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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


FACULDADE DE ODONTOLOGIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA

DOUGLAS LEAL LIMA

USO DO APARELHO QUADRIHÉLICE NO TRATAMENTO


INTERCEPTATIVO DA MORDIDA CRUZADA POSTERIOR BILATERAL EM
DENTIÇÃO MISTA: RELATO DE CASO.

Belém – Pará

2022
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Ortodontia da Universidade Federal do Pará

Como Requisito à Obtenção de Título de Especialista em Ortodontia

Banca Examinadora:

___________________________________

Prof. Dr. Gustavo Brandão (Orientador)

___________________________________

Membro: Ana Maria Martins Brandão

___________________________________

Membro:

___________________________________

Haroldo Amorim de Almeida (Coordenador)

Belém – Pará

2022
Uso do Aparelho Quadrihélice no Tratamento Interceptativo da Mordida
Cruzada Posterior Bilateral em Dentição Mista: Relato de Caso.

Use of Quadrihelix Appliance in Interceptive Treatment of Bilateral


Posterior Crossbite in Mixed Dentition: Case Report.

Autores:

Douglas leal LIMA


Cirurgiã Dentista – Aluna do Curso de Especialização em Ortodontia – Universidade
Federal do Pará.

Haroldo Amorim de ALMEIDA


Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia – Universidade Federal do
Pará.

Ana Maria Maritns BRANDÃO


Prof. Associado I – Faculdade de Odontologia – Universidade Federal do Pará (UFPA).

Gustavo Antonio Martins BRANDÃO (Orientador)


Prof. Associado I – Faculdade de Odontologia – Universidade Federal do Pará (UFPA).

Endereço Principal Para Correspondência:

Gustavo Antonio Martins Brandão

Rua Dom Romualdo Coelho, 539.

Belém – Pará – Brasil

CEP 66055-190

Phone: 055 (91) 98206-1111


Email: gbrandao@ufpa.br
1

*Monografia de Conclusão do Curso de Especialização em Ortodontia da Universidade Federal do Pará elaborada em formato de
artigo científico, segundo as normas da revista Ortho Science – Orthodontic Science and Practice (ISSN 1982-8799).

Resumo
A mordida cruzada posterior pode ser definida como uma discrepância
transversa na relação dos arcos dentais, no qual a cúspide palatina de um ou
mais dentes posteriores superiores não oclui na fossa do dente oposto inferior.
Uma mordida cruzada posterior não corrigida pode produzir alterações
indesejáveis no crescimento craniofacial e também compensações dentárias e
musculares que levam a um crescimento assimétrico. No presente trabalho, um
paciente de 10 anos de idade com mordida cruzada posterior bilateral, foi tratado
interceptativamente com aparelho quadrihélice e posterior tratamento
ortodôntico corretivo. O aparelho quadrihélice representa uma ferramenta
eficiente para o tratamento ortodôntico com objetivo de ganhos transversais a
dentários, em casos em que é dispensável a utilização de aparelhos que
promovam a abertura da sutura palatina.

Descritores: Ortodontia; Ortodontia interceptora; Má oclusão

Abstract: A posterior crossbite can be defined as a transverse discrepancy in


the relationship of the dental arches, in which the palatal cusp of one or more
maxillary posterior teeth does not occlude in the fossa of the opposing mandibular
tooth. An uncorrected posterior crossbite can produce undesirable changes in
craniofacial growth and also dental and muscle compensations that lead to
asymmetrical growth. In the present study, a 10-year-old patient with bilateral
posterior crossbite was treated interceptively with a quad-helix appliance and
subsequent corrective orthodontic treatment. The quad-helix appliance
represents an efficient tool for orthodontic treatment with the objective of
transverse to dental gains, in cases where the use of appliances that promote the
opening of the palatal suture is unnecessary.

