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CASO CLÍNICO

Tratamento compensatório da má oclusão de Classe II com


o uso de elásticos intermaxilares
Thiago José Nunes Ribeiro Ferreira1 1) Especialista em Ortodontia pela FACSETE ICOS
(Joinville/SC).
Claudia Cristina da Silva 2
2) Especialista em Ortodontia pela Uningá (Bauru/SP).
3) Professor do Curso de Mestrado em Ortodontia da
Fabricio Pinelli Valarelli3
Faculdade Ingá (Maringá/PR).
Karina Maria Salvatore de Freitas4 4) Coordenadora do Curso de Mestrado em Ortodontia da
Faculdade Ingá (Maringá/PR).
Rodrigo Hermont Cançado5
5) Professor do Curso de Mestrado em Ortodontia da
Faculdade Ingá (Maringá/PR).

Introdução: A má oclusão de Clas- discrepância óssea, tratado compen- quando a cirurgia ortognática é rejei-
se II é caracterizada por uma dis- satoriamente com auxílio de elásticos, tada pelo paciente; no entanto, é ne-
crepância dentária anteroposterior sem extrações e sem intervenção ci- cessário conscientizá-lo a colaborar
que, geralmente, está acompanhada rúrgica. A relação anteroposterior com o tratamento e, para isso, o orto-
por alterações esqueléticas. Objeti- oclusal foi corrigida por meio de dontista deve enfatizar a motivação.
vo: apresentar o relato de um caso elásticos intermaxilares. O tratamento Palavras-chave: Má oclusão Clas-
com má oclusão de Classe II, divisão compensatório com auxílio de elásti- se II de Angle. Ortodontia corretiva.
74 1, com o crescimento estabilizado e cos torna-se vantajoso ao ortodontista Movimentação dentária.

Compensatory treatment of Class II malocclusion with the use of intermaxillary elastics


Introduction: Class II malocclusion is charac- compensatorily treated with the aid of elas- orthognathic surgery is rejected, however it
terized by an anteroposterior dental discrep- tics, without extractions and without sur- is necessary to warn the patient to cooperate
ancy, which is usually accompanied by skel- gery. The sagittal relation was corrected by with treatment, so the orthodontist should
etal changes. Objective: To present the case intermaxillary Class II elastics. The compen- emphasize motivation. Keywords: Malocclu-
report of a Class II division 1 malocclusion satory treatment with the aid of elastics be- sion, Angle Class II. Orthodontics, corrective.
with stable growth and bone discrepancy, comes advantageous to the orthodontist when Tooth movement.

Como citar este artigo: Ferreira TJNR, Silva CC, Valarelli FP, Freitas KMS, Cançado RH. Tratamento compensatório da má Os autores declaram não ter interesses associativos, comer-
oclusão de Classe II com o uso de elásticos intermaxilares. Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Out-Nov;15(5):74-84. ciais, de propriedade ou financeiros que representem confli-
to de interesse nos produtos e companhias descritos nesse
Enviado em: 30/01/2015 - Revisado e aceito: 11/12/2015.
artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo

DOI: http://dx.doi.org/10.14436/​1676-6849.15.5.074-084.art autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias


faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
Endereço para correspondência: Karina Freitas - Rua Jamil Gebara 1-25 – apto. 111 – CEP: 17.017-150 – Bauru/SP
E-mail: kmsf@uol.com.br

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Tratamento compensatório da má oclusão de Classe II com o uso de elásticos intermaxilares

