DICA CLÍNICA

Alternativa de tratamento da Classe II com

aparelho Twin Force
Class II alternative treatment using Twin Force appliance

Vanessa El Kik dos santos*

José Eduardo P. de soUza**
Pedro andrade Jr.***

Resumo Abstract

A deiciência, ou retrognatis-
mo, mandibular é caracterís-
tica marcante na maioria dos
pacientes diagnosticados com
má oclusão de Classe II. Para
o tratamento dessa má oclusão,
existem inúmeros aparelhos
funcionais que promovem uma
projeção mandibular. Esses
dispositivos podem interferir
no crescimento, direcionando-
-o, principalmente no período
pré-puberal. Seu sucesso está
ligado ao potencial de cresci-
mento do paciente. Esse artigo
se propõe a ilustrar e descrever
a utilização de um desses apa-
relhos, o Twin Force, que tem
como principal vantagem o
tempo reduzido de tratamento.
The mandibular deiciency, or
retrognathism, is a remarkable
characteristic in the majority of
the patients with Class II mal-
occlusion. For the treatment of
this kind of malocclusion there
are several functional appliances
that promote a mandibular pro-
jection. These appliances can
interfere with the growth, guiding
it, especially in pre-pubertal age.
Their success is linked to the
growth potential of the patient.
This article aims to illustrate and
describe the use of one particular
appliance, the Twin Force, which
has the main advantage of reduc-
ing the time of treatment.

Palavras-chave: Keywords:
Má oclusão de Classe II. Retrognatismo mandibular. Aparelho Class II malocclusion. Mandibular retrognathism. Herbst appliance.
de Herbst.

* Graduada na Faculdade de Odontologia da UFRGS. Especialista em Odontopediatria e

Ortodontia pela Sobracom.
** Professor do curso de especialização em Ortodontia da Sobracom. Professor nos
Como citar este artigo: Santos VEK, Souza JEP, Andrade Jr. P. Alternativa de tratamento da
Classe II com aparelho Twin Force. Rev Clín Ortod Dental Press. 2011 out-nov;10(5):42-7. cursos de pós-graduação, unidade CEAO-ACIEPE da UNICSUL. Mestre e Doutor
em Ortodontia pela FOB-USP.
*** Professor do curso de especialização em Ortodontia da Sobracom. Professor nos
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou inancei- cursos de pós-graduação, unidade CEAO-ACIEPE da UNICSUL. Especialista em Or-
ros que representem conlito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. todontia e Cirurgia Bucomaxilofacial pela Unicastelo.

