Você está na página 1de 32

Estruturas ósseas da face e da articulação

temporomandibular

Apresentação
A face é formada por 14 ossos que articulam entre si para formar as aberturas para o sistema
respiratório e digestório, as órbitas que alojam os bulbos dos olhos, as formações ósseas que
permitem a fixação dos músculos da expressão facial e mastigação, dentre outras tantas funções. A
mandíbula é o único osso que forma uma articulação móvel, a articulação temporomandibular,
responsável, por exemplo, pela mastigação, pela fala e pela comunicação.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer o estudo anatômico das estruturas ósseas da
face e da articulação temporomandibular, bem como a relação dessas estruturas e alguns músculos
esqueléticos com a fala, a comunicação e a mastigação.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar as estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular.


• Reconhecer as estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular.
• Descrever a organização e a função dos músculos do rosto com as funções de fala,
comunicação e mastigação.
Desafio
A avaliação fisioterapêutica envolve, além do conhecimento técnico e das abordagens semiológicas,
o conhecimento minucioso da anatomia. É a capacidade de reconhecer as estruturas afetadas por
alguma patologia que faz o diferencial na hora de escolher o melhor tipo de tratamento para o
paciente.

Em casos de paralisia facial, os tratamentos eleitos para a reabilitação do indivíduo são


diversificados, podendo ser utilizados, independentemente da causa. A aplicação de tais métodos
fisioterápicos mostra melhora na simetria facial e sincinesias.

A seguir, veja a ilustração dos tratamentos:

Veja a seguinte situação:

Uma paciente do sexo feminino, de 23 anos, diagnosticada na UPA com paralisia facial idiopática à
direita há 6 semanas chegou à UPA durante a madrugada e foi atendida pelo médico
plantonista que, ao realizar alguns testes sensoriais e musculares, constatou a paralisia facial e a
encaminhou à fisioterapia. Durante anamnese você constata que a paciente “deu à luz” há pouco
mais de 6 semanas, o que poderia ser a causa da paralisia facial, não se enquadrando mais no
diagnóstico de “idiopática”. Os exames físicos constatam que existe realmente o quadro de paralisia
facial.

Diante dessas informações, faça as seguintes atividades:


a) Descreva a importância de se realizar a avaliação fisioterapêutica mesmo recebendo diagnóstico
médico.

b) Analise e explique como os tratamentos utilizados nesse tipo de paralisia podem promover a
melhora da simetria e sincinesia dos pacientes.
Infográfico
A articulação temporomandibular (ATM) é uma diartrose, ou seja, uma articulação com grande
mobilidade e, portanto, do tipo sinovial. Os movimentos realizados por essa articulação são
proporcionados pelo formato das suas superfícies articulares nos ossos que a formam e pelos
componentes observados, de certa forma, em todas as articulações sinoviais. Algumas
particularidades fazem da ATM uma articulação complexa, como a presença de um disco articular.

Você vai ver no Infográfico a seguir as principais características anatômicas e funcionais da ATM.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!


Conteúdo do livro
O esqueleto da cabeça é dividido em 8 ossos do crânio e 14 ossos da face. Os ossos da face
compõem o denominado viscerocrânio por ter as aberturas para os sistemas digestório (boca e
cavidade oral) e respiratório (abertura piriforme e cavidade nasal), bem como as órbitas com seus
bulbos dos olhos. Além disso, são nos ossos da face que será encontrada as fixações da maior parte
dos músculos que promovem as expressões faciais, a mastigação, a fala e, num contexto, mais
simplificado, a comunicação.

No capítulo Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular, que faz parte da obra
Anatomia aplicada à fisioterapia, você vai conhecer o estudo anatômico das estruturas ósseas da
face e da articulação temporomandibular, bem como a relação dessas estruturas e alguns músculos
esqueléticos com a fala, a comunicação e a mastigação.

