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Curso de Odontopediatria

Dentística – decisão de tratamento - Módulo 2


Tratamento Conservador da Polpa - RPTC
Silvana Gonçalves Bragança | Jonas de Almeida Rodrigues

Núcleo de Telessaúde Técnico-Científico do Rio Grande do Sul


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - PPGEPI
Faculdade de Medicina - FAMED
Odontologia Conservadora

Durante um longo período, o modelo de tratamento


predominantemente usado para tratar a cárie foi o cirúrgico
restaurador, com remoção total do tecido cariado e confecção de
restaurações. Esse modelo de tratamento levou a um ciclo
repetitivo das lesões bem como a progressão da lesão, visto que
tratava apenas a sua sequela.
Odontologia Conservadora

Preparos cavitários com formas geométricas pré-estabelecidas e


com extensão para prevenção eram preconizados, havendo um
desgaste desnecessário da estrutura dentária hígida, diminuindo a
resistência do dente restaurado. O tratamento restaurador
tornava-se cada vez mais invasivo e complexo e, como ocorria de
forma repetitiva, culminava com a extração dentária.
Remoção Parcial de Tecido Cariado
(RPTC):

• Após o conhecimento mais detalhado acerca da etiologia da


doença cárie, é possível realizar uma abordagem terapêutica
mais conservadora, nem sempre invasiva, aliada a estratégias
de prevenção e promoção da saúde dos dentes e do
periodonto.

• A Odontologia contemporânea prima por uma prática em que


se criam condições favoráveis para deter o processo de
atividade dessa doença, trabalhando com o mínimo possível de
intervenção restauradora, utilizando-se da técnica de remoção
parcial de tecido cariado (RPTC).
RPTC

- A mínima intervenção deve sempre ser preconizada. Preparos


cavitários resultam, muitas vezes, em maior desgaste de estrutura
dentária sadia do que de tecido cariado, além disso, quanto menor
a restauração, maior será a sua durabilidade. A mínima intervenção
também retarda a intervenção restauradora, e estas razoes são
particularmente importantes na Odontopediatria.

- A RPTC reduz o risco de exposição da polpa, aumentando as


chances de manter a vitalidade pulpar, por isso, é indicada a sua
realização em lesões profundas de cárie. Estudos mostram que a
lesão não progride após o selamento da cavidade e que não
ocorrem danos pulpares.
RPTC

Mas lembre-se de que a realização da RPTC deve ser baseada certos


princípios de diagnóstico que devem sempre ser respeitados, ou seja,
ela deve ser realizada em dentes decíduos ou permanentes jovens nas
seguintes situações:
- Dentes com história de dor provocada, uma dor de curta duração e
que cessa com analgésicos.
- Na ausência de fístulas.
- Em dentes sem mobilidade ou mobilidade compatível com exfoliação
ou trauma.
- Em dentes sem sinais radiográficos de lesões de furca ou periapical.
- E na ausência de reabsorção interna ou externa.
Na presença de qualquer uma dessas situações, a RPTC não é indicada.
Técnica de realização da RPTC:

Existem duas camadas bem distintas na dentina cariada, tanto


do ponto de vista morfológico e bioquímico, quanto
bacteriológico, sendo a coloração e a dureza os critérios mais
utilizados para diferenciar essa dentina clinicamente.

A camada mais externa ou superficial da lesão de cárie em


dentina apresenta consistência amolecida, irregular, coloração
amarelada e não é passível de remineralização, sendo
denominada de dentina infectada ou necrótica. Essa dentina
infectada é facilmente removida com curetas durante o preparo
cavitário.
Técnica de realização da RPTC:

Por outro lado, a dentina mais profunda apresenta uma dureza


considerável, com certa resistência ao corte, e um maior
escurecimento, além de ser passível de remineralização, sendo
denominada de dentina afetada ou contaminada.

Além dessas características, há uma diferença entre o tipo e a


quantidade de microrganismos presentes, sendo a dentina
afetada possuidora de uma quantidade menor de microrganismos
em relação à dentina infectada (a mais superficial). A dentina
afetada é removida em lascas ou escamas e, algumas vezes, sua
remoção pode acarretar sintomatologia dolorosa.
Técnica de realização da RPTC:

Na técnica de remoção parcial de tecido cariado, a dentina


infectada, mais amolecida, desorganizada e que não é passível
de remineralização deve ser removida. Uma fina camada de
dentina afetada, que é mais escura e consistente apresenta uma
consistência em lascas deve deixada no fundo da cavidade, na
parede pulpar. A parede pulpar pode ser coberta por uma
camada de cimento de hidróxido cálcio, guta percha ou dycal,
como material forrador, especialmente em lesões muito
profundas para proteger a polpa dos efeitos tóxicos dos
monômeros resinosos, quando a restauração adesiva for
realizada.
Técnica de realização da RPTC:

A remoção completa do tecido cariado das paredes laterais do


preparo cavitário é necessária para garantir melhor vedação
marginal e reduzir a microinfiltração, sendo possível, assim, a
realização de uma restauração adesiva. Este tratamento reduz o
risco desnecessário de exposição pulpar em cavidades
profundas, minimizando a remoção de tecido sadio e
maximizando o potencial reparador do complexo dentino-pulpar.
Técnica de realização da RPTC:

- Atualmente, não existe um método eficaz para a detecção clínica da


região de transição entre as zonas de dentina infectada e afetada.
Quando a remoção da dentina cariada de lesões cavitadas ativas é
realizada, os profissionais usam parâmetros clínicos, tátil-visuais para
decidir a quantidade de dentina que será removida e o que será
deixado na cavidade, porém tal método é altamente subjetivo.

- Entretanto, evidências científicas sugerem a remoção da dentina


necrótica e amorfa, deixando uma subjacente mais organizada,
embora ainda desmineralizada e contaminada. De acordo com estes
critérios, a finalidade da remoção do tecido cariado é retirar o maior
número possível de bactérias consideradas responsáveis pela
progressão da lesão.
Técnica de realização da RPTC:

- A presença destes microrganismos viáveis que permanecem sob as


restaurações foi estudada, observando-se que, após o selamento da
cavidade, essas bactérias presentes perdem os substratos necessários
para a manutenção do seu processo metabólico, acarretando em
redução do número de microrganismos ou mesmo ausência de
bactérias, paralisando, com isso, a progressão da cárie.

- Pesquisas avaliando clinicamente a dentina remanescente, depois


de realizada a remoção parcial de tecido cariado, constataram
mudanças na consistência e coloração dessa dentina. Esse tecido que
antes era amolecido e com coloração castanho clara passou a ter uma
consistência de média a endurecida e coloração castanho escura.
Técnica de realização da RPTC:

Vale lembrar mais uma vez que a RPTC é indicada em casos onde
existe risco eminente de uma exposição pulpar, o que levaria ao
comprometimento desse tecido pelo contato direto com
bactérias. Entretanto, nas demais situações restauradoras, não
há benefício adicional ao realizar a remoção incompleta da
dentina cariada, além do que, esta não se caracteriza como um
substrato ideal para a união aos materiais restauradores.

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