Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Este artigo teve como objetivo demonstrar to, relatando um caso clínico com mordida
a possibilidade de expansão maxilar rápida cruzada posterior unilateral esquelética tra-
sem assistência cirúrgica em paciente adul- tada com disjuntor de Haas modificado.
* Mestre e Doutor em Ortodontia pela UFRJ, Professor Adjunto e responsável pelas Disciplinas de Ortodontia da UFSC. Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
** Mestrando em Ortodontia e Ortopedia Facial pela PUC-RS.
*** Especialista e Mestre em Ortodontia pela UERJ, Doutor em Ortodontia pela UNESP, Professor Convidado das Disciplinas de Ortodontia da UFSC.
**** Mestre e Doutor em Ortodontia pela UFRJ, Coordenador do Curso de Mestrado em Ortodontia da PUC-PR, Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
***** Aluno do Curso de Especialização em Ortodontia da UFSC.
IntRodução com idade entre 18 e19 anos12. Porém, apesar dos pacientes não
A deficiência transversal maxilar, gerando mordida cruzada apresentarem as seqüelas supracitadas, não foi observada a separa-
posterior, é uma das más oclusões mais prevalentes em Ortodon- ção dos incisivos centrais superiores em ambos os estudos.
tia1. Sua correção exige a realização de uma expansão maxilar A separação da sutura palatina observada na radiografia oclu-
rápida, sendo preconizada inicialmente por Haas10 apenas em sal e o surgimento do diastema inter-incisivos são indicativos de
crianças. Apesar de pouca informação disponível sobre a EMR expansão esquelética da maxila, sendo considerados fatores pa-
sem assistência cirúrgica em pacientes adultos e sobre a idade tognomônicos4,10.
precisa na qual esse tratamento não é tão efetivo, existe um con- O presente artigo apresenta o caso clínico de uma paciente de
senso na literatura: Quanto maior a idade do paciente, pior o 17 anos em que foi realizado o método de Expansão Maxilar Rápida
prognóstico6. (EMR) sem assistência cirúrgica, visando a correção de uma mordi-
Portanto, o tratamento deve ser realizado em idade precoce, da cruzada posterior. Serão abordados tópicos relativos à mecânica
com o intuito de obter mais estabilidade, o que é proporcional à ortodôntica empregada, o tipo de expansor utilizado, protocolo de
quantidade de disjunção óssea5,6,10. Quanto mais disjunção óssea ativação, contenção, bem como os possíveis efeitos indesejáveis
e menos expansão dentária, melhores os resultados quanto à es- decorrentes da EMR.
tabilidade em longo prazo do aumento transversal maxilar10.
A idade mais adequada para aplicar o método de EMR é o pe- ReLAto do CAso CLÍnICo
ríodo puberal4, sendo mais facilmente obtida até os 13 anos de ida- A paciente B. N., gênero feminino, leucoderma, 17 anos de ida-
de, mas pode ser verificada em jovens de até 18 anos2,5,6,11,12,18. Em de (Fig. 1), com atresia maxilar (Fig. 2) e mordida cruzada posterior
adultos, existe controvérsia quanto à possibilidade de se obtê-la, unilateral verdadeira (Fig. 3) foi tratada com a técnica de expansão
pois a sutura palatina mediana pode resistir à pressão exercida pelo maxilar rápida sem assistência cirúrgica.
aparelho, causando algumas seqüelas, como inclinação de dentes4 e O aparelho expansor utilizado foi o disjuntor de Haas modifica-
movimentação dentária por meio da parede cortical vestibular8, dor, do, com anéis, além dos primeiros molares e primeiros pré-molares,
edema e ulceração6, recessão gengival15. Entretanto, Handelman¹¹ também nos segundos pré-molares, para se obter maior ancora-
conseguiu aumentar a dimensão transversal da maxila em cinco gem (Fig. 4, 6).
pacientes adultos com idade entre 30 e 55 anos e em 47 adultos Após a instalação do disjuntor e ativação de ½ volta no primeiro
FiGURA 2 - Maxilar atrésico, com perda do perímetro do arco, causando api- FiGURA 3 - Foto intrabucal inicial. Observa-se a mordida cruzada posterior uni-
nhamento dental. lateral esquelética.
FiGURA 4 - Instalação do disjuntor de Haas modificado com anéis nos dentes FiGURA 5 - Foto frontal intrabucal e o diastema inter-incisivo após 14 dias.
16,15,14 e 26, 25, 24.
FiGURA 8 - Radiografia oclusal comprovando a abertura da sutura palatina FiGURA 9 - Radiografia oclusal final com a completa ossificação da sutura pa-
mediana. latina mediana.
FiGURA 10 - Foto intrabucal final com significativo aumento transversal da FiGURA 11 - Vista oclusal da maxila pós-expansão. Note o aumento da largura
maxila. e perímetro do arco, bem como o volume palatal.
ortodôntico corretivo.