Boa leitura.
ANATOMIA
APLICADA À
FISIOTERAPIA

Giulianna da Rocha Borges


Estruturas ósseas da
face e da articulação
temporomandibular
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as estruturas ósseas da face e da articulação temporoman-


dibular (ATM).
 Reconhecer as estruturas ósseas da face e da ATM.
 Descrever a organização e da função dos músculos do rosto com as
funções de fala, comunicação e mastigação.

Introdução
Neste capítulo, você vai descrever a morfologia e a função de estruturas
relacionadas à face, especificamente os ossos e os músculos envolvidos
nas funções de fala, comunicação e mastigação. Entretanto, essas não são
as únicas funções dessas estruturas anatômicas. Dos 22 ossos que formam
o crânio, 14 pertencem à face, a qual formará as órbitas que alocam os
bulbos dos olhos, a abertura piriforme, que dá passagem à cavidade nasal,
bem como a boca, que é a origem do trato gastrointestinal.
Ao conhecer essas estruturas e suas particularidades, você será capaz
de correlacionar às estruturas adjacentes, além de atribuir e compreender
as funções de cada uma delas. Nesse contexto, você vai precisar identi-
ficar e descrever as estruturas que compõem a ATM, a única articulação
móvel do crânio e que está envolvida nas funções de fala, comunicação,
mastigação e muitas outras.
2 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

Anatomia básica da face e da ATM


Você pode delimitar a região da face traçando uma linha unindo uma orelha a
outra, superiormente acima da fronte e, inferiormente, passando pelo queixo.
Todos nós costumamos demonstrar vários tipos de emoções e percepções por
meio de nossa face. Tais movimentos estão relacionados à ação dos músculos
da expressão facial. Porém, se observarmos as faces individuais, mesmo que
em repouso, veremos que nenhuma é igual a outra, exceto em raras situações.
Essa variabilidade na anatomia facial é resultado do formato que os ossos
subjacentes à pele e musculatura adquirem. Existem pessoas que apresen-
tam a região zigomática (“maçãs do rosto”) mais proeminente, em outras o
queixo é mais retraído, em algumas a fronte é maior, enfim, poderíamos citar
várias diferenças observadas e muito provável ainda faltariam outras. Essas
diferenças são resultado, principalmente, da variabilidade genética e algumas
vezes de agentes externos como traumas, cicatrizes, doenças, etc (MOORE;
DALLEY; AGUR, 2014).
Segundo Moore, Dalley e Agur (2014), as variações anatômicas observadas
nas faces individualmente são resultado direto das proeminências ósseas,
mais especificamente dos acidentes ósseos, da quantidade de tecido adiposo
armazenado na tela subcutânea facial e de pelos distribuídos pela região e até
mesmo em razão da cor e ações do envelhecimento. Ao longo dos anos, nossa
fisionomia, que está relacionada diretamente ao formato da face, modifica
muito. Por exemplo, à medida que a criança cresce, vai perdendo volume dos
corpos adiposos da bochecha, os ossos da face passam a crescer mais rápido
que os ossos do crânio, principalmente, pelo desenvolvimento dos seios para-
nasais. Além disso, há aumento das cavidades orbitais e nasais e crescimento
adicional da mandíbula e maxila pelo surgimento dos dentes permanentes.
O crânio é formado por 22 ossos, porém, é dividido em ossos do crânio
propriamente ditos e osso da face. Os oito ossos do crânio são um frontal,
dois parietais, um esfenoide, um etmoide, dois temporais e um occipital. Esse
conjunto de ossos também é conhecido como neurocrânio por formar a cavidade
craniana que aloja o encéfalo. Já a face, ou viscerocrânio, é composta pelos
14 ossos restantes. São eles uma mandíbula, duas maxilas, dois zigomáticos,
dois nasais, dois lacrimais, dois palatinos, duas conchas nasais inferiores e um
vômer. Destes, os ossos lacrimais, as conchas nasais inferiores, os palatinos
e o vômer não podem ser palpados na superfície do crânio. Apesar do osso
frontal formar a porção superior da face, não é considerado componente da
face (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2013). Nas
Figuras 1, 2 e 3, podemos identificar cada osso que compõe a face e suas
Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular 3

relações. Todos os ossos da face, com exceção da mandíbula, articulam entre


si por meio de articulações fibrosas denominadas suturas. A mandíbula forma
uma articulação do tipo sinovial, bastante móvel, com osso temporal (ATM).

