Você está na página 1de 21

Radiologia em Endodontia

por Eduardo Luiz Barbin e Nádia de Souza Ferreira

Raios (de) Röntgen, na Física Nuclear, o mesmo que raios X.


"raios x", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
https://dicionario.priberam.org/raios%20x [consultado em 24-07-2019].
Wilhelm Conrad Röntgen (Lennep, 27 de março de 1845 — Munique, 10 de fevereiro de
1923) foi um físico e engenheiro mecânico alemão. Em 8 de novembro de 1895,
produziu e detectou radiação electromagnética nos comprimentos de onda
correspondentes aos atualmente chamados raios-X.
Por essa descoberta, Wilhelm ganhou seu primeiro Nobel de Física, em 1901. Em 2004,
em reconhecido a seus feitos científicos, a União Internacional de Química Pura e
Aplicada (IUPAC) nomeou o elemento químico 111 de roentgênio.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Conrad_R%C3%B6ntgen [consultado em 24-07-2019]

1 Introdução

Por meio da Imagenologia (ou Imaginologia), obtém-se evidências importantes para


o diagnóstico e para a terapêutica, sendo que a Radiologia Convencional e as Tomografias
são de extrema importância para a Odontologia.
Segundo Leonardo (2008), das especialidades da Odontologia, a Endodontia é uma
daquelas que mais necessita de radiografias, utilizando-as no diagnóstico, durante o tratamento
endodôntico, no prognóstico e na proservação (acompanhamento ou “follow-up”).
Os exames radiológicos devem ser entendidos como exames complementares, isto
é, a imagem radiográfica deve ser considerada conjuntamente com as demais evidências
clínicas (sinais, sintomas e resultados de outros exames). Reitera-se, portanto, que os
achados radiográficos se somam às demais evidências clínicas possibilitando ao Cirurgião-
dentista a composição do diagnóstico, do plano de tratamento, do prognóstico e da
avaliação dos resultados da terapêutica endodôntica.
A interpretação da imagem radiográfica depende da sua qualidade que, por sua vez, resulta
do que segue:
=> escolha do tipo e apropriação das características do filme radiográfico;
=> execução de uma técnica radiográfica apropriada e adequada para cada caso;
=> processamento adequado;
=> [condições de visualização da imagem radiográfica].

1
Considerando a terapêutica endodôntica, a radiografia convencional é empregada
nas seguintes etapas:
=> radiografia inicial, pré-clínica ou de diagnóstico para diagnóstico e planejamento,
- reconhecimento da anatomia interna (condição da câmara pulpar, número de canais,
curvaturas, calcificações), lesões periapicais, rastreamento de fístula, reabsorção
radiculares (interna e externa);
=> tratamento endodôntico
- odontometria; seleção do cone principal (prova radiográfica do cone principal), avaliação
da qualidade da obturação ao final da condensação lateral;
=> radiografia final que documenta o tratamento endodôntico executado;
=> radiografias de controle, acompanhamento, proservação ou “follow-up”.

O exame radiográfico convencional oferece uma imagem bidimensional (altura e


largura) de uma estrutura do corpo humano do paciente que é tridimensional (altura,
largura e profundidade). Segundo Leonardo (2008), o profissional, ao interpretar a
radiografia convencional, deve buscar evidências que sustentem uma interpretação da
terceira dimensão, ou seja, da profundidade (vestíbulo-lingual).
Na dependência da trajetória do feixe de raios X, ora algumas estruturas podem
estar sobrepostas e ora dissociadas, sendo a técnica radiográfica importante para a
dissociação e interpretação.

2 Aspectos Fundamentais da Radiologia Endodôntica

Alguns aspectos fundamentais da Radiologia Endodôntica devem ser sempre


considerados, a saber:
=> o dente em tratamento deve ser centralizado na imagem radiográfica;
=> o filme deve ser corretamente posicionado (anteriores-vertical; posteriores-horizontal);
=> evitar dobras do filme (o filme deve ficar plano, salvo por problemas técnicos com
justificativa razoável);
=> o eixo central do feixe de raios X deve passar pelo ápice radicular;
=> os parâmetros da tomada radiográfica devem seguir rigorosamente os princípios da radiologia;
=> o processamento radiográfico deve seguir rigorosamente os princípios da radiologia
- a nitidez e a durabilidade da imagem dependem do processamento adequado;
=> posicionamento apropriado do filme radiográfico para observação da imagem
- face do filme com a convexidade do picote voltada para o observador,
- a parte móvel da garra da colgadura voltada para o observador e o gancho voltado para a
fonte de luz.

