Você está na página 1de 19

91634

Brazilian Journal of Development

Desmistificando o atendimento odontológico para paciente soropositivo:


Revisão de literatura

Demystifying dental care for hiv-positive patients: Literature review

DOI:10.34117/bjdv6n11-539

Recebimento dos originais: 25/10/2020


Aceitação para publicação: 25/11/2020

Carolinne Félix do Nascimento


Formação: Acadêmico de Odontologia pela Universidade Uninorte
Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1281-1255, Centro, Manaus – AM, CEP: 69020-030
E-mail: carolinne.nascimento@gmail.com

Gisele Santos de Souza


Formação: Acadêmico de Odontologia pela Universidade Uninorte
Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1281-1255, Centro, Manaus – AM, CEP: 69020-030
E-mail: gisele.souza1607@yahoo.com.br

Larissa Ketlen da Silva Vitor


Formação: Especialista em Endodontia, Odontologia para Pacientes com Necessidades
Especiais e Saúde Indígena
Endereço: Rua Pedro Teixeira, 51, quadra 3, Conjunto Deborah – Dom Pedro. Manaus-AM
CEP: 69040-970
E-mail: lbodonto@yahoo.com.br

Lívia Coutinho Varejão


Formação: Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais
Instituição: Centro Universitário do Norte
Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1281-1255, Centro, Manaus – AM, CEP: 69020-030
E-mail: draliviacoutinho.cdpne@gmail.com

Marcos Samuel Azulay


Formação: Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial
Instituição: Centro Universitário do Norte
Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1281-1255, Centro, Manaus – AM, CEP: 69020-030
E-mail: marcos_azulay_a@hotmail.com

RESUMO
O Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV surgiu na década de 80 no Brasil, sendo desde
então considerado um problema de saúde pública e que ainda é estigmatizado pela sociedade
atualmente. É uma infecção que pode levar à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA),
quadro mais avançado da doença. Os últimos dados coletados pelo Ministério da Saúde dão
conta de que a infecção pelo vírus tem diminuído ao longo dos anos, e diferente do que se
pensa, a maior parte dos infectados se declararam heterossexuais. O risco de exposição
ocupacional apesar de ser mínimo, tendo em vista o rigor na adoção as normas de
biossegurança, ainda há profissionais que se negam a realizar o tratamento odontológico no
paciente soropositivo. Ao passo que a doença se instala no organismo, acomete o sistema
imunológico, causando imunossupressão. Diante disso ocorrem os primeiros sinais e sintomas

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91635
Brazilian Journal of Development
da doença, como as manifestações orais. O objetivo deste trabalho é esclarecer através de uma
revisão bibliográfica, os aspectos que ainda contribuem para estigmatização das pessoas
vivendo com HIV na busca pela assistência odontológica, tal qual, enfatizar a relevância do
cirurgião-dentista na identificação das principais lesões da cavidade oral. Neste contexto, pode-
se concluir que apesar dos estigmas ainda prevalecerem em torno desta doença, o cirurgião-
dentista deve realizar o atendimento dentro dos mesmos preceitos de biossegurança para
qualquer paciente e ter o embasamento teórico suficiente para reconhecer as alterações no meio
bucal e o tratamento adequado para este público.

Palavras-chave: HIV, AIDS, Estigma, Biossegurança, Assistência odontológica.

ABSTRACT
The Human Immunodeficiency Virus – HIV emerged in the 1980s in Brazil, and has since been
considered a public health problem and is still stigmatized by society today. It is an infection
that can lead to Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS), the most advanced picture of
the disease. The latest data collected by the Ministry of Health report that virus infection has
decreased over the years, and unlike what is thought, most of the infected have declared
themselves heterosexual. The risk of occupational exposure, although minimal, in view of the
strict adoption of biosafety standards, there are still professionals who refuse to perform dental
treatment in the seropositive patient. While the disease settles in the body, it affects the immune
system, causing immunosuppression, in view of this occurs the first signs and symptoms of the
disease, such as oral manifestations. The objective of this work is to clarify through a literature
review the aspects that still contribute to the stigmatization of people living with HIV in the
search for dental care, such as emphasizing the relevance of the dentist in identifying the main
lesions of the oral cavity. In this context, it can be concluded that although the stigmas still
prevail around this disease, the dentist should perform care within the same precepts of
biosafety for any patient and have sufficient theoretical basis to recognize the changes in the
oral environment and the appropriate treatment for this public.

Keywords: HIV, SIDA, Stigma, Biosecurity, Dental Care.

1 INTRODUÇÃO
“O vírus da Imunodeficiência humana (HIV) infecta células imunológicas humanas,
levando o hospedeiro vulnerável a diversos tipos de antígenos de bactérias, vírus, fungos e
protozoários” (LOROSA et al., 2019). Segundo Silva (2017), a epidemia do HIV tomou
grandes proporções no início dos anos 80 e as pessoas em todo o mundo ficaram extremamente
abaladas e assustadas com essa doença. O índice de mortalidade era muito alto e a estimativa
de sobrevida em pessoas que descobriam ser portadoras era muito baixa; não havia medicação
capaz de bloquear a replicação do HIV e assim ele ia destruindo a imunidade das pessoas,
levando-as a adquirir várias doenças oportunistas, e consequentemente à morte.
De acordo com Brasil (2019), a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é a
doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Esse vírus ataca
o sistema imunológico, atingindo principalmente os linfócitos T CD4+, que são responsáveis