Figura 1. Vista anterior do crânio.


Fonte: Tortora e Derrickson (2012, p. 129).
4 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

Figura 2. Vista lateral direita do crânio.


Fonte: Tortora e Derrickson (2012, p. 130).

Figura 3. Vista inferior do crânio.


Fonte: Tortora e Derrickson (2012, p. 132).
Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular 5

Não tente decorar a nomenclatura das estruturas. Faça correlações entre as estruturas,
suas nomenclaturas e funções, além de relacioná-las com estruturas vizinhas. Dessa
maneira, você perceberá que o aprendizado se torna mais significativo e duradouro.

Veja a seguir a Figura 4.

Figura 4. Neurocrânio e viscerocrânio.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 135).
6 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

Características anatômicas dos ossos da


face e ATM
Para melhor compreendermos a anatomia, é essencial descrever as estruturas
adjacentes e correlacioná-las entre si.

 Ossos nasais: são ossos pares, laminares e unidos na linha mediana


pela sutura internasal. Lateralmente se articulam com os ossos maxi-
lares em seus processos frontais e superiormente com o osso frontal
pela sutura frontonasal. Formam a porção superior do dorso do nariz e
o limite superior da abertura piriforme (MOORE; DALLEY; AGUR,
2014; TORTORA; NIELSEN, 2013).
 Maxilas: também são ossos pares. Têm formato irregular, porém são
classificados como ossos pneumáticos por apresentarem uma cavidade
(seio maxilar) no seu interior revestida por mucosa respiratória, que
se comunica com a cavidade nasal e drena sua secreção para ela. A
maxila articula-se medialmente com o osso frontal e nasal por seu
processo frontal, uma projeção superior desse osso. O processo frontal
segue lateralmente formando a face orbital que contribui para a porção
inferior da órbita e contém o sulco lacrimal. Mais lateralmente, a maxila
forma seu processo zigomático para articular-se com o osso zigomático.
Inferiormente, podemos observar os processos alveolares que têm os
alvéolos dentais onde se prendem os dentes do arco dental superior
ou maxilar. A porção central da maxila é o corpo no qual se destaca o
forame infraorbital que serve de passagem ao nervo infraorbital (ramo
do nervo maxilar do trigêmeo). Medialmente, a maxila forma o limite
lateral e inferior da abertura piriforme. Em vista inferior, o osso forma
a porção anterior do palato duro e denominado processo palatino da
maxila. A maxila se articula com todos os ossos da face, exceto a
mandíbula, porém, tem relação estreita com ela por meio dos dentes
dos arcos dentais superiores (maxilares) e inferiores (mandibulares). A
Figura 5 apresenta as características anatômicas da maxila (MOORE;
DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2013).
Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular 7

Figura 5. Vistas anterolateral e medial da maxila direita.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 150).

 Zigomáticos: os ossos zigomáticos são irregulares, relativamente peque-


nos e formam a porção lateral e proeminente das bochechas (“maçãs do
rosto”). Medialmente, articula-se com a maxila e forma a porção lateral
e assoalho da órbita. Lateralmente, sua projeção denominada processo
temporal forma o arco zigomático ao se articular com o processo zigo-
mático do osso temporal. Superiormente, forma uma pequena sutura
junto ao osso frontal que se estende posteriormente até o osso esfenoide
(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2013).
 Lacrimais: como não estamos considerando os ossos da orelha interna,
os ossos lacrimais são os menores ossos que compõem o crânio. São
ossos curtos localizados na porção medial e anterior da órbita articu-
lando-se com o frontal, etmoide e maxila. Atravessando esse osso, temos
parte do canal lacrimonasal por onde trafega o ducto lacrimonasal que
conduz as lágrimas produzidas na região orbital até a cavidade nasal
(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2013).
 Vômer: o vômer é um osso ímpar, mediano e laminar, localizado no
interior da cavidade nasal. Articula-se inferiormente com as maxilas e
os ossos palatinos, superiormente com a lâmina perpendicular do osso
etmoide e parte do esfenoide e anteriormente com a cartilagem septal,
contribuindo para a formação do septo nasal. Observe na Figura 6 as
relações anatômicas do vômer com o etmoide, esfenoide, maxila e pala-
tino (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2013).
8 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

