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OCLUSÃO

“Já falei com muita gente e escutei


E escutei bem e ouvi muitas opiniões
E ouvi o que muitos diziam de muitas
coisas:
Isto é certo.
Mas viravam as costas e diziam o
contrário do que antes haviam dito.
E então eu disse a mim mesmo:
De todas as coisas certas, a mais certa é
a dúvida”.
(Bertold Brecht)

Talvez não exista, em odontologia, um tópico mais central do que o conceito de oclusão.
E isto é assim porque os conhecimentos nessa área são indispensáveis para os profissionais que
decidirem atuar em ortodontia, implantodontia, cirurgia, periodontia, odontopediatria, prótese e
dentística.
Paradoxalmente é a oclusão o ramo da odontologia onde a falta de consenso talvez
seja a mais manifesta.
Este trabalho visa apenas levantar os problemas e assuntos a ela relacionados a fim de
que estudantes e clínicos gerais possam tomar contato com os problemas mais relevantes
acerca deste tópico de um modo mais pragmático e menos enfadonho.
A palavra “oclusão” vem do Latim ‘occlusus’, particípio passado de ‘occludere’,
“fechar algo”, formado por ‘ob-‘, “contra”, mais ‘claudere’, “fechar” propriamente dito.
Vê-se que, em odontologia, o conceito de oclusão está relacionado com o fechamento
da boca.
De acordo com a própria etimologia da palavra a oclusão seria o encontro dos dentes
superiores e inferiores, quando a mandíbula se aproxima dos maxilares, pela ação dos
músculos mastigadores.
De fato. Em odontologia oclusão é, basicamente, o ramo da odontologia que estuda as
relações de mordida entre a arcada dentária superior e inferior.
No entanto, a definição só está completa quando é considerada a relação dinâmica,
morfológica e funcional entre todos os componentes do órgão mastigatório.
O aparelho mastigador acha-se constituído anatomicamente pelos dentes e suas
estruturas vizinhas de proteção e suporte (o periodonto), pela Articulação
Temporomandibular(ATM), músculos, ligamentos, vasos e nervos.
Para que seja possível a inter-relação entre a forma e a função das partes componentes
desse aparelho, as porções triturantes dos órgãos dentários deverão apresentar um equilíbrio
morfofisiológico entre si, a fim de permitir o desenvolvimento e a integridade da atividade
funcional do conjunto mastigador.
Neste particular é que se torna necessária a análise anatômica da morfologia dentária,
com vistas ao seu inter-relacionamento fisiológico, ou seja, a oclusão dentária. Com efeito,
parece haver uma íntima relação das formas oclusais com referência à movimentação dos
maxilares e da mandíbula, talvez determinada pela interdependência entre a forma da
articulação temporomandibular e as superfícies oclusais dos dentes, provavelmente pela ação
seletiva dos músculos mastigadores ou pelos próprios elementos determinantes oclusais
(vertentes, sulcos, vértices, etc.) para os diferentes trajetos funcionais do órgão mastigador.
Neste texto vamos diferenciar o termo oclusão do termoarticulação. Esta
expressão, oclusão dentária, tem sido utilizada indiferentemente para exprimir a relação de
contato entre dentes antagônicos ou para significar as relações durante o ato de aproximação
dos ossos de suporte dos dentes. O vocábulo oclusão poderá, assim, significar as diferentes
relações estáticas das superfícies oclusais, enquanto que o termo articulação representará os
diferentes contatos entre os dentes, porém em funcionamento.

UM POUCO DE FISIOLOGIA
Os ossos embora pareçam corpos estáticos, são, na verdade, tecidos maleáveis que se
modificam sob a ação de fatores externos. Uma força sobre os ossos pode causar tanto
reabsorção (se for de compressão) como aposição (se for de tração).
Esta reabsorção/aposição existe em função do equilíbrio osteoblasto/osteoclasto e é o
fundamento de toda migração dentária ocasionada por forças ortodônticas e migrações
indesejáveis tais como mesialização, lingualização e vestibularização de dentes. É também um
importante fator na etiologia das reabsorções ósseas verticais que ocorrem das periodontopatias.
As figuras abaixo esquematizam esse fato:

Acima vemos o efeito das forças de compressão sobre o osso: em A temos um dente, o
ligamento periodontal e o osso alveolar em condições normais. Em B vemos o resultado
imediato de uma compressão no sentido das setas. Em C a atividade osteoclástica ocasiona a
reabsorção óssea. Em D o resultado após um novo equilíbrio ter sido alcançado.
Acima vemos o efeito de forças de tração sobre o osso. Em A o conjunto está em
equilíbrio. Em B uma força de tração, cujo sentido é indicado pelas setas, age sobre o osso
através do desmodonto. Em C vemos a neoformação óssea (aposição) ocasionada pela ação
osteoblástica a fim de encontrar um novo equilíbrio.
Sabe-se também que as peças dentárias são estruturas sensivelmente mais calcificadas
que os ossos.
Era de se esperar, por isso, que as forças axiais
- na mastigação ou na simples compressão das arcadas por
ação dos músculos mastigadores – causassem reabsorções
ósseas.
Entretanto isso não ocorre.
Pela imagem ao lado é fácil perceber que o ligamento
periodontal (desmodonto) tem a peculiaridade de
redirecionar o sentido das forças de compressão
(força F na figura) - que os dentes exerceriam sobre o osso
- em forças de tração devido à disposição de tais fibras
(principalmente as fibras marcadas com bolinhas
vermelhas, na figura, exercem essa função).
Vê-se que assim que tais forças servem também para
manter a integridade dos tecidos periodontais.
É importante que fique claro desde agora que,
quando a resultante das forças que atuam sobre um
dente não for nula, este dente migrará na direção e
sentido dessa resultante. É o que se pode observar na figura ao lado que mostra dentes que
migraram para uma má posição em função de a criança possuir o hábito de chupar o dedo
polegar.
Se essa resultante for de baixa intensidade essa migração ocorrerá com menor
velocidade e, é claro, que for de mais alta intensidade, migrará com maior velocidade.
É claro que há um limite de tolerância fisiológica para a intensidade dessas forças de
tal modo que, à partir de certa intensidade, os tecidos periodontais entram em processo de
degeneração e destruição e onde até mesmo as raízes dentárias poderão sofrer reabsorção.
Isto explica certas reabsorções que ocorrem nas raízes de determinados dentes sujeitos à força
ortodôntica, quando esta é indevidamente intensa.
Agora vamos examinar certos aspectos ‘normais’ das arcadas dentárias para em seguida
entender porque tais aspectos colaboram para a integridade e funcionamento harmônico do
aparelho mastigador.

