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Curso de Odontopediatria

Módulo III - Endodontia em Dentes Decíduos


Título da Aula: Tratamento Endodôntico
em Dentes Decíduos.

Núcleo de Telessaúde Técnico-Científico do Rio Grande do Sul


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - PPGEPI
Faculdade de Medicina - FAMED
Tratamento endodôntico em dentes
decíduos:

O objetivo básico da terapia pulpar é a reparação


tecidual e a manutenção da integridade dos dentes e de seus
tecidos de suporte. É desejável manter a vitalidade pulpar de
um dente afetado por lesão de cárie, lesão traumática ou
outras injúrias. Nas situações de polpa necrosada ou com
alteração irreversível do tecido pulpar, o objetivo é manter o
dente clinicamente funcional.

A conservação dos dentes decíduos com alterações


pulpares provocadas por lesões de cárie ou por traumatismo é
um grande desafio terapêutico. A perda prematura desses
dentes pode deixar muitas sequelas funcionais e/ou estéticas.
Tratamento endodôntico em dentes
decíduos:

A dentição decídua é responsável pela manutenção de


espaço adequado para os dentes permanentes irromperem,
servindo de guia para o posicionamento dos mesmos. Além disso,
os dentes decíduos proporcionam um adequado crescimento e
desenvolvimento facial pelo estímulo do crescimento dos
maxilares e na evolução da fala, mastigação e respiração corretas
da criança. Também a perda prematura de dentes decíduos pode
resultar em uma alteração no comprimento do arco dentário, com
desvio mesial dos dentes permanentes e consequente má-
oclusão.
A restauração e recuperação dos dentes decíduos no arco
dentário são precedidas de terapia pulpar adequada, indicada
após o estabelecimento do correto diagnóstico.
Diagnóstico da Condição Pulpar:

É extremamente difícil determinar clinicamente o


estado histológico da polpa. No entanto, é possível
determinar se a polpa dentária pode ser tratada. Ao
realizar o diagnóstico, o profissional reconhece a doença,
estipula o tratamento, analisa a viabilidade da sua
execução e propõe o prognóstico adequado ao futuro do
dente.
A fim de se estabelecer um correto diagnóstico do
provável grau e envolvimento pulpar de um dente
atingido por cárie ou traumatismo, devem ser
considerados: a história clínica do paciente, incluindo aqui
a história da dor, e os exames clínico e radiográfico.
História Clínica do paciente

A análise do fenômeno doloroso é considerada


pelo fator de mais valia no estabelecimento do
estágio evolutivo da inflamação pulpar.
Pode-se dizer que a sintomatologia dos diferentes
estágios da doença se parece em abas as dentições,
decídua e permanente. Entretanto, algumas vezes, os
dentes decíduos são assintomáticos, não sendo raro
passar da fase de hiperemia para a de necrose pulpar
sem que sejam observadas manifestações dolorosas.
História Clínica do paciente

Além disso, crianças muito pequenas podem não


ser capazes de darem informações sobre a dor, ou mesmo
se os problemas odontológicos se desenvolveram muito
cedo (como a cárie precoce da infância, por exemplo), a
criança pode não ter outra experiência de sensibilidade
dentária.
Apesar dessas limitações, o profissional deve
distinguir entre dois tipos principais de dor: a provocada e
a espontânea. A dor provocada é estimulada por irritantes
térmicos, químicos ou mecânicos e é reduzida ou
eliminada quando o estímulo nocivo é eliminado.
História Clínica do paciente

Esse sintoma frequentemente indica


sensibilidade dentinária associada à lesão cariosa
profunda ou à restauração deficiente. A polpa está em
um estado de transição na maioria dos casos e a
condição é, em geral, reversível.
Já a dor espontânea é constante, podendo
manter o paciente acordado à noite. Esse tipo de dor
indica, geralmente, dano pulpar avançado,
contraindicando o tratamento conservador.
Exame Clínico:

