção 2006). Para casos complexos que envolvem a
dos elementos dentários na cavidade bucal (TERENZI reabilitação estética e funcional, o clínico deve planejar
et al., 2016). o tratamento de forma diligente, tendo em conta a
A saúde do sistema mastigatório está necessidade de alterar a dimensão vertical e o tipo de
intimamente relacionada com a dimensão vertical de oclusão a ser incorporado (DUA; SINGH; AGHI,
oclusão. Qualquer alteração radical da dimensão 2011).
vertical da oclusão é potencialmente prejudicial para o Após a análise funcional e estética, as
sistema mastigatório (DUA; SINGH; AGHI, 2011). restaurações de resina composta diretas e coroas
Sabendo-se que a erosão dentária é causada metalocerâmicas e cerâmicas são opções para reparar o
por uma variedade e combinação de fatores, é essencial desgaste dental causado (DIETSCHI; ARGENTE,
que o cirurgião-dentista esteja apto a detectar as 2011). O desenvolvimento de técnicas adesivas
alterações decorrentes do constante contato da forneceu abordagens conservadoras para restaurar
cavidade bucal com os ácidos extrínsecos e intrínsecos dentes severamente desgastados pelo uso de resina
e reconhecer as lesões de erosão no seu estágio inicial, composta direta e guias de silicone feitos a partir de um
utilizando-se de uma anamnese detalhada e um modelo encerado. Algumas vantagens da utilização de
criterioso exame clínico (LACERDA et al., 2011; procedimentos diretos com resina composta incluem o
TERENZI et al., 2016). menor tempo dispensado no processo, resultados
Esse tipo de lesão é caracterizada pela perda imediatos, fornecendo boa estética a um baixo custo
progressiva e não bacteriana de tecidos dentários duros (MENGATTO; SOUZA; JUNIOR, 2016).
que sofreram ação química de ácidos (TERENZI et al., A utilização de placas para o restabelecimento
2016). prévio da dimensão vertical possibilita a recuperação
As erosões dentárias produzidas pelo refluxo definitiva da mesma por meio de restaurações diretas
ácido na doença do refluxo gastroesofágico, com resinas compostas e coroas metalocerâmica e
usualmente, progridem lentamente ao longo dos anos e cerâmica, que são opções para reparar o desgaste dental
frequentemente não são detectadas por paciente, causado pela parafunção e erosões (RODRIGUES et
médico ou cirurgião-dentista até os danos serem al., 2010).
evidentes, atingindo a dentina e provocando A principal vantagem de uma restauração livre
sensibilidade (LACERDA et al., 2011). de metal é o benefício estético. A coroa de cerâmica
Um plano de tratamento restaurador deve ser livre de metal pode transmitir uma grande quantidade
instituído quando necessário, estimulando o paciente ao de luz incidente através de um núcleo de cerâmica onde
tratamento multidisciplinar, em que muitas vezes o a luz é espalhada de uma forma natural (AGRAWAL;
cirurgião-dentista necessita de envolvimento médico e SANKESHWARI; PATTANSHETTI, 2012).
psicológico para alteração do hábito nocivo do Em relação à escolha de opções de
paciente, a fim de se ter um tratamento restaurador restaurações diretas e indiretas para a reabilitação oral
de pacientes, não há consenso na literatura sobre os
1117
melhores materiais e técnicas (MENGATTO; SOUZA; retenção e estabilidade, estética e higiene (SINGH;
JUNIOR, 2016). SINHA, 2014).
Onlays de cerâmica parecem ser ideais para a Outro fator importante a ser considerado é a
reconstrução desgastada e corroída dos dentes desoclusão dos dentes durante excursões que
posteriores, porque elas oferecem interfaces de esmalte preservam a integridade de todo o sistema
que permitem uma preparação particularmente suave estomatognático, resultando, assim, em uma
da estrutura do dente, não se estendendo para uma restauração de longa duração e funcional (AVINASH
região intrasulcular, além do equador protético et al., 2014).
(MAGNE; BELSER, 2003).
Neste contexto, deve-se ter em mente que a DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
maioria dos estudos clínicos de longo prazo são
baseados em cerâmicas de vidro reforçadas por leucita, Paciente LVCS, do gênero masculino, 41
enquanto que hoje, materiais cerâmicos anos, apresentou-se ao consultório, relatando a perda
consideravelmente mais fortes, com base em dissilicato da estética. Ao ser realizado o exame clínico, o
de lítio, estão disponíveis. Eles permitem um método paciente apresentava desgastes generalizados na região
de preparação sem necessidade de uma concepção de dos dentes posteriores, perda de DVO, trespasse
retenção, oferecendo uma opção de tratamento vertical acentuado, gerando trauma constante nos
adequada para evitar um tratamento invasivo incisivos centrais superiores. Na anamnese, relatou
convencional (EDELHOFF et al., 2016). dores musculares na face e refluxo gastroesofágico, já
Em comparação com a cerâmica de silicato em tratamento com médico gastroenterologista.
convencional, materiais cerâmicos de dissilicato de Inicialmente, foi realizada a documentação
lítio (IPS e.max Press ou IPS e.max CAD, Ivoclar através de fotografias extraorais e intraorais (figuras 1
Vivadent) ofertam melhor resistência à flexão e à e 2) e radiografia panorâmica. Foi realizada a medição
fratura. Desde a introdução de dissilicato de lítio, as da DVO do paciente por meio do compasso de Willis,
profundidades de preparação recomendadas para obtendo-se o valor de 5,6 cm (DVO habitual), e
onlays vitrocerâmicos foram reduzidas procedimentos como: moldagens anatômicas, obtenção
significativamente. Hoje em dia, uma espessura dos modelos de estudo e montagem em articulador
mínima de 1 mm para oclusal é recomendada para semi-ajustável (ASA). Após análise do caso, foi
restaurações monolíticas (técnica de coloração) sugerido ao paciente, como tratamento, a reabilitação
(FRADEANI et al., 2012; MA; GUESS; ZHANG, com onlays em IPS e.max Press (Ivoclar Vivadent,
2013). Barueri, SP, Brasil) e placa miorrelaxante.
A confecção de guias de silicone sobre o Os modelos foram remontados em articulador
enceramento é essencial para fornecer previsibilidade semiajustável (ASA), com a DVO ideal de 5,8 cm para
das restaurações finais para o clínico, servindo como a confecção de placa desprogramadora de Michigan, a
guia para a fabricação de restaurações provisórias qual foi usada durante 2 meses com ajustes quinzenais,
(SEOL et al., 2010; SINGH; SINHA, 2014). para reposicionamento dos côndilos e um melhor
Uma boa restauração provisória deve cumprir relacionamento maxilomandibular, obtendo a posição
certos requisitos vitais como a proteção pulpar, função ideal de relação central. O paciente apresentou-se
oclusal, integridade marginal, durabilidade estrutural, assintomático durante o uso da placa.
Definida a nova dimensão, o enceramento de
1118
diagnóstico dos dentes 15, 14, 13, 12, 22, 23, 24, 34 ao restabelecimento da DVO do paciente (figuras 9 e 10) e
37 e 44 ao 47 foi executado (figuras 3 e 4), com a uma nova placa em acrílico foi confeccionada para uso
preocupação de não somente devolver a estética, mas a noturno contínuo, devido ao hábito parafuncional de
função, através do restabelecimento das guias anterior, apertamento apresentado pelo paciente.
canina e pontos de contato oclusais ideais.
Após a confecção do guia de silicone, com
silicone de adição (Elite, Zhermack – Labordental
Ltda, São Paulo, SP, Brasil), foi realizado o mock-up,
ensaio do enceramento com resina bisacrílica na cor
A2 (Structur 2, Voco do Brasil Ltda, Porto Alegre, RS,
Brasil), permitindo uma correta visualização do
resultado final esperado.
Após estes procedimentos, foram realizados
os preparos dentais, iniciando-se pelos dentes
inferiores. A técnica utilizada para a moldagem Figura 1 - Vista inicial intraoral dos elementos posteriores
Após ajustes finais, verificou-se o confecção das onlays nos dentes 34-37 e 44-47, e
restaurações de resina composta nos dentes 15, 14, 13, 12,
1119
22, 23, 24.
A reabilitação oral é um tratamento DUA, P.; SINGH, J. P.; AGHI, A. Aesthetic and
Functional Rehabilitation of a Case of Mutilated
multidisciplinar e complexo. O diagnóstico correto e o Dentition and Loss of Vertical Dimensions. Journal of
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EDELHOFF, D. et al. Minimally invasive treatment
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presente caso clínico, nos leva para um tratamento FONSECA, J.; NICOLAU, P.; DAHER, T. Maxillary
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Capítulo 189
Embora
procedimentos
disponíveis no mercado.
a cimentação
de condicionamento
convencional
restaurações de óxido de zircônia com agentes
de
DESCRIÇÃO DO CASO
Figura 1 - Vista inicial intraoral dos dentes anteriores, USA) para promover o afastamento gengival horizontal
demonstrando o diastema e a saúde gengival. (figura 4).
1125
estética para fechamento de diastemas em conjunto KERN, M., WEGNER, S. Bonding to zirconia
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Capítulo 190
Solução protética para implante
mal posicionado: relato de caso
clínico
A
reabilitação por meio de Por outro lado, algumas situações podem
implantes osseointegrados visa influenciar o posicionamento do implante para que
manter a integridade das o mesmo siga o alinhamento planejado como a
estruturas nobres intrabucais, propiciando ao posição do canal mandibular e a proximidade com o
paciente o retorno à funcionalidade do sistema seio maxilar. Essas dificuldades podem, em alguns
estomatognático e fonético, bem como recuperar a casos, ser sobrepostas com procedimentos
estética (NAGAPPA et al., 2016). cirúrgicos corretivos previamente à instalação do
Com o intuito de garantir um correto implante, como: enxerto ósseo, levantamento de
posicionamento do implante, bem como o sucesso seio e até reposicionamento do nervo alveolar
na confecção da prótese, o profissional deve inferior (EGER; GUNSOLLLEY; FELDMAN,
realizar um bom diagnóstico da área onde o mesmo 2000; GONÇALVES et al., 2008; BORTOLUZZI
será instalado e levar em consideração o tipo de et al., 2014; REIS; CALIXTO, 2015). Há, ainda,
prótese que será usada. Desta forma, por meio de casos em que o profissional se depara com implante
um planejamento retrógrado, avaliamos instalado em regiões com limitações anatômicas
previamente possíveis intercorrências pré e pós- como consequência de trauma ou reabsorção óssea
cirúrgicas passíveis de serem contornadas e/ou devido à doença periodontal prévia (ASAWA et al.,
esclarecidas ao paciente, de forma a obter uma boa 2015) e há situações em que o implante foi
previsibilidade do caso (AMOROSO et al., 2012). instalado sem o planejamento protético retrógrado.
Para tanto, utilizando-se de um minucioso exame Nestes casos em que o implante foi
clínico do tecido ósseo e tecido mole, exames de instalado previamente ao planejamento protético,
imagens apropriados como radiografia panorâmica, em local inadequado, sem alinhamento com o
tomografia computadorizada (ZORZAL et al., posicionamento dos dentes no arco, algumas
2011; SILVA; REBELLATTO; FERNANDES, compensações protéticas podem ser utilizadas para
2013; CARRARO; SANTOS, 2014) e valendo-se corrigir a angulação da prótese e viabilizar a sua
como apoio dos modelos de estudo montados em confecção sobre o implante sem comprometer o
articulador para avaliar com detalhe a dimensão resultado final quanto à função, viabilidade de
vertical de oclusão (DVO) e relações oclusais do higienização e estética (PAULINI et al., 2015). O
paciente, relação do espaço edêntulo com os tecidos profissional poderá utilizar-se de componentes
circunvizinhos, enceramento diagnóstico que protéticos angulados pré-fabricados que foram
poderá ser utilizado para confecção de um guia desenvolvidos com diferentes angulações
cirúrgico estável e rígido, orientando na instalação (BAHUGUNA et al., 2013; SANTOS et al., 2015)
do implante em posição proteticamente favorável e/ou pilares UCLA (Universal Castable Long
e/ou uso de modelo de prototipagem, o profissional Abutment) que podem ser esculpidos e fundidos
tenderá a instalar implantes no local e com dando o correto eixo de inserção da prótese
inclinação correta, permitindo o posicionamento da (GOIATO et al., 2015) e ser utilizados em próteses
prótese de forma favorável, bem como o unitárias ou múltiplas, parafusadas ou cimentadas.
direcionamento axial das forças mastigatórias Uma outra característica desse intermediário é que
(AMOROSO et al., 2012; TENÓRIO et al., 2015). ele pode se apresentar em formato rotacional e
1130
antirrotacional (CYRÍACO; SALVONI;
WASSALL, 2007; VERRI et al., 2015).
Este trabalho tem como objetivo, relatar
um caso clínico que apresenta como opção de
tratamento o uso de pilar UCLA (cromo-cobalto)
para compensar o mau posicionamento do implante,
corrigindo o alinhamento disto-mesial e vestibulo-
lingual da prótese.
Figura 3 - Caso inicial (vista oclusal do implante em
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO boca).
A B
C
A B C CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 4 - A) Transfer de impressão em posição. B)
Molde de transferência. C) Modelo de trabalho com o O conceito atual na Implantodontia
análogo do implante.
preconiza a colocação do implante baseado
no planejamento prévio da futura prótese e
Em outra sessão clínica, foi realizada a
não levando em consideração somente a
prova do pilar UCLA fundido em cromo-cobalto e
da coroa definitiva sobre implante (figura 5A e B). anatomia e disposição do osso
Para ajustes dos pontos de contato, olcusais em remanescente. Com esta estratégia de
Máxima Intercuspidação Habitual, protusão e planejamento, o resultado final permite ao
lateralidade, foi usado papel carbono (Accu Film II
paciente estética favorável, conforto,
®- Parkell, Edgewood, NY, USA). O acabamento e
acesso à higienização e função. Caso
polimento da coroa metalocerâmica foram feitos
com pontas de acabamento e polimento específicas contrário, o posicionamento inadequado do
para porcelana. O pilar foi parafusado sobre o implante no arco poderia gerar desequilíbrio
implante e, após dado o torque de 20N, a na harmonia facial, bem como transmissão de
cimentação definitiva da coroa metalocerâmica foi forças deletérias ao sistema estomatognático.
feita com cimento de fosfato de zinco (SS White, Embora este conceito seja validado pela maioria
Petrópolis, RJ, Brasil). A imagem 6 ilustra o caso dos profissionais na clínica diária, há situações em
finalizado e a radiografia periapical final. que os mesmos precisam usar de alguma alternativa
1132
para solucionar determinado impasse clínico. Na GONÇALVES, A. R. Q. et al. Avaliação do
sucesso de implantes osseointegráveis em enxerto
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por outro profissional, e que os mesmos estejam NAGAPPA, R. et al. Knowledge, attitude and
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com posicionamento inadequado, o uso de
regarding dental implants. Journal of International
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funcional de dentes anteriores, utilizando prótese
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Capítulo 191
Reabilitação estética anterior com
prótese fixa apoiada sobre
implantes na técnica da carga
imediata
Fernando Moro
Hélcio Mota
Milton Edson Miranda
1134
O
uso de implantes dentários como
Paciente R. M. P., gênero masculino, 70 anos,
alternativa para se conseguir
fazia uso de uma prótese fixa metalocerâmica
reabilitações protéticas na prática
envolvendo os dentes 31, 32, 41 e 42, sendo os
clínica revolucionou a odontologia, expandindo as
elementos 32 e 42 de suporte, e os elementos 31 e 41,
possibilidades de recuperação da função mastigatória,
suspensos. Devido à periodontite, houve perda óssea
fonética, estética facial e psicológica do paciente
nos elementos de suporte, com consequente mobilidade
(SCHNITMAN et al., 1990).
da prótese. Avaliando este quadro clínico, foi proposto
Os estudos iniciais sobre osseointegração,
realizar a exodontia das raízes comprometidas, repor
propõem um protocolo cirúrgico de dois estágios para
as unidades perdidas com implantes e instalar uma
se fazer a reabilitação protética, ou seja, após a cirurgia
prótese fixa nova. Porém, para evitar inconvenientes, o
de instalação dos implantes, devemos esperar de três a
paciente optou por não usar uma prótese removível
seis meses para realizar a prótese, período esse no qual
para repor os elementos perdidos enquanto ocorresse o
ocorrerá a osseointegração (TARNOW et al., 1997).
processo de osseointegração, para então ser instalada a
Durante este período de espera, na maioria dos casos,
nova prótese fixa. Perante esta situação, foi decidido
os pacientes usam próteses totais ou removíveis para
repor a prótese fixa perdida por outra, inicialmente
repor elementos dentários, que além de comprometer o
provisória sobre implantes, imediatamente após as
sucesso da terapia, causam uma grande insatisfação e
exodontias, usando-se a técnica da carga imediata.
desconforto ocasionado pelas mudanças teciduais no
Inicialmente, mediante moldagens com
pós-operatório, dificultando o ajuste das próteses e
alginato, foi realizado modelo de estudo das arcadas
necessitando de várias consultas ao dentista
superior e inferior, e confeccionada uma prótese fixa
(COLLAERT; BRUYN, 1998). Visando eliminar este
provisória, baseando-se na posição ocupada pela
desconforto, diminuir o tempo de tratamento e buscar
prótese fixa a ser extraída (figuras 1 e 2).
um aperfeiçoamento das técnicas de implantodontia e
prótese, propiciou-se o desenvolvimento de estudos
que visam otimizar o processo de osseointegração
(BALSHI; WOLFINGER, 1997).
Ao contrário do protocolo tradicional de dois
estágios, a carga imediata funcional em implantes pode
promover a osseointegração, de forma que os implantes
podem ser colocados em função após o ato cirúrgico
(RANDOW et al., 1999). De acordo com estes estudos,
este relato de caso clínico tem por finalidade ilustrar
um protocolo clínico de instalação de implantes
Figura 1 - Aspecto inicial do caso.
usando-se a técnica da carga imediata.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
aparência dental é um fator que dentição natural, com resistência adequada a longo
afeta diretamente o bem-estar do prazo (AQUINO et al., 2009; RODRIGUES et al.,
indivíduo e suas relações 2012; CUNHA et al., 2014).
interpessoais. Desta forma, quando há Tendo em vista a superioridade estética das
comprometimento da estética, busca-se por meio de facetas indiretas de cerâmica, estas podem representar
tratamentos restauradores, obter melhora da autoestima uma alternativa às facetas diretas em resina composta,
do paciente (PERRONI et al., 2015 que se mostram insatisfatórias e com falhas. Sendo
O sorriso pode estar comprometido devido à assim, o objetivo deste relato clínico é apresentar a
presença de lesões de cárie, ao escurecimento dentário, reabilitação do sorriso de uma paciente com facetas
a processos de desgaste, os quais proporcionam indiretas de cerâmica a fim de restabelecer a estética.
desequilíbrio na estética dentofacial (CARDOSO et al.,
2011).
A constante busca por um sorriso harmônico e
estético eleva o nível de exigência e de expectativa dos
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
pacientes. Neste contexto, as facetas laminadas
destacam-se como opção de tratamento para a
Paciente do sexo feminino, 32 anos, procurou
reabilitação estética na prática clínica, viabilizando atendimento queixando-se de insatisfação com seu sorriso.
procedimentos mais conservadores (DECURCIO; Pelo relato, informou que foram confeccionadas facetas
CARDOSO, 2011) e com mimetismo das estruturas diretas com resina composta, sem resultado estético
dentárias (SOARES et al., 2012). satisfatório (figura 1).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A substituição de facetas diretas em resina
composta insatisfatórias por facetas indiretas em
cerâmica proporciona a reabilitação estética do sorriso
dos dentes anteriores superiores.
REFERÊNCIAS
A
estética dentofacial é Nos últimos 25 anos, protesistas têm
particularmente importante para o modificado a maneira mecânica e arbitrária dos
bem-estar psicossocial do métodos de escolha, montagem e seleção dos dentes.
indivíduo. Estética denota preocupação com a beleza Até certo tempo, os protéticos seguiam certos padrões
ou apreciação da beleza. (AL-JOHANY et al., 2011). A em que colocavam dentes quadrados em faces
determinação da linha média em pacientes submetidos quadradas, dentes ovoides em faces ovoides, sem
à reabilitação oral é restabelecida pelo cirurgião- consideração individual e de harmonia do dente com a
dentista pela mera observação facial do paciente, sendo face (BOUCHER 2004), pois sabe-se que a estética na
assim, podemos conotar esse feito como pessoal e prótese total inclui fatores como: cor, forma, tamanho
observacional. A linha média facial é geralmente o dos dentes, exposição dentária, corretos trespasses
ponto de início do plano de tratamento estético vertical anteroposteriores, além da coincidência das
(SPEAR, 2011). linhas medianas. (PITHON et al., 2014). O objetivo
Uma consideração importante no arranjo dos hoje é fazer a prótese total do paciente parecer dentes
dentes anteriores é a questão da assimetria; um fator naturais. Os dentes disponíveis hoje tornam isso
chave na criação da linha média, que é uma linha possível e a maioria dos protesistas deve atender a esse
imaginária na qual separa os dois incisivos centrais quesito (BOUCHER, 2004).
superiores (MILLER et al., 1979). O primeiro ponto Uma das maiores dificuldades durante a
entre as sobrancelhas, conhecido como ponto Nasio, e seleção dos dentes anteriores para próteses removíveis
o segundo ponto, situado na base do filtro é determinar a largura mesio-distal dos seis dentes
labial,precisamente no centro do lábio superior, por anteriores. Devemos estabelecer métodos ou
meio da linha desenhada entre essas marcas, não estimativas que combinem a largura destes dentes
apenas localiza a posição da linha média da face, mas anteriores para melhorar os resultados estéticos
também determina a direção desta linha. (AL- (GOMES et al., 2006). Segundo estudo com
JOHANY et al., 2011). fotografias, notou-se que a maioria dos indivíduos,
É no desenvolvimento da estética e da fonética independente da faixa etária, aceitou de maneira
que os protesistas têm a maior oportunidade de mostrar positiva um desvio de linha média de até 3mm
bons resultados. Devemos procurar dentre os melhores (PITHON et al., 2014). Os protesistas são profissionais
dentes artificiais e materiais disponíveis no mercado e que possuem materiais e equipamentos além da
utilizá-los da maneira mais eficaz e artística capacidade técnica para reabilitar pessoas edêntulas
(BOUCHER, 2004), entretanto, restabelecer dentes com poder sobre a autoestima e a qualidade de vida,
artificiais anteriores, assemelhando-se aos dentes pois são capazes de devolver a autoconfiança e a
naturais perdidos, é um desafio significativo para o dignidade que eles tinham antes da perda dos dentes
dentista (BINDRA et al., 2001). Pacientes com naturais (BOUCHER, 2004).
extensiva perda dentária abrangem um grupo em que O desvio de linha média maxilar em prótese
a obtenção de dentes com aspectos naturais pode estar total é aceitável em valores próximos aos aceitos em
dificultada, ainda mais quando a expectativa do dentes naturais, que compreende entre 2 e 3mm.
paciente está acima da realidade (BINDRA et al., Desvios acima de 3mm repercutem negativamente na
2001). estética do sorriso (PITHON et al., 2014). A presença
de desvios de linha média nos sorrisos onde este desvio
1144
compreende entre 2mm e 3mm, de acordo com os encontram maloclusão quando existe discrepância entre
dentistas, comprometeram a atratividade do sorriso. Já os dentes e a linha média da face. Em certos casos, a
para os leigos, desvios entre 2mm e 3mm foram correção dental para a linha média facial não é direta e
julgados como atraentes (RODRIGUES et al., 2010). rápida e isso pode aumentar a complexidade e a
Linha média bem posicionada contribui para a duração do tratamento (JOHNSTON et al., 1999).
harmonia da face. Embora uma sutil assimetria esteja O movimento capaz de permitir que a linha
dentro dos limites aceitáveis, discrepâncias média dentária coincida com a linha média facial pode
significativas podem prejudicar a estética dentofacial ser difícil de ser alcançada. A discrepância entre linha
(NORMANDO et al., 2009). média facial e dentária pode influenciar no conjunto da
Muito embora o conceito da linha média esteja estética, caso estas não estejam alinhadas (BEYER;
bem definido na literatura, o mesmo não se pode LINDAUER 1998). Alcançar a coincidência da linha
afirmar quando é avaliada a capacidade de dentistas e média na maxila com a mandíbula é um objetivo que
leigos diagnosticarem os seus desvios, principalmente está bem estabelecido no tratamento ortodôntico
o impacto dessas alterações na atratividade estética (JOHNSTON et al., 1999).
(NORMANDO et al., 2009). Linhas médias dentárias coincidentes entre si
O conceito de estética é um julgamento de e coincidentes com a linha média facial são
beleza e nobreza. Entre aberrações na estética do importantes componentes estéticos e funcionais da
sorriso está a presença de diastema ocasionada por oclusão (NORMANDO et al., 2009). Avaliação,
diferentes tamanhos de dentes. O diastema da linha planejamento e restauração final, que leva em
central é uma queixa comum entre os pacientes consideração a linha média dentária com a linha média
(VISWAMBARAN et al., 2015). Do ponto de vista facial e uma curvatura do sorriso ascendente, é
estético, a linha média da face é um dos pontos considerada mais favorável à estética (NOLD et al.,
importantes na análise morfológica do sorriso 2014).
(NORMANDO et al., 2009). Muitas formas de terapia Contudo, a importância de uma linha média
podem ser utilizadas para o fechamento de diastemas. dentária e facial simétricas ou próximas devem ser
Um diagnóstico cuidadosamente desenvolvido, no qual levadas em consideração quando se almeja entregar ao
inclui a determinação da causa dos elementos e o paciente uma reabilitação com prótese total que se
avanço no plano de tratamento, permite a resolução assemelhe a dentes naturais. Em vista disso, surgem
mais apropriada para cada caso (OQUENDO et al., aparatos capazes de facilitar a obtenção da linha média
2011). O resultado final para resolução de diastemas na diminuindo a probabilidade de erros. A Esthetic
linha média deve ser um dos mais harmoniosos e CrossReff™ é um aparato para obtenção de linha média
agradáveis para o paciente. Esta meta pode ser capaz de melhorar a comunicação entre o laboratório e
encontrada clinicamente, caso sejam aplicados os dentista, registrando com precisão a linha média do
princípios modernos de design do sorriso e seguindo paciente e o plano horizontal. O laboratório pode,
™
um planejamento prévio para dar sequência ao então, usar o Esthetic CrossReff para montar os
tratamento (OQUENDO et al., 2011). modelos de trabalho, capturar o plano horizontal e
A posição da linha média dentária em relação marcar a linha média.