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91636
Brazilian Journal of Development
pela defesa do organismo contra doenças. “A AIDS está relacionada como sendo uma doença
contagiosa, difícil, que não tem cura; porém, tem tratamento, que traz diversas dificuldades e
preconceitos “(ARAÚJO et al., 2017).
Em pesquisa realizada por Brondani et al. (2016) muitas pessoas vivendo com HIV/AIDS
(PVHA) narraram que em algum momento na procura por atendimento odontológico se
sentiram discriminados, rotulados e excluídos. “O conhecimento acerca da AIDS é tido como
ambivalente, pois, por um lado, ressaltam-se informações sobre o diagnóstico, e por outro, há
informações insuficientes e errôneas” (ARAÚJO et al.,2017). “Compreender e lidar com o
estigma em relação PVHA é uma parte essencial na resposta contra a epidemia e na melhoria
da assistência à saúde dessa população” (FEITOSA, 2018).
A partir de seus estudos, Felipe et al. (2016) ressaltaram que além das formas mais
conhecidas de transmissão do HIV, ocorrem também a transmissão por acidente ocupacional,
afetando diretamente os profissionais da saúde, pelo fato de fazerem uso de materiais
perfurocortantes. Em pesquisa realizada por Arantes et al (2015), o conhecimento das normas
de biossegurança e a conscientização do profissional deve vir desde a graduação, pois deve-se
adquirir o hábito de seguir os protocolos para que diminuam as chances de infecção cruzada
em ambiente odontológico.
“A saúde e a condição bucal dos pacientes não têm dissociação da saúde geral, e,
portanto, podem influenciar diretamente a qualidade de vida” (SILVA, 2018). Conforme
exposto por Felipe et al. (2016), por comprometer o sistema imunológico, a imunidade da
cavidade oral também será afetada pelo vírus, tendo como resultado o aparecimento de algumas
manifestações orais, que ocorrem de acordo com as fases e a progressão da doença. As lesões
mais associadas ao HIV/AIDS são: Candidíase Oral (Eritematosa e Pseudomembranosa),
Leucoplasia Pilosa, Sarcoma de Kaposi, Linfoma não-Hodgkin, Eritema Gengival Linear,
Gengivite Ulcerativa Necrosante e Periodontite Ulcerativa Necrosante.
“A cavidade oral do portador do HIV/AIDS é um sítio anatômico frequentemente
acometido por doenças oportunistas e neoplasias malignas de etiologias distintas” (LUCENA
et al., 2016). De acordo com Parola e Zihlmann (2019), entende-se a importância do
profissional da odontologia, pois ele tem a função de contribuir para o bem-estar das pessoas
que vivem com HIV, sendo sua responsabilidade a promoção e adequação da saúde bucal
desses pacientes.
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura com o propósito de
contribuir para desconstrução e desmistificação do atendimento odontológico para pacientes
soropositivos, abordando os principais aspectos relacionados ao histórico de discriminação na

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91637
Brazilian Journal of Development
busca pela assistência odontológica, assim como, a relevância do cirurgião-dentista na
identificação das principais manifestações orais.

2 REVISÃO DE LITERATURA
Estudos realizados por Duro (2016) relataram o surgimento do HIV após a primeira
publicação da patologia em 5 de junho de 1981, quando os Centers for Disease Control and
Prevention (CDC) dos EUA publicaram um artigo no qual descreveram cinco casos de
pneumonia por Pneumocystis carinii (hoje classificado como Pneumocystis jiroveci), em
contextos clínicos que evidenciaram uma queda brusca na condição imunológica. Segundo
Fauci et al. (2019), mais de 700.000 pessoas morreram em decorrência do HIV/AIDS desde o
surgimento da doença, em 1981 nos EUA. Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças
(CDC) estimam que de 1,1 milhão de pessoas vivem atualmente com o HIV, cerca de 15%
desconhecem a sua condição sorológica.
Conforme pesquisas realizadas por Ribeiro et al. (2018), a contaminação do HIV-1 ao
ser humano se deu através do contato direto com o sangue de chimpanzés durante a caça e
abate na natureza. “Foram denominados genericamente como SIVs, cujos sufixos estão ligados
a suas espécies de origem, como SIVsmm (sooty mangabey), SIVcpz (chimpanzés), dentre
outros” (SOUZA, 2017).
“A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é tema de grande relevância
no meio científico, devido a quantidade de infectados em todo mundo” (DALALIO et al.,2018).
Estudos realizados por Marquezine e Boni (2017), ressaltaram a origem do vírus HIV como
um dos mais desafiantes para a comunidade científica global. Tal fato deve-se a amplitude de
seus efeitos, a ausência de uma vacina profilática, ao aumento no número de pessoas infectadas
e as limitações da terapia antirretroviral (TARV), que tornam a busca de uma cura definitiva
para o HIV uma prioridade mundial de constantes pesquisas.
“A limitação estigmatizante do conceito de “grupo de risco” como vetor operacional das
evidências na propagação do HIV explicitou-se com os processos de heterossexualização,
feminilização, envelhecimento, baixa escolarização, interiorização e pauperização da
epidemia” (HAMANN et al.,2017). De acordo com Rocha (2016), desde a descoberta da AIDS,
a terminologia “grupo de risco” foi inserida na sociedade antiga para designar a ideia
comportamental de risco, identificável por características individuais próprias de pessoas
infectadas pelo vírus.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91638
Brazilian Journal of Development
2.1 ESTATÍSTICAS E PREVALÊNCIA DO HIV NOS ÚLTIMOS ANOS
“O Brasil apresentou entre os anos de 2005 a 2015 um aumento nas taxas de notificações
de HIV, passando de 10,98 casos em 2005 para 18,24 casos/100 mil habitantes em 2015”
(DARTORA et al., 2017). “A taxa de detecção de AIDS vem caindo no Brasil nos últimos
anos. Em 2012, a taxa foi de 21,7 casos por 100.000 habitantes; em 2014, foi de 20,6; em 2016,
passou para 18,9; finalmente, em 2018, chegou a 17,8 casos por 100.000 habitantes” (BRASIL,
2019).
De acordo com Brasil (2019), através da divulgação do Boletim Epidemiológico de
HIV/AIDS do ano de 2019, foi divulgado que nos últimos 12 anos até junho de 2019, um total
de 300.496 casos de HIV no Brasil, sendo sua maior prevalência na região Sudeste e a menor
prevalência na região Centro-Oeste do país. “O tratamento antirretroviral (TARV) trouxe
benefícios precisos para a redução da morbidade da mortalidade associadas à AIDS,
melhorando a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHIV)” (PEREIRA et
al., 2019). “Desde o início da epidemia de AIDS (1980) até 31 de dezembro de 2018, foram
notificados no Brasil 338.905 óbitos tendo o HIV/AIDS como causa básica (CID10: B20 a
B24)” (BRASIL, 2019).
No que diz respeito as estatísticas relacionadas ao sexo com maior índice de infecção,
em pesquisa feita por Dartora et al. (2017), os homens são mais afetados pela doença, com
idade entre 30 a 49 anos, e números que estimam cerca de 10,3/100mil habitantes, já as
mulheres de mesma idade, possuem as taxas mais baixas, com 5,7/100mil/habitantes. Após
Brasil (2019), divulgar o boletim epidemiológico, foi registrado que houve um aumento no
percentual de homens infectados pelo vírus, chegando a 69% contra 31% das mulheres.
Em seu trabalho, Dartora et al. (2017) relataram que mesmo o Brasil sendo um país que
fornecera no sistema de saúde pública a TARV, ainda existiam muitos casos de HIV na faixa
etária dos 30 aos 49 anos, na sua maioria do sexo masculino. Entretanto, dados fornecidos por
Brasil (2019), expuseram que atualmente a faixa etária mais prevalente estivera entre 25 e 39
anos de ambos os sexos.