Compreende as inspeções visual e tátil do dente e


dos tecidos adjacentes. Em relação ao dente, deve-se
verificar toda e qualquer alteração que possa ter ocorrido
quanto à perda de estrutura normal, como cárie, fratura,
abrasão ou erosão.
Também deve-se ter atenção a restaurações
perdidas ou fraturadas e aquelas com cárie marginal,
porque podem ser indicadoras de envolvimento pulpar.
Nos tecidos moles adjacentes, devem ser observadas
alteração na gengiva, no que diz respeito à cor, presença
de fístulas, edema e ulcerações.
Exame Clínico:

Quanto aos testes de sensibilidade pulpar, estes


podem ser úteis em dentes permanentes, mas não são
recomendados para dentes decíduos, pois raramente
fornecem dados acurados e confiáveis.
A comparação da mobilidade de um dente suspeito
com o seu contralateral é importante. Se uma diferença
significante for observada, pode-se suspeitar de
inflamação pulpar. Mas tome cuidado para não
interpretar como patológica a mobilidade presente
durante a época normal de exfoliação.
Exame radiográfico:

As radiografias periapicais e interproximais, como meios


auxiliares, complementarão os recursos para o diagnóstico
prestando informações relativas às condições das estruturas
dentárias e às modificações volumétricas e morfológicas
eventuais da cavidade pulpar, mostrando, ainda, como se
apresenta a região do dente suspeito e dos dentes vizinhos em
relação aos aspectos periapicais e periodontais. A radiolucidez
inter-radicular, na região de bi e trifurcação, é um achado
comum em dentes decíduos com alterações pulpares, região
esta conhecida como peneira biológica. Além disso, devemos
avaliar o espessamento do ligamento periodontal e a
proximidade lesão-polpa, aspectos que são mais bem
observados na técnica interproximal.
Exame radiográfico:

É importante enfatizar novamente que o


tratamento bem-sucedido depende de um correto
diagnóstico, que, muitas vezes, é dificultado no paciente
pediátrico devido a uma inadequada comunicação ou à
ausência de qualquer história ou sintoma.
O provável diagnóstico da condição pulpar resulta,
como foi mencionado, das informações obtidas da história
clínica do paciente e dos exames clínico e radiográfico,
permitindo reconhecer, na maioria das vezes, a verdadeira
condição da polpa.
Em resumo...

Diferentes formas de tratamento pulpar têm


sido propostas para dentes decíduos, sendo
classificadas em duas categorias: o tratamento
conservador, que objetiva a manutenção da
vitalidade pulpar; e o radical, indicado quando a
polpa se encontra em um estágio de inflamação
irreversível. Considerando os aspectos citados
realizaremos o diagnóstico e optaremos pelo
tratamento adequado.
Em resumo...

Dentes que apresentarem dor provocada de curta


duração ou por escovação, aliviada com a remoção do estímulo
e uso de analgésicos, são compatíveis com o diagnóstico de
pulpite reversível e devem ser submetidos às terapias
conservadoras da polpa.
Dentes que apresentarem sinais ou sintomas como
história de dor espontânea, fístula, inflamação periodontal não
resultante de gengivite ou periodontite, mobilidade não
compatível com traumatismo ou período de rizólise, radilucidez
periapical ou na região de furca e reabsorções internas ou
externas são compatíveis com diagnóstico de pulpite
irreversível ou necrose pulpar. Estas características indicam
necessidade de tratamento endodôntico radical.
Referências

Pinheiro HHC et al. Terapia Endodôntica em Dentes Decíduos por


Odontopediatras. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 13(4):351-60; 2013.

Neto NL et al. Terapia pulpar em dentes decíduos: possibilidades terapêuticas


baseadas em evidências. Rev Odontol UNESP. 42(2): 130-137; 2013.

Massara MLA et al. A Eficácia do Hidróxido de Cálcio no Tratamento Endodôntico de


Decíduos: Seis Anos de Avaliação. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 12(2):155-59;
2012.

CORRÊA, Maria Salete Nahás. Odontopediatria na primeira infância. 3.ed. São Paulo:
Santos, 2009.

RÉDUA, Paulo César Barbosa; MASSARA, Maria de Lourdes de Andrade. Manual de


referência para procedimentos clínicos em Odontopediatria. 2. ed. São Paulo:
Santos, 2013.
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