caso clínico

Aparelho expansor Haas com molas digitais para

correção da mordida cruzada anterior e posterior
Correction of anterior and posterior crossbite with a modified Haas maxillary
expansion appliance

André Wilson Machado*

Alexandre Protásio Vianna**
Aldrieli Regina Ambrosio***
Luiz Gonzaga Gandini Júnior****

Resumo
As mordidas cruzadas anterio-
res e posteriores podem ser tra-
tadas desde as dentaduras decí-
dua e mista. Embora a literatura
descreva diversas técnicas para
a correção individualizada des-
ses problemas, o tratamento de
pacientes com as duas altera-
ções é pouco documentado. O
presente artigo relata o trata-
mento desses problemas com o
expansor tipo Haas associado a
molas digitais. Essa alternativa
apresenta boa previsibilidade,
fácil confecção e instalação, e
ótima eficiência.
Abstract
The anterior and posterior crossbite problems with the Haas expander
can be treated since the primary and connected to digital springs. This al-
mixed dentitions. Although the liter- ternative has good predictability, easy
ature describes several techniques to manufacture and installation, and
correct these problems individually, optimum efficiency.
the treatment of patients with both
changes is poorly documented. This
article reports the treatment of these

Palavras-chave: Keywords:
Mordida cruzada. Ortodontia interceptora. Expansão maxilar. Crossbite. Interceptive orthodontics. Palatal expansion technique.
Má oclusão. Malocclusion.

* Mestre em Ortodontia pela PUC/Minas. Doutorando em Ortodontia pela UNESP/

Araraquara - University of California, Los Angeles (UCLA - EUA). Professor da especia-
lização em Ortodontia da UFBA. Professor Visitante do departamento de Ortodontia
da UCLA.
** Mestre em Ortodontia pela PUC/RS. Doutorando em Ortodontia pela UNESP/Arara-
quara. Professor de Ortodontia da UEFS e da especialização em Ortodontia da UNI-
ME/BA.
*** Mestre em Ortodontia pela PUC/PR. Doutoranda em Ortodontia pela UNESP/Arara-
quara.
**** Professor Livre Docente/Adjunto da Disciplina de Ortodontia do Departamento de
Clínica Infantil da UNESP/Araraquara. Pós-doutorado e Professor Assistente Adjunto
Clínico do Departamento de Ortodontia da Baylor College of Dentistry (Dallas/EUA).

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Machado AW, Vianna AP, Ambrosio AR, Gandini Júnior LG
Introdução
As mordidas cruzadas anteriores e posteriores são
más oclusões resultantes de alterações na relação oclusal
entre os dentes anteriores e posteriores, respectivamen-
te. Com etiologia variada9,10,12,18,20,21,23,28, frequentemente
essas más oclusões têm caráter funcional, mostrando
desvios mandibulares 12,18.
Embora isoladamente a prevalência dessas más oclusões
seja relativamente alta, variando entre 4 e 7,6%21 para a mor-
dida cruzada anterior e entre 4 e 23%8,17 para a posterior, a
presença dessas condições concomitantemente, no mesmo
paciente, é muito rara, em torno de 0,79%22.
Existe consenso na literatura de que a correção espon-
tânea dessas más oclusões é bastante improvável. Portanto,
uma vez instalada nas dentaduras decídua e mista, provavel-
mente se perpetuará na permanente, demonstrando a ne-
cessidade de uma intervenção precoce8,13,16,17. Além disso, a
literatura associa a mordida cruzada anterior à presença ou à
progressão de recessões gengivais em incisivos inferiores29.
Já a mordida cruzada posterior é frequentemente associada
a assimetrias faciais e esqueléticas7,17, a alterações musculares
importantes1 e ao desenvolvimento de hábitos deletérios13.
Diversas alternativas para a interceptação das mordidas
cruzadas anteriores9,11,15,19,20,21,23,25,26,28 e posteriores3,4,6,9,16,21 são
descritas na literatura. Porém, trabalhos que relatem a com-
binação dessas duas más oclusões num mesmo paciente são
menos numerosos24,28,30, o que justifica a divulgação de tais ca-
sos clínicos, para melhor entendimento do assunto abordado.
Figura 1 Fotografias extrabucais iniciais: A) perfil
direito e B) frontal. A B
RELATO DOS CASOS CLÍNICOS
Caso 1
Paciente do sexo masculino, com 6 anos de idade, apre-
sentando características faciais de normalidade, compatíveis
com a idade (Fig. 1).
A avaliação intrabucal mostrou que o paciente encontra-
va-se na fase da dentadura decídua, com mordida cruzada
anterior do lado direito e mordida cruzada posterior unila-
teral direita (Fig. 2A, B, C), devido a alterações do posicio-
namento dentário e leve atresia da arcada superior (Fig. 2D,
E). A avaliação da radiografia panorâmica mostrou padrão de
normalidade na formação dos dentes permanentes (Fig. 3).
O planejamento ortodôntico envolveu o aparelho ex-
pansor tipo Haas associado a molas digitais. Inicialmente, o
aparelho expansor foi instalado, as molas digitais ativadas e
nenhuma ativação transversal foi realizada (Fig. 4).
Após 4 semanas, a mordida cruzada anterior do inci-
sivo central foi corrigida e iniciaram-se as ativações de
2/4 de volta do parafuso, duas vezes ao dia, totalizando
uma abertura de 1mm do parafuso por dia. Após nove
dias de ativação do aparelho, foi observado um bom rela-
cionamento transversal das arcadas dentárias. O parafuso
expansor foi travado e o aparelho mantido como recurso
de contenção (Fig. 5).
Após seis meses de contenção, o aparelho expansor foi
removido, de modo a possibilitar que a oclusão, depois de
devidamente restabelecida, mantivesse o seu curso de de-
senvolvimento dentro dos padrões de normalidade (Fig. 6).
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Caso Clínico Aparelho expansor Haas com molas digitais para correção da mordida cruzada anterior e posterior