2
Figura. À esquerda, feixe central de raios X incidindo na altura do ápice radicular. À direita, dente com
periapicopatia crônica centralizado na imagem radiográfica (LEONARDO, 2008).

Figura. “A pressão [pelo dedo do paciente contra o palato] sobre o filme radiográfico frequentemente causa uma curvatura
no filme, produzindo uma imagem distorcida. Esta curvatura do filme “estica” a metade apical da raiz, tornando impossível
uma interpretação precisa e a determinação do comprimento” (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

2 Técnicas Radiográficas Intra-bucais

São as tomadas radiográficas nas quais o filme é colocado no interior da cavidade


bucal no momento da obtenção das radiografias.

2.1 Radiografia Periapical (Técnica da Bissetriz)

Com relação à Técnica da Bissetriz, o feixe central de raios X deve ser dirigido ao
plano médio do dente [ortorradial], e perpendicular à bissetriz do ângulo formado entre o
plano do longo eixo do dente e o plano do filme. É a técnica mais utilizada durante o
tratamento endodôntico devido a sua fácil manipulação e rápida obtenção.
Cabe destacar que, se o feixe central de raios X for direcionado perpendicular ao
dente, ocorrerá alongamento da imagem que gera imprecisão com risco de sobre
instrumentação (CTP = CAD - 2 a 3 mm) e dificuldade de observação do ápice radicular.

3
Por outro lado, direcionando-se o feixe central de raios X perpendicularmente ao
filme, ocorrerá encurtamento da imagem gerando alguma imprecisão, mas com menor risco
de sobre instrumentação (CTP) e ainda com possibilidade de visualização do ápice radicular.
Ressalta-se, ainda, que Leonardo (2008) sugere que o eixo central do feixe de raios
X deve passar pelo ápice radicular.

2.2 Radiografia Periapical (Técnica do Paralelismo)

No caso da Técnica do Paralelismo, o feixe central de raios X deve ser dirigido


perpendicularmente (ou formando um ângulo reto) ao longo eixo dos dentes e ao plano do
filme. A Técnica do Paralelismo geralmente emprega o uso de posicionadores e, embora
tenha taxa de distorção menor e seja indicada para Endodontia por Goerig e colaboradores
(1982), não se observa sua utilização rotineira na Endodontia.

2.3 Técnica Oclusal

A Técnica Oclusal é realizada com tomadas radiográficas que permitem uma


visualização de áreas maiores na maxila e mandíbula geralmente utilizando filme radiográfico
específico e podem ser utilizadas em Endodontia para visualização de lesões extensas.
[A Técnica Oclusal modificada pode ser útil em tomadas radiográficas de dentes
anteriores superiores em casos de palato estreito, sendo que, nesse caso, utiliza-se o mesmo
ângulo de incidência, o mesmo posicionamento do filme, mas empregando filme periapical].

2.4 Técnica Interproximal

A Técnica Interproximal indicada para avaliação de faces interproximais de dentes


posteriores e avaliação de cristas ósseas. Em Endodontia, pode ser aplicada para melhor
visualização da câmara pulpar, como na observação da relação entre soalho e teto da
câmara pulpar em dentes posteriores e presença de calcificações e dentina reacional na
câmara pulpar, podendo ser utilizada como referência para a realização da abertura
coronária.

4
3 Da Interpretação das Estruturas Anatômicas

A cavidade endodôntica se traduz, na radiografia convencional, como uma imagem


radiolúcida (escura) quando comparada com a imagem radiopaca da dentina (imagem mais
clara). Considerando a anatomia interna e a morfologia do próprio canal radicular, alguns
aspectos devem ser observados na interpretação da imagem radiográfica, no sentido de se
determinar as características e o número de canais radiculares, a saber:
=> se há centralização da imagem do canal na imagem da raiz;
=> se há proporcionalidade entre os diâmetros do canal e da raiz;
=> se é possível observar a morfologia cônica da imagem do canal radicular;
=> se a imagem do canal radicular estende-se da coroa até a região apical;
=> se a imagem do canal radicular se interpõe às imagens do periodonto lateral, linhas
radiolúcidas localizadas nas bordas da imagem da raiz;
=> se há imagem de um ou de mais de um ápice radicular.