Figura 6. Corte sagital do crânio.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 141).

 Palatinos: são ossos duplos e irregulares. Em forma de letra L, sua


porção inferior, a lâmina horizontal, articula-se com o processo palatino
da maxila, formando o terço posterior do palato duro. Na porção mediana
em que se articulam os dois ossos palatinos temos a crista nasal que
marca o ponto de articulação com o vômer. A lâmina perpendicular do
palatino é bastante irregular e articula-se com a maxila, o esfenoide,
concha nasal inferior e etmoide. Por incrível que pareça, uma parte da
lâmina perpendicular contribui para a formação de um pequeno pedaço
do assoalho da órbita (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2013).
 Conchas nasais inferiores: ao contrário das conchas nasais superiores
e médias que fazem parte do osso etmoide, as conchas nasais inferiores
são ossos individuais, localizados na parede lateral da cavidade nasal,
inferiormente às conchas nasais médias. As conchas nasais inferiores
se fixam na parede lateral e projetam-se de maneira encurvada para o
interior da cavidade nasal, formando o meato nasal inferior, um canal
que direciona o ar para dentro da cavidade (na inspiração) ou para
fora (na expiração) (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2013).
 Mandíbula: a mandíbula é o maior e único osso móvel do crânio. Em
forma de letra U ou de arco (TORTORA; NIELSEN, 2013), articula-se
apenas com o osso temporal do neurocrânio. Seu corpo forma a parte
anterior e lateral arqueadas e, posteriormente, por meio de uma angula-
Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular 9

ção (ângulo da mandíbula), o corpo se liga ao ramo da mandíbula, mais


perpendicular. No ramo da mandíbula, anteriormente temos o processo
coronoide que serve de ponto de inserção para o músculo temporal. A
incisura da mandíbula liga esse processo, posteriormente, ao processo
condilar que forma a ATM junto ao osso temporal. Toda a extensão
do corpo da mandíbula, superiormente, é caracterizada pela presença
dos processos alveolares para os dentes do arco dental inferior. Dois
forames têm grande importância clínica, os forames mentuais, loca-
lizados inferiormente aos segundos molares de cada lado e o forame
da mandíbula, localizados na face medial do ramo da mandíbula. Por
esses forames, passam a inervação sensorial dos dentes inferiores e
são alvos de anestésicos (TEIXEIRA; REHER, P.; REHER, V., 2017).
Na Figura 7, temos a identificação dos acidentes anatômicos descritos.

Figura 7. Mandíbula.
Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 152).

A ATM é a única articulação sinovial do crânio. Seu formato e suas es-


truturas anatômicas relacionadas permitem, relativamente, uma grande am-
plitude de movimento que, por sua vez, está diretamente envolvida nas várias
funções como fala, comunicação, mastigação e até mesmo respiração. Como
todas as articulações sinoviais, a ATM apresenta as estruturas básicas que
a classificam dentro desse tipo de articulação. Envolvendo as partes ósseas
que formam a articulação, o processo condilar da mandíbula e a fossa man-
10 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