à linha média facial é tida como importante recurso de
diagnóstico no planejamento e tratamento ortodôntico. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Na prática clínica, os ortodontistas geralmente
1145
Paciente do gênero feminino, ? anos, procurou
a clínica do curso de Mestrado em Prótese Dentária
para a confecção de uma nova prótese total superior.
Foram realizados procedimentos clínicos padrões em
todas as etapas da confecção de uma prótese total
convencional monomaxilar. Durante a sessão de ajustes
de rolete de cera, foi utilizado o dispositivo “Esthetic
CrossRef” para auxiliar a visualização dos planos
horizontais e na demarcação da linha mediana da Figura 3 – Plano horizontal e Plano de Camper.
paciente (figura 1 e figura 2).
REFERÊNCIAS
MATERIAIS E MÉTODOS
Material Humano
Foram avaliadas, clinicamente, 200
Figura 1 - Tiras de chumbo em região posterior e
pessoas, dentre as quais, somente 32 se
anterior nas próteses totais.
adequaram às normas básicas da pesquisa.
Normas:
a) uso das próteses totais duplas, no Obtendo-se uma telerradiografia em
b) não apresentar histórico de doenças em marcações dos pontos para determinação dos
RESULTADOS
desvios padrões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Comparando-se estatisticamente as
Médias dos 32 Pacientes SNa-PO 12,906º médias dos pacientes desta pesquisa com as
Desvio tadrão SNa-tO 5,573
médias de normalidade estabelecidas pelos
Médias dos 32 Pacientes PHF-PO 6,563º
autores Steiner e Downs, pode-se chegar à
Desvio tadrão tHF-tO 5,086
conclusão de que a Linha Sela Násio é a relação
de primeira escolha quando analisados em
Tabela 2 - Médias Gerais e Desvios Padrões.
pacientes portadores de próteses totais, maxilo-
mandibulares.
Para verificar se os dois testes, Steiner REFERÊNCIAS
SN-PO e Downs PHF-PO possuíam alguma
correlação, foi aplicado o teste de Correlação de
BRONFMAN, C. N. Cephalometric norms and
Person, que estatisticamente comprovou uma esthetic profile preference for the Japanese: a
correlação positiva (ρ < 0,0001), como mostra a systematic review. Dental Press Journal of
Orthodontics, v. 20, n. 6, p. 43-51, 2015.
tabela 03.
CASAGRANDE, B. R.; RIBAS, R. G.;
TREVISOL, S. B. Utilização da cefalometria
como meio auxiliar no diagnóstico da síndrome
da apneia obstrutiva do sono. Stomatos, v. 10, n.
18, p. 29-38, 2004.
1153
DOWNS, W. B. Analysis of the dento facial
profile. Angle Orthodontist, v. 26, n.11, p. 191-
211, 1956.
DOWNS, W. B. Variations in facial
relationships: their significance in treatment and
Prognosis. American Journal of Orthodontics
and Dentofacial, v. 34, n. 10, p. 812-840, 1948.
NUNES, H. J. Analise cefalométrica: Uma nova
proposta para diagnóstico de deformidades
dento-esqueléticas. Brazilian Journal of Surgery
and Clinical Research, v. 12, n. 1, p. 27-37,
2015.
STEINER, C. C. Cephalometrics for you and
me. American Journal of Orthodontics and
Dentofacial, v. 39, n. 10, p. 55-729, 19.
Capítulo 195
Prótese fixa e coroas em cerâmica
pura com infraestrutura à base de
zircônia
A
busca por materiais livres de metal individuais com infraestrutura também em zircônia nos
se intensificou no mercado elementos 11, 13 e 14. Uma cirurgia de enxerto
odontológico, com novos materiais gengival no elemento 12 foi planejada a fim de
sendo desenvolvidos para atender os padrões estéticos mascarar a área acinzentada apresentada pelo implante
cada vez maiores por parte dos pacientes e nessa região, além de coroa de zircônia cimentada
profissionais (BALDISSAR et al., 2010). Entre esses sobre implante. Foi escolhido o sistema Lava 3M ESPE
materiais, a zircônia tem apresentado resultados de usinado (sistema CAD/CAM), digitalizando-se e
longevidade e resistência mecânica, satisfazendo os confeccionando-se as estruturas em zircônia pura para
requisitos necessários para as restaurações indiretas coroas, pontes e abutments.
(PAK et al., 2010). Com base em evidência atual, a
zircônia apresenta excelente biocompatibilidade com
os tecidos periodontais, menor propensão de adesão ao
biofilme bacteriano e excelentes propriedades estéticas
e ópticas (PAK et al., 2010).
Tendo em vista essas características, a
zircônia tem sido utilizada na confecção de
infraestruturas de próteses fixas e coroas unitárias.
Neste caso clínico, será apresentada uma reabilitação
estética superior, na qual foram eleitas as próteses à
base de zircônia como mais indicadas diante de suas
Figura 1 - Caso inicial coroas provisórias 11, 13,14 e coroa
propriedades mecânicas e características estéticas.
provisória sobre implante,12. Provisórias, ponte fixa 21, 22,
23, 24, 25.
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1157
Por meio do caso clínico apresentado pode-se
observar que: foi possível deixar a paciente satisfeita
com seu novo sorriso, reestabelecendo suas funções,
reabilitando seu sistema estomatognático e devolvendo
sua autoestima.
REFERÊNCIAS
C
ada vez mais os detalhes da estética DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
tornam-se obrigatórios para o
sucesso clínico; o provisório Paciente R.F.S, de sexo feminino, 49 anos de
suportado por implante é fundamental para o correto idade, procurou a clínica odontológica particular
condicionamento do tecido gengival e formação da relatando desconforto estético e funcional envolvendo
papila interdentária (OLIVEIRA et al, 2002). elemento dental 21 (figura 1), após perceber que o
A chamada “estética-vermelha” tem muita mesmo apresentava mobilidade. O elemento não
responsabilidade no resultado final do tratamento, apresentava clinicamente muitas alterações gengivais
portanto, é necessário obter contorno, suporte e que pudessem ser associadas a uma infecção ativa,
harmonia do tecido mole, tornando o provisório uma embora pudesse ser notada a drenagem purulenta via
etapa crucial para o sucesso clínico (TONIOLLO; sulco gengival por vestibular.
PALHARES, 2014).
Essa necessidade de otimizar o perfil de
emergência levou ao desenvolvimento de muitos
componentes protéticos, de vários diâmetros e
contornos. A seleção desse componente deve ser
criteriosa para permitir a correta cicatrização e o exato
contorno cervical planejado para a prótese definitiva
(SHEREEN, 2010).
Figura 1 – Aspecto inicial.
Para tornar possível a previsibilidade do
resultado em zonas estéticas da maxila, deve-se realizar
Em sequência, foram realizadas radiografias
anamnese, exame clínico detalhado e correto
periapicais e tomografia computadorizada cone beam
planejamento. Tomografias computadorizadas,
da maxila (figura 2) para avaliação de estrutura
montagem em articulador e enceramento diagnóstico
radicular e óssea adjacente ao dente 21. Foi
podem fazem parte desse tipo de tratamento. Além do
diagnosticada uma fratura do elemento dentário com
levantamento do histórico médico e exames
consequente perda óssea da porção vestibular do
radiográficos, a expectativa do paciente e os fatores de
rebordo alveolar, estabelecendo, assim, como plano de
risco devem ser considerados para cada caso
tratamento, a extração do dente e instalação imediata
específico. Todos esses parâmetros irão ajudar a
de um implante, fazendo uso simultâneo de técnicas de
selecionar os corretos parâmetros estéticos para a
regeneração óssea e provisionalização imediata, caso a
confecção do provisório (MIRANDA, 2012).
estabilidade primária permitisse a estética imediata.
Uma das maiores complicações para
reproduzir um elemento dentário com naturalidade, é a
diferença de formato e diâmetro entre a raiz dentária e
o implante na altura da junção amelocementária
(BECKER, 2012). Portanto, faz-se uso de técnicas para
a obtenção do correto condicionamento gengival, e
uma dessas técnicas está descrita a seguir.
1160
Figura 2 – Exame tomográfico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
s trabalhos livres de metal vem epitelial, existem diferenças importantes na forma
sendo uns dos mais procurados como o tecido conjuntivo se conecta aos implantes na
pela sociedade. Com a utilização ausência do cemento radicular. Com os dentes, as
da zircônia, temos a possibilidade de realizar trabalhos fibras dentogengivais estão diretamente
estéticos nos quais conseguimos substituir as perpendiculares/oblíquas às superfícies radiculares e
estruturas metálicas das próteses fixas por estruturas de firmemente ancoradas no cemento, enquanto nas
zircônia, proporcionando um melhor resultado estético, superfícies dos implantes ocorre apenas uma adaptação
principalmente em dentes anteriores. ao tecido conjuntivo (GAMBORENA; BLATZ, 2015).
Atualmente, as biocerâmicas baseadas em
zircônia se tornaram temas de pesquisa de grande DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
interesse no campo de biomateriais (PICONI;
MACCAURO, 1999). Paciente do gênero feminino, R. S. J., 48 anos
A cerâmica zircônia, parcialmente estabilizada de idade, apresentou-se ao consultório queixando-se da
com óxido de ítrio (Y-TZP), é utilizada na odontologia utilização de uma prótese removível. Ao realizar o
para a confecção de peças através do sistema que exame clínico inicial, foi constatada: ausência dos
utiliza o processo computadorizado CAD/CAM incisivos centrais e laterais superiores, e a utilização de
(Computer-Aided-Design/Computer Assisted uma PPR insatisfatória.
Machining). Quando comparada a outras cerâmicas Optou-se pela instalação de dois implantes na
odontológicas, Y-TZP apresenta melhor desempenho região dos incisivos laterais e a confecção de uma
mecânico e resistência à fratura (HANNINK, 2000). prótese fixa de quatro elementos, livre de metal,
As próteses em zircônia são restaurações confeccionada em zircônia e cerâmica pura de comum
confeccionadas a partir de cerâmicas altamente acordo com a expectativa da paciente.
resistentes à flexão e à fratura (cerca de duas vezes Inicialmente, foi realizado um enceramento
mais resistente que a Alumina). Sua composição é diagnóstico a fim de restabelecer forma, função e
formada por 3% de óxido de Ítrio tratado com anatomia ideal aos dentes e a confecção de um guia
policristais de Zircônia Tetragonal e uma pequena cirúrgico. Em seguida, realizaram-se os implantes
concentração de Alumina (<0,25%). Essa combinação dentais, do tipo hexágono interno.
garante a segurança e a longevidade da restauração de Após o período de cicatrização e
zircônia. condicionamento do tecido gengival com um
São utilizadas para a confecção de peças provisório, (figura 1) foi realizada a moldagem e
protéticas unitárias ou múltiplas sobre dentes e confecção da infraestrutura em zircônia.
implantes, componentes protéticos sobre implantes,
para próteses parafusadas ou cimentadas, tendo como
principal objetivo garantir a estética gengival,
principalmente nos casos em que os pacientes
apresentam gengivas finas, e os componentes de titânio
deixariam aparecer o escuro do metal. Devemos tem
em mente que apesar da semelhança da inserção
1165
Figura 3 – Componentes de titânio instalados na boca. O resultado final demonstrou uma estética
natural e funcional com ótimos resultados, além da
completa integração com o sorriso da paciente (figuras
6 e 7).
1166
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
s vantagens das restaurações procedimentos reconstrutores subsequentes (SCLAR,
provisórias não funcionais sobre 2011).
implantes incluem não necessitar Não existem diferenças estatisticamente
de um segundo estágio cirúrgico (elimina o desconforto significativas relativas à mediana da estabilidade do
do paciente e diminui custo para o profissional). A grupo de implantes submetidos à carga imediata, do dia
instalação do implante abaixo da crista óssea é da colocação dos implantes (65 ISQ – implant stability
eliminada, o que reduz a perda do osso marginal quocient), até às 6 semanas (60 ISQ) e às 23 semanas
inicial, a emergência do tecido mole pode ser (65 ISQ). Os resultados corroboram que o protocolo de
desenvolvida com a prótese provisória e é permitido ao carga imediata é previsível (LIMA et al., 2011).
tecido maturar durante o processo de cicatrização do Lederman foi o primeiro a introduzir o
osso. A fixação dos hemidesmossomos do tecido mole conceito de carregamento imediato utilizando
no corpo do implante abaixo do micro-espaço da implantes com superfície jateada tratada com plasma
conexão pode cicatrizar com uma interface melhorada de titânio (TPS), obtendo uma taxa de sobrevivência de
(MISCH, 2008). 91,2% em um acompanhamento de 81 meses, seguido
As alterações em nível de osso marginal por Babbusch e colaboradores, que reportaram índices
podem estar relacionadas com a extensão do de sucesso de 88% em 1.739 implantes de TPS
implante/descasamento do pilar. Níveis ósseos carregados imediatamente. No entanto, foi somente no
marginais foram melhor mantidos em implantes início da década de 1990, que a ativação imediata dos
restaurados de acordo com o conceito da plataforma implantes ganhou sua devida atenção, quando
switching (CANULLO et al., 2010). Schnitman e colaboradores publicaram outra descrição
A estética dos tecidos moles ao redor de de carga imediata, na qual utilizaram alguns implantes
próteses sobre implantes pode ser melhorada por meio na região anterior de mandíbula, ativando
de modificações de contorno do pilar protético. Os imediatamente dois implantes distais e outro na região
efeitos das modificações destes variam dependendo do da sínfise mentoniana (outros permaneceram
contorno, porque ambos têm implicações clínicas submersos para técnica convencional), convertendo
significativas. Nos casos em que a colocação do uma prótese total (PT), confeccionada previamente à
implante é ideal, alterando contorno crítico e cirurgia, em prótese implantossuportada provisória
subcrítico, pode-se aperfeiçoar o resultado clínico sobre os três implantes, apresentando taxas de sucesso
(HUAN et al., 2010). compatíveis com o protocolo de dois estágios
A aplicação com sucesso de técnicas (PEREIRA, 2012).
cirúrgicas desenvolvidas para preservar o contorno O uso de um protocolo de carga imediata pode
alveolar existente ou para reconstruir tecidos moles e ser uma técnica considerada previsível para obtenção
duros perdidos em um sítio de implante, baseia-se no de bons resultados estéticos no maxilar anterior. A
conhecimento claro da anatomia de tecidos moles, persistência da crista óssea interproximal parece ser o
tanto periodontal como peri-implantar, e suas respostas ponto chave para a manutenção ideal do tecido mole. O
individuais a múltiplas intervenções cirúrgicas e Profissional deve fazer todos os esforços possíveis para
protéticas geralmente necessárias na implantodontia evitar a perda da crista óssea interproximal, a fim de
estética. O uso de técnicas de preservação do sítio alcançar o melhor resultado estético possível:
geralmente reduz ou até elimina a necessidade de implantes dentários realizados pós exodontia e sua
1169
carga imediata devem ser considerados em casos de um ajuste perfeito sobre o mesmo e em relação aos
reestabelecimento de um único dente (MALCHIODI et tecidos moles dos dentes adjacentes para obter um
al., 2013). resultado estético e natural (LAPORTA et al., 2014).
Há diferentes etapas em que se pode intervir Resultados estéticos aceitáveis podem ser
nos tecidos peri-implantares: antes da colocação dos conseguidos com implantes colocados após a extração
implantes, simultaneamente à colocação dos mesmos, de dentes anteriores e pré-molares superiores (CHEN;
durante a fase de osseointegração e na reabertura dos BUSER, 2014).
implantes. A exigência estética varia de um paciente Após acompanhamento clínico e radiográfico,
para outro, e o resultado estético depende da forma, do por sete anos, exodontia minimamente traumática,
contorno, do limite cervical, do perfil de emergência da seguidas de implantação e provisionalização imediata,
restauração implantossuportada e da qualidade e mostraram ser técnicas viáveis (NERY et al., 2015).
quantidade da mucosa peri-implantar. Com base na A conexão e a desconexão de pilares de
revisão de literatura, não há diferença entre as técnicas cicatrização estão associadas significativamente com o
para o sucesso, porém existem condições individuais e aumento da perda óssea durante o período de
limitações que devem ser avaliadas caso a caso, cicatrização entre a colocação do implante e 6 meses
criteriosamente (QUESADA et al., 2014). pós-carga, quando comparada com a colocação da
A literatura, até o momento, e a experiência conexão do pilar de cicatrização de uma só vez
dos autores mostram que a carga imediata é um (MOLINA et al., 2016).
procedimento confiável sempre que se realiza uma
seleção cuidadosa dos pacientes. Os inquestionáveis DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
benefícios incluem a possibilidade de dispensar uma
prótese removível, evitar a segunda fase cirúrgica, Paciente de 72 anos, do gênero masculino,
preservação de tecidos moles e maior conforto para o com história de trauma dental e posterior fratura
paciente, com o único argumento teórico contra, um longitudinal da raiz do elemento 14, foi encaminhado
aumento de falha do implante não mostrado até agora para a resolução de seu problema com a instalação de
em ensaios. As principais desvantagens de implante. Após avaliação clínica e de imaginologia
procedimentos de carga imediata são devido à com radiografias periapicais, panorâmicas e
necessidade de uma coordenação adequada cirúrgico - tomografia, foi confirmada a viabilidade da
protética. Os benefícios da técnica, em casos de implantação imediata no alvéolo pós-exodontia. Foi
necessidade estética elevada deve ser sujeito à informado ao paciente que se a densidade do leito
adequada existência de densidade e qualidade óssea, ósseo após a fixação do implante fosse favorável,
uma técnica cirúrgica bem realizada, a utilização de possibilitando um torque acima de 40 N, seria
implantes escolhidos adequadamente e desenho de confeccionado, na mesma sessão, um dente provisório
restauração provisória bem elaborado. Pela sequência em acrílico fixo ao implante. Caso contrário, ou seja,
clínico-protética indicada, a morfologia gengival uma fixação abaixo do indicado, seria confeccionado
adquirida é mantida através da fase de um cicatrizador personalizado para a manutenção dos
provisionalização e essa informação vai ser fielmente tecidos peri-implantares e um provisório seria fixado
transferida ao laboratório para desenvolver pilares. O com resina aos dentes proximais, mantendo a estética.
computador irá reproduzir o contorno gengival criado a O procedimento cirúrgico foi conduzido, a raiz foi
partir do momento da colocação do implante e permitir removida com uso de extrator radicular (Neodent),
1170
preservando a integridade da tábua óssea vestibular e
dos tecidos periodontais, seguido da fresagem do
alvéolo cirúrgico e instalação do implante de macro
estrutura híbrida (Strong SW Morse®) de 3,8 mm x
13,0 mm, com a obtenção de um torque de instalação
de 30 N, inviabilizando a provisionalização imediata.
Os espaços existentes (gap) entre o implante e a tábua
óssea vestibular (Bundle Bone) foram preenchidos com
biomaterial de origem xenógena (Bio-Oss®Collagen- Figura 2 – Exame Panorâmico inicial.
Geistlich), com propriedades osteocondutivas. Foi,
então, confeccionado o cicatrizador personalizado a
Na consulta destinada à moldagem de
partir de um pilar provisório (parafuso passante) e
trabalho, foi removido o cicatrizador personalizado,
preenchido com resina acrílica auto-polimerizável cor
seguido da imediata instalação do transferente de
66, que foi desgastado até o contorno do rebordo e
moldeira aberta, incrementação de resina flow (Filtek®
polido, mantendo assim, toda a conformação do perfil
Z-350 Flow – 3M) e fotopolimerizada, realizando,
cervical da raiz pré-existente e instalado com um
assim, a personalização do transfer. Como material de
torque de 10 N.
moldagem, foi usado silicone de adição (Aquasil® -
Após 6 meses de espera da osseointegração do
Dentspy) com a técnica de dupla mistura, moldagem do
implante e incorporação do enxerto, deu-se início às
arco antagônico com alginato (Hydrogum®- Zhermack)
etapas de confecção protética, e pode-se observar a
e registro interoclusal. O cicatrizador foi repocisionado
maturação dos tecidos moles e a preservação da
e feita a tomada de cor com a escala VITA® sobre o
arquitetura gengival sustentada pelo contorno do
lábio (figura 3), e enviadas todas as informações ao
cicatrizador personalizado (figura 1).
laboratório, incluindo as fotografias clínicas,
solicitando, assim, a customização do pilarprotético em
zircônia (cad cam).
Figura 4 – Cicatrizador personalizado. Notar o perfil côncavo Dando seguimento à terceira consulta, foi
na zona subcrítica. enviado pelo laboratório a coroa unitária aparafusada,
onde foram observadas as caracterizações peculiares do
Nesta consulta, o laboratório enviou o pilar envelhecimento dentário, como: recessão gengival com
definitivo pré-fabricado usado para coroas cimentado e discreta exposição radicular, micro-trincas cérvico-
a estrutura personalizada em zircônia, na qual foi oclusais e pigmentações (figura 7).
observada a perfeita cópia do perfil de emergência
viabilizado a partir da personalização do transferente
em consulta prévia (figura 5).
REFERÊNCIAS
Figura 9 – Radiografia periapical pós-torque de instalação.
P
ara que um tratamento reabilitador DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
oral seja bem executado e tenha um
prognóstico favorável, um Após a anamnese, o paciente será
planejamento adequado e um diagnóstico preciso clinicamente examinado, tanto intra quanto
tornam-se imprescindíveis. Deste modo, um extraoralmente. Palpação dos músculos mastigatórios,
planejamento estético-funcional requer conhecimentos cadeias ganglionares e ATMs, possíveis assimetrias
abrangentes e atualizados nas mais diversas faciais, desvios no arco de abertura e fechamento
especialidades odontológicas, possibilitando mandibular e aspecto facial em máximo
visualização das alternativas terapêuticas e prévia do relacionamento maxilomandibular são algumas
tratamento final (FRADEANI, 2008). observações a serem relacionadas na ficha clínica do
As questões relacionadas ao diagnóstico paciente (DAWSON, 2007). Então, será iniciada a
dependem muito mais do conhecimento científico do análise estético-funcional do terço inferior da face.
que de técnicas palpáveis. Normalmente, tratamentos Com o paciente confortavelmente sentado em
fracassam por desrespeito a princípios básicos (LIMA, posição ereta, solicita-se que deixe sua boca
2010). Assim, é necessário que se crie uma rotina de ligeiramente entreaberta, sem que haja nenhuma
condutas clínicas fundamentadas em evidências contração dos músculos que promovem a mímica
científicas e clínicas que possam ser aplicadas a todas labial.
as situações adversas. Isso facilita o dia a dia do Analisa-se como os dentes da bateria anterior,
profissional, elevando seu índice de acertos, pois tanto superiores quanto inferiores, apresentam-se em
sempre estará enriquecendo seu protocolo de trabalho relação aos lábios e comissuras labiais. Dentes
devido a novos parâmetros de comparação. Desde que encurtados ou extruídos podem ser avaliados nesta
se tenha conhecimento do prognóstico, o profissional observação.
poderá desenvolver sua própria logística de Continua-se com as anotações, solicitando ao
tratamento (LIMA, 2010). paciente que, a partir dessa posição, promova o
É importante que o profissional exercite sua máximo de sorriso forçado (figura 1).
mente ao visualizar bocas mutiladas, imaginando e Linha de sorriso, conformação do arco
tentando enxergar em sua tela mental aquela mesma dentário, corredor bucal, extrusões e migrações
situação já reabilitada. Esse exercício melhorará a dentárias, forma e cor dos dentes, presença de próteses,
capacidade do profissional de diagnosticar e de ausências dentárias, diastemas e desalinhamento do
planejar para se chegar a prognósticos acertados. plano de oclusão são alguns itens a serem observados e
Será apresentado um protocolo de trabalho catalogados, conforme citado anteriormente, para que
estabelecido a partir de evidências científicas (LIMA, se comece a imaginar soluções reabilitadoras para as
2010) e clínicas de vários anos de uma curva de possíveis deficiências apresentadas (FRADEANI,
aprendizado. Esse protocolo de procedimentos clínicos 2008).
e laboratoriais pode ser aplicado a qualquer situação
clínica inicial de tratamentos reabilitadores,
independentemente do grau de destruição das
estruturas que compõem o aparelho estomatognático.
1176
caso apresentado, por meio de testes fonético, métrico
e da harmonia facial, confirmou-se que mesmo com
todas essas irregularidades ocluso-funcionais, a mesma
encontrava-se preservada, e não havia sintomatologia
dolorosa muscular e articular. Ao exame de sondagem
periodontal, não foi detectada nenhuma profundidade
desagradável, planos incisal e oclusal irregulares, desalinha- principais do paciente relacionavam-se com a
mentos dentários, corredor bucal do lado esquerdo mais deficiência estética de seu sorriso.
aberto que do lado direito. São obtidos moldes das arcadas dentárias e,
em seguida, faz-se o registro com arco facial, para
montagem do modelo de estudo em gesso do arco
Analisando-se o relacionamento maxi-
superior em articulador semi-ajustável (ASA) e registro
lomandibular, observa-se a dimensão vertical de
interoclusal para relacionamento e montagem do
repouso (DVR), dimensão vertical de oclusão (DVO),
modelo de gesso da arcada inferior de encontro ao
espaço funcional livre (EFL), relacionamento oclusal
modelo superior, no referido aparelho (figura 3).
em máxima intercuspidação habitual (MIH) e em
É importante salientar que a montagem de
relação cêntrica (RC), além dos movimentos de
diagnóstico dos modelos de estudo em ASA deve ser
protrusão e lateralidades direita e esquerda (DAWSON,
feita sempre em RC, por ser esta uma posição
2007; LIMA, 2010).
maxilomandibular em que as estruturas músculo-
Na situação clínica em discussão, percebe-se
esqueléticas encontram-se em equilíbrio e são
um alto grau de complexidade com necessidade de
facilmente reproduzíveis. A RC deverá sempre ser o
reabilitação completa das arcadas dentárias. Há
ponto de partida para o diagnóstico das anormalidades
algumas ausências dentárias, presença de restaurações
dento-oclusais a serem reabilitadas (DAWSON, 2007).
e próteses fixas unitárias insatisfatórias, dentes
Estes procedimentos clínicos devem ser
desalinhados, extruídos e girovertidos com presença de
executados neste primeiro atendimento, encerrando-se
mordida cruzada bilateral posterior. Em uma vista
essa sessão com a solicitação de radiografias
intraoral frontal, nota-se a presença de um implante
periapicais e panorâmica para serem analisadas na
osseointegrado no sítio referente ao dente 22 (figura 2).
segunda consulta.
