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Orthod. Sci. Pract. 2014; 7(28):439-448.

COLUNA COMO SE FAZ


439

Eduardo Prado1

Tratamento da Classe III em adultos sem cirurgia ortognática


A má oclusão de Classe III é muito difícil de se diagnosticar e tratar, e o tratamento ortodôntico pre-
coce tem sido a principal forma de tratamento para os pacientes que apresentam esta deformidade, com
envolvimento dentário e/ou esquelético3,4,5,8,15,17, geralmente com a utilização de máscaras faciais, mento-
neiras, aparelhos funcionais para Classe III21,48,49. Portanto, a fase de crescimento em que o paciente se en-
contra, seu potencial de cooperação, hereditariedade e, principalmente, as estruturas anatômicas envolvi-
das nesta má oclusão irão influenciar nos resultados de qualquer tipo de terapia conservadora14,25,27,34-37,46.
Entretanto, alguns pacientes que não foram tratados precocemente ou apresentaram recidiva do trata-
mento precoce durante a fase de surto de crescimento, muitas vezes recorrem ao tratamento ortodôntico
na dentadura permanente. Normalmente, nesta fase o prognóstico do tratamento torna-se mais difí-
cil3,5,8,15,17,45. Sabe-se que a maioria dos pacientes que apresentam esta deformidade, geralmente tornam-
-se sérios candidatos à cirurgia ortognática. O principal problema é que os pacientes que são relutantes em
relação à cirurgia, ou encontram-se relativamente satisfeitos com a sua aparência, buscam uma alternativa
conservadora. O que queremos demostrar é uma das únicas alternativas para estes pacientes que não
buscam a cirurgia, o tratamento por meio de uma compensação dentoalveolar. Obviamente, a terapia
cirúrgica produziria um melhor resultado estético ao perfil do que a simples compensação ortodôntica7,18.
Contudo, muitos pacientes questionam o tratamento cirúrgico, na maioria das vezes, pelo seu risco e alto
custo. Este tipo de plano cirúrgico sob anestesia geral comumente é rejeitado pelos pacientes e seus pais31,
assim como ocorreu com todos os pacientes selecionados neste artigo. Infelizmente um grande número
de ortodontistas acredita que a intervenção cirúrgica para pacientes adultos que apresentam este tipo de
problema seria a única alternativa para o restabelecimento de uma oclusão normal. Isto ocorre, princi-
palmente, por desconhecerem os resultados das alterações de uma mecânica conservadora, embora na
literatura alguns relatos de casos clínicos19,20,29,30,38,39,41 demonstrem as respostas individuais em pacientes
de Classe III tratados sem cirurgia.
Neste artigo apresentaremos a técnica Biofuncional Classe III por meio de alguns pacientes que apre-
sentavam inicialmente má oclusão esquelética e dentária de Classe III e rejeitaram a opção cirúrgica pelos
motivos já relatados anteriormente.

1
Especialista, Mestre e Doutor em Ortodontia – FOB/USP.

E-mail do autor: jeduardoprado@uol.com.br


Recebido para publicação: 17/02/2014
Aprovado para publicação: 25/10/2014

Como citar este artigo:


Prado E. Tratamento da Classe III em adultos sem cirurgia ortognática. Orthod. Sci. Pract. 2014; 7(28):439-448.
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Apresentação da técnica e prescrição biofuncional ticos de Classe III, estes tendem a inclinar-se mais lingual-
Os pacientes que apresentam uma discrepância maxilo- mente. Portanto, a intenção do torque incorporado nos
mandibular excessiva geralmente apresentam compensações bráquetes é neutralizar os efeitos colaterais desta mecânica,
dentárias que são observadas principalmente na região dos fazendo com que os dentes ficassem sujeitos ao movimento
incisivos6,11,13,24. Os incisivos superiores tendem a se inclinar de corpo. Talvez este movimento de corpo pudesse induzir a
para vestibular e os inferiores para lingual na tentativa de uma maior resposta de remodelação alveolar51. Para os inci-
compensar o problema esquelético6,11,13,24. Alguns autores40,42 sivos superiores, os acessórios desta técnica apresentam tor-
afirmam que a compensação da Classe III é mais complicada que zero e para os inferiores, acentuado torque vestibular,
do que a Classe II, não porque a movimentação dos dentes +10 graus (Tabela 1). O mais interessante é que a literatura
seja mais complexa, mas porque seria mais difícil de atingir evidencia de uma forma geral a preconização de um torque
aspectos estéticos aceitáveis. acentuadamente vestibular nos incisivos superiores e lingual
Alves2 (2003), idealizador da técnica, já relatava que nos inferiores. Capelozza Filho9 (1999) recomenda em sua
para se obter um alto grau de satisfação com os resultados prescrição individualizada para os casos de Classe III com
clínicos e funcionais proporcionados pela técnica Biofuncio- tratamento compensatório, um torque positivo de 10 graus
nal, o torque deveria ser acentuadamente para vestibular para os incisivos laterais e de 14 graus para os centrais, já
nos incisivos inferiores. Porque ao realizarmos a retração para o arco inferior, recomenda-se uma inclinação negativa
desses dentes associada à força proporcionada pelos elás- para os incisivos de 6 graus.

Tabela 1 – Prescrição dos bráquetes da técnica biofuncional.


Dentes inferiores Inclinação Angulação Dentes superiores Inclinação Angulação
Incisivos Centrais +10º 0º Incisivos Centrais 0º 0º
Incisivos Laterais +10º 0º Incisivos Laterais 0º 0º
Caninos 0º 0º Caninos -2º +7º
1º Pré-Molares -14º 0º 1º Pré-Molares -7º 0º
2º Pré-Molares -22º 0º 2º Pré-Molares -7º 0º
1º Molares -30º 0º 1º Molares -14º 0º
2º Molares -35º 0º 2º Molares -14º 0º

Sequência da técnica res de aço neste conjunto de acessórios com torques inverti-
A alternativa conservadora para os pacientes que apre- dos, presentes na prescrição Biofuncional, faz com que estes
sentam Classe III esquelética pode ser feita da seguinte for- efeitos colaterais de inclinação excessiva na região anterior
ma: após a instalação dos bráquetes com a prescrição Bio- dos arcos, resultantes da utilização dos elásticos, sejam mi-
funcional, recomenda-se o uso de elásticos anteriores por nimizados ou até corrigidos.
meio de botões colados na palatina dos incisivos centrais e
apoiado sobre os ganchos que se encontram nos bráquetes
dos incisivos laterais inferiores, desde o primeiro fio de ni-
velamento até que estes dentes estejam descruzados. Nesta
primeira fase, devemos principalmente nos preocupar em
descruzar a mordida anterior e utilizamos os fios 0,014 Niti
e 0,018 Niti. Após o descruzamento da mordida anterior, re-
alizada durante o alinhamento e nivelamento, a tendência é
A B
observarmos até uma maior inclinação desses dentes. Numa
segunda fase, após o descruzamento da mordida anterior
evolui-se até o fio 0,019” x 0,025” Niti no arco superior.
Associa-se então ao superior um arco auxiliar de expansão
(fio 0,6 de aço inserido na altura do tubo dos molares) que
é amarrado na região dos incisivos, com a finalidade de pro-
mover o descruzamento da mordida posterior (Figura 1).
Após isto, evolui-se até os fios retangulares de aço 0,019”
x 0,025” para a utilização dos elásticos intermaxilares de C D
Classe III. Consequentemente, a inserção de fios retangula- Figura 1 (A-D) – Arco auxiliar de expansão.
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Relato de caso I
A paciente N.T., 18 anos, procurou o curso de pós-gra- A paciente foi tratada por meio da técnica Biofuncional
duação em Ortodontia em Lisboa - Portugal, pois havia sido e foram extraídos o dente 36 e o 46. O alinhamento e nive-
indicada por um cirurgião-dentista para a correção do seu lamento dos arcos foram realizados com fios redondos 0,014
problema esquelético. Entretanto, a paciente apresentava- e 0,018 Niti, juntamente com o descruzamento anterior por
-se relutante em relação à cirurgia devido ao seu alto custo meio de elásticos anteriores (Figura 4).
e risco, além de afirmar estar relativamente satisfeita com a Esses elásticos anteriores podem ser utilizados até alcançar-
sua aparência. O mais interessante é que a sua família apre- mos os fios retangulares 0,019” X 0,025” Niti nos arcos superior
sentava um histórico familiar de Classe III. A paciente apre- e inferior. Todavia, no momento em que se evoluiu para os fios
sentava falta de selamento labial, perfil côncavo evidenciado retangulares de aço, a paciente passou a utilizar integralmente
por uma diminuição do lábio superior, característica de uma os elásticos de Classe III e, ao mesmo tempo, realizou-se a mecâ-
deficiência vertical maxilar em uma avaliação morfológica nica de fechamento de espaços das exodontias (Figura 5).
facial frontal (Figura 2). Já o lábio inferior, à frente do su- A colaboração da paciente quanto ao uso de elásticos
perior, é característico principalmente quando a quantidade também foi excelente. O tratamento foi realizado em trinta
de compensação dentária torna-se insuficiente para norma- meses, e observou-se um satisfatório alinhamento associa-
lizar o trespasse horizontal. Além disso, pôde-se notar uma dos a uma relação de Classe I de caninos e molar em am-
deficiência maxilar, pois a paciente apresentava deficiência bos os lados. A fotografia extrabucal do final do tratamento
da projeção do zigomático, ausência de depressão infraor- demonstrou uma extrema melhora no perfil facial, que até
bitária e até um suave estreitamento da largura nasal (Figura tornou-se suavemente convexo (Figura 6). O lábio superior
2). Além dos problemas já citados, a paciente também tinha foi protruído e apresentou-se um pouco à frente do inferior.
uma mordida aberta esquelética difícil de ser corrigida de for- A paciente mostrou-se extremamente satisfeita com o trata-
ma conservadora (Figura 3). Para muitos ortodontistas, este mento realizado sem cirurgia. Verificou-se também uma boa
tipo de perfil facial em adultos somente poderia ser corrigido intercuspidação, contato proximal e um satisfatório trespasse
por meio de cirurgia ortognática. Intraoralmente, a paciente vertical (Figuras 7 e 8). A melhora no sorriso e no perfil foram
apresentava relação molar de Classe III associada à mordida significativas assim como podemos observar comparando-se
cruzada anterior. as fotos iniciais e finais (Figuras 9 e 10)