dibular do osso temporal, temos uma cápsula articular de tecido conjuntivo


que fornece pouca estabilidade à articulação. Na parede interna da cápsula
articular há uma fina membrana sinovial, cujas células produzem e secretam
o líquido sinovial que lubrifica e nutre a cartilagem articular. Esta última é
do tipo hialina, mas existe um tecido fibroso avascular misturado a ela que
reveste as superfícies articulares dos ossos que se articulam (TEIXEIRA;
REHER, P.; REHER, V., 2017). Além desses componentes comuns a todas
as articulações sinoviais, a ATM ainda apresenta um disco articular formado
por fibrocartilagem que se interpõe entre as superfícies ósseas dividindo a
articulação em dois compartimentos, um superior e um inferior. Esse disco
fornece amortecimento às superfícies articulares e serve como um coxim
que melhora o encaixe entre essas superfícies. Como a cápsula articular não
fornece uma resistência suficiente à articulação, existe também um ligamento
que promove estabilidade adicional à ATM, o ligamento lateral, impedindo
o deslocamento lateral da mandíbula. As finas faixas do ligamento lateral
estendem-se em direção posterior e inferior a partir da margem inferior do
processo zigomático do temporal em direção às faces lateral e posterior do
colo da mandíbula (TORTORA; NIELSEN, 2013). Além desse ligamento,
temos os ligamentos esfenomandibular e estilomandibular, os quais partem do
osso esfenoide e do processo estiloide do temporal, respectivamente. Segundo
Tortora e Nielsen (2013), o ligamento estilomandibular insere-se na porção
posteroinferior do ramo da mandíbula e sua função é de limitar os movimentos
da articular. Seus feixes de tecido conjuntivo separam as glândulas parótida e
submandibular. O ligamento esfenomandibular também se insere no ramo da
mandíbula em sua face medial, superiormente ao ligamento estilomandibular,
e não contribui efetivamente para a estabilidade da ATM. Veja a Figura 8.
Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular 11

Figura 8. Articulação temporomandibular (ATM).


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 214).

De acordo com o tipo de movimento, a ATM é classificada como gínglimo,


porém, existem autores que acrescentam algumas características e a classificam
como complexa, pois, apesar de realizar os movimentos de elevação e de abai-
xamento da mandíbula, também é capaz de realizar deslizamentos anteriores
(protrusão) e posteriores (retrusão ou retração), de rotação e de lateralidade.
Para realizar tais movimentos, temos vários músculos esqueléticos relacionados
(MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2013).

Anatomia da fala, comunicação e mastigação


A capacidade de falar e de se comunicar de várias formas são característi-
cas fundamentais aos seres humanos. Um dos fatores que permite que os
movimentos para a realização dessas funções aconteçam é o fato de a ATM
ser uma articulação móvel (sinovial ou diartrose). A mandíbula é capaz de
realizar movimentos em vários eixos enquanto o osso temporal permanece
imóvel no crânio. A musculatura esquelética relacionada a esses movimentos
é denominada em conjunto como músculos da mastigação, porém, também
estão envolvidos com a fala. Em resumo, os músculos que movem a man-
díbula são masseter, temporal e pterigoideos medial e lateral (TORTORA;
NIELSEN, 2013).
12 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

 Músculo masseter: o músculo masseter é considerado o mais forte


músculo da mandíbula. Sua origem está na maxila e no arco zigomático
e sua inserção no ramo e no ângulo da mandíbula. Está envolvido na
retração e na elevação da mandíbula. É inervado pelo ramo mandi-
bular (V3) do nervo trigêmeo (V par de nervo craniano) (TORTORA;
NIELSEN, 2013).
 Músculo temporal: tem origem na fossa temporal e insere-se no pro-
cesso coronoide da mandíbula. Ao se contrair, eleva e retrai a mandíbula
atuando como um sinergista do m. masseter. É inervado pelo ramo
mandibular (V3) do nervo trigêmeo (V par de nervo craniano) (TOR-
TORA; NIELSEN, 2013).
 Músculo pterigoideo lateral: sua origem é na asa maior do esfenoide
e parte lateral do processo pterigoide e maxila. O músculo se insere no
côndilo da mandíbula e na ATM para protrair e abaixar a mandíbula
ao abrirmos a boca, além disso, sua contração move a mandíbula late-
ralmente. É inervado pelo ramo mandibular (V3) do nervo trigêmeo (V
par de nervo craniano) (TORTORA; NIELSEN, 2013).
 Músculo pterigoideo medial: sua origem é próxima ao m. pterigoideo
lateral na face medial do processo pterigoide e maxila e sua inserção é
na face interna do ramo e ângulo da mandíbula. Sua contração promove
elevação e protração da mandíbula e, assim como o m. pterigoideo
lateral, promove lateralização desse osso. É inervado pelo ramo man-
dibular (V3) do nervo trigêmeo (V par de nervo craniano) (TORTORA;
NIELSEN, 2013).