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Santos VEK, Souza JEP, Andrade Jr. P
INTRODUÇÃO
O desequilíbrio no sentido anteroposterior resultante
do mau posicionamento dentoalveolar e/ou esquelético
de uma das arcadas dentárias, ou ambas, caracteriza a má
oclusão de Classe II13,14. Alguns autores1,5,12 veriicaram que
a má oclusão esquelética de Classe II está frequentemente
associada ao retrognatismo mandibular, com a maxila bem
posicionada. Essa informação tem encorajado os clínicos a
utilizar aparelhos funcionais de protrusão mandibular, visan-
do a normalização da relação sagital interarcadas.
A época mais oportuna e com melhores resultados em
longo prazo para se iniciar o tratamento seria um pouco antes
ou durante o surto de crescimento da pubescência6,7,15,19,22,25.
Nesse período, além da resposta ortodôntica, haveria uma
maior possibilidade de se obter a resposta ortopédica de-
sejada, principalmente com aumento no comprimento man-
dibular2,15,19. O método utilizado e o tipo de aparelho mais
eiciente também possuem grande inluência nos resulta-
dos7. Portanto, pode-se airmar que os aparelhos ortopédi-
cos funcionais ixos são considerados mais eicazes porque
independem da cooperação do paciente em utilizá-los, pro-
movendo um contínuo deslocamento anterior da mandíbula,
diminuindo, assim, o tempo de tratamento11,13. Na literatura,
veriicam-se inúmeros aparelhos que exempliicam essa cate-
goria, tais como: o aparelho de Herbst8,16, o Jasper Jumper9,
o APM4 e, mais recentemente, o Twin Force11.
Inúmeros trabalhos demonstraram que a utilização do apa-
relho Herbst leva, com eiciência, à correção da relação molar
de Classe II5,7,10,13. Alguns autores airmam que o tratamento não
restringe o crescimento da maxila13,18. Quando há indicação da
ortopedia de avanço mandibular, o que se deseja é que a maxila
mantenha o seu posicionamento sagital23, uma vez que, nesses
casos, a Classe II está relacionada ao retrognatismo da mandí-
bula. Por outro lado, a terapêutica com o aparelho Herbst induz
crescimento mandibular17,24,27, mas alguns autores argumentam
ser difícil diferenciar se esse crescimento deve-se à inluência
ortopédica ou ao crescimento espontâneo que iria acontecer
independentemente do tratamento imposto13,23. A constatação
que é unânime em todos os trabalhos é a de que o tratamento,
com intenção principalmente ortopédica, para a correção da
deiciência mandibular desencadeia também, sobretudo, efei-
tos ortodônticos23. Na maioria das vezes, ocorre vestibularização
e protrusão dos incisivos inferiores13,17,18,20,23,24,27, lingualização e
retrusão dos incisivos superiores13,17,18,24,27, intrusão e distalização
dos molares superiores14,18,24. Portanto, a compensação dentária
sempre vai estar presente, e o que importa é que a quantidade
dessa compensação oclusal, no inal do tratamento, seja com-
patível com a longevidade da oclusão e a estética do sorriso23.
Na literatura, os trabalhos que avaliam os resultados
obtidos com a utilização dos aparelhos Jasper Jumper e
APM também demonstram que ambos são eicientes na
correção da má oclusão de Classe II com retrognatismo
mandibular; entretanto, provocariam mais alterações den-
tárias do que esqueléticas durante o tratamento10,26.
Atualmente, para eleger qual aparelho ortopédico de
protrusão mandibular será utilizado devemos avaliar, além de
sua eiciência clínica, qual deles proporciona maior conforto
ao paciente, apresentando menor rigidez e permitindo uma
maior variedade de movimentos da mandíbula11. O Twin For-
ce preencheria esses requisitos pois, além de não necessitar
de serviço laboratorial, possui fácil instalação, não requeren-
do ajustes durante o atendimento clínico. Isso faz com que as
consultas e o tempo total do tratamento sejam reduzidos. Por-
tanto, o propósito desse artigo é apresentar o caso clínico da
correção de uma Classe II esquelética suave onde utilizou-se o
Twin Force, e demonstrar suas vantagens.
DESCRIÇÃO DO APARELHO TWIN FORCE
Diferenciando-se da grande maioria dos aparelhos de pro-
trusão mandibular, o Twin Force é pré-fabricado, pronto para
instalação, com todas as suas partes componentes ixadas ao
aparelho. Os componentes de ixação do Twin Force consis-
tem de: um cursor deslizante com io de encaixe em uma das
extremidades — o qual prende o aparelho na arcada dentária
superior através do tubo de ancoragem extrabucal — e um
parafuso (trava) na outra extremidade, para prendê-lo à arca-
da dentária inferior, formando um mecanismo telescópico. A
nova versão do Twin Force, o Double Lock, possui o cursor
deslizante com trava em ambas as extremidades, facilitando
a instalação e aumentando a ancoragem devido à trava direta
no io (Fig. 1). O aparelho está disponível nos tamanhos pa-
drão e pequeno. Para selecionar o tamanho correto, mede-
-se a distância da extremidade distal do braquete do canino
inferior até a extremidade mesial do tubo do molar superior,
com a mordida em uma posição de topo a topo. Caso a men-
suração seja superior ou igual a 27mm, utiliza-se o tamanho
padrão (Fig. 2). O aparelho deve ser instalado após a fase de
alinhamento/nivelamento, com um io retangular de aço em
ambas as arcadas (0,017” x 0,025” para acessórios com slot
0,018”; e 0,019” x 0,025” para acessórios com slot 0,022”).
Deve-se conjugar de molar a molar, para aumentar o contro-
le da ancoragem. O Twin Force permanece instalado até uma
sobrecorreção do trespasse horizontal inicial, com os dentes
anteriores em uma relação de topo a topo, porque observa-se
uma recidiva de 1 a 2mm após sua remoção.
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Corretor de mordida Twin Force original
Fio de ancoragem
Parafuso
de travamento
no io
Esfera e articulação
A B
Figura 1 Versões do aparelho Twin Force: A) original e B) versão Double-Lock, que possui cursor deslizante com trava em ambas as extremidades,
facilitando a instalação e aumentando a ancoragem devido à trava direta no io.
Figura 2 Linha de ação de força e instalação do Twin Force.
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, com 14 anos de idade, procurou
tratamento ortodôntico com queixa principal de apinhamen-
to na região dos incisivos superiores e inferiores. Na análise
facial frontal inicial, veriicou-se que a paciente era simétrica e
apresentava uma pequena tendência de crescimento vertical.
Em norma lateral, pôde-se observar peril convexo e leve re-
trusão da mandíbula. A maxila encontrava-se bem posicionada
e o ângulo nasolabial, normal, contraindicando extrações para
a correção da relação dentária anteroposterior, o que acarreta-
ria num aumento do ângulo nasolabial e alteraria seu peril de
maneira insatisfatória (Fig. 3). No exame intrabucal, a paciente
apresentava-se na dentição permanente, com ¾ de Classe II, bi-
lateralmente, e incisivos superiores verticalizados (Fig. 4). O pla-
no de tratamento constituiu-se de Ortodontia corretiva somada
à projeção mandibular. O dispositivo de escolha para a fase de
projeção mandibular foi o aparelho Twin Force, pelas vantagens
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Alternativa de tratamento da Classe II com aparelho Twin Force
Corretor de mordida Double Lock
Esfera e articulação
Parafuso de
travamento no io
já mencionadas, se comparado a outros aparelhos ixos. A fase
de alinhamento/nivelamento foi realizada com ios de níquel
titânio termoativados em ambas as arcadas, evoluindo do io
0,014” para o 0,018” e inalizando com o 0,019” x 0,025”, cada
um permanecendo uma média de 3 meses. Nessa fase ocor-
reu vestibularização (descompensação) dos incisivos superio-
res, possibilitando a instalação do aparelho Twin Force para a
projeção mandibular anterior. Quando o aparelho foi instalado,
ambas as arcadas estavam com um io de aço 0,019” x 0,025”
— com torque vestibular anterior resistente na arcada superior
e torque lingual resistente anterior na arcada inferior —, junta-
mente com cadeia elastomérica para se contrapor aos efeitos
dentários provocados pelo aparelho (Fig. 5). O Twin Force per-
maneceu por 3 meses, corrigindo a relação de Classe II (Fig.
6). O avanço mandibular foi de grande importância, pois pro-
porcionou a correta relação entre as bases apicais, diminuin-
do a necessidade de grandes movimentações dentárias e
respeitando o diagnóstico da análise facial inicial (Fig. 7).
Santos VEK, Souza JEP, Andrade Jr. P