3.1 Da Interpretação de Raízes com Canal Radicular Único

A imagem relativa a uma raiz contendo canal único apresenta-se como segue:
=> imagem centralizada do canal radicular em relação à imagem da raiz;
=> o diâmetro da imagem do canal radicular guarda proporção de diâmetro com a imagem da raiz;
=> geralmente, a morfologia cônica do canal radicular com estreitamento uniforme é visível;
=> geralmente, o canal estende-se da coroa até a região apical;
=> a imagem do canal radicular se interpõe às imagens do periodonto lateral, ou seja, se
coloca entre às linhas radiolúcidas localizadas nas bordas da imagem da raiz;
=> não se observam outras linhas radiolúcidas longitudinais (da coroa para o ápice) na raiz
entre suas bordas laterais delimitadas pelas linhas radiolúcidas relativas ao periodonto lateral;
=> imagem de apenas um ápice radicular.

Figura. Imagem relativa a uma raiz contendo um canal (LEONARDO, 2008).

5
3.2 Da Interpretação de Raízes com dois Canais Radiculares, um Vestibular e outro Lingual

A imagem relativa a uma raiz contendo dois canais radiculares, um vestibular e


outro lingual, apresenta-se como segue:
=> imagens descentralizadas dos canais radiculares em relação à imagem da raiz
- sugestão de dois canais, sendo, na imagem, um mesial e outro distal,
- sugestão de deflexão ou deslocamento do canal a partir de um ponto determinado (ponto
provável da bifurcação);
=> não há proporcionalidade entre os diâmetros do canal e da raiz a partir da bifurcação;
=> embora possa se observar uma morfologia cônica da imagem do canal radicular, o
estreitamento não é uniforme no sentido da coroa para o ápice
- o ponto de estreitamento marcante ou abrupto indica a bifurcação do canal;
=> a imagem do canal radicular não se estende da coroa até a região apical
- ocorrência associada a canais com bifurcação e atresiados a partir da bifurcação;
=> imagem do canal radicular se interpõe às imagens [linhas longitudinais radiolúcidas]
relativas a abaulamentos radiculares mono ou bilaterais
- abaulamento bilateral associado às bifurcações do canal radicular,
- se a bifurcação termina antes do terço apical, a bifurcação não envolve o terço apical,
- se a bifurcação ocorre até a região apical, a bifurcação estende-se até a região apical;
=> imagem de um ou de mais de um ápice radicular.

Figura. Imagem relativa a uma raiz contendo dois canais. À esquerda, seta indicando ponto provável da
bifurcação. No centro, fim da proporcionalidade a partir da bifurcação. À direita, ponto de estreitamento
marcante no terço médio (LEONARDO, 2008).

Figura. Em A, tomada ortorradial de pré-molar, observa-se estreitamento abrupto do canal (seta pequena) que
geralmente indica bifurcação do canal; proeminência de raiz dupla na superfície mesial (seta grande) indica
duas proeminências e uma concavidade; a sua ausência na superfície distal indica uma superfície radicular
plana ou convexa. Em B, o mesmo pré-molar em uma incidência proximal dá conta de dois canais definidos,
cada qual em sua proeminência radicular (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

6
Figura. À esquerda, em um dos canais, a imagem não se estende até a região apical. À direita, imagem dando
a impressão de canais calcificados (LEONARDO, 2008).

Figura. À esquerda, canal único: percebe-se a presença de linhas radiolúcidas referentes ao periodonto lateral. No centro,
o abaulamento unilateral da raiz gera uma linha radiolúcida longitudinal que começa e termina no periodonto. À direita, o
abaulamento bilateral da raiz gera duas linhas radiolúcidas longitudinais que começam e terminam no periodonto: esta
ocorrência está associada às bifurcações do canal radicular [abaulamento relaciona-se à presença de septo entre os canais]
(LEONARDO, 2008).