Você já se deu conta de que quando dormimos, principalmente sentados, a boca tende
a abrir? Isso é explicado pelo fato de que a maioria dos músculos da mandíbula, ao se
contraírem, fecham a boca (movimento de elevação). Dessa maneira, ao dormirmos,
a musculatura relaxa e, somada à ação da gravidade, abrimos a boca.

Veja a seguir as Figuras 9 e 10.


Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular 13

Figura 9. Músculo masseter e músculo temporal.


Fonte: Tank e Gest (2008, p. 324).

Figura 10. Músculos pterigoideos medial e lateral (os músculos masseter e temporal foram
seccionados).
Fonte: Tank e Gest (2008, p. 327).
14 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

Além da musculatura que move a mandíbula, temos também os músculos


relacionados à língua, que são fundamentais aos processos da fala e mastiga-
ção. Os músculos intrínsecos da língua formam a estrutura muscular desse
órgão (se originam e se inserem na própria língua) e promovem um pouco
de sua movimentação, mas, principalmente, alteram a sua forma. Já os mús-
culos extrínsecos promovem a fixação da língua em estruturas como o osso
hioide, processo estiloide do temporal e mandíbula e para isso têm origem
nessas estruturas e se fixam à língua para promover a sua movimentação
(TORTORA; NIELSEN, 2013).

 Músculo genioglosso. tem origem na mandíbula e inserção na face


inferior da língua e osso hioide. Com essa inserção, o músculo é capaz
de abaixar e protrair a língua. É inervado pelo nervo hipoglosso (XII
par de nervo craniano) (TORTORA; NIELSEN, 2013).
 Músculo estiloglosso: como a própria nomenclatura indica, tem origem
no processo estiloide do osso temporal. A inserção na parte lateral
e na face inferior da língua faz com que o músculo eleve a língua,
tracionando-a posteriormente. É inervado pelo nervo hipoglosso (XII
par de nervo craniano) (TORTORA; NIELSEN, 2013).
 Músculo hioglosso: tem origem no osso hioide, mais especificamente
no corno maior e corpo desse osso. A inserção é feita na margem lateral
da língua. Ao se contrair, promove abaixamento e traciona os lados da
língua para baixo. É inervado pelo nervo hipoglosso (XII par de nervo
craniano) (TORTORA; NIELSEN, 2013).
 Músculo palatoglosso: tem origem na face anterior do palato mole
e inserção na margem lateral da língua. Sua contração eleva a parte
posterior da língua e traciona o palato mole para baixo. É inervado pelo
nervo faríngeo proveniente do nervo vago (X par de nervo craniano)
(TORTORA; NIELSEN, 2013).

Veja a Figura 11 a seguir.


Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular 15

Figura 11. Músculos extrínsecos da língua.


Fonte: Tank e Gest (2008, p. 333).

