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Uma coluna para você, que vive intensamente a Ortodontia

Marcos Janson

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Pneumatização do seio
maxilar — É possível fechar
os espaços?
» Especialista e Mestre em Ortodontia, Universidade de São Paulo,
Faculdade de Odontologia de Bauru (Bauru/SP, Brasil).

Como citar: Janson M. Pneumatização do seio maxilar – É possível fechar os espaços? Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):16-24.

DOI: https://doi.org/10.14436/​1676-6849.17.5.016-024.obj

Enviado em: 06/08/2018 - Revisado e aceito: 14/09/2018.

O autor declara não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. O(s) paciente(s)
que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, radiografias ou outros exames imagiológicos e informações diagnósticas.

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Pneumatização do seio maxilar – É possível fechar os espaços?

Um dos problemas mais comuns ao se rea- reabsorção óssea direta na direção do movimento
lizar tratamento ortodôntico em pacientes adul- e deve haver um balanço entre a aposição e a
tos é movimentar os dentes para uma área de reabsorção óssea7-10. Sob o ponto de vista mecâ-
comprometimento ósseo — 
tal como rebordos nico, é interessante manter um nível de força suave
atrofiados no sentido vestibulolingual ou perdas e constante durante todo o movimento, evitando
ósseas verticais — ou através do seio maxilar. a formação de áreas hialinas11 e também favore-
A área de pneumatização do seio maxilar pode cendo o movimento de translação (de corpo) do
ser considerada uma limitação relacionada ao dente8,10. Kuroda et al.5 demonstraram, por meio
osso cortical, pois o assoalho do seio maxilar da movimentação dentária em ratos, que a neofor-
é uma camada de osso compacto recoberto mação óssea na superfície do seio maxilar pode
de periósteo . Alguns indicam que o movimen-
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ocorrer por estresse mecânico induzido ao dente.
to através do seio é considerado uma limita- A osteogênese foi induzida à frente da zona de
ção semelhante à movimentação no rebordo
2
reabsorção e a parede do seio manteve uma es-
atrófico; porém, essa ideia deve ser revisada, pessura consistente durante todo o movimento, ou
pois existem várias experiências clínicas que de- seja, o alvéolo do dente e a parede do seio se
monstram ser possível mover os dentes nessas mantiveram. Com base nesses trabalhos, pode-se
situações 3-6
sem consequências aos dentes ou afirmar que a pneumatização do seio não é uma
ao seio maxilar. Outra dúvida que emerge em limitação ao movimento e deve, sempre que neces-
relação a esse movimento é o fato de pratica- sário, ser considerada no planejamento. A seguir,
mente não haver osso à frente do dente que serão descritos dois casos clínicos que demons-
será movimentado, ou seja, após a cortical da tram a viabilidade desse movimento.
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parede do seio, o dente cairia em um “vazio”.
A explicação para que isso não ocorra deriva CASO 1
do conhecimento a respeito dos tipos de movi- Paciente do sexo feminino, 29 anos de ida-
mentação dentária existentes. de, com má oclusão de Classe I, buscou trata-
Há duas formas de movimentação dentá- mento ortodôntico para resolver o apinhamento
ria: com o osso e através do osso. Para produzir inferior. Relatou, também, o desejo de fechar o
uma movimentação “com o osso”, deve ocorrer espaço do dente #26, que havia sido extraído.

A B C

Figura 1: A, B, C) Fotografias laterais e frontal de má oclusão de Classe I com severo apinhamento inferior e ausência do dente #26.

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A B

Figura 2: A, B) Radiografias panorâmica e periapical da região do dente #26. Nota-se a pneumatização do seio maxilar entre o segundo
pré-molar e o segundo molar. O tratamento consistiu na extração de um incisivo lateral inferior e mesialização dos segundo e terceiro
molares, com ancoragem esquelética.

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A B C

Figura 3: A, B, C) Fotografias laterais durante diferentes fases de fechamento do espaço edêntulo. Além de realizar o movimento de
mesialização, é importante ficar atento à inclinação mesial demasiada dos dentes, fato que ocorre em quase todas as situações. Nesse caso, na
metade do movimento, a força mesial foi interrompida e os braquetes foram colados com angulação, para favorecer a mesialização das raízes
dos molares. Assim que as raízes verticalizaram, o movimento mesial prosseguiu. O fechamento completo do espaço demorou 14 meses.

A B C

Figura 4: A, B, C) Radiografias periapicais em diferentes fases do fechamento do espaço. Nota-se, em B, que o movimento de
mesialização promove a inclinação das coroas em direção ao espaço. É importante, no meio ou ao fim do movimento, que se faça a
recolagem dos braquetes ou dobras no fio, para promover a verticalização das coroas. Se as raízes forem deixadas muito divergentes,
a chance de reabertura do espaço é grande.

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A B C

Figura 5: A, B, C) Fotografias frontal e laterais do caso finalizado, demonstrando boa oclusão e os segundo e terceiro molares ocupando
adequadamente o espaço que antes era edêntulo.