Figura. Imagem de dois ápices radiculares sugerindo, pelo menos, dois canais. Observe, nas duas radiografias
centrais, obtida com incidência mésio ou distoangulada (mésio ou distoradial), a imagem mais radiolúcida
referente aos dois ápices e a imagem radiopaca, entre eles, que não deve ser confundida com o terceiro ápice,
pois refere-se ao maciço radicular ou área da imagem relativa à sobreposição das duas raízes que é, portanto,
mais radiopaca por corresponder à dupla espessura dentinária. À direita, duas radiografias de um canino
inferior sugerindo dois ápices radiculares e, pelo menos, dois canais (LEONARDO, 2008).

Figura. À esquerda, com angulação mesial, observa-se insucesso no tratamento endodôntico devido a uma raiz ou um
canal despercebido e raiz palatina (seta) não tratada. À direita, radiografia de controle, após 9 meses da reintervenção,
mostra regeneração óssea e redução da lesão (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

7
4 Técnicas Radiográficas Importantes para Endodontia

É importante revisar os planos do corpo humano ilustrados na figura seguinte.

Figura. À esquerda, plano horizontal (transverso ou transversal) que divide superior de inferior.
No centro, plano frontal (ou coronal) que divide anterior de posterior. À direita, plano sagital que
divide direito de esquerdo. As imagens no centro e à direita são exemplos de planos verticais que
dividem anterior de posterior (frontal ou coronal) e direito de esquerdo (sagital).

As tomadas radiográficas ortorradiais (incidência frontal do feixe de raios X


“paralelo ao plano sagital do dente”) tendem a sobrepor estruturas dificultando a
interpretação anatômica em sua terceira dimensão (profundidade).
Com o objetivo de dissociar a imagem das estruturas anatômicas, lança-se mão da
variação do ângulo de incidência do feixe de raios X, a saber:
=> variação do ângulo horizontal;
=> variação do ângulo vertical.

Na variação do ângulo horizontal, o feixe de raios X está sempre paralelo ao plano


horizontal, sendo que o plano horizontal pode ser definido como aquele que é resultante do corte
transversal. Destacam-se, dentre as técnicas de variação do ângulo horizontal, as seguintes:
=> Técnica de Clark;
=> Técnica do rastreamento radiográfico tri-angular de Bramante e Berbert;
=> Técnica de Heckel Almeida (Variação da Técnica de Clark que utiliza o filme dobrado e 2 exposições).

Na variação de ângulo vertical, o feixe está sempre paralelo a um plano vertical,


considerando que um plano vertical é resultante de um corte longitudinal.
=>Técnica de Le Master;
=> Técnica do Aumento do Ângulo Vertical para Visualização do Ápice de Caninos e Pré-
Molares Superiores [tende ao perpendicularismo ao filme / relacionado ao encuratamento];
=> Técnica da Variação do Ângulo Vertical para Visualização de Fraturas Radiculares

8
4.1 Variação do Ângulo Horizontal

A variação pequena do ângulo horizontal geralmente é suficiente para dissociar


estruturas vestibulares e linguais sem, contudo, promover distorções indesejadas.
A variação do ângulo horizontal de incidência do feixe de raios X geralmente se dá
segundo relatado a seguir:
=> ortorradial (incidência frontal) “paralela ao plano sagital do dente”;
=> com incidência pela mesial (sinonímia: mesiorradial, mesializada ou mesioangulada).
=> com incidência pela distal (sinonímia: distorradial, distalizada ou distoangulada).

4.1.1 Técnica de Clark de Variação do Ângulo Horizontal

Na Técnica de Clark, a incidência do feixe de raios X ocorre pela proximal e o


princípio da Técnica de Clark é de que a imagem da estrutura anatômica localizada
lingualmente, posiciona-se, na radiografia, do mesmo lado de incidência dos raios X.

Figura. Incidência pela mesial (mesioradial) gerando imagem com raiz palatina pela mesial (LEONARDO,
2008; TORABINEJAD; WALTON, 2010).