Figura 7 - Vista frontal das coroas totais acrílicas provisórias Figura 9 - Vista frontal em sorriso forçado das coroas totais
prontas já cimentadas sobre os preparos dentários da arcada acrílicas provisórias prontas já cimentadas sobre os preparos
superior. Em seguida, realizam-se as preparações dentárias dentários das arcadas superior e inferior.
bucais na arcada inferior. Note que os dentes superiores,
agora alinhados e nivelados, servem de referência para guiar
os preparos dentários realizados na arcada inferior. Nesta sequência clínico-laboratorial
apresentada não há sofisticação, porém se exige dos
profissionais envolvidos, além de ciência e habilidade
com os materiais, uma sensibilidade artística. É
importante que se compreenda que ninguém nasce
artista, as aptidões são desenvolvidas pelo treinamento.
A diferença é que alguns indivíduos necessitam de
mais exercício e, por isso, às vezes se julgam
incapazes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
Síndrome da Combinação ou anteriores inferiores e perda óssea na região abaixo das
Síndrome de Kelly, foi citada selas das próteses parciais removíveis. Como
primeiramente na literatura em tratamento, foi realizada a reabilitação protética da
1972, e é conhecida por um conjunto de características paciente sendo confeccionadas prótese total superior e
comuns aos pacientes desdentados totais superiores e prótese parcial removível inferior, reestabelecendo a
com dentes remanescentes somente na região anterior Dimensão Vertical de Oclusão (DVO), evitando-se
mandibular, crescimento das tuberosidades, hiperplasia contatos nos dentes anteriores superiores com os dentes
papilar da mucosa do palato duro, extrusão dos dentes anteriores inferiores e buscando-se uma oclusão
inferiores anteriores e perda óssea na região do rebordo balanceada.
residual abaixo da base da prótese parcial removível.
Esta síndrome é potencialmente iatrogênica ao
sistema estomatognático, especialmente às estruturas
de suporte dentais e muco-ósseas, bem como a
articulação temporomandibular em função do
desequilíbrio oclusal e instabilidade da(s) prótese(s).
Portanto, diagnosticar a síndrome e estabelecer o
tratamento adequado às necessidades do paciente
podem interromper o processo destrutivo, criando
condições clínicas para o restabelecimento da saúde.
Figura 1 - Vista lateral da paciente demonstrando a grande
Os pacientes devem ser educados a vir aos
perda de suporte do lábio superior e a projeção mandibular.
retornos mais frequentes, o que é essencial para que o
desenvolvimento desta síndrome possa ser evitado. O
cirurgião-dentista deve realizar o tratamento de
pacientes com a maxila totalmente desdentada e a
mandíbula parcialmente edêntula de maneira
meticulosa; e instituir um tratamento adequado desde
o início é imprescindível. Todo paciente deve ser
conscientizado de que uma longa vida útil de suas
Figura 2 - Radiografia panorâmica demonstrando uma
próteses, com o menor dano possível aos seus tecidos
acentuada reabsorção óssea na região anterior da maxila com
orais, somente pode ser conseguido com retornos extrusão dos dentes naturais inferiores anteriores.
frequentes.
do palato duro, extrusão dos dentes remanescentes funcional com ausência de contato nos dentes anteriores em
1183
MIC. Prótese Parcial Removível. Revista Gaúcha de
Odontologia, v. 55, n. 4. p. 325-328, 2007.
PALMQUIST, S.; CARLSSOM, G.; OWALL, B. The
combination syndrome: A literature review. The
Journal of Prosthetic Dentistry, v. 90, n. 3, p. 270-275,
2003.
POLETTO, R. et al. Síndrome da Combinação – Uma
Revisão da Literatura. Arquivos de Ciências da Saúde
da UNIPAR, v.8, supl.3, 2004.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
E
m todas as etapas de confecção de inferior era utilizada há 16 anos, e além da falta de
uma Prótese Total, seja o retenção e estabilidade, se apresentava com deficiência
planejamento, moldagem, montagem de assentamento em toda a extensão da área basal das
e registros intraorais até instalação e ajustes finais, é arcadas superior e inferior do paciente. Na mandíbula,
fundamental que o Cirurgião-Dentista tenha o Russi e Arioli Filho (2015) confirmam que a correta
conhecimento da área de suporte das Próteses Totais e extensão é delimitada, ficando 3 mm aquém do fundo
seus limites. Estas delimitações corretas evitam bases dos sulcos labial e vestibular e sobre as linhas obliquas
sobre ou infraestendidas, sem estabilidade e externas, contornando as papilas retromolare, além de
traumatógenas, proporcionando moldagens, modelos, envolver as fossas retromolares e acompanhar a linha
bases de prova e, por fim, a futura prótese com milo-hióidea, ficando de 2 a 3 mm aquém do sulco
retenção, estabilidade, suporte e conforto efetivos lingual (figura 01). É importante que a moldagem e
(RUSSI; ARIOLLI FILLHO, 2015). obtenção de modelo possibilite delinear os limites a
As próteses podem causar traumas não serem reconhecidos da área basal, referenciando
somente porque estão velhas e desadaptadas, mas acidentes anatômicos que definem a correta extensão
principalmente porque existem falhas no desenho da da área basal na arcada inferior .
prótese total (BUDTZ-JORGENSEN, 2006).
Principalmente nas pessoas idosas, a utilização de
próteses que não têm a correta adaptação, além de
impedir uma boa mastigação, pode ser um fator
negativo com relação à manutenção de uma função
muscular e uma condição nutricional adequada.
A área onde a prótese se adaptará denomina-se
área basal. E esta área tem regiões diferentes de suporte
ósseo e fibromucoso. E, portanto, Turano e Turano
(2014), considerando a biomecânica articular e a
preservação óssea, classifica a área para a base de Figura 1 – Ganho – arco orbicular dos lábios e arco
assentamento protético em regiões que servirão como mandibular, papila retromolar e linha milo-hióidea.
suporte principal e secundário, e outras que devem ser
aliviadas para o esforço mastigatório. Além disso, os A prótese total superior também apresentava
limites anatômicos, tanto mandíbular como maxilar, deficiência de recobrimento na região palatal posterior
são fundamentais no correto delineamento da (figura 02), além de toda a região de arco orbicular dos
construção da prótese total. lábios e arco do túber.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 7 – Ganho Trígono retromolar. materiais e uma melhor polimerização. Mas sim, antes
de tudo, é primordial o conhecimento das áreas de
1188
suporte fibromucoso, inserções musculares e límites
anatômicos para uma boa construção da prótese,
respeitando as referências anatômicas e a correta
distribuição dos esforços mastigatórios.
Após o planejamento das áreas e regiões das
arcadas superior e inferior, que seriam reconhecidas
nas moldagens e modelos de estudo e de trabalho, e
finalmente, com as duas próteses novas instaladas,
ajustadas e estabilizadas, pode-se realizar um
comparativo com as próteses antigas, observando-se
um ganho em altura e extensão pelo respeito ao correto
envolvimento dos limites da área basal. Isso possibilita
ao paciente uma melhor eficiência mastigatória, melhor
retenção e estabilidade pela correta delimitação e
extensão das regiões envolvidas na área de
assentamento basal das próteses totais superiores e
inferiores.
REFERÊNCIAS
Plano de Tratamento:
a) periodontia preventiva;
b) ortodontia;
c) aumento de coroa clínica do elemento dental
16 ao 26;
Figura 1 - Foto inicial. d) exodontia do elemento 21;
e) instalação de implante e provisório no
elemento 21;
Para fins de diagnóstico, foi realizado exame
f) instalação de pilar de zircônia no elemento 21;
clínico que consistia em uma sondagem periodontal
g) facetas de porcelana nos elementos 25 ao 15.
convencional, com o intuito de localizar a junção
cemento-esmalte (JCE). Em seguida, foram solicitados
exames radiográficos e executado protocolo de
Após as etapas pré-cirúrgicas, foi feito
fotografias e moldagem das arcadas dentais, para
enceramento de diagnóstico e confecção de guia
apresentação do plano de tratamento (figura 2).
cirúrgico a fim de direcionar o tamanho ideal dos dentes
(figura 4).
usado foi silicone de adição Silagum (DMG), em final em comparação à inicial (figura 9 e 10), com
a) Dentes anteriores superiores, nos quais o SCHIROLI, G. Single-tooth implant restorations in the
esthetic zone with PureForm ceramic crowns: 3 case
paciente possui linha de sorriso alta e dentes reports. The Journal of oral implantology, v.30, n. 6, p.
claros e deseja usar coroas de cerâmicas puras, 358-363, 2004.
devido à sua maior translucidez quando SUNDH, A.; SJÖGREN, G. A study of the bending
resistance of implantsupported reinforced alumina and
utilizados pilares metálicos; machined zirconia abutments and copies. Dental
b) Fenótipo gengival delgado que compromete o materials, v. 24, p. 611-617, 2008.
resultado final, pelo escurecimento da região YILDRIM, M. et al. Ceramic abutments a new era in
achieving optimal esthetics in implant dentistry. The
gengival. Os pilares em zircônia apresentam International journal of periodontics & restorative
resultados bastante promissores nos aspectos dentistry, v. 20, n. 1, p. 81-91, 2000.
biocompatibilidade e longevidade.
REFERÊNCIAS
A
pesar de a ciência odontológica ter próteses que ainda apresentam boas condições de uso
evoluído notavelmente nos últimos pode ser realizado com resina acrílica de auto ou
100 anos, os cirurgiões–dentistas termopolimerização, e a polimerização deve ser
chegaram ao início do século XXI ainda tendo que planejada para se obter uma resina de alta qualidade,
tratar uma parcela significativa de pacientes, em com polimento suficiente para dar durabilidade à
especial aqueles que sofreram perdas dentárias, não prótese (CASTRO; GOMES, 2015).
muito diferentes do que faziam no século XIX
(TELLES, 2010). Caso Clínico
Ao perder os dentes, o indivíduo modifica seu
padrão de fala, estética, mastigação, deglutição e bem Relatamos, aqui, algumas terapias
como, seu relacionamento com as outras pessoas, preconizadas pela Técnica da Clonagem Terapêutica
podendo implicar em alterações do comportamento em uma paciente reabilitada com uma prótese total
social, emocional e psicológico (BREDA et al.,2006). superior mucossossuportada. Essas terapias têm por
Segundo pesquisa de saúde, realizada pela finalidade, dar ao paciente, já no início do tratamento,
Organização Mundial de Saúde e conduzida no Brasil uma melhora nas próteses, aumentando a confiança no
pela Fiocruz (2004), estimou-se que 14,4% dos profissional e a receptividade ao tratamento. Além
brasileiros perderam todos os dentes. Entre as mulheres disso, ela melhora a estética, aumenta a estabilidade e a
de pior condição sócioeconômica, com mais de 50 anos retenção da prótese, e com isso, proporciona conforto.
de idade, o percentual de desdentados é de 55,9%. Já As terapias realizadas nesse caso foram: recuperação
entre as de melhores condições sócioeconômicas, o da área basal através do modelo anatômico, conserto da
percentual cai para 18,9%. As razões entre as prótese e reembase direto seletivo.
proporções de indivíduos que perderam todos os dentes Não obteríamos um bom resultado apenas
naturais nas categorias de piores e melhores níveis com o reebasamento direto, pois os materiais
socioeconômicos são da ordem de 3:1, qualquer que reembasadores, devido ao seu alto escoamento, não
seja a faixa etária ou sexo. Tais números demonstram a possuem “corpo” suficiente para atingir a área basal
necessidade de se manter uma política de saúde pública adequada se não estiverem sendo suportados por resina
para atender a essa população, o que implica em treinar rígida, o que poderia resultar em áreas afinadas, com
profissionais adequadamente para fazê-lo (TELLES, grande possibilidade de levar ao aparecimento de
2010). úlceras traumáticas, fraturas ou desprendimento do
Após um período de uso, as resinas acrílicas material reembasador. (CASTRO; GOMES, 2015).
de próteses totais ficam susceptíveis a fraturas, quedas
e problemas oclusais (TURANO; TURANO, 2007). DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Desta forma, os consertos devem ser priorizados, uma
vez que as fraturas interferem no selamento periférico Paciente do gênero feminino, melanoderma,
quando atingem a área basal da prótese, diminuindo a 52 anos, reabilitada com uma prótese total
retenção e a estabilidade. Além disso, interferem na mucosossuportada superior. Durante a consulta inicial,
estética quando comprometem os dentes. O ideal é que relatou desconforto pela instabilidade da prótese face à
o conserto seja realizado no consultório, para que o grande fratura presente na região anterior e posterior da
paciente não fique sem a prótese antiga. O conserto de mesma. Foram planejadas terapias envolvendo
1196
recuperação da área basal, o conserto da área fraturada Figura 4 – Teste de assentamento da prótese sobre o modelo
e, posteriormente, foi realizado o reembasamento da anatômico com carbono (as áreas marcadas pelo carbono
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
reabilitação de pacientes com No exame clínico inicial, foi possível
edentulismo total pode ser feita detectar que existia perda da dimensão vertical de
atualmente com o uso de oclusão (DVO), além de grande perda óssea ao
próteses totais convencionais (classificadas como redor de alguns implantes no arco superior e
mucosossuportadas removíveis), ou overdentures mobilidade dos mesmos.
(classificadas como mucosossuportadas e Após planejamento e avaliação da
implantorretidas) e as próteses tipo protocolo de viabilidade do tratamento, o primeiro passo foi
Branemark (classificadas como realizar a profilaxia e a descontaminação das
implantossuportadas). próteses e superfícies dos implantes.
De maneira geral, as overdentures (ou Foram confeccionadas pistas oclusais em
sobredentaduras) possuem as características resina acrílica autopolimerizável sobre as próteses
mecânicas de distribuição das tensões semelhantes que a paciente já usava, com o intuito de
às próteses totais convencionais (PT) associadas à restabelecer a DVO e de levar a mandíbula para
retenção gerada por sistemas de encaixe como uma posição ideal. Esse processo durou cerca de 3
barra/clipe ou O´ring (ou similares como os meses.
sistemas Era, Locator, Equator, etc). Em relação à Essas medidas foram suficientes para que a
manutenção, essas próteses são vantajosas, pois dor facial e as queixas da paciente cessassem. Os
permitem a remoção para higienização. Quanto ao implantes que estavam praticamente perdidos antes
conforto, há uma queixa comum dos pacientes em do início do tratamento, com a atenção e higiene
relação à movimentação das mesmas. adequadas, mostraram-se viáveis para permanecer
A prótese total tipo protocolo, por ser fixa, em boca e serem usados como pilares para a nova
apresenta conforto e um comportamento mecânico prótese.
muito superior às próteses removíveis, contudo, sua Devido à grande dificuldade de
higienização é muito prejudicada (especialmente higienização apresentada pela paciente com as
nas próteses superiores, em que o escape de ar próteses do tipo protocolo convencional, optamos
interfere na fonética dos pacientes). por realizar uma prótese do tipo overdenture de
Dessa forma, esse artigo apresenta uma barra fresada no arco superior e novo protocolo
prótese tipo overdenture de barra fresada, a qual convencional inferior.
associa as vantagens de conforto e mecânicas da Foram realizadas: a moldagem funcional,
prótese tipo protocolo, com as vantagens de confecção e prova das novas barras, confecção e
manutenção das próteses tipo overdenture com prova de bases de prova e planos de orientação em
sistemas de encaixe convencionais. cera, prova estética dos dentes, para finalmente,
após a acrilização das peças, instalá-las.
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO Como a overdenture de barra fresada não
possui a mesma estabilidade que o protocolo
Paciente chegou à clínica da Faculdade
convencional, foi necessárioa adaptação por parte
São Leopoldo Mandic portando próteses do tipo
da paciente.
protocolo nos arcos superior e inferior, com queixa
Passado este período, o resultado final
de dor facial e dificuldade de mastigação.
agradou, superando as expectativas da paciente, e
1200
principalmente, se mostrando como uma técnica
viável, desde que bem aplicada, para a estabilização
e longevidade dos implantes instalados.
Cerca de cinco anos após a confecção da
overdenture de barra fresada, a trava de um dos
lados da prótese fraturou, fazendo com que fosse
necessária a confecção de nova prótese do mesmo
tipo. Hoje, o caso está em proservação, com os Figura 3- Radiografia panorâmica após estabilização dos
implantes sem mobilidade e viáveis, de forma que implantes.
realizamos apenas manutenções preventivas.
REFERÊNCIAS
O
s valores fundamentais na busca universal da coroa (VASCONCELOS, 2007).
por excelência e inovação na área de Há muito tempo se estuda a influência do
reabilitação oral e recentes investigações contorno da coroa dentária protética sobre a saúde
científicas em odontologia propiciam melhorias periodontal. Ressalta-se que a área da junção entre
significativas nas técnicas de fabricação de dente e gengiva, região onde frequentemente ocorre a
restaurações. Replicar perfeitamente a dentição natural adaptação das restaurações, é uma área que deve
com todas as suas complexidades é o objetivo final de ser especialmente respeitada quando da execução de
todos nós. Para atingir a excelência, devemos trabalhos próximos a ela. Muitas vezes, a
permanecer sempre abertos às novas ideias, reprodução inadequada do contorno dentário
experiências, conceitos e métodos que podem elevar a acarreta danos ao periodonto, além de
qualidade de nossas aptidões para um nível muito comprometimento estético. (MARTIGNONI &
superior. SCHöNERBERG, 2001).
Tendo em vista a frequente constatação Existe uma relação direta entre o formato
clínica da reprodução protética inadequada da face da coroa protética e controle do biofilme dentário
vestibular dos dentes permanentes, o presente relato (WAGMAN, 1977). Grandes concavidades ou
de caso clínico teve, como objetivo, avaliar a convexidades devem ser evitadas na reconstrução
reconstrução anatômica do perfil de emergência dos elementos dentários, possibilitando que lábios,
vestibular do primeiro pré-molar superior esquerdo, bochechas e língua possam, por meio do atrito,
após confecção, por técnica indireta, da coroa promover a limpeza da superfície dos dentes.
metalocerâmica executada por técnico em prótese Adicionalmente, subcontorno e sobrecontorno das
dentária. coroas protéticas podem acarretar inflamação
A correta reconstrução da anatomia gengival, já que dificultam a higienização, propiciando
dentária é um dos principais objetivos do o acúmulo de biofilme (JAMESON; MALONE, 1982).
tratamento restaurador. O restabelecimento da O perfil de emergência, região próxima à
forma e da função do elemento dental possibilita o junção amelo-cementária, é uma característica
bom funcionamento das outras estruturas do anatômica relevante, fisiológica e, esteticamente,
sistema estomatognático, resultando em saúde e nas reconstruções dentárias, sendo fundamental na
melhora na qualidade de vida do paciente saúde periodontal, pois é frequentemente
(VASCONCELOS, 2007). colonizada por microrganismos causadores de
É consagrado o conhecimento de que patologias periodontais .(CROLL,1989).
tratamentos restauradores protéticos e saúde
periodontal estão diretamente relacionados. A forma DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
anatômica do dente, se bem reproduzida, facilita a
mastigação e a higiene bucal, mantendo a fisiologia Este relato de caso envolve a confecção de
do periodonto e propiciando longevidade clínica à uma coroa unitária para o primeiro pré-molar direito
restauração. Desta forma, atenção especial deve ser adjacente a dois dentes saudáveis. Esse caso foi
dada à relação entre tratamento restaurador e realizado na clínica da Faculdade São Leopoldo
periodonto, mais especificamente em relação à forma Mandic – Campinas, no curso de Mestrado em Prótese
1204
Dentária, coordenado pelo Prof. Dr. Artemio Luiz O término marginal é outro item de
Zanetti. fundamental importância, pois o tipo e a espessura de
Paciente, 46 anos de idade, apresentou–se à desgaste determinam a qualidade da estética, associada
clínica da SLM com queixa sobre sua coroa, inclusive a um correto perfil de emergência da coroa protética.
queixou-se sobre a infiltração e descoloração (Fig.1). Após o preparo, foi confeccionado um
As avalições clínicas e radiográficas iniciais provisório em resina autopolimerizável (Fig.2), sendo
se mostraram favoráveis ao tratamento. Foi indicada a cimentado com cimento provisório, e aguardou-se 30
realização de coroa metalocerâmica, seguindo a dias para a total recuperação gengival.
Técnica de Referência Inoue & Zanetti, para o preparo. A moldagem foi realizada com silicone de
adição. As vantagens frente aos outros materiais são
Foi realizada a moldagem para obtenção de
bem esclarecidas na literatura. Em passo duplo,
modelos de estudo, montados em articulador semi-
associado a alivio com filme de PVC, chamamos a
ajustável para elaboração do plano de tratamento.
atenção para optarem por realizar o molde do
Inicialmente, foi realizada a remoção de coroa
antagonista em silicone de adição pois, assim, o ajuste
existente, e o repreparo dentário foi realizado conforme
de oclusão nos modelos de gesso é mais acurado.
as recomendações da Técnica de Referência Inoue &
Contudo, o cuidado fundamental é quanto ao manejo
Zanetti. Esta técnica foi inspirada no desgaste através
do tecido gengival. Foi empregada a técnica de
da confecção de sulcos de orientação e, ao contrário da
utilização de duplo fios retratores, com dois calibres,
maioria das técnicas de preparos que utilizam sulcos
pois em regiões com necessidade de mudança de perfil
verticais, nesta técnica os sulcos são horizontais,
de emergência, a coroa metalocerâmica deve emergir
proporcionando um controle significativamente maior
da região intrassulcular. Para isso, há a necessidade de
do desgaste realizado. Foi usado o kit de pontas
afastamento gengival nessa região, observando a
diamantadas especiais de uso sequencial (kit Inoue/
retração da gengiva, facilitando a confecção do novo
Zanetti/Feltrin - KG - Sorensen- ref. 6727N), contendo
perfil de emergência. Na primeira etapa, é inserido
pontas específicas para espessura de desgaste desejada
um fio retrator de menor calibre #000, 100% algodão
em função do tipo de coroa selecionada. Os
(Ultrapack, Ultradent), para evitar fluidos gengivais
instrumentos cortantes rotatórios foram idealizados
durante a moldagem, sendo este embebido com uma
para que o desgaste seja mínimo, sem prejudicar a
solução hemostática aquosa de cloreto de alumínio a
estética na região cervical. Consequentemente, há um
25% (ViscoStat Clear, Ultradent), que podem
menor dano ao periodonto de proteção, facilitando a
proporcionar bolhas e, também, para criar inserção para
moldagem, e a cinta metálica das coroas
o segundo fio de maior calibre #00, 100% algodão
metalocerâmicas poderá ser menor, facilitando a
(Ultrapak, Ultradent), também embebido com uma
estética. Os tipos de terminações marginais também
solução hemostática aquosa de cloreto de alumínio a
são analisados, conferindo ao degrau inclinado, 135º -
25% (ViscoStat Clear, Ultradent), (PAGANI, et al.,
terminação ideal para coroas metalocerâmicas. É uma
2013). O fio de calibre menor age somente na direção
técnica que oferece uma quantificação mais precisa do
vertical, e a inserção de maior calibre, com função de
desgaste, obtendo-se características de retenção e
afastar a gengiva no sentido horizontal, cria um espaço
estabilidade, juntamente com a preocupação de
para a inserção do material de moldagem. Este fio deve
preservação da estrutura dental, (FARIAS et al.,
permanecer sempre por 5 minutos antes de ser
2011).
removido. Posteriormente, o fio de maior calibre é
1205
removido, tomando-se o cuidado de umidificá-lo antes confirmada, e a coroa metalocerâmica concluída.
para evitar a dilaceração da margem do epitélio do Foram apresentados dois planos no perfil de
sulco gengival. Após a remoção, o material leve foi emergência (Fig. 4 e 5), que os técnicos em prótese
inserido no sulco gengival, e feita a aplicação de um dentária, independente de terem em mãos ou não
leve jato de ar, repetindo a inserção do material leve. uma referência morfológica para utilizarem durante
Observa-se que o material irá copiar a região intras- a escultura de facetas protéticas, elaboraram-nas com
sulcular, permitindo ao técnico criar um novo perfil de sobrecontorno, (VASCONCELOS, 2007). Foram
emergência, quando necessário (CAVIJO, realizados ajustes no perfil de emergência, por desgaste
BOCABELLA, KABBACH, 2013). com borracha para cerâmica (Fig. 6 e7), e após o
Os moldes foram enviados ao laboratório para ajuste, o novo perfil de emergência, com apenas um
a confecção dos modelos de trabalhos e sua plano (Fig. 8 e 9). Foram feitos todos os ajustes
troquelização, para a confecção da infraestrutura. Um oclusais com borrachas, e a cimentação com
desenho anatômico da infraestrutura é crucial para ionômero de vidro (Meron - Voco), alcançando
fornecer suporte adequado e preservar a espessura ideal resultados funcionais e estéticos, apresentando um
para a cobertura cerâmica (ROSENSTIEL, LAND, perfil de emergência ideal.
FUJIMOTO, 2006) e (BAN, 1989).