IMPORTANTE
Tradicionalmente, toda vez que vamos nos referir aos desvios da normalidade,
utilizamos a denominação “maloclusões” ou “anomalias oclusais”, para designarmos aquelas
situações em que não é difícil se identificar diversos estágios anormais do desenvolvimento da
oclusão.
Quando se conhece a evolução e o desenvolvimento da oclusão nas diferentes faixas
etárias, se deve também estar apto a identificar, reconhecer clinicamente, estas variações da
normalidade, comparando-se, principalmente, com os padrões de normalidade já estabelecidos
e difundidos na literatura odontológica e ortodôntica.
Entretanto o conceito de normalidade fica prejudicado, quando comparamos a maior
prevalência de tipos de arcadas dentárias na população, pois, o tipo mais encontrado é aquele
que está desviado destes parâmetros. E é por isso que devemos distinguir oclusão normal
de oclusão ideal.
O conhecimento da oclusão é central em odontologia porque dele depende o bom
desempenho, por parte do cirurgião-dentista e do técnico em prótese dentária nas diversas áreas
da odontologia como já salientamos. Qualquer profissional deverá ter sólidos conhecimentos
de oclusão.

O CONCEITO DE OCLUSÃO IDEAL


E considerada oclusão ideal aquela que permite a realização de todas as funções
fisiológicas próprias do sistema estomatognático, ao mesmo tempo em que e preservada a
saúde de suas estruturas constituintes (Lauritzen, 1974).
Como assinalamos acima, seria um engano confundir oclusão ideal com oclusão normal.
Como bem esclarecem Ramfiord (1984), o conceito de normalidade em um sistema biológico,
pressupõe um intervalo fisiológico de adaptação em torno dos valores considerados normais.
Já o conceito de oclusão ideal vai além da ausência de sequela patológica.
É por isso que a odontologia procura estabelecer critérios para uma oclusão que dispense
a necessidade de adaptação neuromuscular, onde a saúde periodontal e das demais estruturas
do sistema estomatognático, seja perpetuada por meio da função ideal.
A oclusão ideal envolve tanto características anatômicas estáticas como aspectos
dinâmico-funcionais, sendo, porém, mais dependente destes últimos.
Frequentes exemplos clínicos nos ensinam que relações dentárias estáticas,
aparentemente ótimas, não implicam necessariamente, em funções equilibradas do sistema
estomatognático. Da mesma forma, maloclusões anatômicas severas podem surpreender com a
presença de harmonia funcional.
Posselt (1964) já informava naquela época, que a ótima oclusão funcional exige muito
mais que a neutroclusão e depende de um grande número de fatores, não sendo esta ultima,
portanto, sinônimo de função ótima.
Embora a oclusão ideal pareça ser o objetivo comum a todos os que praticam a
odontologia, diferentes escolas de pensamento apresentam conceitos próprios sobre o
assunto, especialmente no que toca as características funcionais ideais.
Apesar da existência de pontos de divergência, encontra-se já estabelecido um conjunto
de critérios para oclusão ideal, aceito pela comunidade odontológica em geral, sendo
obviamente, aplicável aos pacientes nas diversas áreas de atuação clínica.
Na oclusão dentária além do conhecimento detalhado da anatomia do parelho mastigador,
devem-se considerar determinados itens, que se transformam num complexo fundamental para
a perfeita compreensão deste verdadeiro alicerce da odontologia moderna. Assim, deve-se
estudar-se:
1. Arcadas dentárias.
2. Direção geral dos dentes.
3. Equilíbrio dos dentes.
4. Engrenamento dos dentes (relações recíprocas).
5. Oclusão dentária propriamente dita.
6. Cinemática mandibular

1. Arcadas dentárias.

Os dentes superiores e inferiores dispõem-se


ordenadamente formando, no conjunto, duas arcadas
dentárias:superior e inferior (figura ao lado).
A arcada dentária superior é formada pela série de
dezesseis dentes implantados nos ossos maxilares,
enquanto a arcada inferior é constituída também por
dezesseis dentes, porém implantados no único osso
móvel da face: a mandíbula.

As arcadas
dentárias
apesentam-
se com
diferentes
curvaturas,
quando observadas nos distintos planos
ortogonais do espaço: plano horizontal,plano
frontal e plano sagital.

Como os próprios nomes indicam, quando observadas pelo plano horizontal a


morfologia normal das arcadas dentárias é semelhante nos dois casos, pois ambas descrevem
segmentos curvas que, no dizer dos autores, lembram elipse, parábolas, hipérboles,
semicírculos, em forma de letra U e em forma de letra V, etc.
Na realidade as arcas dentárias formam uma linha fortemente curva de concavidade
posterior, onde as peças dentárias se tocam por suas faces de contato ou proximais.
Essas morfologias variadas das arcadas dentárias é uma decorrência do exame visual,
subjetivo, muito comum, nas descrições anatômicas.
Segundo, por exemplo, Picosse, as arcadas quando vistas pelo plano horizontal
formam elipses conforme podemos ver na figura abaixo.

Ainda segundo Picosse as arcadas podem tem o eixo menor (BB’ na figura acima) mais curto
(nos indivíduos leptoprósipos) ou mais largo (nos indivíduos euriprósopos).
Os dentes das arcadas dentárias se colocam em contato sem que, na maioria dos casos,
ocorram interrupções sensíveis entre os elementos. Às vezes, porém, há intervalos mais ou
menos acentuados: são os diastemas. O diastema é frequente na maioria dos mamíferos, mas
no ser humano existe como norma na criança, após os quatro anos de idade, porque os dentes
decíduos e o crescimento do esqueleto facial preparam espaço para os elementos
permanentes que virão a seguir.
O adulto, todavia, pode manifestar diastemas. Estes espaços, quando existem, não
perturbam o normal funcionamento mastigatório, nem a oclusão dentária, porque os septos
interalveolares desenvolvem-se a tal ponto que os dentes não sofrem deslocamentos, fato que
acontece quando diastemas são provocados por perdas dentárias. Entretanto não é raro
pacientes adultos procurarem o profissional para o fechamento desses espaços.
Durante o desenvolvimento do indivíduo, as arcadas
dentáriasevoluem para dois estádios muito diferentes:
a arcada decídua e aarcada permanente (vide Anatomia
2neste site).
A arcada dentária decídua adota uma só forma,
quando se trata de aspecto normal: a forma
aproximada de um semicírculo (figura ao lado).
As modificações desse tipo circular de arcada da
criança só são possíveis quando outros fatores (hábito
de chupar o dedo, o uso de chupeta em excesso,
interposição da língua) agem sobre a posição normal
dos dentes decíduos.
No segundo estádio, ou estádio permanente, a forma da
arcada evolui gradualmente para a sua forma elíptica
definitiva.
Esta diferenciação torna-se presente após os dez anos de
idade, no momento da erupção dos dentes caninos e
pré-molares.
A arcada definitiva completa a sua evolução após a
erupção dos segundos molares permanentes, pois os
terceiros molares são por demais dentes inconstantes e
variados.

As duas arcadas dentárias


permanentes tem um diâmetro
transversal maior que o
anteroposterior ou longitudinal. O
diâmetro transversal máximo situa-
se ao nível dos segundo ou
primeiros molares, segundo Pìcosse.
Esta maior distância tem relação
com a largura da face (distância
bizigomática, vista mais acima), que
também é maior que a altura total ou
altura násio-gnásio (figura ao lado).