2.2 ESTIGMA SOCIAL E O ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO


“A AIDS não é um tema simples, pois tal doença desde seu surgimento, como ainda hoje,
porém em grau menor, sempre foi uma moléstia carreada de tabus, medos, preconceitos, dado
ao fato de, à época, acometer os grupos considerados de risco” (VILLARINHO e PADILHA,
2016). De acordo com pesquisa realizada por Araújo (2016) e corroborando com o exposto,
quando a notícia da AIDS chegou ao Brasil, a imprensa insistiu em reportar matérias cheias de

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91639
Brazilian Journal of Development
preconceito e de pouco embasamento científico, o que acabara por reforçar a associação dos
homossexuais a doença.
Nas palavras De Lima et al. (2019), a imprensa teve um papel crucial na construção sobre
a percepção da doença. Tal fato se deu através da maneira como as notícias eram divulgadas,
utilizando termos pejorativos que refletiram na sociedade e serviam apenas para acentuar o
estigma da representação social da soropositividade. “A falta de conhecimento com relação à
real forma de transmissão do HIV, gerou no início da epidemia, muito medo, preocupação
pelos trabalhadores da saúde, assim como rejeição, discriminação aos pacientes com
HIV/AIDS” (VILLARINHO e PADILHA, 2016).
Segundo Muniz et al., (2019), o estigma disseminado na época da descoberta do vírus
encontra-se enraizado até os dias de hoje e mesmo depois de tantos anos, a discriminação está
presente fortemente nos serviços de atenção à saúde para com os pacientes soropositivos. “Esse
estigma de algumas doenças crônicas ainda causa grande impacto na vida de quem às vivencia,
seja no seu micro ou macroambiente” (SOARES et al. 2019). Estudos realizados por Tamayo-
Zuluaga et al. (2015), ratificaram que os estigmas por parte de profissionais da saúde
prejudicaram o processo da busca de recurso terapêutico das PVHA, deixando de participar de
programas de saúde e de receber o tratamento adequado para a doença.
Reforçando o que foi exposto, Brondani et al. (2016), realizaram uma pesquisa
qualitativa descritiva com 25 PVHA com idades entre 23 e 67 anos, em Vancouver, no Canadá,
no qual evidenciaram os principais traumas vivenciados pelos mesmos, ressaltando o estigma
como fator prejudicial aos cuidados bucais. Um dos participantes enfatizou a importância de
aprender a conter o medo e a angústia de ser HIV positivo enquanto tentava se concentrar em
encontrar profissionais de odontologia que os deixariam confortáveis apesar de conhecerem o
seu status de HIV. Como foi apontado por Tamayo-Zuluaga et al. (2015), apesar de a
informação estar ao alcance de todos, ainda existe uma minoria de profissionais da saúde que
temem o atendimento a pessoas com HIV, mesmo sabendo que em algum momento da vida
esses profissionais terão que atender esses pacientes. Há uma necessidade de aperfeiçoamento,
táticas de comunicação e educação em saúde para profissionais como meio de combater a
persistência em discriminar estes pacientes.
De acordo com estudo apresentado por Elizondo et al. (2015), apesar de a maioria de
seus entrevistados, homens e mulheres, revelarem que confiam no sigilo de seu prontuário ao
cirurgião-dentista, cerca de 48,7% de mulheres e 30,9% dos homens envolvidos na pesquisa,
mesmo considerando que é de extrema importância para o profissional, relataram que não
revelam sua soropositividade, por medo de serem discriminados ou não terem seus

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91640
Brazilian Journal of Development
atendimentos realizados. A partir de pesquisas realizadas por Parola e Zihlmann (2019)
reforçaram que, os pacientes por vezes não conseguem falar abertamente sobre a doença ou o
que sentem, nem com seus familiares e dificilmente querem falar a respeito com os
profissionais de odontologia, por receio de rejeição ao tratamento, podendo ser um indicativo
de indisposição para cuidar da sua saúde bucal. Com base nessas afirmativas, entende-se que
em algum momento de sua vida as PVHA vivenciaram a discriminação e o preconceito por
parte de profissionais da saúde, fazendo com que, em muitos casos, eles omitam a informação
do sorodiagnóstico em HIV, para que o tratamento seja isento de prejulgamentos.
A relação do paciente e do profissional deve ser como um elo de confiança e o cirurgião-
dentista durante um atendimento de rotina pode identificar por meio de exame clínico
alterações bucais que podem ser indicativos imunossupressão, como aponta o estudo realizado
por Felipe et al. (2016), salientando a importância dos profissionais da saúde, especialmente os
cirurgiões-dentistas, reconhecerem algumas manifestações orais que geralmente ocorrem em
pacientes com HIV/AIDS. Confirmando o que foi evidenciado, Parola e Zihlmann (2019)
aduziram que, quanto mais conhecimento, menos preconceito o profissional terá e o dentista
deve compreender que a manutenção da saúde vai muito além dos cuidados bucais. Só assim a
pessoa vivendo com HIV/AIDS se sentirá à vontade e segura para procurar atendimento e
revelar o diagnóstico.

2.3 BIOSSEGURANÇA
Em sua pesquisa científica Oliveira e De Almeida (2015), ressaltaram, ainda, que o
cirurgião-dentista e sua equipe estão constantemente vulneráveis aos aerossóis e gotículas
originados da caneta de alta rotação, bem como da saliva dos pacientes, contaminando o
ambiente e seus vestuários. Conforme apresentado por Silva Furlan et al. (2020) expuseram
em seu estudo que os profissionais devem estar agindo sempre de acordo com os princípios
éticos e de biossegurança, na intenção de resguardar o atendimento de seus pacientes, a sua
vida, e de sua equipe de trabalho. “O tratamento odontológico em pacientes na fase ativa da
doença deve ser postergado para que não haja uma inoculação do vírus para outras partes do
corpo do paciente e que não seja um risco para o cirurgião-dentista” (OLIVEIRA e DE
ALMEIDA, 2015).
“O cumprimento das medidas de biossegurança está baseado principalmente no manejo
e descarte correto dos materiais perfurocortantes, fazendo a segregação de acordo com o real
potencial de contaminação” (MOURA et al., 2016). Em seu trabalho, Lucena et al. (2016)
citaram que, além dos instrumentos e perfurocortantes utilizados na rotina clínica dos