Figura 2 (A-B) – Fotos iniciais frontal e perfil


evidenciando a concavidade facial, deficiência
maxilar, retrusão do lábio superior e protrusão da
A B lábio inferior, falta de selamento labial.
Prado E.

A B C
Figura 3 (A-C) – Fotos intrabucais iniciais: além da severa mordida aberta anterior, mordida cruzada anterior e posterior do lado esquerdo.
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Figura 4 – Botão colado na palatina dos inci-


sivos superiores apoiado sobre os ganchos do
tipo Kobayashi inseridos nos incisivos laterais
inferiores.

A B C
Figura 5 (A-C) – Retração da bateria anterior inferior e elásticos intermaxilares de Classe III.

Figura 6 (A-B) – Fotografias finais demons-


trando uma melhora no perfil facial da paciente,
do ângulo nasolabial e bom posicionamento do
lábio superior, além da correção do trespasse
A B vertical.

A B C
Figura 7 (A-C) – Fotografias finais demonstrando uma boa intercuspidação e correção da mordida aberta anterior.
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A B
Figura 8 (A-B) – Correção do trespasse vertical e da mordida cruzada anterior. Fotografias intrabucais: A) inicial e B) final.

Figura 9 (A-B) – Melhora do sorriso através


da correção da mordida aberta e extrusão dos
incisivos. Fotografias extrabucais: A) inicial e B)
A B final.

Figura 10 (A-B) – Melhora do perfil facial.