Devemos ficar atentos que as funções de fala e mastigação dependem


não somente da integridade da musculatura e dos ossos descritos, mas tam-
bém da adequada inervação motora e sensorial dos músculos relacionados.
Ao pensarmos na comunicação, a tarefa se torna ainda mais complexa ao
considerarmos que o ato de se comunicar envolve não somente as estruturas
anatômicas relacionadas à fala, como também as envolvidas nas expressões
corporais, nos sentimentos, na regulação da respiração e outros. Além disso,
temos toda a musculatura da região da laringe que controla a entonação e
a abertura e o fechamento das pregas vocais, musculatura abdominal que
também está encarregada de aumentar a pressão abdominal para aumentar o
volume da voz e os músculos da expressão facial, principalmente, orbicular
da boca, bucinador, risório, levantadores do lábio superior e ângulo da boca,
abaixadores do lábio inferior e ângulo da boca e zigomáticos maior e menor.
Todos os músculos da expressão facial são inervados pelo VII par de nervo
craniano, o nervo facial (MOORE; DALLEY; AGUR, 2014; TORTORA;
NIELSEN, 2013).
16 Estruturas ósseas da face e da articulação temporomandibular

MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2008.
TEIXEIRA, L. M. S.; REHER, P.; REHER, V. G. S. Anatomia aplicada à odontologia. 3. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
TORTORA, G. J.; NIELSEN, M T. Princípios de anatomia humana. 12. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.
Dica do professor
A articulação temporomandibular é a única articulação móvel do crânio e seus movimentos são
promovidos pelos quatro músculos denominados em conjunto de músculos da mastigação. São eles
os músculos masseter, temporal, pterigoideo medial e pterigoideo lateral.
É fundamental que todo fisioterapeuta entenda as origens, inserções e, principalmente, ações dos
músculos a serem trabalhados. Dessa maneira, os métodos utilizados para fortalecimento,
alongamento e até mesmo o porquê de se observar alguns sintomas musculares podem ser melhor
compreendidos. Nos dias de hoje, é muito comum a atuação do fisioterapeuta na reabilitação de
disfunções temporomandibulares.

Na Dica do Professor, você vai estudar sobre a temática relacionada aos músculos da mastigação
relacionados à movimentação da mandíbula.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.
Exercícios

1) Otávio queixa-se de dor na região da face há 3 dias. Produz muita secreção amarelo-
esverdeada que se exterioriza pelas narinas. O médico solicita radiografia da face e detecta
obstrução e grande quantidade de secreção no seio maxilar, confirmando o diagnóstico de
sinusite. De acordo com o que você estudou sobre o osso maxilar, é correto o que se afirma
em:

A) a maxila é um osso ímpar que compõe o neurocrânio, parte do crânio composta pelos ossos
da face.

B) as maxilas são ossos duplos que formam a maior parte da abertura piriforme e parte medial da
órbita.

C) a maxila é um osso pneumático e constitui parte do neurocrânio e principalmente do


viscerocrânio.

D) a maxila não faz parte do viscerocrânio e por isso não pode conter um seio paranasal em seu
interior.

E) as maxilas formam o assoalho da cavidade craniana dando sustentação ao encéfalo e


estruturas associadas.

2) Fabiana tem 22 anos e desde os 15 apresenta episódios recorrentes de subluxação da


articulação temporomandibular. Como tratamento, recorre a anti-inflamatórios, fisioterapia
para fortalecimento e tratamentos ortodônticos. Com base nessas informações, quais
músculos podem ser trabalhados para que a articulação em questão se torne mais
estabilizada?

A) Músculos esternocleidomastoideo, temporal, tríceps braquial e orbicular da boca.

B) Músculos orbicular da boca, levantador da escápula, esternocleidomastoideo e mentual.

C) Músculos pterigoideos medial e lateral, mentual, estiloglosso e temporal.

D) Músculos temporal, masseter, pterigoideos medial e lateral.

E) Músculos masseter, pterigoideo medial, orbicular da boca e estiloglosso.


3) O bebê de Gabriela e Eduardo nasceu prematuramente e foi observada a presença de fenda
palatina. Geralmente, os ossos que compõem o palato duro se unem formando uma sutura
mediana em torno da 10ª a 12ª semanas de gestação. Quando esse processo não acontece
surge a fenda palatina que pode também ser acompanhada por fenda labial. Algumas
consequências são a dificuldade no reflexo de sucção e comunicação da cavidade oral com a
cavidade nasal. O tratamento é cirúrgico e tem bom prognóstico. Em se tratando da fenda
palatina, quais ossos são afetados e a qual parte do crânio eles pertencem?