Nota: o ponto násio situa-se no


encontro da sutura nasal com a
fronto-nasal e o ponto
gnátio localiza-se na parte mais
inferior e posterior da curvatura
mentoniana.
O diâmetro transversal é mais acentuado na arcada superior, o que traz como
consequência o envolvimento dos dentes inferiores pelos superiores quando há o engrenamento
dentário.
Ao ocluírem-se as arcadas dentárias, os dentes superiores recobrem uma porção variável
da face vestibular dos dentes inferiores.
Em outras palavras, a arcada superior é envolvente e a inferior é envolvida.

Curva sagital de oclusão


Quando observado pelo plano sagital, isto é, pela norma vertical anteroposterior, as duas
arcadas dentárias apresentam curvas bem delimitadas.
Se colocarmos uma placa de vidro entre as arcadas dentárias de uma criança (ou sobre
o modelo de gesso correspondente) ver-se-á que todos os dentes tocam na placa.
No adulto, porém, tal fato não ocorre.
Isto se deve a que os dentes permanentes se acham
orientados de maneira tal que, no conjunto, descrevem uma
curva com concavidade superior, que se inicia nos molares e
toca a ponta da cúspide dos caninos.
Esta curva é denominada – curva sagital de
oclusão ou curva de Balkwill-Spee. É uma verdadeira curva de
compensação ou de estabilidade.
É esta curva que faz, por exemplo, com que, durante a
mastigação, os alimentos não sejam empurrados para frente o
que facilita em muito a mecânica mastigatória.
Esta curva de compensação inicia-se após os dez ou onze anos de idade, quando os
dentes caninos e pré-molares começam a irromper na arcada e completa-se entre os treze ou
quinze anos com a erupção dos segundos molares.
Quando a observação é feita com as arcas em
contato (figura ao lado), verifica-se que a arcada
inferior possui um plano que é côncavo,
enquanto a inferior forma um arco convexo.
Ambas as arcadas adaptam-se perfeitamente na
oclusão normal porque os seus planos oclusais são
idênticos

Devido à dinâmica dos movimentos mandibulares só se torna possível o contato perfeito


entre os planos oclusais quando os mesmos são curvos. Graças a isto que, durante a
mastigação, há maior contato entre os dentes das duas arcadas impedindo que os mesmos
se desloquem pelas forças mastigadoras.

Curva transversal de oclusão (Curva de Wilson).

Como consequência da direção geral dos


dentes, implantados nos alvéolos com suas
inclinações característica, pode-se notar a
existência deoutra curva de concavidade
superior, porém orientada no sentido
transversal – é a curva transversal de
oclusão também denominadaCurva de Wilson.

Esta curva pode ser notada quando se


observam as arcadas dentárias pelo plano
frontal.

Da mesma forma
que a anterior, só
existe no adulto e nos dentes que não apresentam desgastes
acentuados, pois a atrição pronunciada leva ao maior desgaste
das cúspides vestibulares, invertendo-se a orientação das faces
oclusais nos dentes molares.
Essa curva transversal tem função nos
movimentos laterais da Articulação
Temporomandibular (ATM), dolado em que o
côndilo mandibular desce na lateralidade
(lado de balanceio), há separação dos dentes
das duas arcadas.
Na dinâmica mastigatória comprimimos o
alimento no lado de trabalho ao mesmo tempo
em que o movimento do côndilo provoca a
perda de contato no lado oposto (de
balanceio).

1. Direção geral e implantação dos dentes nos ossos alveolares.


Os dentes implantados em seus respectivos alvéolos e considerados em situação normal
conservam uma direção que se aproxima da vertical.
Esta direção, ora mais, ora menos inclinada, depende do grupo dentário e é fundamental
para que se estabeleça a oclusão normal.
Ao contrário dos dentes decíduos que, como já comentamos, se implantam
perpendicularmente aos ossos alveolares, os permanentes tem um ligeiro desvio que, longe de
ser prejudicial à atividade mastigadora, é necessário para que haja uma justaposição
indispensável para a execução de um trabalho efetivo. Os processos alveolares apresentam um
mesmo grau de inclinação.
Em cada arcada dentária deve-se levar em conta a inclinação dos dentes em dois
sentidos:vestíbulo-lingual e mésio-distal.
Qualquer dente tomado isoladamente em seu respectivo alvéolo adota uma orientação
que lhe é peculiar. Porém pode-se estabelecer regras gerais que facilitam a compreensão dessa
relevante questão. É mais fácil observá-los em conjunto do que isoladamente.
Não vamos nos esmerar nas diversas teorias que tentam explicar essas direções, mas, a
invés disso, observar simplesmente as direções que os dentes adotam tanto na direção vestíbulo-
lingual como na mésio-distal.
Neste item também existe controvérsia com autores emitindo opiniões diferentes.
Vamos examinar, apenas a título de exemplo, a opinião de dois autores (Lascala e Picosse)
sobre esse tema.
A concepção de Lascala é mais simples e pode ser açambarcada num simples olhar. A
figura a seguir resume o essencial desta teoria.
Picosse analisa separadamente as arcadas conforme o sentido:

No sentido vestíbulo-lingual:

Na arcada superior, todos os dentes se


inclinam para o lado lingual (ou palatino), com
um mínimo de 7º ao nível dos premolares e um
máximo de 20º nos incisivos laterais e terceiros
molares. Nestes dentes os incisivos são os que
se apresentam mais inclinados. Se a
proclividade for acentuada, o antagonismo
entre os incisivos poderá achar-se prejudicado,
o que trará más consequências.

Na arcada inferior, a inclinação para o lado


lingual só se verifica nos grupos dos dentes
incisivos, pois a partir dos caninos inferiores os
eixos dentários estão inclinados para o lado vestibular. Essa inclinação vestibular vai num
crescendo, atingindo o máximo no terceiro molar.

A proclividade dos dentes inferiores é ligeiramente menos acentuada que nos superiores; os
caninos inferiores implantam-se quase verticalmente, pois estão inclinados de 2º para
vestibular; os premolares não atingem 10º de inclinação vestibular, enquanto que os molares
inferiores inclinam-se de 12 a 25º.

Esses fatos originam um detalhe importante que podemos ver quando observamos as duas
arcadas dentárias: enquanto a arcada superior descreve uma elipse uniforme, na arcada
inferior esta mesma curva é dividida em três segmentos, um anterior que vai de canino a
canino (arco anterior), e dois posteriores, menos curvilíneos e de inclinações contrárias.
No sentido mésio-distal:
Na arcada inferior, todos os dentes tem seus
eixos desviados para o lado distal até o segundo
molar, e para o lado mesial ao nível do terceiro
molar. Esse fato evidencia-se muito bem ao nível
do primeiro molar superior, onde, devido à esta
inclinação, a cúspide disto-vestibular fica num
plano inferior à cúspide mésio-vestibular deste
dente.
Na arcada inferior, com exceção dos incisivos
que, praticamente, se implantam na vertical, os
demais dentes se inclinam para o lado distal. Esta
inclinação maios se acentua a medida que
distalizamos na arcada. Assim, para inclinação
de1 a 2 graus dos incisivos passa-se para cerca de
20º do terceiro molar.