Pode-se observar o labio superior à frente do in-
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ferior após a correção. Fotografias extrabucais:


A B A) inicial e B) final.
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Relato de caso II
A principal razão pelo qual a paciente A.C.L., do gêne- corrigiu-se a linha media dentária (Figura 17), e tambem houve
ro feminino procurou tratamento ortodôntico aos 25 anos foi uma melhora do perfil e da assimetria esquelética (Figuras 18 e
tentar melhorar a aparência e a “estética” dental. O exame clí- 19), além da grande melhora das relações oclusais (Figura 20).
nico frontal demonstrou uma grande assimetria facial, associa-
do um desvio de linha média, geralmente presente em pacien- Remodelação óssea em adultos
te com Classe III esqueletica23 (Figura 11). O perfil da paciente Vale ressaltar que não conseguimos alterar o perfil es-
era côncavo, devido principalmente a uma deficiência de maxi- quelético de origem genética do paciente com o tratamento
la, confirmada posteriormente pela cefalometria (Figura 11). O conservador, comparados a cirurgia ortognática32. Entretan-
exame intrabucal mostrou uma relação de Classe III de molar e to, as alterações ocorridas em relação às porções dentoalve-
canino do lado direito, constatando-se também uma mordida olares na maxila e na mandíbula, principalmente em relação
cruzada anterior e a perda do 26 (Figura 12). A linha média su- aos casos clínicos I e II, foram além das expectativas, como
perior encontrava-se coincidente com o plano sagital mediano, podemos observar ao compararmos os perfis finais e iniciais
e a linha média inferior estava desviada para a esquerda. nestes pacientes (Figuras 10 e 19). Nesses casos, a alteração
Os objetivos do tratamento consistiram em corrigir a mor- do posicionamento das bases ósseas pode ter ocorrido prova-
dida cruzada anterior, o apinhamento superior e inferior, as- velmente devido a uma “remodelação óssea” na maxila e na
sim como o desvio da linha média inferior, e também fechar o mandíbula, resultante da alteração sagital dos pontos A e B
espaço da perda do 26. A correção dessas alterações, prova- passíveis de mudanças com a terapia ortodôntica23. Na reali-
velmente poderiam melhorar a estética da paciente significan- dade, esses resultados muitas vezes até superaram as nossas
temente. Da mesma forma que o caso anterior, instalou-se o expectativas28, portanto, pode-se afirmar que a morfologia
sistema pré-ajustado Biofuncional para Classe III. Iniciou-se o desses pacientes adultos com essas modificações esqueléticas
alinhamento e nivelamento dos arcos superior e inferior, evo- nunca mais será a mesma. No entanto, apesar da literatura
luindo até o arco 0,019” X 0,025” Niti. Após o descruzamento ter demonstrado que os pacientes com má oclusão de Classe
da região anterior, a paciente foi orientada a utilizar elásticos III tratados precocemente apresentem uma melhora da me-
de Classe III e diagonais para auxiliar na correção da linha mé- dida ANB, subsequentemente este ângulo piora no período
dia e coordenação dos arcos (Figura 13). Após isso iniciou-se a pós-tratamento12,14,26,47. Deguchi16 (1996) e Ulgen49 (1994)
intercuspidaçao na região dos caninos (Figura 14) também observaram uma diminuição em média de 1.8º no
O êxito estético obtido por meio da correção da linha mé- ANB durante o período de pós-contenção, provavelmente
dia foi marcante, resultando em uma grande melhora da assi- devido ao crescimento residual presentes nesses pacientes.
metria facial, assim como do perfil (Figura 15). As fotografias Esta recidiva não ocorre nos pacientes adultos. Finalmente,
intrabucais demonstraram uma relação de Classe I de canino e deve-se ressaltar a extrema modificação no perfil facial, con-
molares em ambos lados, com a sobressaliência e sobremordi- firmada pela diminuição do ângulo nasolabial em torno de
da dentro dos padrões de normalidade (Figura 16). Além disso 20º, visivelmente observado no perfil facial dos pacientes.

A B C
Figura 11 (A-C) – Fotos iniciais extrabucais: A) frontal, B) perfil e C) sorrindo. Paciente apresenta assimetria facial.
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A B C
Figura 12 (A-C) – Fotos intrabucais iniciais demonstrando Classe III do lado esquerdo, ausência do 26, linha média inferior desviada para a esquerda e
mordida cruzada anterior.

Figura 13 – Retração da bateria anterior, juntamente ao elástico de Clas- Figura 14 – Linhas médias corrigidas e intercuspidação posterior.
se III.