Foi realizada a moldagem de transferência Figura 1 – Imagem de pré-tratamento mostrando coroa inade-
com objetivo de obter-se um modelo com reprodução quada com retração gengival, infiltração e descoloração.
do contorno gengival conseguido com provisório
confeccionado. Feita seleção de cor, com os dentes
hidratados, logo no início da sessão, antes do paciente
permanecer com a boca aberta, evitando-se desse
modo, o risco de desideratá-los(CAVIJO, V.;
BOCABELLA, L.; KABBACH, W., 2013). A seleção
de cor foi feita com auxílio de foto do primeiro molar
e canino, em perfil, com afastamento labial e variação
de cores, usando escala Vita - Vitapan Clássica, para Figura 2 – Imagem do provisório em resina autopolimerizá-
vel.
proporcionar uma visão geral e referência de cor dos
caninos, que são mais cromáticos do que o primeiro
molar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
componente dental e os tecidos moles (JOLY; A análise dentolabial demonstra uma linha de
CARVALHO; SILVA, 2015). A avaliação cuidadosa sorriso alta com grande exposição de gengiva, à qual a
de tais parâmetros pelos clínicos, por meio de uma paciente queixou-se de sempre ter se incomodado.
abordagem prática e racional para melhorar a qualidade Nota-se, também, o sorriso largo com grande número
do trabalho, auxilia-nos a criar restaurações integradas de dentes expostos, entre doze e quatorze dentes. A
não apenas à cavidade oral, mas também à face do falta de harmonia no corredor bucal provocado pela
paciente. (FRADEANI, 2006) palatinização dos pré-molares altera a progressão
harmoniosa em direção posterior, criando a sensação
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO de “sorriso de equíno” pelo destaque luminoso no
sextante anterior. A relação entre a borda incisal e o
Paciente do sexo feminino, 62 anos, sem lábio inferior é agradável na seção anterior, onde os
alterações sistêmicas relevantes, compareceu à clínica dentes acompanham a linha do lábio inferior, mas
privada, queixando-se da aparência de seus dentes. Por novamente, na altura dos pré-molares, a alteração da
meio da anamnese, relatou ter realizado gengivectomia posição dentária causa uma sensação de dentes
(figura 1) durante a juventude e, mais recentemente, pequenos demais.
facetas em resina composta. A paciente apresentava ampla faixa de
gengiva queratinizada com ausência de bolsas
periodontais e perda óssea alveolar. Durante a cirurgia,
comprovou-se a presença do osso alveolar até a junção
amelocementária vestibular.
Foi realizado um protocolo fotográfico com
fotos de rosto frontais, em 45o, e perfil com a paciente
sorrindo no máximo, sorriso de forma natural, com os
lábios entreabertos e cerrados. A mesma sequência foi
realizada para as fotos intraorais, adicionando as fotos
dos movimentos excursivos (KYRILLOS; MOREIRA;
1211
CALICHIO, 2014). Estas fotos serviram para a
elaboração de um enceramento de diagnóstico, no qual
foi possível prever as alterações de forma e posição dos
dentes, bem como a cirurgia plástica periodontal para
aumento das coroas clínicas de dez elementos pela face
vestibular (figura 2). Para submeter-se a procedimentos
cirúrgicos desta natureza, entretanto, ela deve ser
submetida à exclusão dos seguintes fatores:
comprimento radicular reduzido, suporte periodontal
insuficiente, proporção coroa-raíz desfavorável e risco Figura 3 – Sorriso frontal após três dias da cirurgia para
A
amelogênese imperfeita (AI) é atualmente AR)
definida como um grupo complexo de d) Hipoplasia com esmalte de superfície lisa (AD)
condições de origem genética, que afetam e) Hipoplasia com esmalte liso, relacionado ao
a estrutura e aparência clínica do esmalte dos dentes, cromossomo X (dominante ligada ao cromossomo X -
podendo associar-se com mudanças morfológicas e DLX)
bioquímicas em qualquer lugar do organismo f) Hipoplasia com esmalte rugoso (AD)
(AZEVEDO, 2013). É uma alteração hereditária de g) Agenesia do esmalte (AR)
baixa prevalência (GREENFIELD et al., 1992),
ocorrendo em 1 a cada 14.000 norte-americanos, que Grupo II – Hipomaturação
pode afetar tanto a dentição decídua como a a) Pigmentada (AR)
permanente (PINHEIRO et al., 2010). Associa-se à b) Pigmentada (recessiva ligada ao cromossomo X -
presença de ameloblastos defeituosos, que por RLX)
consequência, secretam esmalte com alterações que c) Dente com manchas opacas (flocos de neve) -
variam desde a deficiência na formação até defeitos no (RLX)
conteúdo mineral e proteico (PINHEIRO et al., 2010; d) Dente com manchas opacas (flocos de neve) - (AD)
COUTO et al., 2012), enquanto a estrutura dentinária
mostra-se não alterada (KORAY; SOYMAN; Tipo III – Hipocalcificada
ERDOǦAN; 1988). a) Transmissão dominante (AD)
A transmissão genética da AI pode decorrer de b) Transmissão recessiva (AR)
três maneiras: tipo I, na qual a transmissão é
dominante, relacionado ao cromossomo X; tipo II, na Tipo IV – Hipoplásica e por Hipomaturação com
qual a transmissão é autossômica dominante; e tipo Taurodontia
III, quando a transmissão é autossômica recessiva a) Lesões do tipo hipomaturação (AD)
(KORAY; SOYMAN; ERDOǦAN; 1988). b) Lesões do tipo hipoplásica (AD) (MORGADO;
Em 1988, Witkop, estabeleceu uma AZUL, 2009).
classificação para a AI amplamente conhecida e aceita, Para estabelecer diagnóstico adequado,
de acordo com os vários estágios do comprometimento exames clínico e radiográfico devem ser realizados em
do esmalte dentário, dividindo em 4 grupos e 15 conjunto. De acordo com o aspecto clínico, a
subgrupos, baseados na variedade de fenótipos e modo amelogênese imperfeita pode ser subdividida em várias
de transmissão da anomalia. Deve-se levar em formas, dependendo do tipo de defeito apresentado e
consideração que fenótipos diferentes podem ser estágio de formação do esmalte em que tenha ocorrido
identificados em indivíduos da mesma família a alteração, sendo os principais, amelogênese
(AZEVEDO, 2013): hipoplásica, hipocalcificada e hipomaturada
Grupo I – Hipoplásica (SANTOS, 2006).
a) Presença de esmalte fissurado (autossômica No tipo hipoplásico da AI, o defeito ocorre no
dominante - AD) desenvolvimento da matriz do esmalte, que apresenta-
b) Hipoplasia localizada (AD) se fino, com sulcos e fossas, menos espesso
radiograficamente, contudo, com radiopacidade e
1215
contraste normais em relação à dentina (SENGUN; As características histopatológicas não são
OZER, 2002). No grupo da AI hipocalcificada, evidentes em preparações rotineiras devido à
encontram-se defeitos na mineralização do esmalte que necessidade da realização de descalcificações no
se mostra áspero, descolorido e com consistência preparo das peças. Como alternativa, preparam-se
menor, com maior suscetibilidade ao desgaste e cortes por desgaste de espécimes não
comprometimento da anatomia. Radiograficamente, a descalcificados (SHOLAPURKAR et al, 2008) e
radiopacidade do esmalte é semelhante à da dentina utilizam-se microradiografias como método especifico
(SENGUN; OZER, 2002). Já nos casos hopomaturados para determinar o grau de mineralização nos tecidos
da AI, a alteração ocorre na maturação do esmalte, o calcificados. As alterações histopatológicas
qual mostra manchamento opaco, variando de branco a evidenciadas são altamente diversificadas e variam
amarelo-amarronzado ou vermelho-amarronzado, e com cada tipo clínico de AI (NEVILLE, 2012).
tendência a descolar-se em lascas ao invés de Embora seja pequena a incidência, é
desgastar-se, apesar da espessura e dureza normais necessário suporte substancial aos portadores, tanto no
(CRAWFORD; ALDRED; BLOCH-ZUPAN, 2007). aspecto clínico quanto no emocional (MORGADO;
Este tipo, em função de seu aspecto, tem como AZUL, 2009). O tratamento envolve alívio da
diagnóstico diferencial a fluorose dentária sensibilidade e melhora da estética facial e da
(AZEVEDO, 2013). função. A existência de uma diversidade de materiais e
Além das deficiências quantitativas e métodos restauradores amplia as possibilidades de
qualitativas, podem estar eventualmente associadas tratamento, embora possam confundir o profissional
anomalias como: calcificação pulpar, taurodontismo e quanto ao mais adequado (GOKCE; CANPOLAT ;
malformação radicular, falha na erupção e impactação OZEL, 2013).
de dentes permanentes ou agenesia, reabsorção É importante levar em consideração, para
radicular e coronária, problemas oclusais como elaboração do plano de tratamento, aspectos
mordida aberta anterior e posterior (YIP; SMALES, relacionados aos anseios e expectativas do próprio
2003). paciente, bem como possibilidade financeira, tipo e
Independente do tipo de AI, as complicações severidade da alteração, idade e estado de saúde bucal,
são semelhantes e, dentre elas, encontram-se a que pode mostrar-se deficiente pelo receio e
sensibilidade dentária, estética deficiente e dimensão sensibilidade durante a escovação. Pacientes com
vertical diminuída, insatisfação com tamanho, forma e menos idade, requerem planejamento atencioso,
cor dos dentes, deficiência mastigatória 16 e higiene considerando o desenvolvimento dentário e o potencial
bucal prejudicada (CRAWFORD; ALDRED; BLOCH- de crescimento maxilar e mandibular (AZEVEDO,
ZUPAN, 2007). 2013). É imprescindível a realização de diagnóstico e
De modo geral, as alterações radiográficas tratamento imediatos, com restaurações adesivas para
baseiam-se na presença de esmalte hipomaturado com tratamento provisório, como método de melhorar a
radiodensidade similar ou menor que a dentina aparência e função, bem como evitar desgastes
(CRAWFORD; ALDRED; BLOCH-ZUPAN, 2007), dentários (HIRAISHI; YIU; KING, 2008).
fina ou ausente camada de esmalte, falta de pontos de Quando no planejamento nota-se a questão
contatos, dentina e cavidade pulpar com aspectos financeira como critério importante, pode-se incluir no
normais e, mais raramente, raízes curtas e estreitas planejamento, restaurações onlays de níquel-cromo e
COUTO et al., 2012). restaurações diretas de resina composta, que
1216
apresentam baixo custo quando comparados às confecção das coroas provisórias, montagem de
restaurações de cerâmica e também garantem modelos em articulador para estabelecimento e
reabilitação estética e funcional (AZEVEDO, 2013). devolução de uma adequada DV, instalação das coroas
Um importante fator a observar-se é que a adesão em provisórias posteriores superiores, seguida das
dentes com AI é alterada, podendo haver falha na superiores anteriores, posteriores inferiores (figura 4) e
adesão da resina à dentina, devido ao fato de que a por ultimo, anteriores inferiores (figura 5). Para
dentina exposta ao meio bucal sofre transformações finalização, foi realizado ajuste oclusal e
morfológicas e de composição que resultam em encaminhamento à ortodontia.
diminuição da dentina peritubular e obliteração parcial O paciente encontra-se em tratamento
dos túbulos dentinários, o que a torna mais resistente ortodôntico, para posterior reabilitação com coroas
ao ataque ácido. cerâmicas.
Independente da técnica ou material
escolhido, é importante que o plano de tratamento
inclua prevenção, restauração e manutenção
(SADIGHPOUR; GERAMIPANAH; NIKZAD, 2009).
I
nicialmente, os implantes foram restante, da marca De Bortoli cônicos (Universal II),
desenvolvidos para a reabilitação de também de hexágono interno. As plataformas dos
mandíbulas edentadas; logo pode-se implantes das regiões 11, 13, 14, 15, 22, 23 e 24 são,
afirmar que a estética não era a finalidade principal da respectivamente, de 3.8mm, 3.5 mm, 3.5mm, 3.5mm,
reabilitação sobre implantes. 4.0mm, 4.0mm 4.0mm .
Com o aumento da expectativa dos pacientes Os implantes 22, 23 e 24 estavam
em relação ao resultado do tratamento, no decorrer dos excessivamente inclinados para vestibular, não
anos, aliado às novas tecnologias na área de permitindo a confecção de uma prótese parafusada
implantodontia e prótese, fez-se necessário um sistema metalocerâmica sem a correção prévia dessas
de adaptação de próteses que atendesse, de modo inclinações com abtuments angulados. Por outro lado,
satisfatório, a necessidade estética e não apenas existia a possibilidade da utilização de munhões e
funcional. próteses metalocerâmicas cimentadas, o que
Comumente utilizam-se coroas cimentadas comprometeria a reversibilidade do caso quando fosse
como solução protética para implantes necessária a remoção da coroa. Então, foi considerada
vestibularizados. Assim, elimina-se o orifício de acesso a possibilidade da utilização de um sistema que
ao parafuso, saindo por vestibular, o que permitisse a remoção da prótese quando o profissional
comprometeria a estética do caso. No entanto, as assim desejasse, e que mantivesse a estética agradável
coroas cimentadas não podem ser removidas do do sorriso sem alterar a função (figura 1).
implante, caso isso seja necessário devido a uma Determinou-se no planejamento intelectual a
intercorrência. Assim, profissionais freqientemente se utilização de munhões personalizados em laboratório, a
questionam qual seria a maneira ideal de reabilitar um partir do pilar UCLA, com base metálica em cobalto-
paciente no qual a posição dos implantes compromete a cromo e sobrefundido em níquel-cromo. Devido à
estética, mantendo-se a reversibilidade protética dificuldade encontrada para se obter no comércio os
(FREITAS, 2009). três pilares UCLAs antirotacionais, utilizamos em
O presente artigo visa demonstrar a conjunto com as duas UCLA atirrotacionais, uma
utilização do sistema tubo-parafuso em implantes UCLA rotacional, sendo confeccionado o munhão
vestibularizados localizados em regiões estéticas, desta última unido ao coping do munhão do implante
possibilitando um resultado conciliador entre vizinho (figura 2).
estética e reversibilidade protética. Para se obter a reversibidade da prótese
parafusada, foi utilizado o sistema tubo-parafuso ou
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO parafuso lateral, colocado por palatina, para possibilitar
o aparafusamento da prótese sem comprometer a região
A paciente leucoderma, não fumante, tendo vestibular (figura 3).
condições sistêmicas em padrões saudáveis, O metal escolhido para ser utilizado na
apresentou-se com o objetivo de tratamento fundição dos munhões foi o níquel-cromo (NiCr). Após
reabilitador superior, sendo que possuía implantes e a fundição dos munhões, foram confeccionados os
provisórios em resina acrílica já instalados. copings metálicos sobre os mesmos, sendo utilizado
Os sete (7) implantes instalados nas regiões níquel-cromo e possuindo um orifício na parte palatina
dos elementos 13, 14, 15, 11, 22, 23 e 24, sendo o da que irá alojar a cabeça do parafuso, que serve para a
região 11 da marca SIN de hexágono interno, e o fixação da prótese no munhão perfurado. Foi planejada
1221
uma reabilitação oral superior composta por nove coroas sobre dentes metalocerâmicas foram cimentadas
coroas metalocerâmicas. No implante 11, foi planejada com cimento de fosfato de zinco (figuras 8 e 9).
uma coroa parafusada sobre um abtument cônico. Nos A paciente foi instruída a realizar a
dentes 12 e 21, planejamos coroas cimentadas. Nos higienização correta, e a manter consultas periódicas de
implantes 13, 14 e 15, planejamos três coroas unidas, acompanhamento para a correta manutenção das
parafusadas sobre três mini-pilares. Finalmente, no próteses. Ao finalizar o caso, a paciente teve
lado esquerdo da paciente, planejamos três coroas recuperada a estética e a função, pois agora pode
(sendo a 22 e 23 unidas) sobre os implantes 22, 23 e usufruir de uma correta oclusão, e a fonação, mantendo
24, onde, devido à grande vestibularização dos ao mesmo tempo a característica da reversibilidade que
implantes, optamos pelo uso do sistema tubo-parafuso. poderá, no futuro, se mostrar útil caso ocorra algum
Após a confecção da infraestrutura metálica, acidente com as próteses metalocerâmicas sobre os
foram provados os copings, sendo verificados implantes, ou mesmo devido à necessidade de
clinicamente e radiograficamente, a adaptação passiva profilaxia em regiões complicantes da prótese (figura
e ausência significativa de espaço entre a coroa e a 10). No presente caso clínico, a reabilitação
gengiva (gap). Com a resina acrílica Duralay II Lab implantossuportada com coroas totais cerâmicas e
Pattern Resin, foi realizado o registro interoclusal em intermediários personalizados de zircônia representou
três pontos distintos e equidistantes para se manter a uma adicional vantagem, levando-se em consideração
estabilidade oclusal quando os registros estiverem em as limitações observadas no início do tratamento. A
posição (figura 4). escolha correta dos materiais e técnicas contribuíram
Não foram necessárias soldas. A cor da para a reprodução precisa dos elementos dentais
porcelana escolhida foi A3, com base na escala VITA ausentes, bem como uma ótima estabilidade dos
classical A1 - D4. Após a aplicação da porcelana, foi tecidos peri-implantares, proporcionando
realizado o ajuste oclusal, em cêntrica, nas biocompatibilidade e estética, que em última análise,
lateralidades, e protrusão, para poder então ser aplicado vai direcionar para o objetivo final: longevidade e
o glaze (figura 5). Os primeiros munhões a serem naturalidade das restaurações cerâmicas.
instalados foram os dos implantes vestibularizados nas
regiões dos elementos 23 e 24, para poder, então, ser
instalado o munhão sem o antirrotacional do elemento
22, visto que o componente havia sido unido com o
coping do 23, com a finalidade de ter uma posição final
definida e não rotacionar por possuir a cinta metálica
lisa (figuras 5, 6 e 7).
Todos os parafusos dos munhões receberam o
torque de 20 N.cm diretamente sobre os implantes. As
coroas sobre mini-pilares receberam torque de 10
N.cm; já os parafusos localizados na parte palatina das
Figura 1 - Caso clínico inicial. Provisórios em resina acrílica
coroas com sistema tubo-parafuso receberam apertos
adaptados sobre dentes e implantes do 15 ao 24.
manuais. Os orifícios localizados nas regiões oclusais e
palatinas foram cobertos com fita veda-rosca e resina
composta fotopolimerizável opaca de cor A3. As
1222
Figura 11 – Registro oclusal em três pontos equidistantes. Figuras 13 e 14 – Instalação da coroa do elemento 12 com o
munhão sem o antirrotacional.
1224
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A técnica do tubo-parafuso, parafuso lateral
ou pilar transversal, se mostrou a técnica mais indicada
para a reabilitação de implantes vestibularizados, pois
combina a estética superior das próteses cimentadas
com a reversibilidade das próteses parafusadas.
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Capítulo 209
Reabilitação de maxila atrófica com
prótese tipo protocolo de Branemark
A
terapia implantodôntica pode independente do tipo de conexão (ROCHA et al.,
contemplar desde a falta de um 2012). (FREITAS; SILVA & GEOFFROY, 1974)
elemento como de toda a arcada ressaltaram que para se obter uma boa estética deve-se
dentária, devolvendo ao paciente considerar uma tomada correta da dimensão vertical, o
edêntulo parcial ou total, uma qualidade de vida que plano oclusal protético, linha mediana, linha dos
não era conseguida no passado (BRANEMARK et al., caninos e linha alta do sorriso e com relação aos
1969). Segundo um estudo de Pjetursson et al. (2012), dentes. Outro fator muito importante é o teste fonético,
as próteses dentárias implantossuportadas são um realizando diversas provas com palavras possuidoras
método de tratamento seguro e previsível, com altas de fonemas linguodentais. Os americanos usam a
taxas de sobrevivência. As próteses palavra Mississipi e, no Brasil, utilizamos numerais
implantos=suportadas apresentaram um papel como sessenta e seis (TAMAKI, 1983).
fundamental nas reabilitações totais, relacionando O presente relato de caso clínico tem como
estética, funcionalidade, equilíbrio das estruturas do objetivo apresentar uma reabilitação total em maxila
sistema estomatognático (RAMFJFORD, 1961) e com prótese do tipo protocolo de Branemark submetida
osseointegração efetiva, submetendo os implantes à à carga imediata.
carga imediata (ROMANOS et al., 2003).
Em Implantodontia, define-se carga imediata DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
como sendo a instalação de um elemento protético
sobre um implante, sem que tenha ocorrido ainda a sua Paciente do sexo masculino, 51 anos,
osseointegração (ABBOUD et al., 2005). Em próteses caucasiano, saudável e não fumante, apresentou-se em
tardias, ocorre um período de espera para que ocorra a clínica particular relatando insatisfação com o uso de
osseointegração dos implantes, durante esta fase, os prótese total superior há mais de 40 anos. Demonstrou-
pacientes fazem uso ou não de próteses removíveis. O se disposto a submeter-se à reabilitação protética
uso destas próteses temporárias, na maioria das vezes implantossuportada. Ao exame clínico, observou-se
desprovidas de estabilidade e retenção, geram situações reabsorção óssea severa de toda a maxila anterior,
de desconforto, necessidade de ajustes frequentes e trespasse horizontal negativo e suporte labial limitado.
eventuais problemas psicológicos e de convívio social Os exames de imagem mostraram seios maxilares
(CHEN; WILSON; HAMMERLE, 2004). extensamente pneumatizados em ambos os lados
Assim, nos últimos anos, diversas técnicas (figura 1), e severa absorção de todo osso alveolar na
têm surgido para reabilitar pacientes edêntulos totais maxila anterior. Na arcada inferior, apresentava dentes
com implantes osseointegrados, com base no conceito e implantes ósseointegrados com reabilitação fixa. A
de carga imediata.Assim, , surgiram técnicas com higiene bucal do paciente era satisfatória, sem grande
estrutura pré-fabricadas, técnicas de fundição acúmulo de biofilme.
odontológica convencional e até próteses imediatas Foi realizada demonstração ao paciente de
sem estrutura metálicas rígidas ou apenas com reforços como ficaria o seu suporte labial com o uso de uma
metálicos nos implantes distais (MENDES; prótese fixa implantossuportada, mediante a remoção
MIYASHITA; OLIVEIRA, 2011). de toda a área de acrílico rosa de sua prótese total. O
Na maioria dos casos de prótese total fixa planejamento proposto consistiu de elevação do
sobre implantes, realizam-se próteses parafusadas, assoalho de ambos os seios maxilares e enxerto ósseo,
sobre pilares mini-cônicos, retos ou angulados, período de incorporação óssea de 6 meses, seguida de
1228
confecção de prótese fixa suportada por seis implantes
posteriores.
previamente determinada, e o registro da linha média e anterior do guia cirúrgico aderido à resina.
REFERÊNCIAS
A utilização da terapia
miofuncional na adaptação de
próteses totais por meio da
Fonoaudiologia
A
terapia miofuncional aplicada em
parceria com o fonoaudiólogo em
usuários de prótese total visa
desenvolver padrões funcionais compatíveis com o uso
de próteses. Observou-se que a interação da
fonoaudiologia por meio da terapia miofuncional e a
reabilitação bucal são de grande importância para uma
adaptação mais rápida, evitando que os pacientes
deixem de usar as próteses por dificuldades de
adaptação ou que desenvolvam mecanismos
Figura 1 - Vista frontal inicial.
compensatórios (Kurita et. al 2001).
No processo de reabilitação de um paciente
desdentado, Cunha et. al (2003) concluíram que é
favorável a atuação do fonoaudiólogo em conjunto com
o cirurgião-dentista, pois quando isso ocorre,
resultados mais satisfatórios quanto à mastigação, fala
e estética são obtidos.
Castro & Gomez, (2015) apontam que a
fonoaudiologia muito contribui na execução de
próteses totais. Por meio de exercícios de força e
resistência, massagens e alongamentos, os músculos do
pescoço e da face são trabalhados desde o início até o
final do tratamento, possibilitando uma atividade Figura 2 - Perfil inicial.
Figura 5 - Vista frontal após as manobras miofuncionais. Figura 7 - Sorriso antes da terapia miofuncional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
tualmente, pacientes do que a quantidade de força, é a sua distribuição ao
parcialmente edêntulos, estão cada longo da raiz dentária e do osso alveolar. Se a força for
vez mais sentindo as desvantagens intensa, mas bem distribuída, levará a menores danos
sociais, estéticas e funcionais (BRAGGER et. al., aos tecidos do que uma pequena força concentrada em
2011). Quando ocorre a perda dos dentes contíguos, o pequenas áreas. Embora aceitáveis, as reabsorções
desafio estético é grandemente complexo (SPEAR, radiculares não devem ser consideradas normais,
2009). Sabe-se que o procedimento de restauração de fisiológicas ou como parte de um processo de
dentes anteriores, em particular, os incisivos remodelamento apical, e sim, efeitos colaterais ou
superiores, é um grande desafio para as reabilitações iatrogênicos quase inevitáveis na prática ortodôntica.
orais (GARBER; BELSER, 1995). Eles requerem Quando se gera uma força excessiva, não se dando
maior precisão no planejamento protético cirúrgico e chance do organismo de recuperar-se, resulta em
obrigatoriedade de um posicionamento tridimensional mobilidade e, consequentemente, a perda do elemento
ideal, que em uma abordagem equivocada, pode alterar dentário (CONSOLARO, 2012).
completamente a estética da área e levar a resultados
desastrosos do ponto de vista estético (DEUS, et. al,
2008). Vários são os fatores relacionados com a perda
do elemento dental. Temos a cárie, doença periodontal,
medicamentos e terapias agressivas, iatrogênia, dentre
outros (GREENSTEIN; CAVALLARO; TARNOW,
2010). Uma ortodontia mal conduzida pode levar à
perda dos elementos dentários, isto porque, na prática
Figura 1 – Vista frontal mostrando a vestibularização
ortodôntica, as reabsorções radiculares resultam da acentuada dos incisivos superiores.
soma de efeitos obtidos a cada período de ativação do
aparelho. Quando ocorre essa ativação para os tecidos
periodontais, é um novo recomeço, uma nova fase de
episódios moleculares, celulares e teciduais
(CONSOLARO, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
perda de estrutura dentária pelo processo de presa, tomando a melhor forma
devido a lesões cariosas, possível para futura fundição (figura 6).
traumatismos dentários, Após o processo de fundição por parte do
procedimentos restauradores anteriores, somado ao laboratório, esta peça foi entregue ao cirurgião-
desgaste adicional devido a procedimentos dentista para que, em seguida, fosse realizado o
endodônticos, resulta em perda de suporte dentário. processo de cimentação da peça, sendo que o
O tipo de restauração a ser confeccionada em material utilizado para este processo foi o cimento
dentes tratados endodonticamente dependerá do de ionômero de vidro da marca GC Gold Label
grau de destruição da coroa, do dente envolvido, do (figura 7). Remoção de excessos e limpeza da
suporte ósseo, do tipo de prótese e dos tipos de gengiva, preparo e núcleo metálico para futura
forças às quais esses dentes serão submetidos. O instalação da prótese fixa de cerâmica (figura 8).
preparo de um dente para acomodar um retentor
intrarradicular requer a remoção de estrutura dental
adicional, o que, provavelmente, enfraquece o dente
(MEZZOMO, 2002). A quantidade de estrutura
dentária remanescente está diretamente relacionada
com a capacidade do dente em resistir aos esforços
mastigatórios (SHILLINGBURG et al., 1998;
MEZZOMO, 2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
H
á uma procura cada vez mais diagnóstico, preparos coronários, reabilitação
acentuada por procedimentos provisória, moldagem de trabalho, confecção de
estéticos. A porcelana vem coppings em CoCr no 21) (figura 2), foi realizada
sendo um dos principais materiais para esta aplicação de porcelana, baseada na cor escolhida
utilização. O objetivo deste trabalho foi demonstrar B3 (com ajuda do aparelho smile line) (Figura3) e,
a confecção de uma metalocerâmica e faceta pura na fase de prova em boca, verificou-se a
de porcelana em dentes homólogos, mascarando a necessidade de igualar a cor da faceta com o
diferença de material. As cerâmicas dentárias, com cimento resino Variolink Venner (Ivoclar) (figura
uma série de características intrínsecas desejáveis, 4). Foram testadas duas cores do cimento a +1 e a
como biocompatibilidade, alta resistência à +2. Optou-se pela +2 (figura 5), que tem um valor
compressão e abrasão, estabilidade de cor, mais alto e é mais opaca (Branca), resultando em
radiopacidade, estabilidade química, coeficiente de uma estética favorável, deixando os homólogos
expansão térmica próxima ao da estrutura dentária e com croma e valor parecidos (figura 6).
excelente potencial para simular a aparência dos
dentes naturais, apresentam-se como um dos
principais materiais na ciência e arte da
reconstrução dentária (HENRIQUES, 2008). Na
prática da prótese dentária, a resolução bem
sucedida de casos clínicos depende muito de uma
boa comunicação entre o cirurgião-dentista e o
técnico. O CD deve ser capaz de demonstrar ao
técnico os detalhes que consideram importantes
para confecção adequada do trabalho protético Figura 1 - Foto inicial do caso.
