Título da Aula: Tratamento Endodôntico em Dentes Decíduos.
Núcleo de Telessaúde Técnico-Científico do Rio Grande do Sul
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - PPGEPI Faculdade de Medicina - FAMED Tratamento endodôntico em dentes decíduos:
O objetivo básico da terapia pulpar é a reparação
tecidual e a manutenção da integridade dos dentes e de seus tecidos de suporte. É desejável manter a vitalidade pulpar de um dente afetado por lesão de cárie, lesão traumática ou outras injúrias. Nas situações de polpa necrosada ou com alteração irreversível do tecido pulpar, o objetivo é manter o dente clinicamente funcional.
A conservação dos dentes decíduos com alterações
pulpares provocadas por lesões de cárie ou por traumatismo é um grande desafio terapêutico. A perda prematura desses dentes pode deixar muitas sequelas funcionais e/ou estéticas. Tratamento endodôntico em dentes decíduos:
A dentição decídua é responsável pela manutenção de
espaço adequado para os dentes permanentes irromperem, servindo de guia para o posicionamento dos mesmos. Além disso, os dentes decíduos proporcionam um adequado crescimento e desenvolvimento facial pelo estímulo do crescimento dos maxilares e na evolução da fala, mastigação e respiração corretas da criança. Também a perda prematura de dentes decíduos pode resultar em uma alteração no comprimento do arco dentário, com desvio mesial dos dentes permanentes e consequente má- oclusão. A restauração e recuperação dos dentes decíduos no arco dentário são precedidas de terapia pulpar adequada, indicada após o estabelecimento do correto diagnóstico. Diagnóstico da Condição Pulpar:
É extremamente difícil determinar clinicamente o
estado histológico da polpa. No entanto, é possível determinar se a polpa dentária pode ser tratada. Ao realizar o diagnóstico, o profissional reconhece a doença, estipula o tratamento, analisa a viabilidade da sua execução e propõe o prognóstico adequado ao futuro do dente. A fim de se estabelecer um correto diagnóstico do provável grau e envolvimento pulpar de um dente atingido por cárie ou traumatismo, devem ser considerados: a história clínica do paciente, incluindo aqui a história da dor, e os exames clínico e radiográfico. História Clínica do paciente
A análise do fenômeno doloroso é considerada
pelo fator de mais valia no estabelecimento do estágio evolutivo da inflamação pulpar. Pode-se dizer que a sintomatologia dos diferentes estágios da doença se parece em abas as dentições, decídua e permanente. Entretanto, algumas vezes, os dentes decíduos são assintomáticos, não sendo raro passar da fase de hiperemia para a de necrose pulpar sem que sejam observadas manifestações dolorosas. História Clínica do paciente
Além disso, crianças muito pequenas podem não
ser capazes de darem informações sobre a dor, ou mesmo se os problemas odontológicos se desenvolveram muito cedo (como a cárie precoce da infância, por exemplo), a criança pode não ter outra experiência de sensibilidade dentária. Apesar dessas limitações, o profissional deve distinguir entre dois tipos principais de dor: a provocada e a espontânea. A dor provocada é estimulada por irritantes térmicos, químicos ou mecânicos e é reduzida ou eliminada quando o estímulo nocivo é eliminado. História Clínica do paciente
Esse sintoma frequentemente indica
sensibilidade dentinária associada à lesão cariosa profunda ou à restauração deficiente. A polpa está em um estado de transição na maioria dos casos e a condição é, em geral, reversível. Já a dor espontânea é constante, podendo manter o paciente acordado à noite. Esse tipo de dor indica, geralmente, dano pulpar avançado, contraindicando o tratamento conservador. Exame Clínico:
Compreende as inspeções visual e tátil do dente e