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91641
Brazilian Journal of Development
cirurgiões-dentistas, o ambiente odontológico também pode ser foco de contaminação para
doenças infectocontagiosas como o HIV.
“Considera-se que a correta utilização de barreiras de biossegurança durante os
atendimentos, ainda na graduação e, posteriormente, na rotina da prática clínica profissional,
reduziria o risco de infecção por HIV” (LUCENA et al., 2016). Diante do exposto, entende-se
que os profissionais da saúde, devem ter atenção redobrada não tão somente ao manusear
instrumentos cortantes, mas, também a utilização de barreiras físicas, tendo consciência, ou
não, da soropositividade ao HIV do paciente. De acordo com as pesquisas realizadas por
Arantes et al. (2015), ao entrevistarem acadêmicos de Odontologia da Universidade Federal do
Pará, notaram que alguns dos alunos não cumpriam efetivamente com as normas básicas de
prevenção a contaminação, mesmo tendo conhecimento do risco de infecção cruzada.
Conforme relatado por Silva Furlan et al (2020), as normas de biossegurança devem ser
criteriosamente aplicadas, visto que geralmente nos primeiros anos da infecção por HIV o
paciente é assintomático. Em levantamento realizado por Trezena et al. (2020), os profissionais
da odontologia, entre eles cirurgiões-dentista e técnicos em saúde bucal relataram que já
experienciaram acidentes com perfurocortantes, bem como, relataram que os fatores
relacionados aos acidentes são a falta de treinamento e capacitação e o fluxo intenso de
atendimentos.
“Estudos sugerem que o cirurgião-dentista e sua equipe estão em constante exposição
aos riscos biológicos” (OLIVEIRA e DE ALMEIDA, 2015). Baseado nisso, Felipe et al. (2016)
salientaram que em caso de exposição do cirurgião-dentista ou sua equipe a material biológico,
as medidas a serem tomadas são: Parar o atendimento, identificar a lesão e lavar. Se o paciente
na anamnese não houver revelado que tem o HIV, deve-se perguntar novamente se o mesmo
tem alguma doença infecciosa como HIV, hepatites ou doenças sexualmente transmissíveis e
se ele aceita fornecer uma amostra para teste destas doenças, em seguida devem procurar
atendimento médico especializado para avaliar necessidade de realizar profilaxia pós-
exposição com Anti-HIV.

2.4 MANEJO ODONTOLÓGICO


“O planejamento de tratamento odontológico deve seguir a mesma ordem dos outros
pacientes- aliviar a dor, promover a boa saúde bucal, controlar e prevenir doenças, restaurar a
função e abordar preocupações funcionais e estéticas” (ROBBINS, 2017). Segundo Ribeiro et
al. (2018), o atendimento ao paciente infectado pelo HIV ou portador da AIDS deve ser

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91642
Brazilian Journal of Development
realizado normalmente, seja em caso de emergência ou atendimentos eletivos, não cabendo a
recusa do atendimento pelo fato de o mesmo apresentar o vírus.
De acordo com estudos realizados por Silva Furlan et al.(2020), o preparo prévio ao
atendimento de um paciente soropositivo é tão eficaz quanto o respaldo próprio acerca de
julgamentos discriminatórios que possivelmente ocorrerão ao longo do tempo, tão logo,
ressalta-se a importância de não haver distinção na forma de atendimento após o conhecimento
sorológico positivo. “É imprescindível que os profissionais odontológicos tenham todo o
conhecimento possível para o atendimento aos pacientes com HIV+, principalmente quando se
trata de contaminação cruzada e disseminação de patógenos” (SILVA-BOGHOSSIAN et
al.,2020).
Pesquisas realizadas por De Araújo et al.(2018), elucidaram a importância de todo
paciente ser tratado como possível portador do vírus HIV, e cabe ao cirurgião-dentista obedecer
sempre às normas de biossegurança para o atendimento de qualquer paciente, soropositivo ou
não, agregando sempre às respostas da anamnese realizada, avaliação do histórico médico, bem
como exame completo de cabeça e pescoço observando as condições sistêmicas e
medicamentos utilizados. Desta forma, todo e qualquer paciente tem direito ao atendimento
sem nenhuma discriminação ou restrição. Em seu trabalho Silva Furlan et al. (2020), relataram
que todo tratamento a um paciente soropositivo deve seguir de acordo com os exames prévios
do paciente e contato com o médico que o acompanha. Após a autorização do mesmo, dá-se
prosseguimento ao plano de tratamento de acordo com a necessidade de cada paciente.
Importante salientar que o tratamento varia de acordo com as particularidades médicas de cada
paciente.
“O exame dos tecidos moles bucais, a avaliação de todos os dentes e tecido periodontal,
além do conhecimento dos sinais e sintomas comuns da infecção pelo HIV, são de suma
importância, pois a AIDS frequentemente apresenta manifestação oral” (DE ARAÚJO et al.,
2018). Por conseguinte, Silva Furlan et al.(2020) evidenciaram 2 etapas a serem seguidas para
atendimentos odontológicos a pacientes soropositivos: 1) realização dos procedimentos como
em qualquer outro paciente, sendo seguidas todas as normas de biossegurança; 2) realização
de avaliação de manifestações específicas do vírus HIV/AIDS, sempre objetivando a melhoria
na qualidade de vida do paciente, sem transparecer conceitos errôneos sobre a doença, no qual
possam influenciar/interferir na realização do tratamento do mesmo.
Conforme o que rege o Código de Ética Odontológica (2012) cobrar valores acima do
mercado com o intuito de fazer com que o paciente desista ou na intenção de obter vantagens
é considerada uma infração ética. Em estudo elaborado por Silva-Boghossian et al. (2020) foi

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91643
Brazilian Journal of Development
relatado pelos entrevistados que é necessário conhecimento e experiência clínica a fim de
melhorar o relacionamento entre paciente e profissional.