Figura 15 (A-B) – Fotos finais extrabucais:


A) frontal e B) perfil finais, onde observa-se uma
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melhora principalmente na assimetria do perfil


A B facial.
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A B C
Figura 16 (A-C) – Fotografias finais: relação de Classe I de caninos associados a uma boa intercuspidação do ponto de vista estético e funcional.

A B
Figura 17 (A-B) – Correção da linha média e da mordida cruzada anterior.

Figura 18 (A-B) – Melhora da assimetria es-


A B quelética. A) inicial e B) final.

Figura 19 (A-B) – Melhora do perfil e da


A B posição do lábio superior. A) inicial e B) final.
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A B

C D

Figura 20 (A-D) – Correção da Classe III e da mordida cruzada anterior. A-B) Intrabucais iniciais e C-D) intrabucais finais.

Componente dentoalveolar com a prescrição indivi- fazendo com que os dentes fiquem sujeitos ao movimento de
dualizada para Classe III corpo2,28. Como foi observado, a efetividade do acentuado tor-
Alguns autores questionam sobre o posicionamento do que lingual superior e vestibular inferior presente na região an-
osso hióide, padrão de atividade muscular, e também se a pos- terior nos arcos atuou de forma eficaz nos pacientes relatados
tura da língua influenciariam na má oclusão de Classe III1,22,33 (Figuras 8 e 20).
. Entretanto, podemos afirmar que algumas das característi-
cas presentes nos pacientes que apresentam uma discrepância Conclusão
maxilomandibular excessiva são observadas principalmente na
região dos incisivos6,11,13,24,43. Os incisivos superiores tendem a A literatura mundial somente tem demonstrado relatos de
se inclinar para vestibular e os inferiores para lingual na ten- casos clínicos conservadores no tratamento da Classe III, en-
tativa de compensar o problema esquelético6,11,13,24, como se tretanto nenhum deles discute prescrição de braquetes44,50,52,53
observou nos pacientes anteriormente descritos. Realmente, e os resultados expressos por este protocolo produziram re-
ao observarmos a inclinação vestibular excessiva dos incisivos sultados extremamente satisfatórios nos pacientes tratados.
inferiores da paciente N.T (Figura 3), parece incoerente uma Porém, a individualização na prescrição dos bráquetes para os
tentativa heroica de não submeter este tipo de paciente à ci- pacientes que apresentam uma relação molar de Classe III nos
rurgia ortognática. Definitivamente, o objetivo terapêutico dos estudos pertinentes é totalmente o contrário aos previstos na
torques vestibulares incorporados nesta técnica é a correção prescrição Biofuncional2,10,28. No entanto, este trabalho obser-
do posicionamento radicular. Os incisivos superiores, foram ex- vou a efetividade desta terapia somente nestes três casos. Por-
truídos e protruídos, já os incisivos inferiores além de extruídos, tanto, a realização de uma pesquisa, com uma amostra maior,
foram retruídos devido às exodontias do 36 e do 46 e posterior seria necessária para avaliar a eficiência da técnica.
fechamento dos espaços. Como consequência, ocorreu uma
rotação considerável do plano oclusal no sentido anti-horário. Agradecimentos
Além do impacto estético, uma apropriada resposta dentoal-
veolar foi essencial para o sucesso deste caso. Especula-se en- Este artigo contou com a colaboração de várias pessoas
tão, que o principal fator responsável para que ocorresse uma que ao longo dos anos têm contribuído na minha vida pro-
remodelação dentoalveolar nos arcos superior e inferior dos fissional: Pedro Andrade Júnior, Flávio Andrade Alves, Prof.
pacientes tratados neste artigo, seria resultante do sistema de Dr. Guilherme Janson, Ana Margarida Vieira, a minha esposa
bráquetes e da mecânica utilizada. Portanto, por mais parado- Raquel e aos professores e alunos do CEAO de São Paulo,
Prado E.

xal que possa parecer, a intenção do torque incorporado nos Sobresp em Santa Maria (RS) e de Portugal, que conduziram
bráquetes é neutralizar os efeitos colaterais desta mecânica, os pacientes tratados nos cursos de pós-graduação.
448 Orthod. Sci. Pract. 2014; 7(28):439-448.

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