INTRODUÇÃO paciente apresentar um perfil convexo, com pro-


Com a evolução nas pesquisas e sempre visan- trusão de maxila e boa projeção dos lábios supe-
do um tratamento eficiente, hoje pode-se dizer que riores. Nos pacientes com perfil reto ou grande
existem várias alternativas para o tratamento de retrusão mandibular, em que as extrações supe-
pacientes com má oclusão de Classe II1,2. Essa má riores podem refletir em uma diminuição do supor-
oclusão apresenta alta incidência na população te do lábio superior — com consequente retração
e representa uma das mais frequentes alterações dos lábios e aumento do ângulo nasolabial —,
oclusais existentes3. Um estudo realizado no Bra- a indicação de extrações dentárias não é a me-
sil encontrou porcentagens de 48% em crianças e lhor opção de tratamento3.
42% em adultos .
4
O tratamento compensatório com o uso do
A correção dessa má oclusão em pacientes elásticos torna-se uma opção vantajosa, em
adultos representa um desafio ainda maior para o relação às extrações dos pré-molares, para
ortodontista. Um fator que aumenta a complexida- os pacientes com retrusão da mandíbula que
de do tratamento de pacientes adultos com Clas- apresentam sobressaliência aumentada. O uso
se II é a deficiência de mandíbula, mostrando um de elásticos na Ortodontia teve início no final
perfil desfavorável simultaneamente a um ângulo do século XIX e tem sido incrementado com a
nasolabial aumentado. melhora de suas propriedades7. No entanto, os
Dessa maneira, e levando-se em considera- resultados estimados são diretamente proporcio-
ção as características da Classe II em pacientes nais à frequência do uso de elásticos, por parte
adultos, são observadas duas linhas de raciocínio: do paciente. Assim, o profissional que consegue
tratamento cirúrgico ou tratamento compensatório. conscientizar o paciente sobre a importância
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Entretanto, extrações dentárias na arcada superior que eles exercem no tratamento tem grandes
podem alterar muito o perfil do paciente, piorando chances de sucesso8. A motivação é o ponto
a estética e harmonia da face5. crucial para a colaboração do paciente9.
Tais dificuldades levam os profissionais a Assim, o presente trabalho tem o objetivo de
pensar, em um primeiro momento, na cirurgia apresentar o tratamento, por meio de elásticos in-
ortognática, principalmente quando a má oclu- termaxilares, de um paciente Classe II com perfil
são está associada a uma severa discrepância suavemente convexo, deficiência mandibular, so-
esquelética5. No entanto, outros aspectos ex- mada à rotação horária da mandíbula.
tra-diagnósticos devem ser considerados, pois
dificultam o poder de persuasão do cirurgião- DIAGNÓSTICO
-dentista em relação à aceitação da cirurgia: O paciente, com 21 anos de idade, sexo
fator econômico; medo em relação ao proce- masculino, realizou consulta buscando tratamen-
dimento cirúrgico; tempo de afastamento do to ortodôntico. Apresentava simetria da face,
trabalho, em decorrência da cirurgia; doenças lábios com selamento passivo, músculo mental
sistêmicas; e a própria vontade do paciente, normal, respiração e dicção normais; tinha bom
que deve ser respeitada .6
estado geral de saúde e não relatou histórico de
Existindo a rejeição da cirurgia ortognática, doença sistêmica; não apresentava hábito postu-
o tratamento com extrações de dois pré-mola- ral e, do ponto de vista estético, exibia um perfil
res superiores pode ser considerado quando o suavemente convexo (Fig. 1).

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Na análise intrabucal, observou-se má oclu- intercuspidação habitual (Fig. 2 e 3). Na radio-


são de Classe II, divisão 1, com severidade grafia panorâmica e na telerradiografia de perfil
moderada; sobremordida profunda; girover- iniciais, observou-se: presença de todos os den-
são dos dentes número 12, 11, 21, 22, 24, tes permanentes, inclusive os terceiros molares;
34 e 44; linha média superior não coinciden- restauração extensa no dente #46; rotação da
te com a inferior; higienização aceitável; curva mandíbula no sentido horário; deficiência mandi-
de Spee acentuada; trespasse horizontal de bular; maxila suavemente protruída em relação à
4,6 mm; trespasse vertical de 5,7 mm e diaste- base do crânio (SNA = 85°) e mandíbula retruí-
mas anteroinferiores. Na manipulação da man- da em relação à base do crânio (SNB = 77°),
díbula, não apresentava desvios funcionais da com diferença de 8°(ANB) entre essas bases, e
posição de relação cêntrica para a de máxima Wits de 7,6 mm (Fig. 4).

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A B C

Figura 1: Fotografias extrabucais iniciais.

A B C

Figura 2: Fotografias intrabucais iniciais.

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A B

Figura 3: Fotografias intrabucais oclusais iniciais.

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A B

Figura 4: Radiografia panorâmica e telerradiografia iniciais.