Figura. Em A, incidência ortorradial dos incisivos sugere um canal único e uma única raiz. Em B, a
incidência distal (canino) fornece uma perspectiva diferente. Os canais dos incisivos lateral e central parecem
se bifurcar no terço médio da raiz (seta) e se reunir no terço apical (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

9
Figura. Em A, sobreposição do processo zigomático (seta) com o ápice. Em B, incidência por mesial dissocia
as estruturas (seta) deslocando o ápice para a mesial (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

Segundo Leonardo (1998), a escolha da face proximal de incidência depende do dente, a saber:
=> Pré-Molar Superior: a incidência mais indicada é a mesiorradial;
=> Molar Superior com 3 canais: a incidência mais indicada é a ortoradial;
=> Molar Superior com ênfase na raiz mesiovestibular: a incidência mais indicada é a distoradial;
=> Molar Superior com ênfase na raiz distovestibular: a incidência mais indicada é a mesioradial;
=> Molar Inferior com ênfase na raiz mesial: a incidência mais indicada é a distoradial;
=> Molar Inferior com ênfase na raiz distal: a incidência mais indicada é a mesioradial (ou ortoradial).

Figura. Ângulo de incidência horizontal recomendado em Endodontia (LEONARDO, 2008, p. 549)

4.1.1.a Pré-Molar Superior: Incidências mais Indicadas

No caso dos Pré-Molares Superiores, a incidência mais indicada é a mesiorradial.

10
Figura. Radiografia de Pré-Molar Superior. Em A, ortoradial. Em B, mesioradial (melhor dissociação). Em
C, distorradial com sobreposição (LEONARDO, 2008).

4.1.1.b Molar Superior: Incidências mais Indicadas

No caso dos Molares Superiores, observam-se as seguintes peculiaridades:


=> com 3 canais: a incidência mais indicada é a ortoradial;
=> se necessária ênfase na raiz mesiovestibular: a incidência mais indicada é a distoradial;
=> se necessária ênfase na raiz distovestibular: a incidência mais indicada é a mesioradial;

Figura. Radiografia de Molar Superior. Em A, ortoradial. Em B, mesioradial (melhor visão da raiz


distovestibular). Em C, distorradial (com melhor visão da raiz mesiovestibular). À direita, distorradial com
melhor visão da raiz mesiovestibular com dois canais (LEONARDO, 2008).

4.1.1.c Molar Inferior: Incidências mais Indicadas

No caso dos Molares Inferiores, observam-se o que segue:

=> se necessária ênfase na raiz mesial: a incidência mais indicada é a distoradial;


=> se necessária ênfase na raiz distal: a incidência mais indicada é a mesioradial ou
ortoradial.

11
Figura. Radiografia de Molar Inferior. Em A, ortoradial. Em B, mesioradial. Em C, distorradial com melhor
visão e dissociação das estruturas da raiz mesiovestibular (LEONARDO, 2008).

Figura. Radiografia de Molar Inferior. Em A, ortoradial. Em B, mesioradial. Em C, distorradial. Observa-se


maior dissociação das raízes distais com incidências orto e mesioradiais (LEONARDO, 2008).

Figura. Em A, “incidência mesial fornece informações limitadas acerca das características morfológicas e do
relacionamento dos quatro canais”. Em B, “uma incidência distal correta “abre” as raízes. Os canais mesiais
são facilmente visualizados em todo o seu comprimento. O canal distal é um canal único e amplo, pois os
instrumentos estão próximos e paralelos” (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

A Técnica de Clark de variação do ângulo horizontal é útil para a


detecção/identificação de perfurações (iatrogenias), bem como de reabsorções externas.
No caso das perfurações, pela vestibular ou pela lingual, a incidência ortoradial em
um dente com lima endodôntica introduzida na possível perfuração pode gerar uma
radiografia cujo instrumento encontra-se alinhado com a direção do canal. No entanto, uma
tomada pela proximal (ex.: mesioradial) pode gera uma imagem do instrumento dissociada

12
da imagem do canal nos casos de perfuração (ex.: com incidência mesioradial e perfuração
na vestibular, imagem do instrumento pela distal).

Figura. À esquerda, ortoradial (sobreposição da lima com o canal). No centro, distorradial e imagem da ponta
do instrumento deslocada para mesial. À direita, em b, mesioradial, e imagem da ponta do instrumento
deslocada para distal (alça do grampo geralmente indica a distal) evidenciando perfuração pela vestibular
(LEONARDO, 2008).