A) Temporais e parietais. Viscerocrânio.

B) Maxilas e zigomáticos. Viscerocrânio.

C) Zigomáticos e esfenoide. Neurocrânio.

D) Frontal e palatinos. Neurocrânio.

E) Palatinos e maxilas. Viscerocrânio.

4) Artur sofreu um acidente de moto e teve a inervação para os músculos da mastigação


afetada. É muito comum Artur permanecer de boca aberta e ter dificuldades para mastigar
bem os alimentos. Analisando as informações, qual alternativa melhor explica a situação de
Artur?

A) A maioria dos músculos da mastigação estão relacionados à função de elevar a mandíbula, ou


seja, fechar a boca. Dessa maneira, a falta de inervação promove relaxamento dessa
musculatura, fazendo com que a boca se abra.

B) Os músculos da mastigação estão relacionados em igual proporção às funções de elevar e


abaixar a mandíbula, portanto, a falta de inervação afeta a mastigação, mas, principalmente,
faz com a boca permaneça aberta.

C) A falta de inervação provoca queda da mandíbula (boca aberta), pois os músculos que
promovem o abaixamento da mandíbula tornam-se hiperexcitados, provocando também
prejuízo na mastigação.

D) Os quatro músculos da mastigação, pterigoideos, temporal e masseter, promovem


abaixamento da mandíbula e a falta de inervação promove prejuízo na mastigação, porém,
não é possível promover a abertura da boca.

E) O fato de Artur abrir a boca não tem relação com a falta de inervação pelo trauma. É
considerado, na realidade, um mecanismo fisiológico de adaptação da musculatura para evitar
a fadiga.

5) Indivíduos portadores de esclerose múltipla, uma doença desmielinizante, podem apresentar


problemas na fala e na deglutição. O principal motivo é a lentificação dos sinais do sistema
nervoso central para os nervos que inervam a musculatura esquelética responsável por essas
funções. Baseando-se no que foi estudado, marque a alternativa que representa um músculo
diretamente relacionado à fala e sua ação correspondente.

A) Músculo mentual. Traciona a região mentual.

B) Músculo estiloglosso. Eleva a língua tracionando-a posteriormente.

C) Músculo levantador do lábio superior. Eleva o lábio superior.

D) Músculo levantador da asa do nariz. Eleva a asa do nariz.

E) Músculo zigomático maior. Traciona a rima da boca lateralmente.


Na prática
O fisioterapeuta tem atuação nas mais variadas áreas, inclusive em questões multidisciplinares. É
muito comum a prática da fisioterapia em conjunto com médicos e enfermeiros em hospitais, tanto
na enfermaria quanto na UTI. Tem-se a ação de equipes multidisciplinares em PSFs e até mesmo
em domicílios em que o cuidado com o paciente é fundamental. Agora, você sabia que o
fisioterapeuta pode trabalhar juntamente a dentistas? Ele pode. E os resultados são extremamente
gratificantes.

A seguir, você vai conhecer um caso clínico sobre a neuralgia do trigêmeo e compreender um
pouco mais sobre a ampla atuação da fisioterapia.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Casos clínicos em anatomia [Série Casos Clínicos]


Para compreender melhor as causas e consequências da neuralgia do trigêmeo e aprofundar seus
conhecimentos, leia o Caso 41 desse livro, acessando o link.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Osteomielite mandibular refratária em paciente com


osteopetrose: relato de caso
Leia o seguinte artigo e conheça um pouco sobre a osteomielite mandibular, osteopetrose e a
atuação do fisioterapeuta nessas condições.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

Diferença de hipotonia e flacidez dos músculos da fala


Para saber como diferenciar hipotonia muscular de flacidez muscular, bem como as consequências
desses processos quando ocorrem nos músculos relacionados à fala, assista este vídeo.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

Você também pode gostar