OBJETIVOS DO TRATAMENTO PLANO DE TRATAMENTO


Os objetivos do tratamento incluíam compen- Com base no diagnóstico, observou-se a possi-
sar a discrepância esquelética anteroposterior, bilidade de uma intervenção cirúrgica para avanço
com uso de elásticos de Classe II, além de man- de mandíbula, opção rejeitada desde o início pelo
ter a relação transversa das arcadas. Também paciente. Dessa forma, um tratamento compensatório
foram planejados o estabelecimento da relação foi definido como plano de tratamento. A compensa-
de chave de oclusão nos molares, a obtenção do ção dos dentes poderia ser realizada com o uso de
alinhamento e contatos justapostos para correção elásticos intermaxilares de Classe II ou com uso de
dos diastemas na região anteroinferior e a redu- um propulsor mandibular como o Herbst, Forsus (3M
ção da sobressaliência. Unitek, EUA) ou Twin Force (Ortho Organizers, EUA).

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O profissional optou por realizar a correção des- de Classe II; 0,019” x 0,025” aço, também com
sa má oclusão por meio do uso de elásticos inter- torques resistentes nos incisivos superiores; por
maxilares de Classe II. fim, foram usados, por 27 meses, elásticos 3/16”
médios de Classe II (Fig. 6) e, depois, foi realiza-
PROGRESSO DO TRATAMENTO da a intercuspidação e o detalhamento do caso.
Os objetivos do tratamento consistiram na Ao final, foram confeccionadas as contenções su-
correção da Classe II de ambos os molares su- perior (placa de Hawley) e inferior (3 x 3).
periores, recorrendo-se ao auxílio dos elásticos
intermaxilares. Após a colocação dos acessórios RESULTADOS DO TRATAMENTO
ortodônticos prescrição Roth slot 0,022” x 0,028”, Foram alcançados os objetivos propostos, que
com o intuito de alinhamento e nivelamento eram a obtenção de uma intercuspidação dentária
(Fig. 5), foi seguida a seguinte sequência de ar- estável e um bom resultado estético. No exame
cos: 0,014” Nitinol; 0,016” Nitinol; 0,018” aço funcional, não houve sinais ou sintomas de disfun-
com acentuação da curva de Spee superior e ção articular. A deglutição estabelecida foi consi-
reversão da curva de Spee inferior, para a cor- derada normal. O perfil facial apresentou suave
reção da sobremordida; 0,020” aço, também melhora (Fig. 7). Obteve-se a oclusão em chave
com acentuação e reversão da curva de Spee; de Classe I de molares e caninos, contatos justa-
0,017” x 0,025” retangular de aço com torque postos, ausência de rotações e giroversões, den-
ativo vestibular nos incisivos superiores, com o in- tes bem posicionados na tábua óssea, trespasses
tuito de controlar os efeitos colaterais do elástico vertical e horizontal corretos (Fig. 8 e 9).

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A B C

Figura 5: Fotografias intrabucais da fase de alinhamento e nivelamento.

A B C

Figura 6: Fotografias intrabucais ilustrando o uso dos elásticos intermaxilares de Classe II.

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A B C

Figura 7: Fotografias extrabucais finais.

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A B C

Figura 8: Fotografias intrabucais finais.

A B

Figura 9: Fotografias intrabucais oclusais finais.

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DISCUSSÃO É necessário ser criterioso em relação ao enca-