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Figura 6: Radiografia
panorâmica final, com
integridade total das raízes e
periodonto.

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CASO 2
Esse caso tem uma particularidade interessante. porque o seio maxilar tinha invaginado no espaço.
A paciente, com 32 anos de idade, agendou uma Após análise minuciosa do caso, foi proposto a
consulta para reavaliar o tratamento que estava em ela o seguinte tratamento: extração do dente #26
andamento há 3 anos. Segundo ela, o aparelho (apresentava extrusão patológica, contraindicando
já seria removido. Do lado superior direito, havia sua intrusão), fechamento dos espaços superiores,
um espaço entre os dentes #17 e #15 que, confor- correção da curva de Spee inferior e preparo para
me o que ela tinha ouvido, não podia ser fechado implantes nos espaços edêntulos inferiores.

A B C

Figura 7: A, B, C) Fotografias laterais e frontal, ao início do tratamento. Nota-se a curva de Spee ainda presente na arcada inferior e os espaços
inadequados para os implantes. Na arcada superior, as setas indicam o espaço presente entre o #17 e o #15 (A), e o #26 extruído (C).

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Figura 8: Fotografia oclusal,


na qual é mais evidente o
espaço do lado direito (seta).

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A B

Figura 9: A) Radiografia panorâmica, onde nota-se a pneumatização do seio maxilar no espaço do


dente #16 (ausente). B) Radiografia periapical do lado esquerdo, onde observa-se que o molar estava
extruído, porém não houve acompanhamento do periodonto, caracterizando extrusão patológica.
Como os segundo e terceiro molares estavam em ótimas condições e o terceiro molar não teria
antagonista, optou-se por extrair o dente com problema (#26) e mesializar o #27 e o #28.

Figura 10: A, B) Radiografias


periapicais no momento
em que o fechamento dos
espaços iria se iniciar. Nota-se
a invaginação do seio maxilar
A B 21
bilateralmente.

Figura 11: A, B) Fotografias


laterais, para visualização
detalhada da mecânica
empregada no lado direito.
Como a oclusão já estava em
Classe I, os espaços foram
fechados com mesialização,
utilizando-se mini-implantes
A B
somente pela vestibular.

Figura 12: A, B) Fotografias


laterais do lado esquerdo,
A B
ao início da mesialização.

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Figura 13: Fotografia oclusal


que demonstra os detalhes
finais do fechamento dos
espaços. Devido à utilização
dos mini-implantes somente
por vestibular, houve um
pequeno giro dos molares.
Para sua correção, foram feitos
binários por palatino.

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A B C

Figura 14: A, B, C) Fotografias laterais e frontal do caso finalizado, demonstrando excelente relacionamento oclusal, com os espaços
superiores devidamente fechados e os implantes inferiores em fase de provisórios.

A B

Figura 15: A, B) Fotografias oclusais superior e inferior finais.

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Figura 16: Radiografia


panorâmica final.

Figura 17: A, B) Radiografias


periapicais finais, onde
nota-se o estreitamento do
seio, bilateralmente, entre os
dentes, sem quaisquer sinais
A B
de dano evidente.
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Embora a movimentação no seio pneumati- 3) Ao perceber que o movimento está muito


zado seja segura, do ponto de vista biológico, lento, procure movimentar as raízes primeiro, em
é importante atentar para alguns cuidados extras direção ao seio, para depois aplicar a força ho-
durante o tratamento: rizontal de fechamento. Esse procedimento é rea-
1) Não iniciar o movimento enquanto os lizado com a colagem angulada dos braquetes
dentes não estiverem completamente verticaliza- durante o nivelamento.
dos. Quando se realiza esse tipo de movimen- 4) Após o fechamento dos espaços, quase
tação, há uma tendência maior de inclinação sempre será necessário corrigir a angulação das
das coroas na direção do espaço. Portanto, já raízes, para diminuir ou evitar a tendência de rea-
iniciar com inclinações indevidas pode dificultar bertura dos espaços.
o fechamento do espaço. Por hoje é só, meus amigos. Trabalhem emba-
2) A parede do seio pode representar uma sados na literatura científica, façam sempre o seu
barreira adicional ao movimento inicial dos den- melhor e... que a FORÇA esteja sempre com vocês!
tes. Procure trabalhar com uma força leve e cons-
tante (o autor trabalha com forças entre 100 e
200g). Uma força muito grande no início pode
promover a inclinação indesejada dos dentes.

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Janson M

Referências:

1. Mjor IA, Fejerskov O. Human oral embryology and histology. 7. Melsen B. Limitations in adult orthodontics. In: Current
Copenhagen: Laursen Tonder; 1986. controversies in orthodontics. Chicago: Quintessence; 1991.
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4. Vitral RW, Campos MJS, Vitral JCV, Santiago RC, Fraga MR. 10. Zachrisson BU. Bjorn U. Zachrisson, DDS, MSD, PhD, on current
Orthodontic distalization with rigid plate fixation for anchorage trends in adult treatment, part 2. Interview by Robert G. Keim.
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