A B C

Figura 2 Fotografias intrabucais iniciais: A) late-

ral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclu-
sal superior e E) oclusal inferior. D E

Figura 3 Radiografia panorâmica inicial.

Figura 4 Disjuntor de Haas modificado associa-

do a molas digitais. A B

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Machado AW, Vianna AP, Ambrosio AR, Gandini Júnior LG

A B C

Figura 5 Fotografias intrabucais do final da fase de ativação transversal do aparelho expansor:

D A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda e D) oclusal superior.

A B C

Figura 6 Fotografias intrabucais do final da fase de contenção com aparelho expansor: A) lateral
D direita, B) frontal, C) lateral esquerda e D) oclusal superior.

Caso 2 A avaliação intrabucal do paciente mostrou que esse en-

Paciente do sexo masculino, com 9 anos de idade, es-
tava sendo submetido a um tratamento ortodôntico com
elásticos intermaxilares há um ano, sem resultado. A análise
das fotografias faciais demonstrou harmonia entre os terços
faciais, perfil reto, ângulo nasolabial normal e leve protrusão
dos lábios (Fig. 7A, B). Quando a fotografia do sorriso foi
avaliada, percebeu-se o aspecto bastante desfavorável de-
vido ao cruzamento do incisivo central superior esquerdo,
além da presença de alguns braquetes e botões ortodôn-
ticos (Fig. 7C).
contrava-se no primeiro período transitório da dentadura mis-
ta, apresentando má oclusão de Classe I com mordida cruzada
do incisivo central superior esquerdo e mordida cruzada pos-
terior unilateral esquerda (Fig. 8A, B, C) devido a alterações
do posicionamento dentário e leve atresia da arcada superior
(Fig. 8D, E). A avaliação da radiografia panorâmica mostrou
normalidade na formação dos dentes permanentes (Fig. 9).
Inicialmente, os braquetes e botões ortodônticos foram re-
movidos e o paciente recebeu orientações sobre higiene bucal.
Em seguida, o aparelho expansor Haas foi instalado com um
batente posterior, permitindo uma leve desoclusão posterior,

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Caso Clínico
maximizando, assim, o efeito da mola digital. Além disso, um
anteparo de resina composta foi colado no terço incisal da face
palatina do dente 21, para evitar o deslocamento da mola no
sentido cervicoincisal. Nessa fase, a mola digital foi ativada e
nenhuma ativação transversal foi realizada (Fig. 10).
Após 2 meses de tratamento, a mordida cruzada anterior
foi corrigida, o batente posterior removido e iniciaram-se as
ativações do parafuso expansor. Após dez dias de ativação
do aparelho, foi alcançado bom relacionamento transversal
das arcadas, porém, o incisivo lateral superior esquerdo ha-
via irrompido em posição desfavorável, criando uma nova
mordida cruzada anterior (Fig. 11). A essa altura, o aparelho
A B
Figura 7 Fotografias faciais iniciais: A) perfil direito, B) frontal e C) sorriso.
A B
Figura 8 Fotografias intrabucais iniciais: A) late-
ral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclu-
sal superior e E) oclusal inferior. D E
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Aparelho expansor Haas com molas digitais para correção da mordida cruzada anterior e posterior
de Haas foi removido e desgastes no acrílico foram realiza-
dos para a inserção de uma nova mola digital. Em seguida,
o expansor foi recimentado, o parafuso expansor travado e a
nova mola digital foi ativada (Fig. 12).
Após 2 meses, o incisivo lateral foi reposicionado na arca-
da e o expansor foi mantido na cavidade bucal como conten-
ção (Fig. 13). O impacto do tratamento também foi evidente
no aspecto do sorriso, demonstrando a influência positiva na
estética facial (Fig. 14).
A análise da Figura 15 demonstra a estabilidade do caso
após 1 ano da remoção do expansor, bem como a retomada
das características de normalidade da oclusão.
C
C
Machado AW, Vianna AP, Ambrosio AR, Gandini Júnior LG

Figura 9 Radiografia panorâmica inicial. Figura 10 Disjuntor de Haas modificado asso-

ciado a uma mola digital.