Figura 3 Diagnóstico inicial por meio da análi-

A B se facial: A) vista lateral, B) vista frontal.

A B C

Figura 4 Análise intrabucal, dentição permanente: A, C) relação dentária de Classe II, B) verticalização dos incisivos superiores (Classe II/2).

A B C

Figura 5 Instalação do aparelho Twin Force projetando a mandíbula para anterior até uma oclusão de topo.

A B C

Figura 6 Resultado inal, caracterizando uma oclusão normal tratada: adequados trespasses vertical e horizontal, boa relação transversal inter-
-arcadas e relação dentária de Classe I.

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Figura 7 Vistas lateral (A) e frontal (B) após o
término do tratamento. A B
DISCUSSÃO
Apesar da diversidade, os aparelhos funcionais de protru-
são da mandíbula são similares entre si quanto ao seu modo
de ação, promovendo uma alteração postural na mandíbula e
posicionando-a anteriormente1,5,13. Eles também assemelham-
-se quanto à época indicada para a sua instalação, sendo que,
de um modo geral, devem ser utilizados por pacientes em fase
de crescimento, visando corrigir as discrepâncias anteropos-
teriores pela restrição e/ou redirecionamento do crescimento
das bases apicais2,6,15,19,21. Em relação aos resultados, todos os
aparelhos levam a uma relação molar de Classe I, mas diferem
quanto ao tempo de tratamento. De acordo com a literatura,
os aparelhos Herbst, APM e Jasper Jumper corrigem a relação
molar em uma média de 6 a 9 meses5,7,10,26, enquanto o Twin
Force atinge o mesmo resultado em 3 meses3,21.
Embora o Twin Force apresente um mecanismo teles-
cópico comum entre os aparelhos ixos para o avanço da
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Alternativa de tratamento da Classe II com aparelho Twin Force
mordida, seu desenho — além de garantir que ele não se
desprenda facilmente quando o paciente abre muito a boca
— permite movimentos de lateralidade. Essa característica
exclusiva, devido às articulações arredondadas em cada
uma das suas extremidades, resulta em um maior confor-
to ao paciente, não causando traumas aos tecidos moles
(como os outros aparelhos)11. Entretanto, uma das desvanta-
gens do Twin Force seria seu elevado custo quando compa-
rado ao de outros aparelhos ixos de projeção mandibular.
CONCLUSÃO
Para o caso aqui exposto, outras formas de tratamento
poderiam ser aceitas; mas, atualmente, o Twin Force pode
ser considerado a melhor opção de aparelho para proje-
ção mandibular porque promove um resultado inal ade-
quado da oclusão em um tempo reduzido de tratamento.
Santos VEK, Souza JEP, Andrade Jr. P
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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Vanessa El Kik dos Santos
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