dos tecidos adjacentes. Em relação ao dente, deve-se verificar toda e qualquer alteração que possa ter ocorrido quanto à perda de estrutura normal, como cárie, fratura, abrasão ou erosão. Também deve-se ter atenção a restaurações perdidas ou fraturadas e aquelas com cárie marginal, porque podem ser indicadoras de envolvimento pulpar. Nos tecidos moles adjacentes, devem ser observadas alteração na gengiva, no que diz respeito à cor, presença de fístulas, edema e ulcerações. Exame Clínico:
Quanto aos testes de sensibilidade pulpar, estes
podem ser úteis em dentes permanentes, mas não são recomendados para dentes decíduos, pois raramente fornecem dados acurados e confiáveis. A comparação da mobilidade de um dente suspeito com o seu contralateral é importante. Se uma diferença significante for observada, pode-se suspeitar de inflamação pulpar. Mas tome cuidado para não interpretar como patológica a mobilidade presente durante a época normal de exfoliação. Exame radiográfico:
As radiografias periapicais e interproximais, como meios
auxiliares, complementarão os recursos para o diagnóstico prestando informações relativas às condições das estruturas dentárias e às modificações volumétricas e morfológicas eventuais da cavidade pulpar, mostrando, ainda, como se apresenta a região do dente suspeito e dos dentes vizinhos em relação aos aspectos periapicais e periodontais. A radiolucidez inter-radicular, na região de bi e trifurcação, é um achado comum em dentes decíduos com alterações pulpares, região esta conhecida como peneira biológica. Além disso, devemos avaliar o espessamento do ligamento periodontal e a proximidade lesão-polpa, aspectos que são mais bem observados na técnica interproximal. Exame radiográfico:
É importante enfatizar novamente que o
tratamento bem-sucedido depende de um correto diagnóstico, que, muitas vezes, é dificultado no paciente pediátrico devido a uma inadequada comunicação ou à ausência de qualquer história ou sintoma. O provável diagnóstico da condição pulpar resulta, como foi mencionado, das informações obtidas da história clínica do paciente e dos exames clínico e radiográfico, permitindo reconhecer, na maioria das vezes, a verdadeira condição da polpa. Em resumo...
Diferentes formas de tratamento pulpar têm
sido propostas para dentes decíduos, sendo classificadas em duas categorias: o tratamento conservador, que objetiva a manutenção da vitalidade pulpar; e o radical, indicado quando a polpa se encontra em um estágio de inflamação irreversível. Considerando os aspectos citados realizaremos o diagnóstico e optaremos pelo tratamento adequado. Em resumo...
Dentes que apresentarem dor provocada de curta
duração ou por escovação, aliviada com a remoção do estímulo e uso de analgésicos, são compatíveis com o diagnóstico de pulpite reversível e devem ser submetidos às terapias conservadoras da polpa. Dentes que apresentarem sinais ou sintomas como história de dor espontânea, fístula, inflamação periodontal não resultante de gengivite ou periodontite, mobilidade não compatível com traumatismo ou período de rizólise, radilucidez periapical ou na região de furca e reabsorções internas ou externas são compatíveis com diagnóstico de pulpite irreversível ou necrose pulpar. Estas características indicam necessidade de tratamento endodôntico radical. Referências
Pinheiro HHC et al. Terapia Endodôntica em Dentes Decíduos por
Odontopediatras. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 13(4):351-60; 2013.
Neto NL et al. Terapia pulpar em dentes decíduos: possibilidades terapêuticas
baseadas em evidências. Rev Odontol UNESP. 42(2): 130-137; 2013.
Massara MLA et al. A Eficácia do Hidróxido de Cálcio no Tratamento Endodôntico de
Decíduos: Seis Anos de Avaliação. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 12(2):155-59; 2012.
CORRÊA, Maria Salete Nahás. Odontopediatria na primeira infância. 3.ed. São Paulo: Santos, 2009.
RÉDUA, Paulo César Barbosa; MASSARA, Maria de Lourdes de Andrade. Manual de
referência para procedimentos clínicos em Odontopediatria. 2. ed. São Paulo: Santos, 2013. Núcleo de Telessaúde Técnico-Científico do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - PPGEPI Faculdade de Medicina - FAMED