A B C

Figura 11 Fotografias intrabucais do final da fase de ativação transversal do aparelho expansor: A) lateral direita, B) frontal e C) lateral esquerda.

Figura 12 Vista aproximada da fotografia intrabucal oclusal superior, mostrando a nova mola digi-
tal para o descruzamento do incisivo lateral.

A B C

Figura 13 Fotografias intrabucais do final da fase de contenção do aparelho expansor: A) lateral direita, B) frontal e C) lateral esquerda.

Figura 14 Vista aproximada da fotografia final do sorriso.

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Caso Clínico
A B
Figura 15 Fotografias intrabucais após 1 ano do final da fase de contenção: A) lateral direita, B) frontal e C) lateral esquerda.
DISCUSSÃO
O tratamento instituído corrigiu as mordidas cruzadas e
permitiu que uma condição periodontal mais favorável fosse
alcançada, principalmente nos incisivos inferiores. Ao posi-
cionar o dente adequadamente dentro da sua base óssea,
estabelece-se um melhor ambiente para o periodonto29, o
que pôde ser constatado no Caso 2. Além disso, segundo a
literatura, a correção precoce da mordida cruzada posterior
previne o aparecimento de hábitos bucais danosos, como a
deglutição atípica13, principalmente; evita ou corrige o de-
senvolvimento de assimetrias faciais e/ou esqueléticas2,7,17, o
que justifica intervenções na dentadura decídua.
Dentre as várias opções de tratamento para a correção
das mordidas cruzadas, optou-se pela utilização do aparelho
expansor tipo Haas associado a molas digitais. Segundo a
literatura, a união desses dois recursos é bastante eficaz e
apresenta boa previsibilidade24,30. Após avaliar os resultados
obtidos nos dois casos apresentados, percebe-se a satisfató-
ria previsibilidade do aparelho utilizado.
É importante salientar que, para a correta seleção do
aparelho, um minucioso diagnóstico deve ser realizado e al-
gumas variáveis analisadas, como a duração do tratamento
e a cooperação do paciente9,11,21,23. Os aparelhos removíveis
apresentam menor eficácia na correção das mordidas cru-
zadas posteriores, além de exigirem muito mais tempo de
tratamento, diminuindo sua eficiência4,16. A análise do Caso 2
corrobora a literatura nesses aspectos, pois o paciente estava
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Aparelho expansor Haas com molas digitais para correção da mordida cruzada anterior e posterior
C
em tratamento ortodôntico há 1 ano, utilizando elásticos in-
termaxilares para a correção das mordidas cruzadas, porém
sem sucesso. Com a utilização do disjuntor fixo, a correção
das mordidas cruzadas ocorreu após 4 meses de tratamen-
to ativo. As ativações das molas foram realizadas de acordo
com o método sugerido por Fields5, que preconiza a ativação
de aproximadamente 2mm da mola para a movimentação
dentária de 1 a 2mm por mês. No início do tratamento, a
colocação do batente de mordida em acrílico foi necessária
para promover uma leve desoclusão, a fim de permitir a mo-
vimentação do incisivo cruzado19,21. No Caso 1, essa peculia-
ridade não foi necessária devido ao suave trespasse vertical
dos dentes anteriores, característica de normalidade na den-
tição decídua12,18.
Atualmente, o aspecto “duração do tratamento” é fator
fundamental, pois existe uma tendência à busca de trata-
mentos mais eficientes. O termo “eficiência” tem sido atri-
buído àqueles tratamentos eficazes no menor intervalo de
tempo possível14. Os resultados clínicos apresentados nesse
artigo foram obtidos após 2 a 4 meses de tratamento ativo,
demonstrando a boa eficiência da abordagem adotada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ressalta-se que o expansor tipo Haas é um aparelho
versátil, podendo ser adaptado para a correção de proble-
mas sagitais.
Machado AW, Vianna AP, Ambrosio AR, Gandini Júnior LG
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Endereço para correspondência
André Wilson Machado
Rua Eduardo José dos Santos, 147 – 41.940-455 – Salvador / BA
E-mail: andre@andrewmachado.com.br
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