O ganho em expansão entre os primeiros molares foi de 6,5mm,
conferindo à maxila uma morfologia mais apropriada (Fig. 11). Para
estabilização do resultado obtido foram necessários 6 meses de
contenção. Não foi constatado nenhum efeito colateral, como dor
ou edema. A oclusão da paciente apresenta-se estável, ou seja, não
houve recidiva da mordida cruzada. Também não foi constatado
surgimento de mordida aberta ou recessão gengival.
Os efeitos transversais dento-esqueléticos suscitados pela te-
rapia da expansão maxilar rápida ficam evidentes nos traçados ce-
falométricos sobre as telerradiografias póstero-anteriores inicial,
imediatamente após a estabilização do parafuso expansor e após
remoção do disjuntor de Haas modificado (Fig. 12), resultando no
aumento da dimensão transversa da maxila (Fig. 13).
Ademais, com o tratamento da mordida cruzada posterior pela
técnica da EMR conseguiu-se melhorar a harmonia facial da pa-
ciente (Fig. 14).
B C
FiGURA 12 - A) Traçado cefalométrico inicial sobre telerradiografia póstero-anterior inicial. B) Traçado cefalométrico imediatamente após a estabilização do parafu-
so expansor sobre telerradiografia póstero-anterior intermediária. C) Traçado cefalométrico final sobre telerradiografia póstero-anterior final.
RefeRênciAs
1. ALLEN, D. et al. Skeletal and dental contributions to posterior crossbites. Angle Orthod, 10. HAAS, A. J. Rapid expansion of the maxillary dental arch and nasal cavity by opening the
Appleton, v. 73, no. 5, p. 515-524, Aug. 2002. mid-palatal suture. Angle Orthod, Appleton, v. 31, no. 2, p. 73-90, Apr. 1961.
2. ALPERN, M. C.; YUROSKO, J. J. Rapid palatal expansion in adults with and without 11. HANDELMAN, C. S. Non surgical rapid maxillary alveolar expansion in adults: a clinical
surgery. Angle Orthod, Appleton, v. 57, no. 3, p. 245-263, July 1987. evaluation. Angle Orthod, Appleton, v. 67, no. 4, p. 291-308, Aug. 1997.
3. BELL, W. H.; EPKER, B. N. Surgical orthodontic expansion of the maxilla. Am J Orthod 12. HANDELMAN, C. S. et al. Nonsurgical rapid maxillary expansion in adults: report on 47
Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 70, no. 5, p. 517-528, Nov. 1976. cases using the Haas expander. Angle Orthod, Appleton, v. 70, no. 2, p.129-144, Apr.
4. BISHARA, S. E.; STANLEY, R. N. Maxillary expansion: clinical implications. Am J Orthod 2000.
Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 91, no.1, p. 3-14, Jan. 1987. 13. IONUE, N. et al. Radiographic observation of rapid expansion of human maxilla. Bull
5. CAPELOZZA FILHO, L.; SILVA FILHO, O. G. Expansão rápida da maxila: considerações gerais Tokyo Med Dent Univ, Tokyo, v. 17, no. 3, p. 249-261, Sept. 1970.
e apresentação clínica. Parte II. Rev Dental Press Ortodon Ortop facial, Maringá, v. 2, 14. MOSSAZ, C. F.; BYLOFF, F. K.; RICHTER, M. Unilateral and bilateral corticotomies for
n. 4, p. 86-108, jul./ago. 1997. correction of maxillary transverse discrepancies. eur J Orthod, London, v. 14, no. 2,
6. CAPELOZZA, L. et al. Expansão rápida da maxila em adultos sem assistência cirúrgica. p.110-116, Apr. 1992.
Rev Dental Press Ortodon Ortop facial, Maringá, v. 4, n. 6, p. 76-83, nov./dez. 1999. 15. NORTHWAY, W. M.; MEADE JR., J. B. Surgically assisted rapid maxillary expansion:
7. CHANG, J. Y.; McNAMARA JR., J. A.; HERBERGER, T. A. A longitudinal study of skeletal side a comparison of technique, response and stability. Angle Orthod, Appleton, v. 67, no. 4,
effects induced by rapid maxillary expansion. Am J Orthod Dentofacial Orthop, p. 309-320, Aug. 1997.
St. Louis, v. 112, no. 3, p. 330-337, Sept. 1997. 16. PERSSON, M.; THILANDER, B. Palatal suture closure in man from 15 to 35 years of age.
8. EPKER, B. N.; WOLFORD, L. M. Surgical orthodontic expansion of maxilla. In:______. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 72, no. 1, p. 42-52, July 1977.
Dentofacial deformities: surgical-orthodontic correction. St. Louis: C. V. Mosby, 1980. 17. PROFITT, W. R. The biological basis of orthodontic therapy. In:______. contemporary
p. 305-331. orthodontics. 3rd ed. St. Louis: C.V. Mosby, 2000. p. 296-325.
9. GRABER, T. M.; VANARSDALL, R. L. Ortodontia: princípios e técnicas atuais. 2. ed. Rio de 18. STUART, D. A.; WILTSHIRE, W. A. Rapid palatal expansion in the young adults: time for a
Janeiro: Ed. Guanabara, 1996. paradigm shift? J can Dent Assoc, Ottawa, v. 69, no. 6, p. 374-377, June 2003.