1. EQUILÍBRIO DOS DENTES

Contato dos dentes

Os dentes de cada arcada estão dispostos numa sequencia contínua e se tocam por suas
faces de contato. Pela forma peculiar das faces distais dos dentes, cada tem sempre a maior
convexidade no terço oclusal, nos locais conhecidos como bossas proximais. É por meio dessas
porções mais salientes que os dentes da mesma arcada entram em contato entre si.

Nos dentes mais jovens formam-se, nestes locais, pequenas áreas de união, que são
denominadas erroneamente de pontos de contato. Estes locais de contato são reconhecidos por
sua forma circular como duas esferas aproximadas.

A localização dos pontos de contato deve ser observada no sentido vertical e no sentido
horizontal, isto é, cérvico-oclusal e vestíbulo-lingual, respectivamente.

Ao restaurar um dente onde o preparo cavitário atinge as faces proximais o profissional


deve estar atento para esse detalhe.

No sentido vertical, em todos os dentes, tais locais de contato situam-se próximo às


faces oclusais ou bordas incisais dos dentes delimitando dois espaços que ficam um entre a
face oclusal e o ponto de contato e o outro entre o ponto de contato e o rebordo alveolar ou
papila interdentária da gengiva.
O primeiro espaço é menor, triangular e seu ápice é o próprio ponto de contato; é
o sulcointerdentário.
O segundo espaço, espaço interdentário, é piramidal triangular, tendo sua base voltada
para a papila gengival ou para o osso alveolar do crânio. O espaço interdentário é de dimensões
e importância maiores que o sulco interdentário e na sua constituição entram também os
segmentos iniciais das raízes dentárias vizinhas.
Os dentes implantados nos alvéolos funcionam, na mastigação, como um amortecedor
e não como um prego, isto é, não estão fixos nos alvéolos, mas realizam movimentos axiais
curtos como um pistão durante o trabalho o que ocasiona, com o tempo, desgastes por atrito
nos pontos de contato que tendem a planificarem-se. Por isso que é mais correto falar-se
emsuperfície de contado do que pontos de contato embora essa última terminologia esteja,
como um vício, consagrada.
No sentido horizontal, o ponto de contato
situa-se no terço vestibular das coroas
dentárias, bem próximo das respectivas
faces nos dentes anteriores e na bossa
próxima das cúspides vestibulares dos
dentes posteriores.
Esta disposição típica produz, no sentido
vestíbulo-lingual, dois espaços que são
denominados ameias vestibular e
lingual.É evidente que a ameia lingual é
maior que a vestibular em razão da
localização mais para vestibular do ponto de contato.
Os locais de contato tem duas funções primordiais:

1) São partes que atuam eficientemente na estabilidade de uma arcada, permitindo um


perfeito equilíbrio entre as várias peças dentárias.
2) São formações que servem para proteger, no indivíduo vivo, a papila gengival ou
dentária, que possui valor inestimável na integridade e na higidez do periodonto
A superfície de contato protege a papila dentária contra
os impactos dos alimentos durante os atos
mastigatórios. A integridade da papila é condição
fundamental para a existência de um periodonto
íntegro e sadio.

As modificações e a perda do contato interdentário


podem trazer, não só as alterações periodontais, como
também migrações ou deslocamentos dentários, que
chegam a transformar profundamente a oclusão dental.

Superfícies oclusais das arcadas dentárias

Se o assunto é oclusão pé claro que não podemos deixar de analisar um pouco


cuidadosamente as superfícies oclusais.

As cúspides são como pirâmides com vertentes e arestas conforme vimos no capítulo
deAnatomia 2. As arestas são dirigidas nos sentidos mésio-distais e vestíbulo-linguais. As
arestas longitudinais (mésio-distais) delimitam a chamada face oclusal propriamente dita dos
dentes separando-as das faces vestibulares e linguais.

Note que se admitirmos (como fizemos no


estudo da anatomia) que nos dentes
anteriores houve uma involução das
cúspides, a área compreendida entre as
bordas incisais de caninos e incisivos e
seus cíngulos corresponderia, por
analogia, à face oclusal destes dentes.

A reunião das faces oclusais propriamente


ditas, nas hemi-arcadas superiores e
inferiores, delimitam superfícies inclinadas
semelhantes a canais, que recebem a
denominação de superfícies oclusais.
Ao observar os dentes pela face oclusal (figura ao
lado), devido às inclinações das faces linguais e
vestibulares, percebe-se um segmento maior ou
menos destas faces (parte verde da figura)
envolvendo as superfícies oclusais propriamente
ditas destes dentes (parte branca). O conjunto
destas faces oclusais, mais os segmentos
vestibulares e linguais visíveis, constitui o que se
convencionou chamar de faces oclusais
funcionais. Isto tem sua razão de ser, porque na
oclusão normal, Além das faces oclusais próprias
de cada dente, os segmentos vestibulares e linguais
citados também tomam parte nos movimentos
migratórios.

Resta ainda lembrar


que as cúspides
vestibulares dos dentes superiores e linguais dos inferiores (com
pontinho azul na figura) são chamadas de cúspides de ataque. E,
por sai vez, as linguais dos superiores e vestibulares dos inferiores
(com pontinhos vermelhos) são denominadas cúspides de suporte
(estas últimas mantém a dimensão vertical).
Equilíbrio dos dentes propriamente dito.
Equilíbrio osteoclasto osteoblasto: lembremos que o osso não é um tecido inerte e estático
e sim vivo e dinâmico. Fisiologicamente ele reage à ação de forças que nele incidem. Se a força
incidente for de compressão o equilíbrio osteoblasto/osteoclasto se deslocará no sentido
osteoclasto e haverá reabsorção dos tecidos afetados, mas se essas forças forem de tração o
equilíbrio citado se deslocará no sentido inverso e ocorrerá neoformação e aposição óssea nos
tecidos atingidos.

Somente quando a resultante das forças que incidem sobre um dente for nula - sistema
em equilíbrio mecânico – é que o dente permanece em seu lugar normal ao longo da arcada
dentária.
Considerando-se o dente como um sólido submetido às forças mastigadoras em vários
sentidos, existem elementos mecânicos que são responsáveis diretos pelo equilíbrio dentário.
Dentre estes deve-se citar, antes de mais nada, as forças motoras representadas
pelosmúsculos mastigadores que incidem sobre os dentes inferiores de encontro aos superiores
(músculos masseter, temporal e pterigoideo medial).