Descriptors: Orthodontics; Orthodontics Interceptive; Malocclusion


2

Introdução
A má oclusão é caracterizada como uma alteração no crescimento e/ou
desenvolvimento craniofacial com repercussão estética e psicossocial em
crianças e adultos.³ Também, é de origem multifatorial, com atuações
hereditárias, congênitas, funcionais, ambientais, nutricionais, socioeconômicas e
educacionais. Sendo compreendidas como o terceiro maior problema de saúde
bucal no mundo, perdendo apenas para cárie e doença periodontal. 4

A mordida cruzada posterior pode ser definida como uma discrepância


transversa na relação dos arcos dentais, no qual a cúspide palatina de um ou
mais dentes posteriores superiores não oclui na fossa do dente oposto inferior.
Está relacionada à presença de hábitos bucais como sucção, respiração bucal,
ou seja, é o resultado de um desenvolvimento anormal, na maxila ou mandíbula
como fatores etiológicos e que tem como consequência o desequilíbrio da
oclusão. 4 9

Uma mordida cruzada posterior não corrigida pode produzir alterações


indesejáveis no crescimento craniofacial e também compensações dentárias e
musculares que levam a um crescimento assimétrico3. Como regra, a mordida
cruzada posterior não se auto corrige, visto que sua prevalência não se altera
significativamente nas dentições decídua, mista e permanente. Uma mordida
cruzada posterior na dentição decídua, sem tratamento, implicará em uma
mordida cruzada posterior esquelética na dentição permanente 11.

A deficiência maxilar transversal tem sido tratada principalmente de duas


maneiras: por EMR (Expansão Maxilar Rápida) utilizando aparelhos que
maximizam resultado ortopédico, ou por EML (Expansão Maxilar Lenta) que
pode ser realizada com aparelhos como o quadrihélice que provoca forças leves
e contínuas7. O ideal é que a correção da atresia maxilar seja mais cedo possível,
pois quanto maior for a idade do paciente, maior será a inclinação dentária,
aumentando o risco dos dentes moverem-se para fora do processo alveolar,
reduzindo a espessura do osso vestibular e podendo provocar deiscências e
recessão gengival 8 13.

O aparelho quadrihélice foi introduzido por Ricketts em 1952, e é uma


modificação do aparelho “W”, de Porter, adicionando 4 loops helicoidais, com o
propósito de suavizar a magnitude das forças, promovendo uma ativação mais
contínua. Foi usado, inicialmente, com grande sucesso, pelo autor, no
tratamento precoce dos pacientes fissurados com deficiências unilaterais ou
bilaterais1.

Dentre os inúmeros aparelhos utilizados, o quadrihélice tem sido uma alternativa


eficiente no tratamento das discrepâncias transversais (unilateral ou bilateral),
atuando tanto no reposicionamento dentário quanto no redirecionamento do
crescimento mandibular e também é muito eficiente na rotação e distalização
3

dos molares superiores, promovendo o bloqueio dos molares superiores, o que


é desejado no tratamento das más oclusões da Classe II de Angle 5.

Objetivo
O objetivo deste trabalho é apresentar um relato de caso de tratamento
ortodôntico de má-oclusão de mordida cruzada posterior bilateral, utilizando
aparelho quadrihélice.

Relato de Caso
Paciente E.H.S.C., sexo masculino, 11 anos de idade, cadastrado na clínica da
especialização de ortodontia da Universidade Federal do Pará, apresentava as
seguintes características faciais e dentárias: mesofacial, padrão, simétrico e
perfil reto (Figura1). Encontrava-se no segundo período transitório da dentição
mista, com mordida cruzada posterior bilateral, diastemas no arco superior e leve
apinhamento no arco inferior. As chaves de oclusão não se encontravam bem
estabelecidas, entretanto indicando posicionamento de classe I de Angle.
(Figura 2)

Figura 1- Fotografias faciais em norma frontal e lateral.

igura 2- Fotografias intraorais.