Figura. “Em A, uma perfuração no preparo do núcleo intrarradicular está indicada pela lesão mesial, embora
a perfuração não seja visível nesta incidência vestibular. Uma radiografia adicional irá possibilitar detectar se
a perfuração ocorreu na face vestibular ou lingual. Em B, a extremidade do núcleo movimentou-se
ligeiramente para distal nesta incidência mesial. Logo, a perfuração está localizada na face vestibular (regra
SLOV). Em C, o sítio da perfuração (seta)” (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

Figura. “Técnica para a localização de canais não percebidos durante o acesso endodôntico e pesquisa da
câmara pulpar. A, Radiografia distal com uma única lima na raiz mesial mostra que a lima localizou-se
vestibularmente. Portanto, um outro canal deve estar presente na face lingual. As linhas radiolúcidas verticais
(setas) representam o espaço do ligamento periodontal na raiz mesial. B, Uma pesquisa cuidadosa na face
lingual revela o canal” (TORABINEJAD; WALTON, 2010).

13
4.1.2 Técnica do Rastreamento Tri-Angular de Bramante e Berbert

A técnica do rastreamento radiográfico tri-angular de Bramante e Berbert pode ser


entendida como sendo uma variante sofisticada da Técnica de Clark que, embora
complexa, permite a localização de estruturas iatrogênicas (perfurações) ou patológicas
(reabsorções patológicas não-Inflamatórias Invasivas externas).
A técnica do rastreamento tri-angular utiliza três tomadas radiográficas (orto, mésio
e distorradial) e permite a localização da estrutura anatômica por quadrante da raiz
(mesiovestibular, distovestibular, mesiolingual ou distolingual).
Se considerarmos, por exemplo, uma curvatura radicular que aparentemente esteja
para o lado distal, na verdade, ela tanto pode estar para distal, como disto vestibular ou
distolingual.

Figura. Durante uma tomada radiográfica ortorradial verifica-se uma curvatura para distal. Existe a
possibilidade da curvatura ser distal, distovestibular ou distolingual (LEONARDO, 2008).

Figura. Ao realizar uma tomada distorradial ainda verifica-se a curvatura. Assim, descarta-se a possibilidade
da curvatura ser distovestibular. Assim, restam duas possibilidades: a curvatura ser distal ou distolingual
(LEONARDO, 2008).

14
Figura. Ao realizar uma tomada mesiorradial verifica-se a aparência de uma raiz reta. Assim, como houve
coincidência entre a curvatur e a incidência dos raios X, a curvatura está para o lado distolingual
(LEONARDO, 2008).

4.1.3 Técnica de Heckel Almeida de Variação do Ângulo Horizontal

A Técnica de Heckel Almeida empregada conjuntamente com a variação do ângulo


horizontal, pode ser descrita com sendo uma variação da Técnica de Clark, na qual duas
tomadas radiográficas com variação de angulação horizontal são realizadas na mesma
película radiográfica dobrando-se o filme.
A dobra reduz à metade a área do filme radiográfico e dificulta o enquadramento,
mas quando executada com habilidade, reduz custos.

4.2 Variação do Ângulo Vertical

4.2.1 Técnica de Le Master de Variação do Ângulo Vertical

Na radiografia dos molares superiores, é possível ocorrer a sobreposição do


processo zigomático com os ápices radiculares. A redução do ângulo vertical tende a
dissociar as estruturas citadas, mas gera um efeito adverso: o alongamento da imagem.
Para reduzir o efeito adverso de alongamento, o filme radiográfico deve ser posicionado
paralelo ao longo eixo do dente o que pode ser realizado posicionando-se um rolete de
algodão entre o filme radiográfico e a coroa dental do molar superior podendo-se
aproveitar a aleta do grampo de isolamento para fixação do rolete.

15
Figura. À esquerda, angulação vertical padrão de uma molar superior resultando na sobreposição do processo
zigomático com os ápices radiculares. No centro, posicionamento do filme radiográfico com a interposição
de um rolete de algodão entre a coroa e o filme. À direita, ângulo vertical reduzido mantendo-se a
perpendicularidade entre o feixe de raios X e o dente, bem como ao filme resultando na dissociação das
estruturas (LEONARDO, 2008).

