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R Dental Press Ortodon Ortop Facial 43 Maringá, v. 14, n. 5, p. 43-52, set./out. 2009
Expansão maxilar em adultos e adolescentes com maturação esquelética avançada
Para outros autores, contudo, a intercuspidação deficiência transversa real do arco superior18. Em
posterior pode ser conseguida por alterações den- pacientes com padrão esquelético Classe I, se ma-
toalveolares, sem a necessidade de abertura da nifesta por meio da mordida cruzada posterior
SPM14,15. Dessa forma, o objetivo desse trabalho unilateral, apesar do caráter simétrico da atresia
foi analisar e discutir fatores determinantes para o do arco superior, ou pela atresia simultânea dos
planejamento da expansão maxilar em adultos e arcos superior e inferior. Naquelas, a manifestação
adolescentes com maturação esquelética avançada. unilateral explica-se pelo deslocamento funcional
mandibular. Nos casos em que a atresia da maxila
FUNDAMENTOS TEÓRICOS não é visível, devido à atresia simultânea do arco
A deficiência transversa dos ossos maxilares se inferior, os dentes posteroinferiores, frequente-
manifesta pela mordida cruzada uni ou bilateral, mente, estão contraídos e com inclinação lingual
parcial ou total, além dos casos em que a mordida exagerada, e os dentes posterossuperiores apresen-
cruzada não está presente19. Comumente, a atre- tam grande inclinação bucal13,19,21. Nesses casos, a
sia maxilar é acompanhada do desenvolvimento oclusão posterior é aparentemente normal, mas,
vertical alveolar excessivo28, apinhamento dentá- em exame minucioso, verifica-se a maxila atrésica,
rio21,28, palato profundo e estreito, com largura in- na qual as cúspides palatinas dos dentes posteros-
ferior a 31mm (distância intermolares medida no superiores estão inclinadas para vestibular, abaixo
limite cervical)21,28 e contraído na região anterior, do plano oclusal, acentuando a curva de Wilson e,
além de grandes espaços escuros no corredor bu- frequentemente, causando interferências oclusais
cal, durante o sorriso, caracterizando a síndrome durante as funções21.
da deficiência maxilar transversa21. O tratamento da Deficiência Transversa Maxi-
Essa displasia pode se apresentar isolada ou as- lar por meio da Expansão Rápida dos Ossos Maxi-
sociada a outra deformidade esquelética postero- lares (ERM) é conhecido há mais de 140 anos, mas
anterior, sendo classificada como real ou relativa, seus aspectos clínicos, radiográficos e mecanismos
na dependência da dimensão transversa do arco de ação foram melhor definidos e difundidos após
dentário superior e relação posteroanterior das estudos realizados pelo Dr. Andrew J. Haas, na dé-
bases ósseas. A condição esquelética de Classe II, cada de 60. A partir de então, inúmeras investiga-
frequentemente, é acompanhada de constrições ções clínicas e experimentais foram relatadas na
nas dimensões transversas do arco superior, con- literatura e a ERM tornou-se um método rotinei-
ferindo à maxila forma triangular e atrésica bem ramente usado em pacientes em crescimento11,19.
característica. No entanto, a discrepância basal Em adultos, a ERM possui limitações e com-
posteroanterior de Classe II esconde o envolvi- plicações, como a resistência à expansão, ausên-
mento transversal da maxila, devido à oclusão cia ou pequena abertura da SPM, predominância
mais posterior do arco inferior. Na discrepância de expansão dentoalveolar em relação ao ganho
basal posteroanterior de Classe III, a posição do transverso da base óssea2,13,15,17, excessiva inclina-
arco dentário inferior à frente do superior acentua ção vestibular e extrusão dos dentes posterossupe-
a atresia maxilar existente ou projeta uma atresia riores, absorção da cortical óssea vestibular, reces-
inexistente18,21. Dessa forma, o diagnóstico dife- são gengival, dor, edema, ulcerações e isquemia da
rencial entre deficiência transversa real ou relativa mucosa palatal, além de elevado grau de recidiva2.
do arco maxilar pode ser feito pela análise dinâmi- É consenso na literatura que a idade e a ma-
ca dos modelos de gesso em relação de chave de turação esquelética avançada tornam o prog-
oclusão. A persistência da mordida cruzada poste- nóstico pobre11,13,19,20,23, o que está diretamente
rior na posição dentária de chave de oclusão revela relacionada ao grau do efeito ortopédico9,10,11,17.