2.5 MANIFESTAÇÕES ORAIS


“Pacientes HIV-positivos imunossuprimidos podem apresentar manifestações
estomatológicas, pois a principal característica patológica do vírus HIV é queda progressiva
da imunidade celular e o consequente aparecimento de infecções oportunistas e
neoplasias malignas” (SILVA et al.,2017). “A cavidade oral é um local sede de inúmeras
patologias, incluindo as alterações advindas da infecção pelo HIV” (TEIXEIRA et al. 2015).
De acordo com Lucena et al. (2016), algumas afecções foram reconhecidas como
marcadores clínicos fidedignos de novas infecções por HIV, progressão da doença e/ou falha
terapêutica, visto que a TARV diminui a carga viral do HIV e tem acentuado aumento dos
linfócitos TCD4+, que são as células do sistema imunológico, resultando em menor
aparecimento de algumas lesões oportunistas. Por conseguinte, Paulique et al. (2017),
afirmaram que a contagem de linfócitos TCD4+ abaixo de 200 células/mm³ representa um dos
fatores que podem contribuir para o aparecimento de lesões bucais oportunistas, além de carga
viral elevada, xerostomia, higiene bucal deficiente e hábitos nocivos. O uso da TARV reduz a
carga viral e, como consequência, a redução da prevalência e a severidade de doenças
oportunistas associadas a essa patologia.
Conforme relatos de Sharma (2015), a qualidade de vida dos pacientes com HIV/AIDS
pode ser totalmente afetada e podem ser usadas para diagnosticar a imunossupressão e
determinar o prognóstico da doença, podendo até mesmo reduzir a sua taxa de mortalidade.
Estudos realizados por Hirata (2015), é de suma importância para o cirurgião-dentista saber
reconhecer essas manifestações orais e perceber com quais doenças ela pode estar relacionada.
Muitos pacientes vão a clínica odontológica sem saber que estão com o vírus, e dentro do
consultório o profissional pode identificar e alertar o paciente a procurar o médico para
verificação de suas condições imunológicas. “Assim, torna-se imperativo que todos os
profissionais de saúde estejam equipados com o conhecimento e a experiência necessárias para
gerenciar as manifestações orais da infecção pelo HIV” (SHARMA, 2015).
“A manifestação oral mais comum na infecção pelo HIV é causada frequentemente pela
Candida Albicans, a chamada candidíase/candidose” (RIBEIRO et al., 2018). Através de
pesquisas realizadas por Robbins, (2017), a Candidíase oral é a lesão mais comum observada
em pacientes com HIV, principalmente por aqueles que fumam, usam próteses removíveis ou
apresentam xerostomia. A xerostomia pode ocorrer em até 70% dos casos como efeito colateral

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91644
Brazilian Journal of Development
associados aos medicamentos usados no tratamento do HIV e outras comorbidades médicas,
como depressão, hipertensão e diabetes.
De acordo com estudos sobre manifestações orais em HIV/AIDS dos participantes,
descritas por Sharma et al. (2015), destacaram-se: candidíase oral, leucoplasia pilosa,
hiperpigmentação melanótica, câncer de boca, doença periodontal associada ao HIV, doença
das glândulas salivares e infecções virais. Em pesquisa realizada por Felipe at al. (2016) e
outros autores, as principais manifestações bucais e suas características acerca dos pacientes
com HIV/AIDS são:

2.5.1 Infecções fúngicas


a) Candidíase Pseudomembranosa: é uma das mais ocorrentes nos pacientes com
HIV, sendo tratada de forma mais fácil, com raspagem das áreas afetadas, sendo as
apresentadas em áreas de mucosa jugal, palato, lábios e língua;
b) Candidíase Eritematosa: ao contrário da Pseudomembranosa, que tem aspecto
esbranquiçado ou amarelado, a Eritematosa tem como característica manchas avermelhadas;
c) Candidíase Hiperplásica: seus aspectos clínicos são semelhantes ao da
Pseudomembranosa, com diferença no tratamento, não podendo ser removida com raspagem;
d) Queilite Angular: pode ser relacionada ao Eritema, localizada na comissura
labial. Trata-se de outra forma de apresentação da Candidose, que podem estar associadas ou
não ao tipo eritematoso ou pseudomembranoso;
e) Histoplasmose: são úlceras que podem ser nodulares ou vegetantes, podendo ser
confundidas com carcinomas.

2.5.2 Bacterianas
a) Periodontite Ulcerativa Necrosante Aguda (PUNA): é uma lesão de rápida
progressão, o paciente tem sangramento espontâneo, como o próprio nome diz, ocorre necrose,
tem odor característico podre-adocicado, com grave perda de ligamento periodontal e osso
alveolar;
b) Gengivite Ulcerativa Necrosante Aguda (GUNA): muito semelhante às
características da PUNA, com distinção que ocorre edema e pseudomembrana;
c) Eritema Gengival Linear: ocorre na gengiva marginal com distância da gengiva
livre, com características clínicas de eritema e edema.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91645
Brazilian Journal of Development
2.5.3 Virais
a) Herpes simples: é uma das infecções virais das quais acometem o paciente com
HIV, caracterizada por vesículas em forma de cacho de uvas, que posteriormente se tornam
úlceras, podendo ser recorrentes;
b) Leucoplasia Pilosa: similar a C. Hiperplásica localizada em bordas laterais da
língua. Martins et al., (2018) analisaram 228 pacientes HIV positivos em seu estudo,
observando como infecções oportunistas a leucoplasia pilosa sendo a lesão mais frequente,
aparecendo em 23,7% dos casos avaliados;
c) Papiloma Vírus Humano (HPV): pode ser localizada em boca, mas, sua
ocorrência mais comum é em região genital. As lesões verrucóides tem aspecto papilar, séssil
ou pedicular;
d) Molusco Contagioso: aspecto nodular, exofídico, cor da mucosa normal ou
esbranquiçada; localizado no lábio, língua e mucosa jugal. Pode ser único ou múltiplo e está
ou não associado a lesões de pele;
e) Citomegalovírus: na boca, podem se apresentar com lesão ulcerada de bordas
elevadas e endurecidas, sem edema;
f) Herpes Zoster: são vesículas que geralmente localizam-se no palato, comumente
indolores. A lesão do herpes zoster é excessivamente dolorosa e localizada.

2.5.4 Neoplásicas
a) Sarcoma de Kaposi: podendo manifestar-se como única mancha ou múltiplas,
vermelha ou violácea e/ou nódulos-tumorais vermelhos ou acastanhados.
b) Linfoma não-hodgkin: ocorre com frequência em gengiva, tem aumento de
volume firme e indolor podendo se localizar em qualquer região da cavidade oral (Figura 16).