No caso da cirurgia ortognática, especifica- minhamento para realização da cirurgia ortognáti-
mente, estudos constataram, no pós-operatório, a ca. A expectativa do paciente em relação à alte-
presença de sintomas depressivos e distúrbios orgâ- ração da estética facial é um dos principais fatores
nicos nos pacientes e ressaltaram a necessidade de em que o profissional deve se basear. Quando o
uma avaliação e preparação pré-operatória desses paciente não deseja se submeter ao procedimento
pacientes, além de um acompanhamento pós-ope- cirúrgico, deve-se abrir o leque de opções para
ratório extremamente cuidadoso. E também existe a a realização de uma Ortodontia por camuflagem
possibilidade, embora pequena, de insucesso cirúr- da discrepância esquelética10-13. A descrição do
gico por ocorrência de infecção ou rejeição e, con- presente caso clínico mostra o uso do elástico de
sequentemente, uma intervenção cirúrgica em vão . 10
Classe II como alternativa ao tratamento cirúrgico.
Quanto à complexidade da cirurgia ortognáti- Além da alternativa de tratamento com o uso
ca e os fatores biopsicossociais envolvidos, é im- de elásticos de Classe II, poder-se-ia ter usado al-
portante manter uma visão da totalidade do pa- gum propulsor mandibular, como o Herbst, Forsus
ciente, de modo que a busca e a conservação da (3M Unitek, EUA) ou Twin Force (Ortho Organi-
saúde sejam permeadas por cuidados — no mes- zers, EUA). No entanto, o profissional em questão
mo nível de importância — com os aspectos físicos, preferiu usar os elásticos, pela facilidade e menor
psicológicos e religiosos . Quando busca recur-
10
custo ao paciente, que se mostrou colaborador e
sos odontológicos para restaurar sua aparência, aprovou o plano de tratamento escolhido. Com-
o paciente está buscando, também, recuperar parativamente, muitos dos efeitos dos elásticos se
sua imagem pessoal e social — sendo, esses, as- assemelham aos efeitos do uso de propulsores
80
pectos que assumem relevância na decisão quan- mandibulares em pacientes adultos, incluindo a
to à cirurgia ortognática. proclinação dos incisivos inferiores.
Ao dar informações corretas e realistas, além Para a avaliação das alterações ocorridas com
de mostrar os riscos e benefícios, o profissional não o tratamento (Fig. 10), além da obtenção dos va-
provoca falsas ilusões. Dessa forma, o cirurgião lores cefalométricos tradicionais, foram utilizadas
não deve considerar o paciente apenas como um sobreposições parciais da maxila e da mandíbula
organismo, mas sim como um indivíduo que é pro- (Fig. 11). A sobreposição cefalométrica entre o ini-
duto de uma história pessoal e cultural, com senti- cio e o fim do tratamento permite a visualização
mentos, aspirações, desejos, sonhos e memórias. das alterações verificadas durante o tratamento.

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A B

Figura 10: Radiografia panorâmica e telerradiografia finais.

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Figura 11: Sobreposições total e parciais dos traçados cefalométricos inicial (preto) e final (verde).

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Como o paciente apresentava uma sobremordida Nos incisivos inferiores, o efeito de vestibula-
acentuada (quase cobrindo totalmente os incisivos in- rização já era esperado e foi confirmado com
feriores), com rotação da mandíbula no sentido horá- um aumento em 5º da medida 1.NB, passando
rio, a mecânica de reversão de curva de Spee inferior de 29,6º para 34,4º. O IMPA também aumen-
poderia causar uma maior rotação da mandíbula no tou, de 95,9º para 101,9º, confirmando essa
sentido horário, piorando o perfil facial do paciente. informação; enquanto isso, a distância entre o
Dessa forma, a intrusão dos incisivos inferiores seria a longo eixo e a linha NB manteve-se quase está-
forma ideal de correção da sobremordida. vel. Ocorreu apenas a intrusão relativa dos inci-
No caso relatado, o efeito dentário foi muito sivos inferiores, ou seja, uma rotação em relação
maior do que o efeito esquelético, pois o tratamen- ao centro de resistência, decorrente do uso das
to foi compensatório, camuflando as discrepâncias curvas reversas do elástico de Classe II, que pro-
entre as bases ósseas. Não houve grandes altera- clinaram os incisivos inferiores.
ções no componente esquelético da maxila, nem Com relação aos molares inferiores, ocorreu
da mandíbula 14,15,16
. O componente vertical tam- mesialização e extrusão. Nos molares superiores,
bém não apresentou alterações importantes, visto houve rotação para distal, no sentido do longo
que o paciente apresentava-se em idade adulta . 17
eixo, efeito proveniente do uso dos elásticos de
A visualização da movimentação dentária está Classe II. Os efeitos foram maiores nos molares
evidenciada pela medida 1.NA, pela qual os in- inferiores do que nos molares superiores, assim
cisivos superiores vestibularizaram-se mais de 10º, como observado em outro estudo17. O trespasse
passando de 9,9º para 20,4º. Isso ocorreu devi- vertical diminuiu de 5,7mm para 1,0mm; e o tres-
do ao torque vestibular ativo empregado nos fios passe horizontal, de 4,6mm para 3,6mm,ressaltan-
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de aço retangulares, durante a fase do uso dos do o efeito dentário19 (Tab. 1).
elásticos de Classe II, com o objetivo de contro- No caso relatado, o elástico de Classe II pro-
lar o efeito colateral. Essa técnica é utilizada para duziu inclinação do plano oclusal, aumento da
corrigir esse efeito de lingualização dos incisivos altura facial anteroinferior, pouca extrusão dos
superiores — já previsto, entre outros efeitos, quan- incisivos superiores e mesialização dos molares in-
do se utilizam os elásticos de Classe II . 18
feriores. Com a utilização dessa mecânica, a gran-
A rotação em relação ao longo eixo dos inci- de maioria das correções obtidas é estritamente
sivos superiores foi outra movimentação observada dentária e a correção da relação molar ocorre,
na sobreposição dos traçados, notando-se um giro principalmente, devido à mesialização dos mola-
anti-horário do ápice das raízes, também provenien- res inferiores19,20,21.
te do torque ativo vestibular empregado nos fios re- Quanto ao componente tegumentar, observou-se
tangulares. A medida 1-NA mostra que os incisivos que, ao início, o lábio superior tocava a linha S
superiores protruíram 1,6 mm em relação à linha NA e, ao término do tratamento, se distanciava em
(inicial = – 0,4mm e final = 1,2mm), também como mais de 1  mm, mostrando uma leve retrusão. Já o
efeito desse controle dos torques dos incisivos supe- lábio inferior não apresentou alteração significati-
riores (Tab. 1). Esses torques foram empregados pois va. Uma característica importante desse caso foi
se sabe que os efeitos esperados com a utilização a comprovação da eficácia do uso dos elásticos
dos elásticos de Classe II são a retrusão, extrusão, de Classe II, os quais levaram a uma melhora nas
lingualização e distalização dos incisivos superiores . 7
relações oclusais (Tab. 1).