4

A partir da análise cefalométrica do paciente, constatou-se protusão de maxila e


mandíbula,87º e 83,5º respectivamente, com inclinação vestibular dos incisivos
superiores em 26,5º. (Tabela1)

PADRÃO PACIENTE DIAGNÓSTICO


SNA 82º 87º Protrusão Maxilar
SNB 80º 83,5º Protrusão Mandibular
ANB 2º 3,5º Relação maxilomandibular normal
SnGoGn 32º 32º Tendência de crescimento normal
SnGn 67º 69º Direção de crescimento normal
FMA 25º 22º Crescimento vertical diminuído
1.NA 22º 26,5º Incisivos Superiores vestibularizados
1-NA 4mm 4mm Incisivos superiores bem implantados
1.NB 25º 21,5º Incisivos inferiores lingualizados
1-NB 4º 5mm Incisivos inferiores bem implantados

Tabela 1- Dados e diagnóstico cefalométricos obtidos do paciente.

O planejamento foi realizado com o foco para melhorar a relação transversal


maxilomandibular utilizando tratamento prévio com aparelho quadrihélice. O
aparelho quadrihélice foi confeccionado com fio de aço CrNi em espessura
0,9mm fixado em bandas metálicas, cimentadas om cimento de ionômero de
vidro, nos elementos dentários 16 e 26.(Figura 3)

Figura 3- Aparelho quadrihélice confeccionado e instalado.

O aparelho foi ativado mensalmente durante 4 meses, obtendo-se ganho na


posição transversal dos molares superiores e guiando a erupção dos pré-
molares permanentes em direção vestibular. Nessa etapa o paciente já não
possuía dentes decíduos. Dessa forma, foi feita a substituição do aparelho
quadrihélice pelo aparelho fixo metálico convencional, com prescrição padrão I
5

de Capelozza, realizando colagem direta do arco superior do elemento 16 ao 26


e do arco inferior do elemento 36 ao 46. (Figura 4)

Figura 4- Instalação do aparelho fixo padrão I Capelozza.

Seguiu-se o tratamento com o alinhamento e nivelamento dos arcos utilizando


arcos de NiTi obedecendo a sequência de espessuras 0,012mm; 0,014mm;
0,016mm; 0,018mm.

Para a correção dos diastemas superiores foi utilizada a técnica de segmentação


dos blocos dentários, dividindo o arco superior em 3 segmentos, sendo 2
posteriores e 1 anterior. Foi realizada retração anterior utilizando arco
segmentado de CrNi de 0,016x0,022mm, com ancoragem dentária em primeiros
molares utilizando cadeia elastomérica com força de 200 gramas, por 3 meses.
(Figura 5)

Figura 5- Retração anterior com arco segmentados.


6

Após o término da retração anterior foi realizada a estabilização com arco CrNi
0,017x0,025mm com elásticos intermaxilares 1/8” bilateralmente para
intercuspidação.
Finalmente foi realizada a remoção do aparelho, seguindo o protocolo pré
estabelecido para contenção, com contenção fixa 3x3 inferior com fio de aço
CrNi 0,6mm e contenção móvel superior com placa de cristal personalizada.
(Figura 6)

Figura 6- Fotografias finais do paciente

Discussão
O aparelho Quadrihélice é muito eficaz, principalmente se a má oclusão for
tratada precocemente. 5

Godoy et al.6 (2011) compararam a eficácia do aparelho Quadrihélice e placas


removíveis para o tratamento da mordida cruzada posterior com noventa e
nove pacientes divididos em três grupos: Quadrihélice, placa de expansão e
não tratados. Todos estavam na fase de dentadura mista, tinham mordida
cruzada posterior, sem hábitos de sucção, sem tratamento ortodôntico prévio e
sem má oclusão de Classe III. Os resultados mostraram que, a duração do
tratamento e os custos foram mais elevados no tratamento com placa de
expansão do que no tratamento com Quadrihélice. As taxas de sucesso foram
semelhantes tanto para o Quadrihélice como para a placa de expansão, e os
números de complicações foram maiores com o Quadrihélice. A autocorreção
7

não foi observada no grupo não tratado e as recidivas ocorreram em ambos os


grupos experimentais. Os autores concluíram que, o tratamento em médio
tempo foi significativamente menor e 11% menos caro do que no grupo do
Quadrihélice, tornando-o a opção mais econômica para o tratamento. 6 11