3 DISCUSSÃO
Pela observação dos aspectos analisados por Júnior et al. (2018), estes autores afirmaram
que, em relação a prevalência de pessoas que vivem com HIV/AIDS, as estatísticas variam de
acordo com a população estudada, sendo o sexo masculino o mais prevalente no Brasil, porém,
o sexo feminino quando afetado possuíam idade mais precoce. Em divergência com o que foi
exposto, Melo et al. (2018) discordaram, pois de acordo com os resultados de seus estudos, a
prevalência varia de acordo com o país ou o continente a ser analisado, tão logo seus estudos
evidenciaram que as maiores taxas de prevalência do HIV estão localizadas no continente
africano, nos quais as mulheres jovens são as mais afetadas. Relataram ainda, que no Brasil

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91646
Brazilian Journal of Development
está ocorrendo um aumento no número de infectados na faixa etária de 50 anos ou mais, apesar
de uma queda da taxa de infectados nas demais faixas etárias.
Conforme o estudo transversal quantitativo realizado por Maia et al. (2015), o Sistema
Único de Saúde (SUS) prevê o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde, tendo em
vista que o paciente deve ter integralidade do serviço garantida, independentemente de seu
problema de saúde, incluindo as PVHA. Por conseguinte, Lorosa et al. (2019) corroboraram
com estes princípios, demonstrando que muitas pessoas que vivem com HIV/AIDS não
recebem atendimento odontológico adequado, mesmo sendo de suma importância os cuidados
com a saúde bucal, principalmente em países em desenvolvimento. No Brasil, apesar dos
avanços no controle da morbidade, o acesso ao atendimento odontológico parece ser limitado
a classes economicamente mais favorecidas.
Através de pesquisas realizadas por Tamayo-Zuluaga et al. (2015), os estigmas são mais
comuns em países de menor prevalência, levando a crer que o entendimento quanto a infecção
do HIV é falha, onde crê-se, erroneamente na ideia de que só existe a contaminação entre os
grupos de risco. A partir de pesquisa realizada e ratificando o que foi dito, Cajado e Monteiro
(2018), expuseram em seu trabalho que é necessário que as pessoas com HIV inseridas em
movimentos sociais se fortaleçam, a fim de ultrapassar os obstáculos do diagnóstico da doença,
com ações e movimentos ativistas, reinventando as atuações e as participações nas políticas de
saúde para que a sociedade em geral entenda que a desigualdade social é o eixo central para o
estigma social e compreenda a evolução do sistema de saúde em relação às formas de
prevenção e tratamento do soropositivo. Em contrapartida, Tamayo-Zuluaga et al. (2015)
entenderam que mesmo que a sociedade, bem como, profissionais da saúde, detenham
conhecimento sobre o vírus, em algum momento pode ocorrer discriminação no atendimento,
atribuindo este fato ao preconceito de origem estrutural. Legitimando o que foi exposto, Toth
et al. (2016) explicaram que o cirurgião-dentista não deve limitar-se a dialogar sobre o HIV
com pacientes soropositivos, mas com todos os seus pacientes, de forma a minimizar o
preconceito que estes sofrem.
Em sua pesquisa Felipe et al. (2016), afirmaram que os procedimentos de cuidados com
a biossegurança no atendimento aos pacientes soropositivos serão os mesmos adotados para
qualquer paciente, como utilização de equipamentos de proteção individual, limpeza e
desinfecção de materiais, esterilização de instrumentos antes e após os procedimentos e no final
do dia. No entanto, no estudo epidemiológico realizado na Faculdade de Odontologia de
Araçatuba por Saliba Garbin et al. (2018), ao entrevistar alunos de graduação sobre o
atendimento ao paciente com HIV, a maioria dos alunos relataram acreditar que existam

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91647
Brazilian Journal of Development
protocolos diferenciados para esses pacientes, como “reforçar a proteção” duplicando
equipamentos de proteção e ter mais cuidado e atenção ao realizar os procedimentos.
“Sendo nesse sentido, imperativo que o comportamento do profissional da odontologia
seja completamente embasado no código de ética profissional e nos princípios da
biossegurança apreendidos durante o curso de Odontologia” (SILVA FURLAN et al., 2020).
Validando as afirmativas retrocitadas, Saliba Garbin et al. (2018), afirmaram que a
biossegurança é a principal aliada do cirurgião-dentista no que diz respeito ao controle de
infecção cruzada, e o conhecimento científico contribuem para atuação com maior segurança
nos protocolos, sendo necessárias aplicações de conteúdo teórico-prático com intuito de
familiarizar o profissional com a doença desde a graduação.
Em pesquisa realizada por Júnior et al. (2018), cujo objetivo era traçar um perfil clínico-
epidemiológico das alterações bucais em pacientes com HIV, constatou-se que a cavidade oral
é a área de maior frequência para manifestações do HIV/AIDS sendo as mais ocorrentes,
candidíase oral, leucoplasia pilosa e outras doenças periodontais. No entanto, Miranzi et al.
(2015) discordaram, pois afirmaram que não só Candidíase e leucoplasia pilosa, como também
Herpes simples e Sarcoma de Kaposi estão entre as alterações bucais mais frequentes em
pacientes com HIV. não só corroborando como salientando o que foi dito Lorosa et al. (2019),
vislumbraram outras lesões bucais e analisaram que as mesmas podem manifestar-se nos
estágios iniciais da doença. Além de candidíase oral e leucoplasia, sarcoma de Kaposi, eritema
gengival, gengivite ulcerativa necrosante, periodontite ulcerativa necrosante e linfoma não-
hodgkin também são patologias que podem ser diagnosticas pelos profissionais de odontologia,
oferecendo um diagnóstico precoce dessa infecção, impedindo a propagação da doença. Vale
ressaltar que, Hirata (2015) afirmou que não há lesões orais que sejam únicas para portadores
do HIV. Segundo este autor, todas as lesões encontradas entre os pacientes HIV positivos
também ocorrem em outras doenças associadas com a imunossupressão, tão logo, há uma
correlação clara entre o aparecimento de lesões bucais e a diminuição do sistema imunitário.
Manifestações do tipo candidíase oral, doença periodontal ulcerativa necrosante, leucoplasia
pilosa, e sarcoma de Kaposi, são indicativas de comprometimento imunológico, com índice de
células CD4 abaixo de 200 células/mm3.