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Em idades precoces, durante o período das den- cronológica, esquelética, morfológica, dentária e
taduras decídua, mista e permanente jovem, esse circumpuberal), a idade esquelética representa
tratamento possui grande efeito ortopédico, quan- com mais fidelidade o desenvolvimento somático
do comparado à dentadura permanente adulta, geral do indivíduo30.
pois a resposta sutural e esquelética é mais favo- A resistência do esqueleto craniofacial à ex-
rável durante o período de crescimento2,11,23. Em pansão palatal e abertura da sutura palatina me-
adultos, o aumento da dimensão esquelética trans- diana, em pacientes com maturação esquelética
versa do palato promovido pela ERM é peque- avançada, estimulou o surgimento de vários proto-
no2,15,17, sendo predominantemente dentoalveolar. colos de osteotomias maxilares como adjuntas da
Assim, a separação entre os incisivos centrais, sinal expansão (ERMAC - Expansão Rápida da Maxila
clínico de abertura da SPM, raramente ocorre14,15. Assistida Cirurgicamente) – com a finalidade de
Portanto, para muitos autores, o período durante o diminuir essa resistência1,2,5,8,20,24,26,27,28 separando
surto de crescimento ou até os 15 anos de idade o osso basal maxilar dos seus principais suportes
é considerado ideal para a realização da expansão do crânio18, de maneira segura, simples e confiável,
rápida da maxila11,19,23. para obter aumento permanente da largura maxi-
O crescimento transverso do palato pela ativi- lar8,27, com inexpressiva inclinação dentária2.
dade osteogênica da sutura palatina mediana con- Basicamente, dois procedimentos cirúrgicos
tinua até a idade de 16 anos nas meninas e 18 anos são amplamente relatados na literatura para a
nos meninos23. No entanto, o grau de sinostose da correção da deficiência transversa dos ossos ma-
sutura palatina mediana possui grande variabilida- xilares em pacientes adultos: (1) osteotomia ma-
de individual. Pearson e Thilander26, ao avaliarem xilar Le Fort I segmentada (Expansão Cirúrgica
material de autópsias humanas, encontraram um Maxilar Segmentada - ECMS), com o objetivo de
indivíduo de 27 anos sem nenhum grau de oblite- liberar a maxila dos ossos contíguos e segmentá-
ração da sutura palatina mediana. Entretanto, sa- la, para promover o reposicionamento lateral das
be-se que existe relação entre o aumento da matu- partes e a correção da atresia maxilar durante o
ração esquelética e a obliteração da sutura palatina ato cirúrgico6; e (2) osteotomia maxilar parcial
mediana29. Por isso, historicamente, a interdigitação (ERMAC), para reduzir a resistência à expansão,
da sutura palatina mediana foi responsabilizada realizada em conjunto com um dispositivo expan-
pela resistência à expansão palatal23,26. Entretanto, sor1,2,8,20,23,25,27,28. A escolha da alternativa cirúrgica
estudos têm demonstrado que a maior resistên- mais adequada deve considerar o grau de morbida-
cia à ERM é representada pelo aumento da ma- de, a quantidade de expansão planejada e a neces-
turação esquelética dos ossos adjacentes2,11,12,16,20, sidade de cirurgia ortognática após a resolução do
especialmente o osso zigomático2,11,12,20 – pela problema esquelético transverso. Indivíduos com
maior interdigitação de algumas suturas craniofa- comprometimento esquelético nos planos poste-
ciais2,8,12,16,20,27, principalmente as temporozigomá- roanterior e/ou vertical, combinado com deficiên-
tica, frontozigomática, zigomatomaxilar2,8,12,16,20,27 cia transversa da maxila, podem submeter-se a um
– e o osso esfenoide, pelo aumento da interdigita- único momento cirúrgico. No entanto, o tratamen-
ção da sutura pterigomaxilar2,16,18,25. to em dois estágios (primeiro a ERMAC e depois
A determinação do grau de maturação esque- a cirurgia posteroanterior e/ou vertical) permite
lética – por meio da análise das radiografias de maiores expansões22, com grande estabilidade28,
punho e mão – é de grande importância no diag- e elimina a necessidade de correção do problema
nóstico e plano de tratamento das más oclusões es- transverso no momento da correção cirúrgica sagi-
queléticas, pois, dentre as idades biológicas (idades tal e/ou vertical, o que simplifica a cirurgia e torna
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dos primeiros molares e de 2,8mm na região dos em indivíduos com maturação esquelética avança-
caninos. Mas vale ressaltar que 80% dessas altera- da, para discrepâncias transversas severas (maiores
ções foram dentoalveolares e a expansão foi rea- do que 7mm), onde o aumento da largura da base
lizada até a instalação de mordida cruzada bucal óssea maxilar se faz necessário para a obtenção de
superior. Utilizando a Expansão Semi-Rápida da uma oclusão satisfatória (Fig. 1, 2).
