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Artigo de Divulgação

Tratamento de Ausência Congênita de Incisivo


Lateral Superior por Meio da Recuperação de
Espaço para Colocação de Implante Dentário ou
Fechamento de Espaços - Relato de Casos
Congenitally Missing Upper Lateral Treatment by Space Recuperation for
Implant Insertion and Closure of Spaces - Cases Report

Resumo observadas, com exceção dos terceiros


A ausência congênita de incisivos late- molares são, as de incisivos laterais su-
rais superiores gera uma desarmonia no periores (37,1%), segundos premolares
relacionamento entre os arcos dentários inferiores (32,26%) e segundos premo-
superior e inferior. O tratamento desta lares superiores (17,74%)3. Normalmente
má oclusão deve basear-se num cuida- o dente mais distal de cada classe morfo-
Ary dos
Santos-Pinto doso diagnóstico e plano de tratamen- lógica é o mais suscetível a variações
to, considerando a possibilidade do fe- numéricas com exceção dos incisivos la-
chamento do espaço ortodonticamente, terais inferiores6 e sua prevalência é mais
ou uma combinação entre recuperação elevada em mulheres3.
ou manutenção de espaço por meio de A etiologia da ausência dentária con-
mecânica ortodôntica e reconstrução gênita é multifatorial, incluindo predispo-
protética do dente ausente. Serão rela- sição genética, inflamação ou infecção
tados casos, de pacientes apresentando local, problemas no desenvolvimento dos
ausência congênita unilateral de incisi- tecidos ectodérmicos, doenças infeccio-
vo lateral superior, nos quais foi plane- sas, traumatismo, radiação e fissura pa-
jado a recuperação de espaço para in- latina3,4, entretanto, na maioria dos ca-
serção de implante osteointegrado ou foi sos está relacionada à hereditariedade e
optado pelo fechamento de espaços, com a fatores evolutivos5. O homem tem ten-
ênfase no diagnóstico e opções de tra- dências evolutivas para diminuição dos
tamento. maxilares e do número de dentes, porém
estas duas tendências parecem não es-
INTRODUÇÃO tar correlacionadas6.
Um problema comum em Ortodon- Clinicamente suspeita-se de ausên-
tia é a ausência dentária congênita, que cia congênita devido à cronologia e/ou
pode ser explicada por distúrbios du- seqüência de erupção estarem altera-
rante os estágios iniciais de desenvolvi- das, à exfoliação atrasada dos dentes
mento dos dentes. decíduos ou quando há anquilose do
As agenesias mais freqüentemente dente decíduo; entretanto o diag-

Ary dos Santos-Pinto *


Dirceu Barnabé Raveli *
Paulo Cesar Raveli Chiavini **
Palavras-chave: Ricardo Fabris Paulin ***
Helder Baldi Jacob ****
Ausência congênita.
Recuperação de * Professor Adjunto do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara -
espaço. Implantes UNESP.
** Professor Adjunto da Disciplina de Ortodontia da Universidade Paulista - UNIP - São José do Rio Preto.
dentários. Fechamento
*** Estagiário do Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP
de espaços. **** Especialista em Ortodontia pela UNESP - Araraquara.

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nóstico final só é confirmado por que a paciente era leucoderma, sexo ta do incisivo lateral superior direi-
meio de radiografias6. feminino, com doze anos de idade, to. O objetivo principal do tratamento
A escolha do tratamento para boa saúde oral e apresentava como seria a recuperação do espaço e in-
crianças com ausência congênita foi queixa principal a “falta de um den- serção de implante osteointegrado
sempre considerada um dilema: fechar te”, apresentava a face simétrica e para colocação de prótese sobre o
os espaços é considerada escolha boa o perfil reto (Fig. 1A,B). O exame mesmo.
e definitiva, evitando despesas exces- intra-bucal revelou relação Classe I Primeiramente foi indicada a ex-
sivas pelo custo da ortodontia e abor- de molares e caninos, desvio de li- tração dos caninos decíduos supe-
dagem protética necessária nos casos nha média superior de um milíme- riores, seguida da montagem de
de manutenção do espaço, mas exige tro para direita, presença de diaste- aparatologia fixa nos arcos supe-
uma intervenção ortodôntica mais lon- ma entre os incisivos centrais supe- rior e inferior. Foi, então, colocado
ga e complexa; manter ou recuperar riores e sobremordida leve. (Fig. um arco de intrusão inferior para
o espaço do lateral ausente para a fu- 2A,B,C) melhora da sobremordida enquan-
tura confecção de próteses ou inser- O exame da radiografia pano- to no arco superior iniciamos o tra-
ção de implantes e reabilitação râmica confirmou a ausência con- tamento com um alinhamento e ni-
protética, constitui-se numa alterna- gênita do incisivo lateral superior velamento prévio, seguindo a
tiva viável de tratamento, mas impli- direito (Figura 3A). A telerradiogra- sequência de fios preconizada pela
ca em um tempo, às vezes longo, de fia em norma lateral nos forneceu técnica Edgewise convencional.
espera e contenção após a ortodontia, os seguintes dados cefalométricos: Numa fase posterior foi colocada
até que seja possível esta abordagem SNA = 80 graus, SNB = 78 graus, uma mola aberta entre o incisivo
protética. ANB = 2 graus, NS.GoMe = 40 central superior direito e o canino
O objetivo deste artigo é exempli- graus, NS.Gn = 70 graus, H-nariz superior direito para abrir espaço,
ficar por meio de casos clínicos as = 8mm, 1.NA = 35 graus, 1-NA = com uma força necessária para
possibilidades de tratamento da au- 9mm, 1.NB = 27 graus, 1-NB = mover o dente de corpo. A mola
sência congênita do incisivo lateral 5mm, concluindo-se portanto que aberta movimentou o canino para
superior: a recuperação de espaço a paciente possuía a maxila e a distal além de ter fechado o diaste-
para inserção de um implante e o fe- mandíbula bem posicionadas em re- ma superior (Fig. 4A,B,C).
chamento dos espaços por meio de lação à base do crânio, crescimen- Após vinte meses de tratamento,
mecânica ortodôntica. to vertical, perfil reto, incisivos su- obtivemos melhora da relação da li-
periores e inferiores vestibulariza- nha média, da sobremordida, fecha-
RELATO DOS CASOS dos (Fig. 3 B). mento de todos os espaços indesejá-
A) Recuperação de espaço A partir destes dados foi defini- veis, e adequada intercuspidação en-
Caso Clínico I do o diagnóstico como uma má oclu- tre os dentes dos arcos superior e
No exame clínico foi constatado são Classe I com ausência congêni- inferior. Nesse momento já era pos-
sível a colocação do implante; mas
CASO CLÍNICO I devido ao paciente possuir crescimen-
to remanescente, aguardamos mais
seis meses até a colocação do implan-
te (Fig. 5A-5E).
Após seis meses da cirurgia foi
instalada a coroa sobre o implan-
te, atingindo assim, o objetivo do
tratamento que era a melhora no
posicionamento dos incisivos, cor-
reção da linha média e da sobre-
mordida, além da manutenção da
relação de Classe I de molares e
caninos, colocação do implante e
finalização protética (Fig. 6A-6E;
Fig. 7A,B,C).
Como contenção foi utilizado uma
placa de Hawley no arco superior e
A B uma barra 3x3, de fio de aço 0,6 mm
FIGURA 1 A, B) Fotos iniciais da face da paciente. no arco inferior.

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A B C
FIGURA 2 A,B,C - Fotos iniciais intra-bucais.

A B
FIGURA 3A - Radiografia panorâmica inicial, B - Telerradiografia de perfil inicial.

A B C
FIGURA 4 A,B,C - Fotos intra-bucais demonstrando a mola aberta no arco superior direito.

A B C

D E
FIGURA 5A,B,C,D - Fotos intra-bucais após a colocação do implante, E - Radiografia panorâmica após a colocação do implante.

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A B C

D E
FIGURA 6A,B,C,D,E - Fotos intra-bucais finais da paciente.

A B
FIGURA 7A - Radiografia panorâmica final e B - Telerradiografia de perfil final.

B) Fechamento dos espaços teral nos forneceu os seguintes dados espaços por meio de mecânica orto-
Caso Clínico II cefalométricos: SNA = 81,4 graus, dôntica e correção da linha média.
Paciente leucoderma, sexo femini- SNB = 73,5 graus, ANB = 7,9 graus, Após dois anos e meio de tratamen-
no, 31 anos de idade. Apresentava a NS.GoGn = 36,6 graus, 1.NA = to foi obtido o fechamento de todos os
face simétrica e perfil convexo (Fig. 8A- 13,4graus, 1-NA = - 0,3 mm, 1.NB espaços e o canino superior esquerdo
8C). O exame intra-bucal revelou rela- = 34,0 graus, 1-NB = 9,0 mm, con- foi restaurado de modo a simular a for-
ção Classe I de molares e caninos, pre- cluindo-se portanto que a paciente ma e tamanho de um incisivo lateral
sença de uma prótese no incisivo late- possuía a maxila bem posicionada e a superior. A oclusão dentária manteve-
ral superior direito e ausência do incisi- mandíbula retruída em relação à base se em Classe I do lado direito e termi-
vo lateral superior esquerdo, desvio de do crânio, perfil convexo, incisivos nou em relação de Classe II do lado
linha média superior e presença de di- superiores verticalizados e inferiores esquerdo (Fig. 11A-11E; Fig. 12A-
astema entre os incisivos centrais su- vestibularizados (Fig. 10B). 12C). procurou-se obter uma função
periores (Fig. 9A-9E). O diagnóstico constou de uma má em grupo no lado da agenesia durante
O exame da radiografia panorâmi- oclusão Classe I com ausência con- a finalização do tratamento ortodônti-
ca confirmou a ausência congênita do gênita do incisivo lateral superior di- co; como contenção foi utilizada uma
incisivo lateral superior direito (Fig. reito. O objetivo principal do trata- placa de Hawley no arco superior e uma
10A). A telerradiografia em norma la- mento constou de fechamento dos barra 3x3 no arco inferior.

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Caso Clínico II

A B C
FIGURA 8A,B,C - Fotos iniciais da face da paciente.

A B C

D E
FIGURA 9A,B,C,D,E - Fotos iniciais intra-bucais.

A B
FIGURA 10 A - Radiografia panorâmica inicial e B - Telerradiografia de perfil inicial.

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A B C

D E
FIGURA 11A,B,C,D,E - Fotos intra-bucais finais da paciente.

A B C
FIGURA 12 A - Radiografia panorâmica final, B - Telerradiografia de perfil final e 12 C - Foto final da face da paciente.

Caso Clínico III fia em norma lateral nos forneceu sência congênita do incisivo lateral
Paciente leucoderma, sexo femi- os seguintes dados cefalométricos: superior direito e microdontia do dente
nino, 13 anos de idade. Apresen- SNA = 78,8 graus, SNB = 76,4 homólogo.
tava a face simétrica e perfil con- graus, ANB = 2,4 graus, NS.GoGn O plano de tratamento constou de
vexo (Fig. 13A,B). O exame intra- = 35,5 graus, 1.NA = 23,2 graus, extração do canino decíduo e do in-
bucal revelou relação Classe I de mo- 1-NA = 6,2mm, 1.NB = 29,5 graus, cisivo lateral com microdontia e fe-
lares e caninos, microdontia do in- 1-NB = 6,2mm, concluindo-se por- chamento dos espaços por meio de
cisivo lateral superior direito, au- tanto que a paciente possuía a ma- mecânica ortodôntica.
sência do incisivo lateral superior xila e a mandíbula retruídas em O tratamento foi finalizado com
esquerdo e persistência do canino relação à base do crânio, perfil con- oclusão dentária em relação de Clas-
decíduo superior esquerdo (Fig. vexo, crescimento vertical, incisivos se II (Fig. 16A,B; Fig. 17A-17E; Fig.
14A-14E). superiores ligeiramente vestibulari- 18A,B). Foi obtida função em grupo
O exame da radiografia pano- zado e inferiores vestibularizados. bilateral e como contenção, no arco
râmica confirmou a ausência con- (Fig. 15B) superior, utilizou-se uma placa de
gênita do incisivo lateral superior O diagnóstico como uma má oclu- Hawley e, no arco inferior, uma bar-
direito (Fig. 15A). A telerradiogra- são Classe I com biprotrusão e au- ra 3x3.

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CASO CLÍNICO III

A B
FIGURA 13 A, B - Fotos iniciais da face da paciente.

A B C

D E
FIGURA 14 A, B, C, D, E - Fotos iniciais intra-bucais.

A B
FIGURA 15 A - Radiografia panorâmica inicial e B - Telerradiografia de perfil inicial.

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A B
FIGURA 16A,B - Fotos finais da face da paciente.

A B C

D E
FIGURA 17A,B,C,D,E - Fotos intra-bucais finais da paciente.

A B
FIGURA 18 - Fotos sorrindo A - inicial e B - final da paciente.

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Caso Clínico IV râmica confirmou a ausência con- Foi diagnosticada uma má oclu-
Paciente do sexo feminino, apre- gênita do incisivo lateral superior são Classe I com biprotrusão e au-
sentou-se para tratamento orto- direito (Fig. 21A). A telerradiogra- sência congênita do incisivo lateral
dôntico com padrão mesofacial, fia em norma lateral nos forneceu superior direito, e microdontia do den-
face simétrica e perfil convexo, os seguintes dados cefalométricos: te homólogo.
com protrusão do lábio inferior (Fig. SNA = 81,7 graus, SNB = 78,2 O plano de tratamento constou, no
19A,B). O exame intra-bucal reve- graus, ANB = 3,5 graus, NS.GoGn arco superior, de extração do micro-
lou relação Classe I de molares, mi- = 29,4 graus, 1.NA = 27,4 graus, dente e fechamento dos espaços com
crodontia do incisivo lateral supe- 1-NA = 5,1 mm, 1.NB = 32,6 conseqüente correção da linha média
rior direito e ausência do incisivo graus, 1-NB = 6,4 mm, concluin- (Fig. 22A,B,C). No arco inferior a ex-
lateral superior esquerdo, desvio de do-se portanto que a paciente pos- tração dos premolares objetivou a cor-
linha média superior para esquer- suía a maxila e a mandíbula bem reção do apinhamento e retração dos
da, e apinhamento inferior com posicionadas em relação à base do incisivos com melhora na posição do
canino em vestíbulo-versão (Fig. crânio, perfil convexo, incisivos su- lábio inferior, restaurando a harmo-
20A-20E). periores e inferiores vestibulariza- nia do terço inferior e modelando o
O exame da radiografia pano- dos (Fig. 21B). sulco lábio-mental.

CASO CLÍNICO IV

A B
FIGURA 19 A, B - Fotos iniciais da face da paciente.

A B C

D E
FIGURA 20 A, B, C, D, E - Fotos iniciais intra-bucais.

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A B
FIGURA 21A - Radiografia panorâmica inicial e B - Telerradiografia de perfil inicial.

A B C
FIGURA 22A,B,C - Fotos intra bucais demonstrando a aparatologia fixa utilizada.

Após o término do tratamento


foi obtido o fechamento de todos os
espaços e os caninos foram restau-
rados simulando incisivos laterais
superiores. A oclusão dentária man-
teve-se em Classe I (Fig. 23A,B; Fig.
24A-24E: Fig. 25A,B; Fig. 26A,B).
Foi obtida função em grupo bilate-
ral e como contenção, no arco su-
perior, utilizou-se uma placa de
A B Hawley e, no arco inferior, uma
FIGURA 23 A, B - Fotos finais da face da paciente. barra 3x3.

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A B C

D E
FIGURA 24A,B,C,D,E- Fotos intra-bucais finais da paciente.

A B
FIGURA 25 A- Radiografia panorâmica final e B- Telerradiografia de perfil final.

A B
FIGURA 26 - Fotos sorrindo A- inicial e B- final da paciente.

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Discussão ser uma melhor opção. Outras con- ticularidade observada foi a falta de
A ausência congênita de dentes é siderações seriam a forma e cor dos espaço no arco inferior no caso IV,
um desafio para Ortodontistas e caninos, sua posição, tamanho e in- sendo que nos demais havia um bom
Protesistas que tem como meta alcan- clinação6. alinhamento dos arcos. Essas con-
çar um bom resultado estético final De acordo com as características siderações indicaram os diferentes
aliado a uma boa estabilidade do tra- apresentadas pelos pacientes nos procedimentos. No caso II, decidiu-
tamento. O plano de tratamento para casos descritos, considerou-se o tra- se pela manutenção do incisivo la-
casos de ausência congênita uni ou tamento mais conveniente para cada teral direito e fechamento do espaço
bilateral de incisivos laterais superio- situação. do lado esquerdo e do diastema in-
res deve considerar duas possibilida- No primeiro caso relatado, foi de- terincisal com conseqüente correção
des. A recuperação de espaço para a cidido pelo tratamento baseado na da linha média e relação Classe II
inserção de uma prótese1,3,7,8 ou im- recuperação de espaço para inserção no lado em que houve o fechamen-
plantes2; ou a movimentação do ca- de implante, já que a paciente apre- to dos espaços. Nos casos III e IV,
nino superior para a posição original sentava uma má oclusão Classe I, que apresentavam microdentes, a
do dente ausente, e de todos os den- sem deficiência de espaço nos arcos escolha foi pela extração destes e fe-
tes posteriores mesialmente para uma dentários. Outras condições conside- chamento de todos os espaços. En-
relação de Classe II, que é conseqüen- radas foram o perfil reto, a sobremor- tretanto, no caso IV foi realizada
te do fechamento de espaços1,3,7,8. dida levemente aumentada e o con- também a extração dos primeiros
A escolha do tratamento baseia- sentimento da paciente para a inser- premolares inferiores devido à falta
se em alguns fatores: queixa e opi- ção de implante e prótese dentária. de espaço apresentada no arco in-
nião do paciente, perfil do paciente, Nos outros casos o perfil convexo ferior, enquanto no caso III não foi
presença ou deficiência de espaço e foi considerado na decisão da condu- extraído nenhum outro dente. Em
quantidade de espaço a ser fechado. ta de tratamento, além da sobremor- função disso, no caso III a relação
Muitas vezes, os principais sinais de dida e protrusão labial, que possibili- molar final foi de Classe II e no caso
uma má oclusão, como a relação tavam o fechamento dos espaços. IV de Classe I. Deve ser ressaltado
molar, protrusão alveolar e deficiên- A opinião das pacientes também que em todos os três casos os cani-
cia ou presença de espaço no arco, foi levada em consideração ao afir- nos superiores apresentavam forma
irão indicar a decisão de como lidar marem que não desejavam a inser- e cor que permitia a substituição dos
com a ausência congênita. A idade ção de próteses ou implantes. incisivos laterais.
do paciente também deve ser obser- Foram apresentadas três opções
vada, quando diagnosticado preco- diferentes de planejamento para o CONCLUSÕES
cemente, tendo o paciente um bom fechamento dos espaços de acordo Observando-se os resultados no fi-
potencial de crescimento, o fecha- com as características individuais de nal dos tratamentos pode ser concluí-
mento de espaços deve ser conside- cada paciente. Em todos os três ca- do que a recuperação de espaços para
rado pelo fato da movimentação den- sos a agenesia era unilateral, entre- inserção de implantes assim com o fe-
tária realizar-se mais facilmente tanto no caso II a paciente apresen- chamento de espaços por mecânica
quando em período ativo de cresci- tava uma coroa total no incisivo la- ortodôntica constituem-se em condu-
mento, enquanto em pacientes adul- teral superior direito, enquanto nos tas adequadas de tratamento, desde que
tos, que já não apresentam cresci- outros dois pacientes, o incisivo la- seja realizado um diagnóstico cuidado-
mento a manutenção do espaço e teral superior direito apresentava-se so e plano de tratamento em casos de
posterior confecção de próteses pode com tamanho diminuído. Outra par- dentes permanentes ausentes.

Abstract
Missing upper lateral incisors create a combination of space recuperation by insertion and closure of spaces.
disharmony between upper and lower orthodontic mechanics and prosthetic Emphasis will be given to diagnosis and
arches. The treatment of this restoration of the missing tooth. Case treatment options.
malocclusion must be based on a careful reports presenting missing upper laterals
diagnosis and treatment plan, will be described considering different Key words: Missing teeth. Space
considering the possibility of treatment plans that consisted of space recuperation. Tooth implant. Closure
orthodontically closing spaces, or a recuperation for osteointegrated implant of spaces.

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numa amostra ortodôntica privada. Feb. 1978. Aug. 1970.

Endereço para correspondência


Ary dos Santos-Pinto
Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP
Rua Humaitá, 1680 - Centro
14801-903 - Araraquara - SP

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