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Tabela 1: Comparação das medidas cefalométricas iniciais e finais. A avaliação clínica mostrou periodonto sau-
VARIÁVEIS INICIAL FINAL dável, com ausência de patologias oclusais, e
COMPONENTE MAXILAR uma oclusão com contatos simultâneos bilaterais
SNA (graus) 84,9 82,9 em máxima intercuspidação habitual (MIH), com
Co-A (mm) 99,4 99,7 a relação cêntrica (RC) coincidente com MIH, e
COMPONENTE MANDIBULAR obtenção de guias adequadas.
SNB (graus) 77,2 77,7
Co-Gn (mm) 130,1 133,2 CONCLUSÃO
RELAÇÃO MAXILOMANDIBULAR O tratamento compensatório mostrou-se útil em
ANB (graus) 7,6 5,7 paciente adulto quando existe a negativa em rela-
Wits (mm) 7,6 2,9 ção à cirurgia ortognática; no entanto, é importante
COMPONENTE VERTICAL
que esse paciente esteja motivado a colaborar com
FMA (graus) 28,9 27,6
o uso dos elásticos.
SNGoGn (graus) 33,3 33,1
A motivação, bem como o controle dos efei-
tos colaterais, são fundamentais para uma boa
SN.PlOcl (graus) 13,9 17,6
finalização de um caso envolvendo o uso de
SNGn (graus) 69,6 69,6
elásticos de Classe II.
AFAI (mm) 77,9 78,7
COMPONENTE DENTOALVEOLAR SUPERIOR
1.NA (graus) 9,9 20,4
1-NA (mm) - 0,4 1,2
II-PP (mm) 32,1 32,0 83

MS (centroide)-PP (mm) 24,0 24,5


MS (centroide).SN (graus) 79,6 74,3
COMPONENTE DENTOALVEOLAR INFERIOR
1.NB (graus) 29,6 34,4
IMPA (graus) 95,9 101,9
1-NB (mm) 7,4 6,9
II-GoMe (mm) 53,8 61,8
MI (centroide)-GoMe (mm) 37,2 39,3
RELAÇÃO DENTÁRIA
Relação molar (mm) 3,5 0,4
Sobressaliência (mm) 4,6 3,6
Sobremordida (mm) 5,7 1,0
PERFIL TEGUMENTAR
Ls-plano E (mm) - 3,7 - 4,0
Li-plano E (mm) - 2,4 - 4,5
ANL (graus) 122,3 120,2
Ls-Linha S (mm) 0,4 - 1,2
Li-Linha S (mm) - 1,8 - 1,9

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