Sobre as forças mastigadoras devemos considerar:


As cargas mastigatórias variam entre os indivíduos, em função do sexo, do padrão
facial e muscular e, numa mesma pessoa, dependendo da idade, do estado emocional e do
tipo de alimento a ser mastigado.
A presença de dor nos músculos mastigatórios ou na ATM, também influência a
intensidade das cargas durante a mastigação
As informações encontradas na literatura, relacionadas a duração de cada contato
dentário e a intensidade das cargas desenvolvidas durante a mastigação e a deglutição, são
bastante variadas.
De acordo com Forde (1964) as cargas mastigatórias valem entre 35 e 150 libras por
polegada quadrada, o que corresponde a 2,460 kg/cm² e 10,547 kg/cm², respectivamente.
Para Posselt (1964), o tempo total diário despendido com a mastigação e curto e a
magnitude das forças sobre dentes individuais e relativamente suave, ficando entre 8kg e
15kg.
A intensidade das forças desenvolvidas por um mesmo indivíduo pode variar também,
dependendo do estado de vigília. Segundo informações de Okeson (1985), a força total
despendida durante o dia para mastigar e deglutir e de 8.600kg, em pacientes "normais". Já,
no período da noite, aquele valor diminui para 6.400kg.
Para Maciel (1996), os músculos elevadores ou de fechamento desenvolvem forças
que variam entre 35 Kg e 120 kg. Entretanto, segundo Ramford & Ash (1984), a força de
mordida forçada media varia entre 45,4kg e 68,1kg, em homens adultos. Esclarece que forças
maiores tem sido registradas por outros autores. Cita como exemplo, a força de mordida
máxima de 158,9kg, na região de molares, dos esquimós.
Em decorrência do número de vezes em que os dentes entram em máxima
intercuspidação num período de 24h, e dos níveis de força potencialmente envolvidos, torna-
se evidente a importância do equilíbrio funcional, quando alcançada aquela posição.
A máxima intercuspidação ideal tem como principal requisito a estabilidade
mandibular. Esta deve manifestar-se em dois níveis: dentário e articular.
Por outro lado os próprios dentes antagônicos ou vizinhos, constituem as
chamadas forças resistentes.
Repare que o antagonismo dentário representado pelas cúspides de suporte, ou a
vizinhança, representada pelas áreas de contato, são elementos que se opõe ao movimento
vertical e mésio-distal respectivamente.
Os próprios alvéolos dentários cavidades que agem como elementos de resistência aos
deslocamentos e consequente perda de equilíbrio dos dentes.
Ainda dentro do grupo de forças motoras, devemos fazer menção às forças exercidas
pela musculatura dos lábios (que na criança que possui o hábito de chupar o polegar tem
esse componente anulado), das bochechas e da língua, que atuam como verdadeiros
componentes ativos na manutenção desse equilíbrio.
Ao lado da resistência muscular, corpos ou alimentos sólidos que se colocam entre os
dentes durante a mastigação, estão funcionando como elementos agentes de resistência passiva.
De acordo com os conhecimentos atuais, é preciso ter em mente dois fatos fundamentais:
1) O dente é um órgão móvel e não fixo no seu alvéolo dentário. A mobilidade é pequena,
sem dúvida. Mas, como vimos, pode ser facilmente verificada na transformação dos pontos de
contato em superfície de contato.
2) Para que o dente esteja em equilíbrio, é necessário que o eixo geométrico e o eixo
fisiológico coincidam.
Outros elementos que distribuem as forças motoras,
para que os dentes não percam o equilíbrio
indispensável, estão representados pela constituição
peculiar faz faces incisais e oclusais dos dentes.
Os planos inclinados das cúspides e a inclinação das
faces vestibulares e linguais dividem a força
incidente em forças componentes, repartindo-as em
várias direções, amortecendo os choques e tornando
mais eficiente a trituração dos alimentos.
Essas forças que agem sobre os dentes não agem em
um só ponto e nem em uma só direção. Analisando-
se a incidência de uma força sobre uma vertente
oclusal, consta-se que a sua direção segue a da
normal a essa vertente.
A direção da normal num plano inclinado é deduzida
em função dos três planos ortogonais espaciais (sagital, horizontal e frontal),
determinando-se, com segurança, a sua orientação. Portanto, durante a oclusão e
mastigação, haverá componentes das três direções (vertical, mésio-distal e vestíbulo-
lingual) que devem ser anuladas.

EQUILÍBRIO VESTÍBULO-BUCAL
Dentes anteriores: No grupo dos
incisivos e caninos estabelece-se o
equilíbrio graças à ação da
musculatura lábio-lingual. A ação da
musculatura labial anteriormente e da
lingual posteriormente, mantém o grupo
dentário anterior em perfeito estado de
equilíbrio estático e dinâmico.

De fato. Quando a mastigação não


está operando os dentes anteriores se
mantém em posição normal pela ação
da musculatura labial pela frente e pela lingual em sentido oposto.

A importância disto é perfeitamente verificável nos indivíduos de


respiração bucal, nos quais o componente anterior, ou labial, não impede
que esses dentes se projetem para diante, pela ação mais acentuada da
língua, deformando a morfologia normal da arcava (arcadas em V).

Perceba que o contato dos dentes molares e pré-molares fazem com que o
contato entre os incisivos não ocorra de forma a ocasionar protusão,
fazendo com que as forças linguo-labiais sejam as únicas a atuarem
efetivamente.

Dentes posteriores: nos dentes pré-


molares e molares, o equilíbrio é obtido
no estado estático graças a dupla e
antagônica ação das musculaturas da
bochecha (lateralmente) e da língua
(internamente).

No equilíbrio dinâmico, durante a


mastigação dois elementos novos
intervêm – a força mastigadora no sentido
do eixo dentário, e os planos inclinados
das cúspides, que asseguram o equilíbrio
e impedem que as pirâmides oclusais se
rompam. As componentes horizontais das cúspides antagônicas tem o mesmo valor e
sentido oposto o que assegura o equilíbrio já que se anulam mutuamente.
EQUILÍBRIO MÉSIO-DISTAL
No estado normal, ou seja, arcadas com todos os elementos e com seus pontos de contato
normais, a ruptura deste equilíbrio não é viável. A força mastigadora parece constituir-se
num elemento de ruptura do equilíbrio mésio-distal.

Entretanto, o contato proximal o impede. Por este motivo, basta a perda de um elemento
numa arcada para que haja o desequilíbrio e a consequência final será a modificação da
oclusão mais ou menos acentuada. Isto pode ser percebido pela mesialização de um dente
quando o seu anterior na arcada é perdido.
Abaixo vemos a mesialização e lingualização do segundo molar ocasionado pela perda
do primeiro molar e, consequentemente, do ponto de contato entre eles.
SENTIDO VERTICAL
Dois fatores contribuem para assegurar o equilíbrio dentário vertical: o antagonismo
dentário e o desmodonto. O antagonismo entre os dentes das duas arcadas, durante a força
mastigadora, com base nos pontos das cúspides de suporte, impede a extrusão dos dentes,
ou seja, a eliminação dos mesmos do interior dos seus alvéolos. Esta força, porém, não é
contínua; e há intervalos em que ela não existe.

Com o decorrer dos anos, como os processos evolutivos não cessam, há uma tendência
direta para a extrusão dentária. Mas nos casos de perda de dentes antagônicos, este processo
acelera-se, alterando-se completamente o plano oclusal, até a eliminação completa dos
dentes.