4 CONCLUSÃO
Com base no que foi exposto, é de suma importância que o profissional de odontologia
tenha conhecimento das características das principais manifestações orais oriundas do HIV, tão
logo podem ser o primeiro passo para o diagnóstico precoce da doença. As normas de

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91648
Brazilian Journal of Development
biossegurança devem ser categoricamente seguidas, tendo em vista que nem todos os pacientes
conhecem sua condição sorológica.

REFERÊNCIAS

1 ARANTES, D. C. et al. Biossegurança aplicada à Odontologia na Universidade Federal


do Pará, Cidade de Belém, Estado do Pará, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude, Ananindeua,
v. 6, n. 1, p. 11-18, mar. 2015.

2 ARAÚJO, A.C.C. A AIDS e a imprensa: as vozes e os silêncios nas reportagens do dia


mundial da luta contra a AIDS de 1988 a 2013. 2016. 313 f. Doutorado (Doutorado em
Informação e Comunicação em Saúde) - Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de
Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Rio de Janeiro, 2016.

3 ARAÚJO, L.F. et al. Concepções psicossociais acerca do conhecimento sobre a AIDS


das pessoas que vivem com o HIV. Revista Colombiana de Psicología., vol. 26, n.2, p.
219-230, 2017.

4 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE: Departamento de doenças de condições crônicas


e infecções sexualmente transmissíveis. Brasília (DF): 2019.

5 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE: Boletim Epidemiológico HIV/AIDS. Brasília


(DF): 2019.

6 BRONDANI, M.A. et al. Stigma Around HIV in Dental Care: Patients’ Experiences.
Journal of the Canadian Dental Association., vol.82, n. 1, p.1-7, 2016.

7 CAJADO, L.C.S.; MONTEIRO, S. Movimento social de mulheres com HIV/AIDS:


uma experiência entre cidadãs “posithivas” do Rio de Janeiro, Brasil. Ciênc. saúde
coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 10, p.3223-3232, out, 2018.

8 CONSELHO REGIONAL DE ODONTOLOGIA. Código de Ética Odontológica


Resolução n°. 118 de 11 maio de 2012.Rio de Janeiro, CFO, 2012.

9 CONSOLARO, A.; CONSOLARO, M.F.M.O. Diagnóstico e tratamento do herpes


simples recorrente peribucal e intrabucal na prática ortodôntica. R Dental Press Ortodon
Ortop Facial., Maringá, v. 14, n. 3, p. 16-24, maio/jun. 2009.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91649
Brazilian Journal of Development
10 DALALIO, L.M. et al. A realidade da prevenção da transmissão vertical do Vírus da
Imunodeficiência Humana no Brasil e no mundo: uma revisão de literatura. Revista
Temas em Saúde., João Pessoa, vol. 18, n.1, p. 222-246, 2018.

11 DARTORA, W.J.; ÂNFLOR, E.P.; DA SILVEIRA, L.R. P. Prevalência do HIV no


Brasil 2005-2015 dados do Sistema Único de Saúde. Revista Cuidarte, v. 8, n. 3, p.
1919-1928, 2017.

12 DE ARAÚJO, R. P. et al. ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO AOS PACIENTES


COM HIV/AIDS. Revista de Odontologia Contemporânea, v. 2, n. 1, p. 28-36, 2018.

13 DE LIMA, I.F.D.; DE ALMEIDA, F.D.; RISI, M.T. AIDS, homossexualidade e


estigma social nos anos 1980: as vozes da mídia nos jornais brasileiros da Coleção
ABIA. In: Anais do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência
da Informação-FEBAB., 2019.

14 DURO, M.C. VIH/Sida, Breve história de uma velha/nova infecção. Acta farmacêutica
portuguesa., Porto, v.5, n.1, p. 24-35, junho, 2016.

15 ELIZONDO, J.E.; TREVINO, A.C.; VIOLANT, D. La odontología y el estigma


asociado al VIH. Revista Saúde Pública., São Paulo, v. 49, n.79, p. 1-11, outubro, 2015.

16 FAUCI, A.S. et al. Ending the HIV Epidemic- A Plan for the United States. Jama
Network., vol. 321, n. 9, p. 844-845, march, 2019.

17 FEITOSA, L. et al. Atitudes e conhecimento sobre AIDS e seus significados: revisão


integrativa. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa, v. 19, n. 2, p. 422-434, ago. 2018.

18 FELIPE L.C.S. et al. Pacientes com HIV/AIDS na Odontologia e suas Manifestações


Bucais. Journal of Orofacial Investigation., Campinas, vol. 3, n.1, p.53-62, 2016.

19 HAMANN, C. et al. Narrativas sobre risco e culpa entre usuários e usuárias de um


serviço especializado em infecções por HIV: implicações para o cuidado em saúde
sexual. Saúde Soc., São Paulo, v.26, n.3, p.651-663, out, 2017.

20 HIRATA, C.H.W. Oral manifestations in AIDS. Brazilian Journal of


Otorhinolaryngology., São Paulo, vol. 81, n. 2, p.120-123, 2015.

21 JÚNIOR, J.L.A. et al. Perfil clínico e epidemiológico das alterações bucais em


portadores do HIV. Arch Health Invest., vol. 7, n. 8, p. 339-343, junho, 2018.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91650
Brazilian Journal of Development
22 LOROSA, A.H. et al. Evaluation of dental students’ knowledge and patient care
towards HIV/AIDS individuals. Eur J Dent Educ., vol. 23 p. 212–219, jan, 2019.

23 LUCENA, N.T. et al. Conhecimento, atitudes e práticas dos estudantes de Odontologia


com relação a pacientes HIV positivos. RFO UPF., Passo Fundo, vol.21, n.3, pp. 388-
394, Dez, 2016.

24 MARTINS, M.F. Prevalência das infecções oportunistas e coinfecções em indivíduos


com AIDS em Palmas-Tocantins. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde
Coletiva com Concentração em Epidemiologia em Serviços de Saúde com Ênfase em
Vigilância em Saúde) - Universidade Federal da Bahia. Salvador, p. 33, 2018.

25 MAIA, L.A. et al. Atenção à saúde bucal das Pessoas que Vivem com HIV/AIDS na
perspectiva dos cirurgiões-dentistas. Saúde Debate., Rio de Janeiro, v. 39, n.
106, p.730-747, set, 2015.

26 MARQUEZINE, L.F.; BONI, S.M. Avaliação de estudos relacionados à busca da cura


de portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Revista Uningá., Maringá,
vol. 51, n.3, p. 81-88, Jan-Mar, 2017.