(PARREIRA; SANTOS; 2006). O objetivo desse
trabalho foi relatar um caso clínico em dentes
homólogos (11 e 21), restaurados com materiais
diferentes, metalocerâmica e porcelana pura,
procurando obter a mesma estética.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O
desenvolvimento da odontologia adesão, capaz de igualar as condições intraorais e
digital abriu novos métodos de estéticas do paciente, é que determinarão o sucesso do
trabalho (workflow) que facilitaram caso (Conrad, 2007). Os diversos materiais disponíveis
a confecção de restaurações totalmente cerâmicas (D. para CAD/CAM são classificados de diversas
Fasbinder, 2012). O objetivo principal do conceito maneiras, por indicação clínica, composição,
“chairside” é executar restaurações estéticas em apenas temperatura de queima, método de processamento,
uma consulta, utilizando um sistema totalmente digital microestrutura, translucidez, abrasividade e resistência
(CAD/CAM), eliminando quase que por completo a à fratura (Denry, 1996; Anusavice, 2003), e dentre os
possibilidade de erros comumente encontrados na materiais mais utilizados em restaurações estéticas
confecção tradicional (D. Fasbinder, 2012). Além anteriores sobre dente, está a cerâmica feldspática
disso, comparado à moldagem tradicional, o Mark II Trilux VITA ZAHNFABRIK.
escaneamento ou moldagem digital economiza tempo e
aumenta o conforto do paciente (S. J. Lee, R. X. DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Macarthur IV, and G. O. Gallucci 2013; E.
Yuzbasioglu, H. Kurt, R. Turunc, and H. Bilir 2014),
promovendo restaurações com adaptação igual ou Paciente apresentou-se à clinica com fratura
melhor que restaurações feitas nos métodos do elemento 22 (FDI) no terço médio, sem exposição
convencionais (C. Mehl, S. Harder, A. Byrne, and M. pulpar, duas semanas após o ocorrido. Ao exame
Kern 2013; A. Syrek et al 2010; P. K. Brawek et al clínico, constatou-se restauração extensa em resina no
2013; E.R.Batson,L.F.Cooper,I.Duqum,and 21, com alteração de cor, forma e severa sensibilidade
G.Mendonça 2014; H. Tamim, H. Skjerven, A. Ekfeldt, à palpação e percussão em ambos elementos.
and H. J. Rønold 2014; S.Ting-ShuandS.Jian 2015).
Juntamente com a evolução digital, os
materiais cerâmicos também evoluíram, facilitando
ainda mais o workflow (S. J. Lee, R. X. Macarthur IV,
and G. O. Gallucci 2013; R. W. K. Li, T. W. Chow,
and J. P. Matinlinna 2014; R. Bhambhani, J.
Bhattacharya, and S. K. Sen 2013). Na década de 80 e
90, o sistema CEREC tinha como uma de suas
desvantagens o fato das cerâmicas serem
monocromáticas. Assim, para obter restaurações
estéticas anteriores, ainda se fazia necessário o uso de
cerâmica aplicada, o que implicaria em um maior
tempo para confecção, fornos para queima, moldagem Figura 1 - Fotos iniciais: A sorriso; B intraoral.
convencional, entre outros.
Não existe um material cerâmico específico Paciente foi encaminhado para tratamento
que supra todas as condições/indicações clínicas. A endodôntico e instruído sobre os defeitos periodontais
habilidade/conhecimento na escolha do material já existentes. Paciente optou por não fazer nenhum tipo
apropriado, sua forma de produção, cimentação e/ou de correção estética periodontal. Uma semana após,
1250
com os condutores radiculares já desobstruídos, foram FASE DESENHO
instalados pinos de fibra Whitepost DC #2 (FGM). Os 4 - Após a proposta biogenérica realizada
pinos foram condicionados com ácido hidrofluorídrico pelo software, ajustes proximais, oclusais e de
10%, por 1 minuto; lavado por 1 minuto com vapor
forma e contorno foram revisados.
quente (Aqua Vap – MINI KEY); condicionado com
ácido fosfórico 37% por 30 segundos, e novamente
FASE FRESAGEM
lavado com vapor por mais 30 segundos. Os pinos
5 - As restaurações foram fresadas em 12
foram silanizados com Monobond Plus (INOCLAR
VIVADENT) e secados por 10 segundos no secador minutos cada, sob refrigeração à agua (CEREC
de cabelos. Os pinos de fibra foram cimentados com MCXL, Sirona, Benhsheim, Germany) nos blocos
cimento dual Rebuilda Dentine (VOCO) e Trilux (Vita ZahnFabrik), cor 1m2 (Escala Vita
polimerizada cada face por 1 minuto (Bluephase - 3dMaster) para obter um efeito camaleão devido à
IVOCLAR VIVADENT). boa cor do substrato.
Os elementos foram preparados para coroa,
com apenas 1 fio retrator em cada elemento #000 (
Retraflex – BIODINAMICA) e foram colocados
expondo os bordos do preparo. O escaneamento
intraoral foi feito com o escaner Omnicam –
DENSTPLY SIRONA. A moldagem digital é
constituída de 3 momentos distintos: moldagem
do arco de trabalho, do arco antagonista e da
relação maxilo/mandibular (registro de mordida).
Com os modelos propriamente articulados
virtualmente, seguiu-se uma sequência simples para
confecção da restauração final.
FASE MODELO
1 - O modelo virtual foi troquelizado e os bordos dos Figura 2 - Fotos preparos: A clinica; B virtual.
preparos delineados.
2 - O eixo de inserção ideal foi estabelecido. Após a fresagem, removeu-se o sprue com
3 - Os parâmetros da restauração foram determinados: borracha azul EVE Diacera W11DC-set e jateadas
- Espaçador: 100um a vapor por 30 segundos. As restaurações foram
- Desvios de fresagem oclusal: 0 um então personalizadas com contorno e textura de
- Resistência dos contatos proximais:25um
superfície, utilizando as brocas Shofu Dura Green
- Resistência dos contatos oclusais: 0um
Stone #Wh6, #TC$, #TC1, seguida da sequência
- Força dinâmica dos contatos: 0 um
de borrachas de polimento rosa e cinza da EVE
- Espessura mínima radial: 700 um
Diacera W11DC- set. Não foram utilizados
- Espessura mínima oclusal: 700 um
nenhum tipo de glaze maquiagem ou aplicação de
- Espessura da margem: 80um
cerâmica. As restaurações foram provadas nos
1251
seus respectivos substratos com Try in O cimento foi inserido nas coroas e sobre os
transparente do kit Variolink (IVOCLAR dentes, e as restaurações colocadas em posição. Uma
VIVADENT) para verificar o mimetismo e o pré-polimerização por vestibular e lingual foi feita por
3 - 5 segundos e os excessos proximais, vestibular e
correto assentamento das próteses.
lingual removidos com sonda exploradora e fio dental.
O conjunto foi então polimerizado por 1 minuto cada
face e as fitas de teflon removidas. Devido à mordida
aberta da paciente, ajustes oclusais não foram
necessários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
superfícies internas das coroas foram condicionadas vida diária de dentistas e protéticos. Uma série de
com Ácido Hidrofluorídrico 10%, por 1 minuto, e publicações vêm demonstrando os avanços nesta
lavadas em água corrente e vapor, seguido de área, quebrando diversos paradigmas do workflow
condicionamento com ácido fosfórico 37% para convencional. A evolução e diversidade dos
completa limpeza do HF10%, depois foram lavadas blocos cerâmicos atualmente permitem que
novamente com água corrente e vapor. Após a
diversos casos de estética anterior sejam
completa secagem das restaurações condicionadas, foi
finalizados sem o uso de cerâmica aplicada e/ou
feita a aplicação do silano, por 1 minuto.
maquiagem. É fundamental observar parâmetros
Com escova de robson, pasta profilática e
de espessura mínima, substrato tipo de cerâmica, e
pedra pommes, os elementos foram limpos. Os
elementos vizinhos foram isolados com fita teflon para executar uma correta e cuidadosa cimentação
não haver condicionamento de superfícies não adesiva. Finalizar casos estéticos anteriores,
desejadas. Seguiu-se o processo de adesão com o utilizando apenas borrachas de polimento em
primer autocondicionante (20 segundos) e adesivo (10 blocos multicromáticos é uma realidade,
segundos) CLEARFILL (KURARAY) aplicados sobre possibilitando atingir resultados biomiméticos e
os dentes, ambos sendo levemente jateados com ar para devolvendo ao paciente, sua dentição
remover excessos.
‘natural’(Flurry, Lussi, Zimmerli, 2010).
O cimento de escolha foi à base do cimento
variolink transparente (IVOCLAR VIVADENT).
1252
REFERÊNCIAS BATSON, E. R. et al. Clinical outcomes of three
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1
Capítulo 215
Sérgio Velasquez
1254
A
pesar da evolução que durante a mastigação e que a prótese e seus
ocorreu na Odontologia, efeitos sobre a face correspondam as suas
principalmente com o necessidades estéticas e psicodinâmicas.
surgimento dos implantes dentários, ainda
A principal vantagem da prótese total
existem pacientes edêntulos que, por algum
em relação às próteses implantossuportadas é o
motivo, seja de ordem financeira, sistêmica ou
baixo custo e simplicidade de execução, o que
contra indicação clínica, necessitam de uma
viabiliza sua realização para pacientes com
reabilitação protética, através de próteses totais
reduzido poder aquisitivo (SHAY, 2006).
mucossuportadas. A instalação de próteses
A reabilitação oral tem como objetivo
totais requer conhecimento e habilidade do
restaurar a mastigação, a fonética, a aparência e,
profissional que a executa, já que exige uma
acima de tudo, o valor próprio e a dignidade
série de fatores que devem ser respeitados, para
destes pacientes (GEORGETTI et al., 2000).
que possamos devolver estética, função e
conforto a estes pacientes. Vários procedimentos clínicos e
laboratoriais são necessários durante o
Cárie e doença periodontal não são as
tratamento reabilitador com próteses totais, e a
únicas causas do edentulismo. Pesquisas
instalação dessas próteses seria o ápice do
mostram que vários fatores, como a atitude, o
tratamento. É uma etapa crítica, em que existe
comportamento, o atendimento odontológico e
um duplo relacionamento entre o cirurgião
as características do sistema de saúde,
dentista, que terá a oportunidade de verificar a
desempenham um papel importante. Além
exatidão do trabalho executado, e o paciente,
disso, existe uma correlação entre problemas
que espera ansiosamente pela prótese
financeiros, nível intelectual e o estado
( SHERMAN, 1977).
edêntulo. Portanto, edentulismo ocorre em
função de combinações de determinantes O objetivo do presente trabalho foi
culturais, financeiros e da atitude frente à relatar o planejamento protético da reabilitação
doença, bem como o tipo de tratamento de uma paciente, por meio de prótese total
recebido (ZARB, 2006). mucossuportada, maxilar e mandibular, bem
como os resultados obtidos com essa
A perda de dentes continua sendo um
modalidade de tratamento.
grave problema de saúde na população
brasileira. Segundo estudos epidemiológicos,
63,1% dos indivíduos, com idade entre 65 e 74
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
anos usam próteses totais bimaxilares (
Ministério da Saúde, 2011).
L
esão fibro-óssea benigna é um termo radiográfico apresenta trabéculas ósseas imaturas que
usado no meio científico para se superpõem e conferem o aspecto de vidro despolido,
descrever um grupo de patologias casca de laranja ou flocos de algodão. A organização
que acometem o complexo maxilo-mandibular, no qual do trabeculado anormal dentro de um padrão em
o tecido ósseo normal é substituído por tecido fibroso, redemoinho similar a uma digital é característica.
contendo substâncias mineralizadas com aparência Histologicamente, é formada por quantidades variáveis
óssea ou cementóide ou uma mistura entre esses de tecido conjuntivo fibroso e trabéculas ósseas
tecidos (OLIVEIRA et al., 2008; RAITZ, 2004). A neoformadas, que não estão conectadas umas às outras,
displasia fibrosa pode afetar somente um osso assumindo formas semelhantes à letra C ou escrita
(monostótica), correspondendo de 70 a 80% dos casos, chinesa (PAGOTTO; MARIANI, 2009). O diagnóstico
ou múltiplos ossos (poliostótica), podendo ocorrer em diferencial inclui o fibroma ossificante central, a
25 a 30% dos pacientes. A pigmentação cutânea é mais Doença de Paget e displasias ósseas (WHITE;
comum nas formas poliostóticas da doença. Cerca de PHAROAH, 2007).
3% dos pacientes irão apresentar, além da pigmentação
cutânea, distúrbios endócrinos, caracterizando a
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Síndrome de McCune-Albright (JUNQUEIRA et al.,
2010; SANTOS; LUCIA, 2009). A maioria dos casos
de displasia fibrosa é diagnosticada durante a segunda Paciente do gênero masculino, 17 anos,
década de vida (OLIVEIRA et al., 2008; SANTOS; procurou a clínica de estomatologia da Faculdade São
LUCIA, 2009). São comumente unilaterais, exceto em Leopoldo Mandic –Unidade Campinas, com queixa de
raríssimas lesões extensas na região maxilofacial, que formigamento, dor de baixa intensidade e aumento de
são bilaterais (WHITE; PHAROAH, 2007). Quando os volume na região de maxila esquerda, sendo percebido
ossos esfenoide, zigomático, ossos frontonasal e base desde o ano de 2012. Na anamnese, não foi constatado
do crânio são afetados, a doença é chamada Displasia nenhum problema de saúde. Ao exame físico extraoral,
fibrosa craniofacial (JUNQUEIRA et al., 2010). A observou-se assimetria facial, discreto desvio do nariz
maxila é afetada mais do que a mandíbula, ambas na para o lado direito e terço médio da face do lado
região de pré-molares e molares, sem predileção por esquerdo aumentado (figura 1). Ao exame clínico,
gênero (JUNQUEIRA et al., 2010; SANTOS; LUCIA, observou-se aumento de volume em maxila do lado
2009). As imagens na displasia fibrosa mostram uma esquerdo, mordida aberta anterior, extrusão dos dentes
lesão radiolúcida expansiva, com aspecto de vidro posteriores do lado esquerdo e desvio da linha média
despolido, cujas imagens no tecido ósseo subjacente para o lado direito (figuras 2 e 3). A radiografia
não apresentam demarcação precisa (OLIVEIRA et al., panorâmica mostra uma imagem radiopaca, mal
2008; SANTOS; LUCIA, 2009). A densidade e o definida, localizada na região de maxila esquerda, com
padrão trabecular variam consideravelmente, sendo aspecto de vidro despolido (figura 4). A Tomografia
mais pronunciada na mandíbula e mais homogênea na Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC) mostrou
maxila. Lesões recentes podem ser mais radiolúcidas uma imagem hiperdensa, expansiva, homogênea,
do que em lesões maduras e, em casos raros, pode localizada em maxila esquerda, sem ruptura das
parecer ter septos internos granulares, dando à estrutura corticais, invadindo o seio maxilar esquerdo, com
interna uma aparência multilocular. O aspecto aspecto de vidro despolido (figura 5).
1262
Histopatologicamente, observamos trabéculas de
formato irregular de osso imaturo em um estroma
celular fibroso arranjado frouxamente (figura 6).
Alguns casos sofrem maturação progressiva para uma
lesão, consistindo em osso lamelar em um estroma de
tecido conjuntivo moderadamente celular (figura 7). O
diagnóstico clínico, radiográfico e histopatológico foi
Displasia Fibrosa Monostótica.
REFERÊNCIAS
A
Queilite Actínica (QA) é desenvolvendo-se nas áreas mais ressecadas do
uma alteração pré-maligna, vermelhão. É caracterizada por erosão, edema e
resultante da exposição solar formação de crostas (REICHART, PHILIPSEN,
frequente e prolongada 2000). Inicialmente, os lábios apresentam-se
(ARAÚJO et al., 2012). Possui diferentes ásperos e ressecados, depois aparecem estrias ou
nomenclaturas: Queilite Solar, Queratose Actínica, fissuras perpendiculares ao limite pele - vermelhão.
Queratose Solar, Queilose Actínica, Queratose Nos casos mais avançados é comum o edema difuso
Actínica Labial, entretanto QA é o termo mais do lábio e perda do limite pele - vermelhão
frequentemente usado na literatura (MAIN; (LUNDEEN; LANGLAIS; TEREZHALMY,
PAVONE, 1994; KAUGARS et al., 1999; 1985).
BARREIROS, 2009). A QA pode ainda se Histologicamente, a QA apresenta epitélio
transformar em carcinoma espinocelular de lábio escamoso estratificado atrófico com produção de
(CEL) (JUNQUEIRA et al., 2011). queratina e graus variados de atipias. O tecido
Sua transformação é uma consequência da subjacente mostra uma mudança basofílica, acelular
exposição prolongada e contínua à radiação solar e amorfa, conhecidamente como elastose solar
(ROJAS et al., 2004). A radiação solar é (actínica), presumivelmente um resultado da
reconhecidamente o agente etiológico mais alteração do colágeno e das fibras elásticas
importante da QA (ACQUAVELLA et al., 1998; induzidas pela luz ultravioleta (UV) (NEVILLE et
MARKOPOULOS; ALBANIDOU–FARMAKI; al., 2004).
KAYAVIS, 2004: ROJAS et al., 2004: De acordo com as informações sobre
JUNQUEIRA et al., 2011). Outros fatores atividades de trabalho e lazer em ambientes
importantes etiológicos do CEL incluem o tabaco e externos ou elevada exposição ao sol sem a correta
o álcool. Sua transformação é de aproximadamente proteção, o paciente deve ser orientado pelo
de 10 - 20 % (SANTOS et al., 2003). dentista para realizar seu autoexame e fazer sua
Afeta preferencialmente o lábio inferior, proteção solar.
pessoas de pele clara, homens entre 40 e 80 anos, Embora o tratamento do câncer bucal
morando em áreas rurais e trabalhadores expostos tenha sofrido avanços, é necessário que o indivíduo
ao sol (ACQUAVELLA et al., 1998: JUNQUEIRA com QA seja diagnosticado precocemente, por isso,
et al., 2011). o tratamento deve iniciar com exame clínico e,
Seu comportamento biológico e dependendo da severidade, a QA deve ser
fisiopatológico é semelhante à queratose actínica da acompanhada e tratada. As variáveis histológicas,
pele, apresentando-se de três maneiras: como lesões com diferentes graus de queratinização, também
brancas em forma de placa não ulceradas, erosões são razões para o diagnóstico precoce, e tratamento
ou úlceras no lábio ou uma forma mista de lesão adequado prevenindo o carcinoma de lábio.
branca e ulcerada (VÉO et al., 2010). O diagnóstico
da QA é baseado nos achados clínicos e DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
histológicos. Clinicamente, apresenta
desenvolvimento lento, podendo levar à atrofia do M. M. da S, sexo feminino, 44 anos,
vermelhão do lábio inferior, escurecimento da natural de Fortaleza, pele clara, não fumante,
margem, áreas ásperas e escamosas, relatou beber socialmente, trabalha há 19 anos
1266
como agente comunitária de saúde, com exposição
solar diária de 06 horas, com proteção solar nos
lábios, face e corpo, de 2 anos para cá. Relatou que
há mais de 2 anos foi a um Centro de dermatologia
porque achou os lábios muito vermelhos,
ressecados, ardidos, e nesse momento, o
dermatologista realizou um procedimento que ela
chamou de congelamento. Os lábios continuaram
vermelhos; há 2 anos retornou ao dermatologista
Figura 1 - Pré-operatório.
queixando-se novamente de lábios vermelhos,
principalmente o inferior (figura 1). O
dermatologista fez uma biópsia e revelou para a
paciente que o resultado era alteração displásica e
não câncer e a paciente deveria fazer
acompanhamento clínico (figura 2). A paciente foi
orientada da necessidade de proteção solar nos
lábios e acompanhamento com o dentista. Na Figura 2 - Laudo histopatológico.
Unidade de Saúde onde a paciente trabalha (nov. /
2015) foram realizadas ações educativas sobre
lesões potencialmente malignas, e na ocasião, pode-
se observar ao exame extraoral, lábios opacos,
ásperos, ressecados, estrias ou fissuras em toda a
extensão, leve apagamento do limite
dermatomucoso, (figura 3/4). A paciente relatou
descamação persistente, secura, queimação, devido
à exposição solar de forma contínua e quando
esquece a proteção solar nos lábios. De acordo com
orientação profissional e sabendo dos riscos da QA
Figura 3 - Pós-operatório.
evoluir para CEL, a paciente admitiu que,
atualmente, protege os lábios contra o sol,
diariamente, de 2/2 horas, e faz o acompanhamento
com o dentista como indicado, e que os sintomas
nos lábios amenizaram, inclusive a coloração
(figura 5).
Sua QA foi classificada clinicamente como
moderada, de acordo com a classificação OMS/
2005. Foi novamente orientada quanto à correta
proteção solar nos lábios e acompanhamento pelo
dentista.
Figura 4 - Pós-operatório.
1267
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trabalhadores que sofrem exposição solar constante MARKOPOULOS, A.; ALBANIDOU-
devem fazer uso de protetor solar nos lábios, visto o FARMAKI, E.; KAYAVIS, I. Actinic
cheilitis clinical and pathology
agente etiológico. E em casos de QA, como o caso
characteristics in 65 cases. Oral Disease, v.
clínico, estas devem ser classificadas, 10, n. 4, p. 212-216.