O desmodonto atua no equilíbrio vertical impedindo que haja intrusão dentária, isto é,
o aprofundamento dos dentes no interior dos tecidos ossos esponjosos dos ossos alveolares.
Esta trama conjuntiva que une a raiz dentária à parede alveolar constitui, por uma série de
condições, inclusive porque transforma as forças de compressão sobre os dentes em forma
de tração nos ósseos alveolares incentivando a neoformação óssea ao invés da reabsorção,
um dos elementos vitais das peças dentárias.
04. ENGRENAMENTO DOS DENTES
Quando fechamos a boca
inteiramente, pela ação ativa
damusculatura mastigadora, ou
quando coisa semelhante é feita
com crânios macerados, os dentes
inferiores interdigitam-se com
os superiores havendo a
interpenetração das cúspides e
uma imobilidade quase absoluta da
mandíbula.
Quando isso acontece temos
o engrenamento dentário. O
engrenamento designa,
unicamente, a penetração
maior ou menor das cúspides
dentárias nos sulcos e
depressões dos dentes opostos. O valor dessa penetração caracteriza a altura do
engrenamento.

Na oclusão normal, ou central, verifica-se o máximo de contato entre as superfícies


oclusais e incisais dos dentes das duas arcadas. Este máximo, de acordo com alguns
autores,deve ser de 138 relações na dentição permanente.

É aceito por um grande número de autores quem, quando em engrenamento, estas


relações se estabelecem segundo quatro critérios:

1. Por meio das superfícies de contato – Ocorre entre incisivos e caninos, nos quais as
faces vestibulares, dos dentes inferiores se relacionam com um segmento das faces linguais
dos superiores (o desgaste que se observa nestas faces é a prova desta relação).
2. Entre os vértices de cúspides e fossas – O corre entre as cúspides vestibulares dos
premolares e molares inferiores e as fossetas que existem no sulco principal mésio-distal
dos dentes superiores. O mesmo se deve afirmar-se com relação às pontas das cúspides
linguais dos dentes superiores e com relação às fossetas dos dentes inferiores.
3. Entre as vertentes dos planos inclinados e os sulcos principais mésio-distais – estes
sulcos são, por vezes, denominados fendas. Este tipo de relação ocorre quando as vertentes
das cúspides se alojam nos sulcos principais dos dentes antagônicos.
4. Entre vertentes e outros sulcos – Acontece com as vertentes oclusais das cúspides
mésio-vestibulares, que se relacionam com o sulco vestibular dos molares inferiores. Outro
exemplo ocorre com as vertentes oclusais das cúspides disto-linguais dos molares
inferiores, que se relacionam com os sulcos linguais dos molares inferiores.

Quando realizamos o engrenamento dos dentes, seja manualmente ou em crânios


macerados e indivíduos vivos,pela ação elevadora da musculatura mastigatória, deveram
analisar as relações que ocorrem entre as peças dentárias pelas quatro vistas: vestibular,
lingual, proximal e oclusal.Isto é necessário, pois a visão do conjunto é necessária à
compreensão da dinâmica oclusal e de eventuais modificações.
Vista vestibular de engrenamento – observando-se as arcadas dentárias do lado vestibular
observa-se o seguinte:

a) O engrenamento deve ser estabelecido, estando a mandíbula em posição normal, em relação


ao resto do crânio, ou seja, a sínfise mentoniana deve estar situada no plano sagital mediano.
b) Todos os dentes de uma arcada devem ocluir com dois outros da arcada oposta. Fazem
exceção a essa regra os incisivos centrais inferiores e os terceiros molares superiores que
engrenam somente com o antagonista homólogo.
c) Os terços incisais, ou oclusais, das faces vestibulares dos dentes inferiores, ficam
envolvidos pelos segmentos correspondentes da arcada superior. Estes segmentos, vestibulares
ou linguais, completam as superfícies oclusais propriamente ditas transformando-as em
verdadeiras superfícies oclusais funcionais.

a) A maior parte das cúspides vestibulares dos dentes jugais superiores relacionam-se
com os sulcos intercuspidianos principais dos dentes antagônicos.
b) A curva sagital de compensação de Balkwill Spee deve estar presente.
Vista lingual de engrenamento: a imagem que se tem do engrenamento dos dentes, do
lado lingual, apresenta as mesmas relações. Há, porém algumas exceções:

Vista proximal de engrenamento: a imagem que se tem do engrenamento dos dentes de


ambas as arcadas, observados pelas faces ou distais é um pouco diversa, quando se
considera os dentes posteriores e anteriores
Os incisivos e caninos, dentes cuneiformes e espatulados, possuem um engrenamento
característico porque as bordas incisais dos dentes inferiores tocam um segmento maus ou
menos alto da face lingual dos correspondentes superiores.

Os dentes molares e premolares mostram, neste aspecto, a projeção vestibular mais


acentuada dos dentes superiores, recobrindo um segmento da face vestibular dos molares
inferiores. Ao contrário, verifica-se que as cúspides dos linguais inferiores ultrapassam, no
sentido vestíbulo-lingual, as cúspides linguais dos dentes superiores.

Finalmente nota-se perfeitamente a colocação das pontas das cúspides vestibulares e


linguais em relação aos sulcos intercuspidianos de ambos os dentes.

Vista oclusal de engrenamento: quando vimos na aba de anatomia as faces oclusais de


molares e premolares (as faces incisais pouco valor tem neste aspecto), foram descritas
saliências, depressões e planos inclinados, que emprestam aos dentes jugais a morfologia
característica de dentes trituradores. Quando estas superfícies oclusais entram em contato,
num determinado instante, estabelecem-se relações entre esses elementos, caracterizando a
interdigitação oclusal.

Os aspectos típicos desse engrenamento oclusal individualiza a chamada oclusão


central, ou normal, base do equilíbrio estático e, consequentemente, da integridade
funcional das arcadas dentárias humanas.

1. OCLUSÃO DENTÁRIA PROPRIAMENTE DITA


O estudo da oclusão dentária, nsu latu, desenvolveu-se de tal maneira que, atualmente,
abrange não só as relações dos dentes entre si, como também a articulação
temporomandibular.

Admite-se mesmo uma entidade assaz complexa denominadaarticulação têmporo-


mandíbulo-dentária. Neste complexo estão incluídas as superfícies articulares
temporomandibulares e seus meios de união – que são constantes – e as superfícies dentárias
articuladas entre si, de existência descontínua.

Embora os dentes sofram modificações com o passar dos tempos, eles apresentam entre
si, coadjuvados pela articulação temporomandibular, uma série de pontos de reparo com os
quais coincidem outros pontos da arcada oposta.

Essa situação imprime ao ciclo mastigador uma atividade funcional que sempre se
repete. A perfeita coordenação deste movimento está na dependência da morfologia dos
dentes e da ATM. A curva de Balkwill-Spee atesta essa afirmação.