27 MELO, B.O. et al. Epidemiologia e aspectos imunopatológicos do vírus da


imunodeficiência humana (HIV): revisão de literatura. Revista Ceuma Perspectivas.,
vol. 31, p. 86-100, 2018.

28 MIRANZI, M.A.S. et al. Prevalência de manifestações bucais e sua associação com a


infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Revista de Enfermagem e Atenção à
Saúde., vol. 4, n. 2, p. 100-114, ago/dez, 2015.

29 MOURA, L.C.D.; DEODATO, L.F.F.; GAMA, D.O.N.Manejo e descarte adequado de


materiais perfurocortantes por profissionais de enfermagem. Revista Fasete., vol. 1, n.
10, p. 189-204, jul., 2016.

30 MUNIZ, B.A.A.; FONTE, D.C.B; SANTOS, S.C. Percepção do portador de HIV/AIDS


sobre o cirurgião-dentista. Revista Bioética., Brasília, v. 27, n. 2, p. 289-296, June,
2019.

31 OLIVEIRA, R. H. G.; DE ALMEIDA, T. F. Riscos Biológicos em Odontologia.


Revista Bahiana de Odontologia, v. 6, n. 1, p. 34-46, 2015.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91651
Brazilian Journal of Development
32 PAROLA, G.B.; ZIHLMANN, K.F. A saúde bucal na perspectiva das pessoas vivendo
com HIV/AIDS: subsídios para a educação permanente de cirurgiões-dentistas. Revista
Interface Botucatu., Botucatu, v. 23, e180441, p 1-14, abril 2019.

33 PAULIQUE, N.C. et al. Manifestações bucais de pacientes soropositivos para


HIV/AIDS. Arch Health Invest., vol. 6, n.6, p. 240-244, março, 2017.

34 PEREIRA, G. F. M. et al. HIV/AIDS, STIs and viral hepatitis in Brazil: epidemiological


trends. Revista Brasileira de Epidemiologia. v. 22, n. Suppl 1, pag. 1-3, 2019.

35 RIBEIRO, M.F. et al. Atendimento odontológico aos pacientes com HIV/AIDS.


Revista de Odontologia Contemporânea., Patos de Minas, v. 2, n. 1, p. 28-36, maio,
2018.

36 ROBBINS M.R. Recent Recommendations for Management of Human


Immunodeficiency Virus-Positive Patients. Dent Clin North Am. Elsevier Science.,
NY, v.61, n. 2, p 365-387, Apr, 2017.

37 ROCHA, M.D.H.A. História social da AIDS no mundo: a vulnerabilidade dos sujeitos.


Revista Científica do ITPAC., Araguaína, v.9, n.1, fevereiro, 2016.

38 SALIBA GARBIN, C.A. et al. Discriminación y prejuicio. La influencia del VIH/SIDA


y la Hepatitis B en la actitud de los académicos en odontología. Rev. Cienc. Salud,
Bogotá, v.16, n. 2, p. 279-293, aug. 2018.

39 SHARMA, G. et al. Oral manifestations of HIV/AIDS in Asia: Systematic review and


future research guidelines. J Clin Exp Dent.; v.7, n.3, p 419-27, 2015.

40 SILVA-BOGHOSSIAN, C.M. et al. Evaluation of oral care protocols practice by


dentists in Rio de Janeiro towards HIV/AIDS individuals. BMC Oral Health. v.20, n.13,
jan. 2020.

41 SILVA, E.A.A. Avaliação do perfil clínico e epidemiológico dos pacientes portadores


do HIV, atendidos em unidade de emergência de alta complexidade. 2017. Dissertação
(Mestrado em Gestão de Organizações de Saúde) - Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2017.

42 SILVA FURLAN, S.M. F.; LIMA, F. L.; AMORIM, J.S. Atendimento odontológico
ao paciente portador do HIV/AIDS. Revista Cathedral., v. 2, n. 3, p. 37-48, ago., 2020.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761


91652
Brazilian Journal of Development
43 SILVA, L.V.R. et al. Tratamento das manifestações bucais de pacientes HIV-positivos:
Revisão integrativa. RSC online., vol. 6, n. 3, p. 133-147, set., 2017.

44 SILVA, M.F.B. Manifestações clínicas e orofaciais de pacientes vivendo com HIV na


era pós-HAART. 2018. Dissertação (Mestrado em Patologia Oral e Maxilofacial e
Pacientes Especiais) - Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2018.

45 SOARES, M. N. et al. Fatores que influenciam a qualidade de vida de portadores do


vírus HIV: uma revisão de literatura. Braz. J. Hea. Ver., Curitiba, vol. 2, n. 6, p. 5208-
5216, nov./dec., 2019.

46 SOUZA, I.V. Análise comparativa entre metodologias de sorodiagnóstico


confirmatórias para HIV-2 em amostras de pacientes atendidos no Hospital
Universitário Gaffrée e Guinle entre os anos de 2000 até 2015. Dissertação (Mestrado
em infecção HIV/AIDS e Hepatites Virais na Área de Doenças infecciosas e
parasitárias) - Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO. Rio de
Janeiro, p. 15. 2017.

47 TAMAYO-ZULUAGA, B. et al. Estigma social en la atención de personas con


VIH/SIDA por estudiantes y profesionales de las áreas de la salud, Medellín, Colombia.
Rev. Cienc. Salud, Bogotá, v.13, n. 1, p. 9-23, jan. 2015.

48 TEIXEIRA, H. et al. Manifestações orais em pacientes hiv soropositivos - Revisão de


literatura. Jornada odontológica dos acadêmicos da católica – JOAC, v. 1, n. 1, 2015.

49 TOTH, S.; YORK, J.A.; DEPINTO, N. HIV stigma: perceptions from HIV-positive
and HIV-negative patients in a community dental clinic, New Jersey, USA. J Dent Res
Dent Clin Dent Prospects., v. 10, n. 4, p. 263-269, outubro, 2016.

50 TREZENA, S. et al. Práticas em biossegurança frente aos acidentes ocupacionais entre


profissionais da odontologia. Arquivos em Odontologia, v. 56, 20 fev. 2020.

51 VILLARINHO, M.V; PADILHA, M.I. Sentimentos relatados pelos trabalhadores da


saúde frente à epidemia da AIDS (1986-2006). Texto contexto-enferm., Florianópolis,
v. 25, n. 1, p 1-9, julho, 2016.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 11 , p.91634-91652, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Você também pode gostar