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Capítulo 218
Schwannoma vestibular: imagens
de RNM e relato de caso
O
Schwannoma vestibular, Em relação à alteração patológica, o
também conhecido como Schwannoma do acústico se apresenta
neuroma ou neurinoma do macroscopicamente como um tumor encapsulado,
acústico, é o tumor mais frequente do ângulo de superfície lisa, cuja forma depende do grau
pontocerebelar correspondendo aproximadamente evolutivo. Os tumores intracanaliculares, por
a 9% de todos os tumores intracranianos. Esse exemplo, costumam alargar o bordo medial do
tumor é benigno e se desenvolve a partir das células conduto auditivo interno, tomando uma forma
de Schwann, mais frequentemente na divisão cônica. Já os tumores maiores possuem, além deste
superior do nervo vestibular. O crescimento é lento formato cônico, outra porção arredondada que
em direção ao ângulo pontocerebelar, comprimindo ocupa o ângulo pontocerebelar, assumindo a forma
o VIII nervo craniano e alargando o meato acústico de um “cogumelo” (FARIA et al., 2015).
interno (NASCENTES et al., 2007). Acomete mais Os sintomas iniciais do schwannoma do
mulheres, em qualquer faixa etária, mas mais acústico são sempre otoneurológicos, sendo a
especificamente entre 50 e 60 anos, sendo esta a hipoacusia (perda auditiva), o tinnitus (zumbido) e
faixa em que se concentra o maior número de a tontura, as principais queixas. Com a evolução do
diagnósticos (FARIA et al., 2015). quadro, podem surgir outros sintomas não tão
A incidência do schwannoma vestibular é comuns, como cefaléia, disfunção dos pares baixos,
em torno de 1:100000 pessoas por ano, mas com a ataxia (incoordenação motora) ou outras disfunções
evolução dos exames de imagem, este número tem neurológicas graves. Quando o tumor é grande o
aumentado, pois acabam por detectar lesões bastante, pode causar compressão do nervo
assintomáticas previamente não observadas. O trigêmeo, gerando hipoestesia ou dor facial, sendo o
schwannoma vestibular pode ocorrer de dois tipos: primeiro sintoma mais comum que o segundo. O
esporádico ou associado à neurofibromatose tipo 2. terço médio da face é o mais atingido. O reflexo
No primeiro, o tumor é unilateral e representa córneo-palpebral pode ser afetado. Não só a raiz
aproximadamente 95% dos casos, ao passo que, sensitiva do trigêmeo pode ser acometida, mas
quando associado à neurofibromatose tipo 2, o também, a motora (FARIA et al., 2015). A surdez
tumor é bilateral e representa os outros 5% restantes súbita unilateral ocasionada pelo tumor é um
dos casos (WEBSTER et al., 2013). Schwannomas sintoma que ocorre em até 26% dos tumores do
do acústico raramente ocorrem em crianças, e acústico. Os pacientes apontam, com precisão, o
quando acometem, estão dentro de um contexto de início da perda auditiva e como aconteceu, sendo
neurofibromatose (NAI et al., 2011). geralmente unilateral, permanente ou não. Essa
Mesmo entre os tumores diagnosticados, a surdez tem sido atribuída a espasmo ou oclusão da
grande maioria (69%) não apresenta crescimento artéria labiríntica como resultado da compressão
após o diagnóstico, e a involução tumoral já é um tumoral (NAI et al., 2011).
fato conhecido e descrito na literatura. A pequena No diagnóstico, além da história detalhada
parcela (31%) que apresenta algum grau de e do exame físico, está indicada a avaliação
crescimento em suas dimensões ocorre de forma audiológica, provas vestibulares e avaliação do
lenta, já que desses, 70% apresentam crescimento nervo trigêmeo, além de Ressonância Nuclear
em índices menores que 2mm ao ano (PENIDO et Magnética (RNM) contrastada com gadolínio
al., 2007). (NASCENTES et al., 2007). A RNM e a
1270
Tomografia Computadorizada ajudam no cirúrgico. O que não significa repúdio à cirurgia,
diagnóstico diferencial do tumor, além de avaliar o mas sim, um acompanhamento inicial para verificar
alargamento e a destruição do meato acústico se o tumor que acomete determinado paciente tem
interno, sendo ambas com ênfase em ângulo ponto- características de crescimento rápido ou não. A
cerebelar. A RNM permite o diagnóstico de conduta cirúrgica pode ser adotada quando há
schwannomas do acústico muito pequenos (lesões aumento rápido das dimensões tumorais em exames
até 2 mm de diâmetro) e minimamente de imagem seriadas ou quando há piora dos
assintomáticos (NAI et al., 2011). sintomas. Deve, também, ressaltar que a piora
Uma imagem de RNM ponderada em T1, audiométrica não está relacionada estatisticamente
geralmente usada para demonstrar anatomia, ao aumento tumoral (PENIDO et al., 2007).
destaca as diferenças nos valores de T1 dos tecidos; O desenvolvimento global da
isso se dá por meio do uso de um tempo de neurocirurgia, durante o último século, foi
repetição e tempo de eco mais curtos. Imagens acompanhado de profundas melhorias no resultado
ponderadas em T2 são usadas com mais frequência do paciente após a cirurgia schwannoma vestibular.
para a identificação da lesão patológica, pois o Se, no passado, a exérese total do tumor era o
tecido alterado geralmente contém mais água do objetivo principal da cirurgia, no presente, esta
que os tecidos circundantes, devido à inflamação. abordagem mudou de modo significativo. Assim,
Estas imagens destacam as diferenças nos valores com uma perspectiva diferente em relação aos
de T2 dos tecidos, por meio do uso de um tempo de tumores benignos do ângulo ponto-cerebeloso, é
repetição e tempo de eco mais longos (WHITE & possível a preservação do nervo facial e audição,
PHAROAH, 2015). constituindo um dos principais objetivos da
O agente de contraste gadolínio pode ser cirurgia, assim como a exérese do tumor. O manejo
administrado via intravenosa para aumentar o do schwannoma acústico evoluiu com as técnicas
contraste do tecido. O gadolínio não produz microcirúrgicas e o advento dos procedimentos de
imagem em si, mas encurta os tempos de diagnóstico radiológico. A importância da
relaxamento em T1 dos tecidos intensificados na integridade do nervo facial para a qualidade de vida
RNM, fazendo-os parecer mais brilhantes. Os do doente é muito relevante e a diferença desta
tecidos patológicos geralmente se intensificam, atitude cirúrgica permite encarar, de modo mais
permitindo ser mais bem diferenciados do tecido sensato, uma patologia cuja abordagem e
normal que os circunda. Incluem-se como tecidos terapêutica ainda é geradora de grande polémica
patológicos, tumores, infecções, inflamações e (KOERBEl et al., 2005; RAMINA et al., 2007;
lesões pós-traumáticas (WHITE & PHAROAH, D’ALMEIDA et al., 2015).
2015).
Com relação ao tratamento, a conduta DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
conservadora deve ser sempre levada em
consideração em pacientes com diagnóstico de Paciente do sexo feminino, 49 anos de
schwannoma vestibular, principalmente em idade, leucoderma, compareceu a uma clínica
pacientes com sintomas mínimos, idade avançada, odontológica para tratamento endodôntico do dente
más condições clínicas, tumores pequenos, tumores 37, que apresentava quadro de pulpite aguda
em orelha única ou que não desejam tratamento sintomática irreversível. No exame clínico, foi
1271
constatada a presença de trinca mésio-distal na
coroa do dente, associado com restauração de
amálgama.
No período do atendimento odontológico,
a paciente relatou uma forte dor irradiada no lado
esquerdo da face, descrita como “latejante” com
períodos de curta duração e com frequência
bastante variável, exacerbada por movimentos da
cabeça ou outros atos, como escovação, A
alimentação ou mesmo toque na face. Durante um
período de dois meses, as crises se intensificaram e
surgiram sinais de vertigem e diminuição da
audição, relatados pela paciente.
Diante da hipótese de diagnóstico de
neuralgia do trigêmeo, a paciente foi encaminhada
para avaliação de um médico otorrinolaringologista.
Quando comprovada a perda parcial da audição do
lado esquerdo, um exame de ressonância nuclear
magnética foi solicitado, antes e após a infusão
endovenosa do agente paramagnético.
B
As imagens multiplanares e
Figura 1- Visualização de reconstruções multiplanares de
multissequenciais com contraste em T1 (figura 1);
RNM: imagem intensificada do tecido tumoral nos planos
Axial Flair e T2 (figura 2) demonstraram a
coronal (A) e axial (B) em T1 pós-contraste.
formação expansiva na cisterna do ângulo ponto-
cerebelar esquerdo, estendendo para o conduto
auditivo interno, intimamente relacionado com os
sétimo e oitavo nervos cranianos, exercendo efeito
compressivo sobre o pedúnculo cerebelar médio
adjacente; com medidas aproximadas de 2,2 x 2,1 x
1,9 cm, considerando a possibilidade de
Schwannoma.
A paciente foi encaminhada para o
neurocirurgião para biópsia excisional em vista da
dimensão da lesão. A análise histopatológica foi
realizada e o diagnóstico foi concluído como
A
Schwannoma Vestibular.
1272
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O
carcinoma mucoepidermóide é NEVILLE et al., 2009; REGEZI; SCIUBA;
um dos mais habituais tumores JORDAN, 2013). As células mucosas podem variar
malignos a afetar glândulas na morfologia e trazer citoplasma espumoso vasto,
salivares, sendo com maior frequência de que se cora por mucina, enquanto as células
acometimento glandulares salivares maiores. Já nas intermediárias possuem forma basaloide
menores, a primeira mais comum ocorre na (MARQUES; ISRAEL, 2007; NEVILLE et al.,
parótida, e a segunda, no palato (MARQUES; 2009; REGEZI; SCIUBA; JORDAN, 2013).
ISRAEL, 2007; NEVILLE et al., 2009; SANTOS et A gradação dessas células caracteriza a
al., 2012). Apresenta grau de malignidade classificação histológica no que tange à virulência
diversificado, dependendo de suas características da lesão, podendo ser classificada em baixo e
histopatológicas. Sua origem histológica é intermediário e alto grau. Quando encontrada atipia
possivelmente decorrida da metaplasia de células celular tênue e proporção elevada de células
mucosas e basais ductais das glândulas salivares. A mucosas pouco agressivas, considera-se de baixo
sua etiologia não é bem elucidada, porém, fatores grau. Determina-se de alto grau, ao apresentar
de riscos como radiação, tabagismo e álcool significativo pleomorfismo, atividade mitótica,
possuem forte consistência de relação (NEVILLE et presença de células mucosas, ainda alta proporção
al., 2009; PECOITS et al., 2012). A lesão afeta, de células escamosas com crescimento veloz
equitativamente, ampla faixa-etária, partindo da seguidas de sintomatologia dolorosa precoce. O
segunda à sétima década de vida. Não obstante, é a grau intermediário localiza-se ao centro das
neoplasia maligna de glândula salivar mais características citadas. Respectivamente, os mais
corriqueira em indivíduos jovens, incluindo comuns são: baixo, intermediário e, por último, alto
crianças. Não existe tropismo por etnia nem por grau. Contudo, essa ordenação não condiz com o
sexo, todavia, alguns autores citam leve predileção prognóstico (CHIU et al., 2012; EPSTEIN,
ao sexo feminino (PECOITS et al., 2012; REGEZI; HOLLENDER, PRUZAN, 2004). Para isso, utiliza-
SCIUBA; JORDAN, 2013). se o sistema de Estadiamento Metástese -Tumor-
De modo clínico, o aumento de volume Nodo (TNM), quanto maior a classificação, pior o
com evolução lenta, normalmente assintomático, prognóstico (SANTOS et al., 2012).
mas que ocasionalmente pode estar associado à Referente ao tratamento do carcinoma
ulceração superficial e parestesia, é prodrómico ao mucoepidermóide, fatores como localização, grau
carcinoma mucoepidermóide (NEVILLE et al., histopatológico, estágio clínico do tumor e presença
2009; REGEZI; SCIUBA; JORDAN, 2013). Dor e de metástase determinam a conduta a ser adotada.
paralisia facial normalmente estão ligados ao tumor Há grande relevância no diagnóstico prematuro
na parótida 5. Na literatura, estão bem definidas as para melhor prognose, assim como, terapêutica
características desse tumor; são elas: presença de cirúrgica adequada e associação de quimioterapia e
células escamosas (epidermóides), células radioterapia quando necessárias (FONSECA et al.,
produtoras de muco e células do tipo intermediário. 2012; PANDYA; MATTHEWS, 2014; GHOSH-
As células escamosas têm forma, na maioria das LASKAR et al., 2011).
vezes, poligonal, pontes intercelulares e rara O objetivo do presente capítulo é descrever
ceratinizacão (MARQUES; ISRAEL, 2007; um caso clínico de neoplasia maligna agressiva de
1276
boca, acometendo região de rebordo gengival agressivo. O tratamento de eleição foi cirúrgico
inferior, mucosa jugal, trígono retromolar e palato radical, porém com a preservação do nervo facial e
mole, a qual foi classificada de acordo com o complementação ex post de radioterapia, 50 Gy/25
sistema Metástase-Tumor-Nodo (TNM) de: fx.
T4N0M0 (estádio IIIB), ou seja, de alto grau de
malignidade.
As figuras 3 A a 3 D ilustram o
procedimento cirúrgico que baseou-se na incisão
em retalho de bochecha inferior direita;
Mandibulectomia associada a esvaziamento
cervical (COMMANDO); Hemimandibulectomia
direita; Extensão da ressecção: Base de língua,
Figura 2 B - Corte axial tomográfico. palato fibroso, úvula, parede lateral da faringe
direita, musculatura mastigatória (bucinador e
masseter), Lâmina pterigóide medial e lateral;
ECSOH direita; Esvaziamento cervical dos três
primeiros níveis cervicais, mais remoção da
glândula submandibular direita. Reconstrução com
retalho miocutâneo do peitoral maior.
A
s calcificações em tecidos moles da glicoproteínas, mucopolissacarídeos, lipídios e detritos
região orofacial são comuns e geralmente celulares. A formação do cálculo ocorreria,
são visualizadas nos exames de imagem primeiramente, a partir da camada central de substância
solicitados rotineiramente. No entanto, muitos orgânica sobre a qual se precipitam os sais de cálcio.
cirurgiões-dentistas apresentam dificuldade no Em uma segunda fase, haveria a deposição de matéria
diagnóstico das calcificações nesses exames de orgânica e não orgânica. O acúmulo de cálcio e a
imagens, devido à variabilidade de localização, forma e consequente alteração do pH local, reduzem a
densidade desses achados (BHULLAR et al., 2015). solubilidade do fosfato de cálcio contido na saliva,
São consideradas calcificações distróficas as favorecendo a sua precipitação (NETO; FREITAS;
deposições anormais de minerais em tecidos moles GOULART, 2014, OMEZLI et al., 2016).
sadios ou necrosados. As calcificações podem estar Essas calcificações ocasionam um distúrbio
presentes em estruturas como vasos sanguíneos, comum em glândula salivar denominado de sialolitíase
glândulas salivares, linfonodos, tonsilas entre outras (BHULLAR et al., 2015). A sialolitíase é responsável
(OMEZLI et al., 2016). Os sialolitos são corpos por cerca de 50% das doenças das glândulas salivares
calcificados que se desenvolvem na luz do sistema maiores (SHAHOON; FARHADI; HAMEDI, 2015),
ductal ou na parte mais externa das glândulas salivares, envolvendo mais comumente a glândula submandibular
interrompendo ou limitando a secreção salivar, sendo (80% a 90%) e menos frequente as glândulas parótidas
também chamados de cálculos salivares ou pedras (5% a 10%) e sublingual (1% a 7%) (CHERIAN et al.,
salivares (BHULLAR et al., 2015). 2014). A sialolitíase é mais frequente em pacientes do
A patogênese do sialolito ainda é incerta e sexo masculino. O pico de incidência é entre a idade de
existem algumas teorias, mas sua origem não está 30 e 60 anos, e é muito raro em crianças, já que apenas
relacionada a nenhum transtorno sistêmico de cálcio ou 3% de todos casos ocorrem em crianças (ZENGEL et
do metabolismo do fósforo (MARWAHA; NANDA, al., 2011). Sua frequência estimada é de 1,2% na
2012). A primeira teoria associa o surgimento do população adulta e não se observa predileção por raça
sialolito à mudança na secreção salivar e à composição (OMEZLI et al., 2016).
da saliva. Já a outra relaciona a ocorrência dessa A maior frequência de sialolitíase é em
alteração com a retenção salivar, devido a fatores glândula salivar submandibular. Isso ocorre devido ao
morfoanatômicos dos ductos como ducto salivar trajeto sinuoso e ascendente do ducto de Wharton, com
pequeno e/ou tortuoso (SHAHOON; FARHADI; maior facilidade para deposição dos sais de cálcio e
HAMEDI, 2015). consequente formação de cálculos, além da maior
Por fim, acredita-se que a origem dos cálculos quantidade de proteínas (mucinas) secretadas pela
esteja relacionada à deposição de sais de cálcio ao glândula submandibular, tornando a secreção mais
redor de bactérias, células epiteliais do ducto ou dos espessa, dificultando a drenagem (MARWAHA;
corpos estranhos, sendo a porção central NANDA, 2012), aumentando a concentração de íons
predominantemente inorgânica e constituída, em sua de fosfato de cálcio e carbonato de cálcio, sendo
maioria, de diferentes formas de fosfato de cálcio com responsáveis pela maior tendência à formação de
quantidades variadas de carbonatos na forma de cálculos nestas glândulas (MIYASHITA et al., 2013).
hidroxiapatita, podendo conter, também, magnésio, A maior parte dos cálculos é menor do que 10
potássio e amônia. Já em sua periferia, contém milímetros de diâmetro; maiores do que 15 milímetros
componentes inorgânicos e orgânicos, sendo esses: de diâmetro são considerados cálculos salivares
1282
gigantes, sendo estes raros (NETO; FREITAS; este motivo, frequentemente mal interpretados. Eles
GOULART, 2014). Clinicamente, essas calcificações estão localizados na mandíbula, obstruindo a secreção
podem ser arredondadas ou ovoides, macias ou salivar nos canais excretores das glândulas
consistentes e, dependendo da sua constituição, poderá submandibular (canal de Wharton) e sublingual. Os
ter a coloração branca à amarelada (BHULLAR et al., cálculos salivares na glândula parótida sobrepõem o
2015). ramo na radiografia panorâmica e são encontrados no
A sintomatologia da sialolitíase pode variar canal excretor (canal de Stensen) que termina na
dependendo do tamanho do sialolito. Poderá ser direção vestibular do segundo molar superior na
assintomática, quando a obstrução não é completa e mucosa julgal (MIYASHITA et al., 2013).
parte da saliva consegue ser eliminada, ultrapassando o O tratamento pode variar de acordo com a
cálculo. A presença de aumento de volume no local é o localização, tamanho do cálculo salivar e
sinal mais frequentemente relatado pelo paciente sintomatologia dolorosa do paciente. Em calcificações
quando busca atendimento para sialolitíase, podendo pequenas e próximas à porção terminal do ducto, pode-
ocorrer dor e inchaço da glândula, nos períodos de se optar por tratamentos menos invasivos como
refeição, ou quando ocorrerem estímulos locais. A massagens e esforço para expelir o sialolito através do
obstrução completa causa dores e inchaços constantes, orifício do ductal, estando ou não associada à
sendo comum que obstruções persistentes por períodos prescrição de sialogogos. Para sialolitos maiores, o
mais longos resultem em infecções e levem à atrofia e tratamento de escolha é a remoção do sialolito por
à fibrose glandular, com as consequentes alterações na acesso intraoral, podendo ser necessária a remoção da
função de secreção salivar da glândula envolvida glândula em alguns casos (CHERIAN et al., 2014;
(MARWAHA; NANDA, 2012). BHULLAR et al., 2015; OMEZLI et al., 2016).
Ao exame histotógico, os sialolitos
apresentam-se como laminações concêntricas que DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
podem circundar um nicho de restos orgânicos e
quando há a remoção conjunta do ducto, observa-se A paciente D.F.S., gênero feminino, 23 anos
inflamação periductal aguda ou crônica (BHULLAR et de idade, compareceu a uma clínica particular de
al., 2015). diagnóstico por imagem, encaminhada por seu dentista
O diagnóstico do sialolito se faz pela particular para a realização de uma panorâmica e
associação dos exames clínico e radiográfico, ou outros telerradiografia para uma documentação ortodôntica e
exames complementares mais complexos, como a início de tratamento ortodôntico.
tomografia computadorizada de feixe cônico, Após a realização das imagens, verificou-se a
ressonância magnética e ultrassonografia (ZENGEL et presença de uma imagem radiopaca, unilocular, de
al., 2011, YU; YANG; ZHENG, 2013). formato ovalado, bem delimitado, bilateral, compatível
Apesar de a visualização de grandes glândulas com material calcificado, localizado na altura de
salivares permanecer atualmente ao campo da cabeça de côndilo esquerdo e sínfise da mandíbula
ultrassonografia, não é raro encontrar casos de sialolito direta em espaço tecidual (figuras 1 e 2 ).
em radiografias intraorais e panorâmicas. Em
radiografias bidimensionais, os sialolitos produzem
sombras e são projetados como efeitos cumulativos
sobre os dentes e as estruturas maxilares, sendo por
1283
REFERÊNCIAS
Tratamento
Os sialolitos maiores comumente requerem
remoção cirúrgica, porém, são muitas as opções de
tratamento para as calcificações de proporções
menores, que são mais recorrentes. Entre as opções,
pode-se citar palpação bimanual do ducto salivar,
litotripsia, aplicação local de calor e o aumento da
ingesta líquida (TORRES-LAGARES et al., 2006;
CAPACCIO et al., 2007). A utilização de antibióticos
também é interessante nos casos de sialolitíase que
Figura 1 - Aumento de volume no lado direito do soalho da
provocam a obstrução parcial ou total dos ductos cavidade bucal.
salivares, causando sialoadenite, pois é determinante
para uma evolução satisfatória do paciente (CRUZ;
Como exames complementares para o auxílio
VELÁSQUEZ, 2000).
do diagnóstico, foi solicitada a realização de
radiografias panorâmica e oclusal. Na radiografia
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
panorâmica (figura 2), observou-se uma imagem
radiopaca alongada sobreposta aos dentes incisivo
Paciente masculino, com 38 anos de idade, de
lateral, canino, primeiro e segundos pré-molares
etnia branca, apresentou-se na Clínica de Odontologia
inferiores do lado direito da mandíbula.
da Faculdade da Serra Gaúcha - RS, com o objetivo de
iniciar tratamento dentário. Após o referido paciente ter
assinado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, procedeu-se ao exame clínico intrabucal e
observou-se um aumento de volume no lado direito do
soalho da cavidade bucal, de consistência endurecida e
superfície lisa (figura 1). Durante a anamnese, o
paciente relatou pouca e esporádica sintomatologia
dolorosa, principalmente durante a alimentação.
Figura 2 - Imagem radiopaca alongada sobreposta aos dentes.
A
cavidade óssea de Stafne (COS) DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
anteriormente também denominada
como defeito ósseo de Stafne, Paciente do sexo masculino, com 38 anos de
defeito embrionário mandibular, pseudocisto de Stafne idade, assintomático, compareceu em clínica
e cavidade óssea estática (MANZI et al., 2005), foi radiológica particular, localizada na cidade de Jaú para
descrita pela primeira vez em 1942, por Edward Stafne, realização de exames imaginológicos para avaliação da
o qual descreveu 35 casos de imagens radiolúcidas, presença dos terceiros molares.
uniloculares, arredondadas ou ovaladas, circunscritas, Para aquisição de imagem panorâmica, foi
localizadas abaixo do canal mandibular, entre o utilizado o aparelho Orhtopantomograph OC 200 D
primeiro molar e o ângulo da mandíbula (QUEIROZ et (Instrumentarium Dental, Tuusula, Finlândia), com
al., 2004). resolução de 5,5 LP/mm e tempo de exposição
Apesar do tecido da glândula salivar de 14,1s., 66 kV e 16 mA. Napanorâmica, , observou-
submandibular ser a evidência histológica mais se uma imagem radiolúcida, ovalada, de limites
comum, também pode ser encontrado em tais lesões, definidos, localizada no ramo ascendente da mandíbula
tecido linfoide, vasos sanguíneos, tecido adiposo, do lado direito.
músculo estriado e tecido linfoide (JORDANA et al., A partir do achado, optou-se por fazer exame
2007, KATZ; CHAUSHU; ROTSTEIN, 2001). No tomográfico da região. Para a realização de tal exame,
entanto, algumas podem encontrar-se vazias (KATZ; foi utilizado o aparelho I-Cat® (Imaging Sciences
CHAUSHU; ROTSTEIN, 2001). Internation, Hatfield, EUA), com voxel isotrópico
Pelo fato da maioria das COS serem padronizado em 0,20 mm, Fov (Field of view) ou
assintomáticas, as mesmas são encontradas em achados campo de visão de 8,0 cm e tempo de aquisição de 40
radiográficos incidentais. O diagnóstico pode ser segundos (Hi-Resolution), sendo o tempo de radiação
realizado através de radiografias convencionais, apesar útil menor, pois as aquisições são feitas por pulsos. Os
de, ocasionalmente, ser necessário o uso de outros fatores utilizados sempre são os pré-estabelecidos pelo
exames imaginológicos, como a tomografia equipamento que trabalha com 120 kV, de forma fixa e
computadorizada, ressonância magnética, a fim de se com variação de 5 e 7 mA.
ter uma maior acurácia diagnóstica (SISMAN et al., Na reconstrução panorâmica da tomografia
2010). Radiograficamente, se apresentam uniloculares computadorizada de feixe cônico, observou-se uma
e delimitadas por margens ósseas espessas, podendo imagem hipodensa, delimitada por halo hiperdenso,
em raras situações, serem bi ou multiloculadas localizada no ramo ascendente da mandíbula direita.
(QUESADA-GOMES et al., 2006). Nos cortes transversais sequenciais, nota-se
Alguns autores defendem a hipótese que sua presença de limites nítidos da lesão, sendo que a lesão
etiologia está relacionada a fatores congênitos (DE mede aproximadamente 6,94mm x 3,40 mm, com
COURTEN et al., 2002; MANZI et al., 2005), embora manutenção da cortical óssea vestibular e perda da
outros relacionem a presença da cavidade à pressão integridade de cortical óssea lingual. Constata-se que
imposta pela glândula, utilizando a faixa-etária dos não há relação íntima da mesma com o canal da
pacientes como justificativa para tal tese (KRAFT; mandíbula.
EGGERT; KARL, 2010).
1291
Já na reconstrução tridimensional observa-se,
de maneira ilustrativa, a relação de proximidade do
defeito ósseo com o canal mandibular.