Realmente, se não houvesse essa curva de compensação – pelo fato de os incisivos


superiores sobreporem-se aos inferiores (psalidodontia - as cúspides dos molares e
premolares se engrenariam no sentido mésio-distal durante a mastigação, e pela própria
morfologia da ATM – os dentes perderiam contato ao deslizar a cabeça da mandíbula sobre
o côndilo temporal ou eminência articular.
Durante a mastigação, o ser humano efetua a compressão,
incisão e trituração dos alimentos, abrindo e fechando a boca,
projetando e retrocedendo a mandíbula e basculando-a
lateralmente. Toda essa mecânica tem, na mastigação, uma
importância fundamental; e só é possível graças à prefeita inter-
relação do sistema dentário-ATM.

Na transição na dentição provisória para a permanente há uma série de modificações que se


realizam nas arcadas dentárias. Na primeira há 20 dentes. E para receber os 32 dentes da
dentição permanente, os ossos maxilares e a mandíbula passam por várias modificações.

Durante o período de transição, que denominamos dentição mista, há um crescimento


proporcional das arcadas dentárias a fim de assegurar o espaço necessário à implantação
dos dentes permanentes. É a fase em que intensas modificações operam em todo o corpo.

Por isso mesmo, durante a transição da dentição decídua à permanente, elas ficam
sujeitas à ações ambientais, determinando e sujeitado a oclusão à uma adaptação funcional.

Daí nem sempre ser fácil determinar, na espécie humana, o que se entende por oclusão
normal e por maloclusão ou oclusão anômala.

Há certa dificuldade em definir oclusão, no tempo e no espaço, com toda gama de


variedade que ela sofre durante a sua evolução.

Em vista de os maxilares e mandíbula apresentarem entre si diversas posições, pode-se


dizer que há diferentes tipos de relações entre ambos e, consequentemente, entre as peças
dentárias que neles se implantam.

Quando a mandíbula se encontra em repouso, porém


com a musculatura num estado de semicontração, os
dentes inferiores acham-se afastados dos superiores
por um espaço de 2 a 3 milímetros. Há
desengrenamento dentário mesmo estando com a boca
fechada. Quando isso acontece,fala-se em inoclusão
fisiológica.

Este estado de separação das arcadas dentárias é obtido pela ação da gravidade que
afasta a mandíbula dos maxilares. Todos os movimentos mandibulares iniciam e terminam
nessa posição.

Existe a inoclusão dinâmica. É um afastamento mandibular que se realiza pela ação dos
músculos abaixadores, os quais eliminam os contatos entre os dentes superiores e inferiores.

Desde que haja contato entre os dentes antagônicos, está-se diante de uma situação
conhecida por oclusão. È necessário, porém, que a mandíbula esteja imóvel.
1. Cinemática mandibular (movimentos mandibulares).
O relacionamento maxilo-mandibular das arcadas
dentárias antagonistas, ao nível de suas porções centrais,
permite uma série de movimentos; e quando eles são
obtidos introduzindo-se um estilete entre os dentes
incisivos centrais inferiores, desenha-se o contorno do
movimento mandibular ou gráfico sagital de Posselt.

Durante os movimentos de
abaixamento e de elevação da mandíbula e estando os côndilos nas
posições mais posteriores e superiores da cavidade glenóide o
estilete descreve inicialmente um arco AB e o côndilo sofre
movimento de rotação apenas.

À partir deste ponto, ainda no abaixamento da mandíbula, o


estilete desenha o arcoBC mais longo e de curvatura mais
acentuada.

Ao elevarmos a mandíbula, com o côndilo voltando mais para


dentro da cavidade glenóide, o movimento de fechamento se dá
num único arcoCD.
A posição na mandíbula mais posterior e superior da cavidade glenóide determina a
denominada Relação Central(RC) que é uma relação interóssea (entre a mandíbula e os
maxilares).

Em D as arcadas antagônicas estão em relação de intercuspidação máxima que é


denominada Oclusão Central(OC), oclusão normal, máxima intercuspidação, etc. Note que
a OC é uma relação interdentária.

Se, com as arcadas em contato, realizamos o movimento de protusão da mandíbula, o


estilete, a partir do ponto Ddesenha um trecho descendente até o ponto E quando os incisivos
centrais inferiores e superiores estarão na Relação Topo a Topo (RTT).

Protuindo a mandíbula até o máximo, o estilete atinge o ponto M que é denominado


de protusão máxima.

Relação Central: a relação central corresponde à um resvalo das vertentes inclinadas


ou planos inclinados das faces oclusais dos dentes antagônicos, quando os côndilos
mandibulares encontram-se na posição mais retrocessiva e superior em relação com as suas
respectivas cavidades articulares (glenóides).

No gráfico de Posselt aparece de RC a PM o resvalo dentário, partido da Relação


Central (RC), passando pela Oclusão Central (OC), prosseguindo até à relação topo à
topo (RTT) e atingindo a protusão máxima (PM).

Embora a relação central não seja uma posição


dentáriafuncional (trata-se, como já vimos, de uma
relação interóssea), ela é somente alcançada, na
maioria das vezes, durante a deglutição do bolo
alimentar.

A importância dessa posição está no fato dela ser usada


para a reabilitação oclusão nas grandes perdas
dentárias, quando há necessidade de se relacionarem os
modelos das arcadas dentárias de um paciente. Isso
ocorre por ocasião dos mesmos em articuladores, principalmente os chamados totalmente
ajustáveis, com a finalidade de análise, ajuste e reabilitação oclusais. Nenhum,a teoria de
oclusão estará perfeitamente bem fundamentada se não se referir, de modo especial e
cuidadoso, à esta posição.

Oclusão central: pela própria definição de oclusão, verifica-se que os contatos entre os
dentes podem dar-se em apenas um ponto – ou em vários.

Todavia, existe uma forma de oclusão que se obtém a partir da posição de descanso
fisiológica, mediante ligeiro esforço muscular, suficiente para os dentes entrarem em contato,
sem pressão excessiva – é a oclusão central.
Corresponde à interdigitação máxima entre os dentes antagônicos, que alguns admitem
como oclusão normal,habitual, de conveniência, de intercuspidação máxima, de descaso, etc.,
na qual se acham presentes, como já vimos idealmente 138 pontos de contato entre os dentes
de arcadas diferentes.

Na oclusão central pode haver caráter de persistência, visto que as saliências e


depressões das superfícies oclusais dos dentes superiores oferecem uma série de pontos de
reparo com os quais coincidem sempre, e de uma só forma, as superfícies dentais dos dentes
inferiores.

Todo estudo que se fizer relativamente à oclusão dentária deverá incluir a oclusão
central. Daí a importância do seu conhecimento.

Cêntrica longa: é a distância percorrida entre RC e OC (1,25 cm em média) e que pode


ou não estar contida na linha anteroposterior. Se a RC e OC coincidirem, pode-se também falar-
se em cêntrica justa.

NOTA: quando se quer a montagem dos modelos no


articulador para fim de ajuste oclusal é necessário que se defina
ainda:
Ângulo das guias condilares: quando a mandíbula sofre
movimento de protusão os côndilos se deslocam para frente e
para baixo (acompanhando a forma da cavidade glenóide que
serve como guia deste movimento) formando os referidos
ângulos.