4.2.2 Aumento do Ângulo Vertical para Visualização do Ápice de Caninos e Pré-Molares Superiores

Nos casos de caninos e pré-molares superiores de comprimento pronunciado e


ápices afilados, a imagem do ápice pode ser inconclusiva. O aumento do ângulo vertical de
forma a promover o encurtamento da imagem (tendência à incidência perpendicular ao
filme) pode melhorar a imagem do ápice radiográfico.

Figura. À direita, imagem encurtada pela elevação do ângulo vertical e


melhor nitidez do ápice radiográfico (LEONARDO, 2008).

4.2.3 Variação do Ângulo Vertical para Visualização de Fraturas Radiculares

A variação da angulação vertical pode promover o que segue:


=> impedir a visualização radiográfica da fratura;
=> permitir a identificação da fratura.

A variação do ângulo vertical pode evidenciar ainda, o que segue:


=> as características da fratura;
=> a justaposição dos fragmentos.

16
As características da fratura são melhores observadas por angulação vertical que
não coincida com o plano da fratura. A justaposição dos fragmentos, por sua vez, é
analisada mais apropriadamente por angulação vertical que coincida com o plano de
fratura. A coincidência ou não do feixe de raios X com o plano da fratura são obtidas pelo
método da tentativa e erro.

Figura. Variação do ângulo vertical para análise das características da fratura bem com da justaposição dos
fragmentos (LEONARDO, 2008).

4.2.4 Dissociação entre Coroa e Pino pela Variação do Ângulo Vertical

A variação do ângulo vertical pode ser empregada para dissociar a imagem da


coroa protética com o pino de contenção intrarradicular. A redução do ângulo vertical
geralmente dissocia as estruturas citadas.

Figura. De a para c houve a redução do ângulo vertical e dissociação da imagem da coroa em relação à
imagem do pino. Apenas em c observa-se o pino na raiz mesiovestibular (LEONARDO, 2008).

17
4.2.5 Dissociação entre Asa do Grampo e Ápices do Molar Inferior pela Variação do
Ângulo Vertical

Considerando os molares inferiores, a direção de incidência do feixe de raios X que


tende a ser paralela ao plano que coincide com as asas do grampo de isolamento possibilita
a visualização dos ápices radiculares e impede a sobreposição da asa do grampo com os
ápices radiculares dos molares inferiores.

Figura. Direção de incidência do feixe de raios X em relação ao plano que coincide com as asas do grampo
de isolamento influenciando a visualização dos ápices radiculares. À esquerda, sobreposição. À direita,
dissociação (LEONARDO, 2008).

5 Identificação do ângulo de incidência horizontal utilizado

Ao observar radiografias em que tenha sido variada a angulação horizontal é


fundamental saber qual foi a angulação utilizada. Nos casos de radiografias realizadas por
outro profissional ou quando o profissional não se lembra da angulação utilizada alguns
fatores poderão ser observados.

5.1 Asa do grampo do dique de borracha

A incidência com angulação vertical faz com que a asa do grampo lingual
aproxime-se do ápice radicular e a asa vestibular, da coroa. Sabendo que o objeto palatino
sempre se desloca para o lado da incidência horizontal de raios X, pelo posicionamento
proximal da asa do grampo lingual é possível determinar a angulação horizontal.

18
Figura. Determinação do angulo horizontal (se ortorradial, mesiorradial ou distorradial) pelo posicionamento
proximal da asa do grampo lingual (geralmente a que mais se aproxime do ápice radicular).

Figura. Determinação do angulo horizontal (se ortorradial, mesiorradial ou distorradial) pelo posicionamento
proximal das cúspides linguas (geralmente a que mais se aproximam do ápice radicular).

5.2 Pontas de cúspide

Semelhante com o que acontece com a asa do grampo, a cúspide lingual é a mais
curta, ou a que está mais próxima do ápice. Sabendo que o objeto palatino sempre
acompanha a incidência horizontal de raios X, pelo posicionamento proximal da cúspide
lingual (mais curta) é possível determinar a angulação horizontal.