Apesar da localização ectópica, mas levando Figura 3 - Cortes transversais da tomografia computadorizada
em consideração as características da imagem, o de feixe cônico, mostrando área hipodensa na porção lingual
do ramo mandibular direito.
diagnóstico foi de COS.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
dentina é um tecido mineralizado
de origem mesenquimal produzido decíduos são comumente mais afetados do que os
como proteção pulpar e suporte do esmalte e cemento idade precoce (YANG et al., 2015).
dentina, é composta de colágeno tipo I (90%), A classificação proposta por Shield baseia-se
processo de mineralização (LA DURE-MOLLA; HART, 2015), podendo ser resumida da seguinte
Em estágio maduro, a dentina possui 90% de afetadas pela Osteogênese Imperfeita. DGI-II
mineral, 20% de matriz orgânica e 10% de água (KIM; caracteriza-se por dentes com coloração variando do
As principais proteínas da matriz extracelular dentária, coroas bulbosas e obliteração pulpar. DGI-III
são a sialoproteína, a glicoproteína e a fosfoproteína descreve o fenótipo único de Brandwine com múltiplas
dentinárias, que são decodificadas pelo gene exposições pulpares e dentes com formato de concha.
sialofosfoproteína dentinária (DSPP), sendo DD-I é extremamente rara (1:100.000), referida como
fundamentais na dentinogênese (MACIEJEWSKA; dentes sem raízes, apresenta coroas de dentes decíduos
CHOMIK, 2012). Mutações no gene DSPP são e permanentes com forma e cor normais, na maioria
responsáveis por três defeitos dentinários herdados, dos casos, mas radiograficamente, as raízes são curtas e
classificados por Shield em 1973, são eles: as câmaras pulpares são obliteradas, produzindo
Dentinogênese Imperfeita tipos I, II e III (DGI-I, DGI- rarefações periapicais em dentes sem cárie. A DD-I foi
DD-II) (LEE et al., 2011; KHANDELWAL; GUPTA; completa obliteração da câmara pulpar, sem
LIKHYANI, 2014). Esta classificação baseia-se nos desenvolvimento radicular e presença de rarefação
fenótipos observados no paciente, porém, resultados óssea apical; Ib - câmara pulpar atrésica horizontal
genéticos apontam que a DGI-II, DGI-III e DD-II com formato em quarto crescente, raízes cônicas e
representam níveis de severidade diferentes de uma rudimentares, com frequente rarefação óssea apical; Ic
mesma patologia e exibem um padrão autossômico - duas câmaras pulpares atrésicas e horizontais com
dominante (HART; HART, 2015; YANG et al., 2015). formatos em quarto crescente, separadas por área de
Outro importante mecanismo que tem sido dentina, raízes encurtadas e podendo apresentar
alteração na sinalização do fator de crescimento beta DD-I, com câmara pulpar não obliterada e com
(TGF-β) por sua atividade na regulação de processos presença de nódulos pulpares, raízes com formação
biológicos, dentre eles, a síntese de matriz extracelular. normal e pouca rarefação óssea periapical pode ocorrer
A expressão exacerbada de TGF-β resulta em redução (KHANDELWAL; GUPTA; LIKHYANI, 2014). DD-
REFERÊNCIAS
sono iniciou sua abordagem com apneia leve à moderada são tratados com pressão
ser o sono um estado sendo cada vez mais utilizados e indicados pelos
teorias sobre o sono são escritas e diversos estudos estão se mostrando satisfatórios. Muitos benefícios são
realizados. Durante as duas últimas décadas, a relatados pelo uso deste tipo de aparelho, como fácil
medicina e a odontologia estão cada vez mais focadas adaptação. Por outro lado, Almeida3 conclui que
em distúrbios respiratórios durante o sono. Diante também existem efeitos colaterais que restringem o uso
dessa atual realidade, a medicina do sono no Brasil se para algumas pessoas e devem trazer mais atenção para
consolida cada vez mais e vem se destacando no os dentistas no acompanhamento dos pacientes
diagnósticos, etiologias e tratamentos propostos. Diante do exposto, esse trabalho irá relatar os
De acordo com Burger1, a apneia obstrutiva resultados do uso do aparelho intraoral de avanço
segundos. As pausas respiratórias, que podem ocorrer sono, antes e após o uso do dispositivo.
se caracteriza por uma redução de, no mínimo, 50% no após a indicação de um médico otorrinolaringologista
fluxo oronasal e redução da saturação de oxigênio (O 2 ) que observou em polissonografia do sono basal, a
de, pelo menos, 4%. Ambos os eventos são ocorrência de Índice de Distúrbios Respiratórios com
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O
neoplasia óssea benigna, frequentemente (OWOSHO et al., 2014).
considerada como um tipo de lesão fibro- O fibroma ossificante juvenil, aparentemente,
óssea (LIU et al., 2010). Dependendo do tem origem de produtos do tecido mixóide precursor da
estado de maturidade, pode se apresentar cartilagem e dos ossos dos seios paranasais, enquanto o
radiograficamente como uma lesão radiolúcida fibroma ossificante tem origem do ligamento
unilocular, uma lesão mista ou uma massa radiopaca periodontal (URS et al., 2013). Apesar de o fibroma
(OWOSHO et al., 2014). Seu comportamento é ossificante juvenil apresentar uma predileção pela
agressivo, independente da idade (OJO et al., 2015). maxila anterior (URS et al., 2013), pode ocorrer em
Histologicamente, apresenta um estroma qualquer região do esqueleto craniofacial,
fibroso e celular com variações no padrão de independente do subtipo e, desta forma, a localização
mineralização e considerável sobreposição entre os não é um aspecto indicador confiável para diferenciar
tipos de mineralização/calcificação (URS et al., 2013). os dois subtipos (OWOSHO et al., 2014). Já o fibroma
Dados demográficos, apresentação clínica, exames ossificante mostra uma predileção pela mandíbula
radiográficos e histopatológicos continuam sendo (URS et al., 2013; LIU et al., 2010), mas também pode
relevantes para definir o diagnóstico de fibroma ocorrer na região de maxila (LIU et al., 2010).
ossificante e para prever seu comportamento (OJO et A raridade do fibroma ossificante juvenil faz
al., 2015). O conhecimento de suas possíveis com que esta condição esteja além do domínio de
localizações e características ajudam a diferenciá-lo de muitos clínicos e dificulta seu manejo devido à sua
outras lesões (BABAJI et al., 2014). imprevisibilidade de recorrência em intervalos variados
O fibroma ossificante juvenil é uma lesão (PANDIT et al., 2015).
fibro-óssea (BABAJI et al., 2014; OWOSHO et al.,
2014), benigna (OWOSHO et al., 2014), do esqueleto
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
craniofacial, não metastática, localmente agressiva e
com alta recorrência (BABAJI et al., 2014),
Paciente B. L. E, 14 anos, sexo masculino,
classificada como uma variante do fibroma ossificante.
compareceu à clínica radiológica da faculdade São
(OWOSHO et al., 2014) .
Leopoldo Mandic, para exame panorâmico com
O termo juvenil é utilizado devido a esta lesão
finalidade ortodôntica. Foi constatada, por achado
se desenvolver principalmente em ossos craniofaciais
radiográfico, uma lesão radiolúcida, se estendendo de
de crianças (OWOSHO et al., 2014). Uma lesão desse
corpo a ângulo e ramo de mandíbula com
tipo, agressiva, com rápida evolução, em pessoas com
deslocamento do dente 48 (figura 1).
menos de 15 anos, pode ser chamada de fibroma
Ao exame tomográfico, a lesão apresentava
ossificante juvenil (OJO et al., 2015). Entretanto,
em seu maior comprimento x largura x altura, 35,98 x
existem casos em adultos que são exceções à regra
29,40 x 60,75mm (figura 2).
(OWOSHO et al., 2014). Com base em seus aspectos
1303
Figura 2 - Tomografia computadorizada por feixe cônico mostrando as dimensões da lesão (reconstrução axial, sagital e coronal,
respectivamente).
1304
Em uma radiografia panorâmica após a excisão cirúrgica da lesão com margem de segurança,
biópsia, a lesão se apresentava com característica sendo feito o acompanhamento por radiografias
mista, com zonas de calcificação/mineralização (figura panorâmicas (figura 4).
3).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento foi realizado por meio da
1305
REFERÊNCIAS
O fibroma ossificante juvenil é uma neoplasia
fibro-óssea rara, localmente agressiva, com crescimento
BABAJI, H. V. et al. Juvenile aggressive ossifying
rápido e geralmente encontrado em um grupo de idade fibroma of the maxilla: a case report. Journal of
jovem. Apesar de ter um alto risco de recorrência, apresenta International Oral Health, v. 6, n. 5, p. 108-110, 2014.
um prognóstico bom. LIU, Y. et al. Ossifyingfibromas of the jaw bone: 20
cases. Dentomaxillofacial Radiology, v. 39, n. 1. p. 57-
As tomografias computadorizadas são uma
63, 2010.
ferramenta adequada para sua avaliação e diagnóstico, sendo
OJO, M. A. et al. A clinico-pathologic review of 56
úteis para distinguir o fibroma ossificante juvenil de outras cases of ossifying fibroma of the jaws with emphasis
lesões fibro-ósseas benignas dos ossos do crânio e da face. on the histomorphologic variations. Nigerian Journal
O prognóstico é melhor quando o diagnóstico e of Clinical Practice, v. 17, n. 5, p. 619-623, 2014.
tratamento são realizados em fases iniciais da lesão. OWOSHO, A. A. et al. Psammomatoid and trabecular
juvenile ossifying fibroma: two distinct radiologic
Independente do subtipo (psamomatóide ou trabecular), o
entities. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology,
tratamento é realizado com completa excisão cirúrgica da Oral Radiology, v. 118. n. 6, p. 732-738, 2014.
lesão e, em casos de ressecção incompleta, pode haver PANDIT, N. et al. Juvenile trabecular ossifying
recidiva. fibroma. Journal of Indian Society of Periodontology,
v. 18, n. 2, p. 232-235, 2014.
URS, A. B. et al. Clinicopathologic and radiologic
correlation of ossifying fibroma and juvenile ossifying
fibroma-an institutional study of 22 cases. Annals of
Diagnostic Pathology, v. 17, n. 2, p 198-203, 2013.
Capítulo 226
Síndrome mão-pé-boca
A
doença humana que surge de infecção com um ou mais sorotipos de Enterovírus podem
por vírus como Coxsackievírus A, que exceder 50 por cento e são comuns as infecções mistas.
são disseminados por todo o mundo Tem-se enfatizado a correlação estreita que existe entre
(CRISTOVAM et al., 2014). as condições socioeconômicas e a infecção precoce
Os Coxsackievírus pertencem ao gênero dos com os Enterovírus, o que reflete as condições gerais
Enterovírus e, juntamente com os gêneros Rhinovírus, de higiene do grupo. Acomete mais crianças, sendo
Cardiovírus e Aphtovírus, compõem a família responsável por 33-65% das doenças febris agudas nos
Picornaviridae, que etimologicamente, significa Estados Unidos, em menores de 1 ano (VERONESI;
pequenos vírus RNA (MELNICK,1982). FOCACCIA, 2009).
São conhecidos mais de 70 sorotipos de Embora a maioria das infecções pelo vírus
Coxsackievírus, porém 10 a 15 deles são responsáveis Coxsackie seja assintomática, podem ser graves,
pela maioria das doenças. São classificados em especialmente em neonatos e crianças pequenas,
subtipos A e B, conforme suas características podendo ocorrer acometimento do sistema nervoso
microbiológicas e manifestações clinicas das infecções central e dos músculos, causando complicações como
(VERONESI; FOCACCIA, 2009). meningite asséptica, encefalite, miosite e miocardite
A SMPB é tipicamente causada pelo vírus (VAISBICH; TOZZE; BALDACCI, 2010).
Coxsackie A16, mas outros vírus podem também estar O nome SMPB descreve bem a localização
implicados, como Enterovírus e alguns Echovírus das lesões. Quase sempre presentes, as lesões orais
(CRISTOVAM et al., 2014). precedem o desenvolvimento das lesões cutâneas. As
O homem é o único hospedeiro natural do lesões cutâneas e orais estão associadas a sintomas
grupo dos Enterovírus humanos, e o contato humano semelhantes aos da gripe, como dor de garganta,
parece ser a principal via de difusão. A disseminação é disfagia e febre (NEVILLE et al., 2009).
de pessoa a pessoa, por via fecal-oral e, possivelmente, O número de lesões na pele pode variar de
respiratória. A contaminação fecal, por meio das mãos, poucas a dezenas de lesões que afetam principalmente
alimentos e utensílios de mesa, é a fonte mais as palmas das mãos e plantas dos pés. As lesões
importante de infecção. Contudo, aerossóis formados cutâneas surgem como máculas eritematosas que
por tosse ou espirros podem também ser fonte de evoluem para vesículas centrais e cicatrizam sem a
contaminação direta ou indireta (VERONESI; formação de crosta. As lesões orais podem ser mais
FOCACCIA, 2009). numerosas e a mucosa jugal, labial e a língua são
As condições climáticas são um fator comumente afetadas. As lesões apresentam 2 a 7 mm
importante na circulação e prevalência de Enterovírus, de diâmetro, mas podem ser encontradas acima de
ocorrendo durante o ano todo em regiões tropicais. O 1cm. A maior parte das ulcerações regride no período
calor favorece a disseminação de vírus pelo aumento de uma semana (NEVILLE et al., 2009).
de contato humano, a suscetibilidade do hospedeiro e a
disseminação do vírus por mecanismos extra-humanos
(VERONESI; FOCACCIA, 2009).
1308
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Figura 2B - Telerradiografia lateral inicial, onde nota-se Avaliando os cortes transversais (figura 5) e
presença do canino permanente (dente 23) incluso.
longitudinais, foi possível notar a ausência de sinais
tomográficos de reabsorção óssea e reabsorção
Na Tomografia Computadorizada foi possível
radicular na região do canino impactado ou dos dentes
avaliar a reconstrução panorâmica (figura 3), cortes
vizinhos, nem presença de cisto dentígero associado.
longitudinais, transversais e axiais da região, na qual se
pode obter dados precisos de sua localização e relação
com estruturas adjacentes. Concluiu-se que o dente 23
estava localizado por palatino em relação às raízes dos
dentes 21 e 22, como observado nos cortes axiais da
região (figura 4).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
etiopatogenia dos lipomas e agrupadas em lóbulos e septos de tecido conjuntivo.
fibrolipomas é ainda desconhecida, Fibrolipomas são um subtipo muito raro dos lipomas
apesar de uma alteração do compostos, cerca de 1,6% dos lipomas faciais, são
metabolismo lipídico ou uma localização anômala de classificados como uma variante pela Organização
tecido na língua têm sido sugeridas. Pensa-se, também, Mundial da Saúde (OMS) e são muito raros nas regiões
que o trauma leve e repetido pode desencadear a oral e maxilofacial; ambos (lipoma e fibrolipoma) são
proliferação do tecido adiposo, como é sugerido por bem circunscritos, contendo uma fina cápsula. O
Kiehl et al. (1980), que descreveu um fibrolipoma tratamento clássico para essas neoplasias é a excisão
debaixo de um prótese total na mandibula. cirúrgica com dissecação capsular, normalmente essa
Várias neoplasias do tecido adiposo podem excisão é simples devido à cápsula ser bem circunscrita
envolver os tecidos moles da cabeça e pescoço, e são (OZTURK et al., 2013).
tratados principalmente por cirurgia. O exame Lipoma é uma neoplasia benígna comum do
histopatológico é obrigatório para um correto tecido adiposo, a primeira descrição da lesão foi
diagnóstico, pois mesmo sendo extremamente raro, o publicada por ROUX, 1.848, em uma revisão de
lipossarcoma da cavidade oral não se pode ser massas alveolares. Sua etiologia ainda é incerta e o
distinguido do seu homólogo benigno apenas ao exame tumor afeta principalmente a região do tronco, ombros,
clínico. Um tratamento alternativo para o fibrolipoma é pescoço e axila; o envolvimento com a cavidade bucal
o uso do laser de diodo. Em comparação com a cirurgia é rara, pois representam 4,4% dos tumores de tecidos
convencional, a excisão com laser parece ser mais orais benignos. Também não existe consenso sobre sua
conveniente por ter algumas vantagens patogênese: degeneração, células lipídicas,
transoperatórias, tais como ausência de sangramento e hereditariedade, traumas, irritação crônica são
nenhuma exigência de sutura; e pós-operatória, como prováveis teorias para elucidar essa questão. Na
cicatrização mais rápida. Portanto, esse tratamento maioria dos casos, ele representa uma anomalia de
provou ser eficaz para a excisão do fibrolipoma, além desenvovimento que pode surgir como resultado de um
de permitir um tratamento mais conservador, sem trauma e rearranjo dos cromossomos n°s 12q, 13q e 6p.
hemorragias transoperatórias, mínimo tecido A lesão pode ocorrer em vários locais anatômicos,
cicatricial, rápida recuperação do paciente e sem incluindo a mucosa bucal, lábios, língua, palato e
nenhum dano às características histológicas da lesão assoalho da boca. Embora de natureza benigna, o seu
que possam prejudicar o correto diagnóstico crescimento progressivo pode causar interferência com
(CAPODIFERRO et al., 2008). a fala e a mastigação devido à dimensão do tumor.
Em uma revisão da literatura, foi relatado que Existe uma variação histológica do lipoma clássico que
80% dos pacientes tinham mais de 40 anos de idade, é o fibrolipoma, em que as células de gordura
64% tinham mais de 50 anos e 40% acima de 60 anos. neoplásicas são incorporadas juntamente com o
Fibrolipoma é um tumor benigno de tecido mole que colágeno denso (PEREIRA et al., 2014).
raramente ocorre nas regiões oral e maxilo-facial, e é Os lipomas são neoformações benígnas mais
classificada como uma variante do convencional comuns nos locais anatômicos onde se tenha tecido
lipoma pela Organização Mundial da Saúde (OMS) adiposo na sua estrutura. Eles representam cerca de 13-
Os lipomas são neoplasias de crescimento 20% na cabeça e tumores de pescoço e 1-5% das
1317
neoplasias da cavidade oral. Outra variente histológica
muito rara é o fibrolipoma que, até agora, apenas 14
casos têm sido descritos em que o diagnóstico
histológico de fibrolipoma foi confirmado. Eles variam
em dimensões e lipomas de consideráveis tamanhos; já
foram descritos e que podem ser sésseis ou
pediculados, geralmente de forma ovalada, com
coloração amarela, de consistência mole ou semi-
sólida. O local na cavidade bucal mais comumente
afetado pelo fibrolipoma é a mucosa bucal, seguido
pela língua. Histologicamente, fibrolipoma é composto
de células de gordura madura subdivididas em lóbulos
de tecido conjuntivo fibroso, especialmente na periferia
(IACONETTA et al., 2015).
Os lipomas são neoplasias benignas comuns
derivadas do tecido adiposo, e a sua etiologia continua
a ser incerta. As principais regiões afetadas pela lesão
são: braços, ombros e pescoço. Na cavidade oral são
raros, representando de 1 a 4% dos tumores benígnos
Figura 1 - Aspecto clínico inicial.
dos tecidos orais.
O fibrolipoma é uma variante histológica do
lipoma que afeta principalmente a mucosa bucal,
podendo causar problemas funcionais e estéticos;
relatos da lesão na cavidade oral são poucos (IWASE;
SAIDA; TANAKA, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Odontoma composto
Carolina Alves dos Reis Gati
Cláudio Roberto Pacheco Jodas
José Luiz Cintra Junqueira
Luiz Roberto Coutinho Manhães Júnior
Milena Bortolotto Felippe Silva
Rubens Gonçalves Teixeira
1321
O
odontoma é o tipo mais parte dos casos são assintomáticos, sendo
comum de tumor odontogênico. detectados em exames radiográficos de rotina ou
A Organização Mundial de quando radiografias são feitas para determinar o
Saúde (OMS) classifica os odontomas como motivo da falha na erupção de um dente
tumores odontogênicos benignos, compostos por permanente (NEVILLE et al., 2009; BALDAWA et
epitélio odontogênico e ectomesenquima. Sua al., 2011).
etiologia é desconhecida, podendo estar relacionada Não parece haver predominância
à presença de dentes não irrompidos (BARNES et significativa por nenhum dos sexos (REGEZI;
al., 2005). SCIUBBA; JORDAN, 2008). Os sinais clínicos que
São considerados mais uma anomalia de traduzem a presença de um odontoma são: um
desenvolvimento do que verdadeiras neoplasias. dente decíduo persistente e tumefação alveolar
Para Hitchin (1971), o fator hereditário é a principal (REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2008).
condição para o desenvolvimento deste tipo de A falha no diagnóstico e tratamento, bem
lesão. como o atraso na remoção do odontoma, poderá
Histologicamente, os odontomas podem causar alterações de ordem estética, fonética e
ser divididos em dois tipos, complexos e principalmente, alterações oclusais importantes,
compostos. O odontoma complexo caracteriza-se implicando na associação entre tratamento cirúrgico
por uma massa amorfa de esmalte e dentina que não e ortodôntico (VEIS; TZIAFAS; LAMBRIANIDIS,
tem anatomia semelhante a um dente. Já o tipo 2000).
composto é constituído de múltiplas estruturas com Radiograficamente, o odontoma composto
características muito semelhantes a um dente aparece como vários e, ocasionalmente, dezenas de
(NEVILLE et al., 2009). dentes maduros num único aglomerado, entre as
Ocorrem com uma frequência maior na raízes ou sobre a coroa de um dente não irrompido,
maxila do que na mandíbula (NEVILLE et al., circundado por uma estreita zona radiotransparente.
2009). O tipo composto é geralmente encontrado na Os odontomas complexos se apresentam como
região anterior da maxila; já os odontomas massas radiopacas amorfas, envolvidas também por
complexos ocorrem mais frequentemente na região uma estreita zona radiotransparente (HITCHIN,
de molares, em ambos os maxilares (MEHRA; 1971; NEVILLE et al., 2009; HIDALGO-
SINGH, 2007; HIDALGO-SANCHEZ; LECO- SANCHEZ; LECO-BERROCAL; MARTINEZ-
BERROCAL; MARTINEZ-GONZALES, 2008). GONZALES, 2008; REGEZI; SCIUBBA;
No geral, são tumores pequenos e raramente JORDAN, 2008; FREITAS, 2008).
expandem os maxilares (CAWSON; BINNIE; Os odontomas são tratados por excisão
EVERSON, 1997). local simples; a enucleação é curativa e o
Embora os odontomas possam surgir em prognóstico excelente. A recorrência dos
qualquer idade, usualmente estão associados à odontomas é rara (FREITAS, 2008; NEVILLE et
dentição permanente em adolescentes e jovens al., 2009).
adultos (CAWSON; BINNIE; EVERSON, 1997).
A segunda década de vida é a época em que a DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
maioria destas lesões são diagnosticadas, a maior
1322
Paciente do gênero feminino, 43 anos de histológicos do material desmineralizado revelaram
idade, procurou cirurgião-dentista para reabilitação fragmentos de dentina tubular, tecido cementóide e
oral; com a queixa de ausência de dentes trabéculas ósseas. Observou-se tecido conjuntivo
posteriores inferiores do lado esquerdo, sem o frouxo e denso e moderado, infiltrado inflamatório
histórico de extrações passadas. Ao exame clínico, predominantemente mononuclear. Em área focal,
notou-se ausência dos dentes 36, 37 e 38, porém foi identificada matriz de esmalte e tecido
com discreto aumento de volume na região semelhante à papila dentária.
vestibular, assintomático. Radiograficamente O diagnóstico foi odontoma composto. A
observou-se agenesia do primeiro molar inferior paciente encontra-se em acompanhamento.
esquerdo, segundo molar inferior esquerdo incluso Radiografia panorâmica com controle pós-
próximo à base da mandíbula, e o terceiro molar operatório de 2 anos, apresentando completa
inferior esquerdo incluso. Observou-se lesão reparação da área, sem sinais de recidiva (figura 7 e
radiopaca, de contorno radiolúcido, limitado, bem 8).
definido, contendo imagens semelhantes a
pequenos dentículos em seu interior, dando a
impressão de ser a causadora da impactação dos
dentes 37 e 38 (figura 1).
Realizou-se remoção da lesão sob a
anestesia geral no Hospital Ouro Verde (Campinas,
SP), por meio de incisão sobre o rebordo posterior
inferior esquerdo com uma relaxante na distal do
dente 34, descolamento do retalho mucoperiostal e
exposição da lesão e do dente 38. Realizou-se a Figura 1 – Radiografia panorâmica inicial.
exodontia do dente 38 e a remoção da lesão
utilizando brocas e alta-rotação, além dos
elevadores de Seldin. Optou-se pela
coronoidectomia do dente 37 devido à sua
proximidade com o nervo alveolar inferior. O
retalho cirúrgico foi reposicionado e suturado com
vicryl 3.0 (figura 2, 3, 4, 5 e 6).
A peça cirúrgica foi acondicionada em um
frasco contendo solução de formol a 10% e
encaminhada ao laboratório de patologia da
Faculdade São Leopoldo Mandic.
No exame macroscópico, observou-se
múltiplos fragmentos de tecido duro, medindo em
Figura 2 – Descolamento do retalho e exposição da lesão
conjunto 37 mm x 22 mm x 10 mm, com formato e
e do dente 38.
superfície irregulares, coloração amarelada e
esbranquiçada e consistência pétrea. Os cortes
1323
Figura 6 – Sutura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1324
Os odontomas consistem em neoplasias NEVILLE, B. W. et al. Patologia Oral e
Maxilofacial. 3a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
benignas, para os quais o diagnóstico clínico e
972 p.
radiográfico são de fundamental importância para
REGEZI, J. A.; SCIUBBA, J. J.; JORDAN, R. C.
tratamento da lesão, sendo que o exame anátomo- K. Patologia oral: correlações clinicopatológicas.
5a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008. 417 p.
patológico é fundamental para o diagnóstico
VEIS, A.; TZIAFAS, D.; LAMBRIANIDIS, T. A
definitivo.
case report of a compound odontoma causing
Podem ser confundidos com cistos delayed eruption of a central maxillary incisor:
clinical and microscopic evaluation. Journal of
odontogênicos calcificantes, odontomas císticos,
endodontics, v. 26, n. 8, p. 477-479, 2000.
odontomas ameloblásticos, fibro-odontoma
ameloblástico (LANGLAIS; LANGLAND;
NORTJE, 1995).
O tratamento indicado consiste em
enucleação cirúrgica com proservação do caso.
REFERÊNCIAS
T
odos os dentes passam por um imagens radiográficas de estruturas adjacentes (KAUL
estágio de retenção fisiológica. Mais et al., 2005). Para tentar minimizar essa ausência de
tarde, podemos considerar atraso na profundidade, alguns autores desenvolveram técnicas
irrupção, depois retenção e, finalmente, retenção especiais de localização dos objetos radiografados.
patológica. Uma vez passada a época normal de Porém, estes exames são bidimensionais e, muitas
retenção, quando o elemento dentário não se encontra vezes, fornecem informações limitadas a respeito da
presente no arco dentário, não apresenta mais real posição do dente impactado e da condição que ele
potencial de irrupção, e tem-se a chamada retenção se encontra, podendo apresentar dilacerações e
patológica, pois sua raiz está completamente formada e reabsorções imperceptíveis nos exames tradicionais
apresenta o saco pericoronário intacto (MARTINS; (SERRANT et al., 2014; KUMAR et al., 2015). Foi
ARAUJO, 2009; YAN, 2013). introduzida na odontologia a tomografia volumétrica
Considerando que o canino apresenta o mais computadorizada, sendo essa uma ferramenta de
longo e tortuoso trajeto de desenvolvimento e, além diagnóstico essencial para os casos de dentes inclusos,
disso, iniciam sua mineralização antes dos incisivos pois fornece a localização precisa deste elemento e dos
superiores e molares - entretanto levam duas vezes dentes e estruturas adjacentes; permitindo um
mais tempo para completar sua irrupção -, tornam-se planejamento mais seguro e preciso com relação à
mais suscetíveis à alteração em sua trajetória de movimentação ortodôntica, além de fornecer
irrupção. Estas alterações irruptivas dos caninos importantes informações da condição radicular
superiores levam à retenção dos mesmos e, por serem (MARTINS; ARAUJO, 2009; CAVALCANTI;
as de maior incidência, apenas perdendo para as HANEY, 2010; WATTED; VELI, 2015; SANDHU,
retenções dos molares, são as que mais levam os MAHAJAN, 2016).
indivíduos à procura de tratamento ortodôntico Portanto, esse trabalho foi abordar a acurácia
(MANZI, 2011; BRUSVEEN, 2012). do Cirugião-Dentista, especialista ou generalista, no
Sabendo-se da grande importância dos caninos diagnóstico e localização do canino superior retido. O
superiores no que se refere ao aspecto funcional diagnóstico precoce torna o prognóstico mais
estético, devido ao seu volume e localização no arco, e favorável, evitando possíveis complicações como
sabendo que o tracionamento dos caninos superiores reabsorções radiculares dos dentes adjacentes,
retidos também é um procedimento de risco, devemos anquilose do canino impactado ou processos
levar em consideração que deve haver uma integração infecciosos e degenerativos decorrentes da impacção
entre as especialidades odontológicas, para que o dentária, otimizando o tempo e, consequentemente,
resultado final ocorra de forma mais correta possível diminuindo as complicações do tratamento.