A ortodontia preventiva e interceptativa juntamente com o diagnóstico precoce


das más oclusões são abordagens decisivas para melhorar a qualidade de vida
de pacientes em fase de dentadura mista em más oclusões que não são auto
corrigíveis na dentadura permanente.12

A mordida cruzada posterior possui alta prevalência e está relacionada à


presença de hábitos bucais como sucção, respiração bucal, ou seja, é o
resultado de um desenvolvimento anormal, na maxila ou mandíbula como fatores
etiológicos e que tem como consequência o desequilíbrio da oclusão. 3 10

O quadrihélice se caracteriza como um aparelho, com efeito,


predominantemente ortodôntico, e está indicado para mordida cruzada posterior
dentária e funcional, sendo que para as más oclusões esqueléticas os aparelhos
de disjunção palatina são os mais indicados.11 12

Do ponto de vista clínico, observou-se que o quadrihélice provoca inclinação


vestibular dos dentes posteriores, sendo seu efeito principal e o efeito
esquelético mais discreto Visto que o efeito principal do quadrihélice é a
inclinação vestibular dos dentes posteriores, ele deve ser indicado para mordidas
cruzadas posteriores de natureza dentoalveolar com ou sem envolvimento
funcional, não sendo indicado, portanto, para as mordidas cruzadas posteriores
esqueléticas, onde a inclinação dentária é normal e há uma deficiência
transversal da base apical, a qual necessita de um aparelho que promova grande
alteração ortopédica. 2
Pinheiro ¹¹(2013), ao comparar as medidas transversais em modelos de gesso
de pacientes que fizeram uso do aparelho quadrihélice, observou que houve
ganho transversal nas medidas dentárias de todos os pacientes e que esse
ganho foi maior em região de segundos molares decíduos. Além disso, constatou
pequenos ganhos ortopédicos em pacientes no início da dentição mista. 11

Conclusão

O aparelho quadrihélice se mostra uma ferramenta valiosa para o tratamento


ortodôntico que objetiva ganhos transversais a níveis dentários, onde é
dispensável a utilização de aparelhos que promovam a abertura da sutura
palatina. Sendo um aparelho amplamente considerado nas correções
transversais mais tardias.
8

Referências Bibliográficas

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7. Haas AJ. Expansion of the maxillary dental arch and nasal cavity by opening the midpalatal
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8. Haas AJ. Palatal expansion: just the beginning of dentofacial orthopedics. Am J Orthod
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mista [Trabalho de conclusão de curso]. Bragança Paulista: UNIVERSIDADE SÃO
FRANCISCO; 2019. 16 p

10. Ninou S, Stephens C. The early treatment of posterior crossbite: a review of continuing
controversies. Dental Update 1994: 420-426.

11. Pinheiro PM. Avaliação dos efeitos dento-esqueléticos ocorridos após o tratamento da
mordida cruzada posterior, com o uso do aparelho expansor fixo tipo quadrihélice
[Dissertação de mestrado]. Universidade Estadual Paulista: Araçatuba : [s.n.]; 2003.

12. Tavares A, R A Estrela C, Cardoso Lazari-Carvalho P. Ortodontia interceptativa no


tratamento de mordida cruzada posterior bilateral e mordida aberta anterior: Relato de
caso. Revista Odontológica do Brasil Central [Internet]. 14 abr 2020

13. Zasso MB. AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES TRANSVERSAIS IMEDIATAS À EXPANSÃO


MAXILAR COM O APARELHO QUADRIHÉLICE POR MEIO DE TOMOGRAFIA
COMPUTADORIZADA DO FEIXE CÔNICO [Dissertação de mestrado]. Florianapólis:
Universidade Federal de Santa Catarina; 2013. 112 p.

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