Maxila (ESRM) em adolescentes com maturação De acordo com Betts, Vanarsdall e Barber et
esquelética avançada, Iseri e Ozsoy17 conseguiram al.3, a expansão rápida da maxila deve ser limita-
2,47mm de expansão esquelética e 7,36mm de ga- da às discrepâncias suaves (menores ou iguais a
nho transverso na região dos molares, com menores 4mm) e moderadas (5 a 6mm), devido ao gran-
efeitos dentoalveolares (64%) quando comparados de componente dentoalveolar desses tratamentos.
com estudos em adultos14,15 e mais próximo dos va- Outro estudo indica que as mudanças transversas,
lores encontrados em crianças submetidas à ERM, esqueléticas e dentárias são mais estáveis com a
nos quais 56% da expansão foram decorrentes de expansão lenta da maxila imediatamente após a
deslocamento transverso dos ossos maxilares15. A abertura da SPM (ESRM – Expansão Semi-Rápida
natureza da correção da deficiência transversa dos da Maxila), o que sugere que esse protocolo pro-
ossos maxilares – seja por expansão dentoalveolar duz menor resistência às estruturas nasomaxilares
associada à inclinação dentária6,14,15,17, seja por des- e maior estímulo para o processo de adaptação das
locamento lateral da base óssea – deve ser levada estruturas circunvizinhas17.
em consideração no planejamento ortodôntico. Embora em adultos, após a expansão palatal,
Em adultos com discrepância transversa su- o ganho esquelético transverso seja relativamen-
ave (até 4mm), medida clinicamente na região te pequeno, a expansão alveolar pode ser uma
dos molares, a correção pode ser conseguida por alternativa para aumentar a largura do palato e
compensação dentária, por meio da qual os arcos promover a intercuspidação posterior ao final do
são coordenados para promover 1mm de expan- tratamento ortodôntico corretivo (Fig. 3), sem,
são nos segmentos posterossuperiores e 1mm de entretanto, promover a abertura da SPM, radio-
contração nos posteroinferiores, de cada lado3,22. graficamente analizada14,15.
Mas, segundo Haas13, a língua raramente permi- A inclinação dentoalveolar posterossuperior
te a estabilidade da contração dentária inferior. A deve ser cuidadosamente observada durante o pla-
ERMAC frequentemente é indicada para discre- nejamento da expansão palatal13, principalmente
pâncias transversas entre a maxila e a mandíbula em adultos. Handelman14 encontrou acentuado
acima de 5mm1,3,27. Medeiros e Medeiros22 reco- aumento na inclinação vestibular nos primei-
mendam a expansão cirúrgica maxilar segmenta- ros molares superiores, de 5º a 9º, após a ERM.