(CASTRO et al., 2011). A radiografia é o meio mais A seguir, serão apresentados três casos
utilizado e indispensável para o diagnóstico e clínicos de caninos superiores retidos, utilizando
planejamento, durante e após o tratamento exames radiográficos bidimensionais (2D), utilizando a
odontológico; no entanto, os exames radiográficos técnica de Clarck e exames tridimensionais (3D)
apresentam algumas limitações, tais como: ausência de obtidos a partir da TCFC.
profundidade, apresentando apenas largura e altura do
objeto, fazendo com que este, que é tridimensional,
seja visto como bidimensional, e sobreposição das
1327
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO 1
E
m um planejamento para a A aferição das medidas verticais na região
reabilitação com implantes dentários, posterior da mandíbula deve ser realizada
os pacientes são examinados principalmente através das vistas transversais na
clinicamente, com indicação primeiramente de uma TCFC, onde é possível, inclusive, visualizar a
radiografia panorâmica digital para que se possa i inclinação buco lingual e fossa submandibular,
avaliar a situação da anatomia topográfica do complexo permitindo definir os comprimentos dos implantes
Maxilo mandibular, podendo descartar anormalidades seguindo orientação da inclinação do corpo
ósseas e dentárias que poderiam contraindicar mandibular.
imediatamente a colocação de implantes dentários A correlação entre a altura óssea medida em
(YIM et al., 2011; APOSTOLAKIS; BROWN, 2012). radiografias panorâmicas e tomografias
Entretanto, deve-se ter o cuidado da aplicação computadorizadas para planejamento de tratamento
da informação obtida pela radiografia panorâmica, no com implantes dentários deve ser considerada, devido
que se refere aos planejamentos de implantes dentários. ao grau magnificação nas medidas da radiografia
Isto porque, apesar das medidas angulares serem panorâmica (COMANDULLI et al., 2005) que fica
razoavelmente acuradas, a distorção do tamanho da entre 28% a 34%.
imagem (magnificação) é extremamente variável entre A radiografia panorâmica não é uma técnica
os aparelhos panorâmicos e até mesmo no contexto de segura por fornecer resultados falsos negativos e falsos
uma única imagem, o que é altamente dependente do positivos (PEKER et al., 2008), com forte tendência a
posicionamento do paciente e da forma do arco superestimar a distância entre a crista óssea e o canal
dentário (TAHMASEB et al., 2015). mandibular (LINDH et al., 1995).
A tomografia computadorizada de feixe De acordo com Juodzbalys (2013), 64,4% das
cônico (TCFC) proporciona uma análise 3D, com lesões do nervo alveolar inferior (NAI) são causadas
proporções definidas, sem sobreposição de imagem, por procedimentos cirúrgicos para colocação de
mais segurança em relação à dose efetiva de radiação implantes dentários em mandíbula. Para Carvalho
comparada com a PAN. (GLOSELY, 2009) relatou (2010), o erro no planejamento da altura óssea pode ser
técnicas cirúrgicas para colocação de implante em um considerado aceitável de até 1mm na escolha dos
estágio, com carga imediata, com o planejamento implantes, porém, sempre 2mm aquém do teto do
virtual utilizando a TCFC, proporcionando cirurgias nervo alveolar inferior, possibilitando maior segurança.
sem retalhos e menos invasivas e mais previsíveis. A definição de um consenso mundial sobre as
A necessidade de um entendimento apropriado reais necessidades da indicação da TCFC, baseados em
da anatomia alveolar envolvida na instalação de uma ampla revisão da literatura, avaliacomparações da
implantes, combinados com um apropriado plano de dose de radiação efetiva entre exames convencionais,
tratamento, reduzindo a chance de complicações como a panorâmica, e efetividade do diagnóstico
desagradáveis como um dano neural, sendo um realizado pela TCFC (BORNSTEIN et al., 2014).
tratamento apropriado e imediato, é a chave para
maximizar as chances de recuperação, sendo indicado
um exame de TCFC para avaliação no pré e pós-
operatório (ALHASSANI; ALGHMANDI, 2010).
1333
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO com a medida da crista do osso alveolar ao teto do
nervo alveolar inferior, constatado na TCFC. Com este
Paciente do sexo feminino, 46 anos, procurou caso clínico, foi possível avaliar a fidelidade da TCFC,
o serviço de cirurgia buco maxilo facial, do centro onde a medida da imagem da figura 3 foi de 13,60mm,
especializado Day Clinic, com queixa principal de uma diferença de 79 décimos de milímetros (figura 5).
parestesia do lado inferior direito mandibular após a
instalação de implantes dentários na região
correspondente ao dente 47, após 12 meses decorridos
da realização do procedimento. No relato da paciente, o
planejamento inicial foi realizado pelo exame de
radiografia Panorâmico, sendo que imediatamente ao
procedimento, apresentou sinais de anestesia local.
Foi solicitada TCFC de mandíbula utilizando
o tomógrafo i-CAT, com FoV de 6 cm, realizada a Figura 1 - Vista panorâmica da TCFC evidenciando implante
medição do comprimento do implante 13.09mm, e na região do elemento 47 em contato íntimo com o canal do
NAI; paciente com hiperestesia há 6 meses após a colocação
avaliação buco lingual da região anatômica e
do implante, e apresentando neuropatia pós-colocação de
localização do nervo alveolar inferior, através de cortes
implante.
transversais oblíquos e axiais onde foi visualizado que
o implante estava invadindo o canal mandibular (figura
1).
A paciente, portadora de diabete tipo 1
controlada, realizou os exames pré-operatórios:
coagulograma, hemograma e leucograma, que
mostraram valores de normalidade e a presença de
anticorpos de Hepatite A.
Como a paciente apresentava síndrome do
pânico, devido o procedimento anterior, foi indicada a
cirurgia para remoção do implante sob sedação
assistida em nível ambulatorial, associado à
Figura 2 - Vista transversal da TCFC evidenciando
antibioticoterapia, Clavulanato 875 mg com
onde o ápice do implante invade parcialmente o canal
amoxacilina 125 mmg, pois constatou-se infecção
mandibular do elemento 47, indicando lesão do feixe
local.
NAI.
A remoção cirúrgica do implante foi realizada
com uso de trefinas, sem secção do implante, e a
paciente teve alta no mesmo dia. Após oito dias, foi
removida a sutura e iniciou-se a eletroterapia de baixa
intensidade e uso de complexo de vitamina B.
O implante removido apresentava
comprimento real de 12,80 mm, sendo incompatível
1334
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A
cavidade bucal é frequentemente deslocamento dental, incluindo outros sintomas como
acometida por enfermidades de anestesia do lábio inferior e edema da área (WOOD et
origem odontogênica ou al., 1998; COHEN et al., 2004; NEVILLE et al., 2009).
decorrentes de alterações sistêmicas. O odontoma é o Os odontomas são visualizados em exames
tipo mais comum de tumor odontogênico, considerado radiográficos de rotina ou em radiografias realizadas a
como anomalia de desenvolvimento, composto por fim de detectar o motivo da falha de erupção de um
tecidos dentários como esmalte, dentina, com dente. Em relação à localização, o odontoma composto
quantidades variáveis de cemento e polpa, é observado na região anterior da maxila e o complexo
apresentando epitélio odontogênico em proliferação e na região dos molares, em ambos os maxilares
mesênquima nos estágios mais precoces de (REGEZZI et al., 2000; PASLER et al., 2001;
desenvolvimento, cuja prevalência é maior do que a de NEVILLE et al., 2004; NEVILLE et al., 2009).
todos os outros tumores odontogênicos somados O odontoma composto e o complexo situam-
(NEVILLE et al., 2004). se numa área que suporta dentes, entre raízes ou sobre
Os odontomas são considerados tumores a coroa de um dente impactado (COHEN et al., 2004).
odontogênicos mistos, pois possuem em sua Em relação à prevalência, existe discordância entre
composição, tecidos de origem epitelial e mesenquimal autores que afirmam predileção pelo sexo masculino,
e embora essas células pareçam normais, a arquitetura na proporção de 1,5:1, para o odontoma complexo, e de
do tecido formado é defeituosa (REGEZZI et. al, 1,2:1, do odontoma composto (PHILIPSEN et al.,
2000). 1997) enquanto Regezzi et. al. em 2000, relatam não
Os odontomas são subdivididos em composto haver predominância entre os sexos.
(formados por múltiplas estruturas, pequenas, Radiograficamente, o odontoma composto é
semelhantes a dentes) e complexos (desorganização raramente confundido com outra lesão, por apresentar
tecidual e maior prevalência nas primeiras décadas de pouca evidência de calcificação e imagem radiolúcida
vida). Na maioria das séries relatadas, os odontomas circunscrita bem definida. Já o odontoma complexo
compostos são diagnosticados com mais frequência do pode ser confundido com osteoma ou alguma lesão
que os complexos (PASLER et al., 2001; NEVILLE et óssea calcificada por apresentar imagem radiopaca,
al., 2009). com densidade maior que a do osso e igual ou maior
Clinicamente, os odontomas são detectados que a dental (WOOD et al., 1998; MUPPARAPU et.
em qualquer idade, embora menos de 10% sejam al., 2004).
encontrados em pacientes com mais de quarenta anos, Histopatologicamente, o odontoma composto
sendo as primeiras duas décadas de vida o período de consiste em formações que se assemelham a pequenos
maior prevalência deste tumor, geralmente dentes unirradiculares no interior de uma matriz fibrosa
diagnosticado aproximadamente aos 14 anos. Estão frouxa. Já os odontomas complexos são constituídos de
associados a dentes decíduos retidos, permanentes não grande quantidade de dentina tubular madura, a qual
erupcionados e normalmente são assintomáticos. São circunda fendas ou cavidades circulares que continham
tipicamente pequenos, e raramente excedem o tamanho esmalte maduro, removido durante a descalcificação
de um dente, porém, em alguns casos, excedem ao (NEVILLE et al., 2009). A ceratinização, chamada de
tamanho, podendo ultrapassar 6 cm de diâmetro, “células-fantasmas”, é observada nas células epiteliais
causando dor, expansão da cortical óssea e o do esmalte de alguns odontomas, indicando seu
1338
potencial de ceratinização (REGEZZI et. al., 2000). Os
odontomas são tratados por excisão local simples,
sendo o prognóstico favorável (NEVILLE et al., 2004).
Figura 4 - TC em reconstrução sagital no centro da lesão. Figura 7 - Aspecto clínico do Pós-operatório de 7 dias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 6 - Ampliação da porção superior direita da
radiografia Panorâmica.
O exame radiográfico e a tomografia
computadorizada de feixe cônico, são essenciais no
diagnóstico do odontoma complexo.
1340
REFERÊNCIAS
O
cisto dentígero é um cisto modalidades não são bem definidas. A enucleação é
odontogênico associado à coroa indicada quando não existe risco de se danificar as
de um dente permanente não estruturas anatômicas, tais como ápices de dentes
irrompido, estando preso ao seu colo na junção vitais, seio maxilar ou mesmo o nervo alveolar
amelocementária (THOSAPORN, IAMAROON inferior (MORO ANTONIO, PUENTE, 201). A
PONGSIRIWET, 2004; TAMGADGE et al., 2011). marsupialização é um tratamento mais conservador,
É o cisto odontogênico de desenvolvimento mais que consiste na criação de uma janela cirúrgica na
frequente (14-20 %) (BERTI-SDE et al., 2010; parede do cisto, que ocasiona o esvaziamento
REGEZI; SCIUBBA, 1993). Normalmente, são progressivo de seu conteúdo e a redução da pressão
assintomáticos, ocorrem mais frequentemente em intracística, permitindo, assim, que haja
terceiros molares inferiores, seguido dos caninos neoformação óssea e, consequentemente, a redução
superiores e terceiros molares superiores, e pode das dimensões da lesão (FREITAS, 2006;
causar sérios danos, como deformação óssea ZICCARDI, EGGLESTON, SCHNEIDER, 1997).
permanente, assimetrias faciais, fratura patológica e Esse tratamento é indicado nos casos de lesões
perda de dentição permanente essencial extensas, nos casos em que se deseja preservar o
(ADELSPERGER et al, 2000; NEVILLE et al., dente relacionado com a lesão, ou nos casos de
2004; KAWAMURA et al., 2004). proximidade da lesão com áreas vitais (ZICCARDI,
Embora seja mais frequente na segunda e EGGLESTON, SCHNEIDER, 1997; LITONJUA,
na terceira décadas de vida, acometendo com maior AGUIRRE, STRADA, 2004).
prevalência o gênero masculino e na raça branca, O objetivo do presente trabalho foi relatar
também podem ser encontrados em crianças e um caso clínico de Cisto Dentígero na região da
adolescentes (KNIGHTS, BROKAW, KESSLER mandíbula envolvendo um dente incluso onde o
1991; BENN, ALTIN, 1996). tratamento foi realizado com marsupialização
O epitélio folicular forma, assim, uma seguido de enucleação cística.
cavidade cística única ao redor da coroa do Dente.
As teorias de patogenia se originam inicialmente DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
da proliferação e transformação cística de ilhas de
epitélio no tecido conjuntivo da parede do folículo
dentário, e este epitélio transformado funde-se com Paciente E. K. N, 61 anos, gênero
apresenta-se como uma lesão radiolúcida unilocular dentista clínico para avaliação e tratamento de um
normalmente com limites precisos, podendo ainda mandíbula do lado esquerdo. Ao exame físico
Porém, devido à falta de estudos mais amplos e de estendendo-se até o ângulo e ramo deste mesmo
um controle adequado, a escolha por uma destas lado. No exame físico regional intrabucal,
1343
observou-se ausência dos dentes 33, 37 e 38 e futuro e uma nova radiografia panorâmica foi
mobilidade dos elementos 35 e 36. A mucosa bucal obtida com finalidade de futuro acompanhamento
apresentava-se com aspecto de normalidade. A da progressão da lesão e sucesso do tratamento
radiografia panorâmica (figura 1) permitiu observar (Figura 2). Previamente à biópsia incisional,
uma lesão radiolúcida, unilocular, circunscrita e procedeu-se a realização de punção, o que reforçou
corticalizada, estendendo-se da região de corpo a suspeita clínica de cisto. O fragmento resultante
mandibular esquerdo - do elemento 35 - à região de da biópsia foi enviado para análise histopatológica
todo o ramo e incisuras mandibulares ipsilaterais. e o resultado do estudo foi conclusivo para cisto
Observou-se, ainda, o abaulamento e dentígero.
adelgaçamento de basilar mandibular regional e Houve o acompanhamento clínico,
rebordo alveolar e cortical anterior de ramo radiográfico durante dezoito meses, sendo
correspondentes, com sugestiva solução de realizado, então, um exame de tomografia
continuidade destes, bem como o rechaçamento de computadorizada de feixe cônico (TCFC) (figuras 3
canal mandibular no sentido inferior. Envolvido e 4). As imagens foram reformatadas em cortes
globalmente por toda a lesão, identificou-se o panorâmico e transversais e evidenciaram presença
elemento 38, incluso, e rechaçado para a região de de hipodensidade de limites precisos, associada ao
angulo mandibular. elemento 38 incluso e rechaçado, com já relatado
adelgaçamento de corticais ósseas, com ênfase em
cortical lingual. Observou-se uma redução
dimensional da lesão e regiões correspondentes a
hiperdensidades sugestivas de neoformação óssea
em bandas limítrofes da mesma.
Diante do exposto, optou-se pela
realização da cirurgia em ambiente hospitalar sob
anestesia geral.
Figura1 - Radiografia panorâmica inicial, evidenciando a Na cirurgia, foi feita a abordagem
lesão. intrabucal, retirada do dispositivo de
descompressão e exodontia do 38 incluso e
Após a realização do exame clínico e curetagem dos remanescentes da lesão com
seguintes hipóteses diagnósticas: cisto dentígero, importante para a regressão da lesão, contribuindo
ameloblastoma e tumor odontogênico para a enucleação cística posterior. O material foi
queratocistico. A conduta proposta foi exodontia encaminhado para novo exame histopatológico para
dos dentes 35 e 36, a fim de se dar margem de excluir a possibilidade de outras lesões associadas
queratocístico, em caso de grandes lesões, como a LITONJUA, I. A.; AGUIRRE, A. H.; STRADA,
M. D. L. Radiolucency in the mandible. Oral
apresentada no presente trabalho. Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral
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MORO ANTONIO, J. M.; PUENTE, M. Surgical-
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O cisto dentígero é o de segunda maior
ocorrência entre os cistos odontogênicos. O exame NEVILLE, B. et al. Patologia oral e maxillofacial.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
radiográfico é de fundamental importância para a
REGEZI, J. A.; SCIUBBA, J. Oral pathology:
detecção precoce das lesões císticas dos maxilares, clinical-pathologic correlations. 2nd ed.
contribuindo para o diagnóstico e tratamento Philadelphia: W.B. Saunders, 1993.
adequado. O paciente encontra-se em controle TAMGADGE, A. et al. Bilateral dentigerous cyst in
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1346
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ZICCARDI, V. B.; TI EGGLESTON, T. I.;
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to treat a large dentigerous cyst. Journal America
Dental Association, v. 128, p. 201-2015, 1997.
Capítulo 234
Psoríase e suas manifestações orais
A
psoríase é uma doença cutânea (LG) são consideradas as lesões orais mais comuns em
inflamatória comum que afeta 1% pacientes com psoríase, que compreende uma série de
a 3% da população mundial lesões inespecíficas SINGH et al., 2013;
(PARISI et al., 2013). A presença de lesões orais na HERNANDEZ-PEREZ et al., 2008; TOMB; HAJJ;
psoríase é incomum e controversa (COSTA et al., NEHME, 2010).. Diferentes estudos têm encontrado a
2009; PICCIANI ; SILVA, 2009). Alguns relatórios prevalência de LF e LG para ser 6-33% e 1-18%,
afirmam que as lesões orais não ocorrem na psoríase respectivamente DANESHPAZHOOH et al., 2004;
(CHRISTOPHERS et al., 2010) e alguns relataram que HERNANDEZ-PEREZ et al., 2008; GERMI et al.,
eles raramente ocorrem (MIGLIARI et al., 2004). 2012; DARWAZEH et al., 2012; YESUDIAN et al.,
Estudos indicam que a psoríase está associada a outras 2012; DARWAZEH et al., 2011).
condições inflamatórias sistêmicas, tais como: artrite
psoriática (AP) (GLADMAN et al., 2005), doença
inflamatória do intestino(CHRISTOPHERS et al., DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
2010); doença cardiovascular (DCV) (PARISI et al.,
2014) e diabetes (COHEN et al., 2008) Paciente leucoderma, 35 anos, sexo feminino,
As manifestações orais da psoríase incluem boa saúde sistêmica apresentou áreas despapiladas com
principalmente lesões inespecíficas como língua ilhas eritematosas em dorso e regiões laterais de língua
geográfica (LG) e língua fissurada (LF) (PARISI et al., e ardência local, compatível clinicamente com eritema
2014) GT apresenta com clínicos, histológicos, e migratório (figura 1). Tal manifestação foi
padrões genéticos semelhantes aos de psoríase, o que caracterizada como manifestação bucal da psoríase.
sugere que esta lesão pode representar uma Igualmente, apresentou, ainda, placas eritematosas
manifestação oral de psoríase (MIGLIARI et al., 2004). prurídicas descamativas, com escamas prateadas,
4. No entanto, a LG geralmente aparece sem lesões provocando espessamento da pele em região plantar de
cutâneas (COHEN et al., 2008) 3 cm (figura 2) e acima de maléolo direito (4 cm). Tais
Uma história familiar positiva, uma lesões encontradas nessas regiões estavam
associação entre a psoríase e LG sugerem uma base representadas por placa eritemato-escamosa, saliente
genética, além disso, o aumento da ocorrência LG em em relação à superfície da pele. A paciente ainda
pacientes com severa psoríase vulgar sugere que esta apresentou lesões em diversas regiões do couro
lesão pode ser um marcador de gravidade da psoríase cabeludo (figura 3). As escamas nessa região estavam
DANESHPAZHOOH et al., 2004; ZARGARI, 2006; superpostas como lâminas de um fragmento de mica;
SINGH et al., 2013). apresentavam cor avermelhada e podiam ser destacadas
As características clínicas da psoríase oral são com facilidade, mediante a raspagem. Nesta paciente
muito variáveis e podem afetar qualquer local da em questão, as lesões estavam mais extensas na região
mucosa oral, tornando o diagnóstico uma dificuldade do couro cabeludo, o que está de acordo com a
(YESUDIAN et al., 2002). Várias lesões orais têm sido literatura encontrada que mostra que a doença tem
descritas, como placas brancas ou cinzentas para áreas elevada predileção por esta região. A paciente
difusas de eritema e lesões inespecíficas como língua apresentou, ainda, a manifestação da psoríase ungueal
geográfica (PARISI et al., 2014; DANESHPAZHOOH (figura 4).
et al., 2004). Língua fissurada (LF) e língua geográfica No que se refere ao tratamento, a paciente
1349
respondeu rapidamente à intervenção, com o uso de
pomadas e cremes emolientes que ajudavam a manter a
pele úmida. Solução contendo corticóides, vitamina D,
ácido salicílico foram utilizadas nas lesões, também
com sucesso. Além disso, a paciente foi instruída a
fazer exposição ao sol, já que já foi comprovada que a
luz ultravioleta (PUVA) também pode ajudar a
Figura 3 - Lesões em couro cabeludo.
eliminar sintomas da psoríase. A paciente foi
encaminhada ao psicólogo, já que existem muitas
pesquisas na área que relacionam psoríase a aspectos
psicológicos e stress. Além disso, está sendo
acompanhada periodicamente para avaliação de
possíveis recidivas por ser uma doença com alto grau
de recidiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O
fibromixoma odontogênico é diferencial são: Ameloblastoma, Hemangioma
um tumor benigno, raro, de Central, Displasia Fibrosa, Cistos Odontogênicos,
crescimento lento e de possível Cisto Aneurismático, Lesão Central de Células
origem ectomesenquimal com epitélio Gigantes, Metástases, Lipossarcoma bem
odontogênico (LO MUZIO et al., 1996; diferenciado e outras entidades raras (DIETRICH et
AQUILINO et al., 2006). Ele foi descrito como al., 2011).
uma variação dos Mixomas, com maior tendência à
O objetivo desse estudo é fazer o relato de
formação de fibras colágenas. O termo Mixoma foi
um caso clínico, expondo as características clínicas,
primeiro descrito por Virchow, em 1863, mas o
radiográficas e conduta para confirmação do
termo Fibromixoma foi descrito por Marcove et al,
diagnóstico da lesão.
em 1964 (DUTZ; STOUT, 1961; MARCOVE,
1964). O fibromixoma nos ossos gnáticos,
aparentemente, tem um prognóstico melhor do que DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
os que ocorrem nos ossos longos do esqueleto.
Mixoma com maior proporção de tecido fibroso lado esquerdo da face há 6 meses. O exame extra-
que geralmente acomete a parte posterior da oral revelou edema difuso sobre a bochecha
1355
esquerda, envolvendo parte lateral do nariz e região and ultrastructural study. Oral Surgery, Oral
Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and
infra-orbital; o exame intraoral revelou um aumento
Endodontics, v. 82, n. 4, p. 426-433, 1996.
de volume firme à duro, com expansão da placa
AQUILINO, R.N. et al. Odontogenic myxoma in
cortical vestibular na região de canino\pré- the maxilla: a case report and characteristics on CT
and MR. Oral Oncology Extra, v. 42, n. 4, p. 133-
molares superiores esquerdos. Foi realizada biópsia
136, 2006.
incisional seguida de exame histopatológico, que
DIETRICH, E-M. et al. Odontogenic fibromyxoma
revelou o diagnóstico de fibromixoma. Após isso, of the maxilla: a case report and review of the
literature. Case Reports in Medicine, v. 2011, p. 1-
optou-se por procedimento cirúrgico com a
5, 2011.
enucleação da neoplasia, encaminhada para exame
INFANTE-COSSÍO, P. et al. Myxofibroma of the
histopatológico, que confirmou o diagnóstico maxilla. Reconstruction with iliac crest graft and
dental implants after tumor resection. Medicina
inicial.
Oral Patologia Oral y Cirugia Bucal, v. 16, p.
e532-536, 2011.
No caso apresentado, a conduta escolhida
BERRY, S.; PURI, R. Fibromyxoma of the
foi inicialmente fazer uma biópsia incisional,
maxilla. Otolaryngology, v. 135, n. 2, p. 330-
(figuras 3A e 3B) seguida de exame histopatológico 331, 2006.
(figuras 4A e 4B) para a determinação do MARTÍNEZ-MATA, G. et al. Odontogenic
diagnóstico. A realização de biópsia incisional é myxoma: clinico-pathological,
immunohistochemical and ultrastructural findings
fundamental para o diagnóstico final, bem como of a multicentric series. Oral Oncology, v. 44, n. 6,
para o planejamento do tratamento. O Fibromixoma p. 601-607, 2008.
Federal do Rio de Janeiro, pela cessão das imagens DIETRICH, E-M. et al. Odontogenic fibromyxoma
of the maxilla: a case report and review of the
histológicas do caso relatado. literature. Case Reports in Medicine, v. 2011, p.
238712, 2011.
MELETI, M. et al. Odontogenic myxofibroma: A
REFERÊNCIAS concise review of the literature with emphasis on
the surgical approach. Medicina Oral Patologia
Oral y Cirugia Bucal, v. 20, n. 1, e-1-e6, 2015.
LO MUZIO, L. et al. Odontogenic myxoma of the NEVILLE, B.W. Patologia oral e maxilofacial.
jaws: a clinical, radiologic, immunohistochemical, 3ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.