Ângulo de Bennett: quando a mandíbula é deslocada para o


lado de trabalho, o côndilo do lado de balanceio desloca-se para frente, para baixo e para
dentro. Esse deslocamento para dentro forma, com o plano horizontal um ângulo com o plano
paralelo ao plano sagital. É o ângulo de Bennett.
Ângulo de Fisher: No caso anterior, o côndilo desloca para
frente, para baixo e para dentro. O deslocamento para baixo
forma o ângulo de Fisher com o plano horizontal.

Chave de Oclusão de Angle


Ao lado: Edward Angle nos seus 40 anos de idade, na época
que se estabeleceu como o primeiro especialista da
odontologia. De 1905 a 1928, Angle trabalhou como
proprietário de escolas de ortodontia em St. Louis, New
London, Connecticut e Pasadena, Califórnia, onde muitos
dos pioneiros da ortodontia americana receberam sua
formação.

Segundo Angle, uma oclusão normal é aquela na qual os


primeiros molares superiores estão em "chave de
oclusão", ou seja, a cúspide mésio-vestibular do primeiro
molar superior oclui no sulco vestibular do primeiro molar
inferior. Se existir esta relação molar e os dentes estiverem
posicionados numa linha de oclusão com uma curva suave,
então se tem uma oclusão normal.
Em vista das bordas incisais e das cúspides vestibulares dos dentes superiores sobrepassarem
os seus correspondentes inferiores, os terços incisais e
oclusais destes ficam encobertos quando observados
pelo lado vestibular. O inverso acontece,quando
observamos os dentes pelo lado lingual, pois os terços
inferiores das cúspides linguais dos dentes anteriores,
ficam recobertos pelos dentes inferiores.

Quando se observa os dentes das arcadas superior e


inferior pelas faces proximais, verificam-se essas
relações e, ao mesmo tempo, percebe-se a divergência
ao longo de eixo dentário, no sentido craniocaudal.
São a sobre-saliência e a sobremordida.

As sobre-saliência e a sobremordida são relações que existem nos dentes anteriores e


posteriores. Nestes últimos existe, quer para as cúspides linguais de uma ou de outra arcada,
quer para as cúspides vestibulares.

A sobre-saliência é o trespasse (ou ultrapasse) horizontal, centrífugo, das coroas dos


dentes superiores, em relação às peças antagônicas, quando as arcadas estão em relação
central.

A magnitude da sobre-saliência nos dentes anteriores obtém-se medindo a distância que


separa as linhas verticais, que passam pelas borás incisais, dos dentes antagônicos, cuja relação
está a considerar-se.

Nos dentes posteriores a sobre-saliência tem valor estimado pela distância que separa as
linhas verticais, que passam pelo vértice das arestas longitudinais das cúspides vestibulares dos
dentes antagônicos, cuja relação se considere.

A sobremordida é estimada com referência à um plano vertical. Nos dentes anteriores,


esse transpasse mede-se pela distância que separa as linhas horizontais tangentes às bordas
incisais dos dentes antagônicos, cuja relação se considera. Nos casos ditos normais, esta
distância oscila em torno de 3 mm, ao nível dos incisivos centrais.

Nos dentes posteriores, a sobremordida corresponde a uma cúspide determinada


e, mede-se pela distância que separa as linhas horizontais, tangentes às cristas das bordas
marginais vestibulares dos dentes antagônicos, cuja relação está sendo considerada.

A quantidade da sobremordida varia de indivíduo a indivíduo, dentro de limites bastante


amplos. Porém, apesar desta variação, ainda se considera dentro dos limites normais, quando,
por exemplo, as bordas incisais dos incisivos inferiores tocam o terço cervical da face lingual
dos incisivos superiores.

Deve-se ficar claro, todavia, que a medida que nos distalizamos na arcada, há um
aumento da sobre-saliência e uma diminuição da sobremordida.
Por outro lado, nas mordidas topo a topo, sobremordida e sobre-saliência se anulam, e nas
mordidas cruzadas inverte-se o valor da sobre-saliência.

MOVIMENTOS DE LATERALIDADE

Para se examinar os movimentos mandibulares no plano horizontal, prende-se uma ponta nos
dentes inferiores que gravará traços em uma placa ligada aos dentes superiores.

O gráfico assim traçado corresponderá aos seguintes movimentos, a partir da posição de


relação central (fig.01 abaixo).
O côndilo esquerdo desloca-se para baixo e
para frente (e ligeiramente para medial)*,
enquanto o direito permanece em posição
na fossa mandibular (Fig. 02).

*Esse deslocamento para frente, para baixo


e para medial origina os ângulos já vistos de
Bennett e de Fisher.

Desta translação unilateral direita o côndilo direito


desliza para frente. Enquanto ele vai para frente (Fig.
03).

Agora é o côndilo esquerdo é que volta para dentro


da cavidade glenóide ruma à posição inicial (fig.04).
Se o côndilo direito voltar também para a posição de Relação
Central inicial o trajeto marcado será concluído em forma de
losango (Fig.05).

As linhas representam que formam o losango marcam os movimentos bordejantes e


a mandíbula não pode mover-se por fora dessas bordas. Dentro dessas linhas, a
mandíbula movimenta-se livremente em qualquer direção com movimentos
intrabordejantes. Cada ângulo do losango representa uma particular posição mandibular
reprodutível. O ângulo posterior é a relação central, isto é, a mais retruída relação da
mandíbula com o maxilar. Os outros ângulos são as posições lateral esquerda, de protrusão
máxima e lateral direita.

Esse método de traçar os movimentos mandibulares no plano horizontal é


frequentemente usado na clínica para registrar arelação central, ao se fazer próteses totais
ou outros procedimentos restauradores. Normalmente, o maior interesse está em se localizar
o ângulo que representa a posição mais retruída; então, não se perde tempo traçando todo o
gráfico. Em vez disso, concentra-se nos movimentos mais retrusivos e, como resultado, os
traçados obtidos assemelham-se a uma ponta de flecha ou à arquitetura de um arco gótico.
Por essa razão, o procedimento é chamado traçado do arco gótico.

Movimento de Bennett
Há um aspecto do movimento mandibular, de considerável importância, que é
o movimento de Bennett. Até aqui tem sido descrito o movimento lateral como sendo a
simples rotação de um côndilo, enquanto o outro desliza para frente.
Mas, frequentemente, entretanto, durante o movimento lateral, há um deslocamento
lateral de toda a mandíbula enquanto se realiza o processo de rotação e translação. Portanto,
o côndilo do lado do movimento (côndilo direito para o movimento lateral direito) não
permanece sem deslocamento, mas desloca-se cerca de 1,5mm para o lado do movimento
(direito, no caso). Essa mudança de posição da mandíbula para lateral é
chamada movimento de Bennett.
O grau de movimento de Bennett que ocorre varia de pessoa para pessoa, e os
articuladores podem ser ajustados para possibilitar isso. É importante esse ajustamento
porque os caminhos pelos quais as cúspides opostas superiores e inferiores deslizam em
movimentos laterais são afetados por presença ou ausência do movimento de Bennett.

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