5.3 Sobreposição das raízes do molar superior

Ao realizar uma tomada ortorradial, as três raízes aparecem separadas. Ao realizar


uma tomada mesiorradial, a raiz mesiovestibular irá se sobrepor a palatina. Ao realizar
uma tomada distorradial a raiz distovestibular irá se sobrepor palatina.

5.4 Sobreposição dos pontos de contato

Ao realizar uma tomada ortorradial os pontos de contato aparecerão nítidos, sem


sobreposição. Ao realizar uma tomada mesiorradial os pontos de contato que estão para o
19
lado mesial aparecerão nítidos e os que estão para distal com sobreposição. Ao realizar
uma tomada distorradial os pontos de contato que estão para distal aparecerão nítidos e os
que estão para mesial com sobreposição.

5.5 Nitidez das imagens

A imagem estará mais nítida no lado de incidência do feixe de raios X.

6 Posicionador Radiográfico para Endodontia

O posicionador radiográfico para endodontia pode ser empregado quando o dente já


está com dique de borracha e pode ser oportuno na clínica endodôntica. Os princípios de
utilização são os mesmos empregados com o posicionador radiográfico convencional.

Figura. Posicionador Radiográfico para Endodontia (LEONARDO, 2008).

7 Tomada Radiográfica com o Paciente em Posição Supina

Na endodontia, considera-se oportuno realizar a tomada radiográfica mantendo o


paciente na posição de atendimento que geralmente corresponde à posição supina. Nesse
caso, deve-se observar o que segue:
=> manter o paciente na posição de trabalho;
=> posicionar corretamente o filme radiográfico segundo os princípios da radiologia;
=> incidir os raios X perpendicularmente ao filme;
=> o posicionador radiográfico pode ser empregado.

20
9 Bibliografia

BARBIN, E. L. Análise química da clorexidina misturada ou não ao hidróxido de cálcio. 2008.


116 p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São
Paulo, Ribeirão Preto, 2008.
COHEN, S.; BURNS, R. Caminhos da Polpa. 7ª ed., Rio de Janeiro, Editora Guanabara Kogan,
2000.
COHEN, S; HARGREAVES, K. M. Caminhos da polpa. 9ª ed, Rio de Janeiro, Elsevier, 2007.
DE DEUS, Q. D. Endodontia. 5ª ed., Rio de Janeiro, Editora Médica e Científica, 1992.
ESTRELA, C. Ciência da Endodontia. 1ª ed., Editora Artes Médicas, 2004.
LEONARDO MR, LEONARDO RT. Endodontia: conceitos biológicos e recursos tecnológicos.
Artes Médicas (Divisão Odontológica), São Paulo, 2009.
LEONARDO, M.R.; LEAL, J.M. Endodontia. Tratamento de Canais Radiculares. 3ª ed., São
Paulo, Editora Panamericana, 1998.
LEONARDO, M.R.; LEAL, J.M. Endodontia. Tratamento de Canais Radiculares. 3ª ed., São
Paulo, Editora Panamericana, 2005 (1ª reimpressão 2008).
LOPES, H. & SIQUEIRA JR, J.F. Endodontia: Biologia e Técnica. 2ª ed., Rio de Janeiro,
Editora Medsi, 2004.
RAMOS, C. A. S.; BRAMANTE, C. M. Endodontia: Fundamentos biológicos e Clínicos. 2ª ed.,
São Paulo, Editora Santos, 2001.
TORABINEJAD, M.; WALTON, R. E. Endodontia: princípios e prática. 4ª ed., Rio de Janeiro,
Elsevier, 2010.
WALTIMO, T. M. T.; HAAPASALO, M.; ZEHNDER, M.; MEYER, J. R. G. Clinical aspects
related to endodontic yeast infections. Endodontic Topics, v. 9, p. 66–78, 2004.
WALTIMO, T. M. T.; SEN, B. H.; MEURMAN, J. H.; ØRSTAVIK, D.; HAAPASALO, M. P.
P. Yeasts in apical periodontitis. Crit Rev Oral Biol Med, v. 14, n. 2, 128-137, 2003.
WALTON, R.E.; TORABINEJAD, M. Princípios e Práticas em Endodontia. 1ª ed., São Paulo,
Editora Santos, 1997.

Revisão, ad hoc, por Letícia Ucker Aranalde.

21

Você também pode gostar