da para ganhos transversos de até 7mm, quando Comparando o grau de inclinação dos molares
também é necessário resolver cirurgicamente o superiores e dos processos palatinos de crianças
problema esquelético vertical e/ou posteroan- e adultos submetidos à ERM e a tratamento or-
terior. Expansão esquelética transversa acima de todôntico corretivo fixo com sistema Edgewise
7mm deve ser obtida por meio da ERMAC22. A standard, Handelman, Wang, BeGole e Haas15
relação entre o grau de severidade da discrepância constataram, nos adultos, valores próximos a 3,1
esquelética transversa entre a maxila e mandíbula ± 5,7º e 4 ± 3,9º de cada lado na inclinação ves-
e o limite para a indicação do paciente adulto à tibular dos primeiros molares e processos dento-
cirurgia ainda não são um consenso. Dessa forma, alveolares, respectivamente. Nas crianças, nenhu-
levando-se em consideração apenas a gravidade da ma alteração na angulação dos primeiros molares
má oclusão, torna-se prudente indicar a ERMAC, e processos palatinos da maxila foi observada.
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A B C
43mm
31mm
D E
FIGURA 1 - Diagnóstico clínico da discrepância transversa entre a maxila e a mandíbula. As fotografias ilustram o caso de um paciente do gênero mas-
culino, com 18 anos de idade, palato profundo e atrésico e discrepância transversa severa entre a maxila e a mandíbula (12mm), medida clinicamente.
Apresentava também mordida cruzada posterior e mordida aberta anterior, relação molar bilateral de Classe III e inclinação lingual exagerada dos dentes
posteroinferiores.
A B C
D E
FIGURA 2 - Resultado clínico e radiográfico após a ERMAC do paciente apresentado na figura 1. A, B, C) Fotografias intrabucais lateral direita, frontal e lateral
esquerda ilustrando um grande diastema interincisivos, abertura temporária da mordida (contato prematuro entre os segundos molares superiores e infe-
riores) e giro horário da mandíbula. Os dentes se encontram escurecidos devido ao uso de colutório de clorexidina a 0,12% no pós-operatório. D) Fotografia
intrabucal oclusal mostrando o aumento na largura do palato e do comprimento do arco superior. E) Radiografia oclusal da maxila ilustrando a abertura da
sutura palatina mediana.
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A B
FIGURA 3 - Fotografias intrabucais oclusais superiores mostrando o aspecto clínico transverso: A) antes e B) após a ERM. Paciente do gênero feminino com
18 anos de idade: ficam evidentes, principalmente, as alterações transversas dentoalveolares.
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Expansão maxilar em adultos e adolescentes com maturação esquelética avançada
A C
D
FIGURA 4 - Aspecto clínico transverso antes e após a ERMAC utilizando aparelho expansor tipo Haas. Paciente com 19 anos de idade, do gênero feminino,
com perdas dentárias múltiplas e periodonto de sustentação abalado. A) Fotografia intrabucal frontal mostrando severa discrepância transversa entre a
maxila e a mandíbula, mordida cruzada total e grande inclinação lingual dos dentes posteroinferiores. B) Fotografia intrabucal oclusal superior ilustrando a
severa deficiência transversa da maxila e ausências dentárias (12, 15, 16, 17, 24, 25 e 26). C) Após a ERMAC, com grande diastema interincisal, melhora na
relação transversa entre a maxila e a mandíbula, abertura temporária da mordida (contato prematuro devido à sobrecorreção) e giro horário da mandíbula.
D) Após o tratamento corretivo fixo, mostrando grande aumento na largura do palato e no comprimento do arco superior.
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Abstract
The transverse maxillary deficiency is a complication factor in adults’ orthodontic treatment. Its correction still
generates doubts and controversies between clinicians and researchers. The aim of this paper is to discuss the
determinative factors in planning maxillary expansion in adults and adolescents with advanced skeletal matura-
tion. Multiple dental absences, several dentoalveolar buccal inclination, gingival recession, alveolar bone loss and
mobility of posterosuperior teeth contraindicate the rapid maxillary expansion in adults or patients with advanced
skeletal maturation. However, these factors should not be considered separately when choosing the method for
palatal expansion in adults. In these situations Surgically Assisted Rapid Maxillary Expansion (SARME) can be an
option. And the choice of the surgical technique (SARME) should focus mainly the patient’s age, grade of skeletal
maturation, anatomical structures that offer more resistance to the maxillary expansion and location of the palatal
constriction. Hyrax is the expander appliance more indicated for patients that will be submitted to SARME.
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Expansão maxilar em adultos e adolescentes com maturação esquelética avançada
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