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ISSNe 2178-1990

10.7308/aodontol/2020.56.e07

Práticas em biossegurança frente aos acidentes ocupacionais entre


profissionais da odontologia

Samuel Trezena1, Luis Paulo Morais Farias1, Gabriel Felipe Albuquerque Barbosa2, Simone
de Melo Costa2, Edwaldo de Souza Barbosa Júnior2, Mânia de Quadros Coelho Pinto2

1
Hospital Universitário Clemente de Farias (HUCF), Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Montes Claros, Minas Gerais,
Brasil
2
Departamento de Odontologia, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Montes Claros, Minas Gerais, Brasil

Objetivo: descrever e comparar as práticas em biossegurança frente aos acidentes ocupacionais entre
profissionais da Odontologia, em uma Clínica Escola.

Métodos: estudo quantitativo, de caráter transversal realizado com cirurgiões-dentistas docentes (CDs)
e Técnicos em Saúde Bucal (TSBs). Para coleta dos dados foi utilizado questionário semiestruturado
autoaplicável com questões objetivas e relacionadas ao tema proposto. A comparação dos dados das
duas categorias profissionais foi feita pelo teste qui-quadrado de Pearson, com p < 0,05 considerado
estatisticamente significante.

Resultados: dos 51 pesquisados, 36 eram CDs e 15 TSBs. A maioria não realizou nenhum curso de
atualização sobre biossegurança, com maior proporção entre TSBs (p = 0,022). O uso de Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs) foi maior entre CDs (p < 0,001). Acidentes com perfurocortantes ocorreram nas
duas categorias profissionais, envolvendo mais TSBs que CDs (p = 0,004). Os CDs não sofreram acidentes
com material biológico, diferentemente dos TSBs (p < 0,001). A maioria dos TSBs não recebeu treinamento
para monitorar acidentes com material biológico, ao contrário dos CDs (p < 0,001).

Conclusão: a maioria dos participantes não se capacitou, nos últimos anos, quanto aos acidentes
ocupacionais no âmbito da Odontologia. As práticas em biossegurança entre TSBs apresentaram resultados
mais desfavoráveis comparados aos CDs.

Descritores: Exposição ocupacional. Riscos ocupacionais. Acidentes de trabalho. Contenção de riscos


biológicos. Saúde do trabalhador.

Submetido: 15/06/2019
Aceito: 02/12/2019

INTRODUÇÃO causadas por uma ergonomia inadequada1. O risco


biológico é comum para a equipe odontológica,
Os profissionais de Odontologia estão tendo em vista o contato direto com fluídos
expostos a inúmeros fatores de risco durante orgânicos. A saliva e o sangue são os principais
a rotina de trabalho. Dentre eles, destacam-se vetores para disseminação de patógenos2. O
os riscos ambientais como os físicos, químicos campo de trabalho do cirurgião-dentista, a boca,
e biológicos, além de lesões que podem ser é altamente colonizada por microorganismos.

Autor Correspondente:
Samuel Trezena
Rua Lagoa Escura, 406, Carmelo, Montes Claros, MG, Brasil. CEP: 39.402.704. Telefones: +55 38 9 9174 9401
E-mail: samueltrezena@gmail.com

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Práticas de biossegurança entre profissionais da odontologia

Além disso, a profissão conta com a utilização a responder o questionário.


de instrumentos e aparelhatos rotatórios, que Para a coleta de dados foi utilizado um
disseminam aerossóis no ambiente de trabalho, os questionário semiestruturado autoaplicável,
quais podem ser inalados e constituir fator de risco elaborado pelos próprios autores, com base
para os profissionais da equipe de saúde bucal3,4. nos estudos de Amaral10, Nascimento et
Diante dos riscos biológicos, a prática al.5, Brozoski et al.11 e Murofuse et al.12. O
laboral odontológica deve zelar pela adoção questionário foi entregue aos participantes no
de medidas de precaução padrão, buscando âmbito das clínicas odontológicas da Instituição
evitar os acidentes ocupacionais. Na maioria de Ensino. As perguntas eram relacionadas
das vezes, os acidentes são causados por ao objetivo central da pesquisa: práticas em
materiais perfurocortantes ou pelo contato biossegurança frente aos acidentes ocupacionais
com fluídos biológicos de pacientes durante os em Odontologia. Nessa perspectiva, foram
procedimentos3-6. Em geral, a conduta pós acidentes adotadas as seguintes temáticas: cursos e
busca neutralizar sua ocorrência, mesmo assim capacitações em biossegurança, uso de EPIs,
os acidentados podem sentirem-se preocupados, acidentes com perfurocortantes e com material
com medo, ou até mesmo, apresentarem reação biológico, e vigilância de acidentes. A coleta de
de desespero5. Nessa perspectiva, cabe aos dados ocorreu em 2017. Previamente ao estudo
profissionais conhecerem protocolos e medidas a principal foi conduzido um estudo piloto, com
serem adotadas no consultório odontológico para cinco CDs docentes, para testar o instrumento
prevenir as exposições e como atuar em caso de de coleta de dados e fazer adequações
sua ocorrência7,8. metodológicas. Os resultados do piloto foram
Dentre as medidas de precaução inerentes incluídos no estudo principal, uma vez que não
à prática de biossegurança, pode-se citar o houve modificações no instrumento testado.
uso obrigatório de equipamentos de proteção Os dados foram tabulados no programa
individual (EPIs) e a imunização contra o vírus da IBM SPSS versão 22.0 para análise descritiva,
Hepatite B. Medidas mínimas necessárias para estimando-se frequências absolutas e relativas
uma prática segura dos profissionais de saúde3-6. (%), e médias com desvio padrão. Também
Desde a graduação, os futuros profissionais de foram conduzidas comparações das respostas
saúde devem ser rigorosamente cobrados quanto dos TSBs e CDs, pelo teste qui-quadrado de
às práticas em biossegurança. As instituições de Pearson. Foi considerada significância estatística
ensino são responsáveis por ensinar condutas quando p < 0,05. A pesquisa foi desenvolvida
que preparem os discentes para atuarem de forma conforme os preceitos éticos determinados pela
segura no atendimento odontológico dos pacientes, Resolução Nº 466 de 12 de dezembro de 2012
evitando acidentes ocupacionais e orientando-lhes do Conselho Nacional de Saúde, e previamente
na correta condução dos mesmos5-9. aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Diante disso, o presente artigo, tem Unimontes, sob parecer Nº 1.321.844. Todos os
como objetivo descrever e comparar as participantes que aceitaram participar do estudo
práticas em biossegurança frente aos acidentes foram devidamente esclarecidos e informados
ocupacionais entre profissionais da Odontologia, sobre os objetivos e o método da pesquisa. Foram
em uma Clínica Escola. incluídos no estudo apenas os que assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS
O presente estudo trata-se de uma
pesquisa quantitativa, de caráter transversal Participaram da pesquisa 51 profissionais
realizada com duas categorias de profissionais da Odontologia de uma Clínica Escola, sendo 35
de saúde: cirurgiões-dentistas docentes (CDs) e CDs docentes e 16 TSBs. Os profissionais foram
técnicos em saúde bucal (TSBs) que atuam em majoritariamente do sexo feminino (n = 34/66,7%)
uma Clínica Escola de um curso de Odontologia. e com média de tempo de serviço na Instituição
Adotaram-se como critérios de inclusão: ser de 12,43 anos (desvio padrão de 5,187 anos).
TSBs (n = 19) da Clínica Escola e ser docente A maior participação em cursos de
com atuação em disciplinas com atividades biossegurança foi observada entre os CDs
nas clínicas odontológicas do curso (n = 36). quando comparados com os TSBs (p = 0,022).
Participaram 16 TSBs e 35 docentes, portanto Entretanto, não houve capacitação nessa
houve perda de quatro potenciais participantes, área entre 37 profissionais, sendo 15 TSBs
sendo três TSBs e um docente, que se recusaram (40,5%) e 22 CDs (59,5%). Adesão ao uso de

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EPIs foi constatada em 45 profissionais, com apresentando significância estatística quando


maior percentual entre os CDs (n = 30/83,3%), comparados com os TSBs (Tabela 1).

Tabela 1 – Cursos na área de biossegurança e uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)


entre profissionais da Odontologia. Clínica Escola. Minas Gerais, 2017
Categoria Profissional
Práticas em Biossegurança
TSBs* CD** Docente Total
n = 16 (31,4%) n = 35 (68,6%) 51 (100,0%) p valor
Cursos de Biossegurança nos últimos dois anos
Nenhum 15 (40,5%) 22 (59,5%) 37 (100,0%) 0,022
Um 0 (0,0%) 9 (100,0%) 10 (100,0%)
Dois 1 (33,3%) 2 (66,7%) 4 (100,0%)
Três 0 (0,0%) 2 (100,0%) 3 (100,0%)
Usa EPIs*** em todos os procedimentos realizados

Sim 6 (16,7%) 30 (83,3%) 45 (100,0%) < 0,001


Não 10 (66,7%) 5 (33,3%) 26 (100,0%)

*TSBs: Técnicos em Saúde Bucal; **CD: cirurgião-dentista

Em relação aos acidentes ocupacionais, oito profissionais experimentaram esse tipo de


seis TSBs relataram acidentes com fluídos acidente, sendo a frequência maior entre os
orgânicos (respingos de sangue ou fluídos TSBs (p = 0,004). A maioria dos participantes
corporais), e não houve relato entre os CDs afirmou que a vigilância de acidentes não foi
(p < 0,001). Quanto aos acidentes com implantada na Instituição de ensino, conforme
perfurocortantes no âmbito da Clínica Escola, exposto na tabela 2.

Tabela 2 – Práticas frente aos acidentes ocupacionais entre profissionais da Odontologia. Clínica
Escola. Minas Gerais, 2017
Categoria Profissional
Práticas frente aos acidentes
TSBs* CD** Docente Total p valor
n = 16 (31,4%) n = 35 (68,6%) 51 (100%)

Já acidentou com perfurocortante na Clínica Escola?

Sim 6 (75,0%) 2 (25,0%) 8 (100,0%) 0,004


Não 10 (23,3%) 33 (76,7%) 43 (100,0%)
Já acidentou com sangue ou fluídos corporais na Clínica Escola?
Sim 6 (100,0%) 0 (100,0%) 6 (100,0%) < 0,001
Não 10 (22,2%) 35 (77,8%) 45 (100,0%)
Medidas imediatas após acidentes com perfurocortantes

Nunca sofreu acidente 9 (90,0%) 1 (10,0%) 10 (100,0%) < 0,001


Lavou com água e sabão 1 (8,3%) 11 (91,7) 12 (100,0%)
Foi ao Hospital Referência 3 (11,5%) 23 (88,5%) 26 (100,0%)
Nenhuma medida foi tomada 1 (100,0%) 0 (0,0%) 1 (100,0%)
Presenciou acidente com acadêmicos?

Sim 16 (45,7%) 19 (54,3%) 35 (100,0%) 0,063


Não 0 (0,0%) 3 (100,0%) 3 (100,0%)
Acidentes na Clínica Escola são sempre notificados?
Não 5 (100,0%) 0 (0,0%) 5 (100,0%) 0,002
Sim 10 (24,4%) 31 (75,6%) 41 (100,0%)
Na Instituição foi implantada a vigilância de acidentes?
Não 9 (25,0%) 27 (75,0%) 36 (100,0%) 0,021
Está em fase de implantação 4 (33,3%) 8 (66,7%) 12 (100,0%)
Não sabe informar/desconhece informação 3 (100,0%) 0 (0,0%) 3 (100,0%)

Recebeu algum treinamento sobre a correta condução de acidentes com material biológico?

Não 12 (85,7%) 2 (14,3%) 14 (100,0%) < 0,001


Sim 4 (10,8%) 33 (89,2%) 37 (100,0%)

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Quando perguntados sobre os fatores que “Ritmo de trabalho intenso/ acúmulo de função”
mais contribuíram para a ocorrência dos acidentes (20,0%). Apenas 2% dos respondentes afirmaram
no ambiente da Clínica Escola, o componente que a falta de adequação das clínicas e dos
“Falta de treinamento/qualificação” (22,0%) foi o equipamentos contribuíram para os acidentes
mais relatado pelos pesquisados, seguido pelo ocupacionais, conforme apresentado no gráfico 1.

Gráfico 1 - Fatores contribuintes para ocorrência de acidentes ocupacionais. Clínica Escola. Minas
Gerais, 2017

DISCUSSÃO De acordo com a literatura, os acidentes


ocupacionais são eventos que causam prejuízo e
Este estudo contribuiu para descrever e traumas para a vida dos trabalhadores do âmbito
comparar as práticas em biossegurança frente aos da saúde13. Estudos revelaram que a maioria
acidentes ocupacionais entre duas categorias de dos indivíduos entrevistados relatou medo após
profissionais da Odontologia, TSBs e CDs docentes vivenciarem tais experiências, no entanto, parte
de uma Clínica Escola. Nenhuma atualização na deles utilizou o ocorrido para adotar medidas de
área foi efetuada pela maioria dos participantes, precaução padrão nas suas práticas laborais9,7.
tanto TSBs quanto CDs. Já acidentes ocupacionais Uma das principais medidas de
com perfurocortantes foram relatados pelas duas precaução padrão é o uso adequado dos EPIs.
categorias profissionais, sendo a frequência No presente estudo a maioria dos CDs adotava
maior entre os TSBs. Ambos profissionais já corretamente o uso de proteção individual para
presenciaram algum acidente ocupacional com todos os procedimentos odontológicos, o que
acadêmicos, e relataram que ainda não tinha sido não foi constatado para os TSBs. Observa-
implantada a vigilância de acidentes na Instituição. se uma melhoria por parte dos profissionais
Esses resultados revelam a necessidade de cirurgiões-dentistas, com o passar do tempo,
ampliar a discussão sobre biossegurança no na adoção dos EPIs14,15. Resultados quanto ao
ambiente de trabalho odontológico, buscando uso correto de EPIs, encontrados na literatura,
minimizar os riscos ocupacionais. variaram entre 75%2,4 e 98%16.

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Não somente a utilização inadequada ao encontrado no presente estudo para CDs,


dos EPIs pode favorecer o acontecimento de porém menores do que o percentual encontrado
acidentes, bem como a manipulação incorreta para os TSBs.
de instrumentais e materiais contaminados17. Segundo os participantes, os fatores
A agulha odontológica foi o tipo de material que mais contribuem para a ocorrência dos
perfurocortante causador da maioria dos acidentes ocupacionais foram: ritmo de
acidentes relatados em estudos8,18-21. A sonda trabalho intenso/acúmulo de função e falta de
exploradora também foi um instrumental treinamento e qualificação. Estudos concluíram
causador de muitos acidentes ocupacionais6. que os fatores que mais favoreciam os acidentes
A prática odontológica requer o manuseio eram a desatenção (70%)24, bem como, pressa
frequente desses materiais e instrumentais, na realização do serviço e o cansaço advindo da
que são potenciais disseminadores de diversos jornada de trabalho3,27. No presente estudo, foi
patógenos17,18. constatada falta de atualização nos últimos dois
A Hepatite B, transmitida pelo vírus HBV, anos na área de biossegurança, tanto para TSBs
é considerada um problema de saúde pública como entre os CDs. Resultado esse que vai ao
mundial, sendo sua principal via de contágio encontro do relato que ‘a falta de treinamento
através do contato sexual e com fluidos orgânicos e atualização’ é um fator contribuinte para
(saliva e sangue)22. Diversos estudos avaliaram ocorrência dos acidentes ocupacionais. Assim
o conhecimento por parte de profissionais da sendo, é de suma importância que a equipe se
Odontologia quanto às doenças ocupacionais, envolva em processos de educação continuada
principalmente a hepatite e a AIDS. No entanto, em relação ao seu exercício profissional5,16,18,22,26.
é notado que a maioria dos cirurgiões-dentistas Deve-se propiciar, como medida em curto prazo,
se mostra mais preocupada com a possível a realização de atividades para a discussão
infecção pelo vírus da imunodeficiência humana sobre o assunto no local de trabalho.
(HIV, sigla em inglês), do que pelo HBV16,22-24. Ainda sobre a necessidade de melhorar
Em acidentes ocupacionais é conhecido que conhecimentos sobre biossegurança, um
a chance de soroconversão pelo HIV varia percentual alto de TSBs (85,7%) não recebeu
de 0,09% a 0,5%, sendo que para o HBV a nenhum treinamento sobre a correta condução de
porcentagem de infecção pode se chegar a acidentes com materiais biológicos. Entretanto,
62%, portanto, representando um dos principais não foi avaliado se o motivo da não participação
riscos biológicos para cirurgiões-dentistas e em treinamentos foi devido à falta de interesse
seus auxiliares23,24. dos TSBs, ou pela não oferta de treinamento/
A simples medida de imunização contra capacitação na Instituição de Ensino. Estudos
o vírus da Hepatite B e o uso correto de EPIs têm demonstrado que em torno de 83% dos
são fundamentais para a proteção da equipe entrevistados mostraram-se receptivos ao
odontológica, reduzindo assim, a infecção processo de educação permanente22, ao passo
e a transmissão do HBV5,6,25,26. No presente que apenas 49% realizaram algum curso de
estudo, acidentes com perfurocortantes foram treinamento25.
relatados por TSBs e também pelos CDs, com As medidas após acidente ocupacional
maior acometimento dos TSBs (75%). A menor são extremamente necessárias, pois favorecem
frequência de acidentes com perfurocortantes a redução da possível infecção por parte do
entre os CDs (25%) pode estar relacionada acidentado, como também auxiliam na realização
ao contexto de trabalho, onde prevalece a do planejamento de ações epidemiológicas, através
supervisão dos atos operacionais odontológicos, das notificações25,28. Segundo alguns estudos, a
que são executados pelos graduandos, grande parte dos profissionais, não adota, ou até
considerando que todos os CDs participantes mesmo desconhece, o correto protocolo após
eram docentes atuantes na clínica odontológica a exposição com materiais orgânicos25,26,29. O
da Instituição de ensino superior. Para os TSBs, desconhecimento da necessidade de notificar
a maior frequência pode ser explicada, em parte, a ocorrência de acidentes em formulário
por um provável descuido no gerenciamento próprio também foi verificado em diferentes
dos resíduos sólidos gerados na Clínica Escola, estudos25,26,28,29. Portanto, a notificação dos casos
como agulhas, brocas e lâminas de bisturi19. é obrigatória e necessária, uma vez que, através
Estudos na área odontológica demonstraram do reconhecimento dos acidentes, medidas e
frequência de acidentes com perfurocortantes programas preventivos e intervencionistas poderão
entre 28,5% e 50%20,21,25,26, valores semelhantes ser instituídos e melhorados25.

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Práticas de biossegurança entre profissionais da odontologia

CONCLUSÃO Odontologia da UFPA: visualização de


um cenário. Rev Odontol Bras Central.
O estudo revelou que os profissionais 2012;21(56):463-7.
das duas categorias investigadas, TSBs e 6. Paiva SN, Zaroni WCS, Leite MF, Bianchi
CDs docentes não participaram de cursos/ BR, Pereira TCR. Acidentes ocupacionais
treinamentos na área de biossegurança, nos com material biológico em odontologia: uma
últimos dois anos. Paralelamente, sofreram responsabilidade no ensino. Rev da ABENO.
acidentes ocupacionais com perfurocortantes e 2017;17(3):76-88.
vivenciaram ocorrências entre os graduandos 7. Pinelli C, Mouta LFGL. Occupational
de Odontologia. A exposição ocupacional com exposure to contaminated biological material:
material biológico foi relatada apenas pelos perceptions and feelings experienced among
TSBs, o que está de acordo com o achado dental students. Rev Odontol UNESP.
de menor frequência de utilização de EPIs 2014;43(2):273-9.
nos procedimentos odontológicos por esses 8. Vieira CD, Santos JI, Cabral MM, Silva JF.
profissionais. Os resultados desse estudo Biological exposure-related injuries in dental
revelaram necessidade de ampliar a discussão health-care workers. Rev Gaúcha Odontol.
sobre biossegurança no ambiente de trabalho 2013;61(4):581-6.
odontológico. Deve-se propiciar espaço de 9. Fernandes AT, Nery AA, Filho SAM, Morais
reflexão sobre o assunto, preferencialmente RLGL, Oliveira JS, Oliveira YNS. Sentimentos
em serviço, uma vez que os profissionais vivenciados por trabalhadores de saúde na
consideraram como principal fator contribuinte ocorrência de acidentes com material biológico.
para os acidentes o ritmo de trabalho intenso Rev Paul Enferm. 2018;29(1/3):56-67.
e o acúmulo de função. Cabe ressaltar ainda 10. Amaral, PM. Validação do instrumento
a necessidade de sensibilizar gestores da “Exposição a material biológico:
Instituição quanto ao planejamento desse conhecimentos, atitudes e prática do pessoal
espaço coletivo de discussão e reflexão acerca de saúde”. Salvador. Tese [Doutorado em
da biossegurança na clínica odontológica e à Ciências da Saúde] – Universidade Federal
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Práticas de biossegurança entre profissionais da odontologia

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Práticas de biossegurança entre profissionais da odontologia

Biosafety practices regarding occupational accidents among dental


professionals

Aim: To describe and to compare biosafety practices regarding occupational accidents among dental
professionals, in a dental school clinic.

Methods: This research was a qualitative and transversal study, conducted with dental school professors
and dental assistants. The data was collected through a self-administered, semi-structured questionnaire
with closed questions related to the proposed theme. The comparison of data from two professional
categories were performed using Pearson’s chi-squares test, with p < 0.05.

Results: Of the 51 subjects, 36 were dental professors, and 15 were dental assistants. The majority had
not taken any update course on biosafety, with a larger proportion found among dental assistants (p =
0.022). The use of individual protection equipment (IPE) was greater among dental professors (p < 0,001).
Accidents with sharp materials have happened with both professional categories, with more cases reported
among dental assistants than among dental professors (p = 0.004). The dental professors did not report any
accidents with biological hazards, different from the dental assistants (p < 0.001). The majority of the dental
assistants have not received any training to monitor accidents with biological hazards, which runs in direct
contrast with the dental professors (p < 0.001).

Conclusion: the majority of subjects did not receive any training in the years preceding this study regarding
occupational accidents in the field of dentistry. The practices in biosafety among dental assistants showed
less favorable results when compared to that among dental professors.

Uniterms: Occupational exposure. Occupational risks. Accidents occupational. Containment of biohazards.


Occupational health.

10.7308/aodontol/2020.56.e07 Arq Odontol, Belo Horizonte